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CONCEITUALIZAÇÃO COGNITIVA
Professora Dra. Angela Donato
Caro(a) estudante, apresentaremos, a seguir, um caso clínico, a fim de aprofundar ainda mais seu
CASO CLÍNICO
Observação — os nomes são fictícios e algumas informações do caso foram modificadas.
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO:
Profissão: empresária.
Idade: 36 anos.
Nacionalidade: brasileira.
Herança cultural: família do interior de Minas Gerais, valores tradicionais e conservadores fortes nos
ambientes familiar, escolar e social.
Apresentação: bonita, roupas largas, bem acima do peso, relata ter ataques de pânicos e medo de
morrer. Tensa, ansiosa, fala de forma articulada, se emociona em muitos momentos e diz que deu
certo profissionalmente, mas não nas relações interpessoais. Mora sozinha, tem medo do futuro e
de ficar sozinha.
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Queixas: sente-se preocupada o tempo todo. Está acima do peso; teve três episódios de
taquicardia; não lida bem com as pessoas; tem ficado em casa; briga muito com a mãe,
porque se irrita com ela, e, depois, se sente culpada por isso. Relata ter humor deprimido
e só tem vontade de ficar em casa, trancada no quarto. Tem preocupação com a saúde e
com aspectos da vida em geral. Não aceita que os outros comandem a vida dela, não se
sente amada por ninguém. Sente-se um lixo e tem tomado medicação por conta própria,
para diminuir o peso, mas não tem tido sucesso. Tem medo de um futuro sombrio, pois
não vislumbra meios de melhorar a partir do que vive atualmente.
Aspectos emocionais: tristeza, medo, desânimo, raiva e culpa.
Aspectos cognitivos: não lida bem com as pessoas, se preocupa com a saúde e com a
vida em geral, não aceita que pessoas comandem a vida dela, não se sente amada por
ninguém, se sente um lixo e não vislumbra meios de melhorar.
Aspectos comportamentais: isola-se, se tranca no quarto, briga com a mãe, toma
medicação para diminuir peso.
Aspectos fisiológicos: três episódios de taquicardia.
HISTÓRIA DE VIDA:
O casamento dos pais sempre foi conflituoso. Até a separação, o pai tinha uma condição financeira
boa, mas ele não ajudou os filhos depois que saiu de casa. Renata teve que mudar de escola e
passou a ajudar a mãe no salão. Renata sentiu que os irmãos foram poupados e não foram tão
cobrados. Eles continuaram estudando e se formaram. Renata não concluiu o ensino médio e fez
cursos técnicos para melhorar a atuação no salão. Ela e a mãe passaram a viver de maneira mais
modesta, mas, com os anos e com o espírito empreendedor de Renata, as coisas foram melhorando.
Renata diz que sempre trabalhou a vida toda, se sente cansada e gostaria de parar. Ela conseguiu
comprar um apartamento para a família aos 28 anos. Aos 24, estava com dois salões. A mãe ainda
ajuda no salão, mas a ajuda é cada vez menor. Renata sabe que não pode contar muito com a mãe,
que diz que está cansada. Os irmãos são sustentados, em parte, por ela. O irmão mora há quatro
anos em outra cidade, mas depende de uma mesada que Renata dá para ele. A irmã está casada,
mas o marido ganha mal e ela faz pequenas tarefas (irregulares) no salão para “justificar” a mesada.
A mãe mora com o padrasto e faz retiradas mensais do salão, pois se julga sócia com mais direitos
do que deveres.
Pressupostos: “Se eu sair de casa, as pessoas vão me desprezar porque estou acima do peso; se eu
Estratégias de enfrentamento: “Me isolo, fico no quarto, brigo com minha mãe para afastá-la de
mim.”
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Pensamentos automáticos: “As pessoas mudam de assunto quando eu chego. As pessoas ficam me
olhando de um jeito estranho. Ninguém gosta de gordo. Eu não aguento mais, estou cansada,
desanimada. Acho que vou morrer. Devo ter algum problema de saúde.”
Pontos fortes: “Sou disciplinada, trabalho duro, sei fazer planejamento profissional de sucesso.”
Crenças positivas sobre si própria: “Eu dei certo na vida profissional, então, sou boa empresária, e
isso significa que tomei boas decisões no trabalho.”
