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2 - Consignação em pagamento: arts. 334 a 336, CC e 539 a 549, CPC.

Como
modalidade de extinção da obrigação, o pagamento por consignação é disciplinado
pelo direito material, onde se regulam os casos em que essa forma de liberação é
admissível e quais são seus requisitos de eficácia. Ao direito processual, todavia,
compete regular o procedimento para solução da pretensão de consignar, uma vez
que, em nosso ordenamento jurídico, o depósito liberatório só é válido ou eficaz, em
regra, quando feito judicialmente. É o meio através do qual o devedor busca a
quitação de sua dívida, evitando responder pela mora (art. 394, CC).

Obs.1: o devedor não pode ser deixado, indefinidamente, à mercê do credor malicioso
ou displicente, nem pode permanecer para sempre sujeito ao capricho ou ao arbítrio
deste. Daí por que a lei não só obriga o devedor ao pagamento, como também lhe
assegura o direito de pagar.

Obs.2: Quem pode realizar a consignação em pagamento?


1 - O devedor
2 - O terceiro interessado no pagamento (art. 304 CC). ex.: fiador, coobrigado e
herdeiro.
3 - O terceiro desinteressado desde que realize a consignação em nome e à conta do
devedor (art. 304, §único CC). ex.: pai que paga dívida do filho.

Obs.3: Tanto o terceiro interessado quanto o desinteressado terão direito de cobrar o


valor do devedor em ação de regresso. A exceção a esse direito de regresso ocorre
quando o terceiro faz o pagamento sem o conhecimento do devedor ou com oposição
do devedor, se este poderia ilidir/suprimir a ação (art. 306 CC).

Obs.4: O devedor em mora pode propor a consignação? Para facilitar a resposta basta
fazer outra pergunta: O devedor que está em atraso pode pagar (liberar-se da
obrigação)?
Sim, o devedor em mora pode realizar a consignação. Neste caso o eixo de análise
desloca-se para o interesse do credor em receber. Em alguns casos, o atraso na
prestação pode gerar a perda total de interesse do credor.

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Ex: Obrigação de entregar panfletos para um evento dia 15. Devedor faz a consignação
dia 17 após o evento. Qual o interesse do credor em receber?

Obs.5: Inadimplemento relativo: é a mora. Ainda permanece o interesse do credor em


receber podendo o devedor mediante o depósito do principal mais os acréscimos
devidos liberar-se da obrigação. Nesta hipótese cabe consignação. (art.395 CC)

Obs.6: Inadimplemento absoluto: é o descumprimento total do contrato com perda


de interesse do credor em receber a prestação. Nestes casos o credor poderá rejeitar a
consignação e o pagamento de modo que a obrigação se resolverá em perdas e danos
(art. 395, §único CC). Nestes casos não cabe consignação.

2.1 - Requisitos para propor a Consignação: O uso dessa via liberatória é franqueado
ao devedor, tanto quando o credor se recusa injustificadamente a receber a prestação
como quando o devedor não consegue efetuar validamente o pagamento voluntário
por desconhecimento ou incerteza, quer em torno de quem seja o credor, quer em
razão de sua ausência ou não localização ao tempo do cumprimento da obrigação (CC,
art.335). Dessa forma, se a consignação tem a força liberatória do pagamento, deve
preencher os mesmos requisitos deste último dispositivo para que seja válida (art.336
CC).

Obs.: Fatores que influenciam da consignação:

PESSOA A QUEM SE DEVE PAGAR (A Quem se deve pagar?)


OBJETO (o que se deve pagar?)
MODO (como se deve pagar?)
TEMPO (quando se deve pagar?)

2.2 - Hipóteses Legais para a Consignação: Art. 335, CC.

2.2.1 - Dívida Portável: são aquelas em que compete ao devedor oferecer a prestação
no domicílio do credor (ou no local por este indicado). Em havendo a oferta no lugar,
tempo e modo fixados, há a possibilidade de consignação nos termos do art.335, I CC).

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2.2.2 - Dívida Quesível: são aquelas em que o credor deve mandar receber a prestação
no local do domicílio do devedor. Se o credor não for receber ou não mandar receber
poderá o devedor propor a consignação nos termos do art.335, II do CC;

2.2.3 - Dúvida sobre quem deve receber: Pode ocorrer por multiplicidade de
pretendentes ao crédito ou então a dúvida sobre se aquele que se apresenta para
receber de fato é o credor e tem poderes para dar a quitação.

2.2.4 - Se pender litígio sobre o objeto do pagamento: a coisa, em que consiste o


pagamento, vem a ser disputada, tornando incerto seu destino.

2.3 - Tutela Jurisdicional da Consignação: Não existe no direito brasileiro uma só


forma de consignação. Ela está prevista no CPC art. 539 a 549, mas, também, em leis
extravagantes como a Lei nº 8.245/91 art. 67 - Lei de Locações) e também no CTN
art.164.

