Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
TGDC Sofia Alves Cunha
TGDC Sofia Alves Cunha
DIREITO CIVIL
SOFIA ALVES CUNHA
FDUL
2019/2020
SITUAÇÕES JURÍDICAS
O nosso Código Civil está estruturado na parte geral com base no conceito fundamental de relação jurídica.
Este conceito parte de uma ideia que o Regente José Alberto Vieira, Oliveira Ascensão e Menezes Cordeiro
consideram atualmente errada.
Temos várias situações jurídicas que são protegidas pelo Direito.
Exemplo: celebração de um contrato de compra e venda estabelece uma relação jurídica entre o vendedor e o
comprador.
Na ordem jurídica em geral, nem todos os esquemas pressupõem uma relação jurídica entre pessoas. A relação
jurídica é apenas uma das várias situações jurídicas possíveis, pretender reduzir toda a realidade a elas é
irrealista e provoca distorções contínuas.
Exemplo: Direitos de personalidade, no direito à vida não estamos em relação com mais ninguém. Direito
reais, no direito de propriedade, o proprietário não está em situação jurídica com ninguém.
O conceito de relação jurídica é parcial em relação ao fenómeno jurídico geral, pois nem todo o direito é
relacional, mas sim situacional. A crítica ao conceito de relação jurídica é que este não abrange todo o
fenómeno jurídico, pois ele não é sempre relacional, não existe sempre uma relação jurídica entre pessoas,
pelo que temos de ter por base uma situação jurídica.
Situações jurídicas: situações da vida humana com relevância jurídica, ou seja, situações das pessoas
tuteladas pelo Direito.
É de notar que as situações da vida só se tornam juridicamente relevantes quando o Direito lhe atribui essa
relevância, seja pela lei ou por qualquer outra fonte de direito, podendo, ainda, a uma situação da vida
corresponderem várias situações jurídicas.
Exemplo: Direito de propriedade de alguém Exemplo: O casamento exige sempre dois sujeitos para
sobre uma coisa. ser celebrado (os cônjuges).
Situação Absoluta Situação Relativa
Existe por si mesma, sem dependência de uma Não existe sem haver outra situação jurídica, que se lhe
outra situação de sinal contrário. Não postula contrapõe. Dá lugar a uma relação jurídica, pois
qualquer situação jurídica. relaciona duas pessoas.
DIREITO SUBJETIVO
Definição MC + JAV: o direito subjetivo é uma permissão normativa específica de aproveitamento de um
bem do qual somos titulares. Tem limites, mas parte-se da permissão para os deveres, o que alarga a primeira
e obriga a assumir, com clareza, os segundos.
Permissão Normativa: Cada direito assenta num regime jurídico, que o outorga.
Aproveitamento: Posição de vantagem sobre o objeto do qual usufruímos.
Titulares: A vantagem do titular exerce-se para o respetivo aproveitamento.
As classificações dos direitos subjetivos dependem da mera natureza do bem, assim, temos direitos de
personalidade, direitos de crédito ou direitos reais, consoante a permissão vise um bem de personalidade, uma
prestação ou uma coisa corpórea.
Quanto à defesa que os direitos subjetivos propiciam, percebe-se que uma permissão específica será também
uma não-permissão, logo, uma imposição ou uma proibição, para os não-titulares.
Modalidades
Direitos Comuns ou Direitos Potestativos
Direitos Subjetivos em sentido restrito
Implica um poder de alterar, unilateralmente, através de uma
Traduz-se numa permissão específica de manifestação de vontade, a ordem jurídica. É fruto de uma
aproveitamento de um bem. Em rigor, deriva da norma que confere um poder, isto é, de uma norma que, em si,
incidência de uma norma permissiva, logo, de uma nada diz quanto à forma por que as pessoas devem atuar, apenas
norma de conduta. lhes faculta a possibilidade de alterar a ordem jurídica.
Exemplo: o direito de propriedade implica a Exemplo: o direito de aceitar uma proposta contratual faz com
permissão normativa específica, plena e exclusiva, de que o destinatário altere, de modo unilateral, a ordem jurídica,
aproveitamento de uma coisa corpórea. visto que promove o aparecimento de um contrato
Esta diferenciação estrutural explicas as dificuldades que o direito potestativo provoca na doutrina. O direito
potestativo é, na verdade, o produto de normas que conferem poderes. No entanto, tratam-se de poderes
atribuídos ao beneficiário através do intermear de normas permissivas, isto é: ao titular cabe atuar ou não o
poder que a norma lhe confere, segundo o seu livre-arbítrio. Assim, o poder que a lei confere ao titular é visto
como um bem, que ele aproveitará, ou não, como quiser.
Classificações de direitos potestativos
• Autónomos e integrados, conforme surjam de modo isolado ou se integrem em direitos subjetivos mais
amplos, como simples faculdades ou até como poderes;
• Com destinatário e sem destinatário, consoante as alterações que eles promovam se deem também na
esfera jurídica de outrem ou na do próprio titular; aqui, quando tenham destinatário, este encontra-se
na situação de sujeição;
• De exercício judicial ou extrajudicial, se o titular tiver de se dirigir ao tribunal para desencadear ou
efeitos que a lei coloca na sua disponibilidade ou se puder fazê-lo independentemente dessa
formalidade;
• Constitutivos, modificativos ou extintivos, em função de darem lugar, pelo seu exercício, a uma nova
situação jurídica, de alterarem uma situação preexistente ou de extinguirem essa mesma situação
Os direitos potestativos podem ser creditícios, reais, de família, sucessórios, intelectuais, etc, consoante, uma
vez atuados, promovam o aproveitamento dos tipos de bens correspondentes a essas categorias civis. Têm um
espectro largo de atuação e são transmissíveis, nos termos gerais.
Modalidades quanto ao objeto e quanto ao regime
O direito subjetivo pode sofrer múltiplas classificações em função do tipo de bem de cujo aproveitamento
nele se trate.
Bens Patrimoniais Bens Não Patrimoniais
• Corpóreos • Pessoais
• Incorpóreos
• Familiares
o Bens intelectuais
o Prestações
o Realidades jurídicas
Pensa-se que o objeto do direito subjetivo ditaria então, no essencial, o seu regime. Mas isto não é verdade.
Um direito merece certa qualificação por lhe corresponder um regime e não o contrário.
No entanto, pode-se indicar o elenco mais impressivo, que distingue, conforme se lhes apliquem as regras
próprias das 4 correspondentes disciplinas civis:
• Direitos de crédito
• Direitos reais
• Direitos de família
• Direitos das sucessões
• Haveria que acrescentar os Direitos das pessoas
O direito subjetivo é a situação jurídica ativa principal, mas existem outras.
PODERES E FACULDADES
Poderes: O poder é a disponibilidade de meios para a obtenção de um fim. Correspondem a realidades
analíticas.
Regente JAV: Por vezes esta expressão é utilizada como sinónimo de direito subjetivo, no entanto, pode
aparecer como conteúdo dos direitos subjetivos, pois o direito não tem por objeto outros direitos, mas sim
poderes. A um direito estão inerentes diversos poderes que são facultados para o proprietário do direito poder
atingir os sues fins.
Faculdades: Conjunto de poderes ou de outras posições ativas, unificado numa designação comum.
Correspondem a realidades compreensivas.
Exemplo: o titular de um direito sobre uma coisa poderá ter a faculdade de construir; ela implica múltiplos
poderes e outras realidades diversas, como por exemplo, esse mesmo titular terá o poder de alienar a
construção e tem uma disponibilidade de meios para prosseguir esse fim.
Classificações de poderes:
• Poderes materiais: os meios disponíveis são de atuação material. Exemplo: usar a coisa.
EXPECTATIVAS JURÍDICAS
Existem conjunções nas quais se requere, para o aparecimento de determinado efeito jurídico, uma sucessão
articulada de eventos, que se vão produzindo no tempo. Desde que esse processo se inicie, o beneficiário tem
uma esperança crescente de, no termo do processo, ver constituir um direito ou vantagem. Ele tem uma
expectativa. Resta saber se o Direito tutela ou não essa expectativa e, quando o faça, em que medida o faz.
O conceito técnico é o de uma situação jurídica ativa, que protege o titular para a aquisição de uma determinada
situação jurídica. Representa uma tutela intermédia que a ordem jurídica dispensa a algumas pessoas face a
uma potencial aquisição de uma outra situação jurídica.
Exemplo: Os herdeiros podem ser protegidos de atos de disposição do futuro morto, caso este em vida tente
prejudicar os herdeiros pondo em causa a sua herança. Estes podem ter o poder de reagir, declarando os atos
nulos. Ninguém é herdeiro antes do tempo, pelo que esta proteção é na expectativa jurídica de que este irá ser
herdeiro, facultando algumas formas de proteção da sua situação.
PODERES FUNCIONAIS
Podem definir-se genericamente como obrigações específicas de aproveitamento de um bem.
Têm natureza híbrida: há aproveitamento de um bem, no que surge como uma vantagem, mas esse
aproveitamento não é permitido, mas sim obrigatório; o titular deve agir e, muitas vezes, dentro de certos
limites.
Exemplo: o poder paternal CC: 1885º ss. Implica a atribuição aos pais de certos “direitos” em relação aos
filhos que são, em simultâneo, “deveres”.
A posição é ativa por implicar sempre uma margem de escolha, a cargo do titular. Permite uma atuação numa
esfera jurídica alheia para se cumprir um dever.
EXCEÇÕES
Exceção Processual
No processo, a exceção é um meio de defesa do réu que ocorre sempre que este alegue factos que obstem
à apreciação do mérito da ação ou que, servindo de causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito
invocado pelo autor, determinem a improcedência total ou parcial do pedido.
Exceção Material
É a situação jurídica pela qual a pessoa adstrita a um dever pode, licitamente, recusar a efetivação da
pretensão correspondente. Visa um ganho na apreciação do fundo em causa. Opera pela vontade do seu
beneficiário, tem essa autonomia. São razões fundadas num regime jurídico que impedem ou paralisam o
direito apresentado contra alguém.
Exemplo: prescrição, caducidade, nulidade, anulabilidade, renúncia, etc.
Fracas: apenas permitem enfraquecer um direito alheio;
Fortes: permitem ao seu beneficiário deter um direito alheio;
Perentórias: detém a pretensão por tempo indeterminado
Dilatórias: detém a pretensão apenas por certo lapso de tempo
ÓNUS
Na doutrina comum, o ónus corresponderia à situação na qual alguém deve adotar certa atitude, caso pretenda
obter certo efeito.
O ónus não é um dever, não se impõe uma certa conduta, porque o resultado por ele propiciado é facultativo.
Isto quer dizer que se uma situação de vantagem se aquele sobre o qual o ónus incide realizar a atividade
correspondente a esse ónus. As leis não impõem à parte sobre o qual recai o ónus o dever de realizar a prova,
é uma escolha livre, contudo, se o ónus não for realizado, há uma desvantagem. Não se impõe a conduta, mas
associa-se uma desvantagem à não realização da conduta.
Esta figura deve ser remetida para o domínio processual, em que traduz deveres no processo com a particular
índole de terem consequências substantivas.
MC: No Direito civil, surge o ónus material ou encargo. Corresponde estruturalmente a um dever, mas segue
um regime particular: embora seja um dever de comportamento que funciona no interesse de outras pessoas,
estas não podem exigir o seu cumprimento.
Regente JAV considera que esta é uma situação jurídica ativa, enquanto que MC considera que é passiva.
SITUAÇÕES JURÍDICAS PASSIVAS
Nas situações passivas, o sujeito fica colocado no âmbito de aplicação de normas proibitivas ou impositivas.
É também possível uma outra ocorrência: a de sobre ele recair o produto das normas que a outrem confiram
poderes. Este elenco não é taxativo, discutem-se outras situações jurídicas que possam existir, pois as normas
jurídicas são capazes de regular situações jurídicas de diversa natureza.
DEVERES
Traduz a incidência de normas de conduta proibitivas ou impositivas. Pode resultar de uma fonte normativa
(fonte legal ou qualquer outra fonte de direito) ou de um negócio jurídico (contrato). A pessoa adstrita a um
dever encontra-se na necessidade jurídica de praticar ou de não praticar certo facto, sob pena das sanções
ineres ao direito em causa. Um dever restringe a liberdade da pessoa e obriga-a a adotar uma certa conduta.
Os deveres aparecem também no próprio conteúdo dos direitos subjetivos, contribuindo para a sua delimitação
negativa. São suscetíveis de inúmeras classificações. Atendendo ao seu objeto, pode-se distinguir:
Dever de dare: o adstrito deve entregar uma coisa a outrem;
Dever de facere: o adstrito deve desenvolver uma atividade em prol de outrem;
Dever de facere Dever de non facere ou de facto negativo: deve-se abster de certa
propriamente dito ou de atuação; nada fazer; Exemplo: empreiteiro não realizar uma obra.
facto positivo: deve-se
desenvolver uma atividade Dever de pati ou de suportação: deve-se aceitar que alguém
em si; fazer qualquer coisa; desenvolva, na nossa esfera jurídica, uma atividade que, em princípio,
Exemplo: pagar o preço. não poderia ter lugar;
Normalmente, os deveres têm por contraposição um direito subjetivo, mas nem sempre isto acontece. Por
exemplo, em normas de saúde pública ou ambientais, todo o espectro de destinatário da ordem jurídica está
sujeito a essa conduta, portanto, não há um direito subjetivo propriamente dito.
ESTADO DE SUEJIÇÃO
É a situação jurídica passiva correspondente ao direito potestativo. Está numa sujeição a pessoa que possa ver
a sua posição alterada por outrem, unilateralmente.
Exemplo: o proponente fica na sujeição de ver o destinatário, através da aceitação da proposta, constituir um
contrato em que ele seja parte.
Aquele que se encontre numa sujeição nada pode nem deve fazer, apenas lhe cabe, passivamente, aguardar
que o titular do direito potestativo atue, ou não, essa posição
DEVRES GENÉRICOS
São situações jurídicas passivas que se traduzem em posições absolutas, isto é, sem relação jurídica.
O facto de não ter como correspetivo um direito subjetivo explica a sua generalidade: eles não dão lugar a
comportamentos que possam, exclusivamente, ser exigidos por um sujeito a outro. Uma generalidade de
pessoas pode, verificadas as competentes condições, exigir a sua observância a uma generalidade de outras.
Exemplo: ao impor, em termos gerais, obrigações de silêncio, durante a noite, o Direito impõe a todos o
correspondente dever genérico de respeito, sem que se visualize alguém com um particular “direito ao
silêncio”.
A inobservância de deveres genéricos conduz ao dever de indemnizar, nos termos do CC: 483º/1.
DEVERES FUNCIONAIS
Traduzem situações passivas nas quais uma pessoa se encontre, por força da sua presença, em determinada
posição. Não têm necessariamente uma específica fonte, antes surgindo com a simples ocorrência do
condicionalismo funcional donde promanem. Muitas vezes eles são associados, de modo automático, pela
inserção do sujeito num certo status ou situação funcional. Surgem no âmbito da atuação de entidades públicas
ou privadas sujeitas a regras de competência. Está adstrito a um fim que, em regra, é publico.
Exemplo: Primeiro Ministro convoca o Conselho de Ministros.
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS DE PERSONALIDADE
Dupla Inerência
Absolutidade
Efectivação
Erga omnes: Permite ao seu titular exigir a qualquer pessoa o acatamento de condutas
necessárias à sua efectividade
Inerência à pessoa.
Este tipo de direito liga um bem a uma pessoa que lhe diz
exclusivamente respeito. Intransmissibilidade do bem de
Estrutural (não postulam relações jurídicas) personalidade.
Certos direitos de personalidade são estruturalmente relativos: embora reportados a
bens de personalidade, eles concretizam-se em situações pedido/cumprimento, com
sujeitos activo e passivo
Indissociavelmente ligado ao seu objeto.
Reporta-se ao bem, onde quer que ele esteja. O direito atinge o bem,
Deveriam ser respeitados por todos, sob pena de aplicação do artigo 483º/1 sem intermediário. Não é possível substituir um bem por outro.
Direitos de personalidade vs
Direitos de outra natureza
Sentido Forte
O direito não admite que os bens em causa sejam trocados por Apesar de haver uma apetência a que os direitos de propriedade
Natureza Não
Prevalência
dinherio. prevaleçam sobre outros, não há nenhuma regra jurídica que o obrigue. A
Patrimonial
Ex: Vida, Integridade corporal, saúde jurisprudência apela às regras gerais do artigo 335º, pelo que varia de
caso para caso
Sentido Fraco
Os bens não podem ser trocados por dinheito, mas podem Há direitos de personalidade que não se podem por em causa e,
aparecer como objecto de um negócio jurídico. por isso, prevalecem sobre todos (direito à vida)
Ex: Saúde, Integridade física
Patrimoniais
Representam um valor económico podendo ser negociados no
mercado. Problema encarado à luz das regras do conflito de
Ex: Nome, Imagem e fruta da atividade intelectual Concurso entre si direitos, aplicando preferencialmente o regime
específico aplicável ao negócio.
Direito Direito
Direito Direito Direito Vida Direito Direito Direito
Direito Vida Integridade Integridade
Nome Imagem Privada Saúde Repouso Honra
Física Moral
Pessoa é
suficiente
Necessário Necessário Eventual Eventual Necessário Necessário Necessário Necessário Necessário
ou necessita
de um bem
Círculo Biológico Biológico Social Social Social Biológico Moral Moral
Restringir Não Não Não Não Não Não Não
Limitável Limitável
ou limitar Limitável Limitável Limitável Limitável Limitável Limitável Limitável
Vantagens Não Não
Patrimoniais Patrimoniais Patrimoniais
Económicas Patrimoniais Patrimoniais
Referência
Inominado Inominado Nominado Nominado Nominado
na lei
Regime
Consignado Típico Típico Típico Típico Típico
na lei
“Pessoa é suficiente ou necessita de um bem”: Direitos Necessários (estão presentes desde que exista uma pessoa e a sua mera invocação é suficiente para
demonstrar a sua violação) e Direitos Eventuais (dependem da existência de um bem e há que alegar e provar a existência do bem protegido para provar
a sua violação).
“Restringir ou limitar”: Nos direitos Não Limitáveis o sujeito nunca poderá renunciar ou restringir. Os Direito Limitáveis admitem limitações.
“Vantagens Económicas”: Os Direito Não Patrimoniais carecem de vantagens económicas para os seus titulares. Os Direitos Patrimoniais facultam ao seu
titular vantagens de tipo económico caso sejam objeto de negócios jurídicos.
“Referência na lei”: O Direito Inominados não vem expressamente referidos na lei enquanto que os Direitos Nominados são referidos na lei.
“Regime Consignado na lei”: Os Direitos Típicos são detentores de um regime específico consignado na lei, o mesmo não acontece com os Direito
Atípicos.
Classificações supostas por mim, não estão no MC
DIREITOS DO HOMEM
Traduzem prerrogativas próprias de cada ser humano, que se prendem com a dignidade
da pessoa. Estes sofreram uma evolução de concretização ao longo do tempo:
DIREITOS FUNDAMENTAIS
Este direito assegura a preservação das funções vitais do organismo biológico humano. Surge contemplado no artigo 24º da Constituição, contudo o artigo 70º do CC garante,
por certo e em termos civis, o direito à vida. O direito à vida nunca pode ceder perante qualquer conflito de direitos, com exceção do caso em que várias vidas estão em risco e
só se pode salvar uma, ou ainda em caso de máxime, a legítima defesa.
Ilícito
Comportamentos de Português e ao sentir da Nossa Gente, a ideia de inviolabilidade da vida humana;
salvar bens maiores risco Argumento técnico-jurídico: O Direito comporta subsistemas inteiros de soluções
ou iguais à vida. diferenciadas, tendentes a encontrar um equilíbrio justo, estável e consequente, entre os
interesses humanos em presença. Nada disto faria sentido quando se admitisse a
supressão de um ser humano.
SUICÍDIO
Argumento
Assim, todo o ato que vise a morte a pedido ou que se relacione ético
com a prática de suicídio é nulo. No caso de uma pessoa
perpetuar suicídio, terá́ cometido um ato ilícito, visto que dispôs
de um direito indisponível. Obviamente que o direito civil nada
poderá́ fazer, visto que a pessoa já se encontra morta. No caso de
Argumento Eutanásia Argument
Cultural
tentativa de suicídio, o suicida tentado terá́ de suportar as Contra o social
despesas de todos os danos colaterais, incluindo despesas médicas
e outras. Não é considerado suicídio o comportamento daquele que
vise a salvaguarda de bens concretamente equivalentes ou
superiores ao da sua vida e que não pretenda, diretamente, a morte. Argumento
A indisponibilidade do direito à vida leva a que o seu titular não Técnico-Jurídico
possa na depender de factos futuros e incertos. Assim, o duelo e a
exposição a comportamentos de risco (que ultrapassem o risco
normal e razoável) são também atos ilícitos.
Lucros Cessantes
O facto de o falecido não poder trabalhar, podendo aqueles que podiam exigir
alimentos ao lesado ou aqueles a quem o lesado os prestava, serem indemnizados.
Cículo: 495º/3 Cálculo: 564º
Indeminizações
Danos Emergentes, Lucros Cessantes, DN Patrimoniais Danos Emergentes, Lucros Cessantes, DN Patrimoniais
Honra constitui a consideração pela integridade moral de cada ser humano. Podemos distinguir:
Os nossos tribunais, geralmente, sentem-se mais confortáveis em decretar uma indemnização pela
lesão da honra quando há danos patrimoniais envolvidos, embora também o façam quando há
apenas danos morais.
Exceptio Veritatis
Corresponde a um problema que diz respeito a saber se os factos invocados sobre alguém, sendo
verdadeiros, importam ou não uma violação do direito à honra. Se a afirmação for verdadeira, a ofensa
à honra é justificada, a pessoa não é responsabilizada? A doutrina defende várias posições.
MC diz que não interessa a veracidade dos factos, mas sim a violação de um direito de personalidade.
Portanto, desde que atinja a honra, é ilícito, independentemente de ser verdadeiro ou falso.
JAV considera que a atuação só deve ser sancionada se a afirmação for falsa, se for verdadeira, não há
ofensa à honra. A afirmação de um facto verdadeiro só deve penalizada quando se tratar de abuso de
direito CC: Artigo 334º
Segundo ele, cada um de nós pode praticar na sua vida condutas que podem ser suscetíveis de avaliação
negativa pela sociedade, o que levará a uma diminuição da consideração que os outros têm por nós.
Portanto, a honra e a reputação ajustam-se consoante o comportamento da pessoa em causa.
O professor afirma ainda que alguém que pratica uma conduta reprovável, não pode esperar a mesma
proteção da personalidade de que outras pessoas usufruem por terem um comportamento correto.
Totalmente verdadeiras
A tutela da honra pode entrar em conflito com outras liberdades fundamentais, também
constitucionalmente garantidas, como a liberdade de expressão, a liberdade de informação, a liberdade
de criação artística, etc. A questão agrava-se perante o uso das redes sociais, na internet. Há que
equilibrar esta situação, porque todos estes direitos são necessários nas democracias modernas.
Uns autores dizem que a tendência é proteger mais o direito à liberdade de informação, mas outros
discordam. Há que ter em conta que o direito à honra é um direito de personalidade, pelo que prevalece
sobre os restantes. O Direito e a Jurisprudência têm vindo a diversificar as soluções. Por outro lado,
quando se refere à liberdade de informação, há que reportá-la a algo de socialmente útil ou relevante.
Assim, para delimitar as fronteiras destes dois direitos, há́ que ter dois critérios bem definidos:
Estes critérios justificam a exclusão da ilicitude, portanto, mesmo que haja ofensa à honra, não há
responsabilidade civil nem obrigação de indemnizar.
Nota:
Os tribunais consideram mais grave insinuações ou frases que deixam dúvidas, do que frases
assertivas. Por outro lado, afirmações manifestamente descabidas, absurdas ou falsas,
normalmente, não afetam a honra.