TERAPEUTA: Obrigada por responder às minhas perguntas, Renata. Fiz algumas anotações e
gostaria que me ajudasse a fazer algumas conexões entre os problemas que você descreveu para
mim. Essas conexões podem nos indicar uma compreensão de aspectos de sua vida que estão
causando algum sofrimento e vão ajudar a indicar uma direção de intervenção (de minha parte), para
que você possa começar a se sentir melhor. Está bem assim para você?
TERAPEUTA: Vou mostrar o que anotei até agora. Tentei escrever alguns dos tópicos principais que
você apresentou hoje. Por exemplo, você começou me contando sobre as suas dificuldades de
relacionamento familiar. Que sua mãe age no trabalho de um modo que você não acha correto e
ainda diz que você não é uma pessoa generosa com a família. Você se sente cansada e tem se
afastado das pessoas de um modo geral. Você mora sozinha e parece que isso ajuda no seu
isolamento social. Você se desentende, constantemente, com sua mãe, pois responde com
impaciência e grosseria ao que ela fala sobre você em relação ao modo como atua na família, no
trabalho e em relação à comida. Sua mãe repete, constantemente, que, se você não mudar, vai ficar
TERAPEUTA: Ok. Vamos escrever “Preocupações” aqui. Você me falou dos tipos de preocupação
que você tem: você está preocupada com o seu futuro, com o relacionamento com sua mãe, com a
RENATA: Sim. Eu me preocupo com a minha aparência e tenho medo de acabar sozinha e de não
voltar a ser como eu era.
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TERAPEUTA: (Escreve isso na folha). O seu relacionamento com sua mãe e sua preocupação com a
saúde são os pontos que fazem com que você se preocupe com seu futuro?
RENATA: Eu me preocupo porque brigo muito com ela. Isso me deixa triste e compenso comendo;
estou acima do peso. As pessoas se afastam de quem é gordo. Eu tenho vergonha de ser gorda e sei
que isso afeta a minha saúde e comprometo meu futuro: vou ficar sozinha, gorda e doente.
RENATA: As pessoas no shopping me olham, e eu acho que é de um jeito estranho. Acho que elas
pensam “Que pena, uma moça tão bonita e toda estragada”. No trabalho, eu percebo que as pessoas
TERAPEUTA: Então, parece que as pessoas podem ter algum preconceito contra você por estar
acima do peso. Isso a preocupa porque tem medo de que as pessoas se afastem de você?
RENATA: Com certeza. Eu sinto vergonha de mim, as pessoas sentem vergonha de estarem com
alguém fora dos padrões sociais. Elas têm preconceito, não tem jeito.
TERAPEUTA: Vamos acrescentar aqui as suas preocupações sobre o preconceito das outras
pessoas.
RENATA: Ok.
TERAPEUTA: Você me falou que fica acordada durante a noite, perde o sono pensando nas suas
preocupações.
TERAPEUTA: Vou escrever isso aqui, abaixo de “Reações físicas”. Você consegue pensar em outra
reação física que você teve ultimamente?
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RENATA: À noite, bem tarde, estava deitada, pensando nas coisas da minha vida e, do nada, senti
uma palpitação, o coração parecia querer sair pela boca, me senti muito mal e fiquei achando que ia
morrer. Fui para o hospital. Lá, eles fizeram muitos exames e não constataram nada. Disseram que
era psicológico e me mandaram para casa. Na segunda vez em que isso aconteceu, foi a mesma
coisa. Meses depois, tive mais uma vez e voltei para o hospital. Estou com medo de voltar a
TERAPEUTA: Deixe ver se eu entendi. Em três episódios, quando você estava deitada à noite, sem
conseguir dormir, pensando nas preocupações da vida, começou a sentir essas sensações e correu
para o hospital com medo de ser algo grave. Você estava sozinha nessas ocasiões?
RENATA: Na primeira vez, minha irmã estava dormindo lá em casa e foi comigo para o hospital. Na
segunda vez e na terceira vez, eu estava sozinha. Foi horrível, não gosto nem de lembrar.
