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O problema do

autoconhecimento
Apresentação baseada no livro ‘Epistemologia: uma introdução elementar’ de Giovanni Rolla
O problema do autoconhecimento

Mundo exterior (”fora” de nossa cabeça) e mundo interior (”dentro” de nossa cabeça).
Mundo interior: conteúdos mentais, como sensações, pensamentos e emoções.

No contexto filosófico, autoconhecimento é o conhecimento acerca dos próprios conteúdos mentais.

Mas como se obtém autoconhecimento?


O problema do autoconhecimento

Mas como se obtém autoconhecimento?

O autoconhecimento é alcançado através de um ato de autoconsciência, no qual tomamos consciência


dos próprios conteúdos mentais.
De acordo com a análise tradicional do conhecimento, ao avaliarmos o mundo interior através de um
ato de autoconsciência, obteremos uma crença verdadeira e justificada.
Por exemplo, a crença de que você acredita estar assistindo uma apresentação na UFPB.
Crença de 1º ordem: você acredita estar assistindo uma apresentação na UFPB.
Crença de 2º ordem: a crença de que você acredita estar assistindo uma apresentação na UFPB.

Tipicamente, o autoconhecimento é voltado para crenças de segunda ordem.


O problema do autoconhecimento

Em suma, a autoconsciência propicia a formação de crenças verdadeiras e justificadas sobre o mundo


interior particular: autoconhecimento.
Analogamente à autoconsciência, a percepção também gera conhecimento, pois é um processo de
formação de crenças verdadeiras, mas sobre o mundo exterior.

Seria a autoconsciência uma percepção?


O problema do autoconhecimento

Seria a autoconsciência uma percepção?

Se sim, o processo de obtenção do autoconhecimento (autoconsciência) tem de se basear numa


experiência, embora não sensória, já que nossos conteúdos mentais não são como objetos que causam
experiências nos sentidos.
Haveria então um “sentido interno” que monitoraria os eventos mentais e daria origem ao processo
cognitivo de autoconhecimento? Tese não absurda, mas onerosa, porque requer o postulado de um
sentido que funciona como os demais, sendo radicalmente diferente deles.
O problema do autoconhecimento
Seria a autoconsciência uma percepção?

Argumento da autocegueira: se o autoconhecimento é como o conhecimento perceptual (ainda que os


processos envolvidos não sejam exatamente do mesmo tipo), então é possível que uma pessoa seja
cega sobre seus próprios estados mentais, assim como é possível que uma pessoa seja cega sobre os
objetos físicos externos. Uma pessoa realmente cega não tem, por causa da sua cegueira, nenhuma
limitação cognitiva ulterior (capacidades racionais de inferência, deliberação, planejamento). Ou seja, a
teoria de que o autoconhecimento é quase-perceptual enseja a possibilidade de que uma pessoa seja
cega sobre seus próprios estados mentais sem falha de racionalidade.

Mas será que isso é mesmo plausível?


O problema do autoconhecimento
Argumento da autocegueira

José é autocego.
José vê o cenário, conclui que está chovendo (crença
de 1º ordem), embora não acredite que esteja
chovendo (crença de 2º ordem).
Mas José não tem prejuízos em suas capacidades
racionais (assim como o cego, por sua cegueira, não
tem).
Dessa forma, ele nota que falar “está chovendo, mas
eu não acredito nisso” é um absurdo, passando a agir
de modo racional e, portanto, como um não-
https://exame.com/tecnologia/novo-app-evita-que-voce-tome-um-banho-de-chuva-inesperado/

autocego.
O problema do autoconhecimento
Seria a autoconsciência uma percepção?

Se está inclinado a responder que não faz sentido um autocego agir de modo perfeitamente racional,
então você não compartilha da intuição de que a autoconsciência é um processo quase-perceptual.
Essa diferença reside no fato de que os objetos da percepção independem de nós, o que parece não
ocorrer com os objetos do autoconhecimento.
Ou seja, no autoconhecimento, não há nada que separe o sujeito que conhece do objeto conhecido;
uma teoria de autoconhecimento precisa abarcar esse ponto.
O problema do autoconhecimento
“Você acredita que vai chover amanhã?”
Primeira atitude não seria “olhar para dentro”, mas “olhar
para fora” (crença de 1º ordem).
Condição de transparência: o autoconhecimento de que eu
acredito que determinada proposição é verdadeira é
transparente às razões que tenho para acreditar na verdade
dessa proposição.
Se as considerações são favoráveis à verdade de que vai
chover amanhã, formo a crença de que eu acredito
(autoconhecimento) que vai chover amanhã.
É a partir da deliberação com respeito à verdade de que

https://www.storytellers.com.br/2015/01/sera-que-vai-chover.html
“vai chover amanhã” e com a formação da crença de que
“vai chover amanhã” que haverá a aquisição do
autoconhecimento.
O problema do autoconhecimento
Condição de transparência: essa concepção funciona bem para a autoatribuição de crenças (por
exemplo, tenho a crença de que acredito que vai chover amanhã”), mas e para preferências e
sensações?
O que seria “olhar para fora” para atestar a verdade de que eu gosto de chocolate? E a verdade de que
estou sentindo calor? Nesses casos, investigo meu mundo interno, e não o exterior.
Outra objeção frequentemente apresentada é a seguinte: queremos saber se um sujeito sabe que acredita
que p, e queremos saber isso em determinado momento – digamos, no tempo t1. Dizer que ele realiza
uma deliberação com respeito à verdade de p, e que essa deliberação pode levar à formação de uma
crença de segunda ordem, não responde exatamente o problema. Porque, quando esse indivíduo
finaliza sua deliberação com respeito a p, algum tempo se passou. Imaginemos que agora estamos no
tempo t2. Pode ser que, em t2, ele saiba que acredita que p... mas e em t1?

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