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A IMPORTÂNCIA DA COESÃO E DA COERÊNCIA

EM NOSSOS TEXTOS
“Qualidade ou estado de ser coerente, conexão, harmonia.”
(AMORA, 1997, p. 52).

A coerência não está no texto, não nos é possível apontá-la, destacá-la,


sublinhá-la ou coisa que o valha, mas somos nós, leitores, em um efetivo
processo de interação com o autor e o texto, baseados nas pistas que nos são
dadas e nos conhecimentos que possuímos, que construímos a coerência.
(KOCH & ELIAS 2008, p. 184).
A coesão ocorre, como veremos a seguir, predominantemente no
nível do período. Está mais diretamente relacionada a aspectos
morfológicos e sintáticos. A coerência está relacionada à relação
entre ideias no texto.
COMPOSIÇÃO DO TEXTO

MICROESTRUTURA
COESÃO = articulações gramaticais, conexão,
ligação, harmonia entre os elementos do texto.

MACROESTRUTURA
COERÊNCIA = manutenção da mesma
referência temática em toda extensão do texto.
Enquanto a COESÃO, se preocupa com a
superfície textual (FORMA), a COERÊNCIA
discute os significados expressos pelo texto
(CONTEÚDO). Um texto coeso não é
necessariamente coerente e vice-versa. No entanto,
os dois aspectos tendem a estar ligados.
METONÍMIA*

• O presidente Barack Obama deverá reunir-se


ainda nesta semana com o presidente Luís
Inácio Lula da Silva. Fontes bem informadas
acreditam, entretanto, que não será fácil que
Brasília ceda às pressões da Casa Branca.

*substituição lógica de uma palavra por outra semelhante, mas mantendo uma relação de proximidade entre o
sentido de um termo e o sentido do termo que o substitui.
MECANISMOS DE COESÃO:

a) Retomada de termos, expressões ou frases já ditas.


(referencial e lexical)

b) Encadeamento de segmentos do texto, feito com


conectores ou operadores discursivos, tais como então,
portanto, mas, já que, porque...
(sequencial)
Exemplo de texto coeso

Observe a coesão presente no texto a seguir:

“Os sem-terra fizeram um protesto em Brasília contra a política


agrária do país, porque consideram injusta a atual distribuição de
terras. Porém o ministro da Agricultura considerou a manifestação
um ato de rebeldia, uma vez que o projeto de Reforma Agrária
pretende assentar milhares de sem-terra.”

JORDÃO, R., BELLEZI C. Linguagens. São Paulo: Escala


Educacional, 2007, 566 p.
• Exemplo de texto NÃO coeso

“...É só isso, não tem mais jeito. Acabou, boa sorte. Não
tem o que dizer, são só palavras, saiba que o que eu
sinto não mudará...”
(composição: Vanessa Da Mata feat. Ben Harper)
FALTA DE COESÃO POR
ERRO DE CONCORDÂNCIA

• Os jogadores chegaram há dois dias. Ele deverá


treinar ainda amanhã.

• As reservas de bauxita foram encontradas em


levantamento aéreo e possui alto teor de pureza,
avaliada em 25 milhões de toneladas.
COERÊNCIA

• Nexo entre ideias, acontecimentos, circunstâncias.


• Não contradição entre as partes do texto e do texto em
relação ao mundo.
• Sentido completo ao texto.

Depende da interação do texto, do seu produtor e


daquele que procura compreendê-lo (receptor).
COERÊNCIA

a) Harmonia de sentido de modo a não ter nada


ilógico, nada desconexo;
b) Relação entre as partes do texto, criando uma
unidade de sentido;
c) As partes devem estar inter-relacionadas;
d) Expor uma informação nova e expandir o texto
(progressão);
e) Não apresentar contradições entre as ideias.
TIPOS DE COERÊNCIA
- Eu gosto tanto de frango, mas tenho medo de
gripe aviária.
- Ah, mas só dá na Ásia, responderam.
- Justo na parte de que eu mais gosto!?

(Folha de São Paulo, 18 de março de 2006, p. E13)


Exemplos de textos incoerentes em anúncios

• Será que eles descansam


trabalhando?

Em uma campanha
publicitária, um anúncio,
propaganda, placa ou outdoor
é de extrema importância
prestar atenção ao que você
está anunciando e como o
fazer, para que seu anúncio
não seja contraditório ao seu
produto.
ALGUNS FATORES DE COESÃO E
COERÊNCIA
INTERTEXTUALIDADE

Concerne aos fatores que


fazem a utilização de um texto
dependente do conhecimento
de outro(s) texto(s). Cada texto
constrói-se, não isoladamente,
mas em relação a outro já dito,
do qual abstrai alguns aspectos
para dar-lhes outra feição.

