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Sebenta Constitucional Laura Nunes Vicente PDF
Sebenta Constitucional Laura Nunes Vicente PDF
DIREITO
CONSTITUCIONAL
I
PARTE
I
–
CONSTITUIÇÃO
E
CONSTITUCIONALISMO
CAPÍTULO
I
DIREITO
CONSTITUCIONAL
–
APROXIMAÇÕES
Constituição:
um
texto?
Conceito
de
direito:
regulação
das
relações
sociais
através
de
normas
jurídicas,
assegurando
a
coesão
do
sistema.
Conceito
de
constituição:
o
termo
constituição
pode
ter
diferentes
usos.
Para
os
compreender,
é
necessário
ter
em
conta
as
seguintes
proposições:
• Todos
os
países
têm
uma
constituição.
• Nem
todos
os
países
possuem
um
documento
escrito
chamado
constituição.
• Nem
todos
os
países
que
têm
um
documento
constitucional
obedecem
ao
conceito
de
constitucionalismo.
1.1.
Constituição
enquanto
realidade
social
–
constituição
real
Através
da
primeira
afirmação,
compreendemos
que
o
termo
constituição
pode
ser
utilizado
em
sentido
amplo
para
designar
a
estruturação
do
poder,
o
“corpo
político”
de
uma
comunidade.
Este
uso
corresponde
à
concepção
aristotélica
de
politeia.
No
fundo,
a
constituição
revela-‐se
como
uma
realidade
social,
podendo-‐
se
afirmar
que
qualquer
grupo
organizado
é
uma
constituição.
1.2.
Constituição
como
documento
escrito
–
constituição
formal
A
segunda
afirmação
remete-‐nos
para
o
conceito
formal
de
constituição
enquanto
documento
escrito,
ou
seja,
enquanto
um
documento
que
possui
superioridade
hierárquica
no
plano
jurídico
e,
diferentemente
dos
outros
textos
normativos,
é
de
difícil
revisão.
Este
conceito
pode
já
transportar
dimensões
valorativas,
visto
obedecer
a
determinadas
características
formais
e
possuir
um
conteúdo
específico.
1.3.
Constituição
em
sentido
normativo
–
constituição
material
A
terceira
afirmação
coloca-‐nos
perante
o
uso
de
constituição
em
sentido
normativo,
ou
seja,
enquanto
documento
que
obedece
aos
princípios
fundamentais
do
constitucionalismo.
A
constituição
deve,
pois,
possuir
um
conteúdo
específico:
deve
estabelecer
limites
jurídicos
ao
poder,
e
deve
ser
informada
por
princípios
materiais
fundamentais,
como
o
princípio
de
separação
de
poderes
e
a
garantia
de
direitos
e
liberdades.
A
constituição
normativa
pressupõe
uma
relação
entre
o
texto
e
um
conteúdo
normativo
específico,
e,
assim,
o
texto
vale
como
lei
superior
porque
consagra
princípios
fundamentais.
A
constituição
é
um
conjunto
de
regras
jurídicas
codificadas
num
texto
ou
em
costumes,
e
que
possuem
superioridade
hierárquica
em
relação
às
outras
regras
jurídicas,
visto
serem
atravessadas
por
princípios
aos
quais
é
atribuído
um
valor
específico
superior.
Assim,
a
constituição
normativa
não
se
basta
com
um
conjunto
de
regras
jurídicas,
tem
de
transportar
uma
dimensão
axiológica
que
se
traduza
numa
bondade
material.
O
Corpus
Constitucional
O
corpus
da
constituição,
que
se
define
como
conjunto
limitado
de
materiais
normativos
que
formam
a
constituição,
constitui
não
um
dado,
mas
sim
um
problema.
São
candidatos
positivos
os
materiais
normativos
que
fazem
parte
da
constituição,
candidatos
negativos
os
materiais
não
reentrantes
na
constituição,
e
candidatos
neutrais
aqueles
que
suscitam
dúvidas
quanto
à
sua
integração
na
constituição.
Assim,
podemos
encontrar
três
acepções
do
corpus
constitucional:
• O
corpus
constitucional
é
constituído
pelo
texto
(constituição
em
sentido
formal).
• O
corpus
constitucional
é
constituído
não
só
pelo
texto,
mas
ainda
por
outros
materiais
normativos.
• O
corpus
constitucional
é
constituído
apenas
por
uma
parte
das
regras
incluídas
no
texto.
1.
O
texto
Alguns
autores
consideram
que
o
corpus
constitucional
é
todo
o
texto
constitucional,
ou
seja,
existe
identificação
entre
constituição
e
constitucional
formal.
Surge
o
conceito
de
constituição
instrumental
–
constituição
enquanto
um
texto
escrito.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Contudo,
nem
sempre
existe
esta
correspondência.
Por
exemplo,
em
França,
as
Constituições
de
1946
e
1958
lembram
a
fidelidade
aos
princípios
da
Declaração
dos
Direitos
do
Homem
e
do
Cidadão
de
1789.
Assim,
vários
textos
foram
do
documento
constitucional
são,
pois,
incluídos
no
corpus
constitucional.
2.
Mais
do
que
o
texto
2.1.
O
costume
constitucional
Considera-‐se
que
estamos
perante
uma
norma
constitucional
consuetudinária
(não
escrita)
integradora
do
corpus
constitucional
quando
se
verifica
a
institucionalização
social
no
sistema
jurídico
constitucional
de
um
acto
ao
qual
é
reconhecido
a
significação
de
uma
norma
de
carácter
constitucional.
Para
que
uma
regra
consuetudinária
seja
institucionalizada,
são
necessárias
duas
condições
cumulativas:
uso
durante
largo
tempo
(inveterata
ou
longaeva
consuetudo),
e
convicção
da
sua
juridicidade
(opinio
necessitatis
ou
opinio
juris).
Assim,
pode-‐se
afirmar,
por
exemplo,
a
existência
de
um
costume
constitucional
caracterizado
pela
nomeação
obrigatória,
pelo
Presidente
da
República,
como
Primeiro-‐Ministro,
do
candidato
a
Primeiro-‐
Ministro
indicado
pelo
partido
que
venceu
as
eleições
–
quando
a
Constituição
da
República
Portuguesa
estabelece
apenas
que
o
Primeiro-‐Ministro
será
nomeado
pelo
Presidente
da
República
“tendo
em
conta
os
resultados
eleitorais
(CRP,
art.
187º).
2.2.
As
interpretações
do
texto
O
corpus
constitucional
pode
incluir
ainda
candidato
resultantes
da
interpretação
do
texto
constitucional.
São
exemplos:
• A
judicial
review
of
legislation,
fiscalização
da
constitucionalidade
das
leis
pelos
tribunais,
que
não
estava
expressamente
consagrada
na
Constituição
dos
Estados
Unidos
mas
que
foi
descobrida
interpretativamente
pelo
Juiz
Marshall.
• A
integração
racial
nas
escolas
públicas
–
a
controvérsia
em
torno
da
segregação
racial
nas
escolas
públicas
terminou
com
a
institucionalização
de
um
novo
princípio
constitucional
pelo
Juiz
Warren,
que
determinou
que
o
princípio
da
igual
protecção
de
brancos
e
negros
não
era
compatível
com
esta
separação.
3.
Menos
do
que
o
texto
Existem
normas
que,
embora
inseridas
no
texto,
não
são
normas
materialmente
constitucionais,
não
possuem
dignidade
constitucional.
São
exemplos:
• Normas
com
importância
transitória.
• Normas
de
escassa
relevância
constitucional.
• Normas
de
carácter
compromissório.
• Normas
técnicas.
O
problema
suscitado
pela
redução
do
corpus
constitucional
é
a
falta
de
critérios
seguros
para
aferir
da
constitucionalidade
das
normas,
aliada
à
impossibilidade
de
reconhecer
ao
intérprete
o
direito
de
“desconstitucionalizar”.
Assim,
e
como
reconhecer
a
existência
de
normas
apenas
formalmente
constitucionais
implicaria
correr
o
risco
de
quebrar
a
unidade
normativa
da
constituição,
consideramos
que
todas
as
normas
da
constituição
têm
o
mesmo
valor,
ou
seja,
fazem
parte
do
corpus
constitucional.
4.
“Law
in
the
books”
e
“law
in
action”
A
abertura
do
corpus
constitucional
a
regras
constitucionais
não
escritas
–
quer
derivadas
da
formação
consuetudinária,
quer
derivadas
da
interpretação
do
texto
constitucional
–
aponta
para
um
conceito
de
direito
enquanto
“direito
em
acção”,
e
não
apenas
“direito
nos
livros”.
Falamos,
pois,
numa
constituição
material
–
conjunto
de
fins
e
valores
constitutivos
da
unidade
de
um
ordenamento
jurídico
(dimensão
objectiva),
e
o
conjunto
de
forças
políticas
e
sociais
que
exprimem
esses
fins
ou
valores
(dimensão
subjectiva).
O
Direito
Constitucional
no
Quadro
dos
Saberes
O
Direito
Constitucional
constitui
um
ramo
do
direito
público,
e
opõe-‐se
a
outros
saberes
como
a
Teoria
Geral
do
Estado,
a
Ciência
Política,
o
Direito
do
Estado,
etc.
Contudo,
é
necessário
dominar
estas
áreas
do
saber
para
compreender
o
Direito
Constitucional.
O
Direito
Constitucional
no
quadro
da
divisão
direito
público/direito
privado
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Apesar
dos
campos
do
direito
público
e
direito
privado
não
serem
dois
campos
estanques,
podemos
distingui-‐los
segundo
diferentes
critérios:
• Posição
dos
sujeitos:
enquanto
que
no
direito
público
há
uma
relação
de
supra-‐infra-‐ordenação
entre
os
sujeitos,
no
direito
privado
os
sujeitos
encontram-‐se
num
plano
de
paridade.
Este
critério
não
é,
porém,
absoluto.
• Teoria
dos
interesses:
o
direito
público
persegue
interesses
públicos,
enquanto
que
o
direito
privado
se
rege
por
interesses
privados.
• Teoria
da
especialidade
Contudo,
esta
distinção
entre
direito
público
e
direito
privado
é
meramente
tendencial,
visto
que
a
linha
que
separa
estes
dois
campos
do
direito
tem-‐se
vindo
progressivamente
a
atenuar.
Bibliografia:
Gomes
CANOTILHO,
Direito
Constitucional
e
Teoria
da
Constituição
1129-‐1139
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
II
GÉNESE
E
DESENVOLVIMENTO
HISTÓRICO
DO
CONCEITO
DE
CONSTITUIÇÃO
Constituição:
um
conceito
com
história
O
movimento
constitucional
gerador
da
constituição
em
sentido
moderno
teve
várias
raízes
no
tempo
e
no
espaço.
Assim,
não
existe
um
constitucionalismo
mas
vários
constitucionalismos
–
o
inglês,
americano
e
francês.
Constitucionalismo
é
a
teoria
que
ergue
o
princípio
do
governo
limitado
e
da
garantia
dos
direitos
numa
dimensão
estruturante
da
organização
político-‐social
de
uma
comunidade.
Neste
sentido,
o
constitucionalismo
moderno
representa
uma
“técnica
específica
de
limitação
ao
poder
com
fim
garantísticos”.
Numa
acepção
histórica,
o
conceito
de
constitucionalismo
moderno
pode
ser
utilizado
para
designar
o
movimento
político,
social
e
cultural
que
se
iniciou
em
meados
do
século
XVIII,
e
que
deu
origem
a
uma
nova
forma
de
ordenação
e
fundamentação
do
poder
político.
O
movimento
do
constitucionalismo
moderno
opõe-‐se
ao
constitucionalismo
antigo,
ou
seja,
o
conjunto
de
princípios
escritos
ou
consuetudinários
alicerçadores
da
existência
de
direitos
estamentais
perante
o
monarca
e
simultaneamente
limitadores
do
seu
poder.
Estes
princípios
terão
vigorado
desde
os
fins
da
Idade
Média
até
ao
século
XVIII.
O
constitucionalismo
moderno
trouxe
com
ele
o
conceito
de
constituição
moderna.
Por
constituição
moderna
entende-‐se
a
ordenação
racional
da
comunidade
política
através
de
um
documento
escrito
no
qual
se
declaram
as
liberdades
e
direitos
e
se
fixam
os
limites
do
poder
político.
O
conceito
de
constituição
moderna
engloba
as
seguintes
dimensões:
ordenação
jurídico-‐política
plasmada
num
documento
escrito;
declaração
de
um
conjunto
de
direitos
fundamentais
e
da
sua
garantia;
organização
do
poder
político,
de
forma
a
limitá-‐lo
e
moderá-‐lo.
Este
conceito
converteu-‐se
progressivamente
num
dos
pressupostos
básicos
da
cultura
jurídica
ocidental,
ao
ponto
de
ser
designada
por
“conceito
ocidental
de
constituição”.
