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Como trabalhar a cultura indígena na

Educação Infantil

lustração: Thiago Lopes (Estúdio Kiwi)/NOVA ESCOLA

Por NAIRIM BERNARDO

Publicado em: 09/04/2021

O dia 19 de abril já é bastante conhecido no calendário escolar. Mas


o que devemos usar: Dia do Índio ou Dia dos Povos Indígenas? O
uso do termo índio começou a ser questionado pela sua origem: ele
é fruto de um erro dos colonizadores europeus, que, ao chegarem à
América, acreditavam estar nas Índias. E também pela carga de
preconceito acumulada ao longo da história. O escritor Daniel
Munduruku, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo
(USP), declarou em várias ocasiões que “índio” carrega duas
imagens, a do indivíduo preguiçoso ou a daquele ser folclórico, que
vive no mato, anda nu e precisa ser preservado como algo do
passado. A preferência seria, então, por “indígena”, que significa
originário, alguém que está ali antes do outro. Utilizar “povos
indígenas” também é uma maneira de ressaltar a diversidade,
afinal, há inúmeras etnias no país.
A data foi instituída nacionalmente em 1943 graças às
recomendações do Primeiro Congresso Indigenista Interamericano,
que havia sido realizado em 1940 no México por representantes de
povos daquele país e também do Panamá, Chile e Estados Unidos.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) indica que o
planejamento pedagógico deve ter o “[...] compromisso de
reverter a situação de exclusão histórica que marginaliza
grupos – como os povos indígenas originários e as populações
das comunidades remanescentes de quilombos e demais
afrodescendentes [...]”. No entanto, antes da implementação do
documento, a Lei nº 9.394, de 1996, já indicava que o ensino de
História do Brasil deveria contemplar as contribuições das matrizes
indígenas, o que foi reforçado pela Lei nº 10.639, de 2003.
Em muitas escolas, essas contribuições só são apresentadas em
meses ou dias específicos, o que torna o trabalho superficial e
desvalorizado. “A cultura indígena deve ser lembrada sempre, pois,
com uma abordagem coerente e atual, que olha para os indígenas do
século 21, as crianças crescem com mais respeito à diversidade",
comenta Aparecida Queiroz, indígena do povo Pankararu e
professora de Educação Infantil na cidade de Osasco (SP). Segundo
Aparecida, os educadores devem inserir essa cultura no cotidiano
escolar de modo simples, a partir de objetos com os quais as
crianças possam interagir (maracá, apito, peão, artesanatos etc.), da
contação de histórias, de músicas e de brincadeiras.
Estudar essas outras culturas (que são plurais graças à imensa
variedade de povos) também permite aos professores repensarem o
processo de ensino e aprendizagem, o que refletirá em sua prática
pedagógica e nas experiências proporcionadas às crianças. Juliana
dos Santos Santana – ou Amanayara Tupinambá, seu nome étnico –,
atua na Educação Infantil do Colégio Estadual Indígena Tupinambá
Amotara, localizado em Ilhéus (BA). Ela explica que a educação
praticada por eles tem muito a contribuir para a convencional. “A
educação indígena é a junção do nosso conhecimento tradicional
com o científico. Aprendemos sobre as especificidades da nossa
cultura, do nosso povo, e ouvimos muito os mais velhos”, diz a
educadora, que vê na ampliação das experiências e no respeito à
cultura do outro grandes diferenciais.
O que fazer e o que não fazer
Na escola de Ilhéus, segundo Juliana, o contato das crianças com a
natureza é constante. Além de muitas aulas ocorrerem sob as
árvores, eles vêem momentos como o de plantio de um alimento
como oportunidade de aprendizado. Assim, a conversa sobre uma
planta como o jenipapeiro, por exemplo, pode desencadear uma
série de pesquisas: como ele se insere na cultura indígena? Onde é
encontrado? Qual a quantidade de jenipapos necessária para
preparar uma receita ou fazer uma pintura corporal?
Por outro lado, as duas professoras indicaram ações ainda comuns,
mas que não deveriam ser adotadas nas escolas: fazer pinturas nos
rostos das crianças; confeccionar ou comprar cocares de cartolina;
fazer sons batendo a mão na boca; se referir aos povos indígenas
como algo do passado; não deixar claro para as crianças que há
vários povos no Brasil com características e culturas distintas e
contar suas narrativas como algo fantasioso. Tais atitudes não
contribuem para a ampliação cultural e para o conhecimento
histórico das crianças, reproduzem estereótipos, incentivam a
apropriação cultural indevida e são ofensivas.
“A Educação Infantil é o primeiro momento em que o educador
pode ajudar na construção do ser, de sua ética, da valorização do
próximo e de si mesmo. Iniciar esse processo ensinando o respeito é
importante porque, assim, podemos formar pessoas mais
conscientes, empáticas e que não sejam preconceituosas e racistas”,
afirma Juliana.
Para desmitificar a visão desatualizada que muitas pessoas têm, o
professor pode, por exemplo, pesquisar com as crianças imagens de
como os portugueses se vestiam quando chegaram ao Brasil em
1500 e conversar sobre como as vestes sofreram muitas mudanças
ao longo dos séculos. Se essas roupas mudaram, por que acreditar
que todos os indígenas ainda ficam nus? Com a ajuda de mapas,
vídeos e imagens, explique para a turma que há indígenas morando
em todos os estados brasileiros, alguns na mata e outros nas
cidades.
“Ao não reproduzir estereótipos, o professor já está
contribuindo muito na construção da visão que temos dos povos
indígenas. É preciso falar sobre nós na atualidade, mostrando que
há indígenas professores, militantes, universitários, escritores,
médicos e muito mais”, defende Aparecida. Ela recomenda também
que os gestores convidem indígenas para conversar com a equipe
docente e com as crianças e, quando possível, organizem visitas a
uma comunidade próxima à escola para que todos percebam que os
indígenas não estão tão longe e não são tão diferentes quanto se
imaginava.
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Ilustraç
ão: Thiago Lopes (Estúdio Kiwi)/NOVA ESCOLA