2.4 - Legitimidade para a consignação: A legitimidade ativa para propor a consignação


é do devedor e de qualquer terceiro, interessado ou não (art. 304 CC). Para que o
terceiro desinteressado proponha a ação de forma legítima, deverá fazê-lo em nome e
por conta do devedor nos termos do art. 18 do CPC. A legitimidade passiva na
consignação é própria do credor, daquele que se apresenta como credor e do credor
desconhecido ou em lugar incerto, perigoso ou de difícil acesso. No caso de diversos
pretendentes ao crédito deverá ser observado o art. 547 do CPC.

2.5 - Competência para a consignação: art. 540 do CPC. Lugar de pagamento é aquele
designado pela lei ou pelo contrato. Se a dívida for quesível (art. 335, II, CC) deverá ser
proposta no domicílio do devedor. Se portável (art. 335, I, CC) no domicílio do credor.
A competência na consignação é territorial, logo relativa. Proposta a ação em foro
diverso do revisto e não havendo manifestação por parte do credor (exceção de
incompetência) nesse sentido, prorrogar-se-á a competência.

Obs.: Se a consignação consistir em entrega de bem imóvel ou fundada na Lei de


Locações, deverá ser proposta no local onde está situado o bem. (Art.328 CC e art.58,
II da Lei de Locações – Lei n° 8.245/91).
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2.6 - Procedimento para a ação de consignação: arts. 539 e ss. CPC

2.6.1 - Fase extrajudicial: Quando a obrigação for de pagar quantia (pecuniária -


dinheiro) o interessado poderá optar pelo depósito da importância na via extrajudicial
(Banco do Brasil, CEF, etc.), evitando-se a demanda judicial. É uma mera faculdade do
devedor não sendo requisito específico de admissibilidade da ação de consignação.

Atenção: Somente obrigações pecuniárias podem ser extintas pela via extrajudicial.
Outros tipos de obrigação devem ser consignados judicialmente. O depósito
extrajudicial tem os mesmos efeitos do judicial que é IMPEDIR A INCIDÊNCIA DOS
EFEITOS DA MORA. Se o depósito for inferior ao valor devido (parcial), a mora incidirá
somente sobre o valor restante.

2.6.1.1 - Procedimento:
1 - Depósito do valor em banco oficial em conta com correção monetária no local do
pagamento;
2 - Envio de notificação escrita ao credor com aviso de recebimento para que possa
receber ou recusar o valor depositado;
3 - O credor deve manifestar sua recusa por escrito sob pena de liberar o devedor da
obrigação (art. 539, §2 do CPC/15)
4 - Em caso de recusa, o devedor deverá propor a ação de consignação no prazo de 1
mês instruindo a inicial com o comprovante do depósito e da recusa;

Obs.:
a) - o credor poderá aceitar receber o valor depositado com ressalva, passando-se a
discussão do restante devido na via judicial própria. Neste caso a liberação do devedor
ficará limitada ao valor recebido.
b) - Mesmo após o prazo de 1 mês da recusa a ação de consignação poderá ser
proposta. No entanto, quando não proposta no prazo fixado na legislação cessa o efeito
suspensivo da mora pelo depósito extrajudicial efetivado anteriormente (art. 539, §4,
CPC). É possível novo depósito com nova eficácia interruptiva dos efeitos da mora.
c) - A consignação extrajudicial também é cabível nos casos previstos na lei de locações.

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2.6.2 - Procedimento Judicial: qualquer espécie de prestação (dívidas de dinheiro, mas
também as de coisa, certa ou incerta, fungível ou não fungível, móvel ou imóvel, podem
autorizar o pagamento por consignação).

a) Petição Inicial: arts. 319 e 320 do CPC. Além destes requisitos deverá constar o
requerimento de depósito no prazo de 5 (cinco) dias a contar do deferimento da inicial
e a citação do réu para levantar o depósito ou apresentar resposta no prazo de 15
(quinze) dias (art. 542 CPC). Também haverá necessidade de se demonstrar a mora o
credor ou o risco do pagamento ineficaz.

Obs.1: Se o depósito foi realizado na fase extrajudicial e o devedor ajuizou a ação no


prazo de 1 (um) mês, é desnecessário novo pedido de depósito, bastando a juntada do
comprovante do depósito realizado em instituição financeira oficial e o documento que
demonstre a recusa do credor em receber. (art.539, §3 CPC). Recebida a petição inicial
o juiz poderá indeferi-la de plano nas hipóteses do art. 330 CPC ou determinar a sua
emenda se ausentes quaisquer dos requisitos. Deferida a petição inicial começa a correr
o prazo de 5 (cinco) dias para o depósito. Caso este não seja realizado extingue-se a
ação sem resolução do mérito. (art. 542, §único CPC). Isto se dá tendo-se em vista que
o depósito é que desonera o devedor e é o ponto central da consignação.

