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Fontes históricas na aula

de História
Apontamentos teórico-metodológicos
Documentos históricos em sala de aula

• Trabalhar para compreender que a fonte/documento


pode apresentar algumas evidências do passado, mas
não são “completas”, não são “o passado”...são
fragmentos, vestígios deste.

• “Evidência histórica existe quando uma afirmação ou


hipótese histórica fundamenta-se em vestígios ou
fontes plausíveis em relação a determinado tema
histórico” (Ashby, 2006)
• Objetivos do processo didático do trabalho com
fontes:

• Aprender a formular hipóteses


• Aprender a classificar e a analisar fontes
• Aprender analisar a credibilidade das fontes
históricas
• Aprender as relações de causalidade
• Aprender a construir explicações históricas.

• J. Prats (2001)
O trabalho com documentos escritos em aula deve possibilitar ao
aluno:
• Identificar mudanças e permanências no processo histórico e dos
documentos

• Verificar (e buscar) outras fontes que podem ser somadas para


confirmar ou refutar a visão sobre o tema ou uma hipótese
levantada para o mesmo

• Perceber que os documentos foram construídos num determinado


contexto, o qual influencia em sua concepção, pois responde a
necessidades de uma época

• Concluir que, assim como podemos recompor a história da vida de


pessoas, grupos e sociedades baseados em documentos , vestígios
produzidos de forma voluntária ou involuntária, nós, hoje,
continuamos produzindo registros, participamos dos processos
históricos de nosso tempo, somos agentes da História.
• Planejamento de atividades com fontes históricas, tarefas do prof.:

1. determinar o que é utilizável nas fontes;


2. conhecer como a historiografia lida com a fonte selecionada...
3. decidir como as fontes podem ser associadas ao currículo, objetivos
e conteúdos estabelecidos;
4. relacionar as fontes à questões mais amplas ou conceitos em
estudo;
5. determinar que “aplicações pessoais” as fontes podem ter para os
estudantes;
6. estabelecer o contexto das fontes (autoria, período, suporte...)
7. trabalhar diretamente com as fontes;
8. usar as fontes para levantar questões de pesquisas futuras.
Tais tarefas prévias se revelam muito importantes, pois incorporam e
“sintonizam” diferentes demandas do contexto escolar, bem como
definem, de forma clara, o que será explorado nas fontes históricas.
Tipologia de documentos escritos
• Natureza do documento
• Origem pública: (arquivos)
• político/ administrativo (executivo) / legislativo /
judiciário/cartorial/ militar/ eclesiástico...
• Artística/ficcional : letras de música, literatura, artes plásticas,
cinematográfica...

• Origem privada:
• Cartas, documentos pessoais, diários, agendas, receitas...
• Origem / Finalidade

Tipologia indica a natureza da informação que poderá ser


encontrada e a forma de usa-la (hipóteses/problematizações)
• Ao selecionar fontes para a sala de aula é
pertinente observar: (Belotto, 2006)

• “documento-chave” – trabalhar uma noção histórica,


contexto, conceitos

• “documento-testemunho” – registro de um
acontecimento importante, expressão da economia,
de uma forma de organização social, etc.

• “documentos-humanos” – reveladores de aspectos da


vida cotidiana, de aspectos da natureza humana.
• A investigação em aula possui objetivos e
processos diferentes da investigação científica,
ainda que possuam procedimentos semelhantes:

• Problematização – questão inicial que articule


presente-passado-presente

• Pesquisa ou seleção das fontes (pelo prof. e pelos


alunos)

• Contextualização/análise de fontes >>


construção de evidência

• Produção de uma interpretação/ explicação


baseada em evidências
• Natureza do documento (uso público/ privado/ político/
propaganda)

• Datação (realizada pela leitura ou pode exigir pesquisa / inclui


relacionar a data com o contexto do acontecimento)
Cronologia
Conjuntura / geração
Duração/datação
Ritmos e mudanças no periodo histórico
Temporalidade vivida e a construída

Autoria
Quem, quando viveu, vida e obra
Intenções ao produzir o material (documento)
Procedimentos/dimensões de análise
I. Identificar a fonte/documento
• Tipo de fonte (primaria/secundaria )
• O que a fonte informa?
• O que podemos deduzir dessas informações?
• Preciso de outras fontes para complementar, confrontar,
confirmar essas informações?

• O que o documento diz ? (intervenção do professor na


leitura)
• Palavras desconhecidas/frases complexas
• Dimensões de leitura de uma imagem
(gráfico/simbólico)
• Dividir o conteúdo de um documento em temas
II – Explicar o documento
• Contextualizar (tempo/espaço/conjuntura)
• Criticar (identificar temas e argumentos, tipo de
informação, contradições, relacionar com outros
materiais, intencionalidades, finalidades...)

III – Comentar o documento (síntese)


• Introdução (identificação/natureza/datação...)
• Desenvolvimento (explicar o conteúdo/como ele é
apresentado)
• Conclusão (interesse, importância do documento e de
seu conteúdo, representações que ele constrói, novas
questões que ele provoca)
Perguntas que mobilizem os alunos e o pensamento
investigativo: (desenvolver a problematização inicial)

• O que é possível saber a partir da fonte?


• Questões de identificação de informações internas

• O que é possível “imaginar”?


• Questões para levantamento de hipóteses, explicações
provisórias...
• O que é preciso pesquisar?
• Questões para ‘leitura externa’ da fonte
• Onde pesquisar?
• Formação de um repertório de busca/pesquisa ...
Usos de fontes históricas em aula – sequência
didática
1. Mobilizar os conhecimentos que os alunos possuem com:

 Questões do tipo informacional;


 Debate inicial sobre um conceito, acontecimento, situação
de um agente histórico;
 Como atribuem relações entre passado e presente com
relação ao tema/problema;
2. Fornecer elementos para situar o aluno no tempo/espaço
(contextualização) com relação ao documento/os
apresentado/s

 Mapas
 Cronologias
 Linhas de tempo
 Glossários /dicionários /enciclopédias
 Gráficos
 Biografia do autor/res
3. Leitura do Documento

Propor questões para que os alunos levantem hipóteses, sem


a preocupação de obter respostas “corretas”, mas de explorar
informações internas ao documento (leitura inicial) e externas
(conhecimento prévio dos alunos)

Seguir pistas presentes nas fontes...


3. Trabalhar a ‘leitura” de um documento por vez, ou com alunos
mais experientes, dois ou mais documentos com perspectivas
variadas sobre o tema/fato /conceito

 Questões para análise de cada documento


(interna/externa)
 Questões para análise cruzada (doc A + doc B)
 Questões para análise do conjunto
 Questão que solicite compreensão do aluno –
interpretação
 Questão que solicite posicionamento do aluno –
significação /aplicação
Terra Brasilis – Lopo Homem - 1519
Terra Brasilis – Lopo Homem - 1519
Exercitar a organização dos dados / descrição

Tema

Fonte

Título da imagem

Autoria

Data e local de
publicação
Descrição
• O que vemos representado na imagem?
• Quem são as pessoas representadas?

Leitura Interna
• Como estão vestidas? O que estão fazendo ?
• Pertencem ao mesmo grupo? Por que?
• O que as figuras sobre o oceano representam? Qual
a sua relação com a atividade realizada pelos
personagens à esquerda?

• Autoria da gravura
Leitura externa

• Quando a gravura foi produzida?


• O que acontecia no mundo/ Brasil no
período em que a gravura foi produzida?
• o que a imagem possibilita saber sobre
esse contexto?
3.2 - Relacionar com outras fontes do período por:

• Complementariedade
• Confronto
• Síntese
Cenas da expedição do Coronel Afonso Botelho de Sampaio Souza 1768-1773.
FONTE: BELUZO, Anna Maria de Moraes. O Brasil dos viajantes. São Paulo: Objetiva/ Fundação Odebrecht, 1999, p. 230.
Discurso de um velho índio tupinambá, pronunciado na França Antártica, a Jean de Léry:

"Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros


se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutam. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, mairs e
perôs [franceses e portugueses] buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra? Respondi
que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela
extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seu cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? - Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem
negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar
e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. - Ah! retrucou o selvagem, tu me contas
maravilhas,
acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre? -
Sim, disse eu, morre como os outros.
Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e
quando morrem para quem fica o que deixam? - Para seus filhos se os têm, respondi; na falta
destes para os irmãos ou parentes mais próximos. - Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo,
agora vejo que vos outros mairs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes
incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles
que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também? Temos
pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa morte a terra que nos nutriu também os
nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados”

LÉRY, Jean. Viagem à Terra do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1980, p. 169-170. In VILLALTA, LUIS C.
Coletânea De Documentos E Textos De
História Do Brasil Colonial. BH: UFMG, 2009.
Parâmetros de análise Identificar no
Procedimentos
documento
Autoria
Datação
Contextualização
Localização espacial
Destinatário (s)
Grupo social / político a que pertencia o autor
Objetivo do doc. Tipo de documento
Grupos relacionados ao doc.
Forma de produção do documento
Aspectos materiais
Suporte da escrita
Assunto central
Frases /expressões/palavras que sintetizem as
intenções do doc.
Necessidades apontadas ou possibilidades de
resolução de um problema defendidas pelo
Descrição
autor
Grupos/instituições ou pessoas defendidas ou
criticadas
Atividade – Identificação de conteúdo no documento escrito
1. Leitura compartilhada
2. Identificação de palavras e expressões desconhecidas
3. Identificação do tipo de doc. e suas finalidades
4. Relação desse doc. Com as imagens
5. Qual trecho mais significativos para os alunos?
6. Quais os temas apresentados pela fonte?
7. Como indígenas e franceses compreendem o trabalho e a visão de
mundo um do outro?

Índios Franceses

Uso da
madeira

Razão do
trabalho

A visão do
outro
4. Síntese do tema – construção de “respostas
provisórias” ao problema inicial
• Exposição pelo professor
• Abordagem do tema pelo texto do LD
• Outras

4.1. Síntese do aluno


• Produção de um texto ou outro material que
apresente suas considerações ou as descobertas a
partir do trabalho com documento e outros
materiais.
5. Finalização: exercício meta-cognitivo pelo aluno
(auto-avaliação)

• O que eu sabia sobre o tema?


• O que aprendi com o estudo da/s fonte/s?
• O que eu gostaria de pesquisar / aprender?

• Como os historiadores abordam o tema, porque


há diferentes visões, quais as mais plausíveis ou
válidas e porquê...
Experiências didáticas em arquivos – 3 abordagens
( Belloto, 2006)

• Contato com documentos gerais, selecionados pelo


arquivista por sua maior significação (por ex. história local).
Essa seleção não precisa estar relacionada aos conteúdos
que o professor esteja trabalhando em sala de aula.

• Seleção de documentos “sob medida”, isto é, solicitada


pelo professor. Um pouco mais difícil devido ao tipo de
conteúdo tratado tradicionalmente na escolas e os limites
dos arquivos regionais.

• Uma proposta mista, que apresente aspectos gerais do


Arquivo, suas especificidades e documentos sob sua guarda
e uma segunda atividade que procure trabalhar
documentos relacionados ao tema/conteúdo escolar.
• Arquivo Nacional
http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.
htm?sid=48
• Biblioteca Nacional - http://bndigital.bn.br/
• Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro
• http://www.aperj.rj.gov.br/projetos.htm

• Arquivo do Estado de São Paulo


• http://www.arquivoestado.sp.gov.br/index2.php

• CPDOC – FGV
• http://http://www.fgv.br/CPDOC/BUSCA/Busca/BuscaConsu
ltar.aspx
• Histodidactica – Univ.Barcelona – J. Prats
• http://www.ub.edu/histodidactica/links/3.htm
Referências
• BACELLAR, C. Uso e mau uso dos arquivos. In Pinsky, C. B. Fontes
Históricas. SP: Contexto, 2008.
• BELLOTTO, H.L. Arquivos permanentes: tratamento documental. RJ: FGV,
2006.
• BITTENCOURT, Circe. Usos didáticos de documentos e
• ________________. Documentos não-escritos na sala de aula. In Ensino
de História: fundamentos e métodos. SP: Cortez, 2004. P.327-400.
• Schmidt, M.A. & Cainelli, M. Ensinar História. SP: Scipione, 2010.
• Materiais didáticos
• DEL PRIORE, M.; NEVES, M. F.; Alambert, F. Documentos de História do
Brasil –de Cabral aos anos 90. SP: Scipione, 1997.
• BRUIT, H.; Pinsky, J. História da América através de textos. SP: Contexto,
1991.
• FENELON, D. R. 50 textos de história do Brasil. SP: Hucitec, 1974.
• FREITAS, G. 900 textos e documentos de História.Lisboa: Platano. V.1. s/d.
• PINSKY, J. 100 textos de história antiga. SP: Contexto, 1991.

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