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PESSOAS COLECTIVAS

A existência de PC resulta da existência de interesses humanos duradouros e de


carácter comum ou colectivo. Há fins que estão para além da esfera de acção de cada
homem, que o transcendem, por dizerem respeito a um conjunto de pessoas (fins
colectivos) e que se projectam para além da duração normal da vida humana (fins
permanentes). Tais fins não seriam prosseguidos ou acautelados de forma plena, ou
pelo menos da forma mais adequada, se só os homens, isoladamente considerados,
fossem permitidos a agir no plano jurídico. Por outras palavras, os fins humanos
podem ser destacados e autonomizados da pessoa dos seus titulares, de modo a se
libertarem da precariedade, volubilidade e fragilidade humanas, para ganharem a
estabilidade, permanência e continuidade na sua prossecução. Os interesses
respeitantes a uma pluralidade de pessoas (nacional, regional, local ou do género
humano), enquanto interesses colectivos ou comuns são realidades inegáveis e
muitos são duradouros, excedendo a vida dos homens. Assim, a criação de um
centro autónomo (em relação aos seus membros e às pessoas que actuam como
seus órgãos) de imputação das relações jurídicas ligadas à realização desses
interesses permite uma mais fácil e eficaz na consecução do escopo visado. Para
isso, o direito socorre-se diferentes institutos, sendo a personificação jurídica
colectiva a técnica mais acabada.
Noção: As pessoas colectivas são organismos sociais destinados a
um fim lícito, a que o direito atribui a susceptibilidade de ser
titular de direitos e de estar adstrito a vinculações. Por outras
palavras, são organizações, constituídas por colectividade de
pessoas ou por uma massa de bens, dirigidos à realização de fins
ou interesses comuns ou colectivos.

- Elementos da PC: (i) Elementos internos ou intrínsecos -


abrangem o substracto, a organização formal e a personalidade
juríridica – (ii) Elementos externos ou extrínsecos – abrange o
objecto e o fim.
– Substrato: a PC caracteriza-se como um organismo social; esta ideia pressupõe uma
realidade social que suporta a personificação colectiva; assim, o substracto é a
realidade social apta a ser organizada; o substracto pode revestir várias modalidades,
mas é composto por um complexo de realidades que têm de estar reunidas e se
traduzem em, pelo menos, um elemento pessoal (as pessoas desempenham um papel
fundamental nas PC, como por exe. o fundador, na fundação; mas nas associações e
sociedades as pessoas têm maior relevância; a lei é mais ou menos exigente, consoante
o tipo de PC; nas sociedades, em regra, exige mínimos e nas ordem profissionais exige
determinadas habilitações) ou um elemento patrimonmial (as PC carecem de meios
para prosseguir os seus fins; são os fundadores que dotam as PCs de bens no acto de
constituição e posteriormente. Esses bens constituem o património das PCs e
desempenham um papel instrumental à realização dos seus fins). Autores há que
incluem um terceiro elemento – o elemento teleológico (todas as PC são criadas para
prosseguirem determinados fins. As fundações têm necessariamente fins de interesse
social, as associações fins não lucrativas, as sociedades fins lucrativos; os fins são
importantes para o Direito a ponto de os relevar para efeitos vários, designadamente
para extinção da PC).
-Organização Formal: a constituição e existência da pessoa
colectiva não se basta com a existência do substratos, já que se
torna necessária a sua organização por forma a poder ser
assegurado o prosseguimento dos interesses para que foram
constituídas; a organização formal são meios de actuação de um
certo substrato como entidade jurídica própria; o conjunto de
normas jurídicas que definem a organização formal das pessoas
colectivas chama-se estatuto; não sendo dotada de vontade própria
o direito atribui às pessoas colectivas instrumentos jurídicos aptos a
assegurar a sua actuação, através dos seus órgãos (não tem
existência distinta da pessoa e não são pessoas, não têm realidade
física que só existem nas pessoas, seus titulares); é através dos seus
órgãos que as PCs ordenam e conjugam as vontades individuais que
formam e manifestam a vontade da pessoa colectiva; os poderes
atribuídos aos órgãos das PCs são poderes funcionais (atribuídos
para prosseguir os fins da PC);
os órgãos das PC são centros de imputação de poderes funcionais – competências - com vista à formação e
manifestação de vontade juridicamente imputável à PC, para o exercício de direitos e o cumprimento de
vinculações que a esta cabem. Ou seja, centros institucionalizados de poderes funcionais a exercer por um
indivíduo ou colégio de indivíduos que nele são providos, com o objectivo de formar e exprimir a vontade
juridicamente imputável à pessoa colectiva (Cfr.- artigos 166º e 167º do CC). Diferente são os simples agentes ou
auxiliares (exercem determinadas operações materiais que interessam à PC, por incumbência ou sob a direcção
dos órgãos) ou mandatários (designados pelos órgãos da PC que tb lhes confere poderes para prática de um ou
mais actos jurídicos); Os órgãos das PC não revestem a mesma configuração. Assim, dependendo da PC, podem
classificar-se, de acordo com diferentes critérios, em: singulares (constituídos por uma só pessoa ou titular) ou
colegais (constituídos por várias pessoas ou titulares), colectivo (compostos por vários órgão homogéneos – ex. Um
CA em cada administrador é um órgão e pode decidir, em representação da Sociedade); Em função da
competência, os órgãos das PC podem ser activos (formam e emitem uma vontade – deliberações ou decisões -
juridicamente imputável à PC) e consultivos (preparam os elementos, em geral de ordem científica ou técnica –
estudos pareceres, opiniões -, com base nos quais os órgãos activos vão emitir a sua deliberação ou decisão) ou
internos (formam a vontade da PC – Ex. assembleias-gerais das sociedades) ou externos ou representativos,
(manifestam a vontade da PC perante terceiros – ex. administrador-delegado das sociedades anónimas ou
directores) deliberativos (AG) e executivos (CA [de sociedades anónimas e fundações], direcção [associações e
sociedades civis simples], gerência [sociedades por quota e em nome colectivo], conselhos directivos [associações],
conselhos administrativos [empresas públicas e institutos públicos] e de fiscalização – conselhos fiscais ou fiscais
únicos, revisores oficiais de contas ou suas sociedades; dispensado nas sociedades de pessoas – civis simples, em
nome colectivo e por quotas);
- Personalidade jurídica: diferente das PS as PCs adquirem a personalidade jurídica pelo
reconhecimento (constitutivo da PC), ou seja, o reconhecimento pelo direito da PC como centro
autónomo de imputação de direitos e vinculações. Modalidades: (i) normativo: o critério é a fonte
de atribuição da personalidade jurídica; no reconhecimento normativo a atribuição da
personalidade jurídica é feita pela norma, de forma geral e abstracta a todas as entidades que
preencham certos requisitos nela fixados (Ex: associações – artigos 7º e 8º da Lei nº
25/VI/2003, de 21 de Julho exige apenas documento escrito, particular ou público – e o registo
de constituição – idem para as sociedades comerciais - artigo 110º, nº 1 do CEC. Idem para as
sociedades civis sob a forma comercial, e formas de associação empresarial); (ii) o
reconhecimento diz-se individual ou por concessão ou específico, quando resulte de acto de
certa autoridade, atribuindo a personalidade jurídica a determinada PC concreta (ex: as
fundações – artigos 163º, nº 1 e 188º do CC); o reconhecimento normativo pode, ainda, ser (iii)
incondicionado (só depende da existência do substrato completo, sem mais requisitos) ou (iv)
condicionado (depende da existência do substrato completo e certos requisitos de
personificação); ainda pode se distinguir (v) reconhecimento explícito (quando a atribuição da
personalidade jurídica a determinados substratos decorre imediata e directamente da norma
legal) e (vi) reconhecimento implícito (quando a atribuição da personalidade jurídica a
determinados substratos decorre do conjunto do regime da PC em causa e não directa e
imediatamente de uma determinada norma).
Fim (também chamado elemento teleológico): traduz-se na prossecução de certos
interesses humanos, ou seja, é o escopo a atingir pela pessoa colectiva. O fim tem as
seguintes características: determinado (é da própria essência da PC, já esta só existe
para prosseguir certos e determinados fins; por outro lado o âmbito da capacidade das
PC se determina em função do seu fim), comum ou colectivo (as PC não podem ter
fins individuais ou egoísticos e é a razão de ser da personalidade colectiva), lícito
(deve satisfazer os requisitos legais quanto ao objecto do nj cfr. Artigo 280º do CC) e
possível.