TERAPEUTA: E quando você está nervosa, triste, cansada, com essas preocupações sobre ficar
RENATA: Eu me tranco no quarto, fico ali sem querer ver ninguém, e penso que eu sou um lixo, que
TERAPEUTA: Vou escrever isso aqui, abaixo de “Comportamento”: “Me tranco no quarto, fico sem
querer ver ninguém”. E vou colocar estas ideias: “Sou um lixo" e "Eu não sirvo para nada” aqui abaixo
de “Pensamentos”. Você acha que essas listas captam as coisas mais importantes que você me
contou hoje?
RENATA: Sim.
TERAPEUTA: O motivo pelo qual eu listei as coisas nessas categorias (apontando para cada uma) é
que cada uma dessas áreas é importante para a compreensão das suas dificuldades. Seus
pensamentos, suas reações físicas, suas emoções e seu comportamento afetam e trazem
RENATA: Entendo.
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TERAPEUTA: Estou desenhando setas, ligando essas quatro partes. O que você entende com isso?
TERAPEUTA: Sim, geralmente, é assim. Você consegue pensar em algum momento em que uma
TERAPEUTA: Sim, pode ser. Quando fica acordada, você se preocupa, e isso pode ter levado a uma
elevação de batimentos cardíacos. E qual emoção você sentiu com essa reação fisiológica?
RENATA: Na hora, eu senti medo de morrer, fiquei muito nervosa e fora do controle. Agora, fico triste,
TERAPEUTA: Entendo como isso deve estar sendo difícil... (Terapeuta procura mostrar acolhimento
e empatia). Quando você está triste, pode surgir o pensamento: “Eu nunca vou ficar boa”. Vamos
escrever esse pensamento no círculo dos “Pensamentos”. (Acrescenta essas palavras.)
TERAPEUTA: Como mostram as setas, cada uma das partes afeta outras. Isso ajuda a entender
como você entrou nessa situação difícil, Renata. As demandas exigiram que trabalhasse muito, você
ficou com a responsabilidade de trabalhar junto com sua mãe para sustentar a casa. Deixou os
estudos e usou sua disciplina para se dedicar ao trabalho. Sente-se cansada, sua mãe cobra
resultados e não contribui tanto. Você acaba buscando prazer na comida, mas acabou engordando, e
isso a afastou das pessoas. Se isola cada vez mais, vai ficando mais triste e compensa isso
comendo. Você está preocupada e não consegue dormir. Quando você não dorme, fica mais
cansada e desmotivada. Quando não faz nada, quando come excessivamente, quando se lembra das
palavras da mãe, dizendo que você não é generosa e que vai ficar sozinha, começa a pensar: “Eu não
sirvo para nada”. E, assim, fica dando voltas. Depois de algum tempo, você fica mal, e as coisas
podem começar a parecer ainda piores, sem esperança. E há momentos em que isso desencadeia
taquicardia.
TERAPEUTA: Vendo esse quadro, podemos enxergar caminhos para mudanças positivas.
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TERAPEUTA: Vimos que as áreas interferem umas nas outras. Se aplicarmos essa lógica a
mudanças positivas em outras áreas. Assim como as coisas negativas trouxeram para você
desesperança, mudanças positivas em uma área podem ajudá-la a sair desse lugar de sofrimento.
Talvez eu possa ajudá-la a pensar em pequenas mudanças que você pode fazer e conseguir algum
TERAPEUTA: Vamos olhar juntas para esta figura, Renata. Se você tivesse que escolher uma dessas
áreas para fazer uma pequena mudança, por onde você acha que começaria? Qual pequena
RENATA: (Olha para a figura por um minuto, em silêncio.) Bem, acho que, se eu não pensasse tanto
nas coisas à noite, poderia me sentir melhor, e isso também ajudaria no meu sono. Mas não sei
TERAPEUTA: Essa é uma ideia interessante, Renata. Você lembra de, em algum momento, ter
TERAPEUTA: Já temos um ponto por onde começar. Você consegue se lembrar como foi isso?
problema. Outros modelos podem não considerar tais mecanismos como desencadeantes.
Com o decorrer das sessões, mais informações foram sendo acrescentadas ao esboço de
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O pai de Renata teve vários relacionamentos extraconjugais, e ela lembra que, aos 7 anos, quando
ele ia buscá-la na escola, frequentemente, estava acompanhado de uma “amiga”. Isso deixava
Renata envergonhada junto às amigas, que comentavam que o pai tinha uma namorada. A mãe, por
sua vez, pedia que Renata vigiasse o pai. Quando ela contou para a mãe que o pai levava uma
“amiga” na saída da escola, os pais brigaram muito. Muitas vezes, Renata não contava que ficava
tomando sorvete sozinha na padaria enquanto o pai e a “amiga” iam para os fundos do
estabelecimento conversar com adultos.
