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Capítulo II: FONTES DE DIREITO

2.1. Noção e modalidades.

Por fonte se entende por origem, fonte, um lugar onde sai alguma coisa,
manancial entre outros significados.
Em sentido jurídico – formal, significa um modo de produção ou revelação
de normas jurídicas1.
Esta definição encerra em si dois segmentos diferentes: i) os modos de
formação ou produção e ii) os modos de revelação da vontade jurídica. Os
primeiros coincidem com as fontes do direito em sentido imediato ou
directo; os segundos dizem respeito às fontes do direito em sentido mediato
ou indirecto2.
As Fontes de Direito podem ser: Imediatas, segundo o nº 1, do artigo 1º C.C.,
as leis e as normas corporativas, e aqui estudaremos simplesmente as leis,
mas vale apenas aqui dizer que as normas corporativas, segundo o nº 2, in
fine, do artigo 1º, as regras ditadas pelos organismos representativos das
diferentes categorias morais, culturais, económicas ou profissionais, no
domínio das suas atribuições, bem como os respectivos estatutos e
regulamentos internos. e mediatas, o costume, a jurisprudências, a doutrina,
os tratados e acordos internacionais.
As fontes imediatas são aquelas que de só de per si já são direito, ou seja,
basta ser para ser direito enquanto as mediatas, para serem direito necessitam
de passar por um procedimento específico.

1
Ibidem, pág. 351.
2
A.P. PEREIRA, Op. Cit. Pág.135.
2.2. Fontes Imediatas do Direito:
2.2.1. A Lei.
2.2.1.1. Os diferentes sentidos da Lei.

À luz do nº 2, do artigo 1º C.C., as leis são todas as disposições genéricas


provindas dos órgãos estaduais competentes.
Mas a lei pode ser, também, ser definida em vários sentidos:
• Amplo: quando se refere a qualquer norma jurídica que serve para
regular qualquer situação ou realidade;
• Restrito: quando se refere a normas provenientes da Assembleia
Nacional que é o órgão legislativo;
• Material: é quando se refere a qualquer normativo proveniente de
qualquer órgão estadual mesmo que não tenha poder legislativo;
• Formal, simplesmente a norma proveniente da Assembleia Nacional.

2.2.1.2. O acto legiferário.


O acto legiferário corresponde as modalidades de se obter uma lei, ou seja,
diz respeito ao processo de produção da lei.
Eis os procedimentos para a obtenção de uma lei:
• Iniciativa legislativa:
Têm iniciativa legislativa, segundo o nº 1, do artigo 167º CRA, os deputados,
os grupos parlamentares e o Presidente da República. Quando a iniciativa é
dos deputados ou dos grupos parlamentares a mesma se reveste de projecto
de lei, nº 3, do artigo 167º CRA enquanto se a iniciativa for do Presidente da
república toma a forma de proposta de lei, nº 4, do mesmo artigo.
Mas, segundo o nº 5, do artigo em referência, podem os cidadãos organizados
em grupos e organizações representativas apresentar à Assembleia Nacional
propostas de projectos de iniciativa legislativa, nos termos a definir por lei
que ainda não temos.
Quantos as matérias a legislar são as que constam dos artigos 164º e 165º
CRA. As do artigo 164º são da competência absoluta da Assembleia
Nacional enquanto as do artigo 165º são de competência relativa podendo o
Presidente da República legislar com autorização da Assembleia Nacional e
de acordo com a Lei de Autorização legislativa, nº 1, do artigo 170º.
Não podem ser apresentados projectos e propostas de leis que envolvam, no
ano fiscal em curso, aumento das despesas ou diminuição das receitas do
Estado fixadas no Orçamento, salvo as leis de revisão do Orçamento Geral
do Estado, nº 6, do artigo 167º CRA. É a chamada lei do travão.

• Discussão e aprovação:
Depois de se ter o projecto ou a proposta de lei vai – se para o debate. O
primeiro debate é feito na generalidade e se passar vai para a especialidade
onde, “se presume”, estarem ali deputados com mais-valia sobre a matéria
em discussão. Nestas comissões de especialidades o projecto é discutido
artigo por artigo para que se possa ter uma Lei mais de interesse comum.
Mas também podem participar aqui os representantes do Poder executivo,
artigo 166º, do Regimento da Assembleia Nacional. Depois de se aprovar na
especialidade o diploma vai para a globalidade para a votação final.
As deliberações dos diplomas devem ser tomadas por maioria absoluta dos
deputados presentes, desde que superior a mais de metade dos deputados,
artigo 159º CRA.
As propostas de lei obedecem à uma Lei de Autorização Legislativa e estas
devem definir o seu objecto, sentido, extensão e duração, nº 1, do artigo 170º
CRA e não podem ser utilizadas mais do que uma vez, nº 2, do mesmo artigo.
As Leis de Autorização Legislativa caducam com o termo do prazo e termo
da legislatura e do mandato do Presidente da República, nº 2, enquanto se
tratar de matéria orçamental só caducam no termo do ano fiscal a que
respeita, nº 4, do referido artigo.
No entanto, 10 deputados, por requerimento, podem solicitar a apreciação
dos actos legislativos do Executivo para a sua cessação ou modificação, nºs
1 e 2 do artigo 171º CRA. Estes pedidos gozam de prioridade e caduca se, a
Assembleia Nacional não se pronunciar sobre ela ou, tendo deliberado, não
tiver votado a respectiva lei até ao termo da sessão legislativa em curso, nº
6, do mesmo artigo.
• Promulgação:
A Promulgação é um acto solene em que o Presidente da República dá por
existência de uma nova lei.
O Presidente da República é quem tem competência para promulgar, r), 119º
CRA, e quando recebe o diploma, segundo o nº 1, do artigo 124º CRA, tem
30 (trinta) dias para faze – lo. Mas, o Presidente pode antes de promulgar
enviar ao tribunal Constitucional para que este possa sanar as possíveis
inconstitucionalidades, segundo o nº 3, do artigo 124º e nº1 do artigo 228º
CRA. É a chamada fiscalização preventiva. E o tribunal, segundo o nº 4, do
artigo 228º CRA tem 45 (quarenta e cinco) dias para se pronunciar, salvo em
casos de emergências.
Por outro lado, o Presidente da República pode vetar o diploma solicitando,
de forma fundamentada, à Assembleia Nacional uma nova apreciação do
diploma ou de algumas das suas normas, nº 2, artigo 124º CRA e depois de
reapreciada, e com 2/3 dos deputados terem aprovado o diploma, o
Presidente tem 15 (quinze) dias para promulgar, nº 3, do artigo 124º CRA.
A consequência jurídica da não promulgação da lei é a inexistência da lei.

