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Desenvolvimento Humano na Segunda Infância (3 a 6 anos)

Aspectos do Desenvolvimento Físico:

✓ As crianças emagrecem e crescem rapidamente;


✓ Necessitam dormir menos do que antes e tem mais probabilidade de
desenvolve problemas do sono;
✓ Melhoram a capacidade para correr, saltitar, pular e jogar bolas;
✓ Tornam-se também melhores para dar laços em calçados, desenhar com lápis
de cor;
✓ Despejam caixas de cereais em flocos e começam a demonstrar uma
preferencia pela mão direita ou esquerda.
✓ Em média os meninos são mais latos e musculosos que as meninas;
✓ Os sistemas corpóreos internos estão se desenvolvendo e todos os dentes de
leite estão presentes;
✓ A ocorrência de excesso de peso entre as crianças em idade pré-escolar tem
aumentado;
✓ A subnutrição pode afetar todos os aspectos do desenvolvimento físico.

Sono:
✓ Os padrões de sono se alteram durante a segunda infância, como ocorre ao
longo da vida e são afetados por expectativas culturais;
✓ Em idade pré-escolar é normal as crianças retardarem o sono na hora de
dormir;
✓ É normal ocorrer sonambulismos ocasionalmente, pesadelos, mas se persistir
pode indicar distúrbios emocionais;
✓ Urinar na cama desaprende normalmente, sem ajuda especial.

Desenvolvimento Motor:
✓ Progresso quanto à aquisição de habilidades motoras grossas e finas,
desenvolvendo sistemas de ação mais complexos;
✓ Preferência pelo uso de uma das mãos, indicando o uso dos hemisférios
cerebrais;
✓ As fases de reprodução artística que parecem refletir o desenvolvimento
cerebral e a coordenação motora fina (a fase de rabiscar, a fase de traçar
formas, a fase de desenho e a fase pictográfica);

Desenvolvimento Cognitivo: Abordagem Piagetiana do Desenvolvimento Cognitivo


✓ As crianças se encontram na fase pré-operacional, ou seja, apresentam
diversos avanços importantes nos aspectos imaturos do pensamento;
✓ Função simbólica se apresenta na imitação diferida, brincadeiras de faz-de-
conta e na linguagem;
✓ Desenvolvimento simbólico inicial ajuda a criança pré-operacional a fazer
julgamentos mais precisos das relações espaciais (entendimento do conceito
de identidade, categorizar coisas vivas e inanimadas e atender princípios de
contagem);
✓ Menos egocêntrica;
✓ Não compreendem o princípio de conservação, a lógica também está limitada
pelo princípio da irreversibilidade por se concentrarem em estados em vez de
transformações;
✓ A mente da criança se desenvolve notavelmente entre os 3 e 5 anos
(consciência dos seus próprios processos de pensamentos, cognição social,
entendimento de que as pessoas podem ter falsas crenças, capacidade para
lubridiar, capacidade para distinguir entre aparência e realidade e fantasia e
realidade;

Desenvolvimento da memória:
✓ Os modelos de processamento da informação descrevem três etapas da
memória: Codificação (processo pelo qual a informação é preparada para
armazenamento de longo prazo e posterior recuperação), Armazenamento
(retenção da informação na memória para uso futuro) e Recuperação
(processo pelo qual a informação é acessada ou trazida de volta do
armazenamento da memória);
✓ Memória episódica: memória de longo prazo de experiências ou eventos
específicos ligados a um tempo e lugar, inicialmente é temporária ela
desaparece ou é transferida para a Memória genérica (memória que produz
roteiros de rotinas familiares para guiar comportamento);
✓ Memória autobiográfica: memória de eventos específicos da própria vida,
normalmente se inicia aos 3 ou 4 anos de idade, mas até os 2 anos ela pode
estar relacionada à capacidade inicial de auto-reconhecimento e ao
desenvolvimento da linguagem.

Desenvolvimento da linguagem:
✓ O vocabulário aumenta consideravelmente, a gramática e a sintaxe tornam-se
razoavelmente elaboradas;
✓ As crianças tornam-se mais competentes em pragmática (conhecimento prático
necessário para usar a linguagem para propósitos de comunicação);
✓ A interação com adultos podem promover a alfabetização emergente;
✓ Discurso particular: conversar alto consigo mesmo, sem nenhuma intenção de
comunicar-se. O discurso particular é normal e comum, ele pode ajudar na
mudança para auto-regulação e usualmente desaparece aos dez anos.