Exemplo: dizerem que o Benfica contratou um bruxo para rogar uma praga ao hacker Rui Pinto.
A liberdade de imprensa tem uma proteção especial relativamente à liberdade de expressão? Pode
um jornal dizer mais do que nós?
A liberdade de expressão é limitada. Contudo, os órgãos de comunicação social têm uma liberdade
de expressão qualificada, porque têm uma entidade reguladora e têm de obedecer a códigos
deontológicos. A liberdade de imprensa tem consagração constitucional.
Esta lei impõe limites à liberdade de imprensa, aqueles que estão previstos na Constituição e na lei.
Também confere o direito de resposta a qualquer pessoa que tenha sido referida e que sinta a sua
reputação afetada, bem como o direito de retificação.
Situações de dúvida
Numa situação de atentado à honra podem gerar-se dúvidas. Em termos penais valida-se o sentido não
punível, desde que razoavelmente resultante da interpretação do sucedido. No direito civil é ao
contrário: a atuação é ilícita no seu conjunto, se um dos sentidos da intervenção contunda com a honra.
Outro problema discutido é o de atentados a uma honra de ordem geral, como os portugueses, por
exemplo. Como o direito à honra é subjetivo: encabeçado, necessariamente, por um titular individual,
só se tutela o sentimento de honra geral no caso em que a honra é agredida de tal modo que os
queixosos possam, com verossimilhança, apresentar-se como ofendidos.
As indemnizações são sensíveis ao facto de ser condenada uma pessoa singular, uma empresa ou uma
grande empresa, e também ao tipo de órgão de informação usado para a ofensa: quanto mais eficaz,
maior terá́ de ser a reparação. Apesar de tudo, a tutela indemnizatória prevista é insuficiente, porque
mais importante do que a compensação monetária é a reposição da verdade ou a reparação da ofensa
feita.
Esta teoria serve para limitar as restrições à regra geral no artigo 79º/1 CC, relativas ao direito à imagem. Através dela, cria-se uma hierarquia de tutela da imagem conforme a
situação em que o sujeito se encontre. A interpretação do artigo 79º/2 CC deve, portanto, ser o mais restrita possível e seguir um critério de adequação ao caso em concreto. Já
o artigo 79º/3 CC deve ser interpretado do modo amplo.
Esferas publica e individual-social: permitem retratar sem Esferas privada, secreta e intima: nunca são acessíveis sem
autorização, consoante as circunstancias e os objectivos, mas autorização. Além disso, só são admissíveis autorizações na esfera
apenas para documentar o que se lá passa: não, por exemplo, privada: as esferas secreta e íntima deixariam de o ser se surgirem
para obter imagens para uma campanha publicitaria. O retrato autorizações de ingerência, o que nunca pode ser presumido.
nunca é permitido caso atinja a honra da pessoa
Esfera privada
Tem a ver com
apenas acessível aoa vida privada co
mum da pessoa
mais estreitos, equi circulo da família ou dos amigos:
paráveis a familiar
es;
Esfera pública
Própria de polític
celebridades, ela os, actores, desportistas ou outras Abrange o âmbito
Esfera secreta
propositadamente implicaria uma área de condutas revelar a ninguém;que o próprio tenha decidido não
independentemente acessível ao
de concretas autoriz público, observe a discrição desde o momento em que ele
ações; esfera tem absoluta compatível com ta
tutela; l decisão, esta
Esfera individual
Reporta-se ao rela -social
diversas pessoas ci onam en to social normal qu
e
conhecidos; a represtabelecem com amigos, colegas as Esfera intima
salvo proibição, m oduç ão de imagens seria aí e Reporta-se à vida
meio; as apen as po
para circular nesse ssív el, mais estrito (côn sentimental ou familiar no sentid
mesmo absoluta, independ juge e filhos); tem uma tutelao
entemente da deci
são do agente;
|
DIREITO À IMAGEM
A aparência física é distinta para cada ser humano. Assim, a simples reprodução da pessoa, pela pintura, pela fotografia e pelo filme, é suficiente para a sua cabal identificação.
Esta vem trazer a ideia de que o destino dado a uma imagem é, de certa forma, o destino dado à pessoa retratada. Vem consagrado no artigo 79º
O retrato de uma pessoa não pode ser exposto, reproduzido ou lançado no comércio sem o consentimento dela.
A lei refere “exposto”: ninguém pode ser retratado sem o seu consentimento. Este poderá ser tático (aferido de uma situação
Nº1 concreta); COm consentimento pode ser violada a honra do prórpio.
Regra Geral Contudo, a pessoa que autorize o retrato, pode não autorizar a “exposição”, a “reprodução” ou o lançamento no mercado, mas quem
autorize este último, autoriza todos os anteriores - ideia de graduação.
A autorização pode ser contratual ou unilateral.* Pode aplicar-se assim o CC: Artigo 81º
Nº3 Não obstante a verificação dessas circunstâncias, o retrato não pode ser reproduzido, exposto ou lançado no comércio se do facto
Corrige as resultar prejuízo para a honra, reputação ou simples decoro da pessoa retratada. Nunca vale se houver consentimento, nesse caso
exceções estamos numa situação do 81º/1, este artigo só vale nos casos do 79º/2.
Este direito postula a liberdade fundamental que cada um tem de, sem prejudicar terceiros, orientar a sua vida privada como entender. A vida é o bem em
causa e são abrangidas diversas realidades: a origem e a identidade da pessoa, a saúde, o património, a sua imagem, os seus escritos pessoais, as suas amizades
e relacionamentos, as suas preferências estéticas, as suas opções políticas e religiosas, etc.
Este direito salvaguardará tudo aquilo que não seja público, profissional ou social. É um direito contra o Estado, mas também é oponível a todos os particulares.
Nos possíveis conflitos com outros direitos, haverá que proceder a uma ponderação valorativa.
As esferas da privacidade de cada pessoa variam consoante a pessoa se expõe fora do seu domicílio. Contudo, este direito protege as esferas privada, secreta e
intima, ou seja, em caso algum elas poderão ser violadas, exceto com o consentimento do titular do direito. O artigo 80º/2 CC delimita a proteção em função
de dois elementos:
Tem a ver com os especiais valores que podem conduzir à intromissão na esfera privada. Terão de ter uma cobertura legal e constitucional e deverão revelar-se
mais ponderosos do que os valores subjacentes à privacidade. Exemplo: a polícia colocar escutas telefónicas no âmbito de uma investigação.
Reporta-se à notoriedade ou ao cargo da pessoa considerada e até mesmo à postura que ela adote. A esfera privada destas pessoas notórias não desaparece,
sobretudo, nunca ao ponto de atingir as esferas secreta e íntima. Contudo, pode ser fortemente suprimida, sem que se possa falar de atentado à privacidade. O
mesmo acontece quando o visado toma a iniciativa de revelar a sua vida privada. Aqui falamos maioritariamente em figuras públicas, mas é preciso ver que
tipo de figura pública se trata, pois a proteção pode não ser a mesma se se tratar de uma pessoa que está constantemente a expor a sua vida (youtuber vs. primeiro
ministro). Deve ser articulado com o artigo 79º/2 CC. Porém, o artigo 79º/3 CC também se aplica analogicamente, a ação não é lícita se afetar a honra da pessoa.
Nota: os tribunais tendem a ser mais conservadores quanto ao cálculo do dano provocado pela ingerência da vida privada, quando se trata de uma figura pública
que se expõe bastante.
Assim se percebe que o mesmo ato poderá ser ilícito, caso se trate, por exemplo, do primeiro-ministro, e ilícito, caso se trate de um cidadão comum anónimo.
A privacidade tutela, ainda, diversas informações que só ao próprio dizem respeito, como segredos dos seguros, segredos bancários, segredos profissionais,
segredos relativos à entidade genética e à saúde, segredos sobre os elementos constantes de bases de dados, etc.
Concretização e Sanções:
As devassas à privacidade mais graves têm tutela penal. Podemos dizer que a lei penal intervém quando a violação da privacidade atinje os círculos interiores da
vida secreta e da íntima. A lei civil vai mais longe:
Consequências civis:
• Responsabilidade civil artigo 483º CC - quando ocorra, as indemnizações devem assumir um papel desincentivador e punitivo; no cálculo da
indemnização, o tribunal deverá suprimir o lucro e prevenir a repetição das afrontas;
• Medidas adequadas a fazer cessar a intromissão artigo 70º/2 CC - perante uma atitude atentatória o tribunal poderá adotar medidas que cessem
de imediato e eficientemente o desacato, ainda que, não possa haver responsabilidade civil;
Exemplos: retratações públicas (pedidos de desculpa); apagamento de ficheiros; afastamento de uma pessoa em relação a outra.
O ónus da prova cabe ao lesado, nos termos gerais, ou seja, ele tem de demonstrar o ato prevaricador e a especial sensibilidade que determinou o atingimento
da sua honra; este último ponto é desnecessário quando, pela natureza da agressão, seja público e notório o atingimento da honra.
Preparação Aula Prática | Docente Ana Leal
Tipos de honra
• Autoestima
Falamos de uma honra pessoal ou interior/subjetiva, que corresponde à imagem que
nós temos de nós próprios. Assim, os juízos que os outros fazem de nós repercutem-se
na nossa autoestima.
É lesada quando a nossa autoestima fica diminuída, podendo surgir devido à ofensa à
honra exterior, dando lugar a doenças mentais por vezes.
Dando lugar a danos morais, e patrimoniais.
Nível de lesão mais grave pelo que poderemos tomar todos os tipos de providência e
ainda responsabilidade civil.
A liberdade de comunicar não justifica notícias inverídicas, pelo contrário, exige uma
verdade pura, sem equívocos.
Interesse político-social
Não se trata de um mero interesse público, da curiosidade de algum público, como por
exemplo as dívidas domésticas de um político. Trata-se de algo realmente importante
para a sociedade conhecer, como as dívidas de um político para com uma empresa. Este
critério permite ainda repor a verdade quando se trata de “honras imerecidas”, como
no caso de alguém se fazer passar por médico e angariar clientela injustamente. Neste
caso, a pessoa não pode invocar a ofensa ao bom nome por se repor a verdade. É
também importante no que toca às prevenções contra métodos não-científicos, o
público deve ser informado.
Honra vs. Liberdade de expressão
Alguns autores consideram que a tutela da honra se tem encontrado na defensiva. Por
outro lado, uma tutela demasiado alargada iria prejudicar a liberdade de opinião e de
expressão.
Embora ambos os direitos sejam importantes, há autores que criticam a tendência para
se proteger mais a liberdade de expressão, enquanto que outros autores discordam.
O Professor Menezes Cordeiro afirma que não nos podemos esquecer que o direito à
honra é um direito de personalidade, portanto, deve prevalecer sobre os demais.
O Direito e a jurisprudência têm vindo a diversificar as soluções.
No que se refira à liberdade de informação, há que reportá-la a algo de socialmente útil
ou relevante.
DIREITO AO NOME
Artigo 72º CC
O que está em causa é a entidade da pessoa, que representa uma extensão da mesma.
Quando alguém utiliza o nome e entidade de outrem para fins próprios, como ações
ilegais, está a ser violado o direito ao nome.
O número dois vem dizer calma quando certas pessoas não podem usar o próprio nome
Casos Práticos para análise:
Há uns anos a professora escreveu o seu nome completo no Google e percebeu que uma
pessoa com o seu nome estava inserida numa dívida de contas fiscais. E percebeu que
não era pelo seu NIF. Outras pessoas ou colegas que procurem o nome dela, não
conhecem o seu NIF e podem pensar mal dela. A professora pode fazer alguma coisa
contra a AT ou contra a pessoa que tem o nome igual ao seu, por achar que isto está a
lesar o seu bom nome?
Não estamos perante uma usurpação da entidade, a senhora estava apenas a usar o seu
próprio nome, pelo que não era aplicável a última parte do CC: Artigo 72º/1
• O titular do nome pode opor-se a que outrem use o seu nome ilicitamente, para
sua identificação ou para outros fins – CC: 71º/1, 2ª parte
Em ambos os casos, ninguém usurpou a identidade da professora, ninguém se fez passar
por ela. Há uma coincidência do nome no 1 caso e há um aproveitamento do nome no
2 caso. Ver artigo 72º.
Atualmente o regime das cartas-missivas abrange a tutela de mensagens trocadas por meios eletrónicos.
Uma carta traduz-se num texto, exarado em papel e com um destinatário. Será́ confidencial quando contenha matéria que não possa ser comunicada fora do círculo
entre o remetente e o destinatário. Em termos jurídicos temos três direitos que podem entrar em conflito resolvido através do CC: Artigo 335º:
• Um direito real de propriedade sobre a carta, que se transmite para o destinatário por doação, assim que a carta seja fechada e endereçada ou quando,
independentemente do endereço, seja entregue em mão ao destinatário;
• Os direitos de autor, patrimonial e moral, sobre o texto da carta: pertencem ao autor, se da própria carta outra solução não resultar; seguem o regime do Direito
de autor;
• Os direitos de personalidade que tutelam bens íntimos eventualmente patentes na carta: são do autor e seguem o regime do Direito de personalidade
A confidencialidade cessa ou nem chega a surgir quando colide com outros direitos de personalidade que prevalecem segundo o CC: Artigo 335º
O destinatário deve guardar reserva sobre o seu conteúdo; O destinatário não pode aproveitar os elementos de informação que ela tenha levado ao seu
conhecimento. Verificados os pressupostos da confidencialidade, o destinatário deve guardar segredo e não pode pautar a sua atuação pelo que tenha
passado a saber. Caso viole estes deveres:
• Incorre em responsabilidade civil por todos os danos patrimoniais que cause; idem, quanto aos danos morais;
• Podendo ainda ser empreendidas diligências para fazer cessa o ilícito (apreensão da carta e a sua destruição ou a sua entrega ao remetente; a publicação
de complementos de informação que permitam situar a carta num contexto que minore o seu significado; a divulgação da ilicitude cometida e da
infidelidade do destinatário.
Estamos obrigados por lei a manterá a Confidencialidade contratual expresso ou Como é que sabemos o que é confidencial?
confidencialidade; tácito. Pelo conteúdo da carta. Temos de olhar para o
Deveres deontológicos: advogados, Há dois casos de exigência de caso concreto. Mas há casos óbvios:
médicos padres encarregados de proteção de confidencialidade: o contrato pode surgir 1) Tudo o que diga respeito à vida privada, em
dados pessoais; direito de confidencialidade tendo em vista criar e obrigar a todas as suas esferas, íntima secreta e privada.
fortíssimo pelo que a responsabilidade civil confidencialidade ou vir reforçar aquela que
é independente de culpa (objetiva, não já é exigida por lei. 2) Aquilo que possa ter impacto na honra da
temos que provar a culpa). No caso dos Este acordo clarifica o âmbito da pessoa
médicos e dos advogados a lei estabelece confidencialidade e as consequências de se
clausulas de salvaguarda que permitem a violar este dever, estipuladas por uma 3) Boatos, não podemos fazer parte de uma
quebra do sigilo como em caso de práticas clausula penal (CC: Artigo 810º) cadeira de transmissão, apenas caso a titular abra
de crimes. mão dessa consensualidade.
Forma agradava de violação da confidencialidade. A carta só pode ser publicada com o consentimento do seu autor ou com suprimento judicial há́ que ser
submetido a interpretação restritiva. O consentimento para a publicação de uma carta-missiva confidencial equivale a um negócio pelo qual o autor se
despoja, para todo o sempre, de um bem da sua personalidade. Uma vez publicada, a carta passará a ser do conhecimento geral.
Caso a caso, haverá́ que ponderar a admissibilidade da autorização. Contudo matéria muito íntima ou que envolva terceiros nunca pode ser publicada
mesmo com autorização do próprio
Formas que justificam a quebrar da confidencialidade: Consentimento do próprio; Existência de um interesse publico de divulgação que é aferido a nível
judicial.
A confidencialidade une o remetente e o destinatário num vínculo de personalidade, contudo com a morte do destinatário os inerentes deveres não se
transmitem aos seus sucessores podendo haver a restituição ou destruição da carta
O destinatário de carta-missiva não confidencial só́ pode usar dela em termos que não contrariem a expectativa do autor, pois surge uma relação de
confiança. A informação não confidencial não pode ser utilizada num contexto ou numa finalidade que não era a esperada. No entanto é preciso fixar os
termos e os limites da proteção à que verificar os pressupostos da confiança e se as expectativas do autor da carta era fundadas e qual o seu sentido.
Quando estamos perante uma carta de teor não confidencial como devemos agir? Caso nada seja indicado pelo remetente podemos fazer o que quisermos.
Se a outra parte pedir unilateralmente a confidencialidade fica estipulado ou temos de aceitar? A doutrina diverge.
Teoria predominante: considera que tem que haver um acordo entre as partes sobre a reserva de confidencialidade
Teoria minoritária: Estamos sujeitos a reserva de confidencialidade a partir do momento em que nos pedem, pelo que nunca pode ser publicitada.
• Há́ direitos de personalidade que não se podem por em causa e, por isso,
prevalecem sobre todos (direito à vida).
• A lei não permite certas limitações convencionais de outros direitos aos de
personalidade (impossibilidade de negociação)
O Professor Menezes Cordeiro considera que estes argumentos são insuficientes para a
resolução da colisão de direitos, pelo que apresenta outros dois critérios:
A prevalência em abstrato: mesmo no seio dos direitos fundamentais, há uma hierarquia
abstrata que poderá ser invocada. O direito à vida, por exemplo, prevalece sobre todos os
demais.
O igual sacrifício: a cedência mútua (art. 335º/1 CC) poderá sempre ser aplicada se, em
concreto, os direitos comportarem exercícios parcelares.
o Os lucros do exercício
Se o exercício de um direito dá ao seu titular um bom lucro ele prevalecerá sobre o
exercício de um outro direto sem tais consequências. Os lucros têm uma dimensão
individual, contudo podem também ter um papel social que interessa a toda a sociedade
e Direito valoriza, pelo que não é considerado apenas a faturação mas também a dimensão
social ampla.
Exemplo 1: No direito à utilização de uma casa num fim de semana prevalece o direito
de um contitular com sete filhos sobre outro que tenho outras alternativas de estadia
pretenda utilizar a casa sozinho.
Os três critérios apontados prevalecem uns sobre os outros pela ordem indicada, contudo
estamos perante um sistema móvel pelo que um critério à partida menos ponderoso
assuma, in concreto, uma maior relevância e passe à frente dos restantes.
Pode acontecer que ao recorrer a estes três critérios não obtenhamos nenhuma conclusão,
nessa situação partimos para os seguintes critérios:
o A prevalência em abstrato
Quando não podemos considerar, in concreto, qual o direito superior temos de fazer uma
ponderação abstrata. Excluímos nesta ponderação os direitos sotados de regimes
específicos.
o O igual sacrifício
Quando concluímos que os dois direitos estão empatados devemos recorrer ao critério
previsto no 335º/1: devem os titulares ceder na medida do necessário para que todos
produzam igualmente o sue efeito, sem maior detrimento para uma das partes.
Se não for possível resolver o conflito pelo igual exercício dos direitos a lição clássica
postula duas opções:
o Anulação de ambos os direitos
Mantinha uma certa paz social, mas traduzir-se-á no desperdício da riqueza. Pelo que
adotamos a
o A composição aleatória
Exemplo: Se uma pessoa tem o direito de levar o carro para uma discoteca e a outra
para o parque combinam que uma vai num dia e a outra vai noutro, à escolha ou à sorte.
Falência do critério do 335º/2: danos de espécie diferente em que pode haver cedência
Exemplo: ruído
Segundo o artigo 66 do Código Civil, a personalidade adquire-se no momento do nascimento completo e com vida. Os direitos que a lei reconhece aos
nascituros dependem do seu nascimento. Há que distinguir, a este propósito, a situação de quem ainda não nasceu mas já foi concebido, e a expectativa de
alguém vir a ser gerado.
CONCEPTURO NASCITURO
Aqueles que ainda não foram concebidos. Os concepturos não existem, são Aqueles que já foram concebidos e têm vida no seio da mãe, mas ainda não
simples esperanças ou expectativas. No entanto, a lei permite que lhe sejam nasceram.
destinadas certas atribuições patrimoniais, para o caso de virem a ser gerados. Trata-se de uma situação transitória e limitada no tempo, porque os nascituros
Porém, os concepturos nada são. não podem manter-se nessa situação mais do que o tempo da gestação.
Nascituros são seres humanos, com vida, que se encontram numa particular
fase da sua vida
Há vários preceitos no Código Civil que revelam que o nascituro já concebido é algo diferente e mais que uma coisa:
• Artigo 952º do Código Civil: os nascituros podem adquirir por doação, sendo filhos de pessoa determinada, viva ao tempo da doação, presumindo-se
que o doador reserva para si o usufruto dos bens doados até ao nascimento do donatário
• Artigo 2033 nº1, reconhece capacidade sucessória, além do estado, a todas as pessoas nascidas ou concebidas no tempo de abertura da sucessão, não
excetuados por lei
• Artigo 1878, em matéria de poder paternal, incumbe aos pais a representação legal dos filhos ainda que nascituros
• Artigo 2240, nº2, atribui a administração da herança do nascituro já concebido a quem administraria os seus bens se já tivesse nascido
PIRES DE LIMA E ANTUNES VARELA: consideram que, antes do nascimento, o nascituro não têm verdadeiramente personalidade
Artigo 66º e que, assim sendo não adquire nenhum direito subjetivo à herança, logo a morte do de cujus, mas uma simples expectativa ao futuro
chamamento.
MOTA PINTO: Recusa admitir a personalidade pré-natal, considera direitos sem sujeito aqueles que são atribuídos por herança ou
doação aos nascituros, até que ocorra o nascimento completo e com vida, Todavia admite que o filho peça indemnização por danos
físicos ou psíquicos sofridos no ventre da mãe, causados por medicamentos ou acidentes
CASTRO MENDES: adopta também a construção de direitos sem sujeito, no que concerne aos atribuídos ao nascituro por herança ou
doação; com o seu nascimento completo com vida, esses direitos consolidam-se no recém-nascido, sem que haja retroatividade da
aquisição
OLIVEIRA ASCENSÃO: embora com cautela admite que o nascituro já concebido tem personalidade jurídica desde o momento da
conceção
MENEZES CORDEIRO: reconhece estar em aberto a necessidade de uma revisão doutrinária do artigo 66/1: no limite, a
personalidade deveria adquirir-se logo com a conceção em nome do principio de que todo o humano é pessoa.
Reconhecido que o nascituro tem direito à vida terá então que lhe ser reconhecido o direito à
integridade física e moral. A temática da vida enquanto dano conduz à pergunta de saber se uma pessoa
que sinta a sua vida como dano pode deduzir uma pretensão indemnizatória contra outrem com o
fundamento de que alguém foi responsável por essa vida tida como prejuízo.
Indeminizações:
Bebé: nasce condições normais (bem) por isso não lhe recai nenhuma indeminização.
Mãe: tem direito a uma indeminização reparatória devido ao mau cumprimento do contrato de
prestação de serviço médico, atribuindo ao médico responsabilidade civil (483º)
Esta conduta ilícita do médico dá azo ao nascimento de um bebé deficiente. Sendo o mesmo erro a
causa dessa deficiência ou a causa do não conhecimento dos pais de uma deficiência já existente
impossibilidade que os pais possam optar pela interrupção da gravidez.
Quais as indeminizações a que o bebé pode ter direito por ter nascido deficiente por negligência
médica?
• Danos Patrimoniais Futuros: possibilidade de não vir a exercer uma profissão (564º/2) através
de uma pensão vitalícia ajustada ao longo do tempo
• Danos Morais devido a estar numa situação de incapacidade diferente do resto da sociedade
(496º/1 e 4)
Questiona-se se o bebé poderá ainda pedir uma indeminização pelo facto de ter nascido assim, ou seja,
considerando a vida como um dano.