Objecto: são modos de acção através dos quais a PC prossegue o seu fim, ou seja, a
actividade a desenvolver pelos seus órgãos para atingir o seu fim. (Ex: uma sociedade
comercial tem como fim o lucro a ser distribuído entre os seus sócios ou accionistas.
Para se atingir o lucro a sociedade tem de exercer diversas actividades como, v.g.,
construção de prédios, comércio de produtos, etc, que constituem o objecto da
sociedade). O objecto deve revestir também certas características: determinado, lícito
e duradouro. Víde o regime do Registo de Firmas.
Classificação das pessoas colectivas: (i) de direito internacional ou internacionais e (ii) internas ou de direito
interno (nacionais ou estrangeiras) – critério da fonte (ordem jurídica personificadora ou do
reconhecimento) da personificação. Notas: esta classificação não é perfeita, já que, pode haver entidades cuja
personificação decorre simultaneamente de ordem interna e internacional – o caso dos Estados (criação da
ordem interna e reconhecidos pela ordem internacional). Pessoas Colectivas Comunitárias [União Europeia,
Banco Central, Uniáo Africana, BAD, etc]

Dentro das PCs de direito interno: (i) nacionais (as que como tal forem reconhecidas por um determinado
Estado – Cfr os artigos 33º, nº 1 do CC e ___ do CEC sobre a lei pessoal); (ii) estrangeiras (aquelas que como
tal forem definidas por um determinado Estado); (iii) públicas (de direito público) [são elementos da organização
geral política da sociedade]; (iv) privadas (de direito privado). [actuam na visa social, mas no plano dos
particulares]. Esta classificação acompanha as classificações dos ramos do direito; Critérios relevantes de
distinção: (a) critério do fim: [As PCP prosseguem fins de interesse público ou geral da colectividade e PCPriv
prosseguem fins de interesse privado ou particular]; (b) critério da titularidade de poderes de autoridade:
[titularidade ou não titularidade do jus imperii, como poderes próprios e não os poderes atribuídos por
concessão]; (c) critério da criação: [criadas ou não pelo Estado ou mais latamente pelo poder público]. Críticas:
[há pessoas colectivas públicas não criadas pelo Estado, v.g, pc. privadas nacionalizadas, como o Estado pode
criar pc de direito privado]; (d) critério da integração: [se integram ou não na organização política estadual;
critério muito vago. Como se dá a integração?]; (e) critérios ecléticos: [combinam os vários critérios referidos de
várias maneiras]; Vide posições diferentes de Castro Mendes e Carvalho Fernandes nos respectivos
Manuais.
Tipos de pessoas colectivas públicas: (i) de população e território
(ou do tipo ou base territorial) – o Estado, as autarquias locais
(municípios, freguesia e regiões administrativas) - (ii) do tipo
institucional – os institutos públicos, serviços públicos,
estabelecimentos públicos personalizados, universidades
[caracterizam-se por serem organizações de bens, mas mais
frequentemente de poderes e competências para a prossecução de
certos fins] ver a lei quadro dos Institutos publicos - (iii) do tipo
associativo – associações de entidades públicas (municipais e
intermunicipais), associações de entidades privadas (ordens
profissionais, academias científicas, Cruz Vermelha CV) e
associações de carácter misto. Outras: Empresas públicas, pessoas
colectivas de utilidade pública, instituições de segurança social,
instituições particulares de solidariedade social).
- Quanto ao fim: o critério é o dos interesses prosseguidos.
Tomando como critério a titularidade dos interesses: (i) de fim
egoísta ou interessado (o interesse prosseguido é o dos próprios
associados ou fundadores – sociedades comerciais) (ii) e altuista ou
desinteressado (o interesse prosseguido pertence a pessoas
estranhas aos associados ou fundadores - fundações). Tomando
como critério os interesses em si mesmos: (i) de fim ideal ou
cultural não económico (orientadas para a prossecução de
interesses não económicos, v.g., desportivos, culturais, científicos,
artísticos, etc) e (ii) de fim económico (prosseguem interesses
susceptíveis de expressão monetária traduzindo em vantagem
económica aos seus membros) e subdividem-se em pessoas
colectivas de (a) de fim lucrativo (visam o lucro, como é o caso das
sociedades comerciais) e (b) não lucrativo (não visam o lucro, v.g.,
- Quanto à estrutura: No que respeita ao critério da classificação os
autores divergem aqui quanto ao saber se se deve atender à natureza do
substracto ou ao modo de formação e manifestação da vontade da pessoa
colectiva. Na primeira solução (posição corrente na doutrina portuguesa –
C. Mendes, O. Ascensão, Hoster e C. Fernandes) atende-se ao facto do
substrato das pessoas colectivas surgir, por vezes, constituído
fundamentalmente por pessoas, mesmo que se possam encontrar
elementos patrimoniais [caso das associações], enquanto que noutras
pessoas colectivas o substrato é constituído por elementos patrimoniais ou
até por elementos de outra natureza, mas não por pessoas [caso das
fundações]. Na segunda solução fundamenta-se na modalidade da vontade
que constitui e governa a pessoa colectiva [Cabral de Moncada, Mota
Pinto e Manuel de Andrade]; assim distingue as pessoas colectivas: em
certos casos a vontade que comanda a pessoa colectiva desde a sua
constituição e o seu funcionamento existe nela mesma, isto é, nos seus
membros (é essa vontade que determina a constituição, a organização, o
fim e o objecto e domina a vida da pessoa colectiva) e, nestes casos existe
uma vontade imanente e a pessoa colectiva é uma associação; noutros
casos a vontade acima referida é estranha à pessoa colectiva porque vem
de alguém que não faz parte do substrato da pessoa colectiva (o fundador)
e, por isso, é vontade transcendente e a pessoa colectiva é uma fundação.
(i) fundações (têm como substrato um conjunto de bens adstrito pelo
fundador [pessoa singular ou colectiva] a um escopo ou interesse de
natureza social, podendo o fundador fixar normas de regulamento e
directivas da fundação, seu funcionamento e destino; o substrato é
constituído por elementos patrimonial ou até outros – universitas rerum
ou bonorum -, mas não por pessoas) (ii) associações (corporações) – em
sentido lato - (têm como substrato um agrupamento de pessoas singulares
(associados) – universitas personae - que visam um interesse comum,
egoístico ou altruístico; engloba a maioria das pessoas colectivas privadas
[sociedades comerciais, clubes, asociações culurais e recreativas de mais
diversa natureza, asociações mutualistas, partidos políticos, associações
políticas, associações de classe, agrupamentos complementares de
empresa, cooperativas, etc; o substrato é fundamentalmente constituído por
pessoas]; ou seja, engloba toda a pessoa colectiva cujo substrato é um
grupo de pessoas, compreendendo a associação em sentido restrito (grupo
de intuito não lucrativo) e a sociedade (grupo de intuito lucrativo)].
Tipos legais de pessoas colectivas privadas:

