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Aula VI

Técnica Cirúrgica- Cânulas

UC: Perfusão Cardiovascular


Docente: Francisco Pedro

2022
Sumário:

• Noções de Técnica Cirúrgica:


• Vias de acesso ao coração e sua exposição;
• Técnicas de Canulação
Cânulas
• Tubos de plástico que são conectados às estruturas
anatómicas do doente e através dos quais se estabelece
a comunicação entre o sistema vascular do doente e o
circuito de CE.
Cânulas- Características

• Número de French: unidade de medida; diâmetro


externo da cânula; a faz-se selecção tendo em conta o
calibre do vaso

• Diâmetro externo: número de Fr. medido em mm =


Calibre da cânula

• Diâmetro interno: número de Fr. medido em mm;


depende: da espessura da parede da cânula (determina
a resistência da cânula)
Cânulas- Características

• As cânulas dividem-se em:

• Venosas- cujo objectivo é promover a drenagem de


sangue venoso do doente

• Arteriais- O seu objectivo é promover a reinfusão de


sangue oxigenado no circuito de CEC para o doente
Cânulas Venosas
• São colocadas em câmaras de baixa pressão(.....)
• Necessitam de incisões maiores no sistema venoso
(Atendendo às diferenças em termos de estrutura
anatómica das veias e do sistema venoso relativamente
ao sistema arterial)
• Em comparação às cânulas arteriais têm um maior
calibre (ex.: cânula venosa AD adultos = 32 Fr; cânula
arterial AO = 22 Fr), o que leva a uma menor resistência
à drenagem
• As cânulas são feitas de plástico flexível com, ou sem,
reforço metálico (cânulas aramadas)
Cânulas Venosas
• Consoante a complexidade e tipo de cirurgia, podem ser
necessárias 2 cânulas venosas (VCS/VCI) ou uma
cânula venosa única (AD)
Local de introdução:
• Aurícula direita (AD)
Nas veias cavas superior e inferior (VCS/VCI) [a cânula
colocada na VCI tem calibre maior que a da VCS,uma
vez que 2/3 do retorno venoso é proveniente da VCI e
1/3 proveniente da VCS]

• Veia femural
• Veia jugular
Cânulas Venosas
Cânulas Venosas

• Outros locais de introdução:

• Veia ilíaca

• Veias supra-hepáticas
Cânulas Venosas
• Canulação Venosa a Única (Basket):

• Cirurgias em que não é necessário abrir o


coração direito:

Cirurgia coronária
Cirurgia da válvula aórtica
Cânulas Venosas

• Canulação Venosa Múltipla:

 Cirurgia do coração direito (cirurgia válvulas pulmonar


e tricúspide)

 Cardiopatias congénitas complexas

 Cirurgias da válvula mitral

 CIA, CIV

 Cirurgia da aorta ascendente e arco aórtico


Cânulas Venosas
• Métodos de Drenagem Venosa:

• Passiva - por diferença de pressão hidrostática,


gravidade, sifonagem [calibre maior]

• Activa - Drenagem venosa assistida por vácuo,em que


há aspiração por bomba centrífuga [calibre menor]

• Ex. Tabela: Calibre Cânula/Débito máximo previsto


(fornecidas pelos fabricantes)

VCS 20 Fr 3,5 l / min


VCI 24 FR
Drenagem Assistida por vácuo
• São vantagens desta técnica:
Melhorar a drenagem venosa do doente
• Diminuir o volume de priming
• As cânulas utilizadas são de menor calibre
(doentes com baixa SC)
• Favorece a protecção miocárdica
(evitando sobreaquecimento do coração)
• O retorno venoso não está limitado pela diferença
de altura (entre o local em que se encontra o
doente e o reservatório)
• O reservatório venoso está mais próximo do
doente
Drenagem Assistida por vácuo

Bomba de Roletes
DRENAGEM VENOSA ASSISTIDA POR
VÁCUO
• Reservatório venoso rígido selado, sob ligeira
pressão
sub-atmosférica

• Copo de condensação com tubo 1/4” com


conexão em Y para ligação à fonte de vácuo

• Válvula de sinalização de excesso de pressão


negativa e positiva conectada ao reservatório
venoso
DRENAGEM VENOSA ASSISTIDA POR
VÁCUO
Desvantagens:
• Aumento do trauma sanguíneo
• Activação do sistema de complemento (Designa-se
SC a um complexo protéico polimolecular constituído por
várias substâncias que se encontram no plasma sangüíneo,
nas membranas celulares e desempenham um papel
importante em diferentes tipos de reações
imunoinflamatórias)