A jurisprudência tem dado uma resposta negativa perante a atribuição de tal indeminização
fundamentando que ao considerar a vida como um dano estaríamos a:
• Preferir a morte e não a vida
• Pedir direito à não existência (não tem consagração legal)
Pelo nascimento a criança adquire personalidade jurídica. Na maior parte dos casos não pode exercer pessoal
e livremente os seus direitos e deveres, assim, o menor possui uma incapacidade de exercício ditada pela
ordem natural das coisas, por isso, não pode exercer as situações jurídicas (pessoais e patrimoniais) de que é
titular. Resumindo: os menores carecem de capacidade de exercício e têm capacidade de gozo, no entanto, até
esta tem alguns limites (ex: 35 anos para ser PR). Antigamente a maioridade só́ se atingia aos 25 anos,
posteriormente aos 21 anos e atualmente aos 18 anos CC: Artigo 122º
Regra Geral Exceções
CC: Artigo 127º + 263º + 488º/2 + 1266º + 1281º + 1601º a) + 1850º/1 + 1886º
Admitir uma lata capacidade de tal modo que a “incapacidade” não é, em rigor, geral. O
CC: Artigo 123º
menor pode celebrar, sozinho, sem ser representado:
Determina a
CC: Artigo 127º/1 b) Os negócios jurídicos próprios da sua vida corrente, tem de ser
incapacidade de
um ato frequente da vida do menor. Quanto ao valor temos uma divergência Doutrinária
exercício de
“pequena importância” MC: deve ser ponderada, de acordo com o caso concreto, com a
direito. Tratar-
condição económica do menor em jogo Outros: Olhar-se para a figura de família média
se-ia de uma
CC: Artigo 127º/1 c) Os negócios jurídicos relativos à profissão que tenha sido
incapacidade
autorizado a exercer e os praticados no exercício dessa profissão
geral de
CC: Artigo 127º/1 a) Maior de 16 anos trabalha e recebe, pode administrar os bens que
exercício.
adquirir com este o salário deste trabalho. Administração ordinária e extraordinária
A maioria da doutrina considera que não estamos perante exceções, mas sim regras.
o Sejam emancipados (através do casamento), salvas as restrições da lei. A pessoa emancipada conserva-
se menor: “menor emancipado”, mas, em princípio, com capacidade de exercício de direitos.
CC: Artigo 1601º/a) O menor só pode casar se tiver pelo menos 16 anos.
CC: Artigo 1604º a) + 1612º O casamento de menores requer a autorização de que exerça o poder paternal.
Essa autorização pode ser suprida pelo conservador do registo civil, perante razões ponderosas.
Interdição Inabilitação
CC: 138º/1 CC: 152º
Anomalia psíquica, surdez-mudez, cegueira Anomalia psíquica, surdez-mudez e cegueira
(lista exemplificativa) graves que tornem as que não sejam tão graves (embora
pessoas incapazes de reger suas 1) pessoas e 2) permanentes); e ainda habitual prodigalidade e
Requisitos bens (elemento decisivo) abuso de bebidas alcoólicas ou de
estupefacientes. Incapazes de reger
CC: 138º/2 convenientemente o seu património, embora
Maior, ou um ano antes da maioridade para fazer não constituam necessariamente um perigo tão
efeito a partir do dia em se que torne maior grave para as suas próprias pessoas.
Capacidade CC: 139º
CC: 156º-139º
de Exercício Equiparada à dos menores
CC: 141º/1
Regra Geral: pelo cônjuge, tutor ou curador,
parente sucessível ou Ministério Público
Legitimidade
CC: 156º-141º
para requerer CC: 141º/2
Caso seja requerida durante a menoridade
(138º/2) só os quem exerça o poder paternal ou o
Ministério Público podem requerer
Meio: CC:143º Tutela Meio: CC:153º Curador (especificar os
CC:144º Poder paternal caso o tutor seja um dos negócios que devam ser autorizados ou
progenitores praticados pelo curador)
Princípios básicos
Não estão definidas quais as pessoas e em que situações especificas é necessário o acompanhamento, contudo
existem requisitos que o acompanhado tem de preencher cumulativamente.
• Maior de Idade (ou 1 ano antes do 18 CC: 142º)
• Subjetivos: impossibilidade de exercer plena, pessoal e conscientemente os direitos ou cumprir os
deveres (não consegue compreender o ato que vai praticar)
• Objetivos: razões de saúde, deficiência ou comportamento do beneficiário
A jurisprudência tem mostrado o que encaixa nestes elementos, na dúvida não decretam: Patologias físicas
psíquicas e mentais; Doenças do sistema nervoso que provocam uma incapacidade física, mas não afetam o
pensamento (atrofia muscular) podem não ser considerado incapacidade; Pode existir um período transitório
de incapacidade (coma provocado por acidente ou intervenção cirúrgica); No caso de deficiência o que
importa é que esta afete o desenvolvimento do acompanhado cognitivamente; Comportamento pródigo
(lapidar o próprio património), abuso de álcool e estupefacientes; Pode haver outros desde que afetem a
vontade e a autodeterminação do individuo (vicio de jogo)
Como se instaura?
Fruto de uma decisão judicial CC: 139º Processo previsto no CPC: 891º a 905º
Princípio subsidiariedade CC: 140º/2 (é segunda opção, depois de assistência e cooperação)
Princípio da necessidade CC: 145º/1 (o acompanhamento limita-se ao que for necessário ajudar o
acompanhando, sendo os direitos pessoais e os negócios da vida corrente, em regra, livres CC:147º/2)
Atualmente a incapacidade fica dependente de ser decretada na sentença que estabelece o acompanhamento,
isto é, fica dependente da concreta perturbação do acompanhado:
Simplesmente, tal só́ acontece quando as circunstâncias concretas do sujeito o imponham. O que antes era a
regra, hoje é a exceção, pelo que podemos encontrar um acompanhamento que se baseie na assistência de
determinados atos, através de uma mera autorização.
CC: 156º/1 Um interessado, com ou sem uma patologia, pode celebrar com alguém da sua confiança um
contrato de mandato para a gestão dos seus interesses, com ou sem poderes de representação.
CC: 156º/2, 1ª parte O mandato segue o regime geral e especifica os direitos envolvidos e o âmbito da
eventual representação.
CC: 156º/2 2ª parte É também sempre revogável pelo acompanhado.
CC: 156º/3 No momento em que é decretado o acompanhamento, o tribunal deve aproveitar o mandato, total
ou parcialmente, nomeadamente, relativamente à indicação da pessoa. O mandato vem, por esta via, a ser
confirmado (ou não) pelo tribunal, fazendo cessar as dúvidas.
CC: 156º/4 Tribunal pode cessar o mandato se for presumível que é essa a vontade do acompanhado.
Acompanhante
CC: 145º/1 o acompanhamento limita-se ao CC: 145º/3 os atos de disposição de bens imóveis
necessário pelo que CC: 147º os negócios do dia necessitam de autorização judicial.
a dia são em regra livres, podendo existir exceções CC: 145º/4 segue-se o regime da tutela com as
previamente indicadas pelo Tribunal. devidas adaptações.
Os termos do acompanhamento são definidos no caso concreto, contudo o CC: 145º prevê algumas situações.
MC: As exceções do CC: 127º podem ser aplicadas aos maiores acompanhados, sendo que essa avaliação
tem de ser feita consoante o estado concreto do maior acompanhado. Se ele tiver condições para isso, não há
razão nenhuma para não se autorizar o maior acompanhado a celebrar negócios da vida corrente, que estejam
ao seu alcance. Os direitos pessoais e os negócios da vida corrente mantêm-se livres, salvo decisão judicial
em contrário (CC: artigo 147º/1) – princípio do minimalismo/da necessidade (CC: artigo 145º/1)
Leal: Os direitos pessoais e os negócios da vida corrente são os previstos no CC: 147º e são livres, como
temos esta norma não há lacuna pelo que não se aplica o 127º
Atos do Acompanhado
MC: Sim, mas só nos casos da alínea a) do artigo 154º/1 CC. Desta forma, a anulabilidade dos atos do maior
acompanhado posteriores ao registo da sentença só pode ser invocada pelo seu representante legal ou,
teoricamente, pelo próprio, no prazo de um ano contado do levantamento do acompanhamento
Na falta de previsão expressa do legislador, ter-se-á de aplicar o regime regra contido no artigo 287º CC, para
descobrirmos quem pode invocar a anulabilidade do ato. Assim, teremos de verificar nos atos praticados,
quem são os interessados em anular o ato.
Durante e Depois do Processo quem pode invocar a anulabilidade prevista no 154º CC:
• O acompanhado pode porque este preceito tem em vista proteger o seu interesse.
• O mesmo se aplica ao acompanhante, uma vez que este age como se fosse o próprio acompanhado.
• Os herdeiros, como ocupam a posição jurídica do de cujus, também são considerados interessados.
Quais são os prazos?
• O acompanhado teria 1 ano a contar do levantamento do acompanhamento, mas isto pode nunca vir a
acontecer, fica sem o direito? Não.
• Surgiria o acompanhante a representar ou a orientar o acompanhado. O prazo seria de 1 ano a contar
do momento em que cada um deles estivesse em condições de agir, ou seja, a partir do momento do
conhecimento, mas nunca depois do levantamento do acompanhamento, pois nessa fase deixa de fazer
sentido a intervenção do acompanhante.
O prazo será de um ano a contar do conhecimento, não podendo começar a correr, por aplicação analógica
do artigo CC: 154º/2, antes do registo do acompanhamento.
O acompanhado só sofre de eventuais restrições à sua capacidade de gozo para o casamento, se a sentença o
determinar (CC: artigos 147º/1, e 1601º, a) e b)).
Revisão e Cessação
CC: 155º Deve haver uma revisão periódica das medidas de acompanhamento, no mínimo de 5 em 5 anos.
CC: 149º/1 O acompanhamento cessa por decisão judicial devido ao fim das causas que o justifiquem, ou
modifica-se caso as circunstâncias que justificam o acompanhamento mudem.
CC: 149º/2 A decisão pode ser retroativa ao momento em que cessam ou se modificam as causas em jogo.
CC: 149º/3 Pode ser requerida pelo acompanhante ou pelas pessoas do 141º/1.
Regime Transitório
Segundo a Lei nº 49/2018 (artigo 26º, nº 4 a 6), às interdições e inabilitações decretadas antes da sua entrada
em vigor aplica-se o regime do maior acompanhado.
Nº4 Para a interdição, são atribuídos ao acompanhante poderes gerais de representação.
Nº6 Para a inabilitação, cabe ao acompanhante autorizar os atos antes submetidos à aprovação do curador.
Nº5 O novo regime do acompanhamento de maiores alarga a capacidade de gozo dos sujeitos. No anterior
regime, genericamente, os sujeitos eram incapazes de testar, de perfilhar e de casar.
Nº2 Agora, a incapacidade para realizar esses atos só existe se for estipulada pela decisão de acompanhamento.
Nesse caso, o juiz avalia concreta perturbação do acompanhado.
O acompanhado pode sofrer uma restrição tão ampla da sua capacidade que, na prática, fica equiparado a um
interdito. Porém, isto só acontece quando as circunstâncias concretas do sujeito o imponham, pelo que isto
não é uma regra, mas sim uma exceção. Nº8 Revisão dos processos
Estamos perante uma situação de ausência quando alguém 1) desapareça, 2) não dê notícias não se sabendo
se está viva ou morta, 3) deixe bens que carecem de administração e 4) falta um representante legal para os
administrar (requisitos). Existem três fases que compõem o regime de ausência de um humano, para que tal
regime seja aplicado é necessário que seja requerido. Nada exige que se verifiquem as três fases, alguém
pode requerer a morte presumida sem passar pelas curadorias desde que preenchidos os requisitos, e o mesmo
acontece com a curadoria definitiva perante a provisória. A finalidade do regime da ausência é defender a paz
pública e proteger o património do ausente e dos seus sucessores.
Curadoria Provisória
A Lei começa por privilegiar o
A Lei descrê a interesse do ausente, mas com
sobrevivência do o passar do tempo o interesse
desaparecido ao Curadoria Definitiva
dominante vai sendo
longo das fases transferido para os seus
sucessores
Morte Presumida
Curadoria Provisória
CC: Artigo 89º a 98º
Nesta fase dá-se uma proteção do património do ausente, devido à expectativa do seu regresso.
• Ausência de facto: desaparecimento da pessoa, sem que haja notícias desta e sem que se saiba do seu
paradeiro (critérios cumulativos) 89º/1
• Não existir representante legal ou voluntário para administrar os bens deixados (património carece de
proteção) 89º/1
• Seja requerida pelo Ministério Público ou qualquer interessado 91º
Não há prazos para requere nem regras sobre o estado pessoal do ausente.
Requerer a Curadoria Exercer a função de curador
Direitos do Curador
96º Receber 10% da receita líquida que realizar Deveres do Curador
Na administração dos bens: atua como representante por nome e conta de
94º Regime do mandato geral outrem; administra o património do ausente.
1159º/1Apenas podem praticar atos de administração 95º/1 Prestar contas do seu mandato perante o
ordinária tribunal
94º/3 Apenas poderá praticar atos de alienar ou 97º Mostrar capacidade para manter o cargo
onerar os bens com autorização judicial sobe pena de ser substituído
94º/4 Contudo, a autorização só é atribuída quando
necessária para certas atuações
Nesta fase dá-se uma maior proteção do interesse dos futuros titulares, devido às menores expectativas do
regresso, contudo, ainda não é realizada uma partilha definitiva dos bens.
Interesses na sucessão
Efeitos Jurídicos
• 101ºAbertura do testamento
• 102º e 103º Entrega dos bens, mas não há transmissão do
direito de propriedade
• 106º Suspende-se a exigibilidade das obrigações que se
extinguiriam pela morte
• 108º + 2003º/1 Cônjuge não separado pode requerer
inventário e partilha e ainda exigir alimentos
Termo da Curadoria 112º. Os bens são devolvidos ao ausente após este requerer 113º
Nesta fase há uma descrença no regresso do ausente pelo que a lei presume a sua morte, ocorrendo os efeitos
que esta provoca, entrega dos bens aos sucessores, por exemplo.
Assim, no caso dos menores, sempre que o prazo geral de 10 anos previsto no nº1 terminar antes dos 23 anos,
usamos o nº2 que alarga o prazo.
Exemplos:
Menor desaparece aos 6 anos. Se fosse aplicado o prazo geral de 10 anos requeria-se a morte presumida aos
16 anos, mas como isso faria com que o prazo fosse menor, aplica-se nº2. Portanto, espera-se 12 anos até ele
completar a maioridade, mais 5 anos, que dá um total de 17 anos. Pede-se a morte presumida aos 23 anos.
Menor desaparece aos 17 anos. Se esperássemos até à maioridade + 5 anos, então requeríamos a morte
presumida aos 23 anos, mas se seguíssemos o prazo geral de 10 anos pedíamos só aos 27 anos. Como a regra
é alargar o prazo para os menores, então, neste caso, optamos pelo nº1.
114º/1 remete
para 100º
Todos interessados (MP)
Herdeiros
Efeitos Jurídicos
• 115º produz os efeitos da morte, com exceção da
dissolução do casamento:
• 68º/1 Termo da personalidade jurídica
• 101º Abertura do testamento
• 2024º Abertura da susseção, transmissão mortis causa
do direito de propriedade
• 117º Entrega dos bens, remetendo para o 101º, não
havendo caução
Regresso do ausente:
O ausente pretende voltar ao status quo, à situação que estava antes de ter desaparecido.
116º Dissolução do matrimónio por divórcio, caso o cônjuge tenha casado novamente.
119º/1
Devolução do património no estado em que se encontrava
Preço dos bens alienados
Bens adquiridos com o dinheiro de bens alienados
TER ATENÇÃO AOS SEGUINTES CASOS! NÃO CONFUNDIR COM O REGIME DA AUSÊNCIA!
Quando se trata de casos em que uma pessoa está em coma, por exemplo, estando ausente em espírito, mas
não em corpo, o regime que se aplica é o do acompanhamento.
Quando se trata de casos de desastre aéreo, desastre natural (incêndios), desaparecimento no mar, entre outros,
o regime que se aplica é o do artigo 68º/3 CC.
A morte surge como facto jurídico em sentido estrito, evento ao qual o direito associa
determinados efeitos jurídicos. O direito regula as situações jurídicas patrimoniais de
modo a que estas sobresistam de modo pacífico. A morte relevante para o direito é a
chamada cerebral, cessação das diversas funções vitais seguindo-se a sua decomposição.
Quando duas pessoas morrem no mesmo contexto, mas não é possível determinar quem
faleceu primeiro, presume-se que o momento da morte é o mesmo, pelo que nenhum pode
ser sucessora da outra. Esta presunção pode ser afastada quando apresentada prova que
determine momento de morte distintos CC: Artigo 350º/2
Consequências da morte
O CC: Artigo 68º/1 e 71º/1 são contraditórios? Teorias explicam a sua articulação:
Teoria da memória do falecido como bem autónomo: a personalidade cessa com a morte;
o dispositivo não visa, portanto, a tutela dos direitos de personalidade do falecido, mas,
antes, um bem diferente: a sua memória;
Teoria do direito dos vivos: a tutela em jogo visaria a proteção das pessoas enumeradas
no 71º/2, afetadas por atos ofensivos à memória do falecido; elas teriam direito à
indemnização por danos morais e patrimoniais sofridos. (Prof. Menezes Cordeiro)
Entre todos os danos a serem ressarcidos aquando da morte de uma pessoa, a maior parte
da doutrina defende que o próprio direito à vida, de que a vítima se vê privada, também
deve ser indemnizado – supressão do bem vida. Contudo, há outra parte da doutrina,
embora minoritária, que não acompanha esta teoria. Vejamos os argumentos:
A favor
Contra Menezes Cordeiro, Galvão Teles,
Antunes Varela e Oliveira Ascensão Almeida Costa, Leite de Campos,
Menezes Leitão, José Alberto Vieira
O artigo 496º esgota o universo dos danos O artigo 496º não esgota o universo a que
indemnizáveis e dos seus beneficiários. O se aplica, a seu lado funcionam os artigo
dano morte não está incluído aqui 70º/1, 483º/1 e 2024º.
O Direito Europeu não seria favorável à Afirma que o Direito Europeu nem sequer
indeminização pelo dano-morte. se pronuncia
Públicas Privadas
Todas as que não são privadas, são públicas. Podem reger- Regem-se pelo Direito Civil ou Comercial
se em parte ou totalmente pelo Direito privado (ex: empresas Podem ser sociedades comerciais, cooperativas,
públicas). Podem ser de população ou de território, de tipo associações, fundações ou sociedades civis.
fundacionalista ou institucional, ou de tipo associativo.
De Utilidade Pública
Algumas pessoas coletivas de tipo associativo prosseguem fins de interesse público que deviam ser cometidos
ao Estado. Sem prejuízo para a sua natureza de pessoas privadas, é-lhes dispensado um estatuto de “utilidade
pública”, com consequências no seu regime. Podem ser de utilidade turística, utilidade pública desportiva ou
instituições privadas de solidariedade social. O Direito português vigente prevê̂ numerosas categorias de
associações (de estudantes, de pais, de mulheres, de deficientes, etc) a que dispensa um tratamento
diferenciado.
Associativas Fundacionais
Também ditas de base associativa, de base Também ditas fundações, de base fundacional, de base
corporacional ou corporações. O substrato é institucional ou instituições. O substrato é o valor ou o
constituído por um conjunto de pessoas que juntam acervo de bens que permite a atuação desta pessoa
esforços para atingir um fim comum. coletiva.
Associações com regime no CC: 167º e seguintes. Fundações com regime no CC: 185º e seguintes.
Esta contraposição, à partida, formal, encontra-se, hoje, formalizada. Há pessoas coletivas que traduzem acervos
objetivos personalizados e que, todavia, não seguem a forma fundacional, mas sim a associativa, como as sociedades
unipessoais e as sociedades anónimas de capitais exclusivamente públicos (exemplo: Caixa Geral de Depósitos).
Estas categorias estão hoje ultrapassadas, apenas sobrevivem devido à sua formalização.
Prof. Menezes Cordeiro: o fim lucrativo ou não lucrativo não dita, de modo fatal, a posição assumida pela pessoa coletiva
em jogo. Isto não obsta a que, de facto, as associações tenham um perfil “solto”, perante o das sociedades; aí, a busca
oficializada de lucro leva a prever esquemas de fiscalização mais marcados e uma tutela especial para minorias, que não
é requerida nas associações.
Comuns Especiais
À partida, a pessoa coletiva comum rege-se pelo Dependem de regras diferenciadas, previstas para a
regime mais genérico, disponível na ordem jurídica categoria que elas integrem; será especial, por
considerada. Assim, será comum a associação que se exemplo, a associação de estudantes que, além do
reja, de modo direto, pelo Código Civil. Código em causa, se irá reger pela legislação
específica relativa a associações de estudantes.
Esta classificação tem utilidade porque permite fazer apelo subsidiário às regras comuns, quando faltem normas
vocacionadas para regular a pessoa “especial”. É de notar que uma mesma pessoa coletiva pode ser comum ou especial,
consoante o ângulo por que seja abordada.
Ato Constitutivo
O Código Civil não o identifica claramente, contudo, referimo-nos a ele diversas vezes.
Podemos encarar este ato adotando três teorias distintas:
No Direito português, as associações formam-se através de atos de natureza contratual e negocial, quando
levados a cabo por particulares. Há́ um encontro de vontades, dotadas de liberdade de celebração e de
liberdade de estipulação. A constituição de uma fundação assentará num negócio unilateral. Pelo CC:
158º- A o ato de constituição de pessoas coletivas privadas tem de respeitar os requisitos do objeto
negocial estipulados no CC: 280º: física e legalmente possível, conforme com a lei e determinável, não
pode ser contrário à ordem pública e aos bons costumes.
O ato constitutivo é um negócio jurídico, corresponde a uma ou a mais declarações de vontade, nas quais o ou
os fundadores se identificam e dão conta da vontade de constituir determinada pessoa coletiva, aprovando os
seus estatutos.
Estatutos
Analisam-se num documento autónomo, que regula as características e o funcionamento da pessoa coletiva.
Têm a mesma natureza do ato constitutivo, ou seja, um negócio, contratual ou unilateral. A sua autonomia
deriva do seu conteúdo puramente organizatório. Além disso, dispõe, em regra, de processos próprios de
alteração. Porém, MC considera que a sua interpretação deve ser legal e não deve seguir o regime da
interpretação do negócio jurídico.
O ato constitutivo e os estatutos das associações estão sujeitos a escritura pública CC: 168º/1
A instituição de fundação, quando feita por atos entre vivos, deve também constar de escritura pública CC:
185º/2
O regime não especifica devidamente o que deve constar em cada um consoante o tipo de pessoa coletiva,
contudo, define os elementos necessários e os eventuais que devem constar num dos atos.
Associações: Fundações:
CC: 167º/1 Necessários CC: 167º/2 Eventuais CC: 186º/1 Necessários CC: 186º/2 Eventuais
Uma pessoa coletiva é uma obra artificial do Direito, mas representa um centro autónomo de imputação de
normas jurídicas. Tem direitos e assume deveres, podendo praticar diversos atos jurídicos, tendencialmente
os necessários à prossecução dos seus fins e que a lei não proíba. É protegida:
No tráfego jurídico, qualquer operador pode provocar-lhe danos, incorrendo nas competentes indemnizações,
assim como ela pode provocar danos a qualquer sujeito.
Assim, importa conhecer a sua configuração e o quadro geral em que ela poderá ser responsabilizada, tendo
em vista proteger terceiros.
O Direito determina, em abstrato, as formas que as pessoas coletivas podem assumir. Essas formas são
especialmente aplicáveis aos particulares quando constituam pessoas coletivas ao abrigo das suas liberdades
de associação, de iniciativa económica ou de contratação. Eles deverão escolher um dos sistemas
disponibilizados pela lei. Contudo, o Estado, quando constitua uma pessoa coletiva por diploma legal, não
necessita de adotar estas formas pré-estabelecidas.
Tipicidade das pessoas coletivas: (principalmente das particulares) elas devem obedecer a uma das formas
previstas na lei.