- Tipicidade das pessoas colectivas: As PCs podem ser de vários tipos previstos
exaustivamente na lei. Nas PCs do DPriv: (i) associações – artigos 162º a 170º e 171º a
184º do CC, (ii) fundações – artigos 162º a 170º e 185º a 194º do CC; (iii) sociedades,
incluindo as cooperativas. Apesar dessa aparente classificação tripartida, Carvalho
Fernades entende que o CC separa as pessoas colectivas em associações, em
sentido lato, no qual se distinguem as associaões sem fins lucrativos [ou em sentido
restrito – artigos 171º a 184º do CC] e de fins lucrativos [as sociedades] e
fundações. Refere também que CC, em muitos locais (v.g. no artigo 1.961º, nº 2 – al.
b), distinguem pessoas colectivas e sociedades. Muitas vezes, porém, o CC utiliza a
expressão pessoas colectivas para abranger todo o tipo de pessoas colectivas (v.g.
artigos 33º, 34º, 38º e 318º - al. d) do CC. Entende aquele Professor que nessa
dicotomia – pessoas colectivas/sociedades - o legislador quis englobar na expressão
pessoas colectivas (em sentido amplo) todas as pessoas entidades susceptíveis de
personificação para além do ser humano, incluindo as sociedades; assim, as pessoas
colectivas em sentido amplo englobam as sociedades e as pessoas colectivas em
sentido restrito (todas as entidades susceptíveis de personificação que não sejam
sociedades).
Noção de sociedade: (a) na legislação: (i) no CC –
artigos 977º a 1018º do CC – relativamente ao
contrato de socidade; Cfr ainda o artigo 9º do
Decreto-Lei nº 47.344, de 25 de Novembro (ii) no
CEC; (iii) na lei sobre as sociedades de advogados.
Partindo do artigo 977º do CC, sociedade é uma
associação de duas ou mais pessoas que põem em
comum os bens e serviços necessários ao exercício de
uma actividade económica, que não seja de mera
fruição, com vista a obtenção do lucro a repartir pelos
sócios. Carvalho Fernandes define sociedade como
associação privada de fim económico lucrativo.
Objecto da sociedade: o artigo 977º impede a constituição de sociedades cujo objecto
social abranja actividades económicas de mera fruição; questões que se levantam: (i) o
que se passa se houver uma actividade económica de mera fruição?; são dados os
seguintes esclarecimentos: a sociedade deve ter sempre como objecto uma actividade
económica; em princípio uma actividade económica de mera fruição bastaria, já que a
mesma também envolve interesses patrimoniais dos sócios (referentes aos bens sociais
e aos proveitos que dessa actividade podem advir); Exs: os proprietários de um prédio
que se associam com fim de cobrarem as rendas dos seus prédios urbanos (o interesse
económico é a fruição conjunta dos bens postos em comum e as vantagens dessa
forma de gestão, v.g., economia de despesas de cobrança e de correspondente
administração); Mas não basta que haja interesses patrimoniais de todos os sócios
em relação certos bens; a lei exige que os resultados sejam produto de uma
actividade dos sócios; à simples fruição tem de se juntar um fim produtivo ou
especulativo; por isso, não há sociedade na compropriedade ou qualquer outra forma
de condomínio [os condóminos limitam-se a receber os rendimentos da coisa comum
ou simplesmente a administrá-la, ou seja, conservar e fruir dos bens segundo o seu
destino económico];
(ii) quais as consequências decorrentes de constituição de uma sociedade cujo objecto é de
mera fruição. O artigo 977º exclui a actividade mera fruição do objecto da sociedade; (iii)
constituindo a sociedade cujo objecto seja uma actividade de mera fruição a mesma não será
válida; qual o regime jurídico aplicável? Existem duas posições, se a vontade das partes
for a constituição de uma sociedade: (a) uma defende a nulidade do contrato de sociedade
por impossibilidade legal do objecto (artigo 280º, nº 1 do CC); Mas, quando se preencherem
os requisitos do artigo 293º do CC, há a conversão comum do negócio jurídico, mediante a
atribuição de eficácia sucedânea da recíproca constituição, entre os sócios, de uma situação
jurídica de compropriedade sobre cada um dos bens sociais, na proporção das respectivas
entradas; a favor desta tese milita a manifesta proximidade entre as regras da sociedade e da
compropriedade, mormente no que respeita às regras de administração da coisa comum (cfr.
o artigo 1387º e 982º do CC); (b) a outra sustentada por Dias Marques no sentido da
existência de um contrato inominado análogo à sociedade e regulável pelas mesmas regras
em tudo o que não contraria a sua natureza; Carvalho Fernades critica esta posição
entendendo que esta posição acaba por inutilizar a restrição imposta pelo disposto no artigo
977º do CC. Por isso sustenta a primeira tese.
Fim lucrativo: é um verdadeiro elemento caracterizador das sociedades, pese embora
polémica doutrinária em Portugal.
 