A mãe não poupava Renata e desabafava com ela os conflitos do casamento. Renata
sofria com isso. As brigas recorrentes deixavam Renata se sentir, em parte, culpada,
porque, às vezes, contava sobre essa “amiga” do pai; quando não contava, também se
sentia mal por não fazer o que a mãe pedia. Ela sentia grande desconforto, e isso foi se
tornando motivo de preocupação. Renata sentia que não podia relaxar, tinha que ficar
vigilante para saber se poderia contar ou não, mas nada saía como previa.
Renata falou de um episódio quando tinha 10 anos. O pai, embriagado, teve uma briga feia com a
mãe. Ela presenciou, houve agressão física, e Renata pediu socorro para uma vizinha. Ela sempre se
manteve alerta para evitar que uma briga como essa voltasse a acontecer. Ela se sentiu mais
responsável por tudo andar bem a partir desse dia, e passou a tomar conta dos momentos em que o
pai voltava para casa. Vivia em estado de alerta, não descansava com medo das brigas. Achava que
poderia evitar o pior, pois o pai era muito violento quando estava bêbado.
Renata destacou que o pai e a mãe não cuidavam do bem-estar da filha, pois se via envolvida nas
brigas (não com os dois irmãos, que são menores). No dia em que o pai saiu, definitivamente, de
casa, a mãe se machucou, e Renata (com quase 13 anos) cuidou da mãe e dos irmãos.
O pai, desde então, nunca ajudou os três filhos, nem financeiramente nem emocionalmente. Na
verdade, Renata disse que ele nunca esteve presente na vida deles. Esse pai perdeu o que tinha
amealhado em vida desregrada, sem pensar na família. Renata nunca foi próxima do pai, acha que
ele é uma pessoa ruim, um parasita que pede dinheiro para ela. “Justo ele, que deixou de cumprir
com as responsabilidades financeiras em casa quando os filhos eram pequenos. Nos momentos em
que eu mais precisei, ele disse que tinha outra família”.
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Renata nunca se sentiu segura com os pais porque “eles não dão conta da própria vida, nem da vida
dos filhos. Eu passei a resolver tudo desde cedo”. A mãe sempre “delegou” para ela
responsabilidades. Apesar de a mãe ser amorosa verbalmente, ela dava castigos desproporcionais
se Renata ficasse na rua brincando depois de certa hora e ofendia a filha com xingamentos diante
dos colegas. Renata relatou que não teve uma adolescência feliz, e as poucas lembranças alegres da
infância são dos momentos em que ficava na casa da avó. Sentia-se e, ainda se sente, oprimida, sem
valor, culpada e cobrada pela mãe o tempo todo, e nunca conseguiu lidar bem com isso.
A mãe, com a ajuda do avô, abriu um salão quando Renata tinha cerca de 14 anos. Renata lembra
que ajudou a limpar o local, varrendo, pintando e ajeitando as coisas, e que a mãe dava broncas nela,
dizendo que “não era daquele jeito”. Renata começou a trabalhar cedo com a mãe e foi se
envolvendo com as atividades do salão e assumindo (com a mãe) as despesas da casa, mas sempre
havia críticas e reclamações. Renata abandonou os estudos aos 17 anos, para permitir que os
irmãos estudassem e para tentar dar o melhor no salão, para tentar diminuir as críticas. A mãe diz
que abriu mão da própria vida para cuidar de Renata e dos irmãos, que sempre fez tudo pelos filhos.
Renata reconhece essa dedicação da mãe, mas destaca que foi a parceria das duas que permitiu
que fosse comprado um primeiro salão e que parou de estudar cedo para se dedicar e tentar se
A mãe, trabalhando no salão, ficava muito ausente de casa e, após a separação, teve diversos
relacionamentos e namoros. No início, a avó materna cuidava um pouco mais de Renata e dos
irmãos.
