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Universidade Católica de Moçambique

Instituto de Educação à Distância

O papel da participação do cidadão na governação local

Estudante: Mercia Manuel Chimene


Código: 708216171

Curso: Administração Pública


Disciplina: Ciência Política e Boa Governação
Ano de frequência: 4º Ano I° Semestre
Turma: A e b
Sob a orientação da Docente:
Álvaro Jaime Fernando Mambara Dembuenda

Quelimane, Maio, 2024

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Índice
1. Introdução............................................................................................................................6

1.1. Objectivo geral.............................................................................................................6

1.2. Objectivos específicos..................................................................................................6

1.3. Metodologia.................................................................................................................6

2. Governação local.................................................................................................................7

2.1. O papel da participação do cidadão na governação local.............................................7

3. Governação e relações de poder na cidade..........................................................................8

4. Modelos de governação local..............................................................................................9

4.1. As políticas públicas locais..........................................................................................9

5. Legislação e políticas existentes que promovem a participação do cidadão na governação


local em Moçambique...............................................................................................................10

6. Práticas e iniciativas de participação do cidadão em diferentes municípios ou cidades,


incluindo os seus benefícios e desafios.....................................................................................11

7. Dinâmica do Envolvimento dos Cidadãos no Município de Xai-Xai...............................13

8. Conclusão..........................................................................................................................15

9. Bibliografia........................................................................................................................16

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1. Introdução

A boa governação local e a efetiva participação dos cidadãos são dois parâmetros orientadores
das democracias modernas. Nos últimos anos temos presenciado importantes modificações na
estrutura e funcionamento dos municípios, com reflexo no modelo de governação local. A
governação local, refere-se à gestão dos assuntos públicos com índices fortes de associação
dos cidadãos e das suas organizações, numa perspetiva mais abrangente de junção do Estado e
cidadãos. A participação dos cidadãos, quer individual ou coletiva, nos assuntos públicos,
circunscreve-se à condição de cidadania que assumirá maior ou menor dimensão, consoante
as regras de funcionamento do Estado ou das entidades que materializam as suas funções.

1.1. Objectivo geral

Abordar sobre o papel da participação do cidadão na governação local

1.2. Objectivos específicos


 Identificar a legislação e políticas existentes que promovem a participação do cidadão
na governação local;
 Analisar práticas e iniciativas de participação do cidadão em diferentes municípios ou
cidades, incluindo os seus benefícios e desafios
1.3. Metodologia

Para a elaboração do presente trabalho recorreu se a consulta de manuais artigos científicos


que já abordaram do assunto.

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2. Governação local

Governação Local é definida como a “formulação e a execução de uma ação coletiva a nível
local, englobando papéis diretos e indiretos de instituições formais de governo local e central,
assim como as funções de normas informais, redes e organizações comunitárias e associações
de bairro na prossecução da ação coletiva, definindo o quadro de interação entre os cidadãos e
este com o Estado na tomada de decisão e na prestação de serviços públicos”(Shah, 2006).

2.1. O papel da participação do cidadão na governação local

A discussão centra-se na ideia de uma cidade mais justa que, para lá das condições materiais e
imateriais que servem de recursos ao desenvolvimento urbano, requer uma governação que
integre ativamente os cidadãos na condução dos seus destinos e da sua gestão. A cidadania é
hoje reconhecida como um pressuposto das liberdades individuais e dos direitos
democráticos, como demonstram os discursos políticos e técnicos nas suas mais diversas
manifestações de intenções. Contudo, persiste um enorme hiato entre os discursos e a prática.
As cidades que encetam iniciativas e projetos para promover formas de cidadania e de
envolvimento público ativo não têm conseguido integrar, de forma efetiva, os cidadãos na sua
gestão. É, em larga medida, neste hiato que reside o fundamento essencial para a perpetuação
das injustiças e desigualdades urbanas e para o menor desenvolvimento das cidades,
particularmente tendo como referência as potencialidades do desenvolvimento local. Apesar
das esperanças depositadas no aumento da autonomia local como fator fundamental de
desenvolvimento, o atual modelo de governação mantém-se fortemente hierarquizado e
predominam práticas decorrentes do modelo representativo que revelam enormes limitações
no que diz respeito à efetiva participação e envolvimento dos cidadãos nas tomadas de
decisão relativas à vida pública. Através de uma reflexão teórica e analítica, com base na
literatura especializada que coloca a participação ativa dos cidadãos no centro das teorias de
planeamento das cidades e dos modelos políticos democráticos, o texto questiona os efeitos da
governação urbana na transformação da democracia, o potencial de emancipação social
através da cidadania e a forma como estes conceitos se materializam na gestão da cidade e na
vida dos cidadãos (Ruivo, 2008).