Classificação das sociedades: (a) comerciais: as que têm por objecto a
prática de actos de comércio; As sociedades comerciais podem ser por
quotas [de responsabilidade limitada – cada sócio responde pela realização
da sua quota e, solidariamente, pelas quotas dos demais sócios, até a
completa integração do capital social, mas não responde, em geral, pelas
dívidas sociais], [unipessoal ou pluripessoal], anónimas [de
responsabilidade limitada – cada accionista responde apenas pela realização
das acções que subscrever, não responde pelo pagamento das acções dos
outros accionistas, nem pelas dívidas sociais]; [unipessoal ou pluripessoal],
em comandita [simples ou por acções]– responsabilidade de regime misto –
os sócios comanditados respondem como os sócios das sociedades em nome
colectivo e os sócios comanditários respondem apenas pelas suas entradas] -
em nome colectivo [de responsabilidade ilimitada – cada sócio responde
individualmente pela sua entrada e ainda solidária, mas subsidiariamente pelas
obrigações sociais, ficando titular do direito de regresso] e cooperativas – vide o CEC,
ainda há a referir os agrupamentos complementares de empresas;
(b) civis (artigos 977º a 1018º do CC) – tratado não entre as pessoas
colectivas, mas como um tipo legal de contrato de sociedade civil. As
sociedades civis caracterizam-se por não terem por objecto actos do
comércio nem o exercício de quaisquer das actividades previstas no CEC
(Cfr artigo 230º do antigo CC); Tais sociedades podem constituir-se: (i) sob
forma comercial [as que se constituem segundo o regime do CEC, têm
exclusivamente como objecto a prática de actos não comerciais e nos
generalidade dos demais aspectos correspondem a algum dos tipos de
sociedades comerciais]; tais sociedades não são comerciantes, mas não se
levanta dúvida quanto à sua personificação; (ii) sob forma civil ou
sociedades civis simples); para além de não poderem ter por objecto actos do
comércio estão sujeitos ao regime do CC – artigos 977º a 1018º do CC.
Quais o seus elementos essenciais? a) intervenção de 2 ou mais pessoas;
b) que contribua, ou se obriguem a contribuir com bens ou serviços; c) para
o exercício em comum, d) de uma actividade económica; e) que não seja de
mera fruição; f) a fim de repartirem entre si os lucros dela resultantes.
Qual o regime? (a) constitui-se de forma livre, salvo no que tange às entradas (artigos 219º e
978º, nº 1 do CC); (b) as alterações supervenientes exigem unanimidade dos sócios, se o contrato
de sociedade não dispuser de modo diferente – manifestação do carácter contratual e pessoal da
sociedade (artigo 979º, nº 1 do CC); (c) o regime de administração é à compropriedade – os sócios
têm iguais poderes, valendo a decisão da maioria (artigo 982º do CC); (d) a situação jurídica dos
administradores rege-se pelas regras do mandato (artigo 984º, nº 1 do CC); (e) os sócios têm
direito à distribuição anual dos lucros apurados, que é feita na proporção do valor das entradas
(artigos 988º e 989º, nº 1 do CC); (f) a cessão de quotas exige o consentimento da totalidade dos
sócios e obedece à forma de transmissão dos bens sociais (artigo 992º do CC); (g) a
responsabilidade dos sócios pelas dívidas da sociedade é subsidiária em relação à sociedade mas
é solidária entre os sócios (artigo 994º do CC), vigorando o benefício da excussão do património
social; (h) responsabilidade por factos ilícitos (artigo 995º do CC); (i) enquanto subsistir a
sociedade os credores particulares dos sócios só podem fazer-se pagar pelo respectivo direito aos
lucros e à quota de liquidação, não sendo admitida a compensação entre créditos e e débitos da
sociedade e dos sócios (artigos 996º e 997º do CC); (j) com a morte do sócio a sua quota, em
princípio, não é herdada, sendo liquidada em benefício dos herdeiros, mas os outros sócios
podem preferir a dissolução da sociedade (artigo 998º do CC); (l) a sociedade se dissolve em casos
análogos aos das pessoas colectivas (artigo 1004º do CC).
O problema da personificação das sociedades civis simples: (a) Tese negativista
(Contra): (Ferrer Correia, Pires de Lima e Antunes Varela, Mota Pinto): (i) o
legislador não trata as sociedades civis na mesma sede legal das pessoas colectivas,
mas no Livro do Direito das Obrigações; (ii) se essas sociedades fossem pessoas
colectivas o legislador não teria necessidade de traçar o regime supra visto, pois, seria
supérfluo e redundante; (iii) o facto do legislador, no artigo 1961º, nº 2 - al. b) do CC,
fazer a dicotomia entre pessoas colectivas e sociedades (iv) em parte alguma do CC se
encontra um artigo paralelo como o do artigo 163º que expressamente atribui
personalidade jurídica às fundações e associações e o próprio artigo 162º só mandar
aplicar as disposições do capítulo quando às demais pessoas colectivas apenas
quando a analogia das situações o justifique; (v) se há preceitos na lei que apontam
no sentido da personificação e não se compreendem sem ela, há também casos de
sociedades civis tão pouco estruturadas e informais ou instantâneas ou efémeras
(constituídas para um só acto) que não justificam a personificação (casos de
sociedades internas – não reveladas a terceiros – sem orgânica nem empresa
estabelecida;
(b) Tese Positivista (a favor) (Castro Mendes, Oliveira Ascensão,
Menezes Cordeiro, Pais de Vasconcelos e Carvalho Fernandes): (i) as
entradas dos sócios implicam a alienação dos bens do património destes e a
sua entrada no património da sociedade; (ii) a distribuição dos lucros
implica a transmissão de bens da titularidade da sociedade para a dos
sócios; (iii) idem no caso de partilha na sequência da extinção da sociedade;
(iv) a sociedade subsiste por 6 meses com um único sócio em caso da perda
da pluralidade de sócios (artigo 1004º - al. d) do CC); (v) sem que durante
esse período ocorra a confusão de patrimónios – da sociedade e do sócio
único; (vi) possibilidade de limitação ou exclusão de responsabilidade dos
sócios que não sejam administradores (artigo 994º, nº 3 do CC); (vii) a
proibição de compensação de créditos e dívidas de terceiros à sociedade e
aos sócios implica uma separação de patrimónios e créditos e dívidas da
sociedade e dos sócios (artigo 997º do CC); (viii) o regime de imputação de
actos ilícitos (artigo 995º do CC) é o mesmo estabelecido no artigo 169º do
CC para as PCs, associações e fundações.
Critérios de personificação das sociedades civis simples:
Oliveira Ascensão: clareza, certeza e reconhecibilidade externa (por
terceiros). Castro Mendes: solenidade do acto constitutivo
(existência do acto de constituição e cumprimento dos requisitos
legais) Pais Vasconcelos: escritura e registo, ou seja, tem de haver
substrato pessoal (pessoas - identificação dos sócios) substrato
patrimonial (discriminação das entradas e dos bens que constituem
o património social) substrato teleológico (fim e objecto social) e tem
de haver uma orgânica (modo de funcionamento, deliberação e
vinculação).
Em Cabo Verde: existência do contrato de sociedade, por
documento particular autêntico ou autenticado, e registo (idem
para as sociedades comerciais). São as exigências mínimas do
substrato e organização.
Diferenças de regimes (entre as sociedades civis simples personificadas e não
personificadas): (i) as scpj são sujeitos e as scspj não são; (ii) os actos praticados pelas scpj são
imputados na esfera da sociedade e nas scspj os actos são imputados directamente na esfera dos
sócios conjuntamente; (iii) nas scpj as participações sociais envolvem uma relação jurídica entre
os sócios e a sociedade e nas scspj as participações sociais apenas envolvem uma relação jurídica
entre os sócios enquanto tais, (iv) nas scpj os bens pertencem à sociedade e nas scspj os bens
pertencem aos sócios conjuntamente, na forma de comunhão em mão comum, (v) nas scpj asa
entradas são transmitidas da esfera dos sócios para a esfera jurídica da sociedade, nas scspj as
entradas mudam de estatuto, mas de forma diferente: da propriedade individual de cada sócio
passam a fundo comum em comunhão de mão comum de todos os sócios (idem com os lucros, o
pagamento de dividendos, a compensação de créditos e débitos da sociedade e dos sócios),
(vi)nas scpj tem património próprio diferente do dos sócios e nas scspj existe um fundo comum
que pertence em comum aos sócios, em regime de comunhão de bem comum, (vii)nas scpj
aplicam-se os estatutos e os preceitos dos artigos 977º do CC e, por analogia, as regras relativas
às associações do CC, nas scspj aplicam-se as regras contratuais que existirem entre os sócios,
os preceitos dos artigos 977º do CC e, por analogia, as regras relativas às associações, excepto as
que pressupõem a personalidade destas.
 
Natureza jurídica das pessoas colectivas:

