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Aula 3 – Cuidados Nutricionais na Paralisia Cerebral

controle da cabeça é deficiente, assim como a


Definição:
coordenação dos olhos. As crianças frequentemente
https://www.youtube.com/watch?v=oo4NIPgqLW4
apresentam dificuldades de se alimentar e possui
A paralisia cerebral (PC), também denominada algum envolvimento de fala e articulação.
encefalopatia crônica não progressiva da infância, é a
Diplegia:
consequência de uma lesão anatomopatológica ou
A diplegia é também o envolvimento do corpo
anomalia estacionária, que agiu no Sistema Nervoso
inteiro: a metade inferior, entretanto, é mais afetada
Central (SNC) em plena maturação estrutural e
que a metade superior. O controle da cabeça, dos
funcional. Ocorre, portanto, na vida fetal ou nos
braços e mãos é geralmente pouco afetado, e a fala
primeiros meses de vida e é caracterizada por falta de
pode ser normal, entretanto, um estrabismo, seja
controle motor e por modificações adaptativas do
alternado ou fixo, não é raro. Às vezes, as partes
comprimento muscular, algumas vezes chegando a
superiores parecem tão levemente envolvidas que a
apresentar deformidades ósseas.
criança é diagnosticada como paraplégica cerebral. O
Grupo de desordens permanentes do exame cuidadoso, contudo, mostrará o envolvimento
desenvolvimento do movimento e da postura de um de um ou dois braços e mãos.
distúrbio não progressivo que ocorre durante o
Hemiplegia:
desenvolvimento do cérebro. A hemiplegia é o envolvimento de um só lado
Tendo características de distúrbios sensoriais, do corpo.
perceptivos, cognitivos, de comunicação e
comportamental, por epilepsia e por problemas Fatores de risco do recém-
musculoesqueléticos secundários.
nascido para PC
O tubo neural é o que vai determinar se a
criança vai ter um bom desenvolvimento neural ou não
(falando de todas as sinalizações, não só
movimentação).

Quando essa “gestante” que ainda está no


período de preconcepção não tem um bom aporte de
ácido fólico, ela não consegue ofertar de maneira
satisfatória para a criança.

Tipos de Paralisia

Quadriplegia:
A quadriplegia é definida como o envolvimento
de todo corpo, sendo as partes superiores mais
envolvidas do que, ou pelo menos tão envolvidas
quanto as partes inferiores. A distribuição da
quadriplegia é geralmente assimétrica. Se a assimetria
é muito acentuada, essas crianças são, às vezes,
identificadas como tendo “dupla hemiplegia”. Devido
ao envolvimento maior das partes superiores, o
A espasticidade (espasmos) é predominante em
crianças cuja paralisia cerebral é consequente do
nascimento pré termo (quando o feto ainda não
chegou no período aceitável de 36 da gestação, sendo
prematuro), enquanto que as formas discinéticas e
atáxica são frequentes nas crianças nascidas a termo.

Espástica:
Geralmente nos membros afetados, há aumento
dos reflexos tendíneos profundos, os músculos são
hipertônicos e os movimentos voluntários são fracos,
desenvolvem-se contraturas articulares, e as
articulações podem tornar-se desalinhadas.
https://www.youtube.com/watch?v=s9N6UQjPRJY

Discinética:
Movimentos lentos, retorcidos e involuntários
das extremidades proximais e do tronco. Os
movimentos aumentam com a tensão emocional e
desaparecem durante o sono.

https://www.youtube.com/watch?
v=sGEvkIPEPjA&t=30s.
Sinais clínicos:
 Alterações de tônus e presença de movimentos
atípicos (tipo espasmos) e comprometimento Atáxica:
do crescimento. Movimentos com força, ritmo e precisão anormais,
 Severidade dos comprometimentos leva a provocando perturbação no equilíbrio, tremor e baixo
limitações das atividades e com a presença de tônus muscular.
comorbidades.
https://www.youtube.com/watch?v=009JzOqqezU
Prevalência:
 Incidência: 2 para cada 1.000 nascidos vivos nos
países desenvolvidos, fazendo dela a deficiência
Diagnostico nutricional
Mesmo nutridas, crianças com PC são menores
física mais comum em crianças
que as crianças que não tem deficiência, por fatores
 Países em desenvolvimento: considerando
como:
todos os graus de paralisia cerebral, a incidência
pode chegar a 7:1000.  Inatividade física
 No Brasil, não há dados sobre a sua prevalência.  Forças mecânicas sobre ossos são menores
 Articulações e musculatura
Classificação:  Fatores endócrinos
Crianças com PC podem ser classificadas, de  Altas prevalências de prematuridade
acordo com a tonicidade muscular (o critério mais  Baixo peso ao nascer
utilizado atualmente), em espástico, discinético e
Erro no parto: quando ocorre a falta de oxigenação
atáxico.
terá uma lesão maior nos movimentos
Erro no período intrauterino: decorrente de *Gross motor function classification system = sistema
modificações de fatores endócrinos. de classificação da função motora grossa. (grau de
funcionalidade)
Tendo também:

