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INSTITUTO POLITÉCNICO DE GESTÃO, LOGÍSTICA E

TRANSPORTES – IPGEST

MICROECONOMIA

FALHAS DE MERCADO

2º Ano
Sala: Aud. B
Turma: LGLT2MA
Período: Manhã

DOCENTE
______________________________
Prof. MSc Angelina Elizeu Manuel

Luanda/ 2023
INSTITUTO POLITÉCNICO DE GESTÃO, LOGÍSTICA E
TRANSPORTES - IPGEST

MICROECONOMIA

FALHAS DE MERCADO

AUTORES

20210033 - Alfredo Fonseca Joaquim


20180088 - Aparício da Conceição Bumba
20210542 - Alberto Agostinho Mendes
20210212 - Dias Mateus Bernardo Pedro
20212174 - Isaac Lopes Ernesto
20210712 - João Nachingue Sapalalo
20210461 - Lourenço Diazayakana de Castro
20211333 - Maria Bernardo
20210520 - Paulina Joaquim Panzo
20210962 - Pascoal João Cardoso
20211152 - Victoria Joaquim Clemente

Trabalho apresentado na Faculdade de Gestão, Logística e


Transportes, na cadeira de Microeconomia no curso de
Gestão de Logística e Transportes da Universidade de
Luanda.

Luanda 2023
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 3
Objectivo geral ........................................................................................................................ 3
Objectivo específico................................................................................................................ 3
1. FALHAS DE MERCADO .................................................................................................. 4
1.1. Conceito de Falha de Mercado .................................................................................... 4
1.2. TIPOS DE FALHAS DE MERCADOS ...................................................................... 5
1.2.1. Externalidades ...................................................................................................... 5
1.2.2. Bens públicos........................................................................................................ 7
1.2.3. Assimetria de informações ................................................................................... 8
1.2.4. Poder de mercado ................................................................................................. 9
1.3. OBJEÇÕES ................................................................................................................ 10
1.3.1. Escolha pública ................................................................................................... 10
1.3.2. Austríaca ............................................................................................................. 10
1.3.3. Marxista .............................................................................................................. 11
1.3.4. Ecológica ............................................................................................................ 11
1.3.5. Crítica de Chang ................................................................................................. 13
1.3.6. Crítica de Lipsey e Lancaster ............................................................................. 13
1.3.7. Zerbe e McCurdy ................................................................................................ 13
CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 14
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 15
INTRODUÇÃO
Nos complexos domínios da economia, as "Falhas de Mercado" emergem como peças
intrigantes no quebra-cabeça da alocação eficiente de recursos. Enquanto o modelo idealizado
de livre mercado sugere um sistema autorregulado onde a oferta e a demanda encontram um
equilíbrio natural, a realidade muitas vezes conta uma história diferente. Este trabalho mergulha
nas intricadas teias das falhas de mercado, revelando os desafios que desafiam a utopia
económica e questionam a eficácia do Laissez-faire. Ao explorar essas falhas, examinamos as
implicações para a sociedade, os consumidores e o papel crucial que a intervenção regulatória
desempenha na busca pela equidade e eficiência económica. Nessa jornada, desvendamos os
mistérios das assimetrias de informação, externalidades e outros fenómenos que desafiam a
perfeição do mercado e moldam os destinos económicos em nossa era contemporânea.

Objectivo geral
• Compreender as falhas de mercado como fenómenos económicos, identificando seus
principais determinantes e impactos, a fim de contribuir para o desenvolvimento de
estratégias e políticas que visem mitigar essas falhas e promover um funcionamento
mais eficiente e equitativo da economia.

Objectivo específico
• Identificar e classificar falhas de mercado: analisar as diferentes formas de falhas de
mercado, como externalidades, assimetria de informações, poder de mercado, bens
públicos, destacando suas características e implicações.

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1. FALHAS DE MERCADO

1.1.Conceito de Falha de Mercado


De acordo a economia, a falha de mercado é uma situação na qual a alocação de bens e
serviços por um mercado livre não é eficiente, frequentemente levando a uma perda líquida de
bem-estar social. Os fracassos do mercado podem ser vistos como cenários em que a busca
individual de puro interesse próprio leva a resultados que não são eficientes - que podem ser
melhorados do ponto de vista da sociedade. O primeiro uso conhecido do termo pelos
economistas foi em 1958, mas o conceito foi rastreado até o filósofo vitoriano Henry Sidgwick.
As falhas de mercado são frequentemente associadas a preferências inconsistentes no tempo,
assimetrias de informação, mercados não competitivos, problemas de principal-agente ou
externalidades.