Teorias: (a) Negativistas: Só o Homem pode ser pessoa, já que para ale dela nada
mais tem realidade, nem no mundo natural, nem no plano legal, não fazendo sentido
falar-se em pessoas colectivas. Para além desta base comum os autores divergem na
forma como procuram explicar o fenómeno da personificação colectiva. Duas teses
destacam-se (i) Teoria do património-fim (Brinz): Esta teoria prescinde da noção de
pessoa colectiva. Entende que ao lado de bens pertencentes a pessoas singulares,
podem perfeitamente conceber-se massas patrimoniais não pertencentes a ninguém,
afectas à realização de um certo fim. Ou seja, ao lado de pertenere ad aliquem
(pertencer a alguém) existe um pertenere ad aliquid (pertencer a um fim). A pessoa
colectiva não seria mais do que um destes patrimónios afectados ao fim cuja realização
asseguram, ou seja, a PC é apenas uma massa de bens que não pertence a pessoa
alguma, mas que a ordem jurídica não trata como uma res nullius, por a consideram
afectada a um determinado fim. A PC é um património-fim ou um património de
afectação, isto é, afecto a um determinado fim.
Críticas: (i) levada ao extremo chega à supressão do ser humano na construção da
realidade jurídica; (ii) pode adequar-se às fundações, mas não consegue explicar as
corporações, já que pode existir estas sem património; (iii) permite direitos sem sujeitos
permanentes, o que é inconcebível; (iv) não explica certas soluções jurídicas, como é o
caso dos direitos de personalidade da PC (bom nome e reputação), pois, o que é o bom
nome e a reputação de um património fim? (ii) Teoria Individualista (Ihering): o
verdadeiro titular dos direitos pretensamente atribuídos à pessoa colectiva, não pode
ser esta, que não passa de uma ilusão, mas sim os membros da própria associação ou
os destinatários do fim prosseguido, já que só estas podem ser pessoas. Críticas: (i) o
regime jurídico positivo corresponde a uma realidade diversa, considerando a PC como
um centro autónomo e único de relações jurídicas; (ii) mesmo no plano extrajurídico é
corrente o entendimento, entre leigos, v.g. entre os sócios, de que bens da sociedade
não lhes pertencem, mas sim à sociedade; (iii) frequentemente acontecem conflitos de
interesses entre o grupo e seus membros; em todas estas situações a teoria em causa
não dá explicações razoáveis.
(b) Teoria da Ficção: (Savigny, Putcha, Windscheid): só
o ser humano pode ser pessoa, porque só o ser humano é
dotado de vontade e, portanto, sujeitos de direitos.
Contudo, quando, em determinadas situações, importa
unificar relações que se referem a vários homens, a lei
aproveita-se da ideia de pessoa singular e constrói à sua
semelhança a figura da pessoa colectiva. Ao fazer isso,
finge na PC uma pessoa física. As pessoas colectivas são,
pois, uma ficção do Direito (fictio júris), isto é, o Direito
finge que são pessoas para efeitos jurídicos. Cfr. com a
teoria da vontade O direito subjectivo é um poder da
vontade e só o ser humano pode ter vontade e só por
ficção jurídica se pode imputar a vontade humana a uma
pessoa colectiva;
Críticas: (i) nada resolve, pois, o que se pede explicação é exactamente a
existência de bens ou direitos que não pertencem a pessoas físicas, por que
se entendem pertencerem às pessoas colectivas. Assim, dizer que esses bens
ou direitos pertencem a uma pessoa fingida é dizer que não pertencem a
ninguém; no fundo não admite a pessoa colectiva; (ii) a vontade não é
elemento do conceito do direito subjectivo, pelo que a dissociação entre a
vontade psicológica e a titularidade do poder, na pessoa colectiva, não é
entrave à sua admissibilidade; (iii) confunde a ficção com a abstracção, pois,
se ficção é tudo que é criação da lei, abstracções do direito, as fórmulas de
pensamento jurídico abstracto a que não correspondem realidades sensíveis,
então ter-se-ia de admitir que tudo no direito são ficções, inclusive as
pessoas singulares, que também são criações da lei, ou seja, dizer direito é
dizer ficção e idem com as leis científicas, as construções lógicas, a moral e
tudo que não se apalpa e nem se cheira.
(c) Teoria da realidade: Procuram encontrar na pessoa
colectiva uma natureza própria e real que justifique a
qualidade de pessoa jurídica. Podem agrupar-se em dois
grupos: (i) Teorias orgânicas ou da realidade orgânica:
A PC é uma organização social realmente existente e
dotado de vontade própria e de vida autónoma, como as
pessoas singulares. Assim, a personalidade colectiva não
resulta de uma concepção discricionária do legislador,
mas é a consequência imposta pela natureza das coisas,
ou seja, de um organismo com existência real. Algumas
dessas teorias, de matiz mais psicológica tentam
encontrar uma vontade colectiva distinta da vontade
individual dos elementos que a PC, outras, de matiz
orgânico, identificam nas PCs organismos tão completos
como os das PC, capazes de agir pelos seus órgãos à
semelhança do que se verifica com os homens.
Críticas: só a vontade humana é real; só por mecanismo jurídico é
que a vontade humana pode ser imputada a entidade distinta; as PCs
não têm realidade física autónoma, daí não fazer sentido falar-se em
vontade psicológica e real como nas pessoas singulares. (ii) Teoria da
realidade jurídica ou realidade técnica: O direito subjectivo, o dever
e a personalidade jurídica são conceitos jurídicos, ou seja, realidades
situadas no mundo do direito. A personalidade jurídica, em geral é
uma criação do direito, embora não sejam coincidentes os termos da
sua atribuição ao homem e a entidades colectivas. A personalidade
jurídica pode ser atribuída tanto a pessoas singular como também a
organizações sociais. Estas são realidades sociais com aptidão para
serem qualificados pelo direito como pessoas jurídicas. No plano
normativo as PCs tem existência real tal como as pessoas singulares.
A esta realidade jurídica corresponde, no plano social uma
individualidade própria diferente da de pessoa singular, constituída
pelo seu substrato (conjunto de homens ou de bens juridicamente
organizado), qualquer que seja a modalidade que ele assume e a sua
organização revistam.
Em suma, a personalidade jurídica singular ou
colectiva é uma realidade do mundo do direito, mas
tem subjacente uma realidade extra-jurídica: Na PS
essa realidade é o ser humano, provido de uma
individualidade físico-psíquica natural e na PC o
substrato é formado por uma organizações de homens
ou de bens e homens dirigidos à realização de
interesses comuns ou colectivos. A PC é uma técnica
de representação da realidade jurídica e que em
última instância destina-se a servir os interesses dos
homens.
(d) Teoria normativista (Menezes Cordeiro): por pessoa em direito
entende-se uma entidade destinatária de normas jurídicas e,
portanto, capaz de ser titular de direitos subjectivos ou de se
encontrar adstrita a obrigações. Trata-se de um ente que pode
autodeterminar-se na sua actuação jurídica, sendo um centro de
imputação de normas jurídicas. O que de particular há nas PCs é
que não são destinatárias de normas jurídicas de modo directo mas
sim indirecto, ou seja, a imputação final dos direitos e deveres aos
homens faz-se de modo colectivo, mediante novas normas,
agrupadas em torno da ideia de pessoa colectiva. Críticas: nada
resolve sobre o tema.
Figuras afins de pessoas colectivas: (a) organizações personificáveis: são as
associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais (artigos 195º a 201º
do CC); (i) associações sem personalidade jurídica - O artigo 195º, nº 1 do CC remete
para a legislação respectiva: vide a lei das associações: se não cumprirem os requisitos
legais não adquirem personalidade jurídica. Regime (contrato e o fundo comum):
princípio da autonomia: regras estabelecidas pelos seus associados e, na falta destas o
regime das associações que não pressuponham a pj. Fundo comum: as contribuições
dos associados, os bens que com o produtos dessas contribuições forem adquiridos e o
s bens deixados ou doados (artigos 196º e 197º do CC). O fundo comum não seguem as
regras comuns da compropriedade: porque têm natureza de comunhão de mão
comum: não se aplica o regime de disposição e oneração das quotas dos consortes e de
divisibilidade (Cfr artigos 1388º e 1392º [compropriedade] e 196º, nº 2 do CC). O fundo
comum tem uma certa autonomia patrimonial (cfr. artigo 196º, nº 2 do CC);
Responsabilidade da associação (cfr. artigo 198º do CC). (ii) Comissões especiais
(mais ténues e menos sofisticadas do que as associações sp) – artigos 199º a 201º do
CC. noção: casos em que uma pluralidade de pessoas se incumbe ou é incumbida de
uma certa tarefa ou da prossecução de um certo fim;
fins (exemplificativos) – artigo 199º do CC. O que existe de comum: São fins
altruísticos, não egoísticos e não lucrativos. Não têm de ser fins do Estado ou
públicos, nem de interesse público ou geral. Regime patrimonial: a lei não
admite a constituição de fundo comum com alguma autonomia patrimonial
como nas associações spj.Responsabilidade – artigo 200º do CC. (b)
estabelecimento comercial (Cfr. artigos 3º e 16º do CEC): é o conjunto de
bens e serviços organizados pelo comerciante (em nome individual ou
sociedade comercial) com vista ao exercício da sua exploração comercial. O
estabelecimento situa-se no plano do objecto mediato (balcões, máquinas,
mercadorias) e do objecto imediato (direitos do comerciante como inquilino
ou patrão, v.g., patentes, marcas, clientelas e direitos de representação
comercial). Uma teoria muita divulgada considera os estabelecimentos
comerciais como universalidades; (c) empresas: é fundamentalmente uma
unidade de actividade económica.
Casos duvidosos de pessoas colectivas: (i) tentativas históricas de
personificação de animais, os mais próximos do homem; (ii) tentativa de
personificação de estabelecimento comercial, o navio, os condóminos de
propriedade horizontal ou grupos de proprietários de uma coisa, sociedade
civis simples.
Casos especiais: herança: Até a sua aceitação é um património sem sujeito,
mas tem direitos e deveres processuais (Cfr. artigos 5º, nº 1 e 6º do CPC),
mas essa personificação não tem efeitos no campo do Direito Civil; massa
falida ou insolvente: o artigo 1248º do CPC: «a venda por negociação
particular é feita pelo administrador da como representante da massa».
Aplicável à insolvência por força do artigo 1315º do CPC. Em princípio
parece sugerir a ideia da personificação da massa falida ou insolvente,
porém, a formulação legal é infeliz, já que os bens integrantes dessa massa
continuam a pertencer ao falido ou insolvente, pessoa que é representada
pelo administrador. comissões de trabalhadores: não têm personalidade
jurídica, mas prosseguem interesses gerais dos trabalhadores.
Regime Jurídico das Pessoas Colectivas:
 Constituição: é o início da personalidade jurídica, que resulta de acto complexo, analisado
em três momentos e fases (organização do substrato, reconhecimento e registo). Regime
comum e regimes particulares (associações, sociedades civis simples e fundações). A
questão do ânimus personificandi.
Modificação: O CC utiliza terminologias por diversas (modificação, transformação e
alteração). As modificações podem ser internas ou externas, formais e substanciais,
dependendo dos critérios utilizados. O problema da afectação da personalidade jurídica: isto é
relevante quando a modificação afecta o tipo de PC. Na grande maioria dos casos a
personalidade jurídica não é afectada, continuando a subsistir na mesma pessoa, embora
modificada, mas a pode acontecer que da modificação decorra a extinção da PC a que ela
respeita. Cfr. as figuras de fusão e cisão parcial ou total), com relevância no domínio das