Esta tipicidade não é fechada (há flexibilidade), a pessoa coletiva terá de compor apenas os contornos
mínimos. Assim, é possível identificar e seriar os tipos de pessoas coletivas que constam da lei, mas não é
possível, por analogia, construir novos tipos de pessoas coletivas. Se tal acontecer a entidade padece de um
vicio: impossibilidade jurídica
Sociedades Comerciais
Dão hoje lugar a um ramo diferenciado do Direito, o Direito das sociedades comerciais, que está formalizado
e que se aplica a todas as sociedades que assumam forma comercial. Estão previstas no Código das Sociedades
Comerciais.
Há vários tipos: sociedade em nome eletivo; sociedade por quotas “comum”; sociedade unipessoal por quotas;
sociedade anónima; sociedade em comandita simples ou sociedade em comandita por ações.
A distinção é feita de acordo com um critério de responsabilidade por dívidas.
Uma entidade que adote a forma de sociedade comercial, mas tenha como objeto exclusivo a prática de atos
não-comerciais, rege-se igualmente pelo Código das Sociedades Comerciais, mas tem a designação de
sociedade civil sob forma comercial.
Cooperativas
Hoje, no Direito Português, há quem não considere as cooperativas como sociedades, por lhes faltar o escopo
lucrativo. O Direito europeu considera-as sociedades.
Embora não distribuam lucros formais, devem ser geridas em termos empresariais.
O Direito subsidiário aplicável é o do Código das Sociedades Comerciais, particularmente os preceitos
relativos às sociedades anónimas.
Carater associativo e sem fim lucrativo formadas por uma pluralidade de pessoas que se associam para a
satisfação das necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais dos seus membros através da
cooperação e entreajuda dos seus membros e com obediência aos princípios cooperativos.
O voto é por cabeça e não podem distribuir dividendos. As partes sociais não são transmissíveis.
Ato Constitutivo
O Código Civil não o identifica claramente, contudo, referimo-nos a ele diversas vezes.
Podemos encarar este ato adotando três teorias distintas:
No Direito português, as associações formam-se através de atos de natureza contratual e negocial, quando
levados a cabo por particulares. Há́ um encontro de vontades, dotadas de liberdade de celebração e de
liberdade de estipulação. A constituição de uma fundação assentará num negócio unilateral. Pelo CC:
158º- A o ato de constituição de pessoas coletivas privadas tem de respeitar os requisitos do objeto
negocial estipulados no CC: 280º: física e legalmente possível, conforme com a lei e determinável, não
pode ser contrário à ordem pública e aos bons costumes.
O ato constitutivo é um negócio jurídico, corresponde a uma ou a mais declarações de vontade, nas quais o ou
os fundadores se identificam e dão conta da vontade de constituir determinada pessoa coletiva, aprovando os
seus estatutos.
Estatutos
Analisam-se num documento autónomo, que regula as características e o funcionamento da pessoa coletiva.
Têm a mesma natureza do ato constitutivo, ou seja, um negócio, contratual ou unilateral. A sua autonomia
deriva do seu conteúdo puramente organizatório. Além disso, dispõe, em regra, de processos próprios de
alteração. Porém, MC considera que a sua interpretação deve ser legal e não deve seguir o regime da
interpretação do negócio jurídico.
O ato constitutivo e os estatutos das associações estão sujeitos a escritura pública CC: 168º/1
A instituição de fundação, quando feita por atos entre vivos, deve também constar de escritura pública CC:
185º/2
O regime não especifica devidamente o que deve constar em cada um consoante o tipo de pessoa coletiva,
contudo, define os elementos necessários e os eventuais que devem constar num dos atos.
Associações: Fundações:
CC: 167º/1 Necessários CC: 167º/2 Eventuais CC: 186º/1 Necessários CC: 186º/2 Eventuais
Denominação
Reprodução vocabular (verbal e escrita) da pessoa coletiva, necessária e suficiente para a identificar. Cabe
aqui a proteção geral dispensada ao nome, enquanto direito de personalidade CC: 483º
O nome das pessoas coletivas tem regras próprias de formação, no RNPC encontramos a regulação da
denominação das associações e das fundações. Havendo tipicidade esta deve estar indicada na denominação.
Sede
Equivale ao domicílio dos particulares. Deve vir estipulada nos estatutos, mas na sua falta fica fixada a morada
do regular funcionamento da administração CC: 159º Para as associações a indicação de sede é obrigatória
CC: 167º/1
Órgãos
São as estruturas de organização humana permanentes, que permitem à pessoa coletiva autodeterminar-se,
exercer os seus direitos e cumprir as suas obrigações. Os estatutos devem indicar quais são os órgãos da pessoa
coletiva e qual a sua composição:
Geral CC:162º Associações CC: 167º/1 Fundações CC: 186º/2
Atualidade e JAV: Regra geral: a pessoa coletiva é responsável pelos seus atos CC: 165º
MC: a posição de um titular de um órgão não pode ser definida com base no modo de provimento. Este pode advir de
um contrato, de uma designação estatuária em que o designado seja mero terceiro, de uma deliberação associativa, de
uma decisão administrativa, de cooptação ou decisão judicial.
A posição do administrador não se caracteriza pelo modo de designação, mas sim pelo conjunto de direitos e deveres
que envolva. É um estado que provém da lei, dos estatutos, de deliberações associativas, de instruções legítimas ou de
quaisquer outros fatores relevantes. Embora existam vários modos de designação de um administrador, a mais usual é
a designação unilateral, feita pela entidade competente.
TEORIA GERAL DIREITO CIVIL | SOFIA CUNHA
Administração
Poder de Gestão: dirigir os assuntos próprios da pessoa coletiva, tomando as decisões necessárias e
orientando a atividade para atingir o fim para que foi criada. Abrange a possibilidade de praticar atos materiais
da mais diversa natureza, de dar instruções internas e de praticar atos jurídicos, internos e externos.
Poder de Representação: trata-se de uma representação orgânica, porquanto lhe advém da simples pertença
ao órgão coletivo que esteja em causa.
CC: 163º/1 O poder de representação fica definido nos estatutos e caso não esteja definido é entregue à
administração. A própria administração pode designar representantes.
CC: 163º/2
Até onde vão os poderes de representação?
As limitações introduzidas no poder de representação dos administradores ou de qualquer representante ad
hoc só são oponíveis a terceiros que as conheçam ou então: são inoponíveis a terceiros de boa fé, ou seja, a
terceiros que, sem culpa, a desconheçam.
Fiscalização
CC:162º O conselho fiscal fica estipulado no estatuto, é constituído por um número ímpar de titulares e um
destes deve ser o Presidente.
Associações CC:171º/1
Conselho Fiscal é convocado pelo presidente e só pode deliberar estando presente a maioria. A lei civil nada
mais diz, então, o Professor MC diz que no silêncio dos estatutos pode ser aplicado o art.413º e ss. do Código
das Sociedades Comerciais.
Deliberativo
Por excelência é a Assembleia Geral.
Função Principal: Formação da vontade da pessoa coletiva, eleição dos titulares dos órgãos
sociais, fiscalização da gestão, aprovação de contas
Membro: Sócios, em princípio na sua totalidade, mas pode haver restrições
As fundações não têm assembleia porque não têm sócios
Executivo Fiscalização
Designações variadas: conselho de administração, direção, Designação: conselho
gerência. fiscal, ou fiscal único
Função Principal: Gestão da pessoa coletiva e atuação e (conforme número de
representação externa membros)
Membros: Eleitos pelo órgão deliberativo de entre os sócios ou Função Principal: Fiscalizar
terceiros a gestão e as contas da
Nas fundações não há assembleia por isso os membros do pessoa coletiva
conselho de administração são designados no ato de instituição Dispensado nas sociedades
ou pela entidade publica responsável pelo reconhecimento. de pessoas
O Direito regula as situações inerentes a uma pessoa coletiva, reportando-se-lhe como ente autónomo.
Funciona em modo coletivo, atingindo as condutas singulares apenas através das regras complexas da
personalidade coletiva e do seu funcionamento interno.
A ordem jurídica, consciente das vantagens que isso acarreta para todos, confere a possibilidade a cada um de
gerir os seus interesses diretamente ou pela intermeação de uma pessoa coletiva. Porém, a possibilidade de
agir por via de pessoas coletivas tem limites:
• Pessoas coletivas não têm capacidade jurídica no que toca a situações exclusivas das pessoas singulares
• Há normas proibitivas que impõem restrições à capacidade e à atuação da pessoa coletiva
• Há regras de tipo formal ou processual em que a personalidade coletiva não opera
Limites Específicos
A existência de pessoas coletivas permite limitar a responsabilidade patrimonial e isentar os
administradores e os agentes das consequências dos atos imputáveis ao ente coletivo. Estes limites fazem
com que outras pessoas sejam chamadas a responder pelas dívidas do ente coletivo ou que certos atos não
se repercutam totalmente na pessoa coletiva.
Verifica-se quando, por inobservância de certas regras societárias ou, mesmo, por decorrências puramente
objetivas, não fique clara, na prática, a separação entre o património da sociedade e o do sócio ou sócios.
Estes casos reportam-se, sobretudo, às chamadas sociedades unipessoais.
Como regra mantém-se a separação, apenas fatores coadjuvantes poderão levar ao levantamento.
Subcapitalização
Verifica-se sempre que uma sociedade tenha sido constituída com um capital insuficiente. A insuficiência é
aferida em função do seu próprio objeto ou da sua atuação surgindo, assim, como tecnicamente abusiva.
A sociedade tem um capital formalmente insuficiente Há uma efetiva insuficiência de fundos próprios ou
para o objeto ou para os atos a que se destina, mas ela alheios. Esta apenas releva quando o problema não seja
pode acudir com capitais alheios. resolvido com recurso a uma norma de Direito estrito.
Para além da inadequação abusiva, a subcapitalização exige ainda uma explicitação dos seus fundamentos.
Com recurso à jurisprudência, encontramos, desde logo:
• Situações nas quais a subcapitalização visou diretamente prejudicar os credores
• Casos clássicos em que os administradores, por inobservância das regras aplicáveis, provocam
falências evitáveis, ou retardam com prejuízos falências inevitáveis
A jurisprudência permite resolver este tipo de situações com recurso à culpa in contrahendo e à
responsabilidade delitual.
A responsabilidade dos sócios tem sido ainda invocada com recurso ao atentado doloso aos bons costumes ou
à violação de regras de organização. Todavia, não existe uma regra geral relativa à obtenção ou manutenção
de um capital bastante, para além do legal.
É difícil apresentar um grupo autónomo de casos de levantamento devido à subcapitalização, visto que muitas
destas situações podem ser explicadas com recurso à responsabilidade civil, às regras sobre falências ou à
própria culpa in contrahendo.
Alguma doutrina considera que o levantamento devido a subcapitalização já não se usa, enquanto outra lhe
confere uma margem reduzida. Também a jurisprudência social recusa o levantamento perante o mero facto
de insuficiência de capital. Por outro lado, MC acha que ainda há margem para manter a subcapitalização
como um caso próprio do levantamento porque:
• Ela pode auxiliar no apuramento do escopo das normas em presença, ou seja, pode-se apontar a função
do capital social como uma regra de tutela dos credores
• Há quem apele a um princípio de justa repartição de riscos, entre os sócios e os credores sociais
• A própria jurisprudência apela aos bons costumes e à boa-fé
Atentado a terceiros
Verifica-se sempre que a personalidade coletiva seja usada, de modo ilícito ou abusivo, para prejudicar
terceiros. Porém, não basta a ocorrência de prejuízo através da pessoa coletiva, para haver levantamento é
necessário que se assista a uma utilização contrária a normas ou princípios gerais, incluindo a ética dos
negócios.
Sub-hipótese particular é a do recurso a “testas-de-ferro”, numa situação que autorizaria a procurar o real
sujeito das situações criadas.
É uma situação de abuso do direito ou de exercício inadmissível de posições jurídicas, verificada a propósito
da atuação do visado, através de uma pessoa coletiva. No fundo, o comportamento que suscita o levantamento
vai caracterizar-se por:
• Atentar contra a confiança legítima (venire contra factum proprium)
• Defrontar a regra da primazia da materialidade subjacente (tu quoque ou exercício em desiquilíbrio)
O atentado à boa-fé deve ser muito nítido para justificar o levantamento.
Teoria Subjetiva
Defendida por Serick. Segundo este autor, a autonomia da pessoa coletiva deveria ser afastada quando houvesse
um abuso da sua forma jurídica com vista a fins não permitidos. Na determinação destes fins, haveria que lidar
com a situação objetiva e, ainda, com a intenção do próprio agente, pois na perspetiva deste autor, o
levantamento exigiria um abuso consciente da pessoa coletiva.
Esta teoria tem sido rejeitada.
• A utilização puramente objetiva de uma pessoa coletiva fora dos limites sistemáticos da sua função é,
só por si, abusiva, não é necessário o elemento subjetivo.
• A exigência do elemento subjetivo iria provocar insondáveis dificuldades de prova.
• Devemos atentar na concreta solução pretendida com o levantamento, pois caso se trata de fazer
responder o património do sócio por dívidas da sociedade, não se requer qualquer culpa subjetiva.
Tratando-se de responsabilidade civil por atos ilícitos ou por incumprimento de obrigações, a culpa é
requerida, não se tratando do específico elemento subjetivo próprio do levantamento, mas sim de um
pressuposto comum da responsabilidade civil.
Teorias Objetivas
À partida, resultam da rejeição de elementos subjetivos para fazer atuar o levantamento.
Numa primeira fase, tudo é feito depender das (más) intenções do agente. Conquistado o instituto, este é
objetivado, passando a depender da pura contrariedade ao ordenamento.
Abandonada a intenção, o levantamento exigiria a ponderação dos institutos em jogo. Quando, contra a
intencionalidade normativa, eles fossem afastados pela invocação da personalidade, esta deveria ser levantada.
As orientações objetivistas dizem-se, assim, também institucionais, tendo obtido múltiplas adesões.
Desde o momento em que tudo depende da articulação entre os institutos em jogo, o levantamento vai exigir a
cuidada interpretação das regras em presença.
Karsten Schmidt faz dois reparos que devem ser retidos:
• Com estas teorias o levantamento deixa de constituir uma “pena” para quem manipule o ordenamento
e a personalidade coletiva.
• O levantamento tende a perder autonomia perante estas teorias, seja institucional, seja no plano da sua
justificação.
*Mesmo que a associação desenvolva atividades lucrativas e pratique atos de comércio para obter lucro para conseguir
prosseguir o seu fim, esta não pode ter a intenção de distribuir os lucros pelos associados CC: 157º pois aí estaríamos
perante uma sociedade civil pura (908º ss. CC)
A associação deve ter meios económicos para prosseguir os seus objetivos, portanto, faz todo o sentido que ela possa
desenvolver atividades lucrativas. O artigo 157º não impede que a associação vise dar lucros a terceiros. Por exemplo,
se existir uma “associação dos deficientes z”, parece razoável que a entidade possa recolher lucros e outros fundos para
auxiliar os seus associados. Nestes casos, a ajuda aos associados, mesmo de tipo económico, não é lucro.
Regalias próprias da associação, em contraste com as sociedades civis puras (sociedade que pretende
distribuir lucros):
• Total separação de patrimónios, com a subsequente irresponsabilidade dos associados pelas dívidas
da associação;
• Natureza não-patrimonial da posição do associado, com a sua consequente impenhorabilidade.
Constituição
A constituição das associações opera por contrato entre os associados fundadores, que deve ser celebrado por
escritura pública CC: 158º/1 + CC: 168º/1
CC: 168º/1 O ato de constituição e os estatutos são coisas distintas, mas podem constar no mesmo
documento, desde que observados os requisitos de forma, escritura pública.
CC: 168º/2 e 3
JAV: A aquisição de personalidade jurídica ocorre no ato da constituição da associação, com a assinatura da
escritura pública. A publicidade nada afeta aqui a aquisição da personalidade, ao contrário do que acontece
nas sociedades comerciais.
Na falta de publicação, o ato de constituição e os estatutos não são oponíveis a terceiros de boa- fé, isto é, a
terceiros que, sem culpa, não os conhecessem.
Esta inoponibilidade terá́ , como efeito, o responsabilizar a pessoa singular concreta que contrate com o
terceiro, em moldes aplicáveis às associações sem personalidade jurídica CC: 198º/1
Antes da formalização das associações e da aquisição de personalidade jurídica, os fundadores podem praticar
diversos atos na posição de pré-associados. Estamos perante uma “associação sem personalidade jurídica”,
em que se aplicam os estatutos e, em tudo o que não pressuponha a personalidade, o próprio regime das
associações.
Sendo que o ato constitutivo e os estatutos têm natureza contratual, qual é a consequência da sua invalidade?
CC: 158º-A É nula a constituição que viole o CC: 280º, ou seja, cujo objeto seja física ou legalmente
impossível, contrário à lei ou indeterminável ou, ainda, contrário à ordem pública ou ofensivo dos bons
costumes. Sendo dever do Ministério Público invocar a nulidade. Todavia, qualquer outro interessado o poderá
fazer nos termos gerais.
A declaração judicial de nulidade pode implicar ou não a extinção e a liquidação da associação. A invalidade
pode reportar-se a apenas a uma parte dos estatutos ou do ato constitutivo, não afetando o conjunto geral.
Neste caso aplica-se o CC: 292º, procedendo à redução, ou seja, só o pondo questionado é que é considerado
inválido.
Quando a redução não seja possível, deveria assistir-se, nos termos gerais, à destruição retroativa dos atos
praticados e de todos aqueles que, destes, derivassem. No caso de uma pessoa coletiva, que tem um
património, que pode gerar resultados e que tem relações com terceiros, isso é impossível.
Quando os vícios afetem, apenas, algum ou alguns dos associados outorgantes na escritura, será atingida
apenas a presença do associado na agremiação. A invalidação da declaração de vontade da pessoa em causa
apenas ditaria a sua exclusão: não determinaria a invalidade de toda a constituição da associação, salvo quando
se mostrasse que ela não teria sido constituída sem a presença do fundador inquinado (292º CC).
Aspetos instrumentais
Para simplificar o processo foi criado o regime especial de constituição imediata de associações, pressupondo
que:
• Os interessados optem por uma denominação de fantasia previamente criada a favor do Estado ou
apresentem um certificado de admissibilidade da denominação acolhida, emitido pelo RNPC;
• Optem por um modelo de estatutos aprovados pelo Instituto dos Registos e Notariado, IP.
A aplicação do regime especial cabe às conservatórias ou outros serviços previstos em portaria do Governo.
O processo deve iniciar-se e concluir-se no mesmo dia.
Os interessados manifestam o seu pedido no serviço competente e optam pela denominação e marca e pelos
estatutos. Apresentam os documentos comprovativos da sua identidade e dos seus poderes de representação e
podem proceder à entrega de declaração de início de atividade, para efeitos fiscais.
Órgão que detém as competências básicas da associação, tendo funções deliberativas. Tendencialmente,
corresponde à reunião de todos os associados. Os estatutos podem limitar a presença na AG a alguns
associados, como por exemplo, os que tenham uma antiguidade superior a um certo mínimo; tratam-se de
restrições provisórias. Os associados honorários são uma exceção pois embora possam participar na AG, não
têm direito de voto nem têm deveres no que toca a joías e quotizações. A participação em AG não exige a
maioridade.
Convocação
Legitimidade Forma
CC: 173º/1 Regra Geral: A CC: 174º/1 Por aviso postal com uma antecedência mínima de 8 dias
administração convoca a ou por outros meios previstos nos estatutos (CC: 174º/2).
assembleia pelo menos uma Tem de conter:
vez por ano (os estatutos • Dia
podem prever + obrigatórias) • Hora
• Local
CC: 173º/2 Convocação • Ordem do dia (deve abranger todos os assuntos e os diversos pontos
requerida por 1/5 dos devem estar suficientemente explícitos)
associados (este número CC: 224º/1 A convocatória torna-se eficaz com a receção ou o
pode mudar conforme o conhecimento; prevendo-se o envio, presume-se a receção ou o
estipulado nos estatutos). A conhecimento.
convocatória pode ser feita
pela administração ou pelo CC: 174º/3 Não se pode deliberar sobre matéria que não esteja
Presidente da AG, se os prevista na ordem do dia. Caso tal aconteça as deliberações são
estatutos lhe permitirem. anuláveis.
CC: 173º/3 Caso a CC: 174º/4 (exceção) Podem ser tomadas deliberações externas à
administração não convoque ordem do dia, caso todos os associados estejam presentes e
a assembleia quando devia, concordem. Podem igualmente, neste caso, ser ignorados eventuais
qualquer associado pode erros da convocatória.
fazê-lo.
Podem haver assembleias “à distância”, se os estatutos permitirem.
Composição e Funcionamento
A AG é composta por associados ou representantes destes CC: 176º/1. O associado pode-se fazer representar
na assembleia através de outro associado ou de um terceiro. Porém, os estatutos podem fixar o princípio de
que somente os associados podem estar presentes na AG.
A AG, como qualquer órgão coletivo, deve ter um presidente e um secretário. O Código Civil não articulou
esta matéria. Esta lacuna é preenchida pelos estatutos, pela prática constante e, se necessário, por aplicação
analógica do regime das sociedades.
Secretário
A mesa da assembleia é, então, no mínimo, composta por: Elabora a ata;
Presidente
Dirige os trabalhos.
Quando os estatutos nada disserem, a sua eleição deve competir à própria assembleia.
A assembleia, como a jurisprudência reconhece, é convocada por este, ainda que por iniciativa da
administração.
Havendo empate numa votação e sendo o presidente associado, cabe-lhe o voto de desempate, além do seu.
Admitir ou recusar propostas e propiciar votações.
Condiciona toda a produção associativa.
CC: 175º/1 Na primeira convocatória não podem ser tomadas decisões sem metade dos associados com
direito a voto presentes, geralmente, convocam-se logo duas assembleias seguidas para ultrapassar este
problema. Isto corresponde ao quórum constitutivo / necessário para que se considere constituída a
assembleia na primeira convocação.
Em segunda convocação, a assembleia poderá deliberar com qualquer número de associados presentes: é o
quórum deliberativo.
Regra Geral:
CC: 175º/2 Maioria absoluta dos associados presentes
CC: 175º/5 Estes valores são mínimos, podem ser alterados pelos estatutos
CC: 176º O princípio geral é que cada associado tem um voto. (os estatutos podem fixar outras regras)
Estabelece a inibição de direito de voto em situações de conflito de interesses.
CC: 176º/2 Quando o impedido vote, a deliberação é anulável se o seu voto for essencial à maioria verificada.
Competência
Matérias sobre as quais a AG tem de decidir ou deliberar
CC: 177º As decisões contrárias à lei ou aos estatutos, pelo objeto ou irregularidades são anuláveis
CC: 178º Processo de anulabilidade:
Nº 1 Arguida no prazo de 6 meses, pela administração ou qualquer associado que não tenha votado
Nº 2 Associado que não tivesse sido convocado o prazo começa a contar quando este conheceu a decisão
MC: é evidente que uma deliberação contrária à lei expressa ou de objeto impossível nunca poderia ser
meramente anulável, sob pena de se consolidar com o decurso do prazo; outro tanto será́ óbvio no que toca a
deliberações contrárias aos bons costumes ou à ordem pública.
Temos de admitir, ao lado das deliberações anuláveis, deliberações verdadeiramente nulas.
Da remissão do CC: 158º-A para o CC: 280º resulta que as deliberações físicas ou legalmente impossíveis,
contrárias à lei ou indetermináveis são nulas, tal como são nulas as que contradigam a ordem pública ou que
ofendam os bons costumes.
As deliberações que recaiam sobre matéria que, por natureza, escape às decisões das assembleias são
igualmente nulas, por impossibilidade jurídica.
Conclusão: deliberação contraria à lei é meramente anulável? Consolida-se com o decorrer do tempo?
CC: 177º tem que ser restritivamente interpretado, estas deliberações conduzem à anulabilidade quando não
conduzam à nulidade.