As
considerações
anteriores
justificam
a
indispensabilidade
de
hoje
se
falar
num
conceito
histórico
de
Constituição.
Por
constituição
em
sentido
histórico
entende-‐se,
pois,
o
conjunto
de
regras
escritas
ou
consuetudinárias
e
de
estruturas
institucionais
conformadoras
de
uma
dada
ordem
jurídico-‐política
num
determinado
sistema
político-‐social.
Os
constitucionalismos
modernos
A
constituição
em
sentido
moderno
pretendeu,
pois,
radicar
duas
ideias
fundamentais:
ordenar,
fundar
e
limitar
o
poder
político
e
reconhecer
e
garantir
os
direitos
e
liberdades
do
indivíduo.
1.
Constitucionalismo
inglês
–
modelo
historicista
• Etapas
da
história
constitucional
inglesa
• Direitos
adquiridos
• Due
process
of
law
• Papel
relevante
da
jurisprudência
• Constituição
mista
• Soberania
do
parlamento
• Rule
of
law
No
constitucionalismo
inglês,
a
English
Constitution
apareceu
como
a
sedimentação
histórica
dos
direitos
adquiridos
pelos
ingleses
e
o
alicerçamento,
também
histórico,
de
um
governo
balanceado
e
moderado.
Foram
três
as
dimensões
histórico-‐constitucionais
que
caracterizaram
este
movimento:
a
garantia
de
direitos
adquiridos
(liberty
and
property);
estruturação
corporativa
dos
direitos;
regulação
destes
direitos
e
desta
estruturação
através
de
contratos
de
domínio
do
tipo
da
Magna
Charta.
Este
movimento
legou
vários
princípios
à
constituição
ocidental,
sendo
caracterizado
pelas
seguintes
dimensões:
• Defesa
da
liberdade
enquanto
liberdade
pessoal
de
todos
os
ingleses
e
como
segurança
da
pessoa
e
dos
bens
que
se
é
proprietário;
• Criação
de
um
processo
justo
regulado
por
lei
(due
process
law),
onde
se
estabelecessem
as
regras
disciplinadoras
da
privação
da
liberdade
e
propriedade;
• Leis
do
país
que
vão
sendo
dinamicamente
interpretadas
e
reveladas
pelos
juízes
–
e
não
pelo
legislador
–,
dando
origem
ao
“direito
comum”;
• Representação
e
soberania
parlamentar
visando
um
governo
estruturalmente
moderado.
Apesar
de
estar
patente
uma
ideia
de
“soberania
colegial”,
formada
pelo
rei,
pelos
comuns
e
pelos
lordes
(King
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
in
Parliament,
Commons
and
Lords)
e
reminiscente
ainda
da
época
medieval,
estas
forças
políticas
eram
moderadas
pela
representação
e
soberania
parlamentar.
Podemos
falar,
então,
de
uma
constituição
mista
–
aquela
em
que
o
poder
não
está
apenas
nas
mãos
de
um
monarca,
sendo
também
partilhada
por
outros
órgãos
do
governo.
• A
“soberania
do
parlamento”
conduz
a
uma
ideia
fundamental
do
constitucionalismo
–
the
rule
of
law,
princípio
segundo
o
qual
o
poder
supremo
deverá
exercer-‐se
sob
a
forma
de
lei
do
Parlamento.
A
importância
do
Parlamento,
enquanto
órgão
que
melhor
representa
o
povo,
o
titular
do
poder,
é
uma
das
características
fundamentais
do
constitucionalismo
inglês.
Com
efeito,
a
soberania
do
Parlamento
veio
a
ser
decisiva
para
aplicar,
mais
tarde,
o
princípio
da
separação
dos
poderes.
No
constitucionalismo
inglês,
o
poder
constituinte
é
entendido
como
um
processo
histórico
de
revelação
da
norma,
ou
seja,
o
modo
de
garantir
os
direitos
e
liberdades
e
estabelecer
limites
ao
poder
não
era
o
de
criar
uma
lei
fundamental,
mas
sim
o
de
confirmar
a
existência
de
privilégios
e
liberdades
radicado
nas
velhas
leis
de
direito
(“the
good
old
laws”),
ou
seja,
num
corpo
costumeiro
de
normas
e
num
reduzido
número
de
documentos
escritos.
O
objectivo
da
constituição
era,
pois,
o
de
estabelecer
um
equilíbrio
entre
os
“poderes
medievais”
de
forma
a
assegurar
um
governo
moderado
e
os
direitos
e
liberdades.
Ao
“constitucionalismo
histórico”
é
estranha
a
concepção
de
poder
constituinte
enquanto
poder
de
uma
entidade
abstracta
–
o
povo
ou
a
nação
–
para
criar
uma
nova
ordem
política.
2.
O
constitucionalismo
norte
americano
• As
raízes
religiosas
do
constitucionalismo
norte-‐americano
• Democracia
dualista:
a
lição
de
Madison
• A
Constituição
de
1787
• A
ideia
de
limited
government
• A
Constituição
como
paramount
law
• Judicial
review
Por
oposição
ao
movimento
anglicano,
surgem
os
puritanos,
que
emigram
para
os
EUA
e
que
mobilizaram
o
modelo
de
aliança
no
constitucionalismo
norte-‐americano.
Com
efeito,
o
constitucionalismo
nasce
com
uma
revelação,
a
manifestação
de
vontade
de
independência
que
culminou
com
a
Declaração
da
Independência,
em
1786.
Contudo,
e
ao
contrário
da
Revolução
Francesa,
esta
revolução
não
pacífica
não
se
traduziu
numa
ruptura
completa
com
o
antigo
sistema,
vindo
apenas
romper
com
o
regime
colonizador.
Os
EUA,
enquanto
colónia,
tinham
de
pagar
impostos
à
Inglaterra,
contudo
estes
não
acarretavam
quaisquer
direitos
e
deveres
–
taxation
without
representation.
Os
colonos
rebelaram-‐se,
assim,
contra
este
regime
e,
em
1787
e
apenas
um
ano
depois,
elaboraram
uma
nova
Constituição,
ainda
vigente.
O
povo
passa,
então,
a
tomar
decisões
–
momento
We
the
People.
Com
esta
Revolução,
os
americanos
pretenderam
reafirmar
os
Rights,
e
aos
seus
olhos
começou
a
ganhar
contornos
uma
nova
ideia
de
democracia
–
a
democracia
dualista
(Madison).
Este
modelo
dualista
defende
que
existem
dois
momentos
distintos
de
democracia
–
os
momentos
constituionais,
raros,
de
decisões
tomadas
pelo
povo;
e
os
momentos,
mais
frequentes,
de
decisões
tomadas
pelo
governo.
Nos
primeiros
momentos,
e
em
condições
especiais,
o
povo
decide
através
do
exercício
do
poder
constituinte.
Contudo,
este
poder
constituinte
possui
características
diferentes
do
poder
institucionalizado
aquando
da
Revolução
Francesa
–
o
objectivo
não
era
tanto
o
de
reinventar
um
soberano
omnipotente,
a
Nação,
mas
sim
permitir
ao
povo
fixar
regras
limitadoras
do
poder
através
de
uma
lei
superior,
a
Constituição.
Constituiu-‐se,
assim,
uma
nova
ordem
política
sujeita
ao
princípio
de
“governo
limitado”
(limited
government).
O
modelo
de
constituição
norte-‐americana
radica
na
ideia
de
limitação
normativa
do
poder
político
através
de
uma
lei
escrita.
Neste
sentido,
a
constituição
não
é
um
contrato
entre
governantes
e
governados,
mas
sim
um
acordo
celebrado
pelo
povo,
tendo
como
objectivo
a
vinculação
do
governo
a
uma
lei
fundamental.
A
consequência
lógica
do
entendimento
da
constituição
como
higher
law
é
a
elevação
da
lei
constitucional
a
paramount
law,
ou
seja,
lei
que
torna
nula
(void)
qualquer
outra
lei
considerada
inferior.
A
lei
constitucional
é,
pois,
uma
lei
proeminente,
o
que
justifica
a
elevação
do
poder
judicial
a
podes
fiscalizador
da
constituição,
garantido
a
defesa
dos
direitos
e
liberdades
nela
assegurados.
Surge
a
fiscalização
da
constitucionalidade,
a
judicial
review,
que
torna
os
juízes
competentes
para
aferir
da
constitucionalidade
das
leis.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Diferentemente
do
modelo
historicista
inglês,
o
poder
constituinte
adquire
no
constitucionalismo
norte-‐
americano
centralidade
política.
A
dimensão
básica
do
poder
constituinte
passa
a
ser
a
de
criar
uma
constituição
que
estabelecesse
um
conjunto
de
regras
que
visassem:
• A
constituição
do
“povo”
como
autoridade
ou
poder
político
superior;
• A
subordinação
do
legislador
e
das
leis
por
ele
produzidas
às
normas
da
constituição;
• A
inexistência
de
um
poder
soberano
supremo
e
a
criação
de
poderes
constituídos
colocados
numa
posição
equilibrada
(checks
and
balances);
• A
garantia
de
um
conjunto
de
direitos
e
liberdades.
Podemos,
assim,
concluir
que
a
filosofia
do
poder
constituinte
norte-‐americano
é
uma
filosofia
garantística,
sendo
que
este
não
possui
autonomia,
limitando-‐se
a
criar
um
corpo
rígido
de
regras
que
garanta
direitos
e
limite
poderes
–
falamos,
pois,
em
“dizer
a
norma”.
3.
O
constitucionalismo
francês
–
modelo
individualista
• Direitos
naturais
do
indivíduo
• Recusa
dos
privilégios
do
Ancien
Régime
• Legitimação
de
um
novo
poder
político:
o
contrato
• Exigência
de
uma
constituição
escrita
• Contributo
para
o
conceito
de
poder
constituinte
No
movimento
constitucionalista
francês,
podemos
distinguir
dois
momentos
–
um
momento
de
ruptura
e
um
momento
construtivista.
Momento
de
ruptura
com
os
privilèges
de
l’ancien
régime,
e
construtivista
porque
a
constituição
teria
de
definir
uma
nova
ordem
racionalmente
constituída.
Este
constitucionalismo
é
um
constitucionalismo
revolucionário.
Com
efeito,
o
constitucionalismo
inglês
não
veio
romper
com
os
esquemas
tardo-‐medievais
dos
direitos
dos
estamentos.
A
Revolução
Francesa,
por
outro
lado,
veio
edificar
uma
nova
ordem
assente
nos
direitos
naturais
dos
indivíduos,
deixando
estes
de
ser
considerados
indivíduos
integrantes
numa
ordem
jurídica
estamental.
Estes
direitos
eram
individuais
pois
todos
os
homens
eram
considerados
iguais
em
nascimento
e
em
direitos
–
esta
defesa
dos
direitos,
que
ia
para
além
da
defesa
da
liberty
and
property
perante
o
poder
político,
constituiu-‐se
também
como
um
gesto
de
revolta
contra
o
ancien
régime,
uma
expressão
póstuma
que
vem
comprovar
a
ruptura
com
o
“antigo
regime”
e
a
criação
de
um
“novo
regime”,
que
veio
implementar
não
só
uma
nova
ordem
política,
mas
também
social.
O
segundo
momento
fractal
individualista
do
constitucionalismo
francês
reside
numa
nova
forma
de
legitimação
e
fundamentação
do
poder
político,
vindo
responder
uma
pergunta
que
o
constitucionalismo
inglês
deixou
em
aberto
–
como
podem
os
homens
dar
a
si
próprios
uma
lei
fundamental?
Assim,
a
ordem
dos
homens
é
uma
ordem
artificial,
que
se
constitui
por
acordo
entre
os
homens
(Hobbes).
A
ordem
política
é,
pois,
estabelecida
através
de
um
contrato
social
assente
nas
vontades
individuais,
ou
seja,
o
poder
legitima-‐se
um
função
de
um
contrato
individual.
Estes
dois
momentos
fractais,
a
afirmação
de
direitos
naturais
do
indivíduo
e
a
“artificialização-‐
contratualização”
da
ordem
política,
vêm
explicar
a
necessidade
de
uma
constituição
escrita
que,
simultaneamente,
garantisse
direitos
e
legitimasse
o
poder
político
(construtivismo
político-‐constitucional).
Nasce,
então,
uma
nova
categoria
do
poder
político
–
o
poder
constituinte,
como
poder
originário
pertencente
à
Nação
e
que
permitia
criar
uma
lei
superior,
a
constituição.
Este
conceito
de
constituição,
enquanto
lei
superior
que
simultaneamente
garante
os
direitos
naturais
do
indivíduo
livre
e
limita
o
poder,
é,
segundo
Carl
Schmitt,
o
“conceito
de
ideal
de
constituição”.
Este
conceito
está
expresso
no
Art.
16º
da
Déclaration
Universelle
des
Droits
de
l’Homme
et
du
Citoyen.