sociedades comerciais. Na cisão total: a PC cindida extingue-se, formando-se à sua custa
duas ou mais PC (cisão-dissolução); Na Cisão parcial: a PC cindida subsiste, embora
modificada, uma vez que a partir dela se vai formar outras ou PC. Na cisão-fusão: partes do
património da PC cindida se funde com outras PC existentes (também cindidas) para o
conjunto formar uma nova PC. Cfr. o regime de modificações das sociedades comerciais,
associações, sociedades civis simples e fundações.
Extinção: A cessão da personalidade jurídica das PCs resulta da sua
extinção, como fenómeno complexo e não um a facto jurídico simples,
como acontece com as pessoas singulares. Esse facto c complexo pode
ser analisado em três momentos ou fases: Dissolução (com a dissolução
inicia-se o processo de extinção mas a PC não deixa de subsistir, ainda
que apenas para efeitos de extinção final; mas a dissolução não é um
fenómeno irreversível, já que a PC pode retomar, em certas
circunstâncias, a sua vida normal – artigo 1016º do CC), liquidação
(que pode ser analisada, ainda, em operações distintas; trata-se, no
entanto de ultimação dos assuntos em que a PC está envolvida e o
apuramento final e total dos seus bens, especialmente a realização do
activo e op pagamento do passivo) e sucessão (trata-se de concretizar o
destino a dar ao património da PC, mediante a sua atribuição a outra
ou outras pessoas, singulares ou colectivas).
Cfr. Os regimes de extinção nas sociedades comerciais, sociedades
civis simples associações e fundações.
Capacidade de gozo das PC:C. Mendes: As PC têm capacidade de gozo
específica (artigo 165º do CC), porque apenas têm a susceptibilidade de direitos e
obrigações necessárias ou convenientes à prossecução dos seis fins – princípio
da especialidade. Qual o alcance do princípio da especialidade? Actos ultra
vires (ultra vires theory em Direito inglês – a actividade jurídica das pessoas
colectivas não pode ultrapassar os limites do escopo que lhes é assinalado pelos
estatutos); - Cfr. artigo 165º, nº 1 do CC - o fim social, tal como concretizado
pelo objecto social, constitui o critério de acção da pessoa colectiva e explicita os
interesses que prossegue. Assim:
 a legitimidade de acção da pessoa colectiva deriva dessa conexão entre a pc e
o fim social;
 os actos e actividades das pessoas colectivas que são dirigidos à prossecução
do fim, no âmbito do objecto social, são legítimos;
 os actos e actividades alheios aos fins e ou que estejam fora do objecto social
da pessoa colectiva são ilegítimos (actos ultra vires).
(i) Doutrina tradicional: entende que o artigo limita a capacidade de gozo
das pessoas colectivas e sanciona os actos “ultra vires” com a nulidade, por
falta de capacidade de gozo (artigos 294º e 165º do CC); (ii) Oliveira
Ascensão: defende que as pessoas colectivas têm capacidade genérica de
gozo, limitada apenas pela sua natureza não humana. O regime do artigo
165º, nº 1 nada tem a ver com a capacidade de gozo, já que a limitação pelo
fim nada tem a ver com a capacidade. O que pode acontecer é praticar os
actos com desvio em relação ao fim. (iii) Marcelo Caetano: a propósito das
fundações escreveu que o princípio da especialidade é um condicionamento
funcional do exercício dos direitos de que a pessoa colectiva é capaz. A prática
de actos com violação do princípio da especialidade, salvo nos casos de
conluio doloso das partes, em que a nulidade opera de pleno direito, gera a
anulabilidade. (iv) Pais de Vasconcelos: Em princípio, a capacidade de gozo
das pessoas colectivas é genérica – artigo 165º, nº 1 do CC e 108º, nº 1 do
CEC. Só devem ficar de fora os actos ou actividades que nem sequer são
instrumentais e que não sejam úteis para a prossecução do objecto social
(são os actos completamente estranhos ao objecto social). Não têm a
capacidade de gozo para as situações ou posições que pressupõem a
qualidade humana (Cfr. artigo 165º, nº 2 do CC). Também em matérias que
são próprias da natureza as pessoas singulares as pessoas não têm
capacidade de gozo (cisão, fusão, dissolução, aumento e redução do capital
social, modificação do fim). Por outro lado, há actividades que são vedadas
por lei a pessoas singulares: banca e seguros.
Limitações legais: Por razões de racionalidade económica ou de utilidade
social, a lei por vezes proíbe às PC certas actividades ou actos (instituições
financeiras não podem adquirir imóveis para do necessário à realização do
seus fins, etc); o objecto social é o âmbito da actividade que a PC se propõe
desenvolver a título principal para prosseguir o seu fim social. vg. as
sociedades comercias têm todos como fim o lucro, mas prosseguem esse fim
em diversas actividades (actividade bancária, seguradora, compra e venda de
propriedades, etc). O regime do artigo 165º, nº 1 tem a ver, não com a
capacidade de gozo, mas com o fim social, concretizado pelo objecto social da
pessoa colectiva. A questão é de legitimidade ou ilegitimidade, ou seja, de
ajuizar se determinado acto da pessoa colectiva tem com o fim social aquela
especial relação que permite concluir sobre a sua legitimidade ou
ilegitimidade. A solução de nulidade obriga os terceiros com quem as pessoas
colectivas contratam a ter de sindicar todos os seus actos, o que seria
demasiado violento e gerador de muita insegurança jurídica. Por outro lado, a
nulidade pode vir a ser decretada muito anos após a prática do acto. A
melhor solução é a do artigo 6º, nº 4 do CSC Português que considera o acto
válido, e responsabilizar-se a pessoa ou os titulares dos órgãos que, em nome
da sociedade comercial, tenham praticado o acto, se deles resultarem danos
para a sociedade comercial. A semelhança e as condições actuais impõem a
mesma solução para a generalidade das pessoas colectivas, em homenagem à
unidade do sistema jurídico.
Porém, a sanção deve ser a nulidade quando o acto praticado violar a
ordem pública (quando o objecto esteja fora da sua disponibilidade,
por ter sido fixado por lei, ou autorizado ou aprovado pelo Estado.
Deste modo a questão desloca-se da sede da capacidade de gozo para
a vinculação da pessoa colectiva: os actos ultra vires vinculam a pc?
O CC não contém regras específicas sobre vinculação das pessoas
colectivas. Só o CEC – artigos 328º e 436º - contém regras relativas
às sociedades anónimas e sociedades por quotas: os actos vinculam
as sociedades comerciais perante terceiros e estas só podem opor a
terceiros limitações do seu objecto caso se prove que esses terceiros,
nas circunstâncias do caso, sabiam ou não podiam ignorar que os
actos foram praticados não respeitavam o objecto social, não
bastando a simples publicação dos estatutos. Mesmo que os terceiros
sabiam disso, os mesmos vinculam a sociedade se os seus órgãos
assumirem em deliberação expressa ou tácita dos seus sócios –
artigo ___. Esta solução é a que melhor respeita o princípio da
aparência e da confiança.
Carvalho Fernandes: o âmbito do princípio da especialidade tem de ser visto
em concreto, não necessariamente caso a caso, mas por categorias das PC e
deve ter um alcance amplo, o que significa que varia em função do tipo da PC;
o artigo 165º do CC faz delimitação positiva (por ex. uma PC de fim não
económico não está impedida de praticar isoladamente actos de comércio e
com isso obter ganho económico para prosseguir da melhor forma os seus
fins) e delimitação negativa (por ex. uma sociedade comercial não está
impedida de fazer donativos [vide a problemática da chamada
responsabilidade social das sociedades comerciais, especialmente nos
momentos de catástrofes]). Estão assim excluídos direitos vedados por lei (ex.
direito de uso e habitação – artigo --- do CC – direitos inerentes à
personalidade singular (direitos familiares e os inerentes à capacidade
sucessória activa de alguns direitos de personalidade) e direitos vedados pelo
estatuto (embora a lei não se lhe refere);Em síntese, pode-se dizer que a
capacidade de gozo das pessoas colectivas abrange direitos de natureza
patrimonial, não lhes estando vedados direitos de natureza pessoal (direito
ao nome, à honra e distinções honoríficas ou certos direitos públicos (caso de
direitos políticos a partidos políticos);A actividade das PC não pode
ultrapassar os limites do escopo que lhes é assinalado nos estatutos. A
capacidade de gozo coloca-se no plano da PC e a competência se coloca no
plano dos seus órgãos;
Capacidade de exercício: (a) Teses negativistas (já ultrapassadas)
- Cabral de Moncada - As PC não dispõem de meios naturais de
querer e agir como os seres humanos, ou seja, não têm vontade e
voz próprias como as pessoas singulares; a formação e expressão da
sua vontade faz-se através dos seus órgãos, que têm normalmente
como titulares, pessoas singulares; mesmo quando os titulares
sejam pessoas colectivas, são pessoas singulares que suportam os
processos de formação e expressão da vontade funcional das PC;
esta tese reconhece que as PC têm órgãos próprios, mas estes
apenas actuam como seus representantes, que constituem um meio
de suprimento da sua incapacidade; os titulares dos órgãos da PC
têm um mandato da PC para agir como seus representantes; isto
significa que as PC são genericamente incapazes, ou seja, sofrem de
uma incapacidade genérica de exercício, que é suprida pelo regime
de representação legal. Esta concepção parte do pressuposto de que
as PC não têm vontade própria e, por isso, não podem agir
pessoalmente, mas só através de representantes, já que não têm
órgãos naturais. As PC só respondem pela culpa dos seus
representantes, nos mesmos termos em que a pessoa singular
responde pela culpa dos seus representantes.
Críticas: (i) o mandato pressupõe a existência de duas pessoas: o
mandante e o mandatário (Cfr. artigo 168º, nº 1 do CC); (ii) a relação
entre os titulares de órgãos da PC e a PC é de representação
orgânica. (b) Teoria Positivista – Teoria orgânica: A doutrina
portuguesa dominante entende que a capacidade de exercício das
PCs está juridicamente organizada, ou seja, as PC são susceptíveis
de direitos e vinculações com base não numa vontade natural, mas
sim numa vontade juridicamente organizada. Entende-se que não
faz qualquer sentido buscar nas PCs uma vontade psicológica
autónoma, sendo verdade que não têm meios naturais para formar e
transmitir a sua vontade e actuar, quer no plano social, quer no
plano jurídico; assim, abordar a problemática da capacidade de
exercício das PCs implica atender à particular natureza delas;
efectivamente, as PCs formam a sua vontade e agem no mundo do
direito através dos seus órgãos próprios; os órgãos não são simples
representantes das PCs.
O CC não contém qualquer preceito sobre a capacidade de exercício,
como acontece em relação à capacidade de gozo (artigo 165º do CC).
Mas também em parte alguma trata as PCs como incapazes de
exercício. A favor desta tese argumenta-se que os órgãos das PCs não são
representantes das PC, mas fazem parte da própria estrutura delas, tal
como os braços e a boca não são representantes do ser humano, mas fazem
parte do próprio ser humano. Assim, entre os órgãos das PCs e a as
próprias pessoas colectivas existe uma relação de organicidade ou de
integração. Pais de Vasconcelos: a ratio legis nas incapacidades de
exercício dos menores (falta de experiência de discernimento e autodomínio)
não se verifica nas PCs. Idem nas interdições e inabilitações. Essas razões
são de ordem transitória ou patológica. A existência de órgãos nas PCs nada
têm de transitório ou patológico, mas sim resulta da própria natureza delas,
ou seja da sua organicidade. Daí não ser correcto falar-se de incapacidades
genérica de exercício das PCs.
Vinculação das Pessoas Colectivas

