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Técnicas anestésicas em odontologia:

I. INTRODUÇÃO

A anestesia local é um dos artifícios mais utilizados e efetivos para o controle da


dor em Odontologia. Os primeiros registros desse tipo de analgesia mostram o emprego
de várias substâncias para a obtenção desse efeito, dentre elas eram utilizadas: vapores
de ervas, mistura de substâncias contendo ópio, vapores de gases, éter, clorofórmio e
ciclopropano. Gradualmente, de acordo com a evolução e melhoria das performances,
essas drogas foram sendo substituídas. (PRADO ET AL, 2003; MALAMED, 2013;
ANDRADE, 2014)
Por definição, Stanley Malamed (2013) caracteriza a anestesia local como perda
da sensibilidade em uma área circunscrita do corpo causada pela depressão da excitação
das terminações nervosas ou pela inibição do processo de condução dos nervos
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periféricos. Além disso, a anestesia local promove a perda de sensibilidade sem que haja
inconsciência. (PRADO ET AL, 2003; MALAMED, 2013)
Seja o tratamento clínico ou cirúrgico, a terapia Odontológica sempre despertou
o medo e a ansiedade em pacientes. Alguns destes possuem traumas preexistentes e
outros não, contudo, essa experiência emocional desagradável justifica-se em virtude de
um passado de controle de dor ineficiente e rudimentar. (PRADO ET AL, 2003;
MALAMED, 2013)
Para a obtenção de uma anestesia segura, com profundidade e duração
adequadas, o cirurgião-dentista deve ter conhecimento farmacológico dos anestésicos
locais e dos vasoconstritores, assim como deter o conhecimento sobre as técnicas
anestésicas e sobre características anatômicas. Ademais, outras habilidades e atitudes
são exigidas do administrador, tal como a empatia para que além do conhecimento
científico, também saiba empregar, por meio de um esforço consciente, uma técnica
anestésica menos dolorosa e traumática. Além disso, o profissional deve selecionar o
correto equipamento para o bloqueio escolhido como agulhas de tamanho e calibre,
evitando assim possíveis complicações e uma maior taxa de sucesso na realização da
técnica. (ANDRADE, 2014; MALAMED, 2013; ANDRADE, 2014)
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Tabela 1: Descrição dos cuidados e das regiões anestesiadas na realização das técnicas anestésicas.
Técnicas Nervos anestesiados Área anestesiada: Tecidos Volume Agulha % de Profundidade de Pontos de referência Possíveis complicações
anestésicas moles/duros e dentes mínimo de indicada aspiração penetração da
anestesiados anestésico positiva agulha
Bloqueio do Nervo • Alveolar superior posterior e • Polpa, tecido periodontal, osso e • 0,9-1,8 ml • Agulha • Aproximada • Em adultos: • Prega mucovestibular. • Hematoma:agulhai ntroduzida
Alveolar seus ramos terminais. periósteo do terceiro, segundo e curta de mente 3,1% aproximadamen • Tuberosidade da maxila. posteriormente ao plexo
Superoposterior1 primeiro molares superiores(raízes *1 tubete calibre 27 te profundidade • Processo zigomático da venoso pterigoideo. Podendo
palatina e disto- vestibular). possui 1,8 ml (*)No Brasil de 16 mm; maxila. haver perfuração da artéria
encontra-se • Em crianças e • Local de penetração: prega maxilar (uso agulha curta
somente mucovestibular acima do reduz o risco).
adultos
curta de
pequenos: segundo molar superior. • Anestesia mandibular:
calibre 30;
aproximadamen Devido à localização
te profundidade lateralmente ao nervo alveolar
de 10 a 14 mm. superior posterior.
Bloqueio do Nervo • Alveolar superior médio e seus • Polpa, tecido periodontal, osso e • 0,9-1,2 ml • Agulha • Desprezível • Em adultos: • Local de penetração: prega • Um hematoma pode se
Alveolar Superior ramos terminais. periósteodo primeiro e segundo curta ou (<3%) aproximadamen mucovestibular acima do desenvolver no local da
Médio (ASM) 1 pré-molares superiores, raiz *1 tubete longa de te profundidade segundo pré-molar superior. injeção. Deve-se aplicar
mesiovestibular do primeiro molar possui 1,8 ml calibre 27 de 16 mm; pressão com gaze estéril
superior. (*)No Brasil acima da lesão por 60
encontra-se segundos.
somente
curta de
calibre 30 e
longa de
calibre 27;
Bloqueio do Nervo • Alveolar superior anterior; • Polpas do incisivo central • 0,9-1,2 ml • Agulha • Aproximada • Em adultos: • Prega mucovestibular; • Um hematoma pode se
Infraorbitário (Nervo • Alveolar superior médio; superior até o canino superior do longa de mente 0,7% aproximadamen • Incisura infraorbitária; formar (raramente) napálpebra
Alveolar • Nervo infraorbitário; lado da injeção. *1 tubete calibre 25 te profundidade • Forame infraorbitário; inferior e nos tecidos entre
Superoanterior a. Palpebral inferior; • Em cerca de 72% dos pacientes, possui 1,8 ml ou 27 de 16 mm; • Local de penetração: prega esta e o forame infraorbitário.
b. Nasal lateral; as polpas dos pré-molares (*)No Brasil mucovestibular sobre o primeiro Para resolver isso, aplicar
superiores e a raiz encontra-se pressão nos tecidos moles
c. Labial superior. pré-molar.
somente
mesiovestibular do primeiro molar. acima do forame por 2 a 3
longa de
• Periodonto vestibular (labial) e minutos;
calibre 27;
osso destes mesmos dentes;
Pálpebra inferior, aspecto lateral
do nariz, lábio superior.
Bloqueio do Nervo • Palatino maior; • A parte posterior do palato duro • 0,45-0,6 • Agulha • Menos de • Aproximadame • Forame palatino maior e • Isquemia e necrose dos
Palatino Maior e os tecidos moles sobrejacentes, ml curta 1% nte de 5 mm; junção do processo alveolar tecidos moles, quando uma
anteriormente até o primeiropré- calibre 27 maxilar e osso palatino; solução vasoconstritora muito
molar e medialmente até a linha *1 tubete (*)No Brasil • Local de penetração: 1 a 2
concentrada é utilizada em
média. possui 1,8 ml encontra-se mm grande volume; Nunca utilizar