Desenvolvimento Psicossocial:
✓ Desenvolvimento da Identidade: Autoconceito (a imagem da própria
identidade surge após o primeiro ano de vida, à medida que a criança
desenvolve a autoconsciência) e autodefinição ou autoestima (o conjunto de
características pelas quais a criança descreve a si própria).
✓ Desenvolvimento das emoções: A compreensão das emoções direcionadas
à própria criança e das emoções simultâneas se desenvolve gradualmente;
✓ Segundo Erikson, o conflito de desenvolvimento na segunda infância é o de
iniciativa versus culpa ( o conflito surge do crescente senso de propósito, que
estimula a criança a planejar e executar atividades e as crescentes dores de
consciência que ela pode ter a respeito desses planos).
✓ Identidade de Gênero: a percepção desenvolvida na primeira infância de ser
do sexo masculino ou feminino;
✓ As crianças aprendem os papéis de gênero (comportamentos, interesses,
habilidades e traços de personalidade que uma cultura considera apropriada
para cada sexo, difere para homem e para mulher) bem cedo por meio da
tipificação de gênero (processo de socialização pelo qual a criança ainda
pequena aprende a se apropriar dos papéis de gênero), estereótipos de gênero
(generalizações preconcebidas sobre o comportamento masculino ou
feminino).
✓ Quatro importantes perspectivas sobre o desenvolvimento do gênero são:
Biológica (muitas ou a maior parte das diferenças entre os seres pode ser
atribuídas a diferenças biológicas), Psicanalítica (a criança se identifica com o
genitor do mesmo sexo depois de ter desistido do desejo de possuir o genitor
do outro sexo), Cognitiva (a criança organiza informações sobre o que é
considerado apropriado para um menino ou para uma menina, com base no
que é estabelecido por uma determinada cultura e se comporta de acordo. A
criança faz a separação por gênero, por que a cultura estabelece que o gênero
é um esquema importante) e Socicognitiva (a criança aprende os papéis de
gênero por meio da socialização, os pais, os colegas, a mídia e a cultura
influenciam a tipificação de gênero).

O brincar:

✓ O brincar traz benefícios físicos, cognitivos e psicossociais. As mudanças nos


tipos de brincadeiras em que a criança se envolve e refletem o
desenvolvimento cognitivo e social;
✓ A criança progride cognitivamente dos jogos funcionais aos jogos construtivos,
jogos de faz-de-conta e depois dos jogos formais com regras;
✓ Aspectos cognitivos e sociais do brincar são influenciados pelos ambientes
culturalmente aprovados que os adultos criam para as crianças.

Informação extra e importante

Estágio Pré – Operatório (Jean Piaget)

Para Piaget, é o aparecimento da função simbólica ou semiótica, ou seja, a


manifestação da linguagem que marca a passagem do período sensório-motor para o
pré-operatório.

Nessa concepção, a inteligência é anterior à manifestação da linguagem e por


isso mesmo “não se pode atribuir à linguagem a origem da lógica, que constitui o
núcleo do pensamento racional” (Coll e Gillièron, op.cit.).

Segundo os estudos de Piaget, a linguagem é considerada como uma condição


necessária, mas não suficiente ao desenvolvimento, pois existe um trabalho de
reorganização da ação cognitiva que não é dado pela linguagem, conforme alerta La
Taille (1992). Em uma palavra, isso implica entender que o desenvolvimento da
linguagem depende do desenvolvimento da inteligência.

Porém, conforme demonstram as pesquisas psicogenéticas (La Taille, op.cit.;


Furtado, op.cit., etc.), o aparecimento da linguagem ocasiona modificações
importantes em aspectos cognitivos, afetivos e sociais da criança, uma vez que ela
possibilita as interações interindividuais e fornece, principalmente, a capacidade de
trabalhar com representações para atribuir significados à realidade.

Tanto é assim, que a aceleração do alcance do pensamento neste estágio do


desenvolvimento, é atribuída, em grande parte, às possibilidades de contatos
interindividuais fornecidos pela linguagem.

Contudo, embora o alcance do pensamento apresente transformações


importantes, ele caracteriza-se, ainda, pelo egocentrismo, uma vez que a criança não
concebe uma realidade da qual não faça parte, devido à ausência de esquemas
conceituais e da lógica.

Para citar um exemplo pessoal relacionado à questão, lembro-me muito bem


que me chamava à atenção o fato de, nessa faixa etária, o meu filho dizer coisas do
tipo “o meu carro do meu pai”, sugerindo, portanto, o egocentrismo característico desta
fase do desenvolvimento.

