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Administracao Autarquica
Administracao Autarquica
FACULDADE DE DIREITO
Ernestina Manuel
Idalina Castro
Docente
Nampula
2019
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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
FACULDADE DE DIREITO
Ernestina Manuel
Idalina Castro
Nampula
2019
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Introdução
A Autarquia Local como pessoa colectiva pública, não pode materializar os seus fins sem o
uso de alguns meios, sejam eles humanos, financeiros e patrimoniais, dai que neste trabalho
irá se delimitar qual o domínio público das autarquias, e consequentemente quais as condições
e casos em que esta pode acorrer aos empréstimos para cobrir as suas despesas e realizar as
atribuições que lhes são concedidas. A primeira parte do trabalho, faz-se-a um breve
enquadramento do surgimento das autarquias locais em Moçambique, seguindo com a
discussão sobre os desafios que os líderes comunitários devem enfrentar, os Municípios, os
Munícipes e a sociedade no processo de tomada de decisão.
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1.Desafios do processo de Autarcizaçâo em Moçambique
Segundo Simione et al (2018), com a aprovação da lei que criava os distritos municipais, em
1994 ocorrem as primeiras eleições multipartidárias, a lei que cria os distritos municipais é
revogada, houve emenda constitucional em 1996 e em 1997 foi aprovada a lei nº2/97 de 18 de
Fevereiro, que cria o quadro jurídico para a implantação de autárquicas locais.
Embora aprovada a lei que criará as autarquias locais, esta institucionalizou-se em 1998, com
a realização das primeiras eleições autárquicas que apenas envolviam 33 autarquias.
Segundo Amaral (1998) “onde quer que haja autarquias locais, enquanto pessoas colectivas
diferentes do Estado, e dele juridicamente separado, poderá dizer-se que existe
descentralização em sentido jurídico” (p.422).
Nos termos do nº2 do artigo 271 da CRM, as autarquias locais são pessoas colectivas
públicas, dotadas de órgãos representativos próprios que visam a prossecução dos interesses
públicos das respectivas populações, sem prejuízo dos interesses nacionais e da participação
do Estado.
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Segundo Amaral (1998) “ as autarquias locais são pessoas colectivas de população e territorial
correspondente ao agregado de residentes em diversas circunscrições do território nacional, e
que asseguram a prossecução dos interesses comuns resultantes da vizinhança” (p.418).
O nº2 do artigo 26 da lei nº6/2018 de 3 de Agosto, consagra que no desempenho das suas
actividades, os órgãos das autarquias locais podem auscultar as opiniões e sugestões das
autoridades tradicionais reconhecidas pelas comunidades como tais, de modo a coordenar
com elas a realização de actividades que visem a satisfação das necessidades específicas das
referidas comunidades.
No contexto Moçambicano, nos termos do artigo 104 do decreto 11/2005, a comunidade local
é o conjunto de população e pessoas colectivas compreendidas numa determinada organização
territorial, agrupando famílias, que visam a salvaguarda de interesses comuns, tais como a
protecção de áreas habitacionais, áreas agrícolas, quer sejam cultivadas ou em pousio.
O decreto acima citado estabelece direitos e deveres das autoridades comunitárias nos artigos
106, 107 e 108, sendo que o nª 2 do artigo 108, estabelece que estas são consultadas nas
questões fundamentais que afectem a vida e o bem-estar da população e o desenvolvimento
integrado e harmonioso das condições de vida da comunidade local.
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sentido, ele torna-se imprescindível para o processo de interacção do líder
comunitário com o desenvolvimento local (comissão senado do futuro, 2018,p.1).
Segundo Borges & Pinheiro (2012), o líder comunitário deverá, praticar junto com a
comunidade, as seguintes acções:
Segundo Galli (2003), citado por Weimer & Carrilho (2017, p.194), Os líderes tradicionais
muitas vezes conhecem com alguma precisão os limites, os recursos e a história das suas
terras e territórios, incluindo as circunstâncias da sua ocupação, contestações e mudanças,
além dos papéis e funções tradicionais, eles também desempenham um papel de facilitação
administrativa na emissão de documentos para assuntos públicos e até privados.
Os líderes locais podem ter uma significativa capacidade de moldar a vida das suas
comunidades, particularmente através dos processos de consulta consagrados em várias leis:
Segundo Santos (citado por Dias, 2015, p.45) Com o poder local coincide a melhor
democracia, porque é uma democracia de proximidade, em contraponto da democracia de
distanciamento, quando não de alheamento, próprios da democracia representativa. Com o
poder local coincide a melhor forma de aproximar os eleitos dos eleitores, porque
reciprocamente se conhecem, se influenciam e se esclarecem.