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somente anterior ao forame palatino noradrenalina para hemostasia


curta de maior. desta região;
calibre 30;
• Hematoma é possível, mas é
raro devido à densidade e à
firme aderência dos tecidos
palatinos ao osso subjacente;
•O palato mole pode
seranestesiado. Isto é possível
nos casos em que o nervo
palatino médio está próximo
ao local da injeção.
Bloqueio do Nervo • Nervos nasopalatinos • Porção anterior do palato duro • 0,45 ml • Agulha • Menos de 1% • Aproximadame • Incisivos centrais e papila • Isquemia e necrose dos
Nasopalatino bilateralmente. (tecidos moles e duros) (máximo) curta de nte 5 mm; incisiva; tecidos moles, quando uma
bilateralmente desde a face mesial calibre 27 • Local de penetração: mucosa solução vasoconstritora muito
do primeiro pré-molar direito à face *1 tubete (*)No Brasil palatina imediatamente lateralà concentrada é utilizada em
mesial do primeiro pré-molar possui 1,8 ml encontra-se papila incisiva (localizada na grande volume; Nunca utilizar
somente linha média atrás dos incisivos
esquerdo. noradrenalina para hemostasia
curta de
calibre 30;
centrais). desta região;
•Hematoma é possível, mas é
raro devido à densidade e à
firme aderência dos tecidos
palatinos ao osso subjacente.
Bloqueio do Nervo • Divisão maxilar do nervo • Anestesia pulpar dos dentes • 0,9-1,2 ml • Agulha • Menor que • Aproximadame • Prega mucovestibular na face • Hematoma se desenvolve
Maxilar trigêmeo. superiores no lado do bloqueio; curta de 1% nte 5 mm; distal do segundo rapidamente se a
(Tuberosidade Alta) • Periodonto vestibular e osso *1 tubete calibre 27 molarsuperior; artériamaxilar for puncionada
sobrejacente a estes dentes; possui 1,8 ml ou 25 • Tuberosidade da maxila; durante o bloqueio.
• Tecidos moles e osso do palato (*)No Brasil • Processo zigomático da
duro e parte do palato encontra-se maxila;
somente
mole,medialmente à linha média; • Área de penetração: altura da
curta de
• Pele da pálpebra inferior, lateral prega mucovestibular acima da
calibre 30;
do nariz, bochecha e lábiosuperior; face distal do segundo molar
superior.
Bloqueio Do Nervo • Alveolar inferior, um ramo da • Dentes mandibulares até a linha • 1,5 ml • Agulha • 10% a 15% • Aproximadame • Incisura coronoide • Hematoma;
Alveolar Inferior divisão posterior da divisão média; longa de nte de 20 a 25 (concavidade maior na •Trismo;
mandibular do nervo trigêmeo •Corpo da mandíbula, parte *1 tubete calibre 25 mm; bordaanterior do ramo da •Paralisia facial transitória
(V3); inferior do ramo da mandíbula; possui 1,8 ml (*)No Brasil mandíbula); (anestesia do nervo facial):
• Incisivo; •Mucoperiósteo bucal, membrana encontra-se • Rafe pterigomandibular (parte produzida pelo depósito do
somente
•Mentual; mucosa anteriormente ao forame vertical); anestésico local no corpo da
longa de
• Lingual (comumente). mentual (nervo mentual); • Plano oclusal dos dentes glândula parótida.
calibre 27;
•Dois terços anteriores da língua e mandibulares posteriores;
assoalho da cavidade oral(nervo • Área de penetração:
lingual); membrana mucosa do lado
•Periósteo e tecidos moles medial(lingual) do ramo da
linguais (nervo lingual); mandíbula, na interseção de