A participação do cidadão na governação local é essencial para o funcionamento eficaz da


democracia e para o desenvolvimento sustentável das comunidades. Aqui estão alguns dos
principais papéis e benefícios da participação do cidadão:

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Legitimidade democrática: A participação dos cidadãos nas decisões locais confere
legitimidade às políticas e programas implementados pelo governo local, uma vez que
refletem os interesses e necessidades reais da comunidade.

Transparência e responsabilidade: A participação dos cidadãos promove a transparência nos


processos de tomada de decisão, tornando as autoridades locais mais responsáveis perante os
cidadãos. Isso ajuda a prevenir a corrupção e o uso indevido de recursos públicos.

Conhecimento local: Os cidadãos que vivem e trabalham numa comunidade têm um


conhecimento profundo das suas necessidades, desafios e oportunidades. A sua participação
permite que este conhecimento seja integrado nas políticas e projetos locais, tornando-os mais
eficazes e relevantes.

Inclusão e representatividade: A participação do cidadão promove a inclusão de diferentes


grupos e segmentos da sociedade na tomada de decisões, garantindo que os interesses de
todos sejam considerados. Isso é especialmente importante para grupos marginalizados ou
sub-representados, como minorias étnicas, pessoas com deficiência e jovens.

Empoderamento cívico: A participação ativa na governação local fortalece o sentido de


pertença e responsabilidade cívica dos cidadãos, capacitando-os a influenciar o futuro da sua
comunidade e a resolver problemas locais.

Inovação e criatividade: A diversidade de perspetivas e experiências trazida pela


participação dos cidadãos pode estimular a inovação e a criatividade na resolução de
problemas locais, levando a soluções mais eficazes e sustentáveis.

3. Governação e relações de poder na cidade

A discussão sobre as manifestações de poder expressa-se de forma particular nos sistemas de


governação urbana que se caracterizam por relações extremamente complexas, que envolvem
instituições e atores, padrões de interdependência diversos e extensos e ainda na fragmentação
e falta de consensos (Stoker, 1995). O poder da estrutura institucional, dentro dos municípios
e entre municípios é muito fraco, revelando a “falta de uma institucionalização jurídica e
política dos territórios”. Pelo contrário, “o poder de decisão depende excessivamente das
virtudes e do carisma do autarca, travando sistematicamente o desenvolvimento de dinâmicas
locais institucionais” (Ruivo, 2008).

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Acresce que a estrutura representativa da democracia, assente na eleição com base em listas
partidárias fechadas (cuja constituição é frequentemente envolta em polémicas de pagamento
de quotas e de manipulação de estratos vulneráveis, como a de cidadãos na terceira idade ou
de cidadãos que vivem socialmente isolados, em espaços rurais e em condições
socioeconómicas frágeis), promove mandatos incondicionados e cerceia, durante a sua
vigência, a possibilidade de controlo dos eleitos, alimentando, por esta via, a perpetuação de
mandatos pelos mesmos presidentes. A vida política da comunidade é amplamente dominada
pela vida partidária que transfere para as autarquias “as preocupações e os afrontamentos
partidários” (Fernandes, 1992).

4. Modelos de governação local

A organização das atividades da administração pública baseou-se, durante largas décadas, nos
princípios do modelo de organização weberiano cuja estrutura se baseia na divisão vertical do
trabalho e na distribuição da autoridade, concentrando no topo da organização a
responsabilidade por todas as ações. As características evidenciadas pelo modelo burocrático
enfatizam o controlo hierárquico, a continuidade e estabilidade, o sistema de carreira, os
regulamentos internos, a imparcialidade e a conformidade com as normas. Estas
características foram consideradas adequadas à natureza das atividades desenvolvidas pela
administração pública, motivo pelo qual os países ocidentais adotaram este modelo de
organização depois da Segunda Guerra Mundial, (Araújo, 2003).

O modelo hierárquico de organização é aquele que se ajusta aos interesses do legislador. Na


verdade, a coordenação das atividades é feita através da ordem administrativa, de acordo com
uma série de regras através das quais o governo controla a atividade da estrutura
administrativa. A natureza centralizada dos departamentos ministeriais e a sua estrutura
hierárquica permitem o controlo dos recursos e objetivos e a forma como estes devem ser
geridos. A principal vantagem reside na capacidade de gerir fluxos de informação num
sistema centralizado de comunicação. Por outro lado, a sua estabilidade garante a
continuidade da atividade administrativa mesmo em situações de instabilidade política. Este é
outro aspeto importante que está na base da sua utilização na administração pública. Apesar
de algumas críticas apontadas a este modelo, ele respondeu durante um largo período às
necessidades do Estado de bem-estar social, (Araújo,2003).