 Diminuição do crescimento linear.


Há uma modificação de metabolismo na
criança. São crianças que não conseguem
desenvolver massa muscular e por isso elas tem
diminuição no crescimento linear (não
conseguem, pois, em qualquer grau elas vão ter
uma dificuldade em atividade
física/movimentação diária, e com isso elas
acabam não tendo força mecânica sobre os
ossos)
 Redução de ganho de peso
 Alterações na composição corporal:
↪ Redução de massa muscular
↪ Redução de gordura corporal
↪ Redução de densidade óssea

Adendo: a prematuridade e baixo peso ao nascer


(menor que 3kg) tem consequências como: rinite,
sinusite, bronquite, entre outras. E déficit de atenção

Curvas de crescimento para


crianças com PC
Em 2007, Steven e colaboradores
desenvolveram novas curvas de crescimento
específicas para crianças com PC, também utilizando
uma população de indivíduos com PC nos Estados
Unidos. Estas curvas abrangeram os diferentes tipos de
PC, através da classificação da capacidade funcional e
idade de 2 a 20 anos.

Em 1996, Krick et.al desenvolveram curvas de


crescimento específicas para crianças portadoras de PC
quadriplégico. O estudo foi conduzido nos Estados
Unidos, abrangeu crianças de 2 a 12 anos de idade, e
utilizou para comparação as curvas de referência do
National Center for Health Statistic (NCHS).

Curvas recomendadas pelo MS são as


elaboradas por Brooks et al (2011), estratificadas de
acordo com a gravidade funcional pelo GMFCS* e uso
ou não uso de tubos de alimentação.
 Stevenson (1995) desenvolveu algumas
fórmulas para estimar a altura dos portadores
de PC com mais de dois anos de idade que não
conseguem ficar na posição ereta.
 Estimativa por medida do comprimento do
braço OU da tíbia OU da altura do joelho ao
calcanhar