CC: 179º Pode ser aplicado quer a deliberações anuláveis quer a nulas permitindo a inoponibilidade destas a
terceiros de boa-fé.
CC: 170º/1 Compete à Assembleia Geral designar os titulares dos demais órgãos, quando
não estiver outro processo estipulado nos estatutos.
Nas associações dotadas de poderes especiais, a lei impõe, muitas vezes, a eleição da
administração; nos outros casos compete aos estatutos decidir. Os administradores podem
ser indicados nos próprios estatutos ou podem resultar de cooptação, como outras
soluções possíveis. O mesmo se aplica aos membros do conselho fiscal.
CC: 170º/2 Revogação das funções dos titulares eleitos ou designados, ou seja, as
destituições dos titulares dos órgãos, com justa causa (170º/3), que tenham incumprido
deveres a que estão adstritos.
Quer órgãos da administração, quer o Conselho Fiscal, dispõem de Presidente, este pode
derivar do estatuto, ser eleito pela Assembleia ou pela Administração, cabe a este:
• Convocar o órgão CC: 171º/1
• Dirigir os seus trabalhos
• Direito a voto de desempato CC: 171º/2
MC: de uma deliberação da administração cabe recurso direto para um tribunal: corolário
do facto da administração, pela lei e pelos estatutos, representar a pessoa coletiva.
Direitos Obrigações
O Código Civil não especifica quais, apenas CC: 167º/2 Contributivas: contribuir para o
indica que devem ficar previstos nos estatutos. património associativo através uma jóia
(no momento da adesão) ou através de
Gerais uma quota (periodicamente). Também
Surgem globalmente para todos os que estejam na pode ser em serviços ou os estatutos
circunstância de associado podem prever outras contribuições.
• Participativos (participar na Assembleia Geral,
votar, solicitar informações, aceder às instalações, Participativas: imposições estatuárias
ser eleito para os órgãos) de participação nos órgãos e nas
• Disfruto de benefícios associativos (vantagens atividades correntes.
internas e externas)
• Honoríficos e designativos (possibilidade Acessórias: decorrem da boa fé, visam
reconhecida aos associados de certas associações preservar a imagem e os interesses da
de usarem o inerente título ou de exibirem os associação. Quando os estatutos não
respetivos sinais distintivos ou insígnias) especificam estes deveres, retiram-se
Especiais CC:762º/2. Traduzem-se assim em
São conferidos pelos estatutos a algum ou alguns sócios. deveres de lealdade, de assistência, de
São dirigidos a uma qualidade de associados e só com a sigilo, de não-concorrência e de
permissão destes se podem alterar ou ser suprimidos. oportunidade.
O princípio de igual tratamento entre associados tem apenas uma utilização prática: pretende proibir o
arbítrio em termos de tratamentos diferenciados e tem em vista proteger as minorias (exigindo maiorias
qualificadas para as deliberações mais delicadas, ex: CC: 175º/3 e 4 ).
Contudo, é possível uma associação prever diversas categorias de associados, com direitos e deveres próprios,
que recebem um diferente tratamento entre si devido à diferente posição que integram.
Adesão / Ingresso
O ingresso pode ser:
• Inicial quando os fundadores assinem o ato constituinte
• Superveniente, todos os que adiram após a constituição
A adesão tem natureza contratual: depende de uma proposta, feita pelo próprio interessado ou pela associação
através da administração ou da assembleia geral.
CC: 167º/2 As condições de admissão constam dos estatutos (têm de respeitar os limites do 280º)
A admissão de associados pode depender de uma decisão discricionária, da direção ou da assembleia geral.
Saída
A saída de um associado corresponde à sua retirada voluntária de determinada associação.
Em princípio, tal retirada é livre, ainda que com as consequências do CC: 181º:
• Não tem o direito a reaver as quotizações que haja pago
• Perde o direito ao património social.
Os estatutos poderão condicionar a saída a pré-avisos ou a prestações suplementares, mas sempre sem impedir
a saída.
Esta exclusão pode ser tomada por razões disciplinares (através de uma medida disciplinar prevista nos
estatutos). Quando os estatutos nada dizem, a exclusão pode operar por aplicação analógica do CC: 1003º.
Os estatutos podem também prever outras causas de exclusão ou afastar as deste artigo.
É também necessário que estejam preenchidos alguns requisitos: proibição do arbítrio, aplicadas de acordo
com algumas regras, nomeadamente, o facto de antes de ser determinada a sanção tem de se dar oportunidade
de o associado se defender (princípio do contraditório e da defesa), outra das regras fundamentais é a
suscetibilidade de esta decisão ser impugnada judicialmente.
Variabilidade
Visto que há livre entrada e saída de associados, as associações apresentam um número variável de membros.
Os estatutos podem prever limites máximos, mínimos ou fixos para a massa associativa: vedando entradas
para além de um certo número de membros enquanto não houver vagas, ou impondo a dissolução quando o
número de associados baixe aquém de um certo número.
O poder disciplinar é a faculdade que as associações têm de aplicar sanções aos seus associados. Não há
nenhum artigo que preveja este poder, contudo, como é permitida a exclusão (sanção mais grave) assume-se
que também são possíveis sanções menos graves.
Perante uma infração disciplinar, cabe à associação desencadear a aplicação de sanções, nomeadamente, ao
órgão estatutariamente indicado – conselho de disciplina ou comissão disciplinar. Se nada disser nos estatutos,
essa competência passa para a assembleia geral, que concentra todas as funções residuais, não atribuídas a
outros órgãos CC: 172º/1
Tem de estar previamente definido nos estatutos para que não seja exercido de forma arbitrária, violando a
igualdade entre os associados. Estes podem regulá-lo expressamente ou remetê-lo para um regulamento
adequado a aprovar pela assembleia geral ou pela administração.
Caso as sanções não estejam previstas nos estatutos ou nos regulamentos, só será possível a aplicação de
duas sanções:
• Interpelação ou aviso de quem tem obrigações por cumprir;
• A exclusão.
Status de associado
Os direitos associativos dão lugar a uma relação duradoura entre o associado e a associação. Desta relação
derivam direitos e obrigações mútuas, entre ambas as entidades. Da situação de membro derivam posições
absolutas que devem ser respeitadas por todos: têm cobertura delitual ou aquiliana.
Os direitos associativos correspondem a um conjunto complexo que transcende a figura dos direitos
subjetivos. Assim, temos de recorrer à ideia de status de associado: conjunto das posições complexas que
integram a situação jurídica do associado.
Os direitos associativos estão marcados pelo escopo da associação a que respeitem e traduzem a participação
do seu titular em todo um (sub)sistema de atuação - sentido funcional das diversas posições - e de ordenação
- recurso a regras jurídicas.
O CC: 175º/3 refere as alterações aos estatutos, requerendo, para elas, uma maioria
qualificada de 3/4 dos associados presentes.
A fusão e a cisão de associações é possível: deve ser entendida como uma modificação
das entidades preexistentes e não como uma combinação de extinções e constituições.
EXTINÇÃO
CC: 183º/2 Pode ser requerida pelo Ministério Público ou por qualquer interessado;
Lista de casos taxativa, não é possível descobrir novas causas de extinção. Terceiros não
podem requerer a extinção das associações, à margem do legislado.
A extinção não pode fazer desaparecer instantaneamente todas as situações jurídicas que
dela dependam. Abre-se um período de liquidação que visa:
• Apuramento do ativo e do passivo da associação;
• Satisfação do passivo;
• Atribuição dos bens remanescentes, de acordo com o CC:166º
CC: 184º/1 Os órgãos das associações mantêm-se em funções, mas somente para a prática
dos atos meramente conservatórios e dos necessários, quer à liquidação do património
social, quer à ultimação dos negócios pendentes. Os restantes atos responsabilizam
solidariamente os administradores que os pratiquem.
CC: 184º/2 Assim, a sua personalidade jurídica mantém-se, mas apenas na medida do
necessário, como se observa pelo facto de não ficarem vinculadas, perante terceiros, por
novos atos dos administradores e salvo boa-fé́ e falta de publicidade da extinção.
Consideram-se, assim, pessoas rudimentares.
Instituição
Ato unilateral, distingue-se da deixa testamentária pois nesta os bens são deixados a uma pessoa que já
existe, no caso da fundação esta ainda não existe, os bens são deixados a uma pessoa a constituir.
Reconhecimento
Ato administrativo, da competência do ministro da área de atuação da fundação. Idoneidade do fim e
suficiência patrimonial;
Instituição
Negócio jurídico unilateral, entre vivos ou mortis causa. O instituidor afeta um património a uma pessoa
coletiva a criar, com determinados objetivos de tipo social.
Modo
o Entre vivos
CC: 185º/2 Não há propriamente, na altura, um beneficiário que o possa aceitar. Por isso, admite-se que ela
seja revogável, pelo instituidor, mas apenas até que seja requerido o reconhecimento ou o principie o respetivo
processo oficioso.
o Mortis Causa
CC: 185º/3 e LQF: 3º Trata-se de um testamento, não podendo os herdeiros revogar a instituição: fica,
contudo, assegurada a sucessão legitimária.
CC: 186º/2 Como elementos eventuais, deve indicar a sede, a organização e o funcionamento da fundação e
regular os termos da sua transformação ou extinção, fixando o destino dos respetivos bens.
CC: 185º/4 - CSC: 167º O ato de instituição, os estatutos e duas alterações dever ser publicitados. Enquanto
não ocorrer, não produzirá efeitos perante terceiros.
CC: 237º O ato de constituição pode ser condicionado, pelo seu autor, a quaisquer eventualidades e,
designadamente às opções que venham a ser feitas quanto ao reconhecimento.
No tocante à sua interpretação e na dúvida, prevalece o sentido menos oneroso para o instituidor. As fundações
canónicas têm um lugar distinto, são constituídas nos termos da Concordata e têm regras próprias.
CC: 186º/2 e LQF: 18º/2 Devem conter todos os demais elementos relativos à pessoa coletiva em causa e
que não constem do ato de instituição.
CC: 137º/3 e LQF: 19º/3 Nos casos de elaboração por terceiros, ter-se-á em conta, na medida do possível, a
vontade real ou presumível do instituidor ou fundador.
CC: 185º/4 - CSC: 167º O ato de instituição, os estatutos e suas alterações dever ser publicitados. Enquanto
não ocorrer, não produzirá efeitos perante terceiros.
Reconhecimento
As fundações não surgem como expressão de liberdade de associação. Assim, para obter personalidade
jurídica é necessário o reconhecimento estadual.
CC: 185º/2 O pedido de reconhecimento ou o início do processo oficioso tornam a instituição irrevogável.
LQF: 20º/1 O reconhecimento é um ato administrativo que compete ao Primeiro-Ministro, que pode delegar.
É um ato discricionário, que deve obedecer a alguns parâmetros:
• Idoneidade do fim
CC: 188º/3 A) Deve ser considerado de interesse social pela entidade competente.
Neste caso, considera-se a instituição sem efeito, não sendo possível satisfazer a vontade do instituidor, pelo
que não é justo reter os bens;
• Suficiência patrimonial
CC: 188º/3 B) Os bens afetados devem ser bastantes para a prossecução do fim visado, não havendo fundadas
expectativas de suprimento da insuficiência.
Neste caso a vontade do instituidor, se ele já tiver morto, pode ainda ser preservada CC: 188º/5 e LQF: 23º/2
No caso das constituições realizada entre vivos se o reconhecimento for negado a instituição fica sem efeitos.
Casos seja realizada por mortis causa os bens são entregues a uma associação com fins análogos CC: 188º/3
Possibilitam a prossecução dos propósitos e interesses dos seus fundadores para além da
sua simples existência física.
Características gerais
LQF: 3º/1 Fundação é uma pessoa coletiva sem fim lucrativo, dotada de um património
suficiente e irrevogavelmente afetado à prossecução de um fim de interesse social
LQF: 1º/1 O regime português das fundações constava, essencialmente, do código civil.
Contudo, foi necessária uma reforma, surgindo a Lei-quadro das fundações (LQF). As
normas da LQF são de aplicação imperativa e prevalecem sobre as normas especiais
atualmente em vigor, salvo na medida em que o contrário resulte expressamente da LQF.
LQF: 2º/3 não se aplica às fundações instituídas por confissões religiosas, que têm um
regime próprio.
Tipos de fundações
LQF: 4º/1
De acordo com as regras gerais CC: 162º sabemos que a administração, a sua composição
e os seus poderes devem resultar dos estatutos: será́ colegial, com um número ímpar de
elementos, dos quais um é o presidente.
LQF: 11º A administração pode dispor dos bens atribuídos pelo fundador, mediante
autorização da entidade competente para o reconhecimento.
LQF: 7º Há regras para defesa do instituto fundacional, que se refletem na gestão das
fundações.
LQF: 26º/1 B) Os estatutos podem prever outros órgãos, como, por exemplo, a
“assembleia de fundadores” com competências semelhantes às da assembleia geral (das
associações), o “presidente” e o “conselho diretivo”, tipo conselho executivo dependente
do conselho de administração. Esse órgão incumbido da gestão corrente está previsto no
artigo indicado.
CC: 189º e LQF: 31º É possível a qualquer altura, pela entidade competente para o reconhecimento e por
proposta da administração.
Limites:
• Respeito pelo fim essencial da fundação
• Respeito pela vontade do fundador ou do instituidor
CC: 190º/2 e LQF: 32º/3 Este fim só pode ser atribuído pela entidade competente para o reconhecimento,
ouvida a administração e o instituidor, ele for vivo nas seguintes circunstâncias:
• Fim inicial estiver preenchido ou se tornar impossível
• Fim inicial perca o interesse social
• Património se torne insuficiente para a prossecução do fim inicial
CC: 191º/1 e LQF: 34º/1 O instituidor pode cometer à fundação o satisfazer determinado encargo
predeterminado. Isto será́ um fator de rigidez, suscetível de prejudicar a atuação da fundação. Assim, a
entidade competente para o reconhecimento, sob proposta da administração, poderá suprimir, reduzir ou
comutar esses encargos
CC: 191º/2 e LQF: 34º/2 Contudo, o encargo pode ser o motivo essencial da instituição. Assim, a entidade
competente para o reconhecimento pode:
Fusão e Cisão
EXTINÇÃO
CC: 192º e LQF: 35º Causas de extinção
CC: 193º e LQF: 36º Da competência da administração comunicar à entidade competente para o
reconhecimento
CC: 192º/2 e LQF: 35º/2 Tomada de iniciativa por parte da entidade competente para o reconhecimento
CC: 192º/3 e LQF: 35º/3 Ação do Ministério Público
CC: 194º e LQF: 37º Ocorrendo a sua extinção, segue-se a liquidação. A entidade competente para o
reconhecimento deverá tomar “providências especiais”. Não o fazendo, é aplicável o regime previsto para as
associações
CC: 980º Uma sociedade é um conjunto de duas ou mais pessoas que se obrigam a contribuir com bens ou
serviços para o exercício em comum de certa atividade económica, que não seja a mera fruição, a fim de
repartirem os lucros económicos.
CC: 981º/1 Contrato que origina a constituição da sociedade não está sujeito a forma especial, salvo se assim
o exigirem os bens em jogo. Qualquer forma serve pelo que pode surgir nos contextos mais informais, ou de
uma forma mais estruturada e solene como escritura publica.
Nº2 – a lei prevê para a inobservância de forma esquemas reforçados de redução e conversão
CC: 983º As alterações ao contrato devem ser unânimes, exigindo-se ainda o acordo do próprio para a
supressão de direitos especiais.
CC: 983º Entrada para a sociedade é o bem ou conjunto de bens que o sócio entra para a sociedade. Esta
entrada é convencionada no contrato de sociedade. Podem convencionar livremente, caso tal não aconteça, a
lei presume que a entrada é igual para todos.
CC: 985º A sociedade sendo embora uma organização incipiente tem no mínimo administração. Em
sociedades com estruturação há um órgão específico, contudo, quando não existe esta organização, os sócios
podem desempenhar o papel de administradores.
Os sócios têm os direitos e os deveres previstos nos artigos 988º a 985º + 1002º CC.
CC: 997º/1 Ao contrário do princípio da autonomia patrimonial perfeita que encontramos nas associações e
fundações, nas sociedades esta autonomia não está perfeita, pelo que quando esgotado o património da
sociedade, o património privado dos sócios pode ser chamado a responder em nome das dividas da sociedade.
CC: 997º/2 A única especificidade está no facto dos sócios poderem exigir que primeiro seja exaurido o
património da sociedade antes dos seus próprios.
Personalidade Jurídica
JAV considera que é uma pessoa jurídica no direito privado tendo personalidade jurídica na medida em que
é titular de situações jurídicas. A inexistência de autonomia patrimonial perfeita não obsta esta conceção.
MC Se as sociedades civis observarem os requisitos de constituição das associações poderão ser
personificadas. Os requisitos constam no CC: Artigo 167º
Conclusão
Coloca-se o problema de saber se estas têm ou não personalidade jurídica, ou se são pessoas rudimentares.
Tudo indica que a sociedade civil pura, constituída por escritura pública, ou equivalente, é uma pessoa coletiva
em tudo semelhante às demais sociedades.
Assim, de acordo com Paulo Cunha, as sociedades civis puras, desde que constituídas por escritura pública e
com as especificações prescritas, nos seus estatutos, são pessoas coletivas plenas.
Recorre-se a esta tutela quando as associações não tenham percorrido o caminho de forma
a adquirirem personalidade jurídica plena. Isto cobre também a área das associações ainda
em formação.
Quando são realidades com um elemento pessoal e com organização, mas que não
preenchem requisitos para a personalidade jurídica do CC:158º e 167º
Regime
As ASP não requerem qualquer forma solene nos termos gerais do CC: 219º
CC: 405º e 406º Constituídas por contrato; as ASP têm natureza contratual.
A pessoa que dê o seu acordo a uma ASP fica vinculada. Assim, a génese contratual
explica o que consta do CC: 195º/3 – 181º no que respeita à saída de associados.
CC: 195º/1, 2ª parte No que as regras adotadas pelos associados sejam omissas, são
aplicáveis as disposições legais relativas às associações, excetuadas as que pressuponham
a personalidade.
A lei não dá uma noção direta apenas refere CC: 199º, 1ª parte. Retiramos daqui que se
trata de agremiações restritas de pessoas que visam fins diferentes dos do lucro dos
envolvidos.
Não têm substrato pessoal e organizatório suficientes para se aplicar o CC: 195º e ss.
CC: 200º As comissões recolhem fundos de terceiros, afetando-os aos tais fins não
lucrativos. Os envolvidos respondem pessoal e solidariamente pelos fundos (nº1) e pelas
obrigações contraídas (nº2).
Podem-se aplicar os bens a outro fim, nos casos previstos no CC: 200º/1
Para garantir uma boa gestão dos fundos, os responsáveis são os elementos integrantes da
comissão ou um terceiro que tenha sido encarregado da administração dos fundos.
• Teoria da fundação
Vê, nas comissões, fundações não reconhecidas ou não personalizadas. Elas assentariam
num negócio fiduciário concluído entre os membros da comissão e os subscritores.
• Teoria dualista
MC: concorda com a tese dualista com dominante fundacional: donde o regime legal.
O exercício jurídico é:
• Sentido Amplo: uma atuação humana que tem relevância para o Direito; estão
incluídas todas as práticas negociais, tanto atos jurídicos lícitos, como ilícitos;
• Sentido Restrito: uma concretização, por uma pessoa, de uma situação jurídica
ativa ou passiva que lhe tenha sido conferida pelo Direito;
O exercício jurídico implica uma decisão do agente, pois este procede a uma concreta
aplicação jurídico-normativa, dando azo a uma nova situação jurídica.
A legitimidade é a qualidade do sujeito que o habilita a agir no âmbito de uma situação jurídica considerada.
Em princípio, as situações jurídicas só são atuáveis pelos sujeitos a que respeitem ou que, para tanto,
disponham de especial habilitação jurídica: apenas esses sujeitos detêm a necessária legitimidade.
Este conceito não vem expressamente referido no Código Civil, é uma elaboração doutrinária italiana.
Titularidade
Temos a qualidade do sujeito enquanto beneficiário ativo,
designadamente, de um direito; contudo, ele pode carecer da
possibilidade de agir nessa situação (por exemplo, por
menoridade ou por insolvência).
Legitimidade
Adstrição
Quando somos destinatários de uma norma ou obrigação,
VS
Capacidade
É um conceito genérico, pelo que podemos ser plenamente
capazes, mas não ter habilitação para exercer uma certa
situação jurídica (por falta de titularidade, por exemplo).
Modalidades
Direta Indireta
Resulta por si, de modo automático, ao titular ou ao Resulta de um ato suplementar que atribui a legitimação
destinatário da situação considerada. (procuração).
Ativa Passiva
Jurídica Material
Inicial Superveniente
Quando se ingressa na situação jurídica com Quando se ingressa na situação jurídica sem habilitação e,
legitimidade. posteriormente, adquirimos legitimidade.
Processual Civil
Qualidade do sujeito que o habilita a exercer no Concretização de posições extrajudiciais, civis.
domínio de um processo.
Legitimidade negocial, obrigacional, real, familiar ou sucessória, joga o âmbito em que a qualidade em jogo se ponha
ou seja solicitada. Nesta base, podemos estabelecer “legitimidades” fora do campo civil ou, até, do Direito privado.
1) Titularidade
A legitimação ocorre sempre que alguém não tenha legitimidade para certo exercício jurídico, mas que, por
certa circunstância, passa a tê-la. Tem várias modalidades:
2) Autorização
JAV:
Há vários factos legitimadores, ou seja, várias fontes que atribuem legitimidade:
• Fontes Normativas
Exemplo: Representação legal ou tutela na menoridade.
CC: 334º
O professor Vaz Serra estudou no direito alemão o abuso de direito, mas aproveitou-se do artigo
281º do Código Civil Grego, que tem filiação alemã, e que traduzindo é o que está no nosso código.
Entre 1991 e 2000 deu-se uma grande expansão do abuso de direito, aparecendo várias situações
jurisprudenciais em que é invocada. No século XXI, o que se passa é que se dá um afinamento do
instituto e o jurista a tratar do abuso de direito tem que ser muito, mas muito cuidadoso. Para isso há
que usar uma linguagem cuidada, não ser apaixonados.
Há abuso do direito quando há um exercício que, do ponto de vista material da ordem jurídica, não
é aceitável, sendo ilícito por haver um exercício inadmissível de posições jurídicas. O abuso de direito
leva à abolição de situações jurídicas por serem consideradas ilícitas.
Fundamenta-se o abuso de direito em vários aspetos, podendo cobrir apenas um deles. Porém, tem
se vindo a fazer referência predominantemente ao princípio da boa-fé, considerando que, dentro do
âmbito do seu direito, o titular possa atuar contra a boa fé. Em todo o caso, apesar da boa fé prevalecer
relativamente aos restantes aspetos, a verdade é que a problemática do abuso de direito aborda mais
preceitos em que pode assentar. No fundo, há uma ultrapassagem dos limites da boa fé, das restantes
formas não há grande coisa.
Atos emulativos são atos inúteis e que servem para incomodar e chatear alguém, a exceção de dolo,
etc. A tradição francesa tem algumas decisões algo estranhas, sendo que uma delas se passou a 2 de
maio de 1885, em que um dos moradores construiu uma chaminé falsa pintada de preto que servia para
tapar a luz ao vizinho; não existia nada na lei e o tribunal entendeu que havia que derrubar a chaminé
porque não estava lá a fazer nada e só servia para incomodar o vizinho.
As figuras do abuso de direito não têm a mesma importância relativa pois a jurisprudência
consegue fazer atuar com maior facilidade os casos de abuso de direito por venire contra factum
proprium e as inalegabilidades formais.
ABUSO DE DIREITO
A Doutrina contruiu vários tipos de condutas ativas ou omissivas que * Permissão normativa especifica
de aproveitamento de um bem do
constituem exercício abusivo do direito subjetivo*. qual somos titulares. Tem limites,
mas parte-se da permissão para os
deveres, o que alarga a primeira e
Foram construídos em épocas diferentes, por autores de perspetivas obriga a assumir os segundos.
jusfilosóficas diversas que nem sempre tinha visões harmónicas.