Por NAIRIM BERNARDO

Publicado em: 09/04/2021

As interações e as brincadeiras são eixos estruturantes das práticas


pedagógicas, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular
(BNCC) de Educação Infantil, que considera esses momentos
essenciais para o desenvolvimento, a aprendizagem e a socialização
das crianças. Para os povos indígenas, além de divertir, os jogos e as
brincadeiras também permitem que as crianças entendam as
histórias e os valores importantes para sua cultura, como, por
exemplo, força, velocidade e memória.
Cada povo tem as próprias brincadeiras, e algumas se repetem em
diferentes culturas, mesmo com variações. Há brincadeiras e jogos
só de crianças, mas outras envolvem também os jovens e os adultos
e são realizadas em festas e cerimônias. Em algumas delas, é
preciso construir o brinquedo antes, o que também faz parte da
brincadeira. A seguir, apresentamos cinco sugestões que podem ser
realizadas na escola ou indicadas para as famílias brincarem em
casa. Ao planejar essas atividades, utilize mapas, imagens e vídeos
para contextualizar para as crianças o que elas farão e mostrar de
qual povo é aquele jogo.
Peteca ou Tobdaé
Origem: Xavantes
Indicado para: crianças bem pequenas e pequenas
Na BNCC: EI02TS02 - Utilizar materiais variados com
possibilidades de manipulação (argila, massa de modelar),
explorando cores, texturas, superfícies, planos, formas e volumes ao
criar objetos tridimensionais.
EI02CG02 - Deslocar seu corpo no espaço, orientando-se por
noções como em frente, atrás, no alto, embaixo, dentro, fora etc., ao
se envolver em brincadeiras e atividades de diferentes naturezas.
EI03EO06 - Manifestar interesse e respeito por diferentes culturas e
modos de vida.