Adendo: a altura do joelho é a melhor forma de


Essas curvas consideram a disfagia.
classificar.
Classificação do Estado Nutricional
 < percentil 10: desnutrição  Comprimento da tíbia: medida da porção
 percentil 10 - 90: eutrófico medial superior, abaixo do joelho, até a porção
 > percentil 90: excesso de peso medial inferior do tornozelo.
 Comprimento do joelho: obtida com a perna
esquerda em 90º medindo-se a distância entre
Estimativa de altura a base do calcanhar e a parte superior da
Com relação à altura, Stevenson desenvolveu patela.
algumas fórmulas para estimar a altura dos portadores  Comprimento superior do braço: distância do
de PC com mais de dois anos de idade que não acrômio até a cabeça do rádio medido com o
conseguem ficar na posição ereta. Entre elas temos as membro superior flexionado a 90º
que utilizam o comprimento do braço, da tíbia e da
altura do joelho ao calcanhar. A fórmula que utiliza a
medida do comprimento do joelho ao calcanhar é a Peso
mais recomendada, pois nesse estudo foi a que obteve Para a mensuração ponderal de crianças de 2
menor erro em relação à altura aferida. Outro método anos e adolescentes de baixo peso, recomenda-se a
para aferir a altura, também validado, é através da pesagem no colo do cuidador. O peso do paciente é
utilização da régua Luft®, que verifica a altura de obtido pela subtração do peso do cuidador.
pacientes acamados ou que não conseguem se Adolescentes e adultos devem ser preferencialmente
equilibrar, porém o paciente tem que conseguir deitar pesados em maca balança ou balança especifica para
com as pernas esticadas e dobrar o pé em ângulo de cadeira de rodas.
90º
caseinato de cálcio, albumina e preparações como milk
Medidas antropométricas
shake. Esse é o primeiro passo para a recuperação
 Utilização da dobra cutânea tricipital ou
nutricional.
subescapular são adequados e podem ser
comparados com curvas de referência para Aquelas crianças que não têm indicação de
crianças saudáveis. alimentação por via oral devido aspiração, dificuldade
 Valores inferiores ao percentual 10 indicam motora grave ou incapacidade de atingir as
desnutrição. necessidades energéticas adequadas, necessitam de
nutrição enteral. É importante cuidar a posição do
Alimentação na criança com PC paciente no momento da alimentação, tanto para
aqueles que se alimentam por via oral como para os
Problemas nutricionais mais habituais no PC:
que utilizam sonda. A criança deve ser alimentada
 Baixo peso/desnutrição apoiada em um ângulo mínimo de 30º e permanecer
 Excesso de peso/obesidade nessa posição até 30 minutos após a alimentação. Esse
 Refluxo gastroesofágico – quando essa criança cuidado diminui o risco de aspiração. Na presença de
tem alguma limitação ou postura alterada, já disfagia existem recomendações específicas quanto a
teremos o refluxo gastroesofagico, e que se não postura, alimentação e estimulação oral.
tratar pode levar a lesões e evoluir para
Além disso, recomenda-se investigar
neoplasias.
periodicamente a presença de anemia, deficiência de
 Obstipação, maior risco de DIIs (Doenças
ferro e de vitamina D, e quando necessário,
Inflamatórias Intestinais)
suplementar. É preciso investigar também doença do
 Desidratação
refluxo gastresofágico (DRGE) e constipação,
 Disfagia
indicando-se tratamento medicamentoso adequado.
 Dificuldades de mastigação e deglutição
 Alimentação monótona Deve-se também avaliar os medicamentos que
 Ingestão inadequada de macro e de essas crianças estão utilizando, pois os
micronutrientes anticonvulsivantes têm interações importantes na
absorção de alguns micronutrientes, conforme está
Orientações alimentares:
descrito na tabela III.
O acompanhamento do crescimento e do ganho
de peso é de suma importância para poder verificar a
adequação da ingestão alimentar. Para aquelas Intervenção nutricional no baixo
crianças que se alimentam adequadamente por via peso
oral, deve-se ajustar consistência, textura e tipo de
alimento conforme a aceitação, além de oferecer
alimentos com maior densidade calórica e proteica, já
que a ingestão é demorada e muitas vezes incompleta.
Para aumentar a quantidade calórica pode ser
acrescentado na dieta, por exemplo, geleia de frutas ao O elevado gasto energético se dá pelo metabolismo
leite ou iogurte, leite condensado e mel, óleos vegetais alterado, mecanismo que ainda não são evidentes. Mas
ou azeite de oliva sobre preparações, maltodextrina, sabemos que a deglutição demanda um gasto
manteiga ou requeijão nas sopas, sorvetes e leite de energético maior do que em crianças saudáveis, além
coco em preparações doces ou salgadas. Para de terem espasmos que geram gastos de ATP.
aumentar o aporte proteico da dieta podem ser
acrescentados queijos nas sopas, creme a base de  Fazer refeições em menor volume e mais
queijo e molho branco, leite em pó diluído em leite frequente
líquido, ovos em sopas ou mingaus, carne, frango ou  Aumentar a densidade energética
peixe desfiado ou liquidificado, leite de soja em pó,
 Elaborar refeições atrativas e nutritivas, associadas à deglutição, que resultam em inabilidade,
evitando a monotonia seja por debilidade no controle pelo sistema nervoso
 No caso de as mudanças na alimentação oral central ou disfunção mecânica., podendo causar:
não serem suficientes, fornecer suplementos
 Desnutrição
nutricionais que contemplem a alimentação
 Desidratação
 Em casos graves: sonda nasogástrica ou
 Aspiração traqueal
gastrostomia.
↪ Pneumonia aspirativa = Alta mortalidade
Excesso de peso e obesidade:
 Controlar a ingestão alimentar optando por Intervenção nutricional:
 Crianças com dificuldade de deglutição e
porções menores.
líquidos devem ser alimentadas com pequenos
 Não pular as refeições
volumes de dieta pastosa e com sucos
 Evitar o consumo de ultraprocessados
engrossados com frutas e gelatinas,
 Alimentação rica em fibras e carboidratos
procurando-se manter um bom nível de
complexos.
hidratação.
Refluxo gástrico:
Uso de espessantes: utilizar em casos frequentes de
 Dar preferência a alimentos de textura suave e
engasgos e regurgitação para ajustar a consistência e
evitar o consumo de alimentos e bebidas muito
textura das refeições.
quentes ou frias e aqueles que possam
contribuir para um quadro de azia, como álcool,
cafeína, bebidas gaseificadas, alimentos
gordurosos e muito condimentados.

