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INSTITUTO SUPERIOR DE GESTÃO E EMPREENDEDORISMO GWAZA

MUTHINI

Ficha de apoio da disciplina de introdução ao estudo de direito

Curso: Direito Disciplina: introdução ao estudo de direito

Ano: 1° Turno: Laboral Duração da aula: 90 minutos

1. Conceito de Direito

Como já dizia Aristóteles, o homem é um ser eminentemente social. Ele precisa viver em
sociedade e se relacionar com os seus semelhantes. A convivência social é uma forma de não
viver completamente isolado, é o que proporciona a união entre os grupos humanos, o que sem
dúvida alguma é a característica essencial da nossa espécie.

Porém, essa sociabilidade nem sempre é pacífica. Muitas vezes a convivência em sociedade
gera conflitos, atritos, perturbações, divergências que necessitam de solução, para que seja
restaurada a paz social, para que, pelo menos, haja uma “melhor” convivência entre os homens
em uma dada sociedade.

Viver em sociedade é uma tarefa extremamente difícil, pois o tempo todo precisamos nos
limitar, o tempo todo precisamos restringir a nossa atuação, para evitar interferências às demais
condutas humanas, e o grande responsável pela instituição de tais limitações é o Estado.

A vida em sociedade exige que o Estado constantemente discipline através de normas de


condutas as relações sociais. Os diversos conflitos que surgem entre os indivíduos precisam ser
resolvidos, e através do DIREITO o Estado tem a oportunidade de buscar essa pacificação
social.

O direito pode ser entendido como um conjunto de normas jurídicas coercivas criadas pelo
estado com a finalidade de regualar a sociedade que visam garantir a manutenção da paz social,
que lutam pela busca de uma convivência harmónica e pelo bem estar colectivo. De forma bem
sucinta, o direito simplesmente visa dar a cada um, o que lhe é devido. Ele é o grande
promovedor da justiça social.

A finalidade primordial do direito é restabelecer a harmonia social, interferindo directamente


nas condutas humanas, pondo limites à actuação do homem, seja através da imposição de
obrigações, seja através de punições ou ainda, seja através de restrições.

O Estado, pessoa jurídica de Direito Público, politicamente organizado, cria através do direito,
princípios reguladores da vida em sociedade. Esses princípios foram alocados em dois ramos
do direito. Dentre todas as divisões propostas pela doutrina, a mais importante é aquela que
distingue os “conteúdos” dos ramos do Direito. Assim, a doutrina costuma dividir o Direito:
em Direito Público e Direito Privado.

1.1 Direito e outras ordens normativas

As diversas ordens sociais normativas e sua interligação, ao contrário da ordem natural, em


que os fenómenos ocorrem segundo uma sucessão invariável (ciclo de reprodução animal,
marés, ciclo de água, movimentos da terra, etc.), a ordem social é constituída por uma rede
complexa e mutável de regras provenientes de ordens normativas de diversa índole, a saber:

a) A ordem jurídica - é constituída pelas normas mais relevantes da vida em sociedade e, ao


contrário, das outras ordens normativas, serve-se da coacção como meio de garantir a
observância das suas normas, caso estas não forem acatadas voluntariamente. É, pois, um
conjunto de normas que regulam as relações sociais, impondo-se aos homens de forma
obrigatória e com recurso à coercibilidade

b) A ordem religiosa – tem por função regular as condutas humanas em relação a Deus, com
base na Fé; c) A ordem de trato social – aponta normas que se destinam a permitir uma
convivência agradável entre as pessoas mas que não são propriamente indispensáveis à
subsistência da vida em sociedade. Inclui normas sobre a maneira de estar e se comportar em
acontecimentos sociais (normas de etiqueta e boas maneiras, de cortesia e urbanidade); normas
sobre a forma de vestir (moda), normas típicas de uma profissão (deontologia), normas de uma
determinada região (usos e costumes), etc.;

c) A ordem moral – aponta normas ou regras que tratam de influenciar a consciência e moldar
o comportamento do indivíduo em função daquilo que se considera o Bem e o Mal; As normas
morais visam o indivíduo e não directamente a organização social em que se integram; a ordem
moral tem como sanção a reprovação da formação moral da pessoa ou a má reputação;

2. Características do direito

As características dos direitos fundamentais são elencadas pela doutrina são:

➢ Imprescritibilidade;
➢ Inalienabilidade;
➢ Universalidade;
➢ inviolabilidade;
➢ Complementaridade;
➢ irrenunciabilidade;
➢ relatividade;
➢ Historicidade.

1. Imprescritibilidade

Imprescritibilidade é estado ou condição de imprescritível, ou seja, aquilo que não se pode


prescrever. Portanto, para o direito, a imprescritibilidade significa algo que não pode caducar
com o tempo ou não pode ficar sem efeito em decorrência de um prazo legal.

