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Algumas ideias de Erikson

Identificações e crises da adolescência


Erikson modificou a teoria freudiana sobre o desenvolvimento psicossexual. De acordo
com ele, inspirado nos experimentos advindos da sociopsicologia e da antropologia, a tarefa global
do indivíduo seria adquirir uma identidade positiva, à medida que avança de uma etapa de
desenvolvimento para a seguinte.
A comunidade influencia e dá reconhecimento aos novos indivíduos que emergem em
suas sucessivas e provisórias identificações. A criança começa a construir expectativas de como
gostaria de ser no futuro a partir de como se sente como criança. O processo de formação da
identidade emergiria como uma configuração envolvente, gradualmente estabelecida por meio de
sucessivas elaborações e reelaborações do ego na infância.
Erikson destacou que a crise de identidade era mais pronunciada na adolescência e que,
durante outros períodos da vida adulta, também poderia ter lugar uma redefinição da identidade
individual: quando os indivíduos abandonavam os lares, casavam-se, eram pais pela primeira vez,
divorciavam-se ou mudavam de trabalho. O êxito com que enfrentavam tais mudanças de
identidade estava determinado parcialmente pela capacidade para superar as crises de identidade
adolescentes.
A centralidade do eu (ego)
A Ego Psychology é uma das grandes correntes da história do freudismo norte-
americano. Fundamenta-se na ideia de uma possível integração do homem numa sociedade, numa
“comunidade”, ou até, a partir de 1970, numa identidade sexual, numa diferença psicossocial, numa
cor ou numa etnia. Acusada pelos freudianos clássicos de visar uma adaptação pragmática de
qualquer sujeito à sociedade, essa corrente, no entanto, sempre foi crítica em relação ao “jeito
americano de viver”.
De maneira geral, o freudismo norte-americano, em todas as suas tendências, privilegia
o eu (ego), o self ou o indivíduo, em detrimento do isso (id), do inconsciente e do sujeito. Propõe
uma ética pragmática do homem, fundamentada na noção de aconselhamento social ou de higiene
mental. Daí a generalização de uma psicanálise medicalizada e assemelhada à psiquiatria.
Erikson destacou que a adolescência é uma crise normativa, sendo uma fase normal de
conflito incrementado caracterizada por uma flutuação na força do ego. O indivíduo que a
experimenta é vítima de uma consciência de identidade que seria base da autoconsciência da
juventude. Durante esse tempo, o indivíduo deveria estabelecer um sentido para a identidade
pessoal; a maneira como os jovens podem se explicar em função da formação de sua personalidade
é chamada de estado de identidade.
Estabelecer uma identidade requereria do indivíduo um esforço para avaliar os recursos
e as responsabilidades pessoais e aprender como utilizá-las para obter um conceito mais claro de
quem é e do que quer ser. Mas os adolescentes que se envolvem de forma exageradamente ativa na
exploração da identidade teriam mais tendência a mostrar um padrão de personalidade caracterizado
por insegurança, confusão e pensamento perturbado, impulsividade, conflito com os pais e com
outras figuras de autoridade e força do ego reduzida.

A adolescência como moratória psicossocial


Para Erikson, a formação da identidade não começa nem termina com a adolescência. É
um processo que dura toda a vida, amplamente inconsciente para o indivíduo. Suas raízes remontam
à infância com a experiência de reciprocidade entre pais e filhos. Quando as crianças delimitam seu
primeiro objeto de amor, começam a encontrar a autorrealização acompanhada do reconhecimento
mútuo.
No geral, a adolescência começa com a instância de identidade difusa, que segundo
Erikson é um estado de coisas em que o sujeito não estabelece compromissos firmes com nenhuma
atitude ideológica, ocupacional ou interpessoal, nem está vislumbrando tal possibilidade. Qualquer
compromisso que possa ocorrer tende a ser efêmero e a ser substituído com rapidez por outros,
igualmente provisórios.
Um aspecto interessante da teoria de Erikson é o conceito da adolescência como
moratória psicossocial, ou melhor, como um período intermediário admitido socialmente, durante o
qual o indivíduo pode encontrar uma posição na sociedade por meio da livre experimentação de
funções. Depois de ter chegado ao autoconhecimento nos aspectos físicos, cognitivo, interpessoal,
social e sexual, os adolescentes começam a refletir sobre os tipos de compromissos que gostariam
de assumir, o que seria o estado da identidade em fase de moratória.
Erikson afirmava que a duração e a intensidade da adolescência variam nas diferentes
sociedades, mas em todas elas a ideia de não ter formado a própria identidade ao final da
adolescência produz um profundo sofrimento para o adolescente por causa da difusão de papéis. Tal
confusão pode ser responsável pela aparição de problemas psicológicos previamente latentes.
O adolescente que fracassa na busca da identidade experimentará insegurança e poderá
ficar preso a uma preocupação constante ou numa atividade autodestrutiva. Poderá ter uma
tendência a preocupar-se em demasia com as opiniões de outros ou cair no polo oposto, não se
importar em absoluto com o que os outros pensam. A aproximação com o uso de drogas de forma
recorrente pode ser uma forma de descarregar a ansiedade que gera esta difusão de papéis.

Para saber mais


> Infância e sociedade, de Erik Erikson. Rio de Janeiro, Zahar, 1972.
> Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro, Zahar, 1972.

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