Como os desentendimentos com a mãe nunca diminuíram, assim que amealhou um pequeno capital,
Renata começou a trabalhar sozinha. Ela se dedicou, inteiramente, ao trabalho e, atualmente, graças
ao próprio esforço, construiu uma franquia própria de salões de beleza e comprou a unidade que
tinha em sociedade com a mãe. A mãe, praticamente, não trabalha mais, e Renata a sustenta.
Isso é motivo para insatisfação e tristeza, pois Renata é responsável, financeiramente, pela família
(com exceção do pai) e sabe que o negócio cresceu porque ela se dedicou a isso intensamente. A
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Renata destacou que a mãe, de maneira geral, não vibrava com as conquistas profissionais da filha,
mas havia sempre uma palavra crítica. A mãe tinha ciúmes de Renata e achava que a filha se
insinuava para um dos namorados. Renata disse que nunca fez isso e que foi assediada aos 14 anos
por esse namorado da mãe, mas ela conseguiu fugir. Contou para a mãe, que não acreditou na filha,
e se lembra disso com raiva e mágoa. Renata não se sente confortável quando as pessoas elogiam a
beleza física dela. Acha, inclusive, que ser considerada bonita contribuiu para desentendimentos
com a mãe. Por volta dos 14 ou 15 anos, Renata disse que engordou um pouco e passou a usar
Renata teve poucos namorados, mas nenhum deles deu certo. Ela percebe que faz coisas para
relacionamento que teve, aos 30 anos, foi com um rapaz viciado em drogas, com alguns
apartamento dela por quase dois anos, mas ambos eram ciumentos e brigavam diariamente. Houve
dois episódios em que ocorreu agressão física por parte dela, que, depois, se sentiu arrependida e
culpada. Ela o criticava em tudo, achava que ele não fazia nada direito. Sempre foi muito intensa nos
relacionamentos, sente que isso sufoca o outro e que sempre “perde” as pessoas que ama. Tem
Aos 34 anos, teve o primeiro episódio de pânico (os batimentos cardíacos ficaram elevados) e ela foi
parar no hospital, levada pela irmã. Duas outras ocorrências semelhantes aconteceram aos 35 anos.
Ela relata que a sensação é assustadora. Toma remédio para evitar sentir isso novamente. Acabou
de completar 36 anos e acha que outro ataque semelhante pode ocorrer a qualquer instante. Renata
também passou a comer, compulsivamente, nos últimos quatro anos e está com sobrepeso de mais
de 30 quilos.
Em relação à vida profissional, acha que foi exitosa. Ela é dedicada, toma boas decisões e foi
crescendo aos poucos. Aos 22 anos, já tinha adquirido duas pequenas lojas, que as transformou em
salão. Aos 24, comprou um apartamento simples para a família e o mobiliou inteiramente. Aos 28
anos, adquiriu um apartamento para ela, e a mãe a criticou. A mãe não a elogia pelos feitos, mas
sempre ressalta os aspectos negativos de Renata. A mãe, a irmã e o irmão têm carros comprados
por ela. Ela não possui automóvel. Trabalha 14 horas por dia, incluindo sábados. É quase
uma workaholic. Não deixa de trabalhar mesmo quando está muito doente. Trabalha on-line nos dias
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Crenças: é responsável pela família, se sente uma pessoa sem valor no plano interpessoal. Vê a
mãe como alguém que se sacrificou pelos filhos, mas, ao mesmo tempo, é muito dura com
Renata e exige dela mais do que seria razoável. Sente que a mãe prefere os irmãos. Renata dá
uma mesada, para que não falte nada para eles. Apesar disso, a mãe diz que Renata é egoísta e
que faz pouco pelos outros. Renata, ao ouvir isso, se sente péssima e não consegue se aproximar
das pessoas em geral. Quer agradar as pessoas, pois tem receio de ser abandonada. À exceção
da avó, acha que não é amada, verdadeiramente, por ninguém, porque não tem valor. Tem boa
ligação afetiva com a avó materna.
PENSAMENTOS AUTOMÁTICOS:
“Eu acabo resolvendo tudo na minha família e bancando, financeiramente, tudo”.
Quando penso em não fazer algo, me sinto muito egoísta e acabo pensando que não custa nada”.
"Acho que vou morrer quando tiver um ataque de pânico".
"Eu não vou conseguir parar de comer, isso parece um monstro dentro de mim".