4.1. As políticas públicas locais

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Os modelos de gestão pública influenciam a abordagem que o governo utiliza para organizar
os recursos e transformá-los em serviços públicos. Os resultados das políticas públicas
dependem, em boa medida, do modelo de gestão adotado e da forma como ele funciona.
Naturalmente que as contingências que estão presentes no ambiente também influenciam a
implementação das políticas públicas e, em última análise, os resultados.

Da necessidade de melhorar a eficiência da administração pública, há problemas complexos


que estão a emergir e que requerem o desenvolvimento de novas capacidades para orientar a
adaptação da gestão pública a um novo modelo de governação o qual deverá estar mais
orientada para as questões estratégicas, numa dimensão sistémica e cultural. A fragmentação
da administração pública teve como consequência a desarticulação das políticas públicas
exigindo a procura de mecanismos de coordenação e de integração. A implementação de
políticas públicas com o recurso ao mercado colocou um conjunto de novas obrigações para o
governo: ele agora tem de assegurar que os mecanismos de mercado funcionam efetiva e
regularmente. Estas tarefas vão para além da imposição de regulamentos ou padrões de troca,
(Araújo, 2007).

5. Legislação e políticas existentes que promovem a participação do cidadão na


governação local em Moçambique

Os discursos acerca da Governança Participativa (GP) surgiram em Moçambique nos finais da


década de 1990 e tornaram-se a marca principal da política e da administração pública no
início dos anos de 2000, período em que as principais experiências de participação pública
foram implementadas. Eles emergiram sucedendo basicamente três cenários que decorreram
de forma interligada e que marcaram o contexto político e econômico nacional nos anos
antecedentes.

Primeiro, surgiram como complemento das transformações políticas e econômicas intensas


que foram introduzidas pela Constituição da República de Moçambique (CRM) de 1990. A
constituição produziu uma reforma do Estado que modificou o sistema político de poder
popular socialista e o regime de governo de partido único dirigido pela Frente de Libertação
de Moçambique (FRELIMO), que haviam sido instaurados em 1975 quando do alcance da
independência nacional do regime colonial português.

A CRM de 1990 introduziu um novo sistema político, fundamentado nos princípios da


democracia pluripartidária, e alterou o modelo de planejamento centralizado da economia,

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estabelecendo um sistema de livre concorrência. Além disso, a constituição introduziu várias
reformas no caráter centralizador da administração pública de então, com a descentralização
para os governos provinciais e distritais de maiores poderes decisórios e competências
próprias para a implementação das políticas públicas.

Segundo, emergiram com a estabilização política e social promovida pela assinatura do


Acordo Geral de Paz (AGP) de 1992, que pôs fim ao conflito armado iniciado em 1976,
opondo o Governo de Moçambique (dirigido pela FRELIMO) ao Movimento de Resistência
Nacional (RENAMO), uma força de oposição ao regime instituído na época e reivindicava a
partilha do poder político. O ambiente de paz vivenciado no país decorrente do fim do
conflito consequentemente permitiu a reorganização das estruturas do aparelho estatal e da
sua administração, possibilitando ampliar a presença da representação do Estado e de suas
instituições no território nacional.

A partir da segunda metade da década de noventa, influenciadas pelo processo de


reorganização administrativa que decorria, foram introduzidas no setor público moçambicano
novas formas de governança. O foco principal foi a introdução de modelos e mecanismos de
gestão fundamentados na gestão por resultados, no conceito de accountability e em arranjos
de participação da sociedade, visando à melhoria do desempenho dos serviços públicos e à
inclusão de cidadãos comuns e grupos de interesses como atores políticos importantes nas
decisões administrativas.

Terceiro, surgiram como resultado da emenda constitucional de 1996 e implementação da


descentralização do tipo municipalização. A emenda constitucional criou o Poder Local e
institucionalizou a descentralização na escala local municipal, possibilitando o exercício e
partilha do poder político. Ela alterou a estrutura político-administrativa do Estado, que
passou a ser constituída por três níveis de governo: os Órgãos Centrais (OC), representados
pelos ministérios e agências nacionais, os Órgãos Locais do Estado (OLE), representados
pelos governos provinciais e governos distritais, e os Órgãos do Poder Local (OPL),
representados pelos municípios.

6. Práticas e iniciativas de participação do cidadão em diferentes municípios ou


cidades, incluindo os seus benefícios e desafios

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Vale destacar que, no âmbito das transformações políticas e institucionais verificadas nesse
período, foi aprovada a Lei n° 2/1997, de 18 de fevereiro, por meio da qual foram criados no
país os primeiros 33 municípios, e desde 1998 são eleitos periodicamente os respectivos
governos municipais. Atualmente existem em Moçambique 53 municípios. Na organização
administrativa do país, os municípios correspondem às circunscrições dos territórios das
cidades e vilas.

Podemos afirmar em termos gerais que as ideias sobre a GP se tornaram predominantes no


contexto dos esforços de construção do Estado democrático, do fortalecimento da cidadania
ativa e da criação de mecanismos para a gestão democrática na escala local. Elas surgiram no
quadro do estabelecimento de um sistema democrático participativo orientado pelo ideal
político que se fundamenta na interação entre o poder público e a sociedade. Após a
implementação da Estratégia Global de Reforma do Sector Público (2001-2011), as propostas
da GP se tornaram num dos pressupostos básicos da promoção de práticas de inclusão
democrática no país.

A GP é definida segundo Speer (2012, p. 2379) como um conjunto de arranjos institucionais


que têm por objetivo facilitar a participação de cidadãos comuns no processo das políticas
públicas. Eles envolvem os cidadãos, por exemplo, na tomada de decisões sobre a distribuição
dos fundos públicos entre as comunidades e o desenho de políticas públicas, bem como a
avaliação e monitoramento dos gastos do governo.

As práticas de GP em Moçambique têm sido apresentadas com o objetivo de aperfeiçoar e


consolidar a democracia (Canhanga, 2009; Nguenha, 2009) e como um conjunto de princípios
e instrumentos de gestão (Forquilha & Orre, 2012; Nylen, 2014) cuja finalidade é fomentar,
de modo abrangente, a participação dos diferentes atores políticos e sociais na administração
pública. A ideia central é o estabelecimento, nos OPL (municípios) e OLE (distritos), de
mecanismos participativos embasados em novas estruturas de interação e relacionamento
entre o governo e a sociedade que possibilitem a melhoria da atuação da administração
pública e da prestação de serviços públicos.

Especificamente os OPL têm como objetivos organizar a participação dos cidadãos na solução
dos problemas próprios da sua comunidade e promover o desenvolvimento local. Eles buscam
ampliar a cidadania e conscientizar a sociedade para tomar parte nos assuntos políticos que se
sucedem nesse nível. Portanto, o processo de participação pública visa colocar o cidadão
como um ator indispensável na tomada de decisões acerca dos assuntos que são considerados
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serem de seu interesse e permitir uma maior interdependência e articulação entre os diferentes
atores sociais, de tal modo que seja garantida uma maior democratização da administração
pública.

7. Dinâmica do Envolvimento dos Cidadãos no Município de Xai-Xai

O processo de envolvimento dos cidadãos na gestão municipal é realizado por meio de


consultas comunitárias baseadas nos CLs que remetem-nos às iniciativas de participação
popular e à promoção do protagonismo da sociedade civil no âmbito do Diploma Ministerial
nº 67/2009, ao passo que as práticas de governação aberta e de articulação entre gestores
municipais e comunidade são na verdade iniciativas das autoridades administrativas
municipais (não formalmente regulamentadas) utilizadas como mecanismos que auxiliam o
exercício da atividade de gestão e da implementação das ações governamentais. São todas de
carácter consultivo, exercendo a responsabilidade de emitir opiniões e apreciar determinados
assuntos que são apresentados para o aconselhamento, portanto não são de cunho deliberativo.

O estabelecimento dos CLs está amparado no dispositivo normativo citado acima, e a escolha
dos seus representantes segue regras específicas para cada grupo de atores ou segmento
representado. Contudo, alguns atores importantes, como as autoridades tradicionais e os
dirigentes das várias unidades territoriais administrativas do município, já estão previamente
inseridos (por determinação da legislação) na composição dos conselhos que são constituídos.

Nesses termos, o CL da cidade de Xai-Xai é composto por 50 membros ou conselheiros.


Desse número, 41 são personalidades provenientes dos fóruns comunitários que são
constituídos nos quatro postos administrativos existentes no município. Eles são escolhidos
dentre os representantes dos comitês e grupos sociais locais que integram esses fóruns ao
nível dos diferentes bairros da cidade que compõem cada uma dessas quatro unidades
territoriais administrativas do município.

Participam também como membros do conselho o autarca (o prefeito), que é ao mesmo tempo
o presidente do órgão e os 4 representantes do poder público municipal oriundos dos postos
administrativos que integram o CL na qualidade de dirigentes dessas unidades territoriais.
Integram igualmente o conselho 2 autoridades comunitárias, que são escolhidas e legitimadas
pela população de acordo com os costumes da organização social e política tradicional da
comunidade e formalmente reconhecidas pelo poder público. As restantes 2 personalidades
que completam a composição do conselho são indicadas pelo executivo municipal.

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Portanto, de acordo com essa disposição, 34% são representantes da população que exercem
autoridade sobre as respectivas comunidades (os secretários de bairro); 4% são
individualidades que exercem poder no âmbito das instituições políticas tradicionais nas
comunidades (autoridades comunitárias, reconhecidas pelo governo municipal); 44% são
representantes de associações de comerciantes, agricultores, pecuaristas e de transportes
coletivos (sociedade civil); 6% são individualidades que exercem liderança religiosa na cidade
(autoridades religiosas) e, por fim, 12% são representantes designados pelo executivo
municipal (chefes de postos administrativos, diretores que exercem cargos governamentais e o
autarca).

O conselho é constituído por 64% de homens e 36% de mulheres, o que mostra uma
organização que respeita a cota de 30% estabelecida pela legislação que regulamenta a criação
das arenas de participação pública, como o mínimo a ser observado para a integração do
gênero nos CLs.

De acordo com os dados da pesquisa disponibilizados nas atas referentes ao ano de 2009
(período da constituição do conselho e inicio do 1° mandato), constatamos que a escolha dos
representantes do CLs decorreu em reuniões públicas e por indicação das autoridades
municipais. Nesse período, participaram na escolha dos membros dos CLs 1.784 cidadãos
munícipes, considerando as quatro reuniões constitutivas realizadas ao nível dos quatro postos
administrativos existentes. Consta que houve divulgação da realização dos encontros, não
sendo possível, no entanto, avaliar o grau, o alcance e os canais de publicização utilizados
para o efeito. Vale destacar que o número de participantes na escolha dos membros do
conselho é de um universo populacional de 124.216 habitantes da cidade.

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8. Conclusão

No presente trabalho conclui que a participação do cidadão na governação local desempenha


um papel fundamental na promoção da democracia, transparência, responsabilidade e
desenvolvimento sustentável das comunidades. Ao envolver os cidadãos nos processos de
tomada de decisão, as autoridades locais podem beneficiar do conhecimento local, da
diversidade de perspetivas e da criatividade dos seus residentes, resultando em políticas e
programas mais eficazes e inclusivos. Além disso, a participação dos cidadãos fortalece o
vínculo entre os governos locais e as comunidades que servem, promovendo um sentido de
pertença, responsabilidade cívica e confiança nas instituições democráticas. Em última
análise, ao investir na participação ativa dos cidadãos, as comunidades podem construir um
futuro mais justo, equitativo e sustentável para todos os seus membros.

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9. Bibliografia

Araújo Joaquim Filipe Ferraz Esteves (2003). “ A governação local e os novos desafios”.
Universidade do Minho.

Canhanga, N. (2009). Os desafios da descentralização e a dinâmica da planificação


participativa na configuração de agendas políticas locais. In: Brito, L. et al. (Eds.). Cidadania
e Governação em Moçambique.

Forquilha, S. & Oree, (2012). A. Transformações sem mudanças? Os conselhos locais e


o desafio da institucionalização democrática em Moçambique. In: Brito, L. et al.
(Eds.). Desafio para Moçambique 2011.

Nguenha, E. (2009). Governação municipal democrática em Moçambique: alguns aspectos


importantes para o desenho e implementação de modelos do orçamento participativo. In: II
Conferência do IESE sobre Dinâmicas da pobreza e padrões de acumulação em
Moçambique.

Fernandes, Maria José (2007). “Contribuição da informação contabilística para a tomada de


decisão na administração pública autárquica: controlo do endividamento líquido”.

Ruivo, Fernando (1990). “ Local e política em Portugal: o poder local na mediação entre o
centro e periferia”.

Shah, Anwar. (2006). Local Governance in developing countries. Washington, DC: World
Bank Publications.

Speer, J. (2012). Participatory governance reform: A good strategy for increasing government
responsiveness and improving public services?. World Development.

Stoker, Gerry. (1998). Governance as theory: five propositions. International Social Science
Journal

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