Neste estágio, embora a criança apresente a capacidade de atuar de forma


lógica e coerente (em função da aquisição de esquemas sensorial-motores na fase
anterior) ela apresentará, paradoxalmente, um entendimento da realidade
desequilibrado (em função da ausência de esquemas conceituais), conforme salienta
Rappaport (op.cit.).

Sendo assim as principais características desse estágio são:

✓ A criança demonstra-se egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue


se colocar, abstratamente, no lugar do outro;
✓ Não aceita a idéia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é fase dos “por
quês”);
✓ Já pode agir por simulação, “como se”;
✓ Não discrimina detalhes, sua percepção é global;
✓ Não relaciona os fatos, se deixa levar pela aparência.

Estágio de EricK Erickson

Iniciativa versus Culpa (4 à 5 anos):

Mais ou menos de acordo com a fase Fálica de Freud, esta é a terceira fase de
Erickson e caracteriza-se pela aquisição de novas habilidades ou capacidades na
criança, onde a mesma torna-se capaz de fazer algum planejamento, assumir a
iniciativa para atingir algum objetivo específico, e experimentar novas habilidades
cognitivas, tentando conquistar o mundo que a cerca.

✓ “Com a alfabetização e a ampliação de seu círculo de contatos, a criança


adquire o crescimento intelectual necessário para apurar sua capacidade de
planejamento e realização” (Erickson, 1987, p. 116.).
✓ É um período de muita energia, vigor e ação, onde a criança pode até chegar a
ser agressiva em alguns momentos. Deve-se tomar muito cuidado com a falta
de aconselhamento e disciplina, podendo a criança vir a tornar-se muito
impetuosa e imperativa, mas também com o excesso disso, ao colocar-lhe
muitas limitações ou punições, o que poderá vir a ocasionar culpa além do
necessário e inibir sua criatividade e as interações sociais. É importante
entender que a culpa gerada em algumas ocasiões é necessária para que
possam ser desencadeadas outras funções importantes como a consciência e
o autocontrole. A realização de suas ações é controlada para que se consiga
aprovação social, a partir do momento que a criança está aprendendo a fazer
muitas coisas novas e estas, terão esta aprovação ou não. Este é o ponto
chave desta fase, ou seja, este conflito que marca uma quebra entre duas
partes da personalidade, uma parte que continua sendo criança cheia de
inocência e vontade de experimentar coisas novas e a outra parte, que está se
tornando um adulto, onde se observa constantemente a correção de suas
ações.
✓ “As crianças que aprendem a regular esses impulsos opostos desenvolvem a
“virtude” do propósito, a coragem de imaginar e perseguir metas sem ser
indevidamente inibida pela culpa ou pelo medo de punição” (Erickson, 1982.).
✓ A meta final deste processo seria o alcance de um equilíbrio entre a tendência
de exagerar na competição e na realização de tarefas e a tendência de ser
reprimido e dominado pela culpa. Se esta crise não for desenvolvida
satisfatoriamente, a criança pode se transformar num adulto que está sempre
se esforçando por sucesso ou num adulto muito exibido, convencido de suas
próprias virtudes e intolerante com as diferenças individuais ou mesmo, inibido
em excesso e pouco espontâneo, vindo a sofrer de doenças psicossomáticas e
impotência.
✓ “O despertar de um sentimento de culpa, na mente da criança, poderá ficar
atrelado à sensação de fracasso, o que gera uma ansiedade em torno de
atitudes futuras” (Erickson, 1987, p. 119.).
✓ As virtudes alcançadas, como o propósito e a iniciativa podem ser direcionados
positivamente para a formação da responsabilidade. Erickson alerta também
para o perigo da personificação, ou seja, quando a criança exagera na fantasia
de ter outras personalidades, ao tentar escapar da frustração de ser incapaz de
realizar algumas atividades, fazendo-se ser totalmente diferente do que é por
muitas vezes, podendo vir a se tornar compulsiva por esconder seu verdadeiro
“eu”, nesse caso, ser tendenciado a passar o resto da sua vida
desempenhando “papéis” e afastando-se cada vez mais do contato consigo
mesmo e atrapalhando a formação da sua identidade e personalidade.

Referências

BEE, Helen. O Ciclo Vital. Porto Alegre. Artmed, 1997.

Ensaio de lógica operatória. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1976.

___Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1980.

PAPALIA, D. E. Desenvolvimento Humano, 10 ed. Porto Alegre, 2010.

PIAGET, J.; INHELDER, B. Da lógica da criança à lógica do adolescente. São Paulo:


Pioneira, 1970.

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