SITUAÇÕES INTERPESSOAIS:
“Se deito para descansar um pouco, minha mãe logo critica. Ela tem uma expressão de sofrimento
que me paralisa, me faz perder o prazer de fazer qualquer coisa, e eu acabo fazendo o que ela quer.
Me preocupo muito com o que irão pensar de mim”.
em relação à mãe.
"Eu nunca percebo que estou passando dos limites, só percebo o excesso quando meu corpo não
"Tenho vergonha do meu corpo e sei que as pessoas me olham com pena, não querem se aproximar
de mim. Eu também quero me afastar delas. Não lido bem com pessoas querendo 'pautar' minha
vida".
COMPORTAMENTO DE RESIGNAÇÃO:
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COMPORTAMENTOS DE EVITAÇÃO:
1. Evita julgar o comportamento da mãe.
2. Evita pensar e falar sobre o pai.
3. Evita intimidade com familiares e amigos.
4. Evita determinar o próprio pró-labore na empresa.
COMPORTAMENTOS DE HIPERCOMPENSAÇÃO:
RELAÇÃO TERAPÊUTICA:
Tem preocupação com o que a terapeuta pode pensar a respeito dela e da família. Está sempre
preocupada em não ultrapassar o horário por causa do próximo cliente. Busca cumprir as tarefas
solicitadas, mas, quando não consegue, sente-se culpada e tenta esconder. “Acho que meu caso não
HIPÓTESES TERAPÊUTICAS:
Renata apresenta queixa de humor deprimido e busca se isolar em casa, sem querer ver ninguém. A
mãe é muito crítica. Renata parece ser exigente com ela mesma, impõe a si uma disciplina de
trabalho e assume responsabilidades financeiras familiares. Quando criança, tentava evitar brigas
entre os pais e se sentia culpada quando não conseguia. Considera que precisa ser a provedora
material da família na atualidade, mesmo que isso gere um cansaço extremo nela. Não quer
desapontar a família, receia que as pessoas se afastem e trabalhem exageradamente. Cortou o pai
da vida dela.
Preocupa-se com a própria saúde, com o futuro, tem medo de ficar sozinha e fica ruminando esses
pensamentos à noite.
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Renata, ao se isolar, evita a ansiedade social e o julgamento que os outros podem fazer da própria
aparência. Inicialmente, essa descrição se aproxima de um humor deprimido, com uma visão
negativa de si mesma, traço característico da depressão (CLARK et al., 1999). Sendo esse o caso,
uma possibilidade de intervenção é buscar promover um pensamento mais equilibrado, por meio de
registros de pensamentos, reestruturações cognitivas e ativações comportamentais, para que
Renata possa ter respostas mais funcionais para lidar com a maneira como vê as próprias relações
interpessoais. Embora essas intervenções, inicialmente, tenham trazido pequena melhora no humor
de Renata, os resultados não se mostraram tão efetivos.
a. porque ela seria uma pessoa que faz coisas passíveis de crítica (a mãe ressalta
isso o tempo todo);
b. por ficar ansiosa quando avaliada pela aparência física atual.
Quando o medo de avaliação negativa devido à obesidade é excessivo, um diagnóstico de transtorno
de ansiedade social deve ser considerado. O transtorno de ansiedade social é, com frequência,
comórbido com outros transtornos de ansiedade, como o transtorno depressivo maior. Renata tem
forte preocupação com a aparência atual e considera que as pessoas a ridicularizam ou apresentam
preconceitos velados sobre a obesidade. Ela evita comer em público. Tem um quadro de compulsão
alimentar. Renata sabe que é uma mulher muito bonita e gostaria de voltar a ter um peso saudável. O
que a incomoda, particularmente, é o medo de ser avaliada, negativamente, pelas pessoas após o
sobrepeso. Ela não consegue lidar com a ansiedade que isso gera e usa a estratégia de evitação.
FATORES DE VULNERABILIDADE:
Renata parece ter crenças nucleares no âmbito familiar sobre não ser aceita ou ser rejeitada. Quanto
à briga dos pais, sente que fracassou como filha (quando não conseguiu proteger a mãe das
agressões do pai). Renata também teme ter alguma doença ou não ser saudável.
A vulnerabilidade cognitiva se baseia nas crenças que vão sendo construídas ao longo do
seja uma resposta adaptativa do indivíduo a situações ambientais específicas, quando ela se torna
inflexível, rígida, extrema e imperativa, pode se manifestar como algum tipo de transtorno
psicológico.
A natureza dela é interativa, ou seja, o que somos resulta de um amálgama entre genética e cultura.
recursos materiais; os ambientes de criação cultural são variados. Os indivíduos se esforçam para
satisfazer essas necessidades, mas isso pode levar a estratégias superdesenvolvidas que
aumentam a vulnerabilidade a transtornos psicológicos específicos.
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rejeição. Vê a mãe (e, atualmente, os outros na esfera social) como críticos e que a julgam de
maneira depreciativa em relação à aparência. O pai sempre esteve ausente e nunca se preocupou
com ela, que lida com isso ignorando-o completamente, evitando entrar em contato com essa
Outra vulnerabilidade subjacente de Renata é que se julgava incompetente por não corresponder às
negativas com a mãe, desde pequena. A mãe sempre foi muito severa com Renata, dizendo que ela
fazia tudo errado. Renata parece ter uma vulnerabilidade específica à rejeição e ao medo de ser
responsabilidade e de produtividade desde cedo. A mãe a criticava bastante e Renata se via como
incompetente.
Um aspecto a ser destacado é o de que, em ambas as famílias, há quadros de bipolaridade (do pai e
da avó paterna) e de depressão (mãe e familiares), indicando risco genético. Renata sempre viu as
próprias experiências no âmbito interpessoal de forma negativa. Para ela, essas relações não eram
boas. Como tem forte autocrítica, rumina pensamentos sobre como as pessoas julgam o sobrepeso,
CRENÇAS DE RENATA:
Considera que a rejeição é algo muito ruim. Isso pode se intensificar quando Renata interpreta
algumas situações de interação social como sinal de rejeição (pessoas olhando para ela de maneira
estranha). Essa sensibilidade à rejeição a faz se sentir ansiosa com as pessoas, aumentando a
vulnerabilidade. Renata lê sinais de não aceitação à atual aparência, o que a deixa mal, e, assim, se
isola mais.
A crença de incompetência ficou mais forte à medida que Renata não conseguia ter relacionamentos
duradouros, e isso foi um fator de vulnerabilidade quando se separou e começou a engordar.
Renata apresentava muitos pensamentos de que ficaria sozinha, o que a deixava mais triste,
agravando a depressão. Uma estratégia para aliviar o sofrimento de não conseguir se relacionar com
pessoas foi a de ter prazer com a comida.
Pressupostos e crenças subjacentes (regras e suposições) de Renata: “Se eu estiver próxima das
pessoas, então, elas irão perceber como sou fraca em relação à comida”; “Não sou capaz de tolerar
ou suportar os sentimentos desagradáveis das interações sociais”; “Se uma pessoa me criticar, é
porque não gosta de mim”; “Se não for amada, então, serei infeliz”.
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Estratégias de Renata para lidar com a ansiedade: evitação é a principal estratégia utilizada por
Renata. Ao evitar relacionamentos, as crenças de que “se eu estiver próxima das pessoas, então,
elas irão perceber como sou fraca em relação à comida” vão ficando reforçadas. Renata também
acredita que “não sou capaz de tolerar ou suportar os sentimentos desagradáveis das interações
sociais”. Opta, portanto, pela estratégia de evitação. Renata passa a evitar situações em que seja
avaliada pela aparência e, assim, consegue se proteger da avaliação negativa dos outros.
Outra estratégia que Renata parece ter usado para não sofrer em determinadas situações da infância
e da adolescência foi a de “se enfeiar” para não despertar a rejeição na mãe. Uma hipótese
terapêutica a ser investigada é a de que ela pode ter começado a compulsão alimentar como uma
forma de “se enfeiar” e não ter que lidar com novos relacionamentos: como não está em forma, eles
nem irão começar (o que não deixa de ser uma estratégia evitativa). Ela usa essa estratégia para não
sofrer, ou como forma de reduzir a ansiedade ou aquilo que teme (ser rejeitada por alguém). Ao
mesmo tempo, compensa o sofrimento com o prazer que aufere comendo. Tudo isso contribuiu para
evitar contato social e se afastar das pessoas.
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