Obs.2: nos casos de prestação de obrigações de entrega de coisa incerta


(indeterminada), o credor deverá ser citado para exercer o seu direito de determinar a
coisa que deverá ser depositada, indicando lugar, dia e hora para a entrega. Caso não o
faça, poderá o devedor realizar a escolha (art.543 CPC). Somente depois de
comprovado ou realizado o depósito poderá o juiz determinar a citação do credor (réu)
para levantar o que foi consignado ou oferecer resposta.

b) Consignação de prestações sucessivas: No caso de prestações sucessivas (pagas em


parcelas mensalmente, quinzenalmente, trimestralmente etc....) deferido o depósito da
primeira prestação poderão as demais serem depositadas na data pactuada sem
maiores formalidades no prazo de 5 (cinco) dias do vencimento de cada parcela (art.
541, CPC). Esse procedimento pode ser adotado tanto extra quanto judicialmente. Em
caso de depósito extrajudicial de mais de uma parcela (antes de vencido o prazo de um

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mês para a propositura da ação de consignação) basta ao devedor juntar os
comprovantes de depósito e as recusas apresentadas pelo credor. Os depósitos serão
realizados sempre na mesma conta, tanto extra quanto judicial.

c) Valor da causa: Nas ações de consignação, o valor da causa, a figurar na petição


inicial (NCPC, art.292), é o valor da prestação devida; principal e juros, nas dívidas de
dinheiro; ou valor da coisa, nas obrigações de dar. No caso de obrigação com
prestações periódicas, o valor da causa será a o somatório das prestações vencidas e
vincendas (art. 292, §1º). O valor das vincendas, porém, será limitado a uma prestação
anual, ainda que haja obrigações posteriores a incluir na consignatória e, se por tempo
inferior, será igual à soma das prestações (§2º).

d) Resposta do Réu: somente depois de comprovado ou realizado o depósito poderá o


juiz determinar a citação do credor (réu) para levantar o que foi consignado ou oferecer
resposta. É importante destacarmos que neste procedimento especial não cabe a fase
conciliatória prevista no art. 334 do CPC como essencial. No entanto, pode o juiz a
qualquer tempo tentar conciliar as partes (art.139, V CPC). Além das possibilidades
previstas no art. 544 CPC, poderá o réu aceitar a consignação sem ressalvas, gerando a
extinção do processo com resolução do mérito por reconhecimento do pedido. Poderá
ainda permanecer omisso, gerando a decretação da revelia implicando nesta hipótese
em aceitação tácita do valor consignado e liberação do devedor. O réu pode apresentar
ainda defesas processuais previstas no art. 337 do CPC. Poderá oferecer reconvenção.

Obs.1: Insuficiência de depósito: É a defesa mais comum em consignações. Nesta


hipótese o credor deve indicar o montante que entende devido, facultando-se ao autor
completar o depósito gerando a extinção da obrigação. Importante ponderar que no
caso do devedor (autor) não realizar o complemento, independentemente de
reconvenção, poderá o credor executar eventual sentença de improcedência da
consignatória, buscando a satisfação do referido crédito que será apurado na referida
sentença. Assim, é correto afirmar que a consignação pode assumir uma natureza
DÚPLICE (título executivo judicial). A possibilidade de se facultar ao devedor o
complemento da obrigação não é possível nos casos de inadimplemento absoluto
(art.545 CPC).

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Obs.2: Dúvida sobre quem deva receber legitimamente: Nos casos em que há dúvida
sobre quem deva legitimamente receber deverá o devedor ajuizar a consignação contra
todos os possíveis credores (art. 547 CPC). Pode ocorrer do devedor de fato não saber
quem é o credor. Assim, na incerteza total de quem deva receber, poderá o devedor
promover a consignação requerendo a citação do credor (es) por edital. Nesta hipótese,
a partir da citação, fica o devedor liberado da obrigação. Quando surgir o credor ele
deverá ir a juízo para receber o crédito. Na outra hipótese, de dúvida a quem pagar mas
com diversos possíveis credores conhecidos a regra é a do litisconsórcio necessário
entre eles (art. 548 do CPC).

Obs.3: O CPC deixou de tratar a hipótese em que vários possíveis credores comparecem
e um ou alguns deles apresentam resposta com uma das alegações do artigo 544 do
CPC. Neste caso, entende-se que não há a liberação imediata do devedor ficando ele
vinculado à ação. Resolvida a pendência em relação ao depósito, a ação prosseguirá
entre os presuntivos credores ate que se determina qual deles tem de fato direito ao
crédito.

Obs.4: Após a citação do réu, a demanda passa a ter procedimento comum.

e) Sentença: A sentença na consignação em pagamento é predominantemente


declaratória. Nela é analisada e declarada a correição da conduta do devedor
consignante e sua liberação da obrigação. A sentença somente será de improcedência
quando o juiz reconhecer que a consignação era indevida ou que o depósito era
insuficiente. Neta hipótese de improcedência deve-se lembrar do disposto no artigo
545, §2º do CPC gerando a condenação do devedor ao pagamento da diferença nos
casos de insuficiência do depósito.

Obs.: Assim, é correto afirmar que nos casos de procedência a sentença na consignação
é DECLARATÓRIA. Quando houver improcedência fundada em insuficiência do depósito
a sentença terá natureza DECLARATÓRIA para liberar o devedor e CONDENATÓRIA para
forçar o mesmo ao cumprimento da obrigação de pagamento do restante devido.

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