O grande desafio para os Municípios, nos próximos anos, será, por um lado, aumentar a
arrecadação tirando partido de todo o potencial de receitas e, por outro, mobilizar outros
recursos para fazer face aos avultados investimentos, isto é:
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As autarquias deverão concentrar-se em alcançar sucesso nas áreas que são
claramente de jurisdição municipal, com o apoio de outros actores. A prioridade
deve ser dada à provisão dos bens e serviços locais mais simples, deixando para
outros níveis do governo e empresas fornecedoras de serviços os mais complexos,
tais como alguns aspectos de saúde e educação, para os quais lhes falta capacidade.
Além disso, os Municípios devem concentrar-se principalmente na provisão de
serviços, para os quais têm mandatos claros, receitas suficientes e capacidade de
executar (Desenvolvimento Municipal, 2009, p.17).
Assegurar que a maioria (acima de 50%) do Orçamento Municipal seja alocada para as
áreas sociais;
Priorizar os grupos sociais mais desfavorecidos e vulneráveis na planificação das
actividades (Planificação e Orçamentação participativa):
Adoptar políticas públicas de educação cívica aos condutores e peões para a prevenção
de acidentes de viação;
Adoptar programas específicos ou aderir às políticas públicas do Governo de
Moçambique para a prevenção à violência, com acções voltadas à prevenção da
violência de género e em razão da orientação sexual.
Garantir a formação continuada dos conselhos de escolas para que actuem na
protecção e na defesa dos direitos de crianças;
Envolver as comunidades no mapeamento participativo dos espaços públicos;
Entre outros factores, redução da pobreza urbana está relacionada, com o acesso a
terra, serviços, empregos e alimentação. Às autarquias cabe o papel principal na
regularização da posse da terra e na sistematização dos mercados de terra, em grande
medida corruptos, factores que são reconhecidos internacionalmente como
fundamentais para a canalização de investimentos e poupanças para que os pobres
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acedam a bens, iniciativas agrícolas, urbanas e periurbanas, para que haja garantia
de alimentos e criação de emprego, podem ser apoiadas por um eficaz planeamento
urbano e direitos de uso da terra, bem como para alguns serviços de apoio
específicos. As autarquias podem contribuir para um clima de investimento mais
atraente e para a criação de emprego, através de uma gama de instrumentos,
incluindo investimentos em infra-estruturas físicas de importância crucial
(Desenvolvimento Municipal, 2009,p.8).
Consagra o artigo 103 do decreto 11/2005, que os planos de desenvolvimento são elaborados
com a participação da população residente através dos conselhos consultivos locais e visam
mobilizar recursos humanos, materiais e financeiros para a resolução dos problemas, isto
significa que, os munícipes e a sociedade participam no processo de tomada de decisão ao
nível da circunscrição territorial em que residem
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Os Munícipes têm um grande papel no processo de tomada de decisões, a prova disso é que as
sessões extraordinárias da Assembleia Municipal, onde são discutidos os problemas
respeitantes a vida dos cidadãos da respectiva autarquia, podem ser requeridas por 5% dos
cidadãos eleitores do município, nos termos da alínea c) do nº 1 do artigo 42 da lei nº2/97.
A sociedade civil assim como os munícipes, têm um papel importante na tomada de decisões,
sendo um dos principais desafios destes actores garantir que os conselhos consultivos locais,
sendo órgãos de consulta das autoridades da administração local, sejam eficazes na busca de
soluções para as questões fundamentais que afectem a vida das populações, o seu bem-estar e
desenvolvimento sustentável (artigo 111 do decreto 11/2005).
A sociedade Civil deve assegurar através do fórum local, que as autoridades tradicionais
como representantes da comunidade saibam definir as suas prioridades que em conjunto com
os comités comunitários assegurem a identificação e procura de soluções dos seus problemas.
Segundo Santos (2002) citado por (Jamal, 2014, p.72), o orçamento participativo é um
processo social e político muito dinâmico, sendo, por isso, difícil extrair a partir dele muitas
projecções, este constitui um mecanismo de participação das comunidades na definição de
acções prioritárias das circunscrições territoriais a que elas pertencem.
As autarquias locais possuem uma autonomia local, que é o direito e a capacidade efectiva das
autarquias locais regulamentarem e gerirem, nos termos da lei, sob sua responsabilidade e no
interesse das respectivas populações, uma parte importante dos assuntos públicos ou seja:
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ao Estado. Isto implica um poder de decisão da autarquia local tanto em matéria de
receitas assim como de despesas (Cistac, 2012,p.11-14)
Segundo este autor, se as autarquias não tiverem recursos para a realização das suas funções, e
capacitadas em termos financeiros para a prestação de serviços sob sua responsabilidade, a
sua existência como tal não passa de uma ficção.
Nos termos do nº1 do artigo 276 da CRM de 2004, as autarquias locais têm finanças próprias,
essa autonomia financeira compreende nos termos da alínea e) do nº3 do artigo 7 da lei nº2/97
de 18 de Fevereiro, o poder de recorrer a empréstimos nos termos da lei.