O ibaporu
INTENCIONALIDADE

Concerne ao empenho do produtor em construir um


discurso coerente, coeso e capaz de satisfazer os
objetivos que tem em mente numa determinada situação
comunicativa. A meta pode ser informar, ou
impressionar, ou alarmar, ou convencer, ou pedir, etc., é
ela que vai orientar a confecção do texto.
ACEITABILIDADE

Concerne à expectativa do recebedor de que o conjunto


de ocorrências com que se defronta seja um texto
coerente, coeso, útil e relevante, capaz de levá-lo a
adquirir conhecimentos ou a cooperar com os objetivos
do produtor. O receptor analisa e avalia o grau de
coerência, coesão, utilidade e relevância do texto capaz
de levá-lo a alargar os seus conhecimentos ou de aceitar
a intenção do produtor.
Saber para quem se escreve não significa conhecer o
leitor pessoalmente nem saber exatamente o perfil desse
leitor. Todavia, precisamos ter uma ideia do perfil desse
leitor, mesmo que seja um perfil genérico.
SITUCIONALIDADE

Diz respeito aos elementos responsáveis pela


pertinência e relevância do texto quanto ao contexto que
ocorre.
É importante para o produtor saber com que
conhecimentos do recebedor ele pode contar e que,
portanto, não precisa explicitar no seu discurso. A
situcionalidade é responsável pela adequação do texto
ao contexto sociocomunicativo.
Situação comunicativa: e-mail de uma aluna do 8ª
série para a diretora de sua escola, parabenizando-a
pelo seu aniversário:

E aí diretora td blz? Fiquei sabendo q taí


fazendo aniversário hj. Te dx parabéns e k
entre nós pq vc ñ se aposenta? Naum vejo
motivo p uma cinquentona tá na escola. Ñ
se preocupe com ela, vamos tomar conta
dela direito. Bjos, Ju!
INFORMATIVIDADE

O interesse do recebedor pelo texto vai depender do


grau de informatividade. Esse fator diz respeito à
medida na qual as ocorrências de um texto são
esperadas ou não, conhecidas ou não, no plano
conceitual e no formal. O texto com bom índice de
informatividade precisa atender a outro requisito: a
suficiência de dados. Isso significa que o texto tem que
apresentar todas as informações necessárias para que
seja compreendido com o sentido que o produtor
pretende.
Suponha que seu professor de Português solicitou à turma
duas produções escritas (cartas).

A primeira para alguém conhecido.

A segunda para alguém desconhecido.


 No primeiro caso, se você sabe para quem escreve,
pode decidir quais informações e palavras pode e deve
incluir na carta e quais pode e deve omitir.

 No segundo caso, se você não sabe quem é seu leitor,


fica impossível tomar qualquer decisão a respeito do
uso que fará das informações e palavras.
Coesão: exemplos do texto
“Luís mora em São Paulo mas ele vem sempre ao Rio porque sua
irmã mora aqui. Ela é médica.”

“No Brasil, em pleno século XXI, ainda se morre de tuberculose.”

“O professor reclamou com o aluno da porta”.

“João e Maria perderam-se na floresta. Eles andaram o dia inteiro e


não encontraram os seus farelinhos de pão, deixados pelo caminho,
já que os pássaros os tinham devorado.”
Coerência: exemplos do texto
“A festa começou, o salão ficou completamente vazio e
todos os presentes começaram a dançar ao som de um
retumbante silêncio.”
Outros exemplos:

“O dia está chuvoso, pois ontem encontrei vários amigos no cinema,


ainda que esse fato contrariasse as pesquisas apresentadas pela
imprensa” (texto COESO, mas sem COERÊNCIA).

Olhar fito no horizonte. Apenas o mar imenso. Nenhum sinal de vida


humana. Tentativa desesperada de recordar alguma coisa. Nada.
(texto COERENTE, mas sem COESÃO).
COMO SE CONJUGA UM EMPRESÁRIO

Acordou. Levantou-se. Aprontou-se. Lavou-se. Barbeou-se. Enxugou-se.


Perfumou-se.
Lanchou. Escovou. Abraçou. Saiu. Entrou. Cumprimentou. Orientou. Controlou.
Advertiu.
Chegou. Desceu. Subiu. Entrou. Cumprimentou. Assentou-se. Preparou-se.
Examinou. Leu.
Convocou. Leu. Comentou. Interrompeu. Leu. Despachou. Vendeu. Vendeu.
Ganhou.
Ganhou. Ganhou. Lucrou. Lucrou. Lucrou. Lesou. Explorou. Escondeu. Burlou.
Safou-se.
Comprou. Vendeu. Assinou. Sacou. Depositou. Depositou. Associou-se. Vendeu-
se.
Entregou. Sacou. Depositou. Despachou. Repreendeu. Suspendeu. Demitiu.
Negou.
Explorou. Desconfiou. Vigiou. Ordenou. Telefonou. Despachou. Esperou.
Chegou.
Vendeu. Lucrou. Lesou. Demitiu. Convocou. Elogiou. Bolinou. Estimulou.
Beijou.
Convidou. Saiu. Chegou. Despiu-se. Abraçou. Deitou-se. Mexeu. Gemeu.
Fungou. Babou.
Antecipou. Frustrou. Virou-se. Relaxou-se. Envergonhou-se. Presenteou. Saiu.
Despiu-se.
Dirigiu-se. Chegou. Beijou. Negou. Lamentou. Justificou-se. Dormiu. Roncou.
Sonhou.
Sobressaltou-se. Acordou. Preocupou-se. Temeu. Suou. Ansiou. Tentou.
Despertou.
Insistiu. Irritou-se. Temeu. Levantou. Apanhou. Rasgou. Engoliu. Bebeu.
Dormiu. Dormiu.
Dormiu. Dormiu. Acordou. Levantou-se. Aprontou-se...
REFERÊNCIAS:

MACHADO, Áurea Maria Bezerra; VILAÇA, Márcio Luiz Corrêa. A


importância da coesão e da coerência em nossos textos. Cadernos do CNLF,
Vol. XVI, Nº 04, t. 1 – Anais do XVI CNLF, pág. 76.

SEGATO, Maiara Cristina. Elementos de textualidade: fatores


semânticos/formais e fatores pragmáticos.

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