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 "O estudo não se mede pelo número de

páginas lidas em uma noite, nem pela


quantidade de livros lidos em um semestre.
Estudar não é um ato de consumir ideias,
senão de criá-las e recriá-las". (Paulo Freire)
 “Engajar-se em aprender sempre acarreta o
risco de que a aprendizagem possa ter um
impacto sobre você, de que a aprendizagem
possa mudá-lo” (Biesta).
A Pedagogia investiga a natureza das finalidades da
educação como processo social, no seio de uma
determinada sociedade, bem como as metodologias
apropriadas para a formação dos indivíduos tendo em
vista o seu desenvolvimento humano para as tarefas na
vida em sociedade. Quando falamos das finalidades da
educação no seio de uma determinada sociedade,
queremos dizer que o entendimento dos objetivos,
conteúdos e métodos da educação se modifica conforme as
concepções de homem e da sociedade que, em cada
contexto econômico e social de um momento da história
humana, caracteriza o modo de pensar, o modo de agir e
os interesses das classes e grupos sociais.
A Pedagogia, portanto, é sempre uma concepção da
direção do processo educativo subordinada a uma
concepção político-social.
Abordagens Pedagógicas, um
panorama possível

Adaptação do quadro síntese produzido por Adélia Nehme Simão e


Koff e Vera Maria Ferrão Candau, com a colaboração do GECEC-
Grupo de Estudos sobre Cotidiano, Educação e Cultura(s)
coordenado por Vera Candau.
ABORDAGEM
TRADICIONAL
Características Gerais

 Concepção e práticas  persistem ao longo do tempo.


 Foco  grandes realizações intelectuais e artísticas da
humanidade –perspectiva eurocêntrica.
 Professor/a  transmissor de conteúdos e valores,
especialista e modelo.
 Aluno/a  receptor passivo (tábula rasa) .
Principais Representantes e
Influências teóricas

 Os jesuítas: Ratio Studiorum - o método pedagógico dos


jesuítas – séc. XVI.

 Comênio: Didática Magna – séc. XVII.

 Herbart: passos formais – séc. XVIII-XIX .


Concepção de conhecimento
Escolar

 Escola é espaço privilegiado da educação;


 Não se questionam as relações de poder que
determinam os processos de legitimação social dos
conhecimentos.
 O conhecimento se constitui em verdades universais e
deve ser apropriado pelo alunos através da
memorização e repetição.
 Ênfase na cultura geral, nos cânones.
Organização do Poder na Escola

 Fortemente estruturado e autoritário.

 Relações hierárquicas rígidas.

 Papéis bem definidos.


Concepção de Sala de Aula

 Espaço para dar a aula e cobrar a aula.

 Rigidez na organização e na disciplina.

 Ambiente austero e silencioso.

 Ensino frontal.
Processo de Ensino
Aprendizagem

 Ensino  transmissão de conhecimentos e valores.


 Ensino frontal  estratégias expositivas.
 Avaliação centrada em resultados.
 O erro deve ser punido (ameaça/medo/culpa/punição)
Relação Professor - Aluno

Professor:
 É o protagonista da relação ensino-aprendizagem.
 autoridade moral e intelectual .
 modelo de atitudes e comportamentos;
 tem o poder decisório.
 Relação vertical e dual .
Aluno é passivo (obediente/disciplinado).
Modo de Lidar com as
Diferenças

 Diferenças não são levadas em conta .

 Ênfase em um único padrão pré-estabelecido.

 Perspectiva monocultural e colonial.


Abordagem Escolanovista
ou alunocentrista
Características Gerais

 Pluralidade de tendências, vertentes.


 O aluno  centro da ação educativa. É o protagonista da
relação ensino-aprendizagem.
 Ênfase na subjetividade, valor e dignidade dos/as
educandos/as.
 Centrada nos interesses espontâneos dos/as educandos/as.
 Mudança de paradigma.

 Educação igual à vida e não preparação para a vida.


Principais Representantes
e Influências Teóricas

 J. J. Rousseau, Pestalozzi, John Dewey, Ovídio Decroly,


Maria Montessori, Édouard Claparède, Jean Piaget,
Carl Rogers, Célestin Freinet.

 No Brasil: Lauro de Oliveira Lima, os chamados


“Pioneiros” da Escola Nova  Fernando de Azevedo,
Lourenço Filho, Anísio Teixeira e outros.
Concepção de conhecimento
Escolar
 Educar na e para a liberdade individual;
 Desenvolver dotes inatos e personalidade;
 Promover:
 A individualidade. (indivíduos que internalizariam as
narrativas sociais coletivas da sociedade para
aprimora-la);
 O crescimento pessoal;
 A autorrealização individual;
 A integração social (não individualismo).
Concepção de Conhecimento
Escolar

 Conhecimento  caráter dinâmico, que se constrói a


partir do contato dos sujeitos com as coisas e natureza
(aporte das ciências);
 Conteúdos escolares  interesses dos alunos. Têm
validade as experiências vivenciadas e as situações
problema;
 A empiria é fundamental (tentativa/erro/acerto);
 Mais do que dominar conteúdos é importante aprender
a aprender (processual).
Organização do Poder na Escola

 Relações não hierárquicas e não autoritárias;


 Gestão democrática;
 Negociação das regras;
 Prática das eleições;
 Manejo dos conflitos  diálogo e busca de consenso.
Concepção de Sala de Aula

 Sala de aula espaço de:


 descobertas, experimentação, pesquisas;
 atividades lúdicas, participação e diálogo;
 valorização da autodisciplina, liberdade e autonomia;

 Organização espacial mais flexível e dinâmica que


favorece o deslocamento dos alunos (o corpo que se
movimenta).
Processo de Ensino -
Aprendizagem
 Orientado para permitir o desenvolvimento das
aptidões e capacidades de cada indivíduo;
 Respeito ao ritmo do aluno;
 Educando como o centro/sujeito da aprendizagem;
 Aprender com as situações reais da vida;
 Aprender fazendo e aprender a aprender;
 Métodos ativos, dialogais e grupais;
 Avaliação centrada no processo de aprendizagem.
Relação Professor - Aluno
 Professor/a  mediador para desenvolvimento. Com
maior ou menor grau ele organiza, orienta, anima,
estimula as atividades, enfim medeia;
 Relação de camaradagem e afeto;
 Diálogo e intercâmbio a serviço do desenvolvimento livre e
espontâneo;
 Valorização da liberdade individual;
 Respeito às regras definidas pelo grupo (combinados);
 Valorização da autoavaliação discente.
Modo de Lidar com a Diferença

 Valorização das diferenças individuais, especialmente


as de cunho psicológico
(ritmo/vontade/aptidão/desejo/gosto/interesse/motivaçã
o). A nova ciência-psicologia é a grande parceira da
pedagogia.
Abordagem Tecnicista/
(Neo) Tecnicista
Características Gerais
 Ditadura militar, milagre econômico.
 Voltada para as produtividade e eficiência mercadológicas
(desenvolvimentismo/neoliberalismo)
 Sempre tem um viés adaptativo à sociedade de classes.
 Competitividade, darwinismo social, somente os mais aptos ou
eficientes se sobressaem.
 Tecnicismo: ciência como neutra. Invisibilização da dimensão
política da atividade educacional.
 Oposição entre fazer e pensar (prática e teoria).
Características Gerais

Perspectiva (neo) tecnicista neo (liberal):


  princípios da qualidade total –anos 90(Japão)
  escola = empresa, aluno = cliente, educação=serviço-
contemporaneamente
Ênfase no mercado, no produto e no consumidor. A escola é
atravessada pela ética empresarial que implica competitividade,
sucesso e compra do conhecimento.
Marcas individualistas/individualizantes. Educar na lógica do
consumidor, sustentada por valores imaginários agregados às
práticas de um sujeito criativo, empreendedor, inovador, capaz
de se “vender”, cada vez mais focado em seu desempenho e
performance sedutora.
Principais Representantes
e Influências Teóricas

 B. F. Skinner, Popham, Briggs, Bloom, Mager.

 No Brasil: Cláudio Dib e Samuel Pfromm Neto, João Batista


de Oliveira, Cláudio de Moura Castro.
 Vai de um viés mais conservador do construtivismo visando o
controle dos comportamentos humanos a uma visão atual da
lida com a escola como empresa.
Concepção de Conhecimento
Escolar
 A seleção dos conteúdos escolares seria baseada em
princípios de racionalidade, eficiência e produtividade. Tais
princípios são definidos prioritariamente pelo mercado.
 O conhecimento como neutro, apolítico ou universal.
 Perspectiva (neo) tecnicista: ênfase no empreendedorismo,
empregabilidade e flexibilidade (anos 90). Hoje, a escola
como máquina de ensinar conteúdos, atitudes e valores. A
tecnização da sociedade.
Organização do Poder na Escola

 Hierarquias funcionais ou hierarquias por competência


(alunos e turmas melhores).
 As regras e normas para a administração de conflitos, a
resolução de problemas de ineficiência e a melhoria do clima
de convivência podem ser mais ou menos democrático.
 Descompromisso com a formação para a cidadania para todos
(fortes e fracos, aprendentes e não aprendentes, incluídos ou
não)
Concepção de Sala de Aula

Sala de aula espaço de:


 disciplina autorregulada ou do controle disciplinar
tradicional;
 aquisição de conhecimentos e habilidades selecionados por
critérios de utilidade definidos pelo mercado;
 planejamento instrucional e controle contínuo do processo ou
a liberdade de escolha individualizante;
 definição de metas e racionalização de processos;
 processos medidos por padrões de adequação ao mercado
(neo tecnicista) .
Processo de Ensino -
Aprendizagem
Valoriza:
 Planejamento, definição clara de objetivos e adoção de mecanismos
de controle e avaliação;
 Sequência rígida de aprendizagem;
 Definição de objetivos terminais e intermediários. Avaliação antes,
durante e no final do processo de ensino-aprendizagem dos
resultados quantificáveis;
 Métodos e técnicas variadas;
 Desenvolvimento de modelos (apostilas);
 Foco na medição, mensuração, quantidade;
 Uso intensivo das novas tecnologias (discriminação algorítmica.
Relação Professor - Aluno
 Professor:
· planeja o processo de ensino;
· organiza e faz acontecer as experiências/atividades
instrucionais;
· gerente do processo instrucional.
 Professor e do aluno  partes de um sistema.
 O diálogo professor-aluno pode ser mais ou menos valorizado
e democrático.
 O aluno deveria ser um sujeito que, além de empresariar a si
mesmo, é também um aprendiz por toda a vida e cria as
condições para manter-se disponível para acessar e ser
acessado em qualquer tempo e lugar numa cultura digital.
Modo de Lidar com a Diferença

 Diferenças individuais, principalmente de


comportamentos, modos e ritmos de aprendizagem.
 Valorização do mérito individual-meritocracia.
 Tal mérito é pensado como uma categoria neutra,
objetiva, universal ou natural, como se a noção de
mérito estivesse além dos jogos de poder e das disputas
sociais.
Abordagem Crítica
Características Gerais
Diferentes nuances, mas todas têm em comum:
 O entendimento de que os processos educacionais são histórica e
culturalmente situados;
 A articulação da educação escolar com os processos sociais que
ocorrem fora dos muros da escola;
 Relação teoria-prática como binômio;
 Processos de construção de sujeitos de direito-cidadãos;
 metodologias ativas, participativas, personalizadas e
multidimensionais;
 A ideia de emancipação  homens e mulheres como sujeitos da
sociedade, da cultura e da história;
 A ideia da transformação crítica da sociedade.
Características Gerais
 Acredita-se que a escola não deve ser vista como um espaço
neutro ou que desconsidere as realidades materiais e
objetivas dos alunos que a compõem.
 Embora os diferentes processos de exclusão se vinculem
com as desigualdades sociais mais amplas que atravessam
nossa sociedade, existe evidência que indica que os fatores
endógenos aos sistemas escolares e às escolas podem
aprofundar ou atenuar essas tendências.
 “Educação não transforma o mundo. Educação muda as
pessoas. Pessoas transformam o mundo.”(Paulo Freire)
Principais Representantes
e Influências Teóricas

 Escola de Frankfurt (Habermas, Adorno)


 Paulo Freire
 Dermeval Saviani e o grupo da pedagogia crítico-social dos
conteúdos.
 Peter McLaren
 Henry Giroux
 Pierre Bourdieu
 Vera Candau
Concepção de conhecimento
Escolar
 Duas tendências principais no Brasil:
· escola  lugar de reflexão crítica sobre a realidade e exercício
consciente da cidadania; Problematização das práticas de vida
dos alunos. (Eva viu a uva)
· escola  espaço de apropriação crítica do saber da classe
dominante visando capacitar os alunos das classes populares
para os enfrentamentos.
 Nos dois casos:
escola  espaço de compromisso com a transformação social . Anos
80- luta contra desigualdade, contemporaneamente, contra a
desigualdade e a padronização identitária (reconhecimento
cultural).
Organização do Poder na Escola

 Participação democrática  prática de eleições desde a


educação infantil.
 Clima de envolvimento, compromisso e prática de
construção coletiva permanentes.
 Diálogo na resolução de conflitos, consensos não são
necessários.
 Valorização de práticas comunitárias de exercício de poder
(dentro e fora da escola).
 Relações menos hierarquizadas  atitudes de colaboração,
troca e diálogo.
Concepção de Sala de Aula
Sala de aula espaço de:
 circulação (por vezes conflituosa) de
conhecimentos/saberes/valores/culturas;
 reflexão, debate e aquisição crítica de
conhecimentos/valores;
 criação coletiva e produção cultural das crianças e
jovens;
 negociação das regras e normas de convivência;
 de convívio intergrupal e diálogo;
Organização espacial mais flexível e dinâmica.
Processo de Ensino -
Aprendizagem
 Realidade concreta  ponto de partida;
 Construção coletiva do conhecimento (aprender com os
humanos ou não- a questão ambiental);
 Articulação ação-reflexão;
 Métodos ativos, dialogais, grupais, críticos e
problematizadores da realidade;
 Avaliação centrada no processo;
 Procedimentos de avaliação mútua e de auto avaliação .
Relação Professor - Aluno
 Relação pedagógica  colaboração mútua,
busca coletiva de soluções.
 Professor  parceiro.
 Professor  animador, catalisador e
orientador das discussões/reflexões do grupo.
 Relação menos diretiva, mais horizontal
Ou
 Professor  mediador entre os conteúdos e
vida .
 Relações grupais .
Modo de Lidar com a Diferença

 Reconhece as diferenças individuais , mas também as


diferenças socioculturais do educando, referidas, em um
primeiro momento, a questão da classe social
 Contemporaneamente, a perspectiva intercultural se propõe a
considerar também outros fatores de identificação cultural,
como gênero, etnia, raça, religião, orientação sexual,
condições físicas, deficiências, dentre outras.
 Combate às formas de violência e discriminação na escola

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