Assim,
é
necessário
a
existência
de
um
texto
escrito,
mas
é
igualmente
imperativo
que
este
texto
possua
um
conteúdo
específico,
que
se
traduz,
como
já
foi
dito,
na
garantia
dos
direitos
fundamentais
do
indivíduo
e
na
separação
dos
poderes.
A
Revolução
Francesa
vem
transportar
dimensões
distintas
no
que
diz
respeito
à
concepção
de
poder
constituinte.
Este
poder
adquire
as
características
um
poder
originário,
autónomo
e
omnipotente,
passando
a
ter
como
titular
a
nação
–
o
que
lhe
permite
criar
uma
nova
ordem
política
e
social.
Esta
nova
concepção
do
poder
constituinte
veio
permitir:
• A
legitimação
do
poder
político;
• A
transformação
do
“estado
moderno”
em
república
democrática”;
• A
criação
de
uma
nova
solidariedade
entre
os
cidadãos
na
construção
de
uma
nova
ordem
social.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
O
poder
constituinte
no
modelo
francês
é,
assim,
um
poder
de
“criar
a
norma”.
Bibliografia:
Gomes
CANOTILHO,
Direito
Constitucional
e
Teoria
da
Constituição
Páginas
51
–
60
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
III
“WE
THE
PEOPLE”
PODER
CONSTITUINTE
E
CONSTITUIÇÃO
Aproximação
à
problemática
do
poder
constituinte:
O
constitucionalismo
veio
recrutar
a
problemática
do
poder
constituinte.
No
seio
desta
problemática,
encontramos
quatro
questões
fundamentais
para
a
compreensão
deste
poder:
• O
que
é
o
poder
constituinte?
• Quem
é
o
titular
do
poder
constituinte?
• Qual
o
procedimento
e
forma
do
seu
exercício?
• Existem
limites
jurídicos
e/ou
políticos
ao
seu
exercício?
O
que
é
o
poder
constituinte?
O
poder
constituinte
pode
definir-‐se
como
a
autoridade
política
que
está
em
condições
de,
numa
determinada
situação
concreta,
fazer
ou
rever
uma
constituição.
Ao
poder
de
fazer
uma
constituição
atribui-‐
se
a
designação
de
poder
constituinte
originário,
enquanto
que
ao
poder
de
a
rever
se
dá
o
nome
de
poder
constituinte
derivado
ou
de
revisão.
Os
contributos
teorético-‐constitucionais:
1.
John
Locke
e
o
supreme
power
No
contexto
do
radicalismo
político
inglês
(1681-‐1683),
a
formulação
teórica
do
“direito
de
resistência”
e
do
“direito
à
revolução”
deu
origem
à
necessidade
de
redefinir
o
“corpo
do
povo”.
Na
teoria
de
John
Locke,
no
estado
de
natureza
os
indivíduos
possuem
já
um
conjunto
de
direitos
–
contudo,
este
estado
de
natureza
é
dotado
de
algumas
insuficiências,
como
é
exemplo
a
falta
de
um
juiz
imparcial.
Assim,
é
necessário
passar
a
uma
sociedade
politicamente
organizada
–
porém,
o
poder
está
vinculado
à
propriedade
(property),
ou
seja,
o
poder
está
limitado
por
aquilo
que
é
próprio
ao
seres
humanos,
como
o
valor
da
vida
e
a
liberdade.
Assim,
a
passagem
a
uma
sociedade
politicamente
organizada
resulta
de
uma
relação
de
trust,
na
qual
a
sociedade
confere
um
poder
supremo
ao
legislador,
porém
limitado
e
específico.
Assim,
os
pressupostos
teóricos
do
supreme
power
são:
• O
state
of
nature
é
de
carácter
social;
• Neste
estado
de
natureza,
os
indivíduos
têm
uma
esfera
de
direitos
naturais
(property),
antecedentes
à
formação
de
qualquer
governo;
• O
poder
supremo
é
conferido
à
sociedade,
e
não
a
qualquer
soberano;
• O
contrato
social
através
do
qual
o
povo
consente
o
poder
supremo
do
legislador
atribui-‐lhe
um
poder
limitado,
específico
e
não
arbitrário;
• Só
o
corpo
político
(body
politic)
reunido
no
povo
tem
autoridade
política
para
estabelecer
a
constituição
política
da
sociedade.
2.
Sieyès
e
o
pouvoir
constituant
Se
em
Locke
a
sugestão
de
um
poder
constituinte
aparecia
associada
ao
direito
de
resistência
reclamado
pelo
radicalismo,
em
Sieyès
a
fórmula
do
pouvoir
constituant
surge
associada
à
luta
contra
a
monarquia
absoluta.
Sieyès
veio
teorizar
o
poder
constituinte
como
um
poder:
• Inicial
–
não
existe
nenhum
outro
poder
anterior;
• Autónomo
–
não
depende
de
nenhum
outro
poder;
• Omnipotente
–
não
possui
limites.
No
contexto
do
iluminismo
e
enquanto
jusnaturalista,
Sieyès
acreditava
que
se
podiam
atingir
verdades
absolutas
através
do
exercício
da
razão,
e
por
este
motivo
não
defendia
em
absoluto
a
omnipotência
do
poder
constituinte,
visto
que
este
estaria
vinculado
a
estas
verdades.
Na
sua
obra,
Qu’est-ce
le
Tiers
État?,
decisiva
para
a
teorização
do
constitucionalismo
francês,
há
uma
ideia
de
ruptura,
de
cisão
entre
o
antigo
e
o
novo
regime.
O
titular
do
poder
constituinte
passa,
deste
modo,
a
ser
a
Nação
ou
o
Terceiro
Estado
–
teoria
da
soberania
nacional.
Assim,
os
momentos
fundamentais
da
teoria
do
poder
constituinte
de
Sieyès
são
as
seguintes:
• Teorização
do
poder
constituinte
enquanto
poder
originário
e
soberano
pertencente
à
nação;
• Plena
liberdade
da
nação
para
criar
uma
constituição,
visto
que
o
poder
constituinte
não
está
sujeito
a
limites
ou
condições
preexistentes.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Os
autores
modernos
salientam
que
a
teoria
do
pouvoir
constituant
é,
simultaneamente,
desconstituinte
e
constituinte
–
desconstituinte
pois,
num
primeiro
momento,
rompe
com
o
poder
constituído
pela
monarquia;
e
constituinte
pois,
num
segundo
momento,
cria
uma
nova
ordem
político-‐social.
Surgem,
deste
modo,
os
poderes
constituídos
–
poderes
conformados
e
regulados
pela
constituição.
1.3.
Madison
e
constitutional
politics
and
ordinary
politics
Madison
veio
distinguir
constitutional
politics
de
ordinary
politics.
A
constitutional
politics
surge
em
momentos
excepcionais
de
mobilização
popular
e
destina-‐se
a
estabelecer
os
esquemas
fundadores
de
uma
nova
ordem
constitucional,
enquanto
que
a
normal
ou
ordinary
politics
desenvolve-‐se
normalmente
com
base
nas
regras
e
princípios
estabelecidos
na
lei
superior
e
fundamental.
2.
O
titular
do
poder
constituinte
1.
A
história:
povo
(Rousseau)
versus
Nação
(Sieyès)
Na
obra
emblemática
de
Sieyès,
Qu’est-ce
le
pouvoir
constituiant?”,
este
atribui
a
paternidade
do
poder
constituinte
à
nação,
enquanto
entidade
indivisível,
introduzindo
o
conceito
de
soberania
nacional.
Em
Rousseau,
por
outro
lado,
o
titular
do
poder
constituinte
é
o
povo,
num
conceito
de
soberania
popular.
A
soberania
popular
é
uma
soberania
una,
que
se
divide,
parcelarmente,
pelos
cidadãos.
Actualmente,
o
conceito
de
soberania
é
igualmente
um
conceito
de
soberania
popular,
contudo
distinto
do
de
Rousseau.
2.
O
povo
dessacralizado:
o
povo
político
ou
a
indispensável
pluralização
Actualmente,
atribui-‐se
a
paternidade
do
poder
constituinte
ao
povo.
Contudo,
o
povo
concebe-‐se
como
“grandeza
pluralística”,
ou
seja,
como
uma
pluralidade
de
forças
culturais,
sociais
e
políticas
influenciadoras
da
formação
de
opiniões
e
vontades
nos
momentos
preconstituintes
e
constituintes.
Emprega-‐se
o
termo
“povo”
para
designar
o
povo
em
sentido
político,
ou
seja,
grupo
de
pessoas
que
agem
segundo
ideias,
interesses
e
representações
de
natureza
política.
Existem,
porém,
outros
conceitos,
ainda
que
redutores,
de
povo:
• Conceito
de
povo
realista
–
constituído
pelas
minorias
activistas
autoproclamadas
em
representantes
do
povo;
• Conceito
de
povo
normativo
–
constituído
pelo
corpo
eleitoral;
• Conceito
de
povo
maioritário
–
constituído
pelas
maiorias.
É,
assim,
o
conceito
de
povo
real
que
detém
o
poder
constituinte
–
comunidade
aberta
de
sujeitos
constituintes
que
entre
si
contratualizam.
O
procedimento
constituinte
1.
Fenomenologia
do
poder
constituinte:
o
exemplo
português
Apesar
de
uma
constituição
não
resultar
sempre
de
uma
revolução
ou
de
um
golpe
de
Estado,
esta
surge
sempre
num
momento
extraordinário,
que
foge
aos
cânones.
Nestes
momentos
estão
geralmente
implícitas
decisões
de
carácter
pré-‐constituinte,
que
se
seguem
a
um
momento
desconstituinte.
Estas
decisões
são
constituídas
por:
• Decisões
de
iniciativa
de
elaboração
e
aprovação
de
uma
nova
constituição;
• Decisão
atributiva
do
poder
constituinte
e
definição
do
procedimento
constituinte;
• Leis
constitucionais
transitórias.
O
exemplo
português:
• A
Junta
de
Salvação
Nacional,
emergente
do
Movimento
das
Forças
Armadas,
emite
um
primeiro
comunicado
no
qual
determina
a
eleição,
por
sufrágio
directo,
de
uma
Assembleia
Nacional
Constituinte;
• Na
Lei
Constitucional
Provisória
decretada
pela
Junta
de
Salvação
Nacional,
esta
estabelece
que
à
Assembleia
Nacional
Constituinte
caberá
elaborar
a
aprovar
uma
nova
Constituição;
• Ainda
na
Lei
Constitucional
Provisória,
determina-‐se
que
a
eleição
da
Assembleia
Constituinte
deverá
ser
por
“sufrágio
universal,
directo
e
secreto”,
devendo
este
processo
de
eleição
ser
regulado
pelo
Governo
Provisório.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
2.
Procedimentos
constituintes:
Podemos
classificar
os
procedimentos
constituintes
em
três
tipos:
• Procedimentos
constituintes
representativos;
• Procedimentos
constituintes
directos;
• Procedimentos
constituintes
monárquicos.
2.1.
Procedimentos
constituintes
representativos
Designa-‐se
por
procedimento
constituinte
representativo
a
técnica
de
elaboração
de
uma
lei
constitucional
através
de
uma
assembleia
especial,
a
assembleia
constitucional
Podemos
distinguir
três
tipos
de
procedimentos
constituintes
representativos:
• Assembleia
Constituinte
soberana
–
cabe
à
Assembleia
a
elaboração
e
a
aprovação
da
constituição,
excluindo-‐se
qualquer
intervenção
directa
por
parte
do
povo.
O
procedimento
representativo
de
Assembleia
Constituinte
soberana
é
considerado
o
modelo
clássico
português
–
Constituição
de
1822,
1838,
1911
e
1976.
• Assembleia
Constituinte
não
soberana
–
cabe
à
Assembleia
apenas
a
elaboração
de
uma
constituição,
sendo
atribuída
ao
povo
a
tarefa
da
sua
aprovação.
Neste
sentido,
diz-‐se
que
o
texto
aprovado
por
uma
Assembleia
Constituinte
é
uma
proposta
de
constituição,
enquanto
que
o
voto
do
povo
é
uma
sanção
constituinte.
• Assembleia
Constituinte
e
Convenções
do
Povo
–
é
um
procedimento
semelhante
ao
da
Assembleia
Constituinte
não
soberana,
contudo
a
aprovação
pelo
povo
é
feita,
não
através
de
um
referendo,
mas
sim
através
de
convenções
do
povo,
reunidas
em
diversos
centros
territoriais.
2.2.
Procedimentos
constituintes
directos:
Designa-‐se
procedimento
constituinte
directo
a
aprovação
pelo
povo
de
um
projecto
de
constituição
sem
quaisquer
representantes.
Trata-‐se,
pois,
da
sujeição
à
sanção
popular
de
uma
determinada
proposta
constitucional
elaborada
por
determinados
órgãos
políticos,
ou
por
um
número
determinado
de
cidadãos.