• Indicações para canulação:


 Aurícula direita
 Veia femural
 VCS/VCI (limitada)
CÂNULAS ARTERIAIS
• O seu objectivo é promover a reinfusão de sangue
oxigenado do circuito de CEC para o doente
• Na canulação arterial, é fundamental, uma
monitorização precisa da pressão de infusão do
doente (< 200 mmHg), de modo a tornar possível
identificar qualquer laceração na aorta, dissecções da
aorta, pressão exagerada que provoque saída cânula,
etc.
• A qualidade da cânula advém:
• Do seu calibre (quanto >, melhor)
• De um tamanho suficiente, para assegurar um débito
sanguíneo adequado com a menor incisão aórtica
CÂNULAS ARTERIAIS
• Selecção do calibre da cânula:
• Seleccionar aquela que permita minimizar a
queda de pressão (resistência ao fluxo)
[proporcionando um gradiente aceitável:  80
mmHg]
• Selecciona-se a cânula que proporcione um
débito adequado à temp. e SC do doente
(2,4l/min/m2).

• O maior calibre das cânulas arteriais é de 24 Fr.


CÂNULAS ARTERIAIS
• Número de Reynolds:

Re = Vr / 

v = velocidade  = densidade
r = raio  = viscosidade

A grande importância do número de Reynolds é que permite avaliar


o tipo do escoamento (a estabilidade do fluxo) e pode indicar se flui
de forma laminar ou turbulento.
Assim:
Quando Re > 1000  Fluxo turbulento
CÂNULAS ARTERIAIS
CÂNULAS ARTERIAIS

Local de Introdução:

Aorta Ascendente
Artéria femural
Artéria axilar
CÂNULAS de CARDIOPLEGIA
Cânulas de Cardioplegia Anterógrada - Raiz
de Aorta

Ostium Coronários
CÂNULAS de CARDIOPLEGIA
Características dos tubos Conectores
• Transparência
• Expansibilidade
• Flexibilidade
• Resistência (dobragem, colapso, ruptura)
• Material inerte
• Superfície suave
• Biocompatibilidade
ASPIRADORES
Objectivo:
• Aspirar sangue proveniente do campo operatório
para o reservatório (venoso ou de cardiotomia),
permitindo o reaproveitamento do sangue.

• Quando o fluído aspirado é a solução


cardioplégica, esta deve ser aspirada pelo sistema
de aspiração do hospital (“aspiração de sala”), não
voltando a entrar no circuito de CEC
ASPIRADORES
• O funcionamento destes aspiradores baseia-se na
interposição de um tubo flexível numa bomba de
roletes, gerando, a compressão do rolete, uma
pressão negativa (sucção).
• Podem ser utilizados 1 à 2 aspiradores durante a CEC
• A utilização deve ser restringida a situações que
realmente o justifiquem já que são uma das grandes
fontes geradoras de hemólise.

• É fundamental, (à semelhança do que ocorre na


bomba arterial), proceder à calibração dos roletes dos
aspiradores (sub-oclusão).

• Velocidade recomendada: 50 RPM.


ASPIRADORES

Aspiradores Rígidos

Aspiradores Flexíveis (Maleáveis)


ASPIRADORES
Técnica de Canulação
• Monitorização hemodinâmica
• Indução anestésica
• Tricotomia, algaliação,monitorização da temperatura
 Esternotomia mediana
 Abertura e suspensão do pericárdio
 Administração de heparina i.v. (300 UI/Kg)
 Confirmação de anticoagulação (ACT)
 Canulação arterial
 Canulação venosa
Canulação Arterial- Aorta Ascendente
• Faz-se a história clínica

• Exame físico (avaliação dos pulsos periféricos,


despiste de aneurismas da aorta abdominal,
embolias periféricas)

• RX tórax (PA, lateral):dilatação, calcificação Ao


ascendente

• TAC, RMN, Eco transtorácico,Ecotransesofágico


Canulação Arterial – Aorta Ascendente

Local: 1-2 cm da origem da artéria inonimada


Orientação:
• Lateral esquerda na linha média da aorta (zona
com camadas média e adventícia mais fortes)
• Palpação da aorta ascendente
• Cerclage da aorta (camadas média e adventícia)
o Cerclage do tipo “saco de pão” com suturas não absorvíveis
(ticron/prolene + pledget )
o Camada Interna: risco de hematoma e dissecção local
Canulação Arterial – Aorta Ascendente

• Pressão arterial: 90-100 mmHg (se necessário


administrar fármacos vasodilatadores ou elevar
a cabeceira do doente, de modo  a PA)
- Incisão aórtica
- Inserção da cânula arterial (rotação 180º para
perfusão arterial distal directa)
- Aperto das cerclages e clampagem das suturas
com.
- Torniquetes
- Expurga da cânula arterial
- Conexão à linha arterial do circuito de CEC
- Teste da canulação (reposicionamento e
pressão)
Canulação Venosa Única –
Aurícula Direita
• Indicações:
 CRM, cirurgia válvula aórtica, doenças da aorta
ascendente, outras cirurgias que não exijam abertura da
AD
 Cerclage no apêndice auricular direito (sutura não
absorvível: ticron/prolene)
 Inserção da cânula venosa de 2 andares (Basket-51 Fr):
extremidade distal na VCI e oríficios na zona média da
AD junto à desembocadura da VCS
 Aperto das cerclages e clampagem das suturas com
torniquetes
 Conexão à linha venosa do circuito de CEC
Canulação Venosa Única –
Aurícula Direita
Canulação Venosa Dupla – Veias
Cavas
Indicações:
 Cirurgias que impõe isolamento do coração dto.
(patologia valvular pulmonar e tricúspide),
 Cardiopatias congénitas complexas,
 Patologias da válvula mitral.
 Cerclage da VCS e da VCI (ticron /prolene)
 Inserção das cânula venosas (apêndice auric. dto -
VCS;
directamente na VCI)
 Aperto das cerclages e clampagem das suturas com
torniquetes
 Conexão à linha venosa do circuito de CEC (Y)
 Laçar as veias cavas: bypass total
Canulação Venosa Dupla – Veias
Cavas
Canulação Venosa Dupla vs Venosa Única

• A comparação entre os dois métodos de


drenagem venosa, demonstrou que não existem
diferenças significativas a nível de:

 Taquiarritmias supraventriculares pós-


operatórias
 Estabilidade hemodinâmica
 Hemodiluição
 Disfunção respiratória pós-operatória

Em ambas as técnicas de drenagem venosa há descompressão cardíaca


eficaz.
Alternativas de Canulação Venosa
• Alternativas às VCS/VCI/AD:

Veia jugular
Veia femural
Alternativas de Canulação Arterial

Em alternativa a artéria aorta, temos:

Artéria femural
Artéria axilar
Canulação Femural Veno-Arterial
• A canulação femural veno-arterial está
indicada nas situações de:

Aorta Torácica Descendente:


Ruptura aorta
Secção traumática da aorta
Aneurisma da aorta
Canulação Femural Veno-Arterial

AD e veias cavas:

Re-esternotomia
Fibrose mediastínica
Tumores renais
Mixoma AD
Traumatismo
Pericardite constritiva
Canulação Femural Veno-Arterial
• Outras:
Paragem cardíaca pré-op. com RCP
Lesões nos grandes vasos e no coração
Durante re-operações
Canulação Femural Veno-Arterial
Técnica de Canulação:
 Palpação do pulso femural
 Incisão na região inguinal
 Dissecção da artéria femural comum
 Clampagem da artéria femural
 Colocação da cânula arterial (calibre adaptado à SC do
doente e débitos pré-calculados)
 Expurga da cânula arterial e conexão à linha arterial
 Teste da cânula arterial
 Monitorização da pressão de infusão
 Dissecção da veia femural
 Colocação da cânula venosa (progressão até à VCI/AD)
 Conexão à linha venosa do circuito de CEC
Canulação Femural Veno-Arterial
• Complicações:

 Estenose artéria femural


 Traumatismos da artéria femural
 Embolia distal
 Dissecção da aorta
 Aneurisma
 Traumatismo da veia femural
 Trombose
 Espasmo
Alternativas de Canulação Arterial
Femural

• Artéria femural contralateral


• Artéria ilíaca
Complicações da Canulação Aorto-
Auricular
Canulação da Aorta:
Embolismo aéreo
Ateroembolismo
Embolia gorda
Dissecção aguda
Dissecção tardia
Complicações da Canulação Aorto-
Auricular
Canulação da Aurícula Direita

Diminuição do retorno venoso


Obstrução venosa
Traumatismo das veias cavas
Conceitos
• Cardioplegia- Composição:
Conceitos
• Potássio e magnésio – induz a paragem
diastólica

• Cálcio – responsável pela paragem sistólica

• Sódio – mantém a solução hipertônica


evitando o edema miocárdico

• Bicarbonato de sódio – ajusta o pH aos níveis


aceites pela hipotermia

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