Obstipação intestinal:
 Dieta rica em fibras – FLVs (frutas, legumes e
verduras)
 Aumentar a ingestão de líquidos

Desidratação:

Quem avalia grau e consistência de disfagia e


consistência da dieta? Fonoaudiólogo especialista

Quem orienta dieta na consistência indicada? -


Nutricionista especialista

Disfagia:
A disfagia é qualquer interferência na precisão e
sincronia dos movimentos de músculos e estruturas
Objetos que crianças com PC podem utilizar.

Outras possibilidades para fechar o diagnóstico:


Falta de controle da boca, da cabeça e do
Interações Droga Nutriente
tronco; falta de equilíbrio para sentar-se, inabilidade
para flexionar os quadris o suficiente para possibilitar o
levantamento dos braços para diante, agarrar e manter
a pressão, inabilidade de levar as mãos à boca e a falta
de coordenação olho-mão.

Incapacidade para expressar a necessidade de


ingestão de líquidos e a baixa ingestão de fibras.

Cálculos das necessidades


energéticas
Deve-se considerar:

Avaliação da alimentação - 1. Condição nutricional. Após classificação do EN


questionar traçar conduta energética:
Questionar sobre:

 Quem alimenta a criança?


 Local?
 Consistência do alimento?
 Qual o tempo gasto em cada refeição?
 Tem escape dos alimentos para fora da boca?
 Tem presença de tosse?
 Analisar a palidez cutânea
 Tem regurgitação ou vômitos durante a
refeição?

Via de alimentação: dependerá do desenvolvimento


neurológico, da deglutição, da coordenação motriz oral
e dos riscos de complicações.

 Oral: se existir boa coordenação da deglutição,


Adendo: Se a criança estiver desnutrida, é necessário
sem rejeição
oferecer cerca de 20% a mais sobre a oferta energética
 Terapia nutricional enteral: por meio da via
estimada até normalização de peso/estatura ou do IMC
nasoentérica ou de gastrostomia.
2. Presença ou não de disfagia e outras 1. Estimar a altura aplicando as fórmulas de
complicações associadas Stevenson, pela Tíbia, Joelho e comprimento
do braço (1995). Avalie as diferenças.

↪ Pela tíbia (CT): E = (3,26 x CT) + 30,8


E = (3,26 x 29) +30,8
E = 94,54 + 30,8
E = 125,34cm ou 1,25m de altura

↪ Pelo joelho (CJ): E = (2,69 x CJ) + 24,2


E = (2,69 x 39,5) + 24,2
E = 106,255 + 24,2
E = 130,45cm ou 1,30m de altura

↪ Pelo braço (CSB): E = (4,35 x CSB) + 21,8


E = (4,35 x 22) + 21,8
E = 95,7 + 21,8
E = 117,5cm ou 1,17 de altura

Adendo: o CSB só se usa em casos de impossibilidade


de fazer CT e CJ. O CT ainda tem mais erros do que o
CJ, então o CJ é o cálculo que mais chega à realidade.

2. Calcular a necessidade energética

Temos possibilidade de dar autonomia para a Utilizando o CJ como parâmetro para altura, a
criança. necessidade calórica deu de 1.434,95kcal

130,45 x 11kcal/cm = 1.434,95kcal


Exercício: Adendo: é importante saber o grau de disfagia para
Sexo: feminino, não deambula Idade:
sabermos se será acrescentado 20% caso a criança for
7 anos, 9 meses desnutrida.

Peso: 21,75 kg

Circunferência do braço: 16 cm 3. Criar uma opção de café da manhã e uma de


almoço em consistência pastosa.
Comprimento do braço: 22,0 cm
Café da manhã: Mingau de aveia com leite de
Comprimento da tíbia: 29,0 cm
castanhas e suplementação de ptn + creme de mamão.
Altura do joelho: 39,5 cm
Almoço: Arroz mole, caldo de feijão, carne moída
batida e creme de abóbora. Gelatina natural feita com
ágar-ágar e purê de frutas + mel para adoçar.
Observação: Não considerei pastosa homogênea.

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