duaslinhas — uma horizontal,

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representando a altura
deinserção da agulha, e a outra
vertical, representando o
planoanteroposterior de injeção.
Bloqueio Do Nervo • Bucal (um ramo da divisão • Tecidos moles e periósteo bucal • 0,3 ml; • Agulha • 0,7% • Aproximadame • Molares mandibulares, prega • Hematoma aplicar
Bucal anteriorde V3). dos dentesmolares mandibulares; longa de nte de 2 a 4 mucobucal; pressãocom gaze diretamente
*1 tubete calibre 25 mm; • Área de penetração: à área do sangramento pelo
possui 1,8 ml ou 27; membrana mucosa distal e período mínimo de 3 a 5
(*)No Brasil bucal do segundo pré-molar. minutos.
encontra-se
somente
longa de
calibre 27;
Bloqueio Do Nervo • Alveolar inferior; • Dentes mandibulares até a linha • 1,8-3,0 ml; • Agulha • 2% • Aproximadame • Extraorais: - borda inferior do • Hematoma;
Mandibular: A • Mentual; média; longa de nte de 25 mm; trago (incisura intertrágica); •Trismo;
Técnica De Gow- • Incisivo; • Mucoperiósteo e membranas *1 tubete calibre 25 - Canto da boca; • Paralisia temporária do III, IV
Gates • Lingual; mucosas bucais do ladoda possui 1,8 ml ou 27; • Intraorais: - altura da injeção e VI nervos cranianos.
• Milo-hióideo; injeção; (*)No Brasil estabelecida pela colocaçãoda
• Auriculotemporal; • Dois terços anteriores da língua encontra-se ponta da agulha logo abaixo da
e assoalho da cavidade oral; somente cúspidemesiolingual
• Bucal (em 75% dos pacientes). longa de
• Tecidos moles e periósteo da (mesiopalatina) do segundo
calibre 27;
língua; molar maxilar;
• Corpo da mandíbula, parte • Penetração dos tecidos moles
inferior do ramo da mandíbula; num ponto imediatamente distal
• Pele sobre o zigoma, parte ao segundo molar maxilarcomo
posterior da bochecha e a altura estabelecida na etapa
regiõestemporais. precedente;
• Área de penetração:
membrana mucosa na parte
mesial doramo da mandíbula,
numa linha da incisura
intertrágica até o canto da boca,
imediatamente distal ao
segundo molarmaxilar.
Bloqueio • Alveolar inferior; • Dentes mandibulares até a linha • 1,5-1,8 ml; • Agulha • < 10% • Em adultos: • Junção mucogengival do • Hematoma;
Mandibular De Boca • Incisivo; média; longa de aproximadamen terceiro (ou do segundo) •Trismo;
Fechada • Mentual; • Corpo da mandíbula e parte *1 tubete calibre 25; te 25 mm; molarmaxilar; • Paralisia transitória do nervo
De Vazirani-Akinosi • Lingual; inferior do ramo mandibular; possui 1,8 ml (*)No Brasil • Tuberosidade maxilar; facial (VII): essa paralisia é
• Milo-hióideo. • Mucoperiósteo e membrana encontra-se • Incisura coronoide no ramo da causada pela inserção
mucosa bucais anteriores somente mandíbula;
longa de
excessiva e ainjeção da
aoforame mentual; • Área de penetração: tecidos solução anestésica local no
calibre 27;
• Dois terços anteriores da língua moles sobrejacentes à borda corpo da glândulaparótida.
e assoalho da cavidade oral(nervo medial (lingual) do ramo
lingual); mandibular diretamente
• Tecidos moles e periósteo adjacente à tuberosidade
linguais (nervo lingual). maxilar, na parte alta de junção
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mucogengival circunvizinha ao
terceiro molar maxilar.