Os direitos fundamentais são garantias conquistadas ao longo do tempo, sempre como


resultado de algum fato social.

Desse modo, pode-se afirmar que tais garantias não prescrevem. Ou seja, os direitos
fundamentais estarão sempre à disposição e não se perdem pelo decurso do tempo.

2. Inalienabilidade

Segundo o dicionário Michaelis, alienar significa transferir a outrem o domínio de uma coisa,
um bem ou, nesse caso, um direito.

A inalienabilidade como característica dos direitos fundamentais afirma que tais garantias não
podem ser transferidas a outra pessoa.

3. Universalidade

Os direitos fundamentais possuem a característica da universalidade. Isso significa que uma


vez criados, devem ser direccionados a todos, independente de nacionalidade, cor, raça, crença
e convicção política, filosófica ou qualquer outra.
4. Inviolabilidade

Dentre os motivos que fizeram surgir os direitos fundamentais está a limitação do poder estatal.
Dito isso, surge a inviolabilidade, característica que determina a observância de tais direitos
pelas autoridades públicas e a não violação dessas garantias.

5. Efectividade

Não adianta limitar a actuação do Estado e não garantir a efectividade desses direitos. Por esse
motivo, os direitos fundamentais devem ser efectivados pelo Poder Público, garantindo-os por
meio de sua actuação.

6. Complementaridade

Não pode-se interpretar os direitos fundamentais de forma isolada, mas conjunta com todos os
outros, buscando-se alcançar os objectivos elencados pelo constituinte.

7. Irrenunciabilidade

Renúncia, em sentido jurídico, significa abandono de um determinado direito por aquele que o
detém. A irrenunciabilidade significa a não possibilidade de renúncia de tais garantias pelo seu
titular.

8. Relatividade

A relatividade diz que nenhum direito fundamental é absoluto. É que pode haver conflitos entre
eles. Portanto, deve ser avaliado conforme a situação e interesses.

Um bom exemplo dessa característica é agir em legítima defesa. Nesse caso, podemos citar
alguém praticar o crime de homicídio, por exemplo, contra uma pessoa que teria atentado
contra sua vida.

9. Historicidade

Essa característica significa que os direitos fundamentais surgiram a partir de um processo


histórico.

3.Direito natural vs direito positivo

A diferença entre direito natural e direito positivo é que o direito natural independe do Estado
ou de leis. Por isso, é considerado autónomo. Esse tipo de direito é inerente a todo ser humano,
possuindo carácter universal, imutável e atemporal.
O direito positivo, por outro lado, depende de uma manifestação de vontade, seja da sociedade
ou de autoridades. Ele é criado por meio de decisões voluntárias, e deve ser garantido por um
conjunto de leis e normas.

O direito natural, ou jusnaturalismo, é o direito inerente a todo ser humano, desde o


nascimento. Ele não depende do Estado e de nenhuma lei, sendo de carácter universal, imutável
e atemporal. Este direito se baseia nos princípios humanos e na moral.

Já o direito positivo, ou juspositivismo, é um conjunto concreto de normas jurídicas,


construído de forma cultural. Estas normas são garantidas pelo Estado por meio das leis.
Depende de uma manifestação de vontade, seja da sociedade ou de uma autoridade.

Como esse direito se baseia em um ordenamento jurídico, sua validade é temporal e com
base territorial.

Hoje, o direito natural é visto como um conjunto de princípios que os legisladores levam em
consideração na criação de novas leis. Ou seja, para a elaboração do direito positivo. Entre eles
podemos destacar o direito à vida, à igualdade e à liberdade

3.1. Infracções do Direito natural e Direito positivo

O direito positivo determina o direito como um factor, e não somente como um valor. Por isso,
é defendido por uma legislação e a infracção será considerada crime, gerando uma sanção
jurídica de acordo com o acto cometido.

Por outro lado, a transgressão de uma regra vista como direito natural não sofrerá sanção
jurídica, pois não é previsto por lei. Porém, a sociedade que dá valor a esse direito irá repudiar
o acto da pessoa.

3.2 Origem do Direito Natural e do Direito positivo

O direito natural é visto como uma derivação da essência humana, da sua natureza. Essa
natureza pode ser de origem religiosa (as leis de Deus) ou da racionalidade dos seres humanos.

O seu estudo teve origem com os filósofos gregos, que viam esse direito como uma ordem
natural das coisas.

Essa concepção de direito natural foi influenciada pela igreja durante a Idade Média. E os
valores do clero passaram a ser vistos como as leis de Deus. Posteriormente, o pensamento
iluminista classificou o direito natural como a descoberta da razão humana que há por trás da
natureza.