Bastante famosa em todo o país, a peteca é utilizada inclusive por


não indígenas, que muitas vezes não conhecem sua origem. A
palavra peteca vem do tupi e significa “tapear”, “golpear com as
mãos”, o que já indica a maneira de jogar. Há muitos modelos à
venda, mas é possível confeccionar o brinquedo como parte da
experiência. O tobdaé, a “peteca” dos xavantes, é feita de palha e
fio de buriti e seu modo de jogar também se diferencia dos mais
convencionais, aproximando-se do que conhecemos por
“queimada”.
Com as crianças pequenas, procure por palhas, folhas de árvores
caídas, barbantes e outros materiais (preferencialmente de origem
natural ou reciclados) que possam servir para a confecção
dos tobdaés. É importante que cada criança confeccione mais de
um, pois são necessários três tobdaés para cada jogador. A partida é
disputada por apenas dois jogadores por vez (ótima opção quando é
necessário praticar o distanciamento social). Não há linhas que
demarcam os campos. O objetivo é arremessar os tobdaés no
adversário ao mesmo tempo que desvia de seus ataques. O primeiro
a ser atingido é substituído por outro jogador e a partida recomeça.
Veja a dinâmica do jogo neste vídeo.

https://www.youtube.com/watch?v=9Gr-P5C_cm8&t=122s
A importância de confeccionar petecas com
materiais diversos

Papel de ceda Pano

Palha Pena

Jornal
Brincadeira da onça
Origem: Panarás
Indicado para: Crianças pequenas
Na BNCC: EI03CG02 - Demonstrar controle e adequação do uso
do seu corpo em brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias e
atividades artísticas, entre outras possibilidades.
EI03EO06 - Manifestar interesse e respeito por diferentes culturas e
modos de vida.

Nessa brincadeira, as crianças poderão se revezar no papel de


animais importantes do cotidiano dos panarás – pássaro que avisa
sobre o perigo, onça que ataca e porcos, que ouvem o aviso e tentam
fugir. Funciona assim: uma criança é escolhida para ser a onça e
outra para ser o pássaro; as demais são os porcos e se sentam em
fila uma atrás da outra com as pernas abertas. O objetivo é que a
última pessoa da fila saia de seu lugar para sentar-se em primeiro,
mas isso só pode ser feito quando o pássaro avisar que é seguro. Se
a onça consegue pegar o porco antes que ele atinja esse objetivo,
leva-o para um canto. A brincadeira continua até a onça pegar todos
os porcos.

Brincadeira do tucunaré
Origem: Panarás
Indicado para: Crianças pequenas
Na BNCC: EI03CG02 - Demonstrar controle e adequação do uso
de seu corpo em brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias e
atividades artísticas, entre outras possibilidades.
EI03EO06 - Manifestar interesse e respeito por diferentes culturas e
modos de vida.

Quem criou esse jogo foi Perankô, professor panará da Escola


Indígena Matukre, em Guarantã do Norte (MT). A inspiração veio
da observação da dinâmica dos peixes tucunarés no rio. Antes de
começar a brincadeira é preciso demarcar o espaço: com paus e
barbantes ou com riscos de giz no chão, faça um quadrado dentro do
outro, sendo o de dentro o “fundo” e o de fora o “raso”. No de
dentro, ficam quatro crianças representando os tucunarés, que
querem pegar os peixes pequenos. Já no quadrado de fora há seis
“portas” por onde as crianças, que são peixinhos, podem escapar.
Os tucunarés não podem ficar muito tempo no espaço “raso” e
também não podem sair pelas portas para pegar os peixinhos. Os
peixinhos capturados são levados para o “fundo”.
Heiné Kuputisü
Origem: Kalapalos
Indicado para: Crianças pequenas
Na BNCC: EI03CG02 - Demonstrar controle e adequação do uso
de seu corpo em brincadeiras e jogos, escuta e reconto de histórias e
atividades artísticas, entre outras possibilidades.
EI03EO06 - Manifestar interesse e respeito por diferentes culturas e
modos de vida.