Este
procedimento
pode
realizar-‐se
através
de
duas
modalidades:
• Referendo
–
aprovação
de
uma
determinada
proposta
constitucional
através
de
um
procedimento
referendário
justo.
• Plebiscito
–
processo
referendário
não
justo,
na
qual
a
votação
popular
de
um
projecto
de
constituição
é
unilateralmente
fabricada
pelos
titulares
do
poder
com
o
objectivo
de
alterar
em
termos
de
duvidosa
legalidade
a
ordem
constitucional
vigente
(plebiscitos
napoleónicos).
No
exemplo
português,
a
aprovação
da
Constituição
de
1933
aproxima-‐se
deste
modelo,
na
qual
as
abstenções
foram
consideradas
como
votos
a
favor.
2.3.
Procedimentos
constituintes
monárquicos
Designa-‐se
procedimento
constituinte
monárquico
a
elaboração
de
uma
constituição
por
parte
de
um
monarca.
Podemos
classificar
estes
procedimentos
em:
• Constituição
outorgada
–
a
Constituição
é
dada
ao
povo
pelo
soberano;
• Constituição
pactuada
ou
dualista
–
a
Constituição
resulta
de
um
pacto
entre
o
soberano
e
o
povo.
3.
Poder
constituinte
originário:
um
poder
absoluto?
1.
A
teoria
da
omnipotência
no
quadro
da
secularização
de
conceitos
teológicos
Na
teoria
clássica
do
poder
constituinte,
este
era
considerado
como
um
poder
autónomo,
incondicionado
e
livre.
O
poder
constituinte
concebia-‐se,
em
toda
a
sua
radicalidade,
como
um
poder
juridicamente
desvinculado,
sendo
que
esta
concepção
omnipotente
do
poder
resulta
da
secularização
de
conceitos
teológicos
–
a
“teologia
política”.
A
doutrina
actual
rejeita
esta
compreensão.
Em
primeiro
lugar,
se
o
poder
constituinte
possui
como
objectivo
criar
uma
constituição
que
limite
o
poder,
esta
“vontade
de
constituição”
não
pode
deixar
de
condicionar
a
vontade
do
criador.
Em
segundo
lugar,
o
próprio
sujeito
constituinte
obedece
a
padrões
e
modelos
de
conduta
radicados
na
consciência
jurídica
da
comunidade.
Em
terceiro
lugar,
revela-‐se
como
indispensável
a
observância
a
certos
princípios
jurídicos,
que
funcionam
como
limites
da
liberdade
e
da
omnipotência
do
poder
constituinte.
Por
último,
a
constituição
encontra-‐se,
nos
dias
de
hoje,
vinculada
ao
direito
internacional.
2.
A
irrenunciável
vinculação
jurídica:
entre
a
universalização
e
a
contextualização
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
IV
O
ESTADO
CONSTITUCIONAL
A
Constituição
e
o
seu
Referente:
Estado?
Sociedade?
O
conceito
de
Estado
constitucional
é
um
conceito
que
se
opões
aos
vários
tipos
de
Estados
que
existiram
nos
diferentes
períodos
históricos.
É
um
produto
do
desenvolvimento
constitucional
no
actual
momento
histórico,
conhecendo
várias
formas
políticas
e
jurídico-‐constitucionais
–
rule
of
law,
État
légal,
Rechtsstaat
e
Estado
de
direito.
1.
O
referente
da
Constituição
1.1.
A
sociedade
e
a
Constituição
A
resposta
à
pergunta
“qual
o
referente
da
Constituição?”
iniciou-‐se
com
a
Revolução
Francesa.
Artigo
16.º
Declaração
dos
Direitos
do
Homem
e
dos
Cidadãos
de
1789
-‐
“Toute
société
dans
laquelle
la
garantie
des
droits
n’est
pas
assurée,
ni
la
separation
des
pouvoirs
détermine
point
de
Constitution”
Este
artigo
é
atravessado
por
duas
linhas
de
força:
a
“garantia
de
direitos”
e
a
“separação
de
poderes”.
O
referente
do
artigo
é
a
sociedade,
ou
seja,
a
sociedade
“tem”
uma
Constituição.
Assim,
nos
esquemas
políticos
oitocentistas,
a
Constituição
aspirava
a
ser
um
“corpo
jurídico”
de
regras
aplicáveis
ao
“corpo
social”.
Nasce,
pois,
a
expressão
“Constituição
da
República”,
visto
que
a
Constituição
se
refere
à
própria
comunidade
política,
ou
seja,
à
República.
1.2.
A
Constituição
como
norma
ou
lei
do
Estado
Com
a
evolução
do
constitucionalismo,
o
referente
da
Constituição
desloca-‐se
para
o
Estado.
Podemos
apontar
três
razões
para
esta
transmutação:
• O
conceito
sofreu
uma
evolução
semântica,
com
o
constitucionalismo
norte-‐amerciano
e
francês;
• A
progressiva
estruturação
do
Estado
Liberal
veio
determinar
a
separação
Estado-‐Sociedade;
• O
conceito
de
Estado
ergueu-‐se
ao
conceito
ordenador
da
comunidade
política,
reduzindo-‐se
a
Constituição
a
simples
lei
do
Estado
e
do
seu
poder.
2.
Que
coisa
é
o
Estado?
2.1.
Nascimento
do
Estado
O
conceito
de
Estado
deve
muito
às
construções
filosóficas
de
Bodin
e
de
Thomas
Hobbes,
que
destacaram
a
sua
soberania
e
poder
como
categorias
centrais
da
modernidade
política.
Actualmente,
podemos
definir
Estado
como
uma
forma
histórica
de
organização
jurídica
do
poder
dotada
de
certas
qualidades.
Afirma-‐se
desde
logo
a
qualidade
de
poder
soberano,
supremo
no
plano
interno
e
independente
no
internacional.
Esta
soberania
possui
igualmente
um
carácter
originário,
visto
que
o
Estado
não
precisa
de
fundamentar
as
suas
normas
noutras
preexistentes.
O
Estado
moderno
constitui,
assim,
um
esquema
de
racionalização
institucional
das
sociedades
modernas,
e
o
Estado
constitucional
é
uma
tecnologia
política
de
equilíbrio
político-‐social
e
de
combate
à
autocracia
absolutista
do
poder
e
os
privilégios
orgânico-‐corporativo
medievais.
O
Estado,
tal
como
acaba
de
ser
caracterizado,
corresponde
ao
modelo
de
Estado
emergente
da
Paz
de
Westefália
(1648),
que
assenta
na
ideia
de
unidade
política
soberana
do
mesmo.
Contudo,
podemos
afirmar
que
este
modelo
está
em
crise
em
virtude
dos
recentes
fenómenos
de
globalização
2.2.
Os
elementos
do
Estado
São
três
os
elementos
constitutivos
do
Estado:
• Poder
enquanto
político
de
comando;
• Povo
enquanto
destinatário
da
soberania;
• Território
enquanto
espaço
de
reunião
do
povo.
O
Estado
constitucional:
Estado
de
direito
democrático
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Hoje
em
dia,
o
Estado
só
se
concebe
como
Estado
constitucional.
Contudo,
um
Estado
constitucional
não
se
basta
na
existência
de
Constituição,
é
um
“Estado
adjectivado”.
Por
outras
palavras,
o
Estado
constitucional
necessita
de
possuir
determinadas
qualidades
que
o
tornem
um
Estado
de
direito
democrático.
1.
O
Estado
de
direito:
os
contributos
e
as
tradições
1.1.
Rule
of
law:
a
herança
britânica
Apesar
da
interpretação
do
sentido
da
fórmula
rule
of
law
não
ter
sido
constante,
podemos
destacar-‐lhe
quatro
dimensões
fundamentais:
• Rule
of
law
significa,
em
primeiro
lugar
e
na
sequência
da
Magna
Carta
de
1215,
a
obrigatoriedade
de
observância
de
um
processo
justo
legalmente
regulado
–
due
process,
• Em
segundo
lugar,
significa
a
proeminência
das
leis
e
costumes
do
país
em
relação
ao
arbítrio
do
monarca.
• Em
terceiro
lugar,
aponta
para
a
vinculação
dos
actos
executivos
à
soberania
do
Parlamento.
• Por
fim,
tem
o
sentido
de
igualdade
de
acesso
aos
tribunais
por
parte
dos
cidadãos,
na
defesa
do
Common
law.
1.2.
Constituição
e
lei:
a
supremacia
judicialmente
garantida
do
texto
constitucional
(always
under
law)
No
horizonte
constitucional
norte-‐americano,
o
“império
do
direito”
(the
Reign
of
Law)
ganha
contornos
inovadores.
Podemos
destacar
duas
dimensões
do
Estado
de
direito:
• A
supremacia
da
Constituição,
que
se
afirma
como
higher
law
ou
paramount
law
e
estabelece
os
esquemas
essenciais
do
governo
e
os
seus
limites,
bem
como
os
direitos
e
liberdades
dos
cidadãos.
• A
garantia
judicial
da
supremacia
da
Constituição
através
da
judicial
review
of
legislation,
ou
seja,
a
fiscalização
da
constitucionalidade
das
leis
do
governo
por
parte
dos
tribunais,
quem
têm
o
“direito-‐dever”
de
as
desaplicar
caso
tal
não
se
verifique.
• A
ideia
de
um
“governo
justificado”,
ou
seja,
de
um
governo
que
possui
a
obrigação
jurídico-‐
constitucional
de
governas
segundo
leis
dotadas
de
unidade,
publicidade,
durabilidade
e
antecedência.
Assim,
as
razões
do
governo
devem
ser
públicas.
1.3.
L’État
légal
ou
de
legalidade:
o
contributo
francês
No
constitucionalismo
francês,
o
Estado
de
direito
é
pensado
como
um
Estado
legal,
num
cruzamento
entre
as
construções
teóricas
de
Sièyes
e
Rousseau.
A
lei
surge
da
vontade
colectiva
e
é
tida
numa
concepção
sacrossanta.
Traços
do
Estado
legal:
• Presença
de
uma
ordem
jurídica
hierárquica,
concebendo
a
seguinte
pirâmide
hieráquica
(por
ordem
decrescente):
1. Declaração
dos
Direitos
do
Homem
e
dos
Cidadãos,
que
é
simultaneamente
uma
supraconstituição
e
uma
pré-‐constituição;
2. Constituição;
3. Lei;
4. Actos
do
executivo
e
aplicação
das
leis.
• Princípio
da
primazia
da
lei
e
submissão
do
poder
político
ao
direito,
que
se
traduz
na
garantia
de
que
a
lei
só
pode
ser
editada
pelo
órgão
legislativo
e
na
supremacia
da
lei
como
fonte
de
direito
(a
seguir
às
leis
constitucionais).
• Desconfiança
em
relação
ao
controlo
judicial
da
constitucionalidade,
que
é
inexistente,
e
ao
poder
executivo,
que
tem
de
estar
em
conformidade
com
a
lei.
A
limitação
do
poder
pelo
direito
acabaria,
em
França,
numa
situação
paradoxal.
A
supremacia
da
Constituição
foi
sendo
neutralizada
pela
primazia
da
lei,
e,
assim,
o
Estado
legal
é
eficaz
no
cumprimento
do
princípio
da
legalidade
por
parte
da
administração,
mas
incapaz
de
compreender
o
sentido
de
supremacia
da
Constituição
e
insensível
à
força
normativa
dos
direitos
e
liberdades
instituídos
na
Déclaration.
Por
este
motivo
se
fala
do
constitucionalismo
francês
como
um
“constitucionalismo
sem
Constituição”.
1.4.
Rechtsstaat:
a
lição
alemã
Inicialmente,
o
Rechtsstaat
era
pensado,
em
termos
muito
abstractos,
como
“Estado
da
Razão”.
Contudo,
hoje
o
Estado
de
direito
é
um
Estado
liberal,
opondo-‐se
ao
Estado
de
Polícia
que
assume
como
tarefa
própria
a
prossecução
da
felicidade
dos
súbditos
e
que
leva
ao
absolutismo.
O
Estado
liberal,
ou
Estado
Polícia,
limita-‐se
à
defesa
da
ordem
e
segurança
pública,
sendo
que
os
direitos
fundamentais
individuais
–
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Freiheit
und
Eingentum
(liberdade
e
propriedade)
–
decorriam
do
respeito
de
uma
esfera
de
liberdade
individual.
A
limitação
do
Estado
pelo
direito
estende-‐se
ao
próprio
soberano,
sendo
que
o
Estado
liberal
vem
introduzir
uma
ideia
de
controlo
judicial
da
administração,
que
deveria
actuar
nos
termos
da
lei
e
obedecendo
a
certos
princípios
materiais.
Esta
fiscalização
da
actividade
administrativa
variava
de
estado
para
estado
e
podia
fazer-‐se
através
de
dois
modelos
–
tribunais
comuns
ou
tribunais
especiais.
2.
Estado
Democrático
O
Estado
constitucional
não
é
nem
deve
ser
apenas
um
Estado
de
direito.
