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INDICADORES COMO FERRAMENTA GERENCIAL

Mônica Savian: Analista Administrativo – Estatística HE-UFPel/EBSERH


CONCEITO DE INDICADOR

Um indicador é uma mensuração que reflete uma determinada situação. Uma


representação de forma simples ou intuitiva de uma métrica ou medida para
facilitar sua interpretação, quando comparada a uma referência ou meta. A
principal finalidade de um indicador é traduzir, de forma mensurável ou
descritível, um ou mais aspectos da realidade para possibilitar o seu
acompanhamento.

O emprego de indicadores possibilita aos profissionais de saúde monitorar e


avaliar os eventos que acometem os usuários, os trabalhadores e as
organizações, apontando, como consequência, se os processos e os
resultados organizacionais vêm atendendo às necessidades e expectativas
dos usuários.
• “Dado” e “indicador” não são sinônimos apesar de, em alguns contextos, a
distinção entre estes termos pode não ser totalmente clara do ponto de vista
conceitual.

• O dado é todo elemento numérico que contribui para a elaboração do


indicador.
ATRIBUTOS DE UM INDICADOR

Mensurabilidade e viabilidade: disponibilidade dos dados para mensurar o


indicador. Também deve-se considerar a sua utilidade, o indicador deve ter
relevância e repercussão na tomada de decisão;

Validade: capacidade do indicador de mensurar o que se pretende. Refere-se à


exatidão das fontes de dados utilizadas e ao método de mensuração;

Oportunidade: capacidade de coleta e notificação em tempo hábil. O tempo


que transcorre entre a coleta e a notificação dos dados deve ser o mais curto
possível para que o indicador transmita informação atualizada;

Reprodutibilidade: mensurações iguais quando realizadas por pessoas


diferentes usando o mesmo método. O indicador não deve apresentar viés com
relação ao observador, ao instrumento de mensuração ou fonte dos dados,
entre outros fatores;
Sustentabilidade: existência de condições necessárias para a estimativa
contínua. Indicadores compostos por métodos de cálculo complexos, apesar de
importantes para a gestão, podem ter limitações quanto à sustentabilidade por
falta de capacidade para manter os recursos técnicos necessários nos serviços
locais de saúde;

Pertinência e relevância: capacidade de proporcionar informação adequada e


útil para orientar as políticas e programas bem como a tomada de decisão;

Compreensibilidade: necessidade de o indicador ser compreendido pelos


responsáveis por executar ações e, em particular, pelos encarregados da
tomada de decisão.
TIPOS DE INDICADORES

O Manual de Indicadores do Plano Plurianual 2020-2023, elaborado pelo


Ministério da Economia, destaca dois métodos de classificação de indicadores,
a saber: i) quanto ao fluxo de implementação e classificação de indicadores; e ii)
quanto ao desempenho.

Insumo (antes): têm relação direta com os recursos a serem alocados, ou seja,
com a disponibilidade de pessoal, recursos materiais, financeiros e outros a
serem utilizados pelas ações de governo. São exemplos médicos/mil habitantes;

Processo (durante): medem o desempenho das atividades vinculadas com a


execução ou forma em que o trabalho é realizado para produzir os bens e
serviços, tais como dias de demora de um processo de compra, percentual de
atendimento de um público-alvo e percentual de liberação dos recursos
financeiros;
Produto (depois): são medidas que expressam as entregas de bens ou
serviços ao público-alvo. São exemplos os quilômetros de estrada entregues,
de armazéns construídos e de crianças vacinadas, em relação às metas
estabelecidas; quantidade de leitos criados nos hospitais para unidades de
terapia intensiva; etc.

Resultado (depois): essas medidas expressam o fim da intervenção pública


frente ao público-alvo, ou seja, o resultado final que se queria alcançar. Têm
particular importância no contexto de gestão pública orientada a resultados,
pois é o que se percebe como sucesso ou fracasso da política pública. São
exemplos as taxas de morbidade (doenças), a taxa de reprovação escolar,
índice de alfabetização, taxa de homicídios, índice de desemprego, produção
agrícola etc.
Impacto (depois): medem os efeitos relacionados a partir dos resultados
pretendidos pelas políticas e programas públicos. Um impacto pode ser tanto
um efeito intencional ou uma consequência natural da entrega dos bens e
serviços, possuindo natureza abrangente e muitas vezes multidimensional.
Por exemplo, a construção de uma escola pode ser um fator unificador de
uma comunidade. A inclusão produtiva aumenta com a redução do
analfabetismo. Portanto, são efeitos que têm relação com a transformação
da realidade, geralmente, nos médio e longo prazos. São exemplos de
indicadores, o Índice de Gini (desigualdade) e o PIB per capita (crescimento
econômico).
DESEMPENHO DO INDICADOR

A classificação dos indicadores quanto ao desempenho possui foco


maior na avaliação dos recursos alocados e dos resultados alcançados.
Sob essa ótica, os indicadores podem ser de:
ELABORAÇÃO E MENSURAÇÃO DE INDICADORES DE SAÚDE

O processo de formulação de indicadores deve passar por um conjunto


de etapas para estabelecer quais indicadores serão monitorados e suas
respectivas metas.

O pré-requisito para definição dos indicadores é a identificação do


objetivo a ser alcançado. É de extrema importância que haja alinhamento
entre os indicadores estratégicos com os demais indicadores da
organização. Também deve-se verificar os indicadores já monitorados,
se existem indicadores determinados por leis e/ou regulamentos
(contratualização), se há evidências na literatura que indiquem o uso de
determinado indicador.

A decisão sobre a periodicidade das medições pode determinar outras


características. As diferentes situações e tipos de indicadores podem
requerer periodicidades de medições diferentes.
Em seguida, os indicadores podem ser definidos, assim como suas metas, a
fim de estabelecer parâmetros atualizados para avaliar fidedignamente os
resultados dos indicadores.

Importante citar que as metas dos indicadores devem ser construídas com
intencionalidade e, se possível ou necessário, de forma qualificada. Para a
definição da meta de um índice formado pelo atendimento de práticas de
governança, é importante entender quais práticas são avaliadas e quais
práticas a instituição tem condições de atender, considerando, para isso, as
dificuldades a serem enfrentadas, tornando a meta exequível e, ao mesmo
tempo, desafiante.

A construção da ficha do indicador facilita a delimitação desses indicadores e


a padronização de sua apuração com base nos 17 requisitos capazes de
melhorar a qualidade das métricas.
A elaboração da Ficha de Indicador é parte fundamental no processo de
planejamento do indicador, por isso, deve ser elaborada criteriosamente.

A depender do indicador, antes de formalizá-lo, pode ser necessário testá-lo,


medindo em grupos de casos e controles para avaliar a sensibilidade,
especificidade e o valor preditivo.

A periodicidade de análise de um indicador deve ser definida ainda na fase


de sua formulação. É fundamental definir com que frequência o indicador
deverá ser coletado e a frequência de análise, sendo que esta pode ser
menos recorrente do que a coleta. O objetivo que se deseja alcançar tem
relação direta com essa definição.

Além disso, é importante planejar a melhoria do resultado do indicador, uma


das etapas mais importantes da gestão por indicadores, porque é, de fato, o
que produzirá efeitos na realidade observada.
TIPOS DE MEDIDAS

Contagem: é o número de vezes que ocorrem os eventos em estudo, em


um determinado tempo e lugar. Tem validade limitada para efeito de
comparação no tempo ou no espaço, principalmente se houver uma
mudança importante no tamanho da população de referência;

Razão: relação entre dois números, é calculada ao se dividir duas


quantidades de mesma natureza ou não;

Proporção: a proporção costuma ser expressa como porcentagem (%),


indica a frequência relativa de um evento e estima uma probabilidade;

Taxa: o numerador é o número absoluto de vezes em que ocorre o evento


de interesse em um período de tempo especificado. O denominador é a
população de referência (ou população em estudo), no mesmo período;
Incidência: Número de casos novos de uma doença ou outra afecção em
saúde, dividido pela população em risco da doença (população exposta) em
um espaço durante um tempo especificado. A incidência é a probabilidade
de que um indivíduo pertencente à população em risco seja afetado pela
doença de interesse em um tempo especificado.

