• Para Bleger, a “saída dos consultórios” não constitui apenas uma
variação do trabalho psicológico, mas sim, uma necessidade social;
• Nesse caminho, ele situa a Psico-higiene e a Psicologia
Institucional; Conceito de Psico-Higiene
• A Psico-higiene busca proporcionar condições que promovam a
vida saudável e a saúde mental nos grupos básicos de interação;
• Ex: a família, a escola, o trabalho e as atividades comunitárias.
• Ela se concentra em prevenir problemas psicológicos e em
promover o bem-estar mental nas diversas esferas da vida das pessoas; Conceito de Psico-Higiene
• Diferentemente da Higiene Mental e da Saúde Pública, sua ênfase
não está na doença, mas sim na promoção da saúde mental;
• Não se limita apenas às estratégias técnicas de cura ou recuperação
terapêutica;
• Abrange um trabalho psicológico que ocorre em situações comuns
do cotidiano das pessoas; Conceito de Psico-Higiene
• O trabalho do psicólogo comprrende desde o entendimento e a
transformação de preconceitos e hábitos, até a intervenção em momentos de mudança, crise e rotina;
• A psicanálise desempenha um papel valioso para compreender a
complexidade das dinâmicas inconscientes e emocionais presentes nas interações grupais e institucionais; Conceito de Psico-Higiene
• Oferece ferramentas para compreender os conflitos, defesas e
ansiedades que podem emergir nessas relações complexas;
• A compreensão dinâmica inconsciente ajuda a explorar as
motivações subjacentes e a influência do passado nas interações atuais. A Instituição Enquanto Totalidade e a Estratégia Clínica • A Psicologia Institucional difere do trabalho psicológico convencional em instituições;
• Não foca apenas em questões individuais ou pontuais, mas lida com a
instituição como uma totalidade;
• O psicólogo institucional não poderá ser, por contrato, um empregado,
mas sim um assessor ou consultor, para garantir sua autonomia profissional; A Instituição Enquanto Totalidade e a Estratégia Clínica • Quando o psicólogo institucional atua a partir do lugar de assessor, ele é capaz de desenvolver sua tarefa conforme sua própria análise e diagnóstico da situação;
• Suas intervenções e abordagens não são determinadas ou
influenciadas pela direção da instituição ou por outros técnicos que possam estar envolvidos; A Instituição Enquanto Totalidade e a Estratégia Clínica
• O objetivo do psicólogo sempre deverá ser da Psico-higiene, ou
seja, o de promover a saúde e o bem-estar dos integrantes das instituições;
• Atua como um técnico que auxilia a trazer à tona questões
implícitas, não abordadas ou ocultas dentro da instituição; A Instituição Enquanto Totalidade e a Estratégia Clínica
• Trabalha para identificar e explorar conflitos não resolvidos e
padrões de interação que podem afetar negativamente o ambiente institucional;
• Sendo necessário a realização de um enquadre clínico no início
do trabalho. Enquadre
• Estabelecimento claro das regras, objetivos e expectativas do
trabalho do psicólogo institucional desde o início;
• É fundamental para delinear as responsabilidades do psicólogo;
• Define os limites de sua atuação;
• Cria um ambiente de confiança entre o profissional, os membros
da instituição e a direção. Esquemas do Enquadre
1. Atitude Clínica – Distância instrumental
2. Esclarecimento da função profissional como consultor
3. Esclarecimento dos limites e do caráter de sua tarefa
profissional em todos os níveis ou grupos nos quais for atuar
4. Esclarecimento sobre a informação dos resultados bem como
a quem serão dirigidos Esquemas do Enquadre
5. O que diz respeito a um determinado grupo será tratado apenas