A falha de mercado é a situação económica definida por uma distribuição ineficiente de


bens e serviços no mercado livre.

A actividade regulatória governamental é vista pela tradicional abordagem neoclássica


da Economia como um meio para corrigir distorções a locativas no sistema de mercado. Nesse
caso, a justificativa de intervenção é a busca da eficiência do sistema econômico.

A própria expressão "falhas de mercado", a rigor, parece deixar subentendido que os


mercados são como que meios a serem usados para a obtenção de fins. Se estes últimos - que,
segundo os preceitos do intervencionismo, devem ser eleitos pelos planejadores de plantão -
não são alcançados, fala-se na ocorrência de algum tipo de deficiência no "sistema" (isto é, em
resultados "injustos" na ordem espontânea de mercado).

Diferentes economistas têm visões diferentes sobre quais eventos são as fontes de falha
de mercado. A análise económica dominante aceita amplamente que uma falha de mercado
(relativa à eficiência de Pareto) pode ocorrer por três razões principais: se o mercado
é monopolizado ou um pequeno grupo de empresas detém poder de mercado significativo, se a
produção do bem ou serviço resultar em um externalidade, ou se o bem ou serviço é um bem
público.

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1.2.TIPOS DE FALHAS DE MERCADOS

1.2.1. Externalidades
As externalidades podem surgir entre produtores, entre consumidores ou entre
consumidores e produtores. Para Hubbard e O’Brien, (2010, p. 194), a externalidade é um
benefício ou custo que afecta alguém que não está directamente envolvido na produção ou
consumo de um bem ou serviço. Há externalidades negativas – que ocorrem a acção de uma
das partes impõe custos à outra, e externalidade positiva – que surgem quando a acção de uma
das partes beneficia a outra.

Isso significa dizer que as externalidades estão vinculadas aos efeitos das actividades de
produção e consumo que não se refletem directamente no mercado. As decisões de
compradores e vendedores influenciam mutuamente uns aos outros, ou seja, são resultados de
mercado, e isso não é uma externalidade (EATON; EATON, 1999).

Franck e Bernanke (2012, p. 298), no mesmo sentido, definem a externalidade como


custos ou benefícios externos de uma actividade económica, classificando como custo externo
ou externalidade negativa o custo de uma actividade que recai sobre outras pessoas que não
aquelas que desenvolvem a actividade; e benefício externo ou externalidade positiva como o
benefício de uma actividade recebido por pessoas que não aquelas que exercem a actividade
produtiva. Esses efeitos geralmente não são internacionais.

Importa destacar que as externalidades são geradoras de ineficiência dos mercados, pois,
segundo Hubbard e O’Brien (1999, p. 197), “as externalidades e os fracassos de mercado
resultam de direitos de propriedade incompletos ou de uma dificuldade em fazer cumprir os
direitos de propriedade em certas situações.

Frank e Bernanke (2012, p. 299) afirmam que “todas as actividades envolvem custos e
benefícios e, quando todos os custos e benefícios relevantes de uma actividade recaem
directamente sobre a pessoa que executa, a actividade não gera externalidade”. Um mercado
com externalidade permite a solução privada dos problemas dele decorrentes, uma delas seria
“a fusão dos processos produtivos, onde problemas de produção da empresa passa a considerar
não apenas os benefícios gerados pela produção de poluição para o processo industrial, como
também o custo para o processo extrativo” (CHAGAS, 2011, p. 284).

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Dentre as soluções para o problema da externalidade, está a solução pública, que é
quando o governo intervém por meio de políticas públicas, afirmam Hubbard e O’Brien (2010).
Já Frank e Bernanke (2012, p. 299) sustentam que “quando uma actividade gera externalidade,
o egoísmo individual não produz a melhor alocação dos recursos, ou seja, não importa se o
efeito da externalidade é negativa ou positiva”.