Bloqueio Do Nervo • Mentual, um ramo terminal do • Membrana mucosa bucal, • 0,6 ml; • Agulha • 5,7%; • Aproximadame • Pré-molaresmandibulares e • Hematoma;
Mentual alveolar inferior. anteriormente ao forame mentual curta de nte 5 a 6 mm; prega mucobucal; • Parestesias no lábio e/ou
(em torno do segundo pré-molar) *1 tubete calibre 25 • Área de penetração: prega queixo, devido o contato da
até a linhamédia e a pele do lábio possui 1,8 ml ou 27; mucobucal no forame mentual agulha como nervo mentual.
inferior e do queixo. (*)No Brasil ouimediatamente anterior ao
encontra-se mesmo.
somente
curta de
calibre 30;
Bloqueio Do Nervo • Mentual e incisivo. • Membrana mucosa bucal anterior • 0,6-0,9 ml; • Agulha • 5,7%; • Aproximadame • Pré-molares mandibulares e • Hematoma;
Incisivo ao forame mentual, geralmente do curta de nte 5 a 6 mm; prega mucobucal; • Parestesias no lábio e/ou
segundo pré-molar até a linha *1 tubete calibre 27; • Área de penetração: prega queixo, devido o contato da
média; possui 1,8 ml (*)No Brasil mucobucal no forame mentual agulha como nervo mentual.
• Lábio inferior e pele do queixo; encontra-se ouimediatamente anterior ao
somente
• Fibras nervosas pulpares aos mesmo (área alvo: saída do
curta de
pré-molares, ao canino e calibre 30; forame mentual e seu interior,
aosincisivos. onde o n. incisivo se encontra).

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II. CONCLUSÃO

Diante da expectativa do paciente, comumente negativa, do atendimento


odontológico devido à ansiedade, medo e até mesmo ao trauma, é fundamental que o
cirurgião-dentista tenha conhecimento de todas as técnicas. Sobretudo, ter também
atenção quanto à profundidade de penetração da agulha, bem como, à pontos de
referência e possíveis complicações, a fim de reduzir a chance de falha e de tranquilizar
o paciente.

REFERÊNCIAS
1. Malamed, S. F. Manual de Anestesia Local - Elsevier, 6a ed., 2013.

2. Prado, R. Cirurgia Bucomaxilofacial – Guanabara Koogan, 2004.

3. Andrade, E. D. Terapêutica Medicamentosa em Odontologia - Artes Médicas, 3a ed.,


2014.

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