Já o positivismo jurídico, que deu origem ao Direito positivo, surgiu na Europa em meados
do século XIX. Esta corrente defendia que seria considerado Direito apenas aquele emanado
das decisões do Estado. Por isso, deveria ser garantido por meio de leis e normas.

O Direito Natural não é um direito escrito, nem criado pela sociedade e nem formulado pelo
Estado. Como o adjectivo natural indica, é um direito espontâneo que se origina da própria
natureza social do homem e que é revelado pela conjugação da experiência e razão. É
constituído por um conjunto de princípios e não de regras, de carácter universal, eterno e
imutável, como exemplo podemos citar o direito à liberdade e o direito à vida.

Essa corrente pode ser compreendida como uma linha de pensamento que busca explicar a
existência de direitos tão relevantes, importantes e inerentes ao homem que nem precisariam
estar nas leis para serem respeitados. O Direito Natural corresponde então, a uma exigência
perene e imutável de um direito justo representado por um valor superior de justiça. (Nader
,2010)

As diversas formas de expressão jurídica, admitidas pelo sistema adotado pelo Estado,
configuram o direito positivo. O direito positivo é o direito escrito no papel e que compõe o
ordenamento jurídico. Além disso, o positivismo é uma forma de pacificação, controle e
regulamentação da sociedade. Tal papel do direito inspirou a obra de Rousseau em um de seus
célebres escritos: “Contrato Social”.

Tal corrente é a ordem jurídica vigente e obrigatória em determinado lugar e tempo que se
impõe regulando a vida em sociedade. Consiste em normas escritas que regulamentam as
condutas gerais e obrigatórias, onde todos são iguais perante a lei e vale para todos. Os
defensores do positivismo jurídico justificam a importância desse direito partindo da alegação
de que ele seria o único direito legítimo, pois teria no estado a sua fonte de origem. Estaria
representado nas leis, normas e regras que visam criar a base de um sistema jurídico de uma
sociedade. (Nader, 2010)

Dessa forma afirma-se que o Direito Natural não é um direito escrito, é um direito espontâneo
que se origina da própria natureza social do homem e que é revelado pela conjugação da
experiência e razão.
Além disso é constituído por um conjunto de princípios e não de regras, de carácter
universal, eterno e imutável, como exemplo podemos citar o direito à liberdade e o direito à
vida. Entretanto, o direito positivo baseia-se nas diversas formas de expressão jurídica,
admitidas pelo sistema adoptado pelo Estado.

Ademais, o direito positivo é o direito escrito no papel e que compõe o ordenamento jurídico
e tem como função principal a pacificação, controle e regulamentação da sociedade. Portanto,
pode se afirmar que os dois tipos de direito auxiliam no ordenamento jurídico Moçambicano,
visto que o direito natural actualmente engloba-se dentro do direito positivo. Todavia, são
necessários mais estudos e pesquisas específicas (práticas) para corroborar a ideia do
positivismo jurídico actuante como medida eficaz controle social.

3.1. Direito publico vs direito privado

3.1.1.Direito publico

Direito Público regula as relações entre o Estado e os cidadãos, abrangendo áreas como direito
constitucional, administrativo, penal e tributário. Já o Direito Privado trata das relações entre
particulares, como contractos, propriedade, responsabilidade civil e direito das empresas.

Apesar de algumas divergências doutrinárias, as áreas do direito público são as seguintes:

Direito Constitucional

O direito constitucional é a área mais importante para qualquer jurista, por ser a base do nosso
ordenamento jurídico. O conhecimento de direito constitucional deve ser o norte de qualquer
profissional do Direito, seja atuante ou não no direito público.

Isso porque não pode existir norma que afronte a Carta Maior CRM.

Direito Administrativo

O direito administrativo é a área mais pura no que tange ao direito público, porque o Direito
Administrativo é uma área do Direito que trata da relação entre a Administração Pública e os
seus administrados. Para isso, ele aborda questões, como funcionamento de licitações, órgãos,
prestação de serviço público à população e gestão pública.

Direito Financeiro

É um ramo do direito público que actua com receita e despesa pública.

Direito Processual
Definir as normas do processo é exclusividade do Estado, e o direito processual é o ramo
jurídico que reúne os princípios e normas que dispõem sobre actos judiciais tendentes à
aplicação do Direito ao caso concreto.

As normas de direito processual vão nortear a actuação do Estado-Juiz e seus auxiliares, bem
como a actuação do advogado dentro do processo.

Direito Penal

O Estado detém o monopólio do direito de punir. O Direito Penal é o ramo do Direito Público
que define os crimes, estabelece as personalidades correspondentes e dispõe sobre as medidas
de segurança.

Na definição de Mezger: é o conjunto de normas jurídicas que regulam o poder punitivo do


Estado, ligando ao delito, como pressuposto, a pena como consequência.”

Direito Internacional Público

O direito internacional público é o ramo jurídico que disciplina as relações entre os Estados
soberanos e os organismos análogos.

Direito Tributário

O direito tributário consiste no conjunto de leis que regulamentam o arrecadamento dos


tributos, assim como a sua fiscalização. É uma parte jurídica que estabelece suas inclusões
entre o Estado e os contribuintes com relação à arrecadação dos tributos.

3.1.2. Direito privado

Direito Civil

As normas do Direito Civil estão estabelecidas no Código Civil, e se relacionam com os direitos
e deveres em casos de direitos de família e sucessões, obrigações e contractos, propriedade e
património, o estado das pessoas, enfim, tudo que se relaciona com direitos e deveres dos
cidadãos, enquanto membros da sociedade civil.

Direito Empresarial

As normas do Direito Empresarial estão dispostas tanto no Código Civil, Comercial, como em
partes das legislações de Direito Público. É o Direito Empresarial o responsável por organizar
as regras para o funcionamento das actividades comerciais no seu país, em todas as suas
transacções.
Direito do Trabalho

São as normas que regem as relações de trabalho entre o trabalhador e o empregador.

Direito do Consumidor

Essa é a área que se relaciona com o comércio. Em Moçambique, temos a lei que visa proteger
os consumidores de possíveis abusos por parte dos comerciantes.

3.2.Direito subjectivo vs direito objectivo

Direito objectivo e direito subjectivo são duas formas distintas e interligadas de relação com o
ordenamento jurídico.

A diferença entre direito objectivo e direito subjectivo existe pelo fato de que a palavra direito
pode significar tanto o ordenamento jurídico quanto as prerrogativas por ele garantidas. Assim,
o direito objectivo (ordenamento jurídico) confere direitos subjectivos (prerrogativas) aos
indivíduos.

Uma técnica eficiente para distinguir direito objectivo de direito subjectivo é traduzir os
conceitos para o inglês. Direito objectivo equivale à palavra “law” enquanto direito subjectivo
equivale à palavra “right”.

Direito objectivo

O direito objectivo consiste nas previsões gerais e abstractas presentes no ordenamento


jurídico. É todo o conjunto de normas e regras vigentes em um Estado, que devem ser
respeitadas pela sociedade, sob pena de sanções.
Diz-se que o direito objectivo é abstracto, pois é previsto de forma generalizada no
ordenamento jurídico, incidindo de forma indiscriminada sobre todos os indivíduos e situações
que se enquadram nas previsões.

O direito objectivo abrange leis, jurisprudências, costumes e quaisquer fontes do direito


permitidas no ordenamento jurídico. O conceito é denominado em latim pela expressão norma
agendi, que significa “norma de agir”, pois consiste no conjunto de normas que regem uma
sociedade.

Em resumo, a expressão direito objectivo é utilizada quando a palavra direito for sinónimo
de ordenamento jurídico.

Exemplos:

Todos os cidadãos possuem direito à educação e à saúde.

Direito à protecção das relações de consumo.

Alguns autores entendem que o direito objectivo é todo o ordenamento jurídico vigente no
Estado, enquanto direito positivo é só a parte do ordenamento que foi oficialmente legislada e
oriunda da própria Administração Pública.

Direito subjectivo

O direito subjectivo consiste nas prerrogativas conferidas pelo ordenamento jurídico aos
indivíduos. Assim, sempre que uma previsão do direito objectivo ocorre de forma concreta, a
norma incide sobre os indivíduos envolvidos e eles passam a ser titulares de direitos
subjectivos. Portanto, o direito subjectivo é o resultado da incidência de uma norma jurídica a
um fato jurídico.

O direito subjectivo é a faculdade de invocar o ordenamento jurídico em defesa dos próprios


interesses. É tudo que os titulares de direitos podem fazer sem que violem os direitos de outros.
Por esse motivo, a ideia de direito subjectivo é transmitida em latim pela expressão facultas
agendi, que significa “faculdade de agir”.

Em resumo, a expressão direito subjectivo é utilizada quando a palavra direito for sinónimo de
prerrogativa.

Exemplos:

Direito de cobrança de um valor em dívida através de uma acção judicial.


Direito de pedir indemnização por um dano causado pela Administração Pública.

Direito público subjectivo

Chama-se direito público subjectivo a prerrogativa que deve ser exigida do próprio Estado.
Assim, quando um sujeito é titular de um direito como a educação, saneamento básico, etc.,
esse direito é em simultâneo público e subjectivo.

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