Exceptio doli
Exceção do dolo
Com origem no Direito Romano é a mais antiga figura de reção contra a má fé.
Legis actiones e Judicia bonae fidei
CC: 334º Vem permitir a dedução com generalidade para os casos não previstos na lei
Assim, ao titular de um direito pode ser oposta a desonestidade com que o adquiriu ou
pretende exercer.
Violação da boa fé, do dever de honeste agere (como pessoa séria
e honesta) e dos bons costumes.
A vida em sociedade exige que as pessoas possam confiar nas expectativas criadas,
devido ao sentido de uma ação de outrem, e que sejam tuteladas pelo Direito (reliance).
Fundamento duplo
Negocial Ético
A anterior conduta reiterada ou prolongada O exercício posterior em contradição
tem uma eficácia conformadora, emergente com a prática passada, levando à
do diuturnus usus et consensus, do conteúdo frustração da confiança a quem o
do direito subjetivo como correspondente ao direito foi oposto, constitui uma
modo como o titular o venha exercendo. conduta eticamente reprovável, indigna
Temos um consenso tácito sobre o conteúdo e violadora do dever de honeste (bene)
do direito e da relação, que é lícito e eficaz agere, é contrária aos bons costumes e
quando a relação surja da autonomia privada. à boa fé.
Inalegabilidade formais
Frequentemente na jurisprudência esta atitude tem sido qualificada como venire contra
factum proprium ou, quando intencionalmente provocada pela parte que invoca, como
exceptio doli na modalidade nemo auditur turpitudinem suam allegans.
Supressio e Surrectio
Verwirkung e Erwirkung
É justificável ser uma figura independente do venrie pois apesar de ambas envolverem
uma conduta contraditória que fere as expectativas da outra parte, este binómio distingue-
se por o comportamento prolongado inicial do titular se traduzir numa abstenção e não
numa ação.
Tu Quoque
Tu também
Exercício em desequilíbrio
Exercício danoso do Direito
Por vezes titulares de direitos consideram que estão permitidos a exercê-lo de qualquer
modo, causando licitamente quaisquer danos a outrem (qui jure suo utitur neminem
laedit). Contudo tal está errado, pois o exercício do direito deve ser realizado tendo em
conta o princípio do mínimo dano.
Quem exerce o seu direito deve fazê-lo com o cuidado e cautela necessários para que
não ofenda direito alheios ou causa danos a terceiros.
Principais situações em que o exercício danoso é abusivo:
A jurisprudência tem frequentemente fundado decisões no abuso de direito. O tribunal não nega que o excedente
seja titular do direito, mas decide que o direito não pode ser exercício daquele modo devido às consequências que o
titular pretende. Assim, a decisão não extingue o direito, mas delimita-o, excluindo aquela concreta pretensão do
seu âmbito de exercício lícito.
O abuso de direito (conduta ilícita) dá origem a responsabilidade civil, verificados os pressupostos, o titular terá de
indemnizar os danos que houver causado.
Criação de uma situação de confiança: expressa pela ideia de boa fé subjetiva, ou seja, criou-se efetivamente
uma expectativa relativamente ao comportamento da outra parte.
Justificação da situação de confiança: a confiança criada deve basear-se em elementos objetivos razoáveis,
capazes de provocar uma crença plausível a uma pessoa normal.
Investimento da situação de confiança: exige-se que a pessoa tenha efetivamente realizado atividades
jurídicas baseadas na própria confiança e que não as possa desfazer sem sofrer prejuízos inadmissíveis.
Imputação da situação de confiança: implica a existência de um autor a quem se deve entregar a confiança.
Quando se protege a confiança de uma pessoa, naturalmente, que se onera outra, por isso, é necessário que a
outra seja efetivamente responsável pela situação criada.
Frustração da situação de confiança: é necessário que a situação de confiança seja injustificadamente
frustrada e que, por isso, tenham ocorrido danos.
A “ilegitimidade” no artigo 334º não está usada em sentido técnico, na verdade, trata-se de ilicitude. O abuso
de direito traz várias consequências possíveis, contudo, o tribunal pode decretar outras consequências que
considere adequadas ao caso concreto.
Modalidade Noção Consequência
Exceptio doli: O termo dolo surge no CC: 253º/1 como qualquer sugestão ou artifício que alguém empregue com a
intenção ou a consciência de induzir ou manter em erro o autor da declaração. A exceptio doli faz apelo a este sentido.
Traduz o poder que uma pessoa tem de paralisar a pretensão de outra, quando esta pretende prevalecer-se de sugestões
ou de artifícios não são permitidos pelo Direito. Assim, ao titular de um direito, pode ser oposta a desonestidade com
que o adquiriu ou com que o pretende exercer. Há dificuldades em aplicar esta figura. Foi merecendo um uso decrescente
por parte da jurisprudência e um certo desinteresse doutrinário.
A SUPPRESSIO E A SURRECTIO
A suppressio é a situação de uma posição jurídica ativa que, não tendo sido exercida, consoante
determinadas circunstâncias, depois de durante certo lapso de tempo, não mais o pode ser, porque
seria contrário à boa fé. Dá-se aqui uma supressão de poder exercer dada posição jurídica.
O que acontece aqui é que o decorrer do tempo faz com que se gere a confiança na outra parte de que
a posição não mais será exercida. Há que verificar os requisitos da tutela da confiança.
É vulgar que a suppressio seja confundida com o venire contra factum proprium na jurisprudência,
mas há que diferenciar: na suppressio o essencial é a passagem do tempo, enquanto que no venire
existe um facto inicial e um facto posterior contraditórios (os tribunais sobrevalorizam o venire, o que
tecnicamente não é correto, mas não faz muita diferença porque o regime legal é o mesmo).
A suppressio só tem interesse antes do fim do prazo prescricional, uma vez que passado o prazo é
muito mais fácil alegar a prescrição e prová-la.
A ordem jurídica contém prazos de prescrição, ou seja, prazos para se exercerem os direitos (o prazo
ordinário geral é de 20 anos, CC 309).
Contudo, em circunstâncias particulares, pode haver um contexto que imputa a confiança de que o
direito não vai ser exercido, sem haver indicação do titular sobre isso. Porém, terá sempre de haver um
comportamento do titular do direito que funde a confiança da outra parte, não basta o mero silêncio.
Assim, temos de ter cuidado com esta figura. Ela significa, no fundo, a extinção do direito ou da
situação jurídica, em função do decurso do prazo.
A suppressio tem origem jurisprudencial e foi desenvolvida, sobretudo, no pós primeira guerra
mundial. Em Portugal, tem origem doutrinária com as universidades, mas foi igualmente recuperada
com a jurisprudência.
A suppressio tem um irmão gémeo: a surrectio. Esta mais não é do que a possibilidade de se prevalecer
de um direito por obra da suppressio.
Doutrinas
Negativistas
A figura levaria a situações de insegurança.
Teoria da renúncia
A supressio seria uma renúncia ao direito por parte do exercente. Esta orientação foi criticada por
implicar uma ficção.
Teoria da Boa fé
Surgiram três subteorias:
o A da exceptio doli
O titular do direito, abstendo-se do exercício durante um certo lapso de tempo, cria na contraparte a
representação de que esse direito não mais seria atuado e, quando posteriormente viesse a agir, entraria
em contradição.
JAV não concorda com esta posição pois não estamos perante uma situação em que existe um ato
concludente ou não concludente que leve a criar expectativa na não realização do direito. Neste caso,
o titular do direito apenas não se manifesta quanto à sua pretensão de exercer o direito. Como já
sabemos, o silêncio não pode ser uma declaração de vontade (CC: 218º), daí se questionar se o longo
silêncio pode ser considerado um ato concludente.
A supressio é uma sub-hipótese de exercício inadmissível de direitos, por contrariar a boa fé.
Jurisprudência
Doação de meio poço nula, mas apenas se invoca a nulidade 20 anos depois.
Esta figura é raramente invocada devido à sua dificuldade prática, contudo, pode levar a uma supressão
do direito devido ao decurso do tempo. Podemos considerar a supressio como radicada do nosso
ordenamento.
O desequilíbrio no exercício é uma figura que antigamente era mais utilizada do que hoje
em dia, e é um pouco vaga. Normalmente, parte do princípio da materialidade subjacente.
Tem de se ter em conta se o exercício do direito do titular é demasiado extenso, pelo que
viola direitos de outros, sendo mais prejudicial a sua execução do que a não execução.
Jurisprudência
O desequilíbrio no exercício é hoje usado para corrigir soluções de Direito estrito que se
apresentam injustas para os intervenientes por permitirem uma grande vantagem a uma
parte, à custa da outra, sem que se apresente uma justificação para tal.
Com origem no Direito Romano, é a mais antiga figura de reação contra a má fé.
O termo dolo surge no CC: 253º/1 como qualquer sugestão ou artifício que alguém
empregue com a intenção ou a consciência de induzir ou manter em erro o autor da
declaração. A exceptio doli faz apelo a este sentido.
Traduz o poder que uma pessoa tem de paralisar a pretensão de outra, quando esta
pretende prevalecer-se de sugestões ou de artifícios não são permitidos pelo Direito.
CC: 334º Vem permitir a dedução com generalidade para os casos não previstos na lei.
Assim, ao titular de um direito pode ser oposta a desonestidade com que o adquiriu ou
com que o pretende exercer.
Violação da boa fé, do dever de honeste agere (como
pessoa séria e honesta) e dos bons costumes.
Assim, há dificuldades em aplicar esta figura, ela pode ter alguma utilidade descritiva,
por se definir como a faculdade potestativa de alguém paralisar o exercício do direito de
outrem. Porém, esta figura não existe em sentido técnico, a lei não a impõe e a doutrina
não a recomenda.
Invocação da invalidade formal de um negócio pela parte que provocou intencionalmente a ocorrência do vício de
que decorre (atuação dolosa) ou que, embora não tenha provocado, participou na prática (atuação ingénua,
confiante, oportunista, contraditória). A invocação do vício formal constitui um comportamento contraditório, que
frustra a expectativa da outra parte, contraria à boa fé e desconforme aos bons costumes.
Situação em que a nulidade derivada da falta de forma legal de determinado negócio não pode ser alegada, sob pena de
se verificar um “abuso do direito”, contrário à boa fé.
Deu-se uma evolução na jurisprudência que acentuou o recurso a esta figura, contudo, não foi acompanhada pela
doutrina.
Na jurisprudência Na doutrina
1) Quando o agente causava o vício e depois se aproveitava dele Considera-se que se devia chegar a
2) Quando houvesse negligência do agente na celebração do contrato uma indeminização por violação da
3) Independentemente da culpa do agente, era avaliado o caso concreto, forma do contrato, seja através da
e considerava-se abuso de direito quando a nulidade fosse contra a boa culpa in contrahendo, seja por prática
fé. delitual atentatória dos bons costumes.
Doutrinas
A doutrina da confiança
Quem provoca, com dolo, na outra a impressão de que o negócio é eficaz, causando nela confiança, deve responder
pela frustração da confiança obtida. Aqui, não se faria valer um contrato nulo, devido à impossibilidade jurídica
acentuada pelo dever funcional do tribunal declarar, de ofício, a nulidade, mas obrigava-se sim à atuação de deveres
legais similares aos do contrato celebrado.
As saídas negociais
Partem da construção da confiança. Assim, pela natureza voluntária do contrato e pelo seu regime e efeitos,
consideram que o contrato nulo é um contrato verdadeiro, só que, por razões específicas, não lhe seriam aplicáveis
as disposições cominadores de forma.
A natureza das normas formais
Baseia-se na ideia do escopo das normas formais e da possibilidade da sua redução teleológica.
Se assumirmos que as normas relativas à forma prosseguem fins de publicidade, de prova e de reflexão, a redução
teleológica permitiria dispensá-las sempre que se demonstrasse que esses fins estavam acautelados. O problema é
que as normas formais não têm fins claros, elas valem por si e pela segurança que emprestam aos negócios
envolvidos. Assim, as normais formais são normas plenas e que não admitem redução teleológica. O problema terá
de ser resolvido com recurso a normas ou institutos paralelos ou exógenos.
Jurisprudência
Ceder uma posição contratual de uso de escritório e mais tarde pretender voltar a ele pela cessação não ter
obedecido ao formalismo prescrito. Nulidade da locação financeira por vício de forma quando o locador,
conhecendo desde o início a situação, dirigiu a sua conduta de forma concordante com a validade do contrato.
Semelhança com o Venire Novidades
Situação de confiança; Justificação para a Envolvidos apenas os interesses das partes, nunca de terceiros
confiança; Investimento de confiança; de boa fé; A situação de confiança deve ser censuravelmente
Imputação da confiança ao responsável que irá imputada à pessoa a responsabilizar; O investimento da
arcar com as consequências confiança é sensível.
Na prática, a jurisprudência tende a não decretar a nulidade por inalegabilidade formal, devido à norma imperativa
de forma. Ou seja, mantém-se o negócio vitimado pela invalidade formal, que passa a ser uma relação legal, apoiada
no CC: 334º, e bastante semelhante ao negócio que se teria celebrado se não fosse a invalidade.
Contudo, tem vindo a ser sublinhado pela jurisprudência que a nulidade por inalegabilidade formal só se justifica quando
a destruição do negócio tenha para a outra parte efeitos “não apenas duros, mas insuportáveis”.
Regra geral pela qual a pessoa que viole uma norma jurídica não pode depois:
• Prevalecer-se da situação daí decorrente
• Exercer a posição violada pelo próprio
• Exigir a outrem o acatamento da situação já violada
Está aqui em causa o princípio da primazia da materialidade subjacente: a violação por alguém de normas não
é suposto conduzir a que essa mesma pessoa tenha consequências positivas devido ao seu mau
comportamento.
Aquele que atua violando uma norma jurídica ou um contrato não pode prevalecer-se da sua violação exigindo
o cumprimento da norma ou do contrato que violou à contraparte. Tem por objetivo impedir que, na falta de
norma legal, aquele que age ilicitamente tente reclamar o incumprimento da contraparte ou de uma norma que
ele próprio violou a seu favor.
Neste instituto existe muita semelhança com o venire só que o que acontece é que no tu quoque um dos atos,
nomeadamente, o primeiro, é ilícito. Além disso, existe uma contradição de valorações: primeiro faz-se algo
de valor ilícito e depois outra ação de valor lícito, enquanto que no venire não se faz isso.
Exemplos deste instituto implícitos no Código: 126º, 275º/2, 321º/2, 339º/2, 342º/2, 438º, 475º, 525º/2, 526º/2,
570º/1, 577º/2, 580º/2, 647º, 756º a) e b), 765º/2, 892º, 1033º c), 1602º d), 1779º/2, 2034º a), b) e d).
Doutrinas
Jurisprudência
Um armazém torna-se inutilizável com a chuva, por falta de obras. Pede-se ao senhorio para fazer as obras,
mas ele recusa, por isso, o locatário desocupa o local. Mais tarde, o senhorio move um despejo com base no
encerramento.
O Venire postula duas condutas da mesma pessoa, lícitas em si e diferentes no tempo. A primeira (factum
proprium) é contrariada pela segunda, havendo uma relação de oposição entre ambas.
O comportamento contraditório leva a uma frustração das expectativas criadas e nas quais outrem haja
legitima e razoavelmente confiado.
Estamos perante a situação em que alguém exerce uma posição jurídica em contradição com uma conduta
antes assumida ou proclamada pelo agente.
Censura do titular do direito que, com o seu comportamento, impute uma situação de confiança no destinatário
de uma situação de direito, vindo por sua vez a romper esta confiança com uma ação contraditória, sem um
facto que justifique a sua alteração de comportamento.
Uma pessoa não pode tomar certa posição e depois tomar uma diferente pois está a atentar contra a boa-fé (a
boa-fé remete para os valores fundamentais do ordenamento – remete para a tutela da confiança e a primazia
da materialidade subjacente). A boa fé impõe uma conduta em conformidade com a confiança que suscitou
no devedor. Se atua contrariamente ao comportamento inicialmente estipulado, atua em abuso de direito.
Quem agiu em abuso de direito tem a responsabilidade de indemnizar pelos danos que suscitou na parte que
nele confiou – responsabilidade civil CC: 483º
Venire Positivo
Uma pessoa manifesta uma intenção ou gera uma convicção de que não irá praticar certo ato e, depois, pratica-
o mesmo. Pode manifestar-se:
Venire Negativo
Da Boa fé
Venire contra factum proprium é a aplicação da boa fé, pois um comportamento contraditório viola a boa fé.
Do negócio jurídico
Quando se realiza um negócio jurídico, há uma relação de confiança que é criada e que deve ser protegida,
não se pode quebrar a confiança da outra parte.
Da confiança
O Venire contra factum proprium procura tutelar a confiança que se cria numa das partes.
o Situação de confiança
Expressa pela ideia de boa fé subjetiva, ou seja, criou-se efetivamente uma expectativa relativamente ao
comportamento da outra parte.
o Justificação para essa confiança
A confiança criada deve basear-se em elementos objetivos razoáveis, capazes de provocar uma crença
plausível a uma pessoa normal.
o Investimento de confiança
Exige que a pessoa tenha efetivamente realizado atividades jurídicas baseadas na própria confiança e que não
as possa desfazer sem sofrer prejuízos inadmissíveis.
o Imputação da situação de confiança
Implica a existência de um autor a quem se deve entregar a confiança. Quando se protege a confiança de uma
pessoa, naturalmente, que se onera outra, por isso, é necessário que a outra seja efetivamente responsável pela
situação criada.
o Frustração da situação de confiança
É necessário que a situação de confiança seja injustificadamente frustrada e que, por isso, tenham ocorrido
danos.
Importa referir que, por vezes, pode-se dispensar algum ou alguns destes pressupostos, se os restantes
assumirem uma tal intensidade que a isso justifique. Além disso, estes requisitos estão integrados num sistema
móvel, o que significa que não há uma hierarquia entre eles e que podem ser dispensáveis, consoante o caso
concreto.
O ponto importante é quando se deteta um facto suscetível de gerar uma situação de confiança legítima.
Recorrendo à normalidade típica do caso do CC: 236º/1, percebemos que se verifica esta situação quando uma
pessoa normal, colocada na posição do confiante razoável, realiza um esforço confiante que vai obter o
resultado que espera. Entra aqui um elemento objetivo: é preciso que o confiante adira na realidade ao facto
gerador de confiança. Pode acontecer que, por razões específicas, ele não confie, de facto, na situação que se
oferecia. Nesse caso, não merece proteção jurídica.
Jurisprudência
Mulher casada que, vivendo em união de facto com um terceiro, vem pedir alimentos ao marido.
Pretender a destituição da gerência por haver atos falseados, quando os sócios sabiam e não se opuseram.
Ação de divórcio onde se pretende arrolar bens adquiridos pelo marido em execução de um mandato sem
representação para o qual lhe foi dado acordo.
O senhorio não fez as obras, encarregando e autorizando o inquilino a fazer, este muda uma pequena estrutura
e o senhorio quer o despejo.
A REPRESENTAÇÃO
Instituto jurídico que permite o exercício jurídico em nome de outrem com imputação jurídica na esfera
da pessoa em nome de quem se atua. Temos duas figuras distintas:
o Representante: o autor do ato jurídico a quem foi imputada a autoria de agir
representativamente
o Representado: aquele em quem os efeitos jurídicos se reproduzem CC: 258º
A representação funciona com uma lógica de substituição. O representado, ou por vontade própria,
ou por necessidade, designa alguém para atuar em seu nome, substituindo-o na prática daquele ato
jurídico. Devido à eficácia representativa os atos praticados pelo representante são tidos como
praticados pelo representado.
Em norma, se não estivermos numa situação de incapacidade, temos legitimidade para atuar nas
situações jurídicas de que somos titulares. Quando atribuímos poderes de representação a outrem,
transferimos igualmente a nossa legitimidade nessa específica situação que ele irá exercer, através de
um processo de legitimação.
Assim, se nós não tivermos legitimidade para exercer uma certa situação jurídica, por estarmos numa
posição de incapacidade, não poderemos delegar noutrem poderes de representação com legitimidade.
Quando alguém atua em nosso nome nem sempre há representação. No caso do CC: 464º a
ação do gestor produz efeitos na esfera jurídica do dono sem serem atribuído poderes de
representação.
Ocorre uma interposição de pessoas aquando de um negócio celebrado com uma parte que esteja a
ser representada. Existe um intermediário (representante) entre as partes do negócio.
Nem sempre que há um intermediário há representação. No caso do CC: 1180º Quando
estamos perante um mandato sem representação o mandatário age em nome próprio e os
efeitos produzem-se na sua esfera jurídica, contudo, fica obrigado a transferir para o mandante
as situações jurídicas que adquiriu com aquele exercício.
O representante ao atuar perante terceiros deve deixar claro que o está a fazer em nome do representado
e não em nome próprio CC: 258º. À invocação dessa qualidade e do nome do representado designa-
se contemplatio domini. Cria-se uma expectativa no terceiro de que efetivamente o representante detêm
os poderes que mostra ter.
A outra parte deve estar informada sobre a origem dos poderes representativos e quem é o
representado, pois é com ele que, na verdade, está a contratar; a representação não é secreta nem oculta.
CC: 260º Faculta à outra parte poderes para exigir conhecer da representação num tempo razoável,
sob pena da declaração não produzir efeitos.
Atuar em nome alheio é diferente de atuar por conta de outrem. O representante atua em nome e
por conta do representado, mas nem sempre ambas as situações se unem. No caso do mandato sem
representação temos alguém a atuar por conta de outrem, mas não em nome deste.
CC:268º Quando faltem ao representante os poderes para atuar (representação sem poderes) o ato
jurídico não produz efeitos jurídicos na esfera do representado, é ineficaz.
Representação Legal
Tem fonte na lei e abrange os casos de representação dos menores e dos maiores acompanhados.
Representação Orgânica
CC: 163º
Situação dos titulares dos órgãos externos das pessoas coletivas e o modo como os atos que praticam
nessa qualidade são imputáveis à respetiva pessoa coletiva.
A expressão representação, apesar de tradicional, é discutível, pois com o titular fazendo parte do
órgão (estrutura da pessoa coletiva supostamente representada) não existe a dualidade de representado-
representante.
Assim, seria mais adequado, no caso das pessoas coletivas privadas, falar de representação voluntária
e, nas pessoas coletivas públicas, de representação legal.
Assim, deve ser mantida a designação de representação orgânica, contudo, pode ser aplicado, devido
às semelhanças, o regime das demais representações analogicamente (mutatis mutandis).
Representação Voluntária
Isto é uma exceção à regra geral, pois nesta representação existe um controlo por parte do representado
dos atos praticados, sendo este que toma as decisões do negócio.
Nota: Os “incapazes” podem então praticar atos que existam na sua capacidade natural.
No caso dos menores o CC: 127º/1 b) determina que os atos da capacidade natural estão
reduzidos tendo em conta a reduzida importância e o valor, contudo o CC: 263º não faz
referência a estes requisitos. Porém, eles devem ser tidos em conta aquando da designação
de um menor como representante legal.
No caso de falta de poderes de representação, não existe entre o falso representante e o representado
um vínculo de representação.
A falta de poderes pode ser oposta à outra parte mesmo que seja por este desconhecida.
No caso do falso representante cria-se uma relação entre este e o terceiro, sendo que a outra parte pode:
• Dar-lhe um período de tempo para que obtenha a ratificação CC: 268º/2 e 3
• Revogar o ato ou negócio que celebrou CC: 268º/4
• Responsabilizar o falso representante pelos danos causados pela invocação dos falsos poderes
de representação
Caso o representante não cumpra com os moldes de comportamento que foram determinados o
representado pode responsabilizá-lo por isso, contudo, não pode opor-se a terceiros invocando a
infidelidade da atuação do representado.
Devido a tal os casos de abuso de direito geralmente só têm relevância na relação interna, procurando
responsabilizar o representante.
