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Psicologia Institucional Profa. Ma.

Danielle Pereira Lovatto


José Bleger
Conceito de Psico-Higiene

• Para Bleger, a “saída dos consultórios” não constitui apenas uma


variação do trabalho psicológico, mas sim, uma necessidade
social;

• Nesse caminho, ele situa a Psico-higiene e a Psicologia


Institucional;
Conceito de Psico-Higiene

• A Psico-higiene busca proporcionar condições que promovam a


vida saudável e a saúde mental nos grupos básicos de interação;

• Ex: a família, a escola, o trabalho e as atividades comunitárias.

• Ela se concentra em prevenir problemas psicológicos e em


promover o bem-estar mental nas diversas esferas da vida das
pessoas;
Conceito de Psico-Higiene

• Diferentemente da Higiene Mental e da Saúde Pública, sua ênfase


não está na doença, mas sim na promoção da saúde mental;

• Não se limita apenas às estratégias técnicas de cura ou recuperação


terapêutica;

• Abrange um trabalho psicológico que ocorre em situações comuns


do cotidiano das pessoas;
Conceito de Psico-Higiene

• O trabalho do psicólogo comprrende desde o entendimento e a


transformação de preconceitos e hábitos, até a intervenção em
momentos de mudança, crise e rotina;

• A psicanálise desempenha um papel valioso para compreender a


complexidade das dinâmicas inconscientes e emocionais presentes
nas interações grupais e institucionais;
Conceito de Psico-Higiene

• Oferece ferramentas para compreender os conflitos, defesas e


ansiedades que podem emergir nessas relações complexas;

• A compreensão dinâmica inconsciente ajuda a explorar as


motivações subjacentes e a influência do passado nas interações
atuais.
A Instituição Enquanto Totalidade e a Estratégia
Clínica
• A Psicologia Institucional difere do trabalho psicológico convencional
em instituições;

• Não foca apenas em questões individuais ou pontuais, mas lida com a


instituição como uma totalidade;

• O psicólogo institucional não poderá ser, por contrato, um empregado,


mas sim um assessor ou consultor, para garantir sua autonomia
profissional;
A Instituição Enquanto Totalidade e a Estratégia
Clínica
• Quando o psicólogo institucional atua a partir do lugar de assessor,
ele é capaz de desenvolver sua tarefa conforme sua própria análise
e diagnóstico da situação;

• Suas intervenções e abordagens não são determinadas ou


influenciadas pela direção da instituição ou por outros técnicos que
possam estar envolvidos;
A Instituição Enquanto Totalidade e a Estratégia
Clínica

• O objetivo do psicólogo sempre deverá ser da Psico-higiene, ou


seja, o de promover a saúde e o bem-estar dos integrantes das
instituições;

• Atua como um técnico que auxilia a trazer à tona questões


implícitas, não abordadas ou ocultas dentro da instituição;
A Instituição Enquanto Totalidade e a Estratégia
Clínica

• Trabalha para identificar e explorar conflitos não resolvidos e


padrões de interação que podem afetar negativamente o ambiente
institucional;

• Sendo necessário a realização de um enquadre clínico no início


do trabalho.
Enquadre

• Estabelecimento claro das regras, objetivos e expectativas do


trabalho do psicólogo institucional desde o início;

• É fundamental para delinear as responsabilidades do psicólogo;

• Define os limites de sua atuação;