Ronald Coase (1910-2013), pressupunha que os problemas de externalidade são


oriundos de uma especificação inadequada dos direitos de propriedade e, consequentemente,
ausência de mercados em quem não se consegue internalizar os custos ou os benefícios
externos. Dito de outra forma, o Teorema de Coase afirma que em uma transação económica
com externalidades, se os direitos de propriedade são bem definidos e os custos forem baixos,
então a solução privada é socialmente ótima. Neste caso, o único papel do governo é assegurar
os direitos de propriedade e a segurança da negociação.

Dentro desse contexto, Burgenmeier (2005) coloca que nas perspectivas dos direitos de
propriedade não se trata da punição do poluidor, mas da aceitação da poluição como um facto
reconhecido. Assim, o comércio de licenças de emissão seria um exemplo de um direito
implícito à poluição sendo, portanto, o resultado de um processo de negociação entre as partes
envolvidas.

A solução do Teorema de Coase seria norteada pela construção de um sistema global e


bem definido de direito à propriedade aos quais cabe aos negociadores internalizar a
externalidade através do mercado. Em suma, Coase (1960) identificou que as soluções de
externalidades não precisam de um aparato público, apenas de instituições fortes que garantam
o direito à propriedade privada.

Além disso, para Coase (1960) os direitos de propriedade bem definidos possuem uma
estrutura com quatro características fundamentais, a saber: universalidade, exclusividade,
transmissibilidade e segurança. No caso desta primeira, todos os recursos existentes podem ser
apropriados por privados para correção de externalidade. A exclusividade, por sua vez, os custos
e benefícios gerados pela posse dos recursos devem ser suportados pelos proprietários, através
dos mecanismos de mercado. No que concerne a transmissibilidade, os direitos de propriedade
são transferíveis através de trocas voluntárias. Finalmente, a segurança os direitos de
propriedade privada são protegidos contra a usurpação ilegal.

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Por outro lado, é possível haver problemas no que tange aos direitos de propriedade em
razão da ausência de concorrência perfeita, custos de transação elevados, dificuldade na
identificação das partes negociadoras e situações de propriedade comum.

Burgenmeier (2005) retrata que algum bem ambiental não é possível aceitar uma
exclusão de consumo pelo mecanismo de preços. Por exemplo, o ar e uma paisagem não
poluídos são exemplos para os quais a teoria dos direitos de propriedade é ineficaz além de
mercados em condição imperfeita que cessam as trocas antes de ser atingido o preço que garanta
a alocação ótima.

De forma mais especifica, a abordagem de Coase (1960) pode ser adequada à questão
ambiental em termos de créditos de carbono, resultado de uma busca de uma solução eficiente
para combater à poluição atmosférica (SOARES, SILVA,TORREZAN, 2016)

Importa consignar que definir os diretos de propriedade não é algo simples e trivial, já
que haverá ganhadores e perdedores de um eventual processo de negociação, e requer a
existência de órgão de regulação e soluções de conflitos nem sempre viáveis como
empreendimentos privados, justificando a existência de uma Estado regulador (CHAGAS,
2011). A regulação estatal poderá ser feita limitando a produção de poluição por partes das
empresas e/ou agentes poluidores, seja impondo um limite sobre quantidade, seja tributando a
poluição gerada. Nesse último caso, a alíquota do imposto deveria ser fixada de modo a
incentivar a indústria a reduzir a polução. A fixação da tarifa ótima deve levar em conta os
custos e benefícios sociais da poluição, o que conduz à mesma solução ótima do ponto de vista
social. Esse tipo de imposto, que internaliza os efeitos de uma externalidade, é conhecido como
Imposto de Pigou (CHAGAS, 2011).

1.2.2. Bens públicos


São definidos como aqueles bens que geram benefícios para todos, mas cujos custos não
podem ser distribuídos, pela simples razão de que não se pode excluir do consumo os indivíduos
que se recusam a pagar por eles. Tal costuma ser o caso de estradas, parques públicos,
policiamento, defesa nacional, meio-ambiente, etc. A diferença mais importante entre os bens
públicos e os demais é que os benefícios por eles gerados, não podendo ser alocados entre os
beneficiários de acordo com algum princípio econômico, devem ser objecto de decisões
políticas, o que significa que o Estado é quem deve produzi-los, buscando financiamento na
tributação, na inflação e na dívida interna ou externa.
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Características dos bens públicos

a) Não exclusivos: um bem é considerado não exclusivo quando seu consumo não pode
ser impedido, mesmo para aqueles indivíduos que eventualmente não pagaram por ele.
A segurança nacional e a iluminação pública constituem exemplos de bens não
exclusivos. É impraticável qualquer tentativa de impedir que algumas pessoas não
usufruam da segurança nacional ou da iluminação pública. O custo de exclusão do não
pagante seria extremamente elevado.