Ele
tem
de
se
estruturar
como
uma
ordem
de
domínio
legitimada
pelo
povo.
Assim,
o
princípio
da
soberania
popular
é
uma
das
traves
do
Estado
constitucional.
2.1.
Democracia
versus
Estado
de
Direito?
No
século
XIX
e
XX,
afirma-‐se
a
ideia
de
democracia,
que
alguns
vêem
como
uma
contradição
ao
Estado
de
direito,
que
poderia
ser
posto
em
causa
pela
vontade
da
maioria.
Alguns
autores
consideram
que
Estado
direito
e
democracia
correspondem
a
dois
tipos
de
liberdade
–
no
Estado
de
direito
concebe-‐se
a
liberdade
como
liberdade
negativa,
ou
seja,
uma
liberdade
de
defesa
e
distanciação
perante
o
Estado;
e
no
Estado
democrático,
estaria
inerente
a
liberdade
positiva,
assente
no
exercício
democrático
do
poder.
2.2
Estado
de
Direito
Democrático
Apesar
de
haver
dimensões
de
tensão
entre
o
Estado
de
direito
e
a
democracia,
o
Estado
de
direito
só
se
pode
compreender
enquanto
Estado
democrático.
O
elemento
democrático
é
introduzido,
não
só
para
limitar
o
exercício
do
poder,
mas
também
pela
necessidade
de
legitimação
do
poder.
Com
efeito,
o
Estado
“impolítico”
não
dá
resposta
ao
problema
da
fundamentação
do
poder,
que
encontra
a
sua
resposta
no
princípio
democrático
da
soberania
popular
segundo
o
qual
“todo
o
poder
vem
do
povo”.
Assim,
o
princípio
de
soberania
popular
concretizado
segundo
princípios
juridicamente
regulados
concilia
os
conceitos
de
Estado
de
direito
e
democrático
e
possibilita
a
compreensão
da
fórmula
de
Estado
de
direito
democrático.
Bibliografia:
Gomes
CANOTILHO,
Direito
Constitucional
e
Teoria
da
Constituição
Páginas
85
–
102
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
PARTE
II
MEMÓRIA
CONSTITUCIONAL
PORTUGUESA
CAPÍTULO
I
INTRODUÇÃO
À
HISTÓRIA
CONSTITUCIONAL
PORTUGUESA
História
Constitucional
Portuguesa:
entre
a
continuidade
e
a
ruptura
1.
Descontinuidades
Considera-‐se
que
existe
uma
relação
de
descontinuidade
quando
uma
ordem
jurídico-‐constitucional
implica
uma
ruptura
com
a
ordem
constitucional
anterior.
1.1.
Descontinuidade
formal
Considera-‐se
que
a
descontinuidade
é
formal
quando
uma
nova
Constituição
adquire
efectividade
e
validade
num
determinado
espaço
jurídico
sem
que
para
tal
se
tenham
observado
os
preceitos
reguladores
de
alteração
ou
revisão
da
Constituição
vigente.
Por
outras
palavras,
quando
a
nova
Constituição
é
feita
e
aprovada
segundo
os
esquemas
regulativos
da
velha
Constituição,
existe
continuidade
formal;
quando
o
novo
texto
constitucional
postergou
os
preceitos
do
velho
texto
quanto
ao
procedimento
de
alteração,
estamos
perante
uma
descontinuidade
formal.
1.2.
Descontinuidade
material
Numa
óptica
material,
verifica-‐se
uma
descontinuidade
quando
o
novo
poder
constituinte
vem
destruir
o
título
do
anterior,
ou
os
poderes
políticos
constitucionalmente
conformadores.
2.
Continuidades
As
descontinuidades
constitucionais
coexistem
com
algumas
memórias
e
tradições
do
constitucionalismo
que,
juntamente
com
determinados
institutos
jurídicos,
constituem
factores
de
continuidade.
Podemos
apontar
a
existência
de
três
patrimónios
culturais
constitucionais
na
história
do
constitucionalismo
português:
• Catálogo
de
direitos
e
liberdades;
• Fiscalização
judicial
difusa
dos
actos
normativos;
• Existência
de
autarquias
locais.
DESCONTINUIDADES
NO
CONSTITUCIONALISMO
PORTUGUÊS
Descontinuidade
Formal
Descontinuidade
Material
Poder
constituinte
democrático
das
Cortes
1.
Constituição
de
1822
Gerais
Extraordinárias
e
Constituintes
de
1821
2.
Carta
Constitucional
de
1826
Poder
constituinte
monárquico
3.
Constituição
de
1838
Poder
constituinte
democrático
4.
Constituição
de
1911
Poder
constituinte
democrático
republicano
5.
Constituição
de
1933
Poder
constituinte
autoritário-‐plebiscitário
6.
Constituição
de
1976
Poder
constituinte
democrático
representativo
A
história
constitucional
portuguesa
e
o
constitucionalismo:
monólogos
e
diálogos
Podemos
detectar
o
rasto
de
fontes
constitucionais
estrangeiras
no
articulado
constitucional,
das
quais
se
destacam:
• O
peso
das
experiências
constitucionais
francesas,
especialmente
no
constitucionalismo
monárquico;
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
II
O
CONSTITUCIONALISMO
MONÁRQUICO
E
AS
SUAS
CONCRETIZAÇÕES
POSITIVAS:
1822,
1826,
1838
Os
antecedentes
próximos
do
constitucionalismo
moderno:
a
“Súplica
Constitucional”
(1808)
O
movimento
constitucional
português
iniciou-‐se
com
a
“súplica”
de
Constituição
dirigida
a
Junot
em
1808,
por
um
grupo
de
cidadãos.
Esta
proposta
de
Constituição
era
reconduzível
ao
modelo
das
constituições
outorgadas,
nomeadamente
a
Constituição
outorgada
por
Napoleão
ao
Grão-‐Ducado
de
Varsóvia.
O
Constitucionalismo
Vintista:
a
Constituição
de
1822
1.
Circunstâncias
histórias
da
revolução
de
1820
2.
Génese
do
texto
constitucional:
as
Cortes
Extraordinárias
Constituintes
2.1.
Procedimento
constituinte:
as
Cortes
Extraordinárias
Constituintes
O
procedimento
constituinte
que
caracterizou
a
elaboração
do
primeiro
texto
constitucional
português
foi
um
procedimento
constituinte
representativo.
A
nova
Constituição
foi
elaborada
pelas
Cortes
Gerais,
Extraordinárias
e
Constituintes,
em
1821.
2.2.
Influências
constitucionais
Podemos
distinguir
duas
tendências
essenciais
na
questão
fulcral
do
modelo
político-‐constitucional
a
escolher:
• Constitucionalismo
francês
(as
constituições
de
1791
e
1795)
• Constitucionalismo
espanhol
(a
Constituição
de
Cádis
de
1812)
3.
Traços
constituintes
essenciais
3.1.
Princípios
estruturantes
Em
síntese,
os
princípios
norteadores
da
Constituição
de
1822
são
os
seguintes:
• Princípio
democrático
da
soberania
estadual,
pois
a
“soberania
reside
essencialmente
na
Nação”;
• Princípio
da
representação,
dado
que
a
soberania
só
“pode
ser
exercida
pelos
seus
representantes
eleitos”;
• Princípio
da
separação
de
poderes,
de
tal
maneira
independentes
“que
um
não
poderá
arrogar
a
si
as
atribuições
do
outro”;
• Princípio
da
igualdade
jurídica
e
do
respeito
pelos
direitos
pessoais.
3.2
Direitos
e
deveres
dos
portugueses
A
Constituição
de
1822
consagrou
um
catálogo
dos
direitos
e
deveres
individuais
dos
cidadãos
portugueses,
separando
duas
categorias
de
direitos
que
a
Déclaration
de
1789
juntava:
os
direitos
da
Nação
e
os
direitos
individuais.
Alguns
destes
últimos
tinham
um
carácter
positivo,
como
o
direito
à
liberdade,
e
outros
tinham
um
carácter
negativo,
dirigindo-‐se
essencialmente
contra
o
antigo
regime.
3.3.
Unicameralismo
O
poder
legislativo
residia
nas
Cortes,
com
dependência
da
sanção
do
Rei,
e
que
se
configuravam
como
assembleia
unicameral
e
eleita
bienalmente.
4.
Vigências
do
texto
de
1822
A
Constituição
de
1822
teve
as
seguintes
vigências:
• Primeira
vigência
(1822
–
1823)
–
fim
imposto
pelo
movimento
de
contra-‐revolução
Vilafrancada,
chefiado
por
D.
Miguel;
• Segunda
vigência
(1836
–
1838)
–
início
pelo
Decreto
de
10
Setembro
de
1836,
na
sequência
da
Revolução
de
Setembro.
O
Constitucionalismo
Cartista:
a
Carta
Constitucional
de
1826
1.
Contexto
histórico
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
II
O
CONSTITUCIONALISMO
REPUBLICANO
1.
Circunstâncias
históricas
da
revolução
de
5
de
Outubro
de
1910
2.
Fontes
da
Constituição
• A
Constituição
brasileira
de
1891;
• A
Constituição
suíça
de
1848
revista;
• As
constituições
portuguesas
anteriores;
• O
constitucionalismo
francês.
3.
Princípios
republicanos
3.1.
Democracia
A
ideia
republicana
expressou,
desde
logo,
uma
maior
adesão
ao
princípio
democrático
do
que
aquela
que
lhe
emprestou
o
liberalismo
monárquico.
A
república
democrática
guiava-‐se
pelos
seguintes
princípios:
• Soberania
nacional
–
aderiu-‐se
ao
princípio
da
soberania
nacional,
retomando
as
fórmulas
das
constituições
de
1838
e
1822;
• Regime
representativo
–
a
soberania
a
Nação
manifesta-‐se
através
dos
representantes
eleitos;
• Separação
de
poderes
–
consagra
a
forma
clássica
de
separação
de
poderes,
considerados
independentes
entre
si;
• Sufrágio
universal
–
apesar
do
sufrágio
universal
estar
no
cerne
da
República,
nem
por
isso
se
consagrou
a
universalidade
do
sufrágio,
estando
excluídos
os
analfabetos,
as
mulheres
e,
em
alguma
medida,
também
os
militares;
• Bicameralismo
partidário
–
consagra
o
sistema
bicameral,
passando
o
Senado
a
desempenhar
o
papel
que
cabia
à
Câmara
dos
Pares;
• Parlamentarismo
monístico
e
regime
parlamentar
de
assembleia
–
parlamentarismo
monístico
devido
ao
amplo
poder
de
controlo
político
do
Parlamento
sobre
o
governo;
e
o
regime
parlamentar
de
assembleia
pois
o
Congresso
era
o
único
órgão
que,
teoreticamente,
podia
condicionar
as
directivas
políticas
da
república
democrática.
3.2.
Laicismo
A
Constituição
de
1910
veio
defender
uma
república
laica
e
democrática.
O
laicismo
baseava-‐se
em:
• Igualdade
de
cultos;
• Liberdade
de
culto;
• Neutralidade
religiosa
do
ensino;
• Perseguição
à
Igreja
Católica:
a
extinção
da
Companhia
de
Jesus
e
de
todas
as
congregações
religiosas
e
ordens
monásticas.
3.3.
Descentralização
Os
republicanos
defendiam
uma
república
democrática
federativa,
através
da
criação
de
centros
de
autoridade
local.
4.
Estrutura
constitucional
4.1.
Catálogo
liberal
de
direitos
Na
Constituição,
consagra-‐se,
ainda
à
semelhança
da
Constituição
de
1822,
um
catálogo
de
direitos
fundamentais,
dos
quais
são
exemplos
a
proibição
da
pena
de
morte
e
a
consagração
da
liberdade
de
religião
e
culto.
4.2.
Estrutura
organizatória
do
poder
político
• Parlamentarismo;
• Bicameralismo
–
Câmara
dos
Deputados
e
Senado;
• Presidente
da
República
–
eleição
indirecta;
• Judicial
review
–
controlo
judicial
da
constitucionalidade;
• Descentralização
administrativa.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
III
O
CONSTITUCIONALISMO
CORPORATIVO
Contexto
histórico
A
1ª
República
caracterizou-‐se
pela
instabilidade
governamental,
pelo
apagamento
do
Presidente
da
República
e
por
um
multipartidarismo
desorganizado,
circunstâncias
que
se
repercutiram
na
economia,
então
em
crise.
O
golpe
de
26
de
Maio
de
1926
veio
implantar
uma
Ditadura
Militar,
e
Óscar
Carmona
toma
posse
como
Chefe
de
Estado.
Em
1932,
Oliveira
Salazar,
então
Ministro
das
Finanças,
ascende
a
Presidente
do
Conselho
de
Ministros
(Primeiro-‐Ministro)
e
cria,
com
a
Constituição
de
1933,
o
regime
de
Estado
Novo.