O CC não contém regras específicas sobre a matéria. Vide o regime da vinculação das
sociedades comerciais (artigos 109 do CEC)

Responsabilidades civil das pessoas colectivas e dos titulares dos seus órgãos

As PCs agem na vida social, no âmbito da autonomia privada, de forma juridicamente


autónoma e independente, como entes dotados de personalidade jurídica, à
semelhança das pessoas singulares. Também têm responsabilidades decorrentes do
seu modo de agir.

Responsabilidade contratual ou obrigacional: As PCs respondem nos termos


previstos nos artigos 798º e 800º do CC. Nos termos deste artigo, o representado é
responsável por actos ou omissões do seu representante, seja legal ou voluntário, seja
representante ou órgão da PC. A obrigação de indemnização é uma simples
continuação da obrigação inicialmente assumido pelo devedor. Se assim não fosse
estar-se-ia perante uma situação de favor que não se justifica, se comparada com as
pessoas singulares; no plano prático isso prejudicaria as próprias PCs que não podiam
negociar a prazo.
Responsabilidade delitual ou extracontratual ou extraobrigacional:

Confrontam-se duas teses: (i) Nega-se a responsabilidade das PC, por dois motivos:
(a) as PCs não têm vontade e acção próprias, nem consciência dos seus actos, daí não
fazer sentido falar-se em culpa, que é um dos pressupostos da responsabilidade civil
em geral; (b) em qualquer caso, os órgãos das PCs nunca poderiam considerar-se
autorizados a praticar actos ilícitos, já que os poderes que lhes são conferidos são
jurídicos e visam a satisfação de interesses tidos pela ordem jurídica como dignos de
protecção jurídica e que, como tais, só se justifica a prática de actos lícitos. A
responsabilidade civil pressupõe violação de interesse alheio, ou seja, um acto ilícito,
que, quando praticado só pode ser visto como acto pessoal do seu autor (o titular do
órgão), que agiu fora da sua competência (os poderes representativos não abrangem a
prática de actos ilícitos); (ii) As PCs devem respnder civilmente.

O CC, nos seus artigos 169º (pessoas colectivas em geral - ubi commoda ibi
incommoda) e 995º do CC (sociedades civis simples) e o CEC, no seu artigo 109º
nº 1 (sociedades comerciais) remetem para o artigo 500º do CC (responsabilidade
civil dos comitentes ou aquiliana – ministrada em sede do Direito das Obrigações):
Requisitos ou pressupostos: (a) culpa do órgão que praticou o acto, ou seja, que sobre
o órgão, agente ou mandatário recaia igualmente obrigação de indemnizar (artigo 500º,
nº 1 do CC), ou seja, que tenha havido culpa da pessoa que praticou o acto [salvo
os casos de dispensa da culpa – acidentes de viação – artigo 503º do CC - danos
causados por animais – artigo 502º do CC- danos causados por instalações de energia
ou gás – artigo 509º do CC – danos causados por acidentes de trabalho – vide Código
Laboral – danos causados em estado de necessidade – artigo 339º, nº 2 – 2ª parte do
CC –; (b) que o acto praticado tenha causado danos (c) que haja nexo de causalidade
adequada entre o acto praticado e o dano; (d) que o acto danoso tenha sido praticado
pelo órgão, agente ou mandatário no exercício da função que lhe é confiada. Deve haver
conexão entre o acto do órgão e a competência do órgão não podendo abranger actos
ilícitos, mas sim actos próprios das funções do órgão ou agente; o acto ilícito deve ser
praticado pelo órgão da PC, agindo nessa qualidade, no desempenho das suas
funções e por causa delas; neste particular não há unanimidade na doutrina.
A responsabilidade mantém-se, ainda que o órgão tenha actuado intencionalmente ou
contra as instruções da PC (artigo 500º, nº 2 do CC).

Responsabilidade criminal: (vide o CP). Inicialmente a Doutrina entendia que só as


PS eram susceptíveis de responsabilidade criminal, especialmente por causa da prisão
que não seria praticável em relação às PCs. Mas também a Doutrina entendia que a
culpa e o dolo em matéria criminal eram inseparáveis das pessoas singulares que agem
por conta das PCs. A evolução da criminalidade económica, ambiental, financeira,
fiscal, organizada e informática e no chamado Direito Penal Secundário, inverteu a
situação e hoje essa responsabilidade é aceite, sujeitando as PC a penas adequadas à
sua natureza.

Responsabilidade dos titulares dos órgãos das PCs (perante as PCs, seus credores
e terceiros): No que respeita ao regime de responsabilidade civil dos titulares dos
órgãos perante as PCs a que pertencem que não sejam sociedades comerciais, o
artigo 168º, nº 1 do CC – remete para o regime que estiver definido nos respectivos
estatutos, na falta dele, manda aplicar o regime de mandato, com adaptações. Quanto
às sociedades comerciais – responsabilidade dos administradores –artigos 170º e ss
do CEC.
Desconsideração da personalidade colectiva: As PCs são autónomas em relação às
pessoas que as criam ou seus membros, pelo que os actos praticados pelos seus
criadores ou membros não podem ser imputados a estes e vive-versa: é o princípio da
separação.

A autonomia patrimonial perfeita se alcança com o regime de responsabilidade


limitada da PC e tem a vantagem de manter o património pessoal dos membros e
instituidores intactos e protegidos dos credores da PC. Assim, a autonomia
patrimonial conseguida com a personalização colectiva não é censurável. Essa
limitação de responsabilidade, desde que clara, transparente e conhecida, dá
segurança ao investimento.

Mas a autonomia pessoal e patrimonial das PCs é susceptível de ser abusada. Abuso
da autonomia patrimonial das PCs: o mau uso da personalidade colectiva para fins
ilícitos suscitou um movimento doutrinário e jurisprudencial, tendente à
desconsideração da personalidade colectiva, especialmente no domínio das
sociedades comercias.É sobretudo nas sociedades por quotas e anónimas que têm
existido um aproveitamento ilícito da autonomia para obter as fugas à imputação
pessoal e à responsabilidade patrimonial por parte dos sócios e accionistas.
Foi no direito americano que surgiu a prática (jurisprudencial) de “disregard of
legal entity”: consiste na desconsideração pelo juiz e no caso ocncreto, quando a
forma da PC é utilizada abusivamente. Esta orientação surgiu ligada ao sistema
(“incorporation”) de atribuição da personalidade colectiva entendida como um
privilégio que não poderia ser abusada.

No direito alemão importou a prática americana e procedeu à sua elaboração


doutrinária que faltava.

Em Portugal: Correêa de Oliveira – propôs a designação de “desconsideração da


personalidade colectiva”; Menezes Cordeiro propôs “levantamento da personalidade
jurídica”; Castro Mendes prefere “superação da pessoa colectiva”.

Assim, Pais de Vasconcelos: a desconsideração da personalidade jurídica ocorre


quando, não obstante a separação entre as esferas da PC e dos respectivos
membros (sócios, accionistas, etc), inerente à personalidade colectiva, o direito
imputa ao membro (sócio, accionista, etc) a autoria ou a responsabilidade de
actos da PC ou vice-versa, como se, no caso concreto, personalidade colectiva
não houvesse, sem que, por isso, a existência e a personalidade da pessoa
colectiva em causa sejam denegados.
A desconsideração actua em 2 campos: (i) o da imputação subjectiva de
conhecimento, qualidades ou comportamentos jurídicos relevantes [é
imputado à sociedade o conhecimento ou a consciência pelo sócio de certas
situações como qualificantes da boa ou má-fé; também a titularidade no
sócio de certos interesses é imputada à sociedade, ou vice-versa, para efeitos
de determinação de conflitos de interesses ou incompatibilidades. Exs: casos
de interposição fictícia de pessoas, em que o sócio oculta a sua
intervenção pessoal atrás da pessoa colectiva ou vice – versa; (ii) o da
imputação de responsabilidade patrimonial [a responsabilidade patrimonial
da sociedade é imputada ao sócio, ou vice-versa, de modo a evitar a
frustração de créditos quando o património formal devedor se revele
insuficiente. Neste caso a desconsideração corresponde à aplicação do regime
de responsabilidade ilimitada a uma sociedade de responsabilidade limitada].
A desconsideração pode ser legal (artigo 339º, nº 2 do CEC: «…. Em caso de falência da
sociedade unipessoal, o sócio único responde com todo o seu património pelas obrigações
sociais, contanto que se prove que não foram observados os princípios de afectação do
património da sociedade ao cumprimento das respectivas obrigações e da separação
patrimonial em relação ao sócio único.»] e extralegal (não prevista lei). Neste particular
há várias construções e a doutrina não chegou, ainda a um consenso. (i) Perspectiva
subjectivista: o fundamento da desconsideração da PC reside no abuso consciente e
intencional, com um fim ilícito, da separação pessoal e patrimonial entre a PC e o seu
sócio/membro/instituidor/beneficiário (enquadra-se na fraude subjectiva à lei); Exige-
se que há consciência e intencionalidade de contornar e frustrar o regime legal de
imputação subjectiva ou da responsabilidade limitada. Dificuldades: reside na prova
do elemento subjectivo: a consciência e intenção de defraudar. Porém isto não deve
impressionar, como no Direito Penal. (ii) Perspectiva objectivista: dispensa a prova
da consciência e intenção, argumentando-se com a dificuldade de prova e ainda que o
resultado juridicamente indesejável só por si justifica a desconsideração da
personalidade colectiva, mesmo que sem a consciência e a intencionalidade subjectiva.
Esta perspectiva pode ser também enquadra no instituto de fraude objectiva à lei, em
que se dispensa a consciência e intencionalidade subjectiva.
Vantagens: facilita consideravelmente a
aplicação da desconsideração da personalidade
colectiva. Pais de Vasconcelos: entende que é no
quadro da fraude à lei que se deve enquadrar a
desconsideração da personalidade colectiva
extralegal. Mas também pode operar noutros
casos (simulação, abuso de direito, abuso do
instituto da responsabilidade orgânica etc).

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