Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DESCONFIANÇA
Suspeitar demais da
honestidade alheia faz
pessoas perderem dinheiro
AUTISMO
Pessoas com a síndrome
entendem melhor nuances
de voz do que das
expressões faciais
FOBIA
Filmes de super-heróis
ajudam a superar
QUANDO
DEPRIMIR
É NECESSÁRIO
Há situações em que o humor depressivo
ajuda a manter a saúde mental
carta da editora
V
ivemos tempos de pouco espaço para a introspecção e para a vivência dos
próprios lutos, mesmo os menores, corriqueiros e, ainda assim, necessá-
rios. Não por acaso há tantos milhões de pessoas deprimidas no mundo.
Como nos ensina Freud, o que é banido da consciência tende a retornar como sinto-
ma. A teoria serve tanto para entender o funcionamento psíquico dos sujeitos indivi-
dualmente quanto dos grupos sociais. Em um mundo em que o prazer é valorizado
acima de tudo – haja vista os apelos da publicidade por toda parte – parece haver
cada vez menos tolerância para com quem mergulha na própria dor. Ainda mais
nos dias atuais, em que o acesso fácil às drogas promete o bem-estar, quase em um
passe de mágica.
Com frequência, os antidepressivos são receitados e vendidos como produtos
capazes de banir a angústia – e não apenas própria da melancolia que corrói a vida
aos poucos e pode ser clinicamente diagnosticada, mas também os sentimentos
inerentes aos maus bocados pelos quais todos passamos em algum momento da
vida, seja em razão da perda do emprego, do fim de um relacionamento ou da morte
de um ente querido. Não é de admirar, portanto, que para fugir do desconforto psí-
quico tantas pessoas recorram ao uso de fármacos. Mas os medicamentos não são
milagrosos e podem trazer vários efeitos colaterais.
Cientes disso, na contramão de uma legião de médicos que receitam antidepres-
sivos de forma quase banal, cientistas e psicanalistas se unem para trazer uma men-
sagem incômoda: em muitos casos, vivenciar estados depressivos brandos pode ser
a saída mais saudável para entrar em contato com os próprios sentimentos, elaborar
experiências – e crescer emocionalmente. Obviamente não se trata de idealizar o so-
frimento: há casos em que a medicação é necessária sim – mas nem sempre. Além
de funcionar como mecanismo de autoproteção contra situações desgastantes, o
rebaixamento do humor nos faz rever crenças e atitudes. Entenda mais sobre o as-
sunto nesta edição digital de Mente e Cérebro.
Boa leitura.
3
sumário julho 2019
6 A batalha visual
Pessoas com personalidade dominante
tendem a suportar melhor os olhares agressivos,
sem se desviar
26 O preço da desconfiança
Suspeitar demais das intenções alheias prejudica
a capacidade de ganhar dinheiro; em vez de nos
proteger, descrença na honestidade traz prejuízos
22 O que é indispensável
saber sobre depressão
Principal causa de incapacitação para a vida 42 De perto é melhor
profissional e afetiva, a patologia contribui para Pesquisadores acreditam que toques sutis,
o aumento de carga global de doenças. Segundo como encostar a mão no ombro do interlocutor,
OMS, acompanhamento psicológico é fundamental favorecem a confiança entre as pessoas
especial www.mentecerebro.com.br
MENTE E CÉREBRO ON-LINE
Visite nosso site e participe de
nossas redes sociais digitais.
Alfabetização Presidente: Edimilson Cardial
Diretoria: Carolina Martinez,
www.mentecerebro.com.br
facebook.com/mentecerebro
Marcio Cardial e Rita Martinez twitter.com/mentecerebro
Instagram: @mentecerebro
Editora-chefe: Gláucia Leal
50 A hora de ler
Por razões de espaço ou clareza, elas
MARKETING/WEB poderão ser publicadas de forma
Diretora: Carolina Martinez
e escrever Gerente de marketing:
Mariana Monné
reduzida.
PUBLICIDADE
Situações lúdicas favorecem o Anuncie na Mente e Cérebro e fale com
o público mais qualificado do Brasil.
desenvolvimento de esquemas mentais ASSINATURAS E CIRCULAÇÃO almir@editorasegmento.com.br
Supervisora: Cláudia Santos
e exercitam a memória. Brincar de fazer Eventos Assinaturas: Simone Melo CENTRAL DE
imitações, por exemplo, ajuda a ampliar ATENDIMENTO AO LEITOR
Mente e Cérebro é uma publicação Para informações sobre sua assinatura,
capacidades cognitivas mensal da Editora Segmento com mudança de endereço, renovação,
conteúdo estrangeiro fornecido por reimpressão de boleto, solicitação de
publicações sob licença de reenvio de exemplares e outros serviços
Scientific American. São Paulo (11) 3039-5666
De segunda a sexta das 8h30 às 18h,
atendimento@editorasegmento.com.br
www.editorasegmento.com.br
MARKETING
Acompanhe a @mentecerebro Informações sobre promoções,
eventos, reprints e projetos especiais.
no Instagram marketing@editorasegmento.com.br
Editora Segmento
Saiba com antecedência qual será o tema da capa da próxima edição Rua Paulistania, 551
São Paulo/SP - CEP 05440-001
www.editorasegmento.com.br
A batalha
visual
Pessoas com personalidade dominante tendem a
suportar melhor os olhares agressivos, sem se desviar;
cientistas holandeses usaram imagens subliminares
para entender melhor esse comportamento
A sérvia Marina
Abramovic em sua
performance A artista
está presente, realizada
no MoMA (Museu de
Arte Moderna de Nova
York), em 2012. Na
ocasião, ela passou
um total de 736 horas
sentada em uma
cadeira de madeira,
conservando apenas
o contato visual com
1.675 pessoas. Em
dado momento, foi
surpreendida com a
chegada de seu ex-
marido, o também
artista plástico Ulay
6
socialização
E
ntre os nossos parentes próximos, os chimpanzés,
o lugar ocupado por um indivíduo na hierarquia so-
cial é quase sempre negociado sem violência físi-
ca: uma simples batalha de olhares decide quem
é mais poderoso. Os seres humanos em geral também não
costumam se estapear para marcar sua posição social. “Mas,
assim como seus ‘primos’ peludos, frequentemente usam,
às vezes até sem se dar conta, a competição com os olhos”,
afirma o pesquisador David Terburg, da Universidade de
Utrecht, na Holanda. Segundo ele, personalidades social-
mente dominantes evitam menos olhares agressivos, em
comparação aos mais retraídos.
Em um experimento coor-
denado por Terburg, 40 jo-
vens adultos observaram
uma tela na qual se alter-
navam, sequencialmente,
figuras ovais nas cores azul,
verde ou vermelha. Entre
elas, apareciam, em ordem
alternada, três pontos das
mesmas cores. Os voluntá-
rios deviam inicialmente fi-
xar o olhar na figura e de-
pois desviar os olhos, o mais
rápido possível, para o ponto
da mesma cor. Pouco antes,
porém, surgia na tela, de for-
ma subliminar, um rosto com
uma expressão feliz, neutra
7
socialização
8
capa
Especialistas
defendem que,
em muitos casos,
a depressão
pode ser uma
adaptação mental
saudável que nos
oferece melhores
condições para
resolver problemas
complexos
Quando
deprimir é
necessário
capa
O
s números são assustadores. A Organização
Mundial da Saúde (OMS) estima que 300 mi-
lhões de pessoas no planeta sofram hoje com
depressão. No dia a dia, é raríssimo encon-
trar um adulto que não conheça alguém que já apresentou
sintomas ou tenha, ele mesmo, enfrentado o problema. A
prevalência incrivelmente alta – em comparação com ou-
tros distúrbios mentais que afetam apenas cerca 1,5% da
população, como a esquizofrenia e o transtorno obsessivo
compulsivo – parece representar um paradoxo evolutivo.
O cérebro desempenha funções cruciais para a sobrevi-
vência e a reprodução, por-
Antropologia mostra que tanto, as exigências da evo-
sintomas depressivos surgem lução deveriam ter tornado
em sociedades nas quais esse órgão tão complexo
as pessoas ainda vivem em mais resistente. E, em geral,
ambientes similares aos de os transtornos mentais são
nossos ancestrais raros. Mas por que isso não
se aplica à depressão?
A questão poderia ser solucionada se o quadro fosse
decorrente do envelhecimento ou uma consequência do
estilo de vida moderno. O avanço da idade, porém, não
funciona como explicação, pois os primeiros episódios de-
pressivos tendem a se manifestar na adolescência ou no
início da vida adulta. Assim, à semelhança da obesidade, a
depressão talvez seja um problema que surge devido às
enormes diferenças entre as condições da vida moderna
e as de nossos ancestrais. Mas essa explicação também
não é satisfatória. Os sintomas da depressão são encontra-
dos em todas as culturas já examinadas em profundidade,
como a dos Aché, no Paraguai, e a dos !Kung, no sul da Áfri-
11
capa
12
capa
Em situações
extremas, a
excitação pode
levar ao colapso
dos neurônios,
assim como o
carro tende a
quebrar quando
é forçado
13
capa
14
capa
15
capa
Decisões
mais sábias
Dilemas complexos exigem pensamento
atento e habilidade política. Experiências
de laboratório indicam que pessoas
deprimidas são boas em resolver esses
impasses, por analisar melhor as vantagens
e desvantagens das opções possíveis
16
capa
O
que poderia haver de tão útil na depressão? Apa-
rentemente, nada. Mas só aparentemente. Os de-
primidos costumam pensar intensamente em seus
problemas. Tais pensamentos são chamados de ru-
minações obsessivas: são ideias persistentes que tomam conta
da mente e tornam difícil raciocinar sobre qualquer outra coisa e
tudo parece desinteressante. Vários estudos já mostraram que,
muitas vezes, esse modo de pensar é extremamente analítico.
Nesse estado, a pessoa se debruça sobre um problema com-
plexo, dividindo-o em componentes menores, examinando-os
detalhadamente, um de cada vez.
Essa maneira analítica de pen-
Perda de apetite tem sar pode ser altamente produtiva.
o objetivo de livrar o Cada uma das partes, quando iso-
cérebro da “distração” lada, não oferece tanta dificulda-
com o alimento de, de modo que o problema se
para que a pessoa torna mais manejável. Na verda-
se concentre no que de, diante de uma situação difícil,
realmente a incomoda entrar em um estado depressivo
(ainda que provisoriamente) é, não
raro, uma reação que ajuda a resolver o problema. Em algumas
de nossas pesquisas, encontramos indícios de que, em testes
de inteligência, as pessoas que mais se deprimem ao lidar com
proposições complexas são as que obtêm pontuação mais alta.
Mas é preciso fazer aqui uma distinção entre o estado de-
pressivo (assim denominado pela psicanalista Melanie Klein),
marcado pela introspecção, necessário para elaboração de si-
tuações de angústia, e a depressão patológica, que pode ser
incapacitante e até levar ao suicídio. O estado depressivo sur-
ge em situações de luto (seja pela perda de um ente querido,
uma separação ou perda de emprego, por exemplo). O fato de
17
capa
Gasto de energia
Do ponto de vista físico, a análi-
se exige boa dose de pensamen-
to ininterrupto e a depressão pro-
picia muitas mudanças cerebrais
que nos ajudam a avaliar vários
aspectos sem nos dispersar. Para
que uma pessoa não se desvie
do objetivo é preciso que os neu-
rônios do córtex pré-frontal ventrolateral (CPFVL) sejam continu-
amente ativados. Isso, porém, acarreta grande gasto energético
no cérebro. Além disso, a excitação contínua pode levar ao co-
lapso dos neurônios, assim como o motor de um automóvel tem
maior probabilidade de quebrar quando forçado. Estudos sobre
depressão em ratos mostram que o receptor 5HT1A está envol-
vido no fornecimento aos neurônios do combustível necessário
ao funcionamento e à proteção contra o risco de colapso. Esses
processos permitem a continuidade ininterrupta das ruminações,
minimizando os danos neuronais, o que pode explicar a grande
importância evolutiva dessa molécula.
O desejo de isolamento social, por exemplo, ajuda o deprimi-
do a evitar situações que o obrigariam a pensar em outros as-
suntos. Da mesma forma, a incapacidade de obter prazer com o
sexo ou outras atividades evita que ele se envolva em algo que
o distrairia do problema. Pensando assim, fazem sentido todas
18
capa
19
capa
20
capa
21
capa
O que é
indispensável
saber sobre
depressão (*)
Principal causa de incapacitação para a vida
profissional e afetiva, a patologia contribui de forma
importante para o aumento da carga global de
doenças, mas existem vários tratamentos eficazes.
Segundo a OMS, tratamento psicológico é fundamental
capa
D
epressão não é tristeza. A condição é diferente
das flutuações usuais de humor e das respostas
emocionais de curta duração aos desafios da vida
cotidiana. Quando tem longa duração e intensida-
de moderada ou grave pode se tornar uma condição crítica
de saúde, afetando todas as áreas da vida da pessoa. Nos
casos mais graves, a depressão pode levar ao suicídio (são
registrados 800 mil a cada ano). Entre pessoas com idade en-
tre 15 e 29 anos é a segunda principal causa de morte.
Embora existam tratamentos eficazes conhecidos para de-
pressão, menos da metade das pessoas afetadas no mun-
do (em muitos países, menos de 10%) recebe tratamento. Os
obstáculos ao atendimento eficaz incluem a falta de recursos,
de profissionais treinados e o estigma social associado aos
transtornos mentais, que faz com que as pessoas adiem a
busca por ajuda. Outra barreira ao atendimento é a avalia-
ção imprecisa. Em países de todos os níveis de renda pesso-
as com depressão frequentemente não são diagnosticadas
corretamente e outras que não têm o transtorno são muitas
vezes avaliadas de forma inadequada, sendo submetidas a
intervenções desnecessárias.
Fatores preventivos
Um episódio depressivo patológico pode ser categorizado
como leve, moderado ou grave, dependendo da intensidade
dos sintomas. Uma pessoa com um episódio depressivo leve
terá alguma dificuldade em continuar um trabalho simples e
atividades sociais, mas sem grande prejuízo ao funcionamen-
to global. Durante um episódio depressivo grave, é imprová-
vel que a pessoa afetada possa continuar com atividades so-
23
capa
Diagnóstico e cuidados
Existem tratamentos eficazes para depressão moderada e
grave, sendo de grande importância os tratamentos psico-
lógicos e em muitos casos o uso de antidepressivos. Os re-
médios podem ser eficazes no caso de depressão modera-
da a grave, mas não são a primeira linha de tratamento para
os casos mais brandos. Esses medicamentos não devem ser
usados para tratar depressão em crianças e não são a pri-
meira linha de tratamento para adolescentes. Ao optar pelo
medicamento, é necessário levar em conta a possibilidade de
efeitos adversos associados e considerar a intervenção psi-
coterápica individual ou em grupo, associada à prática grada-
tiva de atividade física e à meditação.
24
capa
O preço da
desconfiança
Suspeitar demais das intenções alheias
prejudica a capacidade de ganhar
dinheiro; em vez de nos proteger,
descrença na honestidade alheia pode
provocar prejuízos
26
personalidade
A
maior parte da população mundial vive hoje em ci-
dades. Isso significa, entre outras coisas, que menos
gente conhece seus vizinhos. Em algum momento
parece inevitável nos perguntarmos se devemos
nos aproximar de outras pessoas ou levantar a guarda e nos
fecharmos para fugir de eventuais perigos. Alguns pesquisa-
dores acreditam que a falta de confiança pode não apenas
prejudicar o convívio social (e nos privar de benefícios que
isso traz para a saúde mental), mas também custar dinheiro.
Participantes de
experimento que
reconheceram ter
“visão cínica” da
natureza humana
tiveram renda menor,
em comparação
aos seus colegas
mais otimistas
Um número cada vez maior de estudos revela um dado
intrigante: pessoas que confiam pouco em seus colegas ga-
nham menos em transações financeiras. Num estudo reali-
zado há uma década em laboratório, e várias vezes replica-
do, os voluntários que subestimaram o número de parceiros
que dariam retorno a seu investimento, em um jogo que se-
guia princípios da economia, investiram menos e acabaram
com receita menor do que poderiam ter conseguido. Agora,
um novo artigo publicado em maio no Journal of Personality
and Social Psychology estabelece algumas relações curio-
27
personalidade
28
Coleção
LIGHT
História da Pedagogia
P i a g e t • Vi g o t s k i • Wal l o n • Fre i r e • Ro u s s e a u • D e w e y
coleção
Realização:
Roer unhas
em busca
da perfeição
Os hábitos repetitivos focados no corpo
podem ser compreendidos como uma
forma de tentar aliviar o tédio, a irritação
e a insatisfação consigo mesmo
30
ansiedade
O
senso comum atribui o hábito de roer unhas à
ansiedade, mas novos estudos sugerem outra
causa para esse comportamento: o perfec-
cionismo. Em um deles, publicado no Journal
of Behavior Therapy and Experimental Psychiatry , pesqui-
sadores analisaram a habilidade de controlar as emoções
e comportamentos relacionados com a organização de 48
voluntários, metade deles com algum comportamento re-
petitivo focado no corpo, como roer unhas, arrancar os ca-
belos ou cutucar a pele. Estes marcaram, em comparação
ao grupo de controle (sem nenhum desses hábitos), maior
pontuação na escala que
Atitudes automáticas como media perfeccionismo.
Além disso, demonstra-
morder e coçar favorecem a
ram inclinação a se so-
sensação de bem-estar, mas
brecarregar e a se sentir
somente temporariamente; rapidamente frustrados
depois do alívio inicial, com poucas atividades.
porém, as pessoas costumam Os hábitos repetitivos,
se sentir constrangidas sugerem os autores, se-
riam uma forma de ten-
tar aliviar o tédio, a irritação e a insatisfação. Os mesmos
voluntários foram expostos a situações elaboradas para
provocar quatro diferentes emoções: estresse (os cientis-
tas mostraram um filme de um acidente de avião); tran-
quilidade (documentário sobre ondas do mar); frustração
(os pesquisadores apresentaram um quebra-cabeça com
alto grau de complexidade, dizendo que seria fácil mon-
tá-lo); e tédio (participantes foram deixados sozinhos em
31
ansiedade
32
terapia
Super-
heróis
XX
medo
Para superar seus medos,
nada como enfrentá-los.
Uma equipe israelense
encontrou uma maneira
original de fazer isso:
assistir aos filmes do
Homem-Aranha
34
terapia
I
magine um monstro repulsivo, caminhando em sua
direção. E não importa se esse ser asqueroso é ape-
nas uma inofensiva aranha ansiosa por não ser inco-
modada por humanos. Se você é uma das milhões
de pessoas que se apavoram diante de um aracnídeo, é
provável que tudo o que deseje nesse momento seja con-
tar com ajuda para se salvar. Se for de um super-herói,
melhor ainda. O pesquisador Yaakov Hoffman, da Univer-
sidade Bar-Ilan, em Israel, e seus
colegas seguiram essa linha de ra-
ciocínio para sugerir um tratamen-
to original para aracnofobia: assistir
aos filmes do Homem-Aranha.
Em um experimento, os cientis-
tas apresentaram trechos de um
desses filmes para cem pessoas,
Os resultados com medo de aranhas em diferen-
do experimento tes graus. Numa cena com duração
foram promissores: de apenas sete segundos, os par-
enquanto estavam ticipantes do experimento viram o
atentos ao filme, artrópode que daria seus poderes
a intensidade ao herói rastejando em sua teia. Os
resultados foram promissores: en-
do medo dos
quanto estavam atentos ao filme,
voluntários, medida
a intensidade do medo dos volun-
por um questionário tários, medida por um questionário
antes e depois antes e depois da visualização, di-
da visualização, minuiu em 20%. Já os integrantes
diminuiu em 20% do grupo de controle (também com
35
terapia
36
terapia
37
comunicação
O componente
auditivo
do autismo
Novas evidências sugerem que autistas
entendem os sinais sociais transmitidos por
vozes de forma mais eficiente do que pela visão;
para especialistas, essa descoberta pode facilitar
o processo de inclusão dessas pessoas
38
comunicação
E
xpressões faciais, olhares e movimentos dos lá-
bios dizem muito sobre o que se passa em nossa
mente, às vezes até mais do que gostaríamos de
revelar. Para pessoas com autismo, porém, captar
e compreender mensagens, sejam de felicidade, medo, tris-
teza ou qualquer outra emoção transmitida pelas feições, é
uma missão muito complexa e, não raro, impossível. Muitos
pesquisadores tomam essa dificuldade como evidência de
que o autismo envolve sérios déficits de processamento
de informações sociais. Mas a voz também pode fornecer
pistas emocionais, e vários estudos recentes indicam que,
quando ouvem vozes, autistas são capazes de reconhecer
sentimentos e outras mensagens, assim como as pessoas
que não apresentam distúrbios significativos no funciona-
mento mental – e em alguns casos com mais precisão.
“Nessa fase, nossos estu-
dos se concentraram apenas
“É muito mais fácil
em adultos autistas bastante
ajudar alguém a
funcionais, cujas habilidades
superar a incapacidade não são necessariamente re-
de ler emoções em presentativas da população
rostos do que abordar autista mais ampla”, salienta
a falta de compreensão Andrew Whitehouse, chefe
mais ampla de pesquisa de autismo no
de sentimentos”, Instituto Telethon Kids, em
diz cientista Perth, na Austrália. “Também
preciso considerar que o êxi-
to em uma tarefa de laborató-
rio não se traduz necessaria-
39
comunicação
Três comprovações
O pesquisador Daniel Javitt e seus colegas do Instituto Na-
than Kline para Pesquisa Psiquiátrica, nos Estados Unidos,
exibiram fotografias de rostos que expressam felicidade,
tristeza, medo ou raiva a voluntários autistas. Os 19 partici-
pantes não foram bem ao identificar essas emoções. Mas,
quando pesquisadores tocaram audioclipes de vozes que
transmitiam sentimentos similares, os participantes identi-
ficaram as emoções relevantes tão bem quanto um grupo
de controle. Os dados saí-
ram no Journal of Psychia-
tric Research.
comunicação
41
relacionamento
De perto
é melhor
Pesquisadores acreditam que toques
sutis, como encostar a mão no ombro
do interlocutor, aumentam o grau de
confiança entre as pessoas e podem
impulsionar a cooperação grupal
42
relacionamento
I
ndependentemente da forma, seja um toque delica-
do de paquera ou um beliscão, o contato físico pode
transmitir vários tipos de informação social. Há mais
de três décadas os psicólogos Christopher G. Wetzel,
do Rhodes College, e April H. Crusco, então da Universida-
de do Mississippi, relataram que garçonetes que encosta-
vam brevemente na mão ou no ombro dos clientes tinham
chances de ganhar uma gorjeta maior do que se não fizes-
sem esse gesto. Estudos posteriores demonstraram ainda
que o toque costuma favorecer a influência que exercemos
sobre estranhos e ajudar vendedores a pressionar consu-
43
relacionamento
44
especial • alfabetização
O tempo
a favor da
aprendizagem
Pesquisa sobre relação
de processos de consolidação
da memória mostra como crianças
pequenas registram informações
e valoriza o esquecimento,
considerado parte essencial do
processo de apreensão
de informações
46
especial • alfabetização
E
nsinar uma criança pode ser um desafio, espe-
cialmente antes dos 5 anos, quando o desenvol-
vimento intelectual infantil ainda está começando.