Esse é um jogo de resistência e equilíbrio bem simples, mas que


poderá ser feito várias vezes para que as crianças desenvolvam as
habilidades necessárias. O professor deverá marcar uma linha de
partida e uma de chegada e as crianças deverão percorrer esse
trajeto pulando em uma perna só. Geralmente, as pessoas tentam
alcançar a meta pulando rápido, mas o objetivo não é chegar
primeiro, mas sim, conseguir ir o mais longe possível sem apoiar os
dois pés no chão. Duas crianças devem jogar por vez, cada uma
representando uma equipe. Confira aqui um grupo brincando.
Mostre o vídeo para as crianças, elas ficarão encantadas!
Apresente o cancioneiro
indígena para as turmas
A diversidade sonora dos povos
originários brasileiros pode ser utilizada
em diversos momentos da rotina escolar
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Ilustração: Thiago Lopes (Estúdio Kiwi)/NOVA ESCOLA

Por NAIRIM BERNARDO

Publicado em: 09/04/2021


Assista ao vídeo com as crianças: https://www.youtube.com/watch?

v=tUsMRjZbDho

O trabalho com músicas e sons está descrito, na Base Nacional


Comum Curricular (BNCC), em dois campos de
experiências: Corpo, gestos e movimentos e Traços, sons, cores e
formas. Segundo o documento, conviver com diferentes
manifestações artísticas, culturais e científicas, locais e universais,
no cotidiano da instituição escolar, contribui para que as crianças
vivenciem diversas formas de expressão, se expressem por várias
linguagens e desenvolvam senso estético e crítico, conhecimento de
si mesmas, dos outros e da realidade que as cerca. Portanto, levar
músicas indígenas para a sala é uma maneira de concretizar essas
orientações.
Magda Pucci e Berenice de Almeida desenvolveram o projeto
Cantos da Floresta — que conta com um livro adulto, um infantil e
um site — pensando em facilitar o contato de docentes com a
cultura musical indígena, tendo como foco músicas de nove povos
diferentes: guarani, kaingang, paiter surui, ikolen-gavião, yudjá,
kambeba, krenak, xavante e povos do Rio Negro. Berenice,
educadora musical, explica a intenção didática que orientou a
pesquisa: “Uma das nossas preocupações era fazer um link entre o
universo acadêmico das pesquisas antropológicas, linguísticas e
musicais e a sala de aula, para que o professor começasse a
conhecer as culturas indígenas por meio da música e, assim,
quebrasse uma série de estereótipos e preconceitos”.
Para Berenice, de modo geral, professores da Educação Básica ou
de música não conhecem e não apresentam em suas aulas músicas
indígenas, o que representa uma desvalorização dessas culturas, que
são muito ricas e plurais.
A musicista Magda, diretora e produtora do Mawaca, grupo que
recria músicas de diferentes tradições do mundo, comenta que uma
característica em comum da musicalidade indígena é sua forte
presença em diferentes momentos do cotidiano e em rituais.
“No nosso universo, a música geralmente só está presente no
entretenimento, mas para eles, principalmente para quem vive em
aldeias, a música permeia constantemente o dia a dia das mulheres,
dos homens e das crianças. Há músicas para caçar, comer, dormir,
plantar e realizar os rituais de transição”, afirma. Magda explica que
as histórias orais, as danças e os rituais também reforçam a
identidade de um povo e ajudam na manutenção de suas tradições.
No que diz respeito ao trabalho escolar, é papel dos professores
ampliar o repertório das crianças, apresentando e
desenvolvendo atividades e projetos em torno de músicas de
diferentes culturas nacionais e estrangeiras, incluindo as
indígenas e as afro-brasileiras. Para isso, é importante sempre
dizer para as crianças a qual povo aquela música pertence e, quando
possível, apresentar no mapa as regiões do país em que eles vivem.
Assim, elas entenderão que não se trata de uma canção de todos os
indígenas, mas sim, de um povo específico, o que pode ser a porta
de entrada para os professores apresentarem a cultura, a história e a
luta atual daquele grupo.
O trabalho de exploração da audição e da linguagem oral nem
sempre exige que as crianças entendam o significado de todas as
palavras. “Nós, adultos, sempre queremos entender tudo antes de
cantar”, explica Magda. “Já as crianças se jogam em cima da
sonoridade. Às vezes elas aprendem pelo som dos fonemas”,
completa a musicista. Vale a pena entrar no site
https://www.cantosdafloresta.com.br/
No site do projeto Cantos da Floresta há diversas músicas
instrumentais e cantadas. Todas elas têm uma partitura, a letra na
língua original, a indicação da pronúncia, a tradução para o
português e um áudio. Selecionamos três que podem ser utilizadas
em momentos diferentes da rotina escolar.

Chegada à escola
Ñande mbaraete’i katu – Povo guarani-mbyá
É um canto usado para fortalecer o espírito e o corpo das crianças e
assim trazer alegria. Nada melhor para começar o dia na escola, não
é mesmo? Adicione a música na rotina diária, explique seu
significado para todos da turma e convide-os a fazer uma roda para
ouvir a canção enquanto cantam e/ou batem palmas no ritmo da
música.

Após a contação de história


Zana makatipa, kurupira – Povo kambeba
Diversas são as versões da história de Curupira, figura presente em
muitas narrativas indígenas, que pode ser um menino ou menina de
cabelos vermelhos e pés virados para trás, ou um ser totalmente
branco. Para alguns, essa entidade protege a mata e os animais, para
outros pode significar uma ameaça. Escolha uma versão da história,
conte-a para as crianças e depois apresente essa música do povo
kambeba.

Antes da soneca
Apï Ayã txuxitxuxi – Cantiga de ninar do povo yudjá/juruna
Essa é uma música do repertório yudjá do povo juruna cantada pelas
mulheres para que seus filhos durmam. Ela conta a história de um
cachorro que queimou a boca com comida. A cantora Marlui
Miranda registrou a canção no disco Fala de bicho, fala de gente e
conta que há uma restrição cultural envolvendo sua execução:
“Depois das cinco horas da tarde não se costuma interpretá-las [as
músicas desse repertório], já que, segundo a crença dos juruna, isso
poderia afetar as crianças, fazendo-as cair num sono letárgico, ou
não acordarem mais”.

Pipoca, jacaré, abacaxi: a herança


indígena na nossa linguagem
Por meio de livros, brincadeiras e pesquisas, mostre
para as crianças as palavras que estão no cotidiano
delas

Ilustração: Thiago Lopes (Estúdio Kiwi)/NOVA ESCOLA


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Por NAIRIM BERNARDO

Publicado em: 09/04/2021

Segundo dados do Censo 2010 (o último realizado no Brasil), há


274 línguas indígenas faladas por indivíduos pertencentes a 305
etnias diferentes no país. Os números não são um consenso entre
especialistas em linguística e antropólogos, pois acredita-se que
algumas das línguas podem ser apenas variações de uma mesma e
que certas etnias declaradas podem constituir subgrupos ou
segmentos de uma mesma etnia. Independentemente do número
exato, o fato é que muitas dessas línguas ajudam a constituir o que
chamamos de Língua Portuguesa, que, apesar do nome (referência
direta ao país europeu), também tem influências de línguas
indígenas e africanas. Que tal mostrar essa herança para as
crianças?
Os bebês podem ter contato com essas línguas por meio da
musicalidade e de histórias, já as crianças bem pequenas e pequenas
podem receber do professor uma contextualização mais
aprofundada. Comece perguntando se em todos os lugares do
mundo as pessoas falam a mesma língua e quais elas já ouviram
falar: inglês, espanhol, chinês, francês? Depois, conte que, mesmo
no Brasil, existem várias línguas faladas por diferentes povos
indígenas que vivem em diversas regiões do país.
Para que as crianças não pensem que a língua pode afastá-los dessas
culturas, é preciso explicar que a maioria dos indígenas também fala
Português (76,9%) e que nem todos falam uma outra língua (apenas
37,4%). Conte para a turma que elas também sabem palavras de
línguas indígenas. Provavelmente, as crianças ficarão surpresas ou
não acreditarão nessa afirmativa, o que tornará o processo de
descoberta ainda mais interessante.
O Brasil conta com dois troncos linguísticos indígenas: o tupi e o
macro-jê. A maior influência indígena na Língua Portuguesa falada
hoje vem do tupi. Mas o que é um tronco linguístico? São unidades
que reúnem famílias de idiomas com a mesma origem. Por
exemplo: a Língua Portuguesa está associada ao tronco linguístico
indo-europeu, assim como o curdo, o grego e várias outras. Dentro
do tronco, ela faz parte da família das línguas românicas (também
conhecidas como línguas neolatinas e latinas), como o espanhol, o
italiano e o francês. Há também línguas que não pertencem a
nenhum tronco ou família. Para deixar tudo mais claro e atrativo
para as crianças, é possível fazer essa explicação utilizando
ilustrações que apresentam os troncos macro-jê, tupi e indo-
europeu.
Mostre as palavras indígenas usadas no
cotidiano
Para as crianças da Educação Infantil, conhecer os desenhos que
ilustram os troncos e famílias linguísticas é uma curiosidade
interessante, mas o foco principal é mostrar quais palavras de
origem indígena elas usam em seu cotidiano. Pensando nisso,
Cláudio Fragata escreveu o livro infantil O tupi que você fala, em
que revela, de forma divertida, algumas palavras indígenas que
falamos sem nem perceber. “Selecionei as palavras mais cotidianas
de origem tupi para que, quando as crianças as falassem,
lembrassem de onde elas vieram e tivessem consciência da história
e da riqueza da nossa língua”, explica Cláudio. “Eu gosto muito de
um verso do Caetano Veloso que diz ‘Minha pátria é minha
língua’.”

Assista ao vídeo da história:


https://www.youtube.com/watch?v=jNSvTiZIXwY

O livro começa com a frase “Aposto que você sabe falar tupi e eu
provo aqui.” Segundo o autor, crianças e adultos se surpreendem ao
descobrir que palavras como samambaia, peteca, pipoca, amendoim,
paçoca, capivari e abacaxi são desse tronco linguístico. “Pensei o
livro para um público de crianças pequenas, usei uma linguagem
muito direta e uma estrutura narrativa simples para que o texto
chegasse a elas por inteiro”, explica Cláudio, que também diz
receber muitas mensagens de mães cujos bebês ouvem a leitura do
livro e estabelecem uma relação muito forte com as ilustrações,
feitas por Maurício Negro. No final da leitura, diz, todos ficam
felizes ao descobrir que sabem sim falar palavras em tupi.
Os educadores que tivrem acesso ao livro podem explorá-lo em
rodas de conversa, por exemplo. Outra opção é o professor pedir a
ajuda das crianças e de seus familiares para investigarem palavras
de origem indígena presentes no cotidiano da turma, como nomes
de pessoas, de lugares ou de objetos. É possível perguntar: alguém
conhece alguma Mayara, Iara, Kauã, Caique ou Taianara? As
crianças já ouviram falar das cidades de Aracaju (SE), Guarulhos
(SP), Itajaí (SC) ou Araxá (MG)? Alguém já visitou o Parque do
Ibirapuera (SP)? São todas de origem indígena. Basta investigar
para descobrir outras e depois usá-las em brincadeiras de rima, por
exemplo.
Segundo Cláudio, o trabalho com a língua é uma maneira de
aproximar as crianças da cultura indígena e de criar respeito por ela.
“Existe uma ideia de que os indígenas não nos deixaram nada, mas
isso não é verdade. Eles estavam aqui muito antes dos portugueses
chegarem e, ao resgatar essas palavras, você também entra em
contato com essa história”, afirma o escritor, que, ressalta o fato
dessas palavras fazerem parte do vocabulário e da vida de todos os
brasileiros, independentemente da origem. “Eu tenho muita
esperança em relação ao futuro do Brasil e não tenho dúvidas de
que ele está na mão das crianças, que depois de conhecerem isso
vão se lembrar da contribuição e da presença indígena no nosso
cotidiano”, completa.
Elementos da natureza
Ao organizar um espaço dentro da sala de referência com elementos
que remetem aos ensinamentos da cultura indígena, como tintas
produzidas a partir de sementes e raízes e o reconhecimento de
diferentes plantas aromáticas como chás e temperos, torna-se
possível oportunizar experiências sensoriais e estéticas com os
elementos da natureza.

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Comidas indígenas

MOMENTOS RICOS DE PESQUISA E DEGUSTAÇÃO

Crianças de quatro anos do 1º período da creche municipal Maria


Liege Tavares de Albuquerque, localizada no Jacintinho, tiveram
um dia de conhecimento e degustação de alguns elementos da
culinária indígena. O objetivo da ação foi conhecer e valorizar mais
o folclore brasileiro e realizar uma homenagem ao Dia Internacional
dos Povos Indígenas.

A proposta foi idealizada pela professora Indalice Rafaela


especialmente para as turmas do 1º período e, posteriormente,
realizada em outras turmas. A ação ocorreu em duas etapas. Na
primeira, as crianças pesquisaram sobre a origem do nomes dos
alimentos e a importância da cultura indígena, como também
montaram petecas de jornal com acabamento de folha de bananeira
para brincarem e explorarem os diversos materiais utilizados.
Professora Indalice Rafaela realizou um momento de degustação de alimentos
indígenas com as crianças da creche. Foto: cortesia

O segundo momento foi de criação e experimentação. A professora


conseguiu fazer as comidas indígenas para apresentar às crianças no
refeitório. Peixe assado, tapioca, macaxeira, banana assada e pirão
sobre uma grande folha de bananeira foram alguns alimentos
mostrados aos pequenos. O encontro ocorreu na sexta-feira (12).

De acordo com a coordenadora pedagógica do Cmei, Ladivane de


Oliveira, alguns dos alimentos são consumidos por nós diariamente
e a busca pela origem deles estimula o respeito aos indígenas. Para
ela, ações como essa são gratificantes.

"As crianças amaram. Isso é bastante gratificante. Essa ação


possibilitou conhecimento e respeito pela cultura indígena e que,
muitas vezes, não nos demos conta da riqueza cultural que
recebemos nos brinquedos e brincadeiras, na culinária. A
experiência proporcionou a degustação, ampliação do vocabulário e
conhecimento da origem de algumas palavras provenientes dos
povos indígenas", disse Ladivane.
Coordenadora pedagógica do Cmei Maria Liegue, Ladivane de Oliveira. Foto: cortesia
Ainda segundo a coordenadora, uma das crianças chamada Davi
Lucca, de 4 anos, gostou tanto da ação que acabou provando tudo e
ainda comemorou com a avó na hora da saída.

"Quando a avó dele foi buscá-lo, o Davi falou bem feliz: 'vó, comi
comida indígena: pirão, peixe, banana assada. Eu achei uma delícia,
vó'. Ele ficou tão feliz que abraçou forte a avó de tanta felicidade",
contou a coordenadora.

Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/21628/como-trabalhar-a-
cultura-dos-povos-indigenas-na-educacao-infantil

https://maceio.al.gov.br/noticias/semed/criancas-da-creche-maria-
liege-de-albuquerque-tem-momento-de-degustacao-de-alimentos-
indigenas

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