CC: 269º É irrelevante para a relação externa pois o abuso só pode ser oposto a terceiros caso este
conheça ou devesse conhecer o abuso.
A relação deve permitir alguma liberdade ao representante, pois caso os poderes de representação
apenas permitam comunicar as decisões do representado, se toda a conduta do representante estiver
determinada, estamos na presença de um núncio.
Assim, existirá, inevitavelmente, uma margem de autonomia, maior ou menor, no exercício do
representante, existindo um concurso entra a vontade do representado e a do representante.
Questiona-se sobre quem deve recair a falta ou vícios da vontade e os demais estados subjetivos,
como a verificação da boa fé.
O que importa é avaliar em cada caso concreto a quem foi imputável a parte do ato que suscita
problemas. Podemos estar perante um ato negocial para o qual o representado tinha mínima autonomia,
pelo que a fixação dos termos foi feita pelo representado, que apenas as instruiu ao representante.
Contudo, em situação inversa, podemos estar perante um representante com larga autonomia, sendo
este a determinar certos aspetos do negócio.
CC: 259º Dá-nos a resposta a este problema, assumindo a partilha da autonomia do agir entre o
representado e o representante, contudo, evitando a apreciação casuística que conduz a incertezas,
passando a fixar um critério mais formal.
CC: 259º/1 O representante tem em norma um grande contributo na prática negocial, pelo que é neste
que, quando seja a sua vontade decisiva, devem incidir os erros e vícios do negócio.
Contudo, nem sempre é o representante que tem a vontade determinante, quando esta emerge do
representado, é neste que devem recair os vícios.
CC: 259º/2 Tendo em vista tutelar a parte lesada, a má fé do representado é sempre reprovável e
relevante, independentemente da boa fé do representante (e vice-versa).
Estas práticas não são proibidas, contudo, devido ao conflito de interesses que podem suscitar, são
anuláveis.
Nem sempre um negócio consigo mesmo tem por base conflito de interesses, mas quando tem
pode ser sancionado. No caso da constituição de uma sociedade anónima com 5 fundadores,
podem 4 delegar o poder de representação ao quinto que irá outorgar a escritura pública.
CC: 261º/1 Vem permitir às partes proceder à anulação do negócio. Estamos perante o regime típico da
anulabilidade, pelo que não é necessário provar danos ou a infidelidade do representante. Tal só não é possível
quando o representado tenha especificado o seu consentimento ou a natureza do negócio não esteja sujeita a
conflitos de interesses.
CC: 261º/2 Alarga este regime às situações em que o representante delegue as suas funções a outrem.
Não supõe uma atuação reprovável por parte do falso Neste caso os poderes existem, mas são usados
representante, este pode estar convicto da existência de de forma incorreta, contrária ao que se devia.
poderes de representação e estes apenas não existirem por um Para avaliar o exercício como abusivo temos
vício formal da procuração. que recorrer à relação subjacente e perceber
Contudo, será ilícita a invocação consciente de poderes que qual o exercício que deveria ter sido executado.
não existam. A doutrina diverge, contudo, é maioritária a
O suposto representado, se tiver interesse pode ratificar o ato, posição que defende que deve existir
tendo esta ratificação efeitos retroativos que se produzem na consciência no abuso de direito.
sua esfera jurídica. Tem de respeitar a forma da procuração. O abuso resulta da relação interna, pelo que não
A outra parte pode estipular um prazo para exigir a pode ser oposto a terceiros.
ratificação, prazo este que se não for cumprido se dá a Assim, só dá lugar a ineficácia se a outra parte
ratificação como rejeitada. conhecia ou devia conhecer o abuso, só nestes
Caso a outra parte, no momento da conclusão, não conhecesse casos pode ser oponível à outra parte.
a falta de poderes de representação, pode revogar ou rejeitar
o negócio até este ser ratificado.
o Representação voluntária
Dois artigos distintos, contudo, o regime é o mesmo. CC: 268ºe 269º
O agir do representante é ineficaz perante o suposto representado. Os efeitos jurídicos não se produzem
nem na esfera jurídica do representante nem na do representado.
o Representação legal
Menoridade e maior acompanhado por analogia.
CC: 1889º + 1892º Os pais não têm poderes de representação (sem autorização do tribunal) para a
prática dos atos elencados.
CC: 1893º + 1894º Caso os pratiquem, os atos são anuláveis, mas podem ser confirmados pelo
tribunal.
CC: 1937º O tutor não tem poderes de representação para a prática dos atos elencados.
CC: 1939º/1 Caso os pratique, os atos são nulos. A nulidade não pode ser invocada pelo tutor ou pelos
seus herdeiros, nem pelo intermediário do ato.
CC: 1939º/2 A nulidade é sanável por confirmação do pupilo, após a maioridade ou a emancipação,
mas nunca depois de ter sido declarado trânsito em julgado.
CC: 1938º O tutor pode praticar os atos enunciados com autorização do tribunal.
CC: 1940º Caso pratique os atos sem autorização, eles são anulados oficiosamente pelo tribunal:
1) Durante a menoridade a requerimento de qualquer vogal do concelho da família
2) Pelo pupilo até após 5 anos da maioridade ou emancipação
3) Pelos herdeiros até 5 anos após o falecimento
o Representação Orgânica
• Fundações e Associações
O código não comporta normas especificas pelo que se aplica o regime do CC:268º analogicamente.
A falta de legitimidade para agir em nome da pessoa coletiva tem como consequência a ineficácia
perante a pessoa coletiva do ato praticado em seu invocado nome.
A pessoa coletiva invocada pode ratificar e assumir a autoria do ato.
A outra parte pode fixar um prazo ao agente sem poderes para que obtenha a ratificação ou revogar o
ato jurídico enquanto não ocorra a ratificação.
Na representação sem poderes não existe uma relação jurídica entre o falso representante e o suposto
representado, mas pode existir um relacionamento que tem relevância jurídica. A atuação do falso
procurador é ineficaz em relação ao suposto representado. Este tem o poder potestativo de ratificar a
atuação do falso procurador e assumir, assim, os atos que este praticou em seu nome. Mas não é
obrigado a fazê-lo.
No relacionamento externo, aqueles perante quem os falsos poderes de representação foram invocados
também nenhum podem têm contra o suposto representado. Este fica assim eficazmente protegido
contra o falso representante e em relação a terceiros.
No relacionamento externo, entre o falso representante e aquele perante quem age, é este que fica
protegido. Enquanto não houver ratificação pelo suposto representado, o terceiro pode revogar ou
rejeitar o ato ou negócio celebrado e pode ainda fixar um prazo para que o falso representante obtenha
a ratificação, passado o qual se considera que foi recusada. Não havendo poderes de representação,
não pode, sem a ratificação, ser imputada à autoria e à esfera jurídica do suposto representado a atuação
do falso representante.
Modalidades
Figuras semelhantes
Outras figuras que implicam atuações por conta de outrem, mas se distinguem da representação, pois falta um
dos requisitos anteriormente enunciados.
Representação Mediata ou Imprópria
Uma pessoa através de um mandato age por conta de outrem, mas em nome próprio. A outra parte desconhece a
existência do mandato, findo o negócio o mandatário deverá proporcionar a aquisição pretendida pelo mandante.
Gestão de negócios representativa Contrato para pessoa a nomear CC: 452º e 453º
O agente atua em nome do dono sem Uma parte na celebração do contrato nomeia um terceiro para vir a
dispor nem invocar poderes de assumir os efeitos (direitos ou obrigações) resultantes desse contrato.
representação, contudo, com a Os efeitos não se produzem automaticamente na esfera do nomeado,
ratificação (CC: 471º) os efeitos exige-se uma declaração de nomeação e um instrumento de ratificação
transferem-se para o mandante. ou de procuração anterior ao contrato.
Aprovação
O ato é praticado por conta duma pessoa que recusa a ratificação, todavia, valoriza, globalmente, em moldes
positivos, a conduta do agente, ilibando-o de responsabilidades.
CC: 258º Os efeitos resultantes do negócio praticado pelo representante refletem-se na esfera jurídica do
representado. Esta repercussão é imediata e automática.
Elementos subjetivos
CC: 259º Aborda os problemas subjetivos da representação, sendo que a lei dá domínio à teoria da
representação, com exceção das situações em que seja determinante a vontade do representado.
O representante age expressa e assumidamente em nome do representante, tem de dar isso a conhecer à
contraparte.
CC: 260º/1 O destinatário da conduta pode exigir, num prazo razoável, ao representante que apresente prova
dos seus poderes de representação, sob pena de a declaração não produzir efeitos.
CC: 261º
Negócio que o representante celebra em nome do representado, sendo ele próprio a outra parte.
Este negócio é anulável, a não ser que o representado tenha concedido expressamente permissão para tal ou
que a natureza do negócio exclua claramente o conflito de interesses.
Quando uma pessoa seja simultaneamente representante de duas pessoas com interesses opostos deverá,
segundo a boa fé, dar a conhecer aos representados a situação e, posteriormente, terá de ponderar a situação
segundo o conflito de direitos.
Na representação, uma pessoa atua, manifestando uma vontade que, depois, se vai repercutir direta e
imediatamente na esfera jurídica de outrem. As teorias vêm procurar explicar este fenómeno:
Há situações em que o representado não possui vontade, e a representação tem um papel muito importante
nestas relações jurídicas.
Teoria da Representação
A vontade estaria presente apenas no representante.
Como é que os efeitos do negócio se produzem na esfera jurídica do representado?
• Teoria da Ficção
Embora a vontade relevante surgisse no representante, tudo se passaria como se o representado agisse.
• Teoria da separação entre a causa e os efeitos
A causa estaria na esfera jurídica do representante e os efeitos, por um mecanismo jurídico, surgiriam na
esfera do representado.
• Teoria da mediação
O negócio é conduzido pela colaboração entre representante e representado, sendo ambos necessários para
atingir o resultado final, que produzirá efeitos na esfera do representado.
Atualmente: um representante, por ter recebido os necessários poderes de uma outra pessoa, celebra um
negócio esclarecendo, na altura, que o faz em nome e por conta do representado. Existe aqui uma situação
triplamente voluntária:
• Vontade do representado ao conceder os poderes de representação e, normalmente, ao explicitar como
devem ser exercidos;
• Vontade do representante de celebrar o negócio;
• Vontade do representante de pretender fazê-lo não para si, mas para o dono, esclarecendo-o;
“REPRESENTAÇÃO” ORGÂNICA
Como é que as pessoas coletivas exercem os seus respetivos direitos?
Os códigos civis têm evitando tomar uma posição vincada sobre estas teorias, contudo, tendem a convergir
para a aceitação da representação orgânica.
No entanto, apesar da designação, não estamos perante uma verdadeira representação.
A atuação das pessoas coletivas resulta de preceitos legais especificamente dirigidos ao problema.
Pretende a proteção patrimonial e pessoal dos jovens seres humanos ou de certos deficientes.
PROBLEMA DA ABSTRAÇÃO
Procedeu-se a uma distinção jurídica entre procuração e mandato: a primeira como fonte da própria
representação e o segundo na base dos deveres de agir em prol do mandante.
É daqui que decorre a natureza abstrata da própria representação, pois independentemente do negócio que lhe
dá origem, ela sobrevive, por si, seja quais forem as vicissitudes ocorridas entre representante e representado.
Esta construção tem ainda a vantagem de proteger a confiança de terceiros e da própria sociedade.
CC: 266º Protege terceiros contra modificações ou extinção da procuração, que alterem os poderes do
representante.
A diferença reside no ónus da prova:
Nº1 Representado terá de provar que os terceiros conheciam a revogação.
Nº2 A invocação da boa fé caberá aos terceiros.
Uma procuração extinta, mas não comunicada aos terceiros interessados, continua a produzir efeitos jurídicos,
porque:
Procuração Tolerada
Existe alguém que, sistematicamente, se diz representante de outrem e o representado nada faz para mudar
esta situação. São reconhecidos ao “representante” poderes de representação, mas, na verdade, não há uma
procuração, há sim um esquema de tutela de terceiros. Os tribunais alemães e a doutrina dizem que, quem
tenha celebrado negócios com este procurador, deve ser protegido, pois a confiança gerada nos mesmos é
imputável ao representado.
Procuração Aparente
Não existe também procuração, o representado não sabe que o pseudo-representante age em seu nome, mas
poderia sabê-lo se tivesse usado da mínima diligência.
Procuração Institucional
Temos no Direito Comercial o contrato de agência. É o contrato pelo qual uma das partes se obriga a promover,
por conta de outrem, a celebração de contratos, o agente recebe uma comissão sobre os contratos que celebra
e a agência, normalmente, é celebrada tendo em conta a disposição geográfica.
Na lei da agência, o artigo 23º diz que o negócio celebrado pelo agente sem poderes de representação é eficaz
perante o principal, se tiverem existido razões ponderosas, consoante o caso, que justifiquem a confiança do
terceiro de boa fé.
A procuração institucional surge sempre que uma pessoa de boa fé contrate com uma organização em cujo
nome atue um “agente” em termos tais que, de acordo com os dados socioculturais vigentes, seja tranquila a
existência de poderes de representação.
A procuração post mortem é celebrada para produzir os seus efeitos com a morte do representado, contudo,
na maior parte dos casos, as procurações extinguem-se com a morte do representado ou do representante
(265º/1). Para que isto aconteça há que se clausular isto na procuração, enquanto a irrevogável tem que ter
legitimidade notarial.
Ato praticado em nome e por conta de outra pessoa sem que, para isso, existam os necessários poderes de
representação.
Exemplo: Uma pessoa não tem poderes para representar, ou tem para representar X, mas diz que tem para Y.
o Quando interesse ao representado manter o negócio, pode proceder à retificação do mesmo através de
uma decisão livre;
Contudo, é permitida a ratificação, ou seja, um género de procuração à posteriori porque o negócio pode ser
proveitoso. Assim, o “representado” acolhe o negócio em causa na sua esfera jurídica, tornando o negócio
eficaz, como se o “representante” tivesse, na verdade, legitimidade para exercer poderes de representação.
A ratificação distingue-se da aprovação, pois na aprovação o que se sucede é que o autor da mesma concorda
com os atos perpetuados por outrem, mas na relação entre ambos, enquanto que na ratificação concorda-se
com o negócio para terceiros e com o contrato.
CC: 268º/2 a ratificação está sujeita à forma requerida para a procuração e tem eficácia retroativa, sem
prejuízo dos direitos de terceiros.
Se for negada, o negócio ficará sem efeitos, salvo se outra coisa se inferir do seu próprio teor.
(considera-se negada nº3)
O terceiro pode fixar um prazo para que o representado ratifique o negócio, quando tenha conhecimento da
falta de poderes do representante.
CC: 268º/3 estipula que passado o prazo não é mais possível a ratificação.
No caso de o terceiro não ter conhecimento, pode sempre revogar ou rejeitar o negócio.
Abuso de Representação
CC: 269º
Aqui o que temos é alguém que tem poderes de representação, mas que o exerce de forma contraditória
relativamente à relação subjacente à procuração.
Esta figura surge com o mandato, onde um mandatário era autorizado a representar outrem em atos jurídicos.
Estes poderes advinham de um contrato de mandato, atuando em vista ao cumprimento do contrato.
Após o século IX, separa-se o mandato da procuração, tornando-se esta independente do contrato de mandato,
passando a ser um negócio jurídico autónomo. O representante pode atuar de forma diversa do mandato,
contudo, tendo sempre em conta um contrato.
É verdade que numa larga porção o representante atua conforme o conteúdo estipulado no mandato, mas
também pode não existir uma relação jurídica de base, e existir apenas uma relação de cortesia social, por
favores. Neste caso, estamos perante um simples procurador pois não está inserido numa relação jurídica.
Em princípio, a procuração pode ter por objeto a prática de quaisquer atos, salvo disposição legal em contrário.
Como negócio, deve submeter-se aos preceitos gerais, com relevo para o CC: 280º
CC: 262º/2 A lei determina que a procuração deve ter a forma do negócio jurídico a que se reporta. Contudo,
é frequente recorrer-se à forma escrita para a procuração, devido ao problema da prova. Quando a lei exige
uma forma escrita, esta deve ser respeitada.
Código Notariado: 116º/1 Quando a lei exija escritura pública, a procuração deve revestir uma das seguintes
formas:
• Instrumento público
• Documento escrito e assinado pelo representado com reconhecimento
• Documento autenticado
O código de Seabra manifestava expressamente esta distinção no artigo 1323º, contudo, atualmente
caracterizamos estes diversos tipos de procuração analogicamente através do regime de mandato CC: 1159º
O Código Civil separa a procuração do mandato: a primeira concede poderes de representação, enquanto que
o segundo dá azo a uma prestação de serviço.
A lei pressupõe que na procuração há uma relação entre o representante e o representado, por isso, podia-se
falar numa atribuição puramente abstrata de poderes de representação. Todavia, essa “procuração pura” não
dá ao procurador qualquer título para ele intervir nos negócios do representado. Assim, a efetiva concretização
dos poderes de representação pressupõe um negócio-base, onde estão definidos os termos nos quais esses
poderes são exercidos. Esse negócio-base é o contrato de mandato.
Quando falamos num contrato de trabalho ou em situações jurídicas de administração das sociedades, a
situação é diferente. Em relação aos poderes gerais, a representação resulta da própria situação considerada,
no que toca aos poderes especiais, exige-se um ato explícito do representado.
CC: 263º
O procurador apenas necessita de ter a capacidade de entender e querer exigida pela natureza do negócio que
está a efetuar.
Uma pessoa incapaz de praticar um ato de sua conta pessoal e livremente, pode praticá-lo como representante
de outrem.
CC: 261º/2
Poderes para subestabelecer: procurador original designa novo procurador. Investe outra pessoa nos poderes
de representação que lhe foram atribuídos.
CC: 264º/1
Quando a procuração é assinada o próprio representante deve exercer os poderes que lhe foram investidos e,
em regra geral, não os pode passar a outro, a não ser quando:
• O negócio jurídico assim o preveja
• Originariamente a procuração preveja essa possibilidade
• O representado venha a permitir
CC: 264º/2
O regime supletivo é o da substituição com reserva, ou seja, o procurador inicial não é excluído. Contudo,
caso se estipule previamente o contrário, a substituição pode ser sem reserva, sendo o procurador excluído.
CC: 264º/3
É uma exceção ao regime geral da responsabilidade, pois o procurador só é responsabilizado se tiver agido
com culpa na escolha do substituto ou nas instruções que deu.
CC: 264º/4
Dá a faculdade ao procurador de beneficiar de auxílio na execução da procuração.
Cessação da procuração
Cessação do negócio-base
CC: 265º/3
É irrevogável a procuração conferida no interesse do procurador ou de terceiros, salvo com acordo ou justa
causa.
CC: 267º
O procurador deve entregar ao representado o documento de onde retira a sua legitimidade. Evita-se que
terceiros possam ser enganados quanto à manutenção de poderes de representação.
A PROCURAÇÃO
É um negócio jurídico unilateral, pelo que fica completo com a declaração negocial do
constituinte, esta não carece de aceitação.
A declaração negocial é recipienda, tendo como destinatários o procurador e as pessoas
perante quem os poderes vão ser exercidos.
Pode haver pluralidade ou unidade destes destinatários.
Procuração Expressa
Forma
CC: 262º/1 Está sujeita à forma exigida para a prática dos atos que o procurador, dando-
lhe uso, irá praticar. Ou seja, tem de preencher a forma do ato que irá ser praticado.
Procuração Tácita
Procuração Tolerada
Alguém invoca poderes de representação de outrem (sem que tenham sido expressamente
concebidos) que tem conhecimento e tolera a situação, ou seja, nada faz para impedir a
atitude do “representante”. Cria-se aqui uma situação de aparência de representação e de
confiança para com terceiros.
Procuração Aparente
Alguém invoca poderes de representação de outrem (sem que tenham sido expressamente
concebidos) que não tem conhecimento do ocorrido, contudo, podia e devia ter
conhecimento da atitude do “representante” se tivesse tido a diligência devida.
Vicissitudes
Instruções
O poder de indicar instruções sobre o modo de agir do procurador é potestativo, pelo que
este terá de cumprir o estipulado pelo constituinte.
Podem constar no documento da procuração ou vir separadas, podem ser dadas oralmente
ou por escrito, dependendo da sua relação fundamental.
Modificações
Revogação
CC: 265º
A procuração é livremente revogável pelo constituinte
Quando for conferida no interesse do procurador ou terceiros só poder ser revogada:
• Com acordo do interessado
• Com justa causa
É necessário distinguir:
Interesse como fundamento da procuração, Interesse como critério do exercício representativo, que
que o seu outorgante não deixará de ter pode ser exclusivo do representante ou de terceiros
Extinção
O ónus de comunicação das vicissitudes a terceiros recai em quem quiser opor a terceiros
a violação pelo procurar das vicissitudes.
A comunicação segue o regime do CC: 224º + 225º
CC: 263º
O procurador apenas necessita de ter a capacidade de entender e querer exigida pela
natureza do negócio que está a efetuar.
CC: 264º/1
Quando a procuração é assinada, o próprio representante deve exercer os poderes que lhe
foram investidos e, em regra geral, não os pode passar a outro, a não ser quando:
• O negócio jurídico assim o preveja
• Originariamente a procuração preveja essa possibilidade
• O representado venha a permitir
CC: 264º/2
Poderes para subestabelecer: procurador original designa novo procurador. Investe outra
pessoa nos poderes de representação que lhe foram atribuídos.
Pode ser com reserva, quando o procurador mantém os poderes que tinha, sendo assim,
ambos mantêm em curso os poderes de representação e qualquer um deles os pode
exercer. Quando feito sem reserva, os poderes do procurador inicial cessam.
Determina que, caso nada fique estabelecido, deve ser considerado com reserva.
CC: 264º/3
É uma exceção ao regime geral da responsabilidade, pois o procurador só é
responsabilizado se tiver agido com culpa na escolha do substituto ou nas instruções que
deu.
CC: 264º/4
Dá a faculdade ao procurador de beneficiar de auxílio na execução da procuração.
A procuração não é um verdadeiro negócio abstrato, assim sendo, para produzir os seus efeitos, necessita de
um negócio subjacente, que a complete e lhe dê um sentido. Surge aqui o contrato de mandato.
O mandato é um contrato pelo qual alguém (mandatário) se obriga a praticar atos jurídicos por conta de outrem
(mandante) – praticar atos que visem o interesse de outrem (MC não concorda). CC:1157º
• Alemã
Na representação dá-se um ato unilateral a que se chama procuração, enquanto no mandato temos um contrato
(bilateral) – contudo, podemos ter um mandato com representação, que é acompanhado de procuração.
Exemplo: com procuração, um mandatário que compre um imóvel, transfere-o automaticamente para a esfera
jurídica do mandante.
CC: 1157º O mandato implica a prática de um ou mais atos jurídicos por conta de outra.
CC: 1158º/1
O mandato pode ser oneroso ou gratuito, conforme esteja fora ou dentro do exercício da profissão do
mandatário.
CC: 1158º/2
No caso do mandato oneroso, a retribuição é remetida, sucessivamente, para: o acordo das partes, as tarifas
profissionais, os usos ou os juízos de equidade.
CC:1160º 1ªparte
Quando existe uma pluralidade de mandatários, há um mandato para cada.
Substituição do mandatário
CC: 1165º - CC: 264º/1 e 4 O mandatário pode substituir-se ou ter auxiliares, nos mesmo termos que o
procurador, ou seja:
• Se o mandante permitir
• Se estiver estipulado no mandato
• Se o contrato não excluir
Pluralidade de mandatários
CC: 1166º Ao agir conjuntamente, cada um responde pelos seus atos. Não haverá responsabilidade solidária.
POSIÇÃO DO MANDANTE
Obrigações do mandante
CC: 1167º a)
Fornecer os meios necessários à execução do mandato.
Podem estes ser: adiantamentos em dinheiro, coisas móveis, documentos, autorizações e informações.
Esta ideia é reforçada pois,
CC: 1168º O mandatário pode abster-se de executar o mandato se o mandante não cumprir.