Por mais que a mente em formação seja terreno
fértil para novos aprendizados, não é raro que informações
sejam esquecidas tão logo sejam adquiridas. Freud chamou
de amnésia infantil o fenômeno que consiste na incapacida-
de de menores de 3 ou 4 anos de criar representações está-
veis de eventos, motivo pelo qual
Crianças na fase pré- a maioria das pessoas não con-
escolar são vulneráveis segue trazer memórias mais anti-
à interferência gas à consciência. Por outro lado,
retroativa, fenômeno pesquisas com bebês e crianças
que se dá quando pequenas constatam que eles são
temos uma informação capazes de criar lembranças de
e, diante de um novo acontecimentos, mesmo que não
conscientemente.
aprendizado, o mais
De qualquer maneira, a memó-
recente é encarado com
ria é seletiva e a capacidade de ar-
prioridade pelo cérebro mazenamento, limitada – o que faz
do esquecimento uma condição
essencial ao seu normal funciona-
mento. Estudos recentes sugerem
que crianças de faixa etária pré-
-escolar são altamente vulneráveis
ao que se conhece como interfe-
rência retroativa: fenômeno que se
dá quando temos uma informação
guardada e, diante do aprendizado
de um novo dado mais relevante,
47
especial • alfabetização
48
especial • alfabetização
49
especial • alfabetização
A hora de ler
e escrever
a a t i v i d a d e de
a t i v a d e g ravar ria e
Na tent rc e p ção e m e m ó
u i t o s d e p e r t a m e n t os
ci rc d e comp o
o r i g e m i va s ,
entender a e funçõ e s c o g n i t
com p l e x o s v e m um
e s e n v o l
s q u i s a d o res d m icas,
pe exõe s a n a t ô
d o d e c o n
traça s , n e u r ô n ios
sinapse
50
especial • alfabetização
A
alfabetização é um momento importante tanto no
desenvolvimento cognitivo quanto emocional da
criança, muito valorizado pela família e pela escola
– e com razão. O processo de leitura não se res-
tringe a simplesmente decifrar as letras e sim dominar todo
um sistema simbólico. O amadurecimento neuropsíquico que
esse processo exige nem sempre é levado em conta quando
se tenta impor a leitura a crianças tão jovens quanto 4 ou 5
anos. Justamente por isso, o letramento precoce é um assunto
permeado por controvérsias.
Para o psicólogo bielo-russo Lev Vygotsky, a alfabetização
é resultado de um processo longo e repleto de etapas, das
quais fazem parte, por exemplo, gesto e expressões. Ao fazer
um símbolo no ar, a criança já manifesta uma linguagem mais
próxima da escrita. Segundo essa concepção, o aprendizado
gradual é imprescindível e deve ser incentivado nas classes de
primeira infância, sem que atividades mecânicas de leitura e
escrita atrapalhem ou forcem as etapas de desenvolvimento.
Os estudos de Vygotsky têm ligação direta com a pedago-
gia Waldorf, introduzida pelo filósofo e educador austríaco Ru-
51
especial • alfabetização
52
livro | lançamento
Sim, a psicanálise
cura! J.-D. Nasio. Zahar,
2019. 112 págs. Livro
impresso: R$ 56,90.
E-book: R$ 39,90
O enigma da cura
Em seu novo livro, o psicanalista J.-D. Nasio
apresenta cinco etapas do trabalho clínico,
partindo da observação até a interpretação,
quando o analista “diz com clareza o que o
paciente já sabia de forma confusa
Q
ualquer um que tenha – após anos de estudo da obra de Sigmund
Freud e dos autores que vieram em sua esteira –, se autorizado
a sentar-se numa poltrona atrás do divã (ou mesmo diante do
paciente), convidando-o a dizer o que lhe vier à cabeça, certamente já se
questionou a respeito da eficácia da psicanálise. E se não o fez, certamente
deveria, pois certezas absolutas podem ser perigosas, obturar faltas e po-
dar reflexões. Felizmente, dia após dia, ano após ano, os resultados da ex-
periência analítica tendem a convencer tanto psicanalistas quanto pacien-
tes comprometidos com o tratamento de que sim, a escuta do inconsciente
promove profundas transformações na vida das pessoas que se dispõem
livro | lançamento
55
Coleção
LIGHT
História da Pedagogia
P i a g e t • Vi g o t s k i • Wal l o n • Fre i r e • Ro u s s e a u • D e w e y
coleção
Realização: