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EXMO.

SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA DO TRABALHO


DE QUEIMADOS/RJ.

Processo n.º: 0102184-25.2017.5.01.0571

FAZENI TRANSPORTES E TURISMO LTDA, já devidamente qualificada


nos autos da ação em epígrafe que lhe promove ELINE MARA NOVAES
BENTO, também qualificada, vem por sua advogada infra-assinada,
inconformada com a r. decisão de Id. e742581, data máxima vênia, interpor
AGRAVO DE PETIÇÃO consoante as inclusas razões.

Estando o presente apelo tempestivo, preenchidos os requisitos de


admissibilidade, requer a recorrente que V.Exa. se digne recebê-lo,
encaminhando-o à apreciação do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 1a
Região, após cumpridas as formalidades de estilo.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2023.

Erika Regina da Silva Costa


OAB-RJ 177.888
EGRÉGIA TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª
REGIÃO

AGRAVADA: ELINE MARA NOVAES BENTO


AGRAVANTE: FAZENI TRANSPORTES E TURISMO LTDA
PROCESSO Nº: 0102184-25.2017.5.01.0571

Egrégio Tribunal,
Em que pese ser de brilhante lavra, não perece prosperar a r. decisão de
ID. e742581, que sequer fundamentou ou motivou a suposta rejeição a exceção
de pré-executividade ofertada pela Recorrente, à ordem de ID. 3d4fc82, pelos
fatos e fundamentos que passa a expor.

I - DA TEMPESTIVIDADE
Tendo em vista que os cálculos apresentados de forma absurda ID nº.
d85431c, a ora Recorrente, interpôs tempestivamente o manejo da impugnação
pela via da exceção de Pré-executividade, cuja suposta rejeição foi publicada
em 14/11/2023, de forma que a oposição do Agravo de Petição na presente
data é manifestamente tempestiva.

Isto posto, preenchidos os requisitos de admissibilidade, requer a


recorrente que V.Exa. se digne recebê-lo, encaminhando-o à apreciação do
Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, após cumpridas as
formalidades de estilo.

II – DO MÉRITO

DA AFRONTA AO § 2º DO ARTIGO 879 DA CLT

Data máxima vênia, muito embora o calculista judicial tenha apresentado


seus cálculos de liquidação, conforme planilha de ID. d85431c, e a Agravante
apresentado as suas impugnações, conforme petição de ID. 3d4fc82, a D.
Contadoria ao invés de realizar a conferência dos cálculos confrontando-os com
as impugnações, simplesmente ratificou os cálculos do Recorrido, sem sequer
se manifestar sobre as impugnações ofertadas pela Recorrente.

C. Turma, o art. 879, § 2º da Consolidação das Leis do Trabalho, que


disciplina os passos iniciais da execução trabalhista, estabelece que:

“Art. 879 - Sendo ilíquida a sentença exequenda,


ordenar-se-á, previamente, a sua liquidação, que
poderá ser feita por cálculo, por arbitramento ou por
artigos.
(...)
§ 2o Elaborada a conta e tornada líquida, o juízo
deverá abrir às partes prazo comum de oito dias
para impugnação fundamentada com a indicação
dos itens e valores objeto da discordância, sob
pena de preclusão.” Grifamos.

Neste sentido, a partir de 11/11/2017, com a vigência da lei nº.


13.467/2017, o art. 879, § 2º da CLT passou a prever expressamente que, uma
vez tornada liquida, há o dever de que as partes sejam intimadas para que
possam apresentar suas impugnações, sem a necessidade do depósito prévio
de que trata o art. 884 da CLT.

Desta maneira, verifica-se que na presente hipótese Juízo a quo após


acolher os cálculos apresentados de ID. e742581, intimou a Agravada via DEJT
para iniciar a execução, em caso de não pagamento espontâneo, sem contudo,
conceder a oportunidade a Agravada a real fundamentação para a rejeição da
exceção de pré executividade, o que não pode prevalecer.

Neste sentido, espera, confia e requer seja dado provimento ao presente


Agravo de Petição, para declarar a nulidade da r. decisão e, após, seja deferido
prazo para que a reclamada após a apresentação da sua peça de exceção,
possa apresentar a impugnação fundamentada, nos termos do art. 879, § 2º,
da CLT.
III – DA IMPOSSIBILIDADE DE EXECUÇÃO DE OFÍCIO

A teor do mandamento contido no art. 5º, inciso LIV, da Constituição


Federal, “NINGUÉM SERÁ PRIVADO DA LIBERDADE OU DE SEUS BENS
SEM O DEVIDO PROCESSO LEGAL”, de sorte que o processo judicial
moderno deve se desenvolver não apenas sob o “enfoque individualista da
tutela de direitos subjetivos das partes, mas sobretudo como conjunto de
garantias objetivas do próprio processo, como fator legitimamente do exercício
da jurisdição e do poder, de um modo geral.” (Ada Pelellegrini Grinover, in
artigo publicado na Revista Magister de Direito Civil e Processual Civil nº. 20 –
Set/Out de 2007).

O professor Luis Flavio Gomes destaca que “o juiz não tem legitimidade
democrática do povo para inventar regras. Se a norma é inconstitucional, cabe
ao juiz declará-la inconstitucional. Se esse juiz resolve flexibilizar demais seus
entendimentos, deixa valerem suas ideologias. Seja de direita ou esquerda,
essas posições deslegitimam o Judiciário. Vira um Deus nos acuda. Todo mundo
interpreta a sua maneira.”

Para Nelson Nery Junior e Rosa Maria Nery, “são manifestações da


cláusula devido processo legal, em sentido processual, garantir-se aos
litigantes: acesso à Justiça (direito de ação e defesa), igualdade de tratamento,
publicidade dos atos processuais, regularidade do procedimento, contraditório,
ampla defesa, realização de provas, julgamento por juiz imparcial (natural e
competente), julgamento de acordo com as provas obtidas licitamente,
fundamentação das decisões judiciais, etc.” (Código de Processo Civil
Comentado, pág. 24, RT, 6ª edição, 2002).

Por acesso à Justiça deve-se considerar não apenas o direito de provocar


o Judiciário para obter uma tutela jurisdicional, mas que essa tutela seja
prestada na forma da legislação, sob pena de, não o fazendo, ser considerado
nulo o processo, mesmo porque a informalidade do processo do trabalho não
pode ficar infensa às regras asseguradoras do devido processo legal, que se
constitui, ao lado dos princípios da legalidade e da segurança jurídica, na
principal ancora de sustentação do Estado Democrático de Direito.

Na conformidade do comando legislativo inserto no art. 876, da


Consolidação das Leis do Trabalho, “As decisões passadas em julgado ou das
quais não tenha havido recurso com efeito suspensivo, os acordos, quando não
cumpridos, os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério
Público do Trabalho, e os termos de conciliação firmados perante as Comissões
de Conciliação Prévia serão executados pela forma estabelecida neste Capítulo.”

O art. 878 da Consolidação das Leis do Trabalho, que disciplina os passos


iniciais da execução trabalhista, estabelece que:

“Art. 878. A execução será promovida pelas partes,


permitida a execução de ofício pelo juiz ou pelo
Presidente do Tribunal apenas nos casos em que
as partes não estiverem representadas por
advogado.” Grifamos.
É cediço que “o processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve
por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei”, conforme previsão
constante no art. 2º do CPC.

Neste sentido, a partir de 11/11/2017, com a vigência da lei nº.


13.467/2017, o art. 848 da CLT passou a prever exceção expressa.

Desta maneira, a nova redação do art. 878 da CLT veda a possibilidade


de que o Juiz do Trabalho inicie e promova a execução de ofício (impulso
oficial), nas ocasiões em que a parte estiver representada por advogado, tal
como ocorre na presente hipótese.

Em igual sentido, o art. 513, § 1º, do CPC dispõe que “o cumprimento da


sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, far-
se-á a requerimento do exequente.”
No caso presente, ao que parece, pretendeu o Juízo primário criar um rito
processual misto e especial para a execução da sentença, na medida em que
desconsiderou, a um só tempo, as diretrizes da execução trabalhista e as do
cumprimento de sentença do direito processual comum.

A teor do mandamento inscrito no art. 878 da Consolidação das Leis do


Trabalho, não há como ser impulsionada a execução sem que haja expresso
requerimento do exequente quando este estiver patrocinado por advogado, sob
pena de ofensa ao devido processo legal e de violação do direito da parte
executada de ver a execução ser processada na forma estabelecida na
legislação especifica, no caso, a Consolidação das Leis do Trabalho.

A imposição de restrição patrimonial sem prévio e regular requerimento


do exequente subverte o devido processo legal, por ofensa ao art. 5º, LIV, da
Constituição Federal, ao art. 878 da CLT e aos arts. 2º e 513, § 1º, do CPC.

Desta maneira, registre-se ser incontroverso nos autos que os atos de


execução praticados se deram sem que houvesse qualquer requerimento da
agravada neste sentido, conforme determinação prevista no art. 878 da CLT, o
que não pode prevalecer.

Assim, verifica-se que todos os atos de constrição que possam ser


praticados a partir da r. decisão de ID. e742581 -, afrontam de maneira
inequívoca o devido processo legal, tendo sido surpreendida a agravante com
as ordens de constrições que, assim, revela-se ilegal, por nulidade absoluta.

Registre-se que o referido ato judicial despreza o comando do art. 878 da


CLT e configura manifesta ilegalidade, tal como manejado.

Máxime salientar que, a r. decisão que determinou de ofício o início da


execução, indubitavelmente, está em dissonância com o estabelecido na
legislação em vigor.
É cediço que, sendo a execução um processo autônomo que se processa
nos mesmos autos que a ação principal (de cognição), é condição sine qua non
para a sua validade que este se processo com a observância do princípio do
devido processo legal, insculpido no art. 5º, LIV, da Constituição Federal, sob
pena de nulidade da indigitada execução.

Em igual sentido, o art. 803, II, do CPC prevê:

“Art. 803. É nula a execução se:


I - o título executivo extrajudicial não corresponder a
obrigação certa, líquida e exigível;
II - o executado não for regularmente citado;
III - for instaurada antes de se verificar a condição ou
de ocorrer o termo.
Parágrafo único. A nulidade de que cuida este
artigo será pronunciada pelo juiz, de ofício ou
requerimento da parte, independentemente de
embargos à execução.” Grifamos.

Máxime salientar que é de conhecimento público e notório, bem como


restou taxativamente comprovado que o prosseguimento da execução, tal como
manejado, sem a observância do devido processo legal, insculpida no art. 878
da CLT, dos arts. 2º e 513, § 1º, do CPC e do art. 5º, LIV e LV, da Constituição
Federal, com a determinação de ofício de bloqueios eletrônicos nos ativos
financeiros da impetrante, são nulos de pleno direito, nos termos do art. 803,
III, do CPC.
Pelo provimento do agravo.

IV - CONCLUSÃO
Por todo o exposto, espera, confia e requer seja dado provimento do
presente AGRAVO DE PETIÇÃO para sejam declarados nulos os atos processuais
praticados a partir da r. decisão de ID. e742581, e DETERMINADA A BAIXA DOS
AUTOS À VARA DE ORIGEM a fim de que seja apresentada a fundamentação
para rejeição da exceção de pré executividade, e que seja observado os
preceitos do art. 878 da CLT que veda a execução de ofício na presente
hipótese, na medida em que a parte agravada encontra-se assistida por
patronos devidamente constituídos.

Outrossim, requer seja dado provimento ao presente Agravo de Petição,


para que seja apreciada a impugnação de ID. 3d4fc82 ofertada pela Agravante.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 24 de novembro de 2023.

Erika Regina da Silva Costa


OAB-RJ 177.888

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