com ele 6. Quanto aos contatos extraprofissionais: limitá-los ou excluí-los 7. Não tomar partido quanto à relação entre os grupos 8. Limitar-se ao assessoramento e à atividade profissional, não assumindo nenhuma função diretora, administrativa ou executiva 9. Não fomentar a dependência em relação ao seu trabalho Esquemas do Enquadre 10. Em sua postura frente ao grupo, deve controlar os traços de onipotência 11. Quanto ao sucesso do trabalho e à saúde da instituição: levar em consideração o grau de compreensão (insight), de independência e de melhora das relações 12. Quanto ao manejo das informações: levar em consideração o timing e a quantificação 13. Levar sempre em consideração a resistência implícita ou explícita Elementos para a compreensão das relações instituídas • Ao analisar as interações dentro de instituições, é fundamental considerar as dinâmicas ocultas que afetam as os grupos e indivíduos; • Para Bleger, a personalidade das pessoas é moldada pela dinâmica entre um ego sincrético e o ego organizado; • É influenciada tanto pelas relações com o grupo quanto pela dinâmica institucional, e essa conexão não pode ser separada. Sincretismo e a Identidade do Sujeito • Bleger levanta duas hipóteses sobre a origem dos processos grupais: 1. O indivíduo não nasce no isolamento para vir a desenvolver a sociabilidade • O indivíduo não começa sua jornada isolado, mas sim em um estado inicial de indiferenciação entre o próprio "eu" e os outros ao seu redor; • Isso significa que, inicialmente, não há uma separação clara entre a sua identidade e a dos outros; Sincretismo e a Identidade do Sujeito
• Conforme ele se desenvolve, ocorre uma transformação desse
vínculo inicial; • Passando de um estado de união simbiótica ou sincrética para a construção individual da identidade e da compreensão da realidade. 2. O vínculo simbiótico ou sincrético ocorre por meio de conexões corporais e pré-verbais Sincretismo e a Identidade do Sujeito
• Esse tipo de vínculo é caracterizado pela ausência de
diferenciação entre o próprio “eu” e os outros; • Resulta em uma projeção intensa de pensamentos e emoções no “outro”; • Esse padrão permite uma forma de sobrevivência psicológica, porque atende às necessidades emocionais e de segurança do indivíduo em estágios iniciais de desenvolvimento; Sincretismo e a Identidade do Sujeito
• Mesmo em indivíduos com personalidades maduras, há
elementos que remontam à fase inicial de ausência de diferenciação, podendo influenciar o comportamento e a maneira como se relacionam; • Esses elementos são nomeados como núcleos aglutinados por Bleger; • Esses núcleos podem emergir tanto no desenvolvimento normal quanto em situações patológicas. Para refletir...
• Em quais momentos você se parece com os membros da sua
família, mesmo não gostando disso? Sincretismo e a Identidade do Sujeito
• A personalidade ou identidade de um indivíduo é moldada pela
interação entre duas partes distintas: o ego sincrético e o ego organizado; • O ego sincrético refere-se à fase inicial do desenvolvimento, na qual os vínculos são formados de maneira profunda e íntima; • Nesse estágio, não há uma clara distinção entre o indivíduo e o mundo exterior; Sincretismo e a Identidade do Sujeito
• Os sentimentos, desejos e emoções são projetados em outros,
criando um vínculo de simbiose no qual o indivíduo ainda não é capaz de diferenciar entre si mesmo e o outro; • Pelo ego organizado podemos nos ver em relação com o outro; • Permitindo que haja uma troca recíproca de experiências e entendimento mútuo; Sincretismo e a Identidade do Sujeito • Assim, a simbiose, embora seja um vínculo poderoso, não é uma relação verdadeira, pois não envolve uma compreensão recíproca; • A verdadeira relação acontece quando há um intercâmbio de experiências entre indivíduos que têm uma compreensão mútua, e isso ocorre na fase do ego organizado; • A distinção entre o ego sincrético e o ego organizado acontece por meio da separação ou clivagem dos processos mais primitivos relacionados à sociabilidade; Sincretismo e a Identidade do Sujeito
• A clivagem não anula completamente a tendência do indivíduo
de projetar emoções e desejos nos outros; • Separa essa tendência da capacidade de se relacionar de maneira mais consciente e diferenciada com os outros; • Isso significa que, a pessoa pode reconhecer a realidade e se relacionar com ela, ao mesmo tempo em que mantém aspectos mais primitivos de projeção e fusão emocional. Sincretismo e a Identidade do Sujeito • Ex: • Estudante universitário em momentos de conquistas e reconhecimento se sente confiante e orgulhoso de suas capacidades intelectuais (ego organizado). • Em outras situações, como quando enfrenta dificuldades em uma disciplina ou não consegue atingir seus próprios padrões de excelência, começa a duvidar de suas habilidades, se sentindo inadequado e temendo que os outros percebam suas falhas (ego sincrético). Comunicação e o Grupo • Segundo Bleger, o conceito de grupo é resultado da interação entre duas capacidades humanas; • A capacidade de se vincular por meio da sociabilidade sincrética e a capacidade de se relacionar por meio da sociabilidade organizada; • A sociabilidade sincrética refere-se à capacidade inata das pessoas de se conectarem e se unirem de maneira menos diferenciada; • Os limites entre o indivíduo e o grupo não são claramente definidos; Comunicação e o Grupo • A sociabilidade organizada diz respeito à habilidade de se relacionar de forma mais diferenciada e consciente; • Os limites entre o indivíduo e o grupo são mais claros; • A comunicação ocorre de maneira mais elaborada e estruturada, permitindo trocas de ideias e pensamentos mais individuais; • Essa comunicação é um processo contínuo de alternância entre: Momentos de maior conexão vs. momentos de diferenciação Comunicação e o Grupo
• A organização pode ser entendida como um conjunto de grupos
interconectados, em uma estrutura hierárquica representada pelo organograma; • Esses grupos interagem dentro de um espaço público, geralmente seguindo normas e procedimentos estabelecidos; • Nas interações que ocorrem nas organizações, a presença dos aspectos organizados da personalidade é fundamental; Comunicação e o Grupo
• Esses aspectos referem-se às partes da personalidade que se
relacionam de acordo com as normas sociais e as diretrizes da organização; • As normas funcionam como um controle que garante a convivência das diferentes perspectivas presentes na clivagem; • A clivagem permite a coexistência de atitudes psíquicas distintas em relação à realidade; Comunicação e o Grupo
• Sendo assim, a organização está intrinsicamente ligada à
personalidade; • As mudanças que ocorrem na estrutura ou nos processos de uma organização têm impacto direto na personalidade dos indivíduos envolvidos; • Assim como as mudanças individuais podem influenciar a dinâmica e a cultura de uma organização; Comunicação e o Grupo
• Em nível sincrético, ao participar de um novo grupo, a ansiedade
é desencadeada no indivíduo, que teme em entrar em contato com o grupo e ficar submergido em sua indiferenciação; • Só pela clivagem e imobilização desses aspectos é possível acontecer uma comunicação por interação e uma produção organizada do grupo. Instituição e Organização
• Bleger leva em consideração:
1. A intensidade da clivagem; 2. A flexibilidade dos grupos para “ir e vir” do nível sincrético ao organizado e; 3. O grau da ansiedade que isso desperta. Instituição e Organização • O funcionamento do grupo no nível institucional envolve regras, normas, e papéis definidos; • Se esse funcionamento se tornar excessivamente rígido e estático, o grupo pode perder sua vitalidade e se transformar em uma espécie de organização burocrática; • Ex: Hospitais psiquiátricos que originalmente se destinam a cuidar da saúde mental podem, devido a uma excessiva rigidez institucional, acabar gerando problemas como privação sensorial e déficit de comunicação entre os pacientes. Da compreensão à postura psicanalítica
• A proposta de Bleger para a tarefa do psicólogo institucional:
• Atuar de maneira abrangente na instituição, considerando as interações entre os grupos; • Utilizar a dissociação instrumental para equilibrar seu envolvimento emocional e sua análise objetiva; • Permitindo que o psicólogo intervenha de forma mais eficaz nas dinâmicas e relações institucionais.