Revogação
CC: 1170º/1 Aparece como uma exceção à regra geral, que só permite revogações por comum acordo. Aqui
é permitida a livre revogação por qualquer das partes, sem ser necessário acordo entre estas, mesmo quando
haja renuncia deste direito ou convenção contratual em contrário.
CC: 1171º Ocorre uma revogação tácita quando o mandante designe outra pessoa para a prática dos atos do
anterior mandatário. Mas esta revogação tácita só produz efeitos quando é conhecida pelo anterior mandatário.
CC: 1172º Quando exercido o direito de livre revogabilidade, em certas situações, fica-se sujeito a indemnizar
a outra parte pelo prejuízo causado:
• Direito à indeminização previamente convencionado
• Estiver estabelecida a irrevogabilidade ou se tiver renunciado o direito a revogar
• Se num mandato oneroso provir do mandante
• Se provier do mandatário sem a antecedência conveniente
Nunca há lugar a indeminização se tiver havido justa causa.
CC: 1173º No caso de haver uma pluralidade de mandatários e o exercício ser comum, a revogação só opera
se todos concordarem.
CC: 1180º Se o mandatário não exercer os poderes de representação, declarando que age em nome do
mandante, os direitos adquiridos e as obrigações assumidas operam na esfera do próprio mandatário.
CC: 1181º O mandatário fica obrigado a transferir os direitos adquiridos para o mandante.
CC: 1182º, 1ª parte O mandante deve igualmente assumir as obrigações contraídas pelo mandatário.
CC: 1182º, 2ª parte Caso tal transmissão não seja possível devido à falta de autorização do terceiro, deve o
mandante fornecer os meios necessários ao mandatário para este cumprir as obrigações.
O Código Civil logrou soluções originais. Aproxima-se do código alemão pela sistemática pandectista e pelo
recurso a “coisa”, e não a bens; conecta-se, todavia, com a linha napoleónica pela manutenção ao conceito
amplo de res.
Coisas ou Bens?
A designação tradicional, desde que se adotou a língua portuguesa nos livros de Direito pátrio, retomada pelos
clássicos da pré-codificação, era a de “coisas”; referia-se, embora e por vezes com um sentido semelhante a
“bens”. A doutrina, quando referia bens, citava as origens Romanas deste termo, acabando por fazer a
distinção correta: o bem traduz a tudo aquilo que não seja pessoa e que tiver uma utilidade, for apto a satisfazer
uma necessidade, realizar uma apetência ou alcançar um fim.
Coisa Bens
Realidade corpóreas Áreas periféricas (regime de bens, bens da herança)
Mais adequada para Coisas incorpóreas (bens imateriais)
traduzir a realidade Conotação valorativa mais ampla do que a mera res (bens de
dos artigos 202º e personalidade, bens humanos)
seguintes Categoria económica oposta aos serviços (bens económicos)
Conceito
José Tavares Noção Lata: coisa é tudo o que não for pessoa, nos termos do CC: 369º Código Seabra
Noção Própria: coisa é tudo o que, não tendo personalidade, possa ser objeto de direitos e
obrigações
Noção Restrita: coisa é o objeto material apropriável, por oposição a direitos ou a bens
imateriais
Pires de Lima propôs a definição hoje inserida no 202º “Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objeto de
relações jurídicas.”
Menezes Cordeiro: tecnicamente inaproveitável: basta ver que as pessoas não são coisas, podendo, não
obstante, ser objeto das tais relações jurídicas, enquanto os direitos reais, sendo absolutos, não implicam
quaisquer relações jurídicas, embora, por definição, se reportem a coisas.
José Alberto Vieira: Diz-se coisa toda a porção delimitada da realidade material ou intelectual exterior à
pessoa humana e sem vida.
O sol não é suscetível de utilização exclusiva, pois todos podem beneficiar e ninguém pode privar os outros
da sua utilização, a sua utilidade é geral e não pode ser individualizado
A coisa não tem, necessariamente natureza económica: o Direito não admite que as pessoas “monetarizem”
ou “economizem” tudo aquilo em que toquem. Independentemente de tais proibições, há coisas que, de facto,
e nas condições reinantes, não têm teor económico.
Há coisas que não são bens, por não terem qualquer utilidade. E há bens que não são coisas, por terem natureza
humana.
Características que podem ser afastadas pela natureza que ponha fora do alcance humano a coisa ou coisas
consideradas ou pelo próprio Direito, que proíba operações jurídicas sobre certas coisas.
A coisa é delimitada: a delimitação corresponde a uma ideia subjacente a coisa. Esta, quando considerada
enquanto tal, evoca sempre uma porção delimitada da realidade, mas com significado social.
A coisa não tem que ser material (ex.: energia = coisa corpórea, não material.
Não são coisas, são ações: são o ato de benfeitorizar a coisa. As ações que originam as
despesas, aquilo de que essas despesas tenham sido feitas.
CC: 1273º + 1255º Levantamento das benfeitorias prossupõe a retirada de algo que tenha
sito feito e que possa ser separado da coisa.
CC: 216º/1 Todas as despesas feitas com o fim de conservar e melhorar objetivamente a
coisa.
CC: 216º/3 Ações feitas sobre a coisa e as respetivas despesas que tenham como fim
evitar o detrimento da coisa, aumentar o sue valor ou recrear o benfeitorizante
Distinção de benfeitorias:
Necessárias: São indispensáveis para evitar a perda, destruição ou deterioração da coisa,
ou seja, aquelas sem as quais a coisa sofreria perdas, destruição ou deterioração.
Não implica que as situações não tenham vindo a acontecer, mas foram tentadas evitar.
Ou seja, as despesas não têm de efetivamente evitar, mas tem de ser realizadas com esse
fim.
Voluptuárias: Não são indispensáveis, nem aumentam o valor da coisa, mas servem
como recreio do benfeitorizante, para prazer e disfruto da coisa.
CC:1273º
O autor das benfeitorias necessárias tem direito a ser indemnizado do respetivo custo,
seja possuir de boa ou má fé.
O autor de benfeitorias úteis pode levantá-las desde que sem detrimento da coisa, sendo
compensado nos termos do enriquecimento sem causa quando não possa levantar, seja
possuir de boa ou má fé.
CC: 1275º No caso das benfeitorias voluptuárias importa distinguir se o seu autor está de
boa ou má fé.
O possuidor de boa fé pode levantar as benfeitorias que puderem sem levantadas sem
detrimento da coisa, mas perde, sem direito a indemnização, as que não puderem.
O possuidor de má fé perde qualquer caso de benfeitorias que tenha feito
CC: 210º/2 “Os negócios jurídicos que têm por objeto a coisa principal não abrangem,
salvo declaração em contrário, as coisas acessórias.”
Exemplo: A venda de uma casa de habitação não incluí, em princípio, a respetiva mobília,
nem os equipamentos que não lhe estejam materialmente ligados de modo permanente,
sendo que abrange apenas o convencionado.
MC: Trata-se de um erro histórico. Desde o Direito Romano, passando pelo Direito
intermédio, pelos Direitos francês e italiano e pelo Direto português clássico que a
autonomização de coisas acessórias e/ou pertenças sempre teve o sentido útil de aplicar,
ainda que de modo mais ou menos matizado, ao acessório, o regime do principal.
Na normalidade da vida social, o negócio relativo à coisa principal deveria abranger as
acessórias ou, pelo menos, aquelas que, de imediato, por todos são reconhecidos como
tais.
Solução: 210º/2 deve ser afeiçoado ao sistema. Perante problemas concretos, nunca
nenhuma regra de aplica sozinha: funciona, sim, o ordenamento no seu todo.
Não nos parece viável estabelecer uma diferença de regime entre coisas acessórias e
pertenças: há uma equiparação de regimes.
o Simples
Continha um único espírito e sobre ela incide um único direito
Exemplo: coisas produzidas pela natureza ou pelo homem;
o Compostas ex contingentibus
Formadas por conjuntos de coisas móveis conectadas devidamente
Exemplo: o telhado composto por telhas
o Composta ex distantibus
Agrupamento de seres animados distintos, todavia com uma alma comum
Exemplo: Rebanho
Esta repetição veio-se a perder na história pelo que as coisas compostas ex contingentibus
foram unidas às coisas simples, pois o tratamento jurídico de ambas é unitário.
Em Portugal gerou-se um conflito interpretativo. Na verdade, a coisa composta deste
artigo não é tratada pelo direito de forma unitária, pelo que é na verdade nada.
Simples
Complexas
JAV: considera que todas as coisas são simples, pois recebem um tratamento jurídico
unitário. Para o Direito não é relevante se uma coisa se pode desdobrar, enquanto existir
por si é uma coisa para o direito.
O conceito de coisa composta reporta-se a uma realidade de coisas unidas para prosseguir
um fim mas onde cada uma mantem uma autonomia.
Preceito é uma fonte de inequívocos
COISAS DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS
CC: 209º
São coisas divisíveis as que podem ser fracionadas sem alteração da sua substância,
diminuição de valor ou prejuízo para o uso a que se destinam. Este critério é dado à data
da análise: não interessa se no futuro poderão ser divisíveis
Não estão em poder do disponente, ou a que este não tem direito, ao tempo da declaração
negocial.
Coisas objetivas ou absolutamente futuras: coisas que não existem, ainda na facticidade,
mas que se espera que venham a surgir.
Coisas subjetivas ou relativamente futuras: coisas que já existem, mas que não se
encontram no património do disponente.
CC: 408º/2 O Direito admite negócios relativos a coisas futuras: nessa altura eles só
produzem efeitos quando a coisa seja adquirida pelo alienante
CC: 893º Os negócios sobre coisas alheias podem ser havidos como sobre coisas futuras,
desde que as partes as considerem enquanto tal.
CC: 880º/1 Quando se celebram negócios sobre coisas futuras, o disponente fica obrigado
às diligencias necessárias para que elas se tornem presentes.
COISAS FUNGÍVEIS E NÃO FUNGÍVEIS
CC: 207º
São fungíveis as coisas que se determinem pelo seu género, qualidade e quantidade, quando constituam objeto
de relações jurídicas.
Às coisas fungíveis contrapor-se-iam as não fungíveis, isto é, coisas individualizadas peças suas
características próprias.
O CC português também diferente do BGB por não limitar esta distinção às coisas móveis, podem as partes
ter interesses atendíveis em considerar fungíveis determinados imóveis.
Construção jurídica de consumo: este ocorre seja perante coisas efémeras, cujo uso envolve a sua destruição,
seja perante coisas duradouras, que se destinem, todavia, a ser alienadas.
As coisas consumíveis são “aquelas cujo uso regular importa a sua destruição ou a sua alienação”, conceito
jurídico, não naturalístico.
Exemplo: Um livro quando lido é uma coisa não consumível, contudo se for utilizado para fazer uma fogueira
é uma coisa consumível.
Destruição: Extinguem-se ao serem consumidas, perdem a sua existência física, mesmo que apenas mudem
o seu estado natural. Exemplo: Combustível
Alineação: São transformadas, modificam-se ou perdem a sua individualidade como coisa. Exemplo: Matérias
primas.
Coisas deterioráveis: coisas que, perante o seu uso, mesmo regrado e regular, vão perdendo qualidades e valor.
Exemplo: vestuário ou automóveis.
A natureza deteriorável duma coisa não faz dela uma coisa consumível.
Coisas “susceptíveis de deterioração”: 1889º/1 a) coisas que, independentemente do seu uso, tenham uma
duração limitada. Exemplo: alimentos.
Problema: CC: 204º/1, “prédio” tem um sentido técnico que não esgota todas as parcelas fixas do planeta.
Surgiriam, assim, “imóveis” não contemplados no artigo 204º: os monumentos, as estradas e as minas, os
poços, os aquedutos, as pontes e os pelourinhos e as autoestradas.
MC e JAV: Perante a dificuldade, há que sustentar que o CC: 204º não é taxativo. Fundamentos:
• Leis avulsas consideram imóveis coisas que, de todo em modo, é impossível reconduzir ao 204º;
• O Direito civil é aplicável ao domínio público onde se multiplicam os imóveis que só com violência
semântica poderiam passar por prédios.
Pergunta-se se o problema da limitação dos moveis ficou resolvido – a resposta será afirmativa, caso a
enumeração em causa se possa considerar taxativa.
CC: 204º/2
Prédio urbano: qualquer edifício incorporado no solo com os terrenos que lhe sirvam de logradouro
Prédio rústico: uma parte delimitada do solo e as construções nele existente que não tenham autonomia
económica
Na doutrina portuguesa podemos apontar as seguintes teorias para distinguir prédios:
Teoria do valor
O prédio com elementos das duas naturezas será rústico ou urbano consoante a parcela que represente
maior valor. Teoria sem base normativa devido às alterações do preceito 1084º, pelo que atualmente não é
defendida.
Teoria do fracionamento
Parte da afetação económica. Simplesmente, quando se apure que quer o terreno, quer a construção têm
autonomia económica opta pelo fracionamento: haveria dois prédios, sendo um rústico e outro urbano.
MC: parece colocar na autonomia privada o poder de fracionar prédios. Não é assim. O fracionamento
dum prédio implica autorizações administrativas, seja das Câmaras Municipais, seja das Direcções-
regionais de Agricultura.
Ninguém, por construir uma casa com autonomia económica numa herdade, consegue, por isso, dois
prédios juridicamente distintos.
JAV: não tem um escopo pratico, pois, um prédio do ponto de vista do regime jurídico tem de ser uma
destas categorias. Não é possível desdobrar em dois ou mais prédios o prédio que é juridicamente
considerado como um. Assim a teoria é meramente teórica e não tem concretização prática.
MC: Temos que ficar pela definição do 204º/2. Há que tomar a teoria da afetação económica em termos
amplos, não se provando factos que permitam uma qualificação como urbano, o prédio é considerado rústico,
noção dogmaticamente operacional.
JAV: Defende que juntamente com a teoria da afetação económica deve-se ter em conta um critério
subsidiário. O prédio que ofereça elementos rústicos e urbanos o direito deve reconduzir-se à base, segundo a
qual todos os prédios são rústicos, é a ação do Homem que os eleva a prédio urbano. Se um prédio oferecer
duvidas quanto à sua classificação devemos adotar a qualificação de prédio rustico.
O prédio é uma porção delimitada da crosta terrestre (o prédio pressupõe uma delimitação artificial, feita pelo
homem, de acordo com regras jurídicas, através de linhas reais ou ideais de separação – caso contrário, todo
o planeta seria um único prédio.)
Superfície Profundidade
O prédio abrange a A atribuição, aos particulares, de acordo com os respetivos prédios, dos
área comportada inerentes espaços aéreos e subterrâneos, obriga o Estado e os próprios
pelas suas particulares incumbidos de certas tarefas a, pelo menos, ter de recorrer
extremas, isto é, por a leis de exceção e a indemnizações para privar os particulares de parte
linhas reais ou dos seus prédios. Alem da defesa dos cidadãos, esta solução tem a
idealmente traçadas vantagem de obrigar à procura das melhores soluções teóricas, para não
no terreno. incomodar as pessoas e prejudicar o ambiente.
JAV: O senhorio do proprietário encontra o seu fim natural onde acaba a possibilidade do domínio humano.
A propriedade pode estender-se até onde é possível a ação humana. O ponto até ao qual o proprietário pode
chegar deve estar incluído no seu domínio, a não ser que a constituição retire esse espaço para fins públicos.
Para a profundidade o problema coloca-se de forma semelhante, admitindo que o limite inferior é
igualmente o limite da possibilidade da ação humana, a não ser que haja uma proibição legal que retire a
ação do proprietário, quando existam águas por exemplo.
Prédios urbanos
São, fundamentalmente, edifícios ou casas.
CC: 204º/2 Exige a “incorporação” no solo: ficam excluídos barracões, tendas ou construções elementares,
meramente assentes no terreno (prédios que só podem ser demolidos, não meramente removidos).
Águas
CC: 204º/1 b)
Considera imóveis as arvores, os arbustos e os frutos naturais, enquanto estiverem ligados ao solo,
Essas três realidades são partes integrantes dos prédios a que pertençam – não têm autonomia. Uma vez
separadas, essas coisas passam a ser móveis.
De uma forma antiquada o legislador, contudo é uma referência errada, pois os direitos não são coisas pelo
que não são nem imóveis nem móveis. Os direitos têm objeto coisas, contudo eles próprios não o são.
Partes integrantes
CC: 204º/3 As partes integrantes não têm autonomia: elas inserem-se no imóvel a que pertencem.
A lei dá primazia à ligação material, por natureza a ligação deve ser material, sendo compatível, em casos
eventuais, com a separabilidade.
Natureza dos negócios que se reportem a partes integrantes: á partida, e uma vez que estas não têm uma
identidade jurídica diferente da coisa a que pertençam, tais negócios não podem eficácia real: não atingem a
titularidade da parte integrante.
O Regime
Uma vez que os móveis constituem a categoria genérica donde, por força da lei, sobressaem os imóveis, o
regime destes últimos é apontado como especialidade.
Os negócios relativos a imóveis estão, em princípio, sujeitos a forma solene e, designadamente, a escritura
pública:
Compra e venda CC: 875º
Doação CC: 947º/1
Sociedade CC: 981º/1
Tenda vitalícia CC: 1239º
Consequências: é um lugar-comum a afirmação de um crescente valor dos móveis, em detrimento dos imóveis.
Não obstante, os imóveis, embora batidos como riqueza absoluta, mantêm, pela natureza das coisas, um
elevado valor. Alem disso, eles correspondem a uma evidente realidade física e sociológica, dotada de
características inconfundíveis e à qual o Direito não pode deixar de dispensar um tratamento diferenciado.
CC: 205º/1 Categoria das coisas móveis é residual: abrange todas as coisas que o Direito
não considera imóveis. Em especial:
• Os objetos materiais
• A energia
• Os móveis sujeitos a matrícula e registo
• Coisas representativas
Bens intelectuais
São coisas incorpóreas, ficando fora da contraposição entre moveis e imóveis; esta
abrange apenas o universo das coisas corpóreas.
No entanto, na medida em que se deve fazer apelo às regras gerais sobre as coisas, para
reger os bens intelectuais, relevam as relativas às coisas móveis: elas congregam as
normas mais gerais relativas aos objetos das situações jurídicas.
Em princípio, os móveis, mesmo os de menor valor, são reconhecíveis pelos seus donos
e pelas pessoas que os circundem. Porém, certos móveis, em função do seu valor
económico, de razoes de polícia ou da facilidade com que mudam de localização,
requerem um esquema público de identificação. Isso consequente através da aposição
duma matrícula e da sujeição do móvel a um registo público. Estão em causa,
fundamentalmente, os automóveis, os navios e as aeronaves.
Energia
A energia não é uma mera criação do espírito humano. Não sendo um “objeto”, a energia
tem existência objetiva. Ela tende hoje a ser considerada como uma coisa corpórea móvel,
tanto pela doutrina como pela jurisprudência.
Coisas representativas
Cartões: a sua posse permite o acesso a diversos bens e coisas, maxime, tratando-se de
cartões bancários, a operações de levantamento, de pagamento e de crédito. Também aqui
uma coisa móvel assume um sentido figurativo e operacional que em muito a transcende.
Coisas corpóreas: coisas que têm existência exterior, sendo percetíveis pelos sentidos.
Coisas incorpóreas: meras criações do espírito.
Apesar de omitida no campo das classificações “oficiais” de coisas, o CC pressupõe a presente classificação,
nomeadamente no CC: 1302º
Correspondem a uma autonomização requerida pela natureza. Enquanto realidades exteriores percetíveis pelos
sentidos, as coisas corpóreas sofrem, ou podem sofrer, a atuação humana direta no sentido mais imediato de
atuação física. O ser humano pode controlá-las, com ou sem base jurídica, excluindo os seus semelhantes de
fazer outro tanto. Em suma: as coisas corpóreas são suscetíveis de posse.
Coisas incorpóreas
As coisas incorpóreas são criações do espírito humano. Elas podem ser comunicadas através da linguagem e
ser incorporadas em documentos, sucessão de sinais que o espírito humano decifrando dá origem à coisa in.
As coisas incorpóreas compreendem três grandes categorias:
Bens intelectuais: Abrangem as obras literárias e artísticas, os inventos e as marcas (criações do espírito
exteriorizadas por qualquer forma)
Prestações: A prestação é uma conduta humana. O Direito pode atribuir a alguém (credor) o poder de exigir
a outrem (devedor) uma certa atuação: a prestação.
Como conduta virtual, a prestação apenas existe em abstrato: só no momento do cumprimento passara a ter
uma consistência no mundo dos factos.
As realidades ou quia jurídicas: Figuras técnicas e sociais.
Atualmente, quer a doutrina, quer a jurisprudência defendem: os suportes seriam coisas corpóreas; a própria
programação em si seria, antes, uma coisa incorpórea. Todavia, seria possível aplicar-se-lhe, quando a
analogia das situações o justificasse e com as adaptações necessárias, o regime das coisas corpóreas. Proteção
jurídica do software = tutela da programação como obra literária (programação assimilada a um bem
intelectual).
FRUTOS
CC: 212º
Fruto ≠ Produto da coisa principal: coisas produzidas aleatoriamente com prejuízo ou detrimento da substância
da coisa.
Frutos Civis: rendas ou interesses que a coisa produz em consequência de uma relação jurídica.
Provêm da lei civil.
CC: 212º/3 São considerados frutos as crias nascidas no seu seio necessárias para a substituição dos animais
que vierem a falecer.
Não deve ser tido como fruto tudo o que for necessário para manter a integridade da coisa frutífera e a sua
capacidade de frutificação.
No caso dos animais, apenas as crias extra, ou seja:
Todas – morreram = Vivas => Vivas – Morreram = Frutos
CC: 408º/2, última parte: nos negócios relativos a frutos naturais, os efeitos só se produzem no momento da
colheita.
CC: 880º/1: na venda de frutos pendentes (estão ainda ligados à coisa produtora), o disponente fica obrigado
às diligências necessárias para que o comprador adquira os frutos vendidos.
CC: 882º: a coisa deve ser entregue no estado em que se encontrava no momento da venda e essa entrega
inclui os frutos pendentes (estão ainda ligados à coisa produtora).
CC: 1270º + 1271º: regime jurídico da posse dos frutos, consoante a boa ou a má fé do possuidor.
Na tradição romana, o animal era considerado coisa. Um juízo semelhante era, na época, feito em relação ao
escravo. Acontece que o escrevo se veio a emancipar e os animais não.
Sabemos que os animais se distinguem das plantas e a evolução do direito faz-se no sentido de uma
diferenciação crescente, procurando atribuir regimes próprios a cada categoria diferente. Assim é natural que
os animais merecem um regime jurídico próprio.
Até há poucos anos não existe na lei civil qualquer norma especificamente destinada a protegê-los.
CC: 1124º Com a exceção dos interesses do dono do animal.
A proteção dos animais constitui, já hoje, um valor estruturante das modernas sociedades pós-industriais, quer
a nível interno, quer a nível internacional.
Proteção civil dos animais à no seu conjunto, a ordem jurídica portuguesa dispõe de múltiplos instrumentos
de tutela dos animais.
Mas não sendo coisas, como classificá-los? Não se vislumbra qualquer intenção legislativa de os equiparar às
pessoas: em sentido jurídico, só o ser racional pode ser destinatário de deveres – e, logo, de direitos.
A exata qualificação dos animais ficou, pois, em aberto, sendo apenas seguro eles desfrutam de proteção.
Embora objetos de direitos, os animais têm uma proteção que faz deles “coisas” cada vez mais diferenciadas.
MC: pode-se falar numa deontologia jurificada. A tutela dos animais integra, pois, plenamente, a cláusula dos
bons costumes e, por essa via, o coração do Direito civil.
Críticas:
Pura conceção do espírito
Parte de uma constatação
Ligação entre património e personalidade inadequada
Teoria Moderna
Paulo Cunha vem apresentar o património como um conjunto de bens unificado por uma
identidade de regime jurídico quanto à responsabilidade por dívidas.
património = massas de responsabilidade.