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COMPORTAMENTO GOVERNADO POR REGRAS

VERSUS MODELADO POR CONTINGÊNCIAS


Ao dizer que um comportamento é governado ou controlado 1 por regras,
estamos dizendo que existe um estímulo discriminativo verbal do tipo
regra2 que controla o comportamento de um ouvinte (Baum,
2006/2008). Catania (1998/1999) definiu o comportamento governado
por regras como a tendência das pessoas a seguirem instruções 3 umas
das outras.

Um exemplo pode ser o da mãe de um adolescente dizer para o mesmo


que ele deveria, ao sair da escola, ir direto para casa e que caso não
fizesse isso iria se ver com ela. Esta regra controlava o comportamento
do mesmo, pois ele aprendeu que caso não seguisse a seguisse, teria de
lidar com as consequências desagradáveis providas pela mãe. Em outras
palavras, a resposta de ir direto para casa ao sair da escola era
reforçada negativamente, evitava a apresentação das consequências
aversivas do “ver com a sua mãe”.

Regras, por serem sempre verbais, podem ser tanto faladas quanto
escritas (Baum, 2006/2008). Por exemplo, geralmente, não paramos um
carro em frente a uma placa de “Não estacione”. Baum (2006/2008)
diria que a pessoa que afixou a placa é o falante e quem a lê é o
ouvinte. O reforço para o comportamento do falando de afixar a placa é
o fato de as pessoas não estacionaram em frente à casa.

Vaughan (1987) postula que agimos sobre o mundo apenas em função


das consequências destas ações. Baum (2006/2008) defende que, isto
acontece, por que o comportamento operante é modelado via reforço e
punição (independente de ser governado por regras ou modelado por
contingências). No caso do comportamento puramente modelado por
contingências, tanto o reforço quanto a punição envolvidos são,
inevitavelmente, não-verbais.
Castanheira (2001) questiona se existem comportamentos puros, tanto
para os governado por regras quanto os modelados por contingências.
Andery (2003) e Baum (2006/2008), sobre o assunto, afirmam que,
para a nossa espécie, dificilmente estes comportamentos são
encontrados; haja vista que, muitas vezes, um comportamento pode
começar a ser emitido sob controle de instruções e posteriormente
passar ao controle de contingências. A aprendizagem, portanto, é fruto
tanto de nosso contato com as contingências quanto do seguimento de
regras – ambas as formas de controle estão intimamente conectadas.

É possível instruir uma ginasta sobre os passos básicos, posições, onde


colocar os pés, as mãos, etc., antes de a ginasta realizar a acrobacia.
Porém, para a ginasta conseguir realizá-la com perfeição, é necessário
que ela pratique, ou seja, que seu comportamento passe ao controle por
contingências e não apenas verbal. O mesmo autor citou outros
exemplos, tais como dirigir, boas maneiras, tocar um instrumento
musical, etc.

Apesar de difícil, alguns comportamentos puramente controlados por


contingências podem ser citados, como por exemplo, aqueles mais
restritos à movimentação corporal, como andar, agarrar um objeto,
entre outros (Andery, 2003). Vaughan (1987) cita um exemplo: quando
criança, é terrível tentar agarrar uma ervilha cozida, mas devido às
consequências das tentativas anteriores, é possível aprender como fazê-
lo, ou seja, no começo a criança sujará a mão, o chão e com o tempo
conseguirá obter a ervilha intacta. Por outro lado, alguns
comportamentos são somente regidos por regras, por exemplo, um
manual para montar algum equipamento (Andery, 2003).

Skinner (1974/1982) complementou o assunto ao explicar que


o comportamento modelado pelas contingências é mais valorizado pelo
próprio sujeito por ter sido constituído principalmente pelas próprias
experiências, ou seja, pelo contato natural do organismo com os
reforçadores. A distinção principal é que o comportamento governado
por regras precisa necessariamente da comunicação de um falante,
enquanto que o modelado por contingências exige apenas uma interação
com reforço de forma não-verbal e não-social (Baum, 2006/2008).

Outra pergunta de Castanheira (2001), foi sobre o por que as pessoas


seguem regras umas das outras com tanta facilidade. A própria autora
responde dizendo que, tanto o comportamento governado por regras
quanto o comportamento modelado pelas contingências, são plausíveis,
naturais e eficazes. Skinner (1969/1980) afirma que a utilidade das
regras se dá pela possibilidade delas serem transmitidas via estímulos
discriminativos construídos a partir de uma cultura, julgando-as como
eficientes para o comportamento de seus membros. Uma cultura produz
máximas, leis, gramática e ciência para que os constituintes da mesma
se comportem mais eficazmente ao segui-las, pois, caso fossem
aprendidos apenas pela experiência pessoal, demoraria muito tempo
para serem adquiridos (Andery, 2003). Uma receita, por exemplo, nos
instrui sobre como fazer um bolo. A criação da receita para um bolo
gostoso foi um problema solucionado que pode ser útil a outras pessoas.
Analisando outro exemplo, sabe-se que a velocidade da luz é igual a 299
792 458 metros por segundo e como este conhecimento foi construído.
Um cientista não precisará traçar novamente este caminho. Ele poderá
simplesmente utilizar este conhecimento já construído e
continuadamente transmitido para avançar, chegando a novas
descobertas. Skinner (1969/1980) escreveu que “a cultura resolve
problemas por seus membros, e o faz transmitindo estímulos
discriminativos já construídos para evocar soluções” (p. 277). Esta
capacidade de transmitir conhecimento e estar sensível a transmissão
dos mesmos, de acordo com Simon (1990) citado por Baum
(2006/2008), é o que torna possível um indivíduo fazer parte de uma
cultura. Sem isto, as pessoas nunca fariam parte da mesma.

O comportamento governado por regras e o modelado por


contingências, foram apresentado em um exemplo por Skinner. Em A
Fable (1988), foi demonstrado (apesar de não estar falando de
regras perse) a aprendizagem por meio de três formas diferentes. A
primeira seria como Robinson Crusoé aprende a dirigir um jipe sem
instrução alguma de como fazê-lo. A este tipo de aprendizagem, na qual
o indivíduo se comporta independente de uma regra, ele faz com que ele
seja diretamente afetado pela consequência de suas respostas (Skinner,
1974/1982). Desta forma, Skinner (1989/1991) distinguiu o “conhecer
por compreensão e conhecer por descrição” (p. 111). Depois de
aprender a dirigir o jipe, ensina Sexta-Feira (um personagem da fábula
que não fala a mesma língua de Crusoé) a dirigir, demonstrando não
vocalmente como ligar o jipe (girando a chave da ignição), como
engatá-lo (pisando na embreagem, trocando a marcha etc.) e, desta
forma, Sexta-Feira aprende a dirigir o jipe por imitação. Por último
ensinou o Capitão de um navio que entendia palavras próximas do
inglês, tais como “Quando você gira este botão […] algo na carroça faz
um barulho, mas não o gire a menos que o bastão com a bola em cima
esteja reto” (1988, p.1). Skinner aqui traz em si o conceito de regras,
dizendo que Crusoé podia “descrever contingências” (1988, p. 1) e que
estas se sustentam, pois são reforçadas (pelo barulho do motor
continuar, pelo carro se mover etc.). Por fim, o Capitão aprende a
dirigir. Como afirmou Skinner (1974/1982), é mais rápido aprender por
meio de regras do que por modelação. No entanto, o comportamento de
quem segue uma regra é diferente do comportamento de quem está
exposto às contingências. Por exemplo, de acordo com Castanheira
(2001), o comportamento governado por regras é emitido de forma mais
mecânica, estereotipada e rígida, enquanto que o modelado pelas
contingências é mais variável, flexível, natural, coordenado e sutil.

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