• Cria um ambiente de confiança entre o profissional, os membros


da instituição e a direção.
Esquemas do Enquadre

1. Atitude Clínica – Distância instrumental

2. Esclarecimento da função profissional como consultor

3. Esclarecimento dos limites e do caráter de sua tarefa


profissional em todos os níveis ou grupos nos quais for atuar

4. Esclarecimento sobre a informação dos resultados bem como


a quem serão dirigidos
Esquemas do Enquadre

5. O que diz respeito a um determinado grupo será tratado apenas


com ele
6. Quanto aos contatos extraprofissionais: limitá-los ou excluí-los
7. Não tomar partido quanto à relação entre os grupos
8. Limitar-se ao assessoramento e à atividade profissional, não
assumindo nenhuma função diretora, administrativa ou executiva
9. Não fomentar a dependência em relação ao seu trabalho
Esquemas do Enquadre
10. Em sua postura frente ao grupo, deve controlar os traços de
onipotência
11. Quanto ao sucesso do trabalho e à saúde da instituição: levar em
consideração o grau de compreensão (insight), de independência
e de melhora das relações
12. Quanto ao manejo das informações: levar em consideração o
timing e a quantificação
13. Levar sempre em consideração a resistência implícita ou
explícita
Elementos para a compreensão das relações
instituídas
• Ao analisar as interações dentro de instituições, é fundamental
considerar as dinâmicas ocultas que afetam as os grupos e
indivíduos;
• Para Bleger, a personalidade das pessoas é moldada pela
dinâmica entre um ego sincrético e o ego organizado;
• É influenciada tanto pelas relações com o grupo quanto pela
dinâmica institucional, e essa conexão não pode ser separada.
Sincretismo e a Identidade do Sujeito
• Bleger levanta duas hipóteses sobre a origem dos processos
grupais:
1. O indivíduo não nasce no isolamento para vir a desenvolver a
sociabilidade
• O indivíduo não começa sua jornada isolado, mas sim em um
estado inicial de indiferenciação entre o próprio "eu" e os outros
ao seu redor;
• Isso significa que, inicialmente, não há uma separação clara entre
a sua identidade e a dos outros;
Sincretismo e a Identidade do Sujeito

• Conforme ele se desenvolve, ocorre uma transformação desse


vínculo inicial;
• Passando de um estado de união simbiótica ou sincrética para a
construção individual da identidade e da compreensão da
realidade.
2. O vínculo simbiótico ou sincrético ocorre por meio de conexões
corporais e pré-verbais
Sincretismo e a Identidade do Sujeito

• Esse tipo de vínculo é caracterizado pela ausência de


diferenciação entre o próprio “eu” e os outros;
• Resulta em uma projeção intensa de pensamentos e emoções no
“outro”;
• Esse padrão permite uma forma de sobrevivência psicológica,
porque atende às necessidades emocionais e de segurança do
indivíduo em estágios iniciais de desenvolvimento;
Sincretismo e a Identidade do Sujeito

• Mesmo em indivíduos com personalidades maduras, há


elementos que remontam à fase inicial de ausência de
diferenciação, podendo influenciar o comportamento e a maneira
como se relacionam;
• Esses elementos são nomeados como núcleos aglutinados por
Bleger;
• Esses núcleos podem emergir tanto no desenvolvimento normal
quanto em situações patológicas.
Para refletir...

• Em quais momentos você se parece com os membros da sua


família, mesmo não gostando disso?
Sincretismo e a Identidade do Sujeito

• A personalidade ou identidade de um indivíduo é moldada pela


interação entre duas partes distintas: o ego sincrético e o ego
organizado;
• O ego sincrético refere-se à fase inicial do desenvolvimento, na
qual os vínculos são formados de maneira profunda e íntima;
• Nesse estágio, não há uma clara distinção entre o indivíduo e o
mundo exterior;
Sincretismo e a Identidade do Sujeito

• Os sentimentos, desejos e emoções são projetados em outros,


criando um vínculo de simbiose no qual o indivíduo ainda não é
capaz de diferenciar entre si mesmo e o outro;
• Pelo ego organizado podemos nos ver em relação com o outro;
• Permitindo que haja uma troca recíproca de experiências e
entendimento mútuo;
Sincretismo e a Identidade do Sujeito
• Assim, a simbiose, embora seja um vínculo poderoso, não é uma
relação verdadeira, pois não envolve uma compreensão
recíproca;
• A verdadeira relação acontece quando há um intercâmbio de
experiências entre indivíduos que têm uma compreensão mútua,
e isso ocorre na fase do ego organizado;
• A distinção entre o ego sincrético e o ego organizado acontece
por meio da separação ou clivagem dos processos mais
primitivos relacionados à sociabilidade;
Sincretismo e a Identidade do Sujeito

• A clivagem não anula completamente a tendência do indivíduo


de projetar emoções e desejos nos outros;
• Separa essa tendência da capacidade de se relacionar de maneira
mais consciente e diferenciada com os outros;
• Isso significa que, a pessoa pode reconhecer a realidade e se
relacionar com ela, ao mesmo tempo em que mantém aspectos
mais primitivos de projeção e fusão emocional.
Sincretismo e a Identidade do Sujeito
• Ex:
• Estudante universitário em momentos de conquistas e
reconhecimento se sente confiante e orgulhoso de suas
capacidades intelectuais (ego organizado).
• Em outras situações, como quando enfrenta dificuldades em uma
disciplina ou não consegue atingir seus próprios padrões de
excelência, começa a duvidar de suas habilidades, se sentindo
inadequado e temendo que os outros percebam suas falhas (ego
sincrético).
Comunicação e o Grupo
• Segundo Bleger, o conceito de grupo é resultado da interação
entre duas capacidades humanas;
• A capacidade de se vincular por meio da sociabilidade sincrética
e a capacidade de se relacionar por meio da sociabilidade
organizada;
• A sociabilidade sincrética refere-se à capacidade inata das
pessoas de se conectarem e se unirem de maneira menos
diferenciada;
• Os limites entre o indivíduo e o grupo não são claramente
definidos;
Comunicação e o Grupo
• A sociabilidade organizada diz respeito à habilidade de se
relacionar de forma mais diferenciada e consciente;
• Os limites entre o indivíduo e o grupo são mais claros;
• A comunicação ocorre de maneira mais elaborada e
estruturada, permitindo trocas de ideias e pensamentos mais
individuais;
• Essa comunicação é um processo contínuo de alternância entre:
Momentos de maior conexão vs. momentos de diferenciação
Comunicação e o Grupo

• A organização pode ser entendida como um conjunto de grupos


interconectados, em uma estrutura hierárquica representada pelo
organograma;
• Esses grupos interagem dentro de um espaço público, geralmente
seguindo normas e procedimentos estabelecidos;
• Nas interações que ocorrem nas organizações, a presença dos
aspectos organizados da personalidade é fundamental;
Comunicação e o Grupo

• Esses aspectos referem-se às partes da personalidade que se


relacionam de acordo com as normas sociais e as diretrizes da
organização;
• As normas funcionam como um controle que garante a
convivência das diferentes perspectivas presentes na clivagem;
• A clivagem permite a coexistência de atitudes psíquicas distintas
em relação à realidade;
Comunicação e o Grupo

• Sendo assim, a organização está intrinsicamente ligada à


personalidade;
• As mudanças que ocorrem na estrutura ou nos processos de uma
organização têm impacto direto na personalidade dos indivíduos
envolvidos;
• Assim como as mudanças individuais podem influenciar a
dinâmica e a cultura de uma organização;
Comunicação e o Grupo

• Em nível sincrético, ao participar de um novo grupo, a ansiedade


é desencadeada no indivíduo, que teme em entrar em contato
com o grupo e ficar submergido em sua indiferenciação;
• Só pela clivagem e imobilização desses aspectos é possível
acontecer uma comunicação por interação e uma produção
organizada do grupo.
Instituição e Organização

• Bleger leva em consideração:


1. A intensidade da clivagem;
2. A flexibilidade dos grupos para “ir e vir” do nível sincrético ao
organizado e;
3. O grau da ansiedade que isso desperta.
Instituição e Organização
• O funcionamento do grupo no nível institucional envolve regras,
normas, e papéis definidos;
• Se esse funcionamento se tornar excessivamente rígido e estático, o
grupo pode perder sua vitalidade e se transformar em uma espécie de
organização burocrática;
• Ex: Hospitais psiquiátricos que originalmente se destinam a cuidar da
saúde mental podem, devido a uma excessiva rigidez institucional,
acabar gerando problemas como privação sensorial e déficit de
comunicação entre os pacientes.
Da compreensão à postura psicanalítica

• A proposta de Bleger para a tarefa do psicólogo institucional:


• Atuar de maneira abrangente na instituição, considerando as
interações entre os grupos;
• Utilizar a dissociação instrumental para equilibrar seu
envolvimento emocional e sua análise objetiva;
• Permitindo que o psicólogo intervenha de forma mais eficaz nas
dinâmicas e relações institucionais.

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