• Publicação:
É o acto pelo qual os cidadãos ficam a saber da existência de uma nova lei
para a sociedade.
A publicação da nova lei é feita no Jornal Oficial do Estado que é o Diário
da República, artigos 125º e 166º CRA em que detentora a Imprensa
Nacional.
A consequência jurídica da não publicação da lei é a sua ineficácia.

• Entrada em Vigor:
É o momento em que a lei começa a ser aplicada e a produzir os seus efeitos
jurídicos.
Notar que entre a publicação e a entra em vigor, muitas das vezes, existe a
vacatio legis, que é o momento em que os cidadãos vão se familiarizando
com a nova lei. É o momento é que os cidadãos vão conhecendo ao pormenor
a nova lei.
Quando a nova lei não traz o seu tempo de vacatio legis, segundo o nº 2, do
artigo 4º, da Lei nº 7/14, de 26 de Maio, Lei Sobre Publicações Oficiais e
Formulários Legais:

a) Na Província de Luanda, entra em vigor no 4º dia apos a sua


publicação;
b) Nas outras províncias, no 15º dia apos a sua publicação;
c) No estrangeiro, no 30º dia apos a sua publicação.

2.2.1.3. A hierarquia das Leis.

Segundo Freitas do Amaral3, hierarquia das Leis se expõe da seguinte


maneira: i) a Constituição, ii) as leis reforçadas, iii) as leis simples e iv) os
regulamentos administrativos.

3
D.F.DO AMARAL, Op. Cit. Pág. 563.
As Leis Reforçadas são as que, pela sua função dentro do sistema jurídico,
estão dotados de uma posição de “proeminência – funcional e não
hierárquica relativamente a outros actos legislativos” de tal modo que mesmo
provindas da própria Assembleia Nacional não podem ser revogadas. É uma
espécie de afastamento da regra geral de que leis posteriores revogam leis
anteriores.

Leis de valor reforçado são leis que se sobrepõem as outras leis, mesmo
provindo do Parlamento por terem uma força formal sobre todas as leis
ordinárias; são uma espécie de leis de dignidade intermédia entre a
Constituição e as leis normais da República.

Temos como lei reforça ou lei de valor reforçado, a título de exemplo:


leis de autorização legislativa, as quais os Decretos-Presidenciais devem
obedecer sob pena de ilegalidade; Leis de Base, que definem os regimes
jurídicos de determinada matéria ou assuntos que se sobrepõem aos decretos
de desenvolvimentos dessas matérias;
a lei sobre o regime do estado de sítio e estado de emergência que vincula as
respectivas declarações.

As Leis simples são as verdadeiras Leis, provenientes da Assembleia


Nacional e os Decretos Presidenciais. Ficam também incluso os tratados
internacionais neste patamar.

Os regulamentos administrativos são normas jurídicas emanadas por uma


autoridade administrativa no exercício do poder administrativo4.

4
C. FEIJÓ e C. PACA, Direito Administrativo, pág. 353.
Para Freitas do Amaral5, com as devidas adaptações, se duas leis estão em
relação de paridade, qualquer delas pode sobrepor – se à outra e revogá-la.
Por exemplo: uma Lei pode revogar um Decreto Presidencial e vice-versa; o
regulamento posterior pode revogar o anterior. Por outro lado, em relação a
hierarquia, só a Lei superior pode revogar a inferior (lex superior derogat
legi inferior). Esta, não só não pode revogar, como deve acata – la, sob pena
de constituir um acto ilícito e torna – se inválida (nula ou anulável) ou
ineficaz (não produz efeitos)

Ainda, por força do nº 1, artigo 7º C.C., a lei nova revoga a lei antiga (lex
posterior derogat legi priori; já o nº 3, do mesmo artigo, a lei geral não
revoga a lei especial (lex specialis derogat legi generali, excepto se outra for
a intenção inequívoca do legislador.

5
D.F.DO AMARAL, Op. Cit. Págs. 563 e 564.

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