Prevalência: número de casos existentes de um evento de interesse, por


exemplo uma doença, independentemente de serem casos novos ou
antigos, em uma população em um determinado período.
PRINCIPAIS INDICADORES GERAIS MONITORADOS NO HE

Taxa de Ocupação;
Média de Permanência geral (Leito Clínico e Cirúrgico);
Índice de Intervalo de Substituição;
Índice de Renovação ou Giro de Rotatividade de leitos;
Taxa de Mortalidade Geral e Institucional;
Número de Cirurgias;
Taxa de Suspensão de Cirurgias;
Percentual de Parto Normal e Parto Cesáreo;
PRINCIPAIS INDICADORES DE IRAS (Infecção Relacionada a Assistência à Saúde)

Taxa de Infecção;
Incidência de Infecção;
Percentual de Infecção em Cirurgia Limpa;
Percentual de Infecção Puerperal;
Densidade de Infecção Primária de Corrente Sanguínea Clínica e Laboratorial em UTIs;
Densidade de Pneumonia Associada a Ventilação Mecânica em UTIs;
Densidade de Infecção de Trato Urinário em UTIs;
Percentual de Adesão à Higienização de Mãos;
Consumo (em ml) de Preparação Alcoólica e Sabonete Líquido;
PRINCIPAIS INDICADORES DE SEGURANÇA DO PACIENTE

Índice de Quedas;
Proporção de Pacientes com avaliação de Risco de Queda;
Proporção de Pacientes com pulseiras de identificação;
Proporção de pacientes avaliados para Lesão por Pressão;
Incidência de Lesão por Pressão;
Número de incidentes relacionados a falhas na identificação do paciente;
Taxa de adesão à lista de cirurgia segura;
Número de Never Events;
Número de procedimentos realizados no local errado do corpo do paciente;
Número de cirurgias realizadas no paciente errado;
Número de procedimentos errados;
Exercício 1:

Considerando que o número de paciente-dia observado no mês de janeiro/22 de


um hospital foi de 2.955 e o número de pacientes saídos desse mesmo mês foi de
239, qual foi a média de dias de permanência?

Exercício 2:

Considerando que o número de IRAs observado no mês de setembro/20 de um


hospital foi de 46, o número de pacientes saídos desse mesmo mês foi de 363 e o
número de paciente-dia foi de 3.848, calcule a taxa e a incidência de IRAs?

Exercício 2:

Considerando que o número observado de pacientes com risco de adquirir Lesão


por Pressão (LP) em um hospital foi de 92 e o número de pacientes com LP
observado no mês de fevereiro/2023 foi de 41. Calcule a incidência de LP no
período.
Exercício 1:
N° de paciente-dia/N° de pacientes saídos
2.955/239 = 12,4 dias de internação

Exercício 2:
(N° de IRAS/N° de pacientes saídos)*100
(46/363)*100 = 12,7%
(N° de IRAS/N° de pacientes-dia)*1.000
(46/3.848)*1.000 = 11,9

Exercício 3:
(N° de pacientes com LP/N° de pacientes com risco de adquirir LP)*100
(41/92)*100 = 44,6%
Referências

Coordenadoria de Gestão da Rede; Manual de formulação e análise de indicadores da rede EBSERH,


2022
https://www.gov.br/ebserh/pt-br/acesso-a-informacao/boletim-de servico/sede/2022/anexos/anexo-portaria
-vp.pdf
.

Brasil. Ministério da Economina (ME). Secretaria de Avaliação, Planejamento, Energia e Loteria (SECAP);
Manual de Indicadores do PPA 2020-2023, jun-2020,
http://bibliotecadigital.economia.gov.br/handle/123456789/1109

Serviço de Planejamento Assistencial; Coordenadoria de Regulação Assistencial e Contratualização


Hospitalar; Diretoria de Atenção à Saúde; Manual Leitos e Nomenclaturas EBSERH para regulação; 1°
Edição, Brasília, 2017.

Organização Pan-Americana da Saúde. Indicadores de saúde. Elementos conceituais e práticos.


Washington, D.C.: OPAS; 2018.

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