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As autarquias locais podem contrair empréstimos plurianuais, nos termos do artigo 20 da lei
nº1/2008, mas esta contracção depende da ratificação do Ministro que superintende a are das
finanças,
Em muitos países descentralizados o recurso aos empréstimos locais é visto como uma
forma eficiente e equitativa de financiar infra-estruturas locais:
Segundo Mendes (2018), O principal desafio que os municípios enfrentam quando se fala em
finanças autárquicas é a sustentabilidade financeira das autarquias, essa sustentabilidade
financeira está associada a Cultura tributária, o Índice de iliteracia dos munícipes, Fundo de
compensação autárquica e a autonomia financeira das autarquias.
Para Caetano (2010-p.218), cada pessoa colectiva tem o seu património, em que podem entrar
direitos de propriedade, tanto sobre coisas corpóreas como sobre coisas incorpóreas. Este
pode ser direito de propriedade, literária ou artística, direitos de crédito e obrigações.
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O nº 4 do artigo 7 da lei nº2/97, estabelece que as autarquias locais possuem uma autonomia
própria, que consiste em ter património próprio para a prossecução das atribuições que lhes
são impostas por lei.
Nos termos do nº1 e 2 do artigo 32 da lei nº1/2008, constitui património das autarquias todas
as coisas moveis e imóveis, direitos e acções que a qualquer titulo lhe pertençam ou venham a
pertencer. A administração do património autárquico compete ao presidente do conselho
municipal ou de povoação com observância das leis e salvaguardadas as competências da
assembleia respectiva relativamente aos bens utilizados ao seu serviço.
É possível conceber uma autarquia seu património próprio, mas também não é a melhor
solução porque:
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1.6.1 O domínio público das autarquias Locais
Segundo Cistac (2001) ” o domínio público da autarquia local corresponde ao conjunto dos
direitos reais que a autarquia tem por lei sobre o território e seus espaços, coisas próprias nele
individualizadas ou bens alheios, conferidos para serem exercidos no regime do direito
público” (p.262).
O domínio público constituiu o conjunto das coisas públicas e os direitos públicos que à
administração compete sobre elas formam o domínio público. O que permite diferenciar o
domino público do privado autárquico é a numeração legislativa desses bens,
Para Cistac (2001), as principais componentes do domínio público autárquico podem ser
reagrupados entre os bens naturais ou artificiais, afectados ao uso directo e imediato do
público e os que são afectados a um serviço público autárquico, mas em ambos casos os bens
devem ser propriedade da autarquia local.
Segundo Cistac (2001), os bens facetados ao uso directo e imediato do público são os
seguintes:
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1.6.2 O domínio privado das autarquias locais
Segundo Caetano (citado por Cistac, 2001), os bens do domínio privado hão-de ser os que, ao
menos em princípio, estão sujeitos a um regime de direito privado e inseridos no comércio
jurídico correspondente.
O domínio privado das autarquias locais é constituindo por coisas de natureza muito diversa,
distinguindo-se assim o domínio privado imobiliário do domínio privado mobiliário. Segundo
Cistac (2001), o domínio privado imobiliário é constituído pelos prédios urbanos afectados a
um serviço público municipal.
O domínio privado mobiliário compreende vários móveis corpóreos, como livros, mobiliários,
maquinas roupas e móveis incorpóreos, como dinheiros públicos, títulos e papéis de crédito e
participações no capital de empresas de direito privado.
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Conclusão
A criação das autarquias locais através da aprovação da lei nº2/97, é um modo de aproximar
os serviços aos cidadãos e promover a participação no processo de tomada de decisão no
âmbito dos problemas das suas comunidades assim como no processo de desenvolvimento
local. A existência das autarquias locais em Moçambique pressupõe que tenham meios
suficientes para a fácil prossecução das suas atribuições, ou seja, é necessário que as
autarquias locais sejam verdadeiramente autónomas, tanto ao nível administrativo,
patrimonial e financeiro.
Para que as autarquias locais sejam verdadeiramente autónomas, é necessário que o Estado
deixe que estas sejam livres para a efectivação das suas funções, atribuindo-lhes meios e
recursos necessários que sejam próprios da autarquia e deixe que as populações respectivas
decidam o ritmo da descentralização ao nível local, que o Estado venha intervir somente para
garantir que as atribuições estejam a ser prosseguidas e que os representantes locais estejam a
prosseguir os fins pelos quais foram eleitos,
Todos devem trabalhar para o desenvolvimento dos seus Municípios, os líderes comunitários,
a sociedade civil, os políticos, independentemente das suas cores partidárias, convicções
religiosas e terem a concepção de que o bem-estar de qualquer autarquia assim como o
crescimento da mesma equivale ao bem-estar de todo o Estado Moçambicano.
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Referências Bibliográficas
Introdução...................................................................................................................................2
Conclusão..................................................................................................................................16
Referências Bibliográficas........................................................................................................17
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