Génese
da
Constituição
de
1933:
do
projecto
de
revisão
da
Constituição
de
1911
à
feitura
de
um
novo
texto
constitucional
1.
O
Acto
Colonial
de
1930
O
Acto
Colonial
de
1930
foi
o
primeiro
documento
constitucional
do
Estado
Novo,
elaborado
por
Oliveira
Salazar
e
de
forte
pendor
nacionalista.
2.
A
criação
do
Conselho
Político
Nacional:
discussão
sobre
o
seu
papel
O
Conselho
Político
Nacional
foi
um
órgão
consultivo
criado
a
1931,
que
era
presidido
pelo
Presidente
da
República,
Óscar
Carmona,
e
do
qual
Oliveira
Salazar
era
membro.
Linhas
de
força
do
constitucionalismo
do
Estado
Novo
Traços
principais
do
Constitucionalismo
corporativo:
• República
corporativa
–
subjacente
à
Constituição
de
1933
estava
uma
filosofia
de
uma
política
reestruturante
da
sociedade,
ou
seja,
que
reconhecesse
grupos
intermédios
entre
o
indivíduo
e
o
Estado,
como
a
família,
os
organismos
corporativos,
as
autarquias
locais
e
a
Igreja.
Ocorreu
uma
repulsa
pelo
liberalismo
político
e
económico
e
pela
sua
instabilidade,
e
o
Estado
concebeu-‐se
como
uma
República
corporativa,
baseada
na
interferência
de
elementos
estruturais
da
Nação
na
vida
administrativa
e
na
feitura
das
leis.
• A
ideia
de
Estado
forte
e
o
presidencialismo
de
Primeiro-‐Ministro
–
a
Constituição
reagiu
contra
as
debilidades
do
Estado
democrático
da
1ª
República,
instituindo
um
executivo
forte,
independente
do
órgão
legislativo;
um
legislativo
não
partidariamente
dividido;
e
um
Chefe
de
Estado,
eleito
directamente
pela
Nação,
que
só
perante
ela
respondia.
Encontramo-‐nos
perante
um
presidencialismo
de
Primeiro-‐Ministro,
ou
seja,
perante
uma
concentração
de
poderes
no
Chefe
de
Estado.
• Antiliberalismo
político
e
a
ideia
supra-‐individualista
de
Nação
–
verifica-‐se
uma
legalização
ou
degradação
legal
dos
direitos
fundamentais,
que
perdem
força
normativa,
pois
“os
fins
e
os
interesses
da
Nação
dominam
os
dos
indivíduos
e
grupos
que
as
compõem”.
• Antiliberalismo
económico
e
a
ideia
de
economia
dirigida
–
o
antiliberalismo
manifesta-‐se
também
numa
Constituição
económica,
de
pendor
dirigista,
que
pretende
regular
e
programar
a
actividade
económica
através
de
um
conjunto
de
princípios.
Assiste-‐se
também
a
uma
restrição
drástica
dos
direitos
dos
trabalhadores,
como
a
proibição
do
direito
à
greve.
Estrutura
e
princípios
da
Constituição
de
1933
1.
Procedimento
constituinte
O
texto
constitucional
corporativo
é
a
única
constituição
portuguesa
que
adoptou
o
procedimento
constituinte
directo
plebiscitário
.
A
partir
de
um
projecto
de
Salazar,
e
com
auxílio
do
Conselho
Político
Nacional,
foi
elaborado
um
texto
mais
tarde
submetido
a
plebiscito
nacional.
2.
Direitos
fundamentais
Num
fenómeno
de
degradação
legal
dos
direitos
fundamentais,
estes
passaram
a
mover-‐se
no
âmbito
da
lei,
em
vez
de
a
lei
se
mover
no
âmbito
dos
direitos
fundamentais.
3.
A
Constituição
económica
Na
senda
da
Constituição
de
Weimar,
a
Constituição
de
1933
formalizou,
pela
primeira
vez,
a
constituição
económica,
que
define
programas
e
directivas
para
a
ordem
económica.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
4.
Estrutura
político-‐organizatória
A
Constituição
de
1933
veio
individualizar
como
órgãos
de
soberania
os
seguintes
órgãos:
• Chefe
de
Estado;
• Assembleia
Nacional;
• Governo;
• Câmara
Corporativa;
• Conselho
de
Estado;
• Tribunais.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
PARTE
III
CONCRETIZAÇÕES:
DIREITO
CONSTITUCIONAL
PORTUGUÊS
Capítulo
I
Texto
e
contexto
A
génese
da
CRP:
o
poder
constituinte
originário
1.
A
Constituição
de
1976
como
resposta
constitucional
da
nova
República
1.1
O
fim
do
Estado
Novo
A
revolução
de
25
de
Abril
de
1974
foi
levada
a
cabo
pelo
MFA
(Movimento
das
Forças
Armadas),
que
posteriormente
entregou
o
poder
a
uma
Junta
de
Salvação
Nacional
(JSN)
—
órgão
revolucionário
—
presidida
pelo
General
António
de
Spínola.
O
objectivo
declarado
deste
acto
revolucionário
era
o
da
ruptura
com
o
regime
autoritário
e
corporativo
anterior
e
o
da
consequente
instauração
de
um
regime
democrático.
1.2.
A
estrutura
constitucional
provisória
e
o
papel
do
MFA
À
Junta
de
Salvação
Nacional,
emergente
do
MFA,
cabia
a
elaboração
de
uma
Lei
Constitucional
Provisória
e
a
eleição
de
uma
Assembleia
Nacional
Constituinte.
2.
A
CRP
no
quadro
do
constitucionalismo
português:
continuidades
e
rupturas
2.1.
Clarificação
conceptual
2.2.
Continuidades
e
rupturas
da
Constituição
de
1976
e
tradições
constitucionais
portuguesas
Apesar
de
as
descontinuidades
prevalecerem
sobre
as
continuidades,
podemos
identificar
um
conjunto
de
características
que
formam
um
património
cultural:
• Fiscalização
constitucional
das
leis
pelos
tribunais;
• Poder
legislativo
ordinário
do
executivo,
que
constitui
um
traço
distintivo
do
constitucionalismo
português.
3.
A
CRP
e
as
matrizes
estrangeiras
Foram
vários
os
textos
que
serviram
de
inspiração
ao
legisladores
constituinte
de
1976.
Destacam-‐se:
• Constituições
dos
países
de
Leste;
• Constituições
ocidentais
(alemã,
italiana
e
francesa);
• Constituições
portuguesas
anteriores.
4.
Constituição
originária
e
procedimento
constituinte
O
procedimento
constituinte
que
esteve
na
origem
do
documento
constituinte
de
1976
foi
um
procedimento
representativo
de
assembleia
soberana,
visto
que
a
população
portuguesa
elegeu
uma
Assembleia
Constituinte
com
competência
para
elaborar
e
aprovar
uma
Constituição.
4.1.
Entre
a
liberdade
a
tutela
O
problema
da
coerência
e
unidade
da
CRP
de
1976
começou
cedo.
Esta
apresentava
tensões
e
contradições,
fruto
do
movimento
revolucionário.
Assim,
podemos
identificar
as
seguintes
contradições
no
seio
da
CRP
originária:
• Constituição
liberal
e
democrática
/
Constituição
dirigente
a
autoritária,
finalisticamente
dirigida
à
prossecução
do
socialismo;
• Legitimidade
democrática,
expressa
nos
órgãos
de
sufrágio
universal
/
Legitimidade
revolucionária,
expressa
no
Conselho
da
Revolução;
• Constituição
programática,
que
determina
um
conjunto
de
normas-‐fim
e
normas
tarefa
/
Constituição
processo.
4.2.
As
imperfeições
procedimentais
e
a
realidade
e
a
realidade
constitucional
Considera-‐se
que
existe
justiça
procedimental
constituinte
quando
as
etapas
de
elaboração
de
uma
constituição
são
consideradas
justas
e,
por
isso,
reconduzíveis
a
uma
“boa
constituição”.
Existem
autores
que
consideram
que
houve
uma
injustiça
procedimental
na
elaboração
da
Constituição
de
1976,
pelos
seguintes
motivos:
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
• Inexistência
de
referendo
para
a
aprovação
do
texto
–
a
Constituição
deveria
ter
sido
aprovada
através
de
um
referendo,
visto
que
se
tratou
de
um
momento
de
intensa
participação
popular;
• Existência
de
coacção
sobre
os
constituintes
–
os
“Pactos
MFA-‐Partidos”
traduziam-‐se
na
inserção
de
cláusulas
no
texto
da
Constituição.
Contudo,
na
opinião
do
Prof.
Canotilho,
não
houve
injustiça
procedimental.
4.3.
Os
momentos
constitucionais
Podemos
distinguir
três
momentos
constitucionais:
• Momento
revolucionário
–
subjacente
à
Constituição
de
1976,
esteve
a
Revolução
de
1974,
que
implicou
uma
transformação
a
nível
político
e
social,
nomeadamente
a
substituição
de
uma
classe
política
por
outra;
• Momento
extraordinário
–
momento
de
intensa
participação
popular;
• Momento
maquiavélico
–
houve
alguns
actos,
protagonizados
pelo
poder
revolucionário
e
constituinte,
de
legitimidade
duvidosa,
de
excesso
revolucionário.
São
exemplos:
-‐ Normas
constitucionais
inconstitucionais;
-‐ Incapacidades
cívicas
automáticas
de
pessoas
com
cargos
no
Estado
Novo;
-‐ Incriminação
retroactiva
de
agentes
da
PIDE;
-‐ Expropriação
sem
indemnização;
-‐ Proibição
dos
partidos
fascistas.
Caracterização
da
CRP
1.
A
estrutura
da
Constituição
1.1
Princípios
• Princípio
republicano;
• Princípio
do
Estado
de
Direito;
• Princípio
democrático;
• Princípio
da
soberania
popular;
• Princípio
da
separação
de
poderes;
• Princípio
da
autonomia
regional.
1.2.
A
constituição
dos
direitos
e
deveres
fundamentais
É
consagrado
um
extenso
catálogo
de
direitos
fundamentais.
O
princípio
estruturante
da
Constituição
de
76
foi
a
dignidade
da
pessoa
humana,
que
é
simultaneamente
o
limite
e
o
fundamento
do
poder
político.
A
protecção
da
dignidade
humana
teve
como
consequências
normativas
a
proibição
da
pena
de
morte
a
das
penas
de
prisão
perpétua.
2.
As
características
formais
2.1.
Unitextual
• Paralelamente
ao
texto
formal,
não
há
outros
documentos
com
valor
constitucional;
• Não
existem
leis
de
revisão
constitucional
fora
da
Constituição.
2.2.
Rígida
• As
normas
constitucionais
têm
uma
especial
resistência
à
derrogação,
como
o
princípio
de
que
a
lei
posterior
derroga
a
anterior;
• A
revisão
é
um
procedimento
específico
e
exigente;
• Só
as
leis
de
revisão
constitucional
derrogam
as
normas
constitucionais.
2.3.
Longa
As
constituições
longas
opõem-‐se
às
constituições
breves,
que
exprimem
modelos
de
competências
ou
limitações,
bastando-‐se
na
organização
e
limitação
do
poder
político.
As
constituições
longas
exprimem
modelos
de
valores
fundamentais,
possuem
um
projecto
concebido
através
de
normas-‐fim.
A
Constituição
de
76
é
um
constituição
longa,
com
295
artigos.
2.4.
Programática
As
constituições
programáticas
são
constituições
longas,
estão
ligadas
a
normas-‐fim
ou
normas-‐tarefa
que
incubem
o
Estado
de
um
determinado
programa.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
2.5.
Compromissória
Uma
Constituição
compromissória
traduz
um
compromisso.
A
Constituição
de
76
traduziu-‐se
num
pacto
entre:
• Princípio
liberal
de
direitos
individuais
e
princípio
socialista
de
direitos
económicos
e
sociais;
• Forma
de
governo
presidencial
e
parlamentar;
• Princípio
da
unidade
do
Estado
e
da
autonomia
regional;
• Sistema
de
fiscalização
da
constitucionalidade
difusa
(todos
os
tribunais
judiciais
podem
aferir
da
constitucionalidade
das
leis)
e
concentrada
(presença
de
um
tribunal
constitucional).
A
evolução
da
Constituição
de
1976:
o
exercício
do
poder
constituinte
derivado
1.
As
revisões
constitucionais
As
revisões
podem
classificar-‐se
em:
• Ordinárias
–
ocorrem
passados
5
anos
da
última;
• Extraordinárias
–
ocorrem
com
aprovação
de
4/5
dos
deputados.
Podemos
identificar
três
linhas
de
força
no
exercício
do
poder
constituinte
derivado:
• Desideologização
–
tentativa
de
neutralizar
as
referências
semânticas
de
ideologia
marxista
e
leninista;
• Adaptação
ao
direito
internacional:
• Autonomia
política
e
administrativa
de
entes
públicos
territoriais,
principalmente
das
Regiões
Autónomas.