b) Não rivais: um bem é considerado não rival quando seu consumo não repercute na
indisponibilidade do mesmo bem para outras pessoas, ou seja, pode ser consumido por
vários indivíduos simultaneamente. O uso de uma praça, a iluminação pública e a
segurança pública constituem exemplos de bens não rivais. O custo adicional da
inclusão de um novo usuário é zero.

1.2.3. Assimetria de informações


A assimetria de informações constitui a violação da hipótese de que todos os agentes
econômicos possuem pleno conhecimento do mercado (ou informações simétricas). Segundo o
pressuposto da simetria de informações, deveríamos conhecer claramente nossas próprias
preferências, as preferências dos demais agentes, os preços praticados e as características
diferenciadoras dos bens (especificações técnicas, qualidade, procedência etc.). Contudo, tal
premissa dificilmente se verifica na prática, pois as informações de que dispomos não são
perfeitas. Na maioria das vezes, conhecemos o preço e algumas características que
consideramos importantes sobre os produtos de nosso interesse. Esse reduzido grau de
informação constitui uma falha de mercado, denominada assimetria de informações.

A assimetria de informações reflete o diferente grau de conhecimento entre compradores


e vendedores, que resulta no benefício de uma das partes envolvidas em uma transação ou um
contrato em detrimento da outra. A assimetria de informações manifesta-se de duas formas
distintas: risco moral e selecção adversa.

a) Risco moral: reflete a situação em que a assimetria de informações entre compradores


e vendedores ocorre ex post, ou seja, após a concretização de uma transação econômica
ou de um contrato. O risco moral consiste na possibilidade de a parte contratante assumir

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um comportamento de risco, não observado inicialmente pela parte contratada, após a
efetivação do contrato. A ocorrência do risco moral é bastante frequente na contratação
de seguros de saúde e de veículos.

b) Selecção adversa: reflete a situação em que a assimetria de informações entre


compradores e vendedores ocorre ex ante, ou seja, antes da concretização de uma
transação econômica ou de um contrato. A selecção adversa retrata situações nas quais
uma das partes não possui informações perfeitas sobre a outra parte, o que pode
contribuir, devido aos riscos associados a esse desconhecimento, para a prática de
preços mais elevados. Podemos recorrer novamente ao mercado de seguros de saúde
para exemplificar a ocorrência de selecção adversa. A assimetria de informações
consiste no fato de que você conhece mais sobre suas condições de saúde do que a
empresa contratada. Considerando que a empresa contratada (operadora do seguro de
saúde) não conhece com precisão os riscos inerentes a cada consumidor de seu produto,
ela passa a cobrar um preço médio mais elevado pelo serviço. A cobrança de um preço
mais elevado incentiva os indivíduos de maior risco a contratar o seguro de saúde.
Ocorre, nesse mercado, um processo de seleção adversa, pois o preço mais elevado
expulsa do mercado os clientes de melhor qualidade, ou seja, aqueles que apresentam
menor risco. A saída encontrada pelas operadoras de seguros de saúde é a discriminação
de preço para cada tipo de risco, bem como pela faixa etária do contratante.

1.2.4. Poder de mercado


Poder de mercado é a capacidade que um agente económico detém de manter
seus preços acima do nível competitivo, de forma a aumentar seus lucros, sem com isso perder
clientes. Outra forma de exercer esse poder é impedindo a inovação ou o aumento de qualidade
por parte de eventuais competidores.

O exercício de poder de mercado ocorre tipicamente em situações de monopólio ou


quando há fortes barreiras de entrada, que impedem o surgimento de concorrentes que disputem
o mercado com preços mais baixos. Isso pode acontecer por haver poucos recursos (tornando
inviável a competição) ou por imposições do governo. Nesse caso, o poder de mercado
é unilateral; caso duas ou mais empresas formem um cartel para fixar os preços, a situação
passa a ser de poder de mercado colateral

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Para corrigir essas falhas de mercado, intervenções governamentais, como
regulamentações antitruste, podem ser necessárias para promover a concorrência e proteger o
bem-estar dos consumidores. Além disso, políticas que visam reduzir barreiras à entrada e
promover a inovação podem ajudar a mitigar os efeitos negativos do poder de mercado sobre a
eficiência económica.

1.3.OBJEÇÕES
1.3.1. Escola pública
Economistas como Milton Friedman, da escola de Chicago, e outros da escola Public
Choice, argumentam que essa falha de mercado não implica necessariamente que o governo
deve tentar resolver as falhas do mercado, porque os custos de falha do governo podem ser
piores do que aqueles da falha de mercado que tenta consertar. Esse fracasso do governo é visto
como o resultado dos problemas inerentes à democracia e outras formas de governo percebidas
por essa escola e também do poder de grupos de interesse especial (buscadores de renda) tanto
no sector privado quanto na burocracia do governo. As condições que muitos consideram
negativas são frequentemente vistas como um efeito de subversão do livre mercado por
intervenção governamental coercitiva. Além das objeções filosóficas, uma questão adicional é
a dificuldade prática que qualquer tomador de decisão individual pode enfrentar ao tentar
entender (e talvez prever) as inúmeras interações que ocorrem entre produtores e consumidores
em qualquer mercado.

1.3.2. Austríaca
Alguns defensores do laissez-faire capitalista, incluindo muitos economistas da Escola
Austríaca, argumentam que não existe tal fenómeno como "falha de mercado". Israel
Kirzner afirma que, "eficiência para um sistema social significa a eficiência com a qual ele
permite que seus membros individuais atinjam seus objectivos individuais". A ineficiência só
surge quando os meios são escolhidos por indivíduos que são inconsistentes com seus
objectivos desejados. Essa definição de eficiência difere da eficiência de Pareto e forma a base
do argumento teórico contra a existência de falhas de mercado. No entanto, desde que as
condições do primeiro teorema de bem-estar sejam atendidas, essas duas definições concordam
e dão resultados idênticos. Os austríacos argumentam que o mercado tende a eliminar suas
ineficiências através do processo de empreendedorismo impulsionado pelo lucro; algo que o
governo tem grande dificuldade em detectar ou corrigir.

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1.3.3. Marxista
Objeções também existem em bases mais fundamentais, como a da equidade, ou
a análise marxista . Usos coloquiais do termo "falha de mercado" refletem a noção de que um
mercado "falha" em fornecer algum atributo desejado diferente da eficiência - por exemplo,
altos níveis de desigualdade podem ser considerados uma "falha de mercado", mas não
são ineficientes em Pareto, e por isso não seria considerado uma falha de mercado pela
economia mainstream. Além disso, muitos economistas marxistas argumentariam que o
sistema de direitos de propriedade individual é um problema fundamental em si mesmo e que
os recursos deveriam ser alocados inteiramente de outra maneira. Isso é diferente dos conceitos
de falha de mercado, que se concentra em situações específicas - normalmente vistas como
anormais - em que os mercados têm resultados ineficientes. Os marxistas, em contraste, diriam
que os mercados têm resultados ineficientes e democraticamente indesejados - encarando o
fracasso do mercado como uma característica inerente a qualquer economia capitalista - e
tipicamente o omitem da discussão, preferindo racionar bens finitos não exclusivamente através
de um mecanismo de preços, mas baseado em necessidade determinada pela sociedade expressa
pela comunidade.

1.3.4. Ecológica
Na economia ecológica, o conceito de externalidades é considerado um equívoco, uma
vez que os agentes de mercado são vistos como fazendo suas rendas e lucros "transferindo"
sistematicamente os custos sociais e ecológicos de suas actividades para outros agentes,
incluindo as gerações futuras. Portanto, as externalidades são um modus operandi do mercado,
não um fracasso: o mercado não pode existir sem constantemente falhar.

A alocação justa e uniforme de recursos não renováveis ao longo do tempo é uma


questão de falha de mercado que preocupa a economia ecológica. Esta questão também é
conhecida como justiça intergeracional. Argumenta-se que o mecanismo de mercado falha
quando se trata de alocar o estoque de minerais finitos da Terra de forma justa e igual entre as
gerações presentes e futuras, já que as gerações futuras não estão, e não podem estar, presentes
no mercado atual. Com efeito, os preços atuais do mercado não refletem e não podem refletir
as preferências do ainda não nascido. Este é um exemplo de uma falha de mercado não
reconhecida pela maioria dos economistas tradicionais, já que o conceito
de eficiência de Pareto é inteiramente estático (atemporal). A imposição de restrições
governamentais ao nível geral de actividade na economia pode ser a única maneira de conseguir
uma alocação mais justa e até intergeracional do estoque mineral. Por isso, Nicholas Georgescu-
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Roegen e Herman Daly, os dois principais teóricos da área, pediram a imposição de tais
restrições: Georgescu-Roegen propôs um programa bioeconómico mínimo, e Daly propôs
uma economia de estado estacionário abrangente. No entanto, Georgescu-Roegen, Daly e
outros economistas concordam que, em uma Terra finita, os limites geológicos inevitavelmente
forçarão a maior parte da justiça a longo prazo, independentemente de quaisquer restrições
governamentais presentes: Qualquer taxa de extração e uso do estoque finito de recursos
minerais não renováveis diminuirá o estoque remanescente para as futuras gerações.

Outra falha do mercado ecológico é apresentada pela superutilização de um recurso de


outra maneira renovável em um determinado momento, ou em um curto período. Tal
superutilização geralmente ocorre quando o recurso em questão tem direitos de propriedade
mal definidos (ou inexistentes) ligados a ele, enquanto muitos agentes de mercado se envolvem
em actividade simultaneamente para que o recurso seja capaz de sustentar tudo. Os exemplos
variam desde a pesca excessiva de pescarias e o pastoreio excessivo de pastagens até a
superlotação de áreas de lazer em cidades congestionadas. Este tipo de falha do mercado
ecológico é geralmente conhecido como a tragédia dos comuns. Nesse tipo de falha de mercado,
o princípio da eficiência de Pareto é violado ao máximo, pois todos os agentes do mercado
ficam em situação pior, enquanto ninguém está se beneficiando. Argumentou-se que a melhor
maneira de remediar uma tragédia do tipo dos comuns de falha ecológica do mercado é
estabelecer politicamente direitos de propriedade exequíveis - apenas isso pode ser mais fácil
de dizer do que de fazer.

A questão do aquecimento global antropogénico apresenta um exemplo esmagador de


uma "tragédia do tipo commons" de falha ecológica do mercado: a atmosfera da Terra pode ser
considerada como uma "comunidade global" exibindo direitos de propriedade mal definidos
(não-existentes), e a capacidade de absorção de resíduos da atmosfera em relação ao dióxido de
carbono está atualmente sendo fortemente sobrecarregada por um volume muito grande de
emissões da economia mundial . Historicamente, a dependência de combustíveis
fósseis da Revolução Industrial intencionalmente lançou a humanidade fora do equilíbrio
ecológico com o resto da biosfera da Terra (incluindo a atmosfera), e o mercado não corrigiu a
situação desde então. Muito pelo contrário: O mercado irrestrito foi exacerbando esse estado
global de dis ecológica-equilibrium, e é esperado que continue indo tão bem no futuro
previsível. Essa falha de mercado em particular pode ser remediada até certo ponto no nível
político pelo estabelecimento de um sistema internacional (ou regional) de direitos de

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propriedade e limite, em que as permissões de emissão de dióxido de carbono são compradas e
vendidas entre os agentes do mercado.

1.3.5. Crítica de Chang


Chang afirma que "é (implicitamente) assumido que o estado sabe tudo e pode fazer
tudo". Assim, isso implica várias suposições sobre o governo em relação a falhas de mercado.
Existem três declarações principais. Em primeiro lugar, os representantes do governo podem
avaliar o escopo das falhas de mercado e até que ponto difere do resultado eficiente. Em
segundo lugar, tendo adquirido o conhecimento acima mencionado, eles têm capacidade para
restabelecer a eficiência do mercado. Por fim, surgiu uma ideia segundo a qual as decisões dos
decisores políticos não são influenciadas pelo interesse próprio, mas são impulsionadas pelo
altruísmo.

1.3.6. Crítica de Lipsey e Lancaster


Eles vieram com a teoria do chamado "segundo melhor". Eles recusam a teoria de Chang
e afirmam que não é possível restaurar a otimização de Pareto, mesmo que os formuladores de
políticas possuam o conhecimento suficiente, intervenham com eficiência e o altruísmo sirva
como estímulo para suas decisões. Por outro lado, a teoria do “segundo melhor” sustenta que
quando ocorre uma falha de mercado em um ramo da economia, deve ser viável aumentar o
bem-estar social em outro ramo da economia, violando a eficiência de Pareto, em vez de
restaurar a eficiência de Pareto por intervenção do governo.

1.3.7. Zerbe e McCurdy


Zerbe e McCurdy conectaram a crítica do paradigma da falha de mercado aos custos de
transação. O paradigma de falha de mercado é definido da seguinte forma:

"Um problema fundamental com o conceito de falha de mercado, como os economistas


ocasionalmente reconhecem, é que ele descreve uma situação que existe em toda a parte".

Os custos de transação fazem parte de cada troca de mercado, embora o preço dos custos
de transação não seja normalmente determinado. Eles ocorrem em todos os lugares e são
despropositados. Consequentemente, falhas de mercado e externalidades podem surgir na
economia toda vez que surgem custos de transação. Não há lugar para a intervenção do governo.
Em vez disso, o governo deve se concentrar na eliminação dos custos de transação e dos custos
de provisão.

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CONCLUSÃO

A análise das falhas de mercado revela a complexidade inerente aos sistemas


económicos e destaca a necessidade de intervenção regulatória para corrigir distorções e
promover eficiência. Ao longo deste trabalho, exploramos diversas formas de falhas de
mercado, incluindo externalidades, bens públicos, poder de mercado e assimetria de
informação.

Embora os mercados desempenhem um papel crucial na alocação de recursos, eles não


são perfeitos e podem levar a resultados subótimos. As externalidades, por exemplo, destacam
a incapacidade dos agentes económicos de internalizar completamente os custos e benefícios
de suas acções, resultando em alocações ineficientes de recursos. Além disso, a presença de
bens públicos revela a dificuldade de exclusão e rivalidade em certos casos, levando a
subinvestimentos por parte do sector privado.

A concentração de poder de mercado também emergiu como um fator significativo,


permitindo que algumas empresas influenciem preços e quantidades, muitas vezes em
detrimento da concorrência e da eficiência. A intervenção governamental é frequentemente
necessária para corrigir essas distorções, seja por meio de políticas antitruste ou regulação
económica.

Outro aspecto crítico é a assimetria de informação, que pode resultar em decisões


subótimas e ineficiências no mercado. A falta de transparência cria oportunidades para
comportamentos oportunistas, prejudicando a confiança e eficiência do mercado. Mecanismos
como a regulação e a divulgação obrigatória de informações são essenciais para mitigar esses
problemas.

Portanto, as falhas de mercado destacam a importância da atuação do Estado para


corrigir imperfeições e garantir o funcionamento eficiente e equitativo da economia. A
compreensão dessas falhas é fundamental para a formulação de políticas públicas que buscam
otimizar o equilíbrio entre o mercado e a intervenção governamental, promovendo o bem-estar
económico e social.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAGAS, André Luiz Squarize. Introdução à Microeconomia. In: PINHO, Diva Benevides;
VASCONCELLOS, Marco António S. de; TONETO JR., Rudnei (Org.). Manuel de Economia.
6. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011. Cap. 12, p. 283-291.

COASE, R. H. The nature of the firm. Economia. V. 4, n. 16, p. 386-405, Nov. 1937. Reprinted
in COASE, R. H. The firm, the market and law. Chigado: University of Chicago Press, 1988.

EATON, B. Curtis; EATON, Dianel F. Microeconomia. Tradução de Cecília C. Bartalotti da. 3.


Ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

FRANK, Robert H.; BERNANKE, Bem S. Princípios de Economia. Tradução de Heloísa


Fontoura e Monica Stefani. Porto Alegre: AMGH, 2012.

HUBBARD, R. Glenn; O’BRIEN, Anthony Patrick. Introdução à Economia. 2. Ed. Porto


Alegre: Bookman, 2010.

ANDRADE, Eduardo; MADALOZZO, Regina. Microeconomia. São Paulo: Publifolha,


2003. 436 p. (Coleção biblioteca valor).

PINDYCK, Robert S.; RUBINFELD, Daniel L. Microeconomia. 7. ed. Rio de Janeiro:


Prentice Hall Brasil, 2009. 647 p.

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