REVISÕES
DA
CONSTITUIÇÃO
DE
1976
REVISÃO
TIPO
OBJECTIVOS
Fim
das
metanarrativas
emancipatórias
e
1ª
Revisão
-‐
1982
Ordinária
da
legitimidade
revolucionária
2ª
Revisão
-‐
1989
Ordinária
Revisão
da
constituição
económica
3ª
Revisão
-‐
1992
Extraordinária
Concessão
de
soberanias
à
União
Europeia
Reforma
da
organização
do
poder
político;
constituição
bio-‐médica,
desconstituciona-‐
4ª
Revisão
-‐
1997
Ordinária
lização
do
dever
militar
e
alargamento
do
universo
eleitoral
5ª
Revisão
-‐
2001
Extraordinária
Criação
do
Tribunal
Penal
Internacional
6ª
Revisão
-‐
2004
Ordinária
Autonomia
política
das
Regiões
Autónomas
Referendo
sobre
o
Tratado
Constitucional
7ª
Revisão
-‐
2005
Extraordinária
Europeu
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Capítulo
II
Princípios
do
Estado
de
Direito
1.
Princípio
fundante
–
a
dignidade
da
pessoa
humana
Art.
1.º
CRP
–
“Portugal
é
uma
República
soberana,
baseada
na
dignidade
da
pessoa
humana
e
na
vontade
popular
e
empenhada
na
construção
de
uma
sociedade
livre,
justa
e
solidária.”
Dizer
que
o
princípio
fundante
da
Constituição
de
1976
é
a
dignidade
humana
equivale
a
dizer
que
este
princípio
é
simultaneamente
o
fundamento
e
o
limite
de
todo
o
poder
político.
É
um
fim
em
si
mesmo
e,
por
isso,
as
dimensões
estruturantes
ou
constitutivas
do
Estado
de
Direito
visam
a
protecção
deste
princípio,
que
foi
pela
primeira
vez
reconhecido
na
Lei
Fundamental
de
Bona.
Duas
das
consequências
normativas
do
reconhecimento
do
princípio
da
dignidade
humana
são
a
proibição
da
pena
de
morte
e
a
proibição
das
penas
de
prisão
perpétua.
2.
Princípios
estruturantes
2.1.
Juridicidade
Dimensões
da
juridicidade:
2.1.1.
A
medida
do
direito
(matéria,
procedimento
e
forma)
O
princípio
do
Estado
de
Direito
é
um
princípio
constitutivo,
de
natureza
material,
formal
e
procedimental,
que
visa
dar
resposta
ao
problema
do
conteúdo,
extensão
e
modo
de
proceder
da
actividade
do
estado.
Assim,
a
Constituição
de
um
Estado
de
Direito
visa
conformar
o
exercício
do
poder
político
e
a
organização
da
sociedade
segundo
a
medida
do
direito.
Esta
medida
compreende-‐se
enquanto
uma
articulação
entre
matéria
e
forma
–
medida
material
enquanto
conjunto
de
princípios
materiais
informados
por
uma
certa
ideia
de
justiça
e
que
funcionam
como
meio
de
ordenação
racional
de
uma
comunidade
organizada;
e
medida
formal
enquanto
princípios
orgânicos,
formais
e
procedimentais
que
cumprem
essa
função
organizadora.
2.1.2.
Estado
de
Direito
como
Estado
“
de
distância”
(Kloepfer)
O
Estado
de
Direito
é
um
Estado
de
distância
ou
de
limites,
visto
garantir
ao
indivíduo
uma
esfera
de
autonomia
marcada
pela
diferença
e
pela
individualidade,
que
se
opõe
ao
poder
político
e
na
qual
este
não
pode
intervir.
Contudo,
a
função
do
direito
não
é
apenas
negativa,
de
defesa,
mas
também
positiva:
o
direito
deve
assegurar
também
o
desenvolvimento
da
personalidade
do
indivíduo.
2.1.3.
Estado
de
Justiça
A
justiça
faz
parte
da
própria
ideia
de
direito,
e
concretiza-‐se
em
princípios
materiais
que
se
reconduzem
à
afirmação
e
respeito
da
dignidade
humana,
protecção
da
liberdade
e
desenvolvimento
da
personalidade
e
à
realização
da
igualdade.
Podemos
destacar
várias
dimensões
de
um
Estado
de
justiça:
protecção
dos
direitos
das
minorias,
equidade
na
distribuição
de
direitos
e
deveres
e
igualdade
de
distribuição
de
bens
e
de
oportunidades.
2.2.
Constitucionalidade
O
Estado
de
direito
é
necessariamente
um
Estado
constitucional,
alicerçada
na
supremacia
normativa
da
Constituição,
que
deve
vincular
todos
os
órgãos
políticos.
Esta
supremacia
da
Constituição
é
a
primeira
expressão
do
“primado
do
direito”.
Dimensões
da
constitucionalidade:
2.2.1.
Primado
ou
supremacia
da
Constituição
–
princípio
da
constitucionalidade
O
princípio
da
supremacia
da
Constituição
traduz-‐se,
em
primeiro
lugar,
no
princípio
da
constitucionalidade
das
leis
ou
da
vinculação
do
legislador
à
Constituição
–
todos
os
actos
legislativos
devem
obedecer
aos
parâmetros
materiais
e
formais
estabelecidos
no
texto
constitucional.
Este
primado
da
Constituição
manifesta-‐se
também
na
proibição
de
leis
de
alteração
constitucional,
salvo
as
leis
de
revisão
elaboradas
nos
termos
previstos
(arts.
161.º/a
e
284.º
a
289.º).
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Em
segundo
lugar,
o
princípio
da
constitucionalidade
reside
na
conformidade,
intrínseca
e
formal,
dos
actos
do
Estado
com
a
Constituição
(art.
3.º
/2
e
art.
3.º/3).
2.2.2.
Reserva
de
Constituição
A
reserva
de
Constituição
significa
que
determinadas
questões
respeitantes
ao
estatuto
jurídico
do
político
não
devem
ser
reguladas
por
leis
ordinárias
mais
sim
pela
Constituição.
A
reserva
de
Constituição
concretiza-‐se
através
de
dois
princípios:
• Princípio
da
tipicidade
constitucional
de
competências
(art.
111.º/2)
–
os
órgãos
do
Estado
só
têm
competência
para
fazer
aquilo
que
a
Constituição
lhes
permite;
• Princípio
da
constitucionalidade
das
restrições
de
direitos,
liberdades
e
garantias
(art.
18.º/2)
–
as
restrições
dos
direitos,
liberdades
e
garantias
devem
ser
feitas
directamente
pela
Constituição
ou
através
das
leis,
mediante
autorização
constitucional
expressa
e
nos
casos
que
esta
prevê.
2.2.3.
Força
normativa
da
Constituição
(Hesse)
O
princípio
da
constitucionalidade
postula
a
força
normativa
da
Constituição,
ou
seja,
esta
não
pode
ser
postergada
quaisquer
que
sejam
os
pretextos
invocados.
Esta
pretensão
de
dissolução
político-‐jurídica
fundamenta-‐se
frequentemente
em
interesses
nacionais
considerados
superiores
e
numa
“superlegalidade”
ancorada
em
princípios
transcendentes
e
motivada
por
instâncias
desprovidas
de
legitimação
política
e
jurídica.
2.3.
Jusfundamentalidade
–
sistema
de
direitos
fundamentais
O
Estado
de
Direito
assenta
numa
base
de
direitos
fundamentais,
que
por
sua
vez
são
informados
pelo
princípio
fundante
da
dignidade
humana.
Podemos,
assim,
afirmar
que
a
Constituição
da
República
possui
uma
base
antropológica
que
se
reconduz
ao
homem
como
pessoa,
cidadão,
trabalhador
e
administrado.
Podlech
teorizou
que
o
sistema
de
direitos
fundamentais
possuía
cinco
compontentes:
• Afirmação
da
integridade
física
e
espiritual
do
homem
como
dimensão
essencial
da
sua
integridade
(arts.
24.º,
25.º
e
26.º);
• Garantia
da
identidade
e
integridade
do
homem
através
do
livre
desenvolvimento
da
sua
personalidade
(art.
26.º);
• Libertação
da
“angústia
da
existência”
da
pessoa
mediante
mecanismos
de
socialidade,
como
a
possibilidade
de
trabalho
e
qualificação
e
a
garantia
de
condições
existenciais
mínimas
(arts.
53.º,
58.º,
63.º
e
64.º)
;
• Garantia
e
defesa
da
autonomia
individual
através
da
limitação
dos
poderes
públicos;
• Garantia
da
dignidade
social
e
da
igualdade
de
tratamento
normativo
(art.
13.º).
2.4.
Divisão
de
poderes
2.4.1.
Dimensão
negativa
e
dimensão
positiva
A
constitucionalística
mais
recente
salienta
que
o
princípio
da
divisão
de
poderes
transporta
duas
dimensões:
a
dimensão
negativa,
de
controlo
e
limite
de
poderes
e
que
corresponde,
em
rigor,
à
“divisão”
de
poderes;
e
a
dimensão
positiva,
de
ordenação
e
organização
dos
poderes
e
que
associamos
à
“separação”
de
poderes.
2.4.2.
Relevância
jurídico-‐constitucional
• Princípio
jurídico-‐organizatório
-‐
uma
ideia
subjacente
ao
princípio
da
divisão
de
poderes
é
a
ordenação
de
funções
através
da
atribuição
de
competências
aos
órgãos
de
poderes
e
da
sua
vinculação
à
forma
jurídica.
Neste
sentido,
a
divisão
de
poderes
constitui
um
princípio
organizatório
fundamental
da
Constituição,
art.
111.º),
permitindo
assim
um
controlo
recíproco
do
poder
(checks
and
balances)
e
uma
organização
jurídica
de
limites
dos
órgãos
do
poder.
• Princípio
normativo-‐autónomo
–
nem
sempre
a
divisão
funcional
coincide
com
a
divisão
orgânica
dos
poderes.
Contudo,
esta
sobreposição
das
linhas
divisórias
de
funções
não
justifica
que,
por
si
só,
se
fale
de
rupturas
na
divisão
de
poderes
–
apesar
destes
desvios
apenas
serem
legítimos
se
não
interferirem
com
o
núcleo
essencial
de
competências
de
poderes.
• Princípio
fundamentador
de
incompatibilidades
–
a
divisão
organizatório-‐funcional
pressupõe
uma
divisão
pessoal
dos
poderes,
que
é
particularmente
acentuada
no
que
respeita
aos
titulares
da
função
judicial.
Esta
entreleçamento
pessoal
de
funções
é
evitado
através
do
princípio
da
incompatibilidade,
expresso
nos
arts.
216.º/3
(juízes)
e
154.º/1/2
(deputados).
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Existirá
um
defeito
de
protecção
quando
as
entidades
sobre
quem
recai
um
dever
de
protecção
adoptam
medidas
insuficientes.
O
Estado
deve,
assim
adoptar
medidas
suficientes
conducentes
a
uma
protecção
adequada
e
eficaz
dos
direitos
fundamentais
(assegurando
dimensões
prestacionais,
por
exemplo).
5.
Princípio
da
protecção
jurídica
e
das
garantias
processuais
Quais
as
instituições/órgãos
que
previnem
o
abuso
do
poder
político?
Como
se
efectua
a
reparação
do
abuso
do
poder?
5.1.
Garantias
processuais
e
procedimentais
O
acesso
ao
tribunal
tem
de
ser
acompanhado
de
dimensões
garantísticas.
5.1.1.
Garantias
do
processo
judicial
em
geral
• Garantia
do
processo
equitativo
(art.
20.º/4)
• Princípio
do
juiz
legal
(art.
32.º/7)
• Princípio
da
audição
(art.
28.º/1)
• Princípio
de
igualdade
processual
das
partes
(art.
13.º
e
20.º/2)
• Princípio
da
conformação
do
processo
segundo
os
direitos
fundamentais
(art.
32.º)
• Princípio
da
fundamentação
dos
actos
judiciais
(art.
205.º/1)
5.1.2.
Garantias
de
processo
penal
–
princípios
materialmente
informadores
do
processo
penal
(arts.
28.º,
32.º,
209.º/4).
5.1.3.
Garantias
do
procedimento
administrativo
–
garantias
de
um
procedimento
administrativo
justo.
• Direito
de
participação
do
particular
(art.
267.º/4)
• Princípio
da
imparcialidade
da
administração
(266.º/2)
• Princípio
da
audição
jurídica
(269.º/3)
• Princípio
da
informação
(art.
268.º/1)
• Princípio
da
fundamentação
dos
actos
administrativos
lesivos
e
do
arquivo
aberto
(268.º/2)
• Princípio
da
conformação
do
procedimento
segundo
os
direitos
fundamentais
(art.
266.º/1
e
267.º/4)
5.2.
Princípio
do
acesso
ao
direito
ou
garantia
de
via
judiciária
O
princípio
do
acesso
ao
direito
está
consagrado
no
art.
20.º
da
Constituição.
5.2.1.
Abertura
da
via
judiciária
enquanto
imposição
directamente
dirigida
ao
legislador.
5.2.2.
Controlo
judicial
enquanto
“contrapeso”
clássico
em
relação
ao
exercício
dos
poderes
executivo
e
legislativo
–
importância
da
função
jurisdicional
na
realização
do
Estado
de
Direito.
5.2.3.
Garantia
da
tutela
jurisdicional
efectiva
(art.
20.º).
5.3.
Princípio
da
responsabilidade
do
Estado
e
da
compensação
de
prejuízos
A
protecção
jurídica
exige
a
consagração
de
institutos
que
garantam
uma
compensação,
no
caso
de
violação
de
direitos,
liberdades
ou
garantias,
pelos
prejuízos
derivados
dos
actos
do
poder
público.
5.3.1.
Responsabilidade
do
Estado
e
consequente
dever
de
reparação
de
prejuízos
(arts.
22.º
e
271.º).
5.3.2.
Indemnização
dos
sacrifícios
especiais
impostos
a
determinados
cidadãos
(exemplo
do
art.
62.º).
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
2.
PRINCÍPIO
DEMOCRÁTICO
1.
Caracterização
do
princípio
democrático
O
princípio
democrático
visa
responder
ao
problema
da
legitimação
do
poder
político
e,
ao
ser
consagrado
constitucionalmente,
constitui
uma
ordenação
normativa
para
uma
dada
realidade
histórica
contingente.
A
fórmula
mais
conhecida,
e
que
traduz
a
essência
dos
movimentos
históricos
democráticos,
é
a
fórmula
de
Lincoln
–
“governo
do
povo,
pelo
povo
e
para
o
povo”.
A
esta
formulação
positiva
opõe-‐se
a
formulação
negativa
de
Popper
–
“a
democracia
nunca
foi
a
soberania
do
povo,
não
o
pode
ser,
não
o
deve
ser”.
Tipos
de
democracia:
• Democracia
directa
–
primeiro
tipo
de
democracia,
que
surgiu
com
os
gregos
e
na
qual
os
cidadãos
fazem
eles
próprios
as
leis.
• Democracia
participativa
–
surgiu
na
pós-‐modernidade
e
consiste
no
exercício
da
democracia
pelos
cidadãos
através
de
instituições
cívicas.
• Democracia
representativa
–
delegação
de
poder
em
representantes,
por
parte
dos
cidadãos.
• Democracia
semidirecta
–
partilha
algumas
características
com
a
democracia
representativa,
apesar
dos
cidadãos
desempenharem
um
papel
directo
em
certos
aspectos
da
tomada
de
decisão.
A
Constituição
de
76
foi
fundada
no
princípio
da
democracia
representativa,
sendo
os
principais
instrumentos
de
democracia:
• Sufrágio
• Partidos
políticos
Contudo,
as
sucessivas
revisões
constitucionais
foram
assimilando
os
outros
tipos
de
democracia:
• Directa
–
plenário
dos
cidadãos
(art.
245.º/2)
• Semidirecta
–
referendo
• Participativa
–
ver
arts.
2.º,
109.º
e
151.º
2.
Concretização
constitucional
do
princípio
democrático
2.1.
O
princípio
da
soberania
popular
O
princípio
da
soberania
popular
transporta
várias
dimensões
históricas:
• Necessidade
de
legitimação
do
domínio
político;
• Povo
enquanto
legitimação
do
poder
político;
• Povo
enquanto
titular
da
soberania;
• Soberania
popular
enquanto
princípio
eficaz
e
vinculativo
no
âmbito
constitucional;
• Constituição
enquanto
plano
da
construção
organizatória
da
democracia.
2.2.
Princípio
da
representação
popular
A
representação
popular
é
o
exercício
jurídico,
constitucionalmente
autorizado,
de
funções
de
domínio,
feita
em
nome
do
povo
por
órgãos
de
soberania
do
Estado.
Existem
dois
tipos
de
representação
democrática:
2.1.
Representação
democrática
formal
–
autorização
e
legitimação
jurídico-‐formal
concedida
a
um
órgão
governante
para
o
exercício
do
poder
político.
2.2.
Representação
democrática
material
–
momento
referencial
substantivo
e
normativo,
conformidade
da
vontade
do
povo
com
o
conteúdo
dos
actos
dos
representantes.
2.3.
Princípio
da
democracia
semidirecta
O
referendo
é
o
principal
instrumento
de
democracia
semidirecta.
É
uma
consulta
feita
aos
eleitores
sobre
uma
questão
ou
texto
através
de
um
procedimento
formal
regulado
na
lei.
Tipos
de
referendo
(quanto
ao
território)
2.3.1.
O
referendo
nacional
(art.
115.º):
• Âmbito
material:
domínios
excluídos
do
âmbito
material
do
referendo
(art.
115.º/4):
o Referendos
constitucionais
–
a
revisão
constitucional
é
“reserva
absoluta
do
Parlamento
(art.
161.º/a))
o Referendos
sobre
questões
ou
actos
de
conteúdo
orçamental,
tributário
ou
financeiro
–
visto
que
são
matérias
de
fácil
manipulação
pelo
eleitorado.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
O
voto
tem
de
resultar
imediatamente
da
manifestação
da
vontade
do
eleitor,
não
existindo
nenhum
intermediário
entre
o
titular
da
soberania
o
eleitor.
Com
este
princípio
pretende
assegurar-‐se
a
fidedignidade
do
voto.
No
sufrágio
indirecto
ou
mediato,
os
eleitores
limitam-‐se
a
eleger
um
colégio
de
delegados
eleitorais
que,
por
sua
vez,
escolherão
os
candidatos.
3.3.
Princípio
do
voto
livre
A
afirmação
da
liberdade
do
voto
transporta
duas
dimensões:
• Liberdade
de
votar
ou
não
–
o
sufrágio
é
um
dever
cívico
e
não
jurídico
(art.
49.º/2).
• Liberdade
no
voto,
na
escolha.
3.4.
Princípio
do
voto
secreto
(art.
10.º)
O
cidadão
eleitor
guarda
para
si
a
sua
decisão
de
voto,
sendo
este
princípio
uma
garantia
da
própria
liberdade
de
voto.
Podemos
falar
em
pessoalidade
do
voto,
mas
não
em
presencialidade
(voto
por
correspondência).
3.5.
Princípio
da
igualdade
do
voto
A
igualdade
de
voto
compreende
duas
dimensões:
• Igualdade
em
peso
numérico
–
todos
os
votos
têm
a
mesma
eficácia
jurídica.
• Igualdade
em
valor
de
resultado
–
a
mesma
consideração
para
a
distribuição
de
mandatos.
Esta
igualdade
deriva
dos
sistema
eleitoral
adoptado,
o
sistema
proporcional
(art.
149.º).
3.6.
Princípio
da
periodicidade
do
voto
A
periodicidade
vale
para
todos
os
actos
eleitorais
e
está
relacionado
com
o
princípio
democrático,
que
exige
a
renovação
da
legitimidade.
Impede-‐se,
assim,
a
vitaliciedade
de
mandatos.
3.7.
Princípio
do
voto
único
Este
princípio
não
está
consagrado
na
Constituição,
contudo
vem
complementar
a
ideia
de
igualdade
do
sufrágio,
sendo
um
corolário
lógico
deste.
Afirma
que
cada
cidadão
apenas
vota
uma
vez.
4.
Princípio
democrático
e
sistema
eleitoral
4.1.
Sistema
de
representação
proporcional
e
sistema
maioritário
Sistema
eleitoral
–
modo
como
os
votos
são
convertidos
em
mandatos,
neste
caso
em
deputados
da
Assembleia
da
República.
Este
sistema
eleitoral
é
diferente
do
sistema
eleitoral
para
Presidente
da
República,
que
é
maioritário
a
duas
voltas.
Tipos
de
sistemas
eleitorais:
4.1.1.
Sistema
maioritário
• Característica
–
o
espaço
geográfico
está
dividido
em
círculos
uninominais,
cada
um
dos
círculos
elege
o
deputado
que
venceu.
• Origem
–
origem
inglesa,
recebendo
também
o
nome
de
“modelo
de
Westminster”.
Está
associado
ao
tipo
de
democracia
representativa.
• Vantagens:
o Governos
estáveis
e
funcionais;
o Alternância
do
poder
através
do
sistema
bipartidário;
o Robustecimento
da
oposição.
• Desvantagens:
o Fraca
representatividade
e
proporcionalidade;
o Dificuldade
de
controlo
do
poder
–
atenta
contra
o
princípio
da
“accountability”.
4.1.2.
Sistema
proporcional
• Característica
–
o
espaço
geográfico
está
dividido
em
círculos
plurinominais,
havendo
repartição
proporcional
entre
as
listas
de
candidatos
consoante
o
número
de
votos.
• Origem
–
origem
francófona,
defendido
na
Revolução
Francesa
(“o
Parlamento
deve
ser
um
mapa
reduzido
do
povo”).
Associado
ao
tipo
de
democracia
participativa.
• Vantagens:
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
Igualdade
material;
o
Adequação
ao
pluripartidarismo,
favorecendo
a
representação
e
o
o
aparecimento
de
pequenos
partidos;
o Maior
controlo
e
transparência
do
poder.
• Desvantagens:
o Escassa
personalização
da
escolha
do
eleitor;
o Dificuldade
de
obtenção
de
maiorias
parlamentares,
muitas
vezes
colmatada
com
coligações.
4.2.
Sistema
eleitoral
na
Constituição
4.2.1.
O
sistema
eleitoral
proporcional
na
Constituição
Os
princípios
fundamentais
do
sistema
eleitoral
constituem
direito
constitucional
formal,
sendo
o
sistema
eleitoral
proporcional
um
dos
limites
materiais
de
revisão
(art.
288.º/h).
Nas
eleições
para
a
Assembleia
da
República,
a
Constituição
optou
concretamente
por
uma
das
fórmulas
de
proporcionalidade,
o
método
de
Hondt
(art.
149.º/1).
Nos
outros
casos
de
eleições
colegiais,
consagra-‐se
o
sistema
proporcional
mas
há
liberdade
de
escolha
quanto
à
escolha
da
fórmula
de
proporcionalidade
(art.
113.º/5,
231.º/2
e
239.º/2).
4.2.2.
À
procura
da
personalização
do
sistema
Uma
das
críticas
dirigidas
ao
sistema
proporcional
é
a
impessoalidade
da
escolha
dos
representantes,
bem
como
a
hipertrofia
do
monopólio
partidário.
Assim,
a
Revisão
Constitucional
de
1997
procurou
responder
a
estas
críticas
através
da
flexibilização
do
sistema
eleitoral
–
fórmulas
de
escrutínio
e
sistemas
de
pessoalização:
• Fórmulas
de
escrutínio
–
no
escrutínio
uninominal
(círculos
uninominais),
há
apenas
um
mandato
a
preencher;
enquanto
que,
no
escrutínio
plurinominal
(círculos
plurinominais),
há
vários
mandatos
a
preencher,
existindo
por
isso
uma
lista.
Na
Revisão
Constitucional
de
97,
admitiu-‐se
a
coexistência
de
círculos
uninominais
e
plurinominais,
sem
perturbar
o
sistema
de
representação
proporcional.
• Sistemas
de
pessoalização
do
voto
–
através
do
sistema
de
panachage
(possibilidade
de
escolha
dos
nomes
dentre
os
propostos),
do
voto
preferencial
(possibilidade
de
modificação
da
ordem
dos
candidatos),
e
do
sistema
de
duplo
voto
(sistema
alemão,
que
conjuga
as
vantagens
da
representação
proporcional
com
as
do
escrutínio
uninominal).
5.
Princípio
democrático
e
sistema
partidário
5.1.
A
constitucionalização
dos
partidos
políticos
O
pluralismo
partidário,
ou
seja,
a
possibilidade
de
existência
de
vários
partidos,
é
um
elemento
essencial
do
princípio
democrático,
estando
consagrado
na
Constituição.
Este
princípio
resulta
de
vários
artigos
da
Constituição:
• Art.
2.º
-‐
consagra
o
princípio
do
Estado
de
Direito,
aludindo
ao
pluripartidarismo.
• Art.
10.º/2
–
consagra
os
princípios
fundamentais
da
democracia.
• Art.
51.º
–
possibilita
a
existência
de
associações.
• Art.
288.º/i
–
pluralismo
enquanto
limite
material
de
revisão.
5.2.
Partidos
políticos:
associações
privadas
com
funções
constitucionais
Órgãos
estaduais
ou
constitucionais?
Alguns
autores
defendem,
em
virtude
do
reconhecimento
constitucional
dos
partidos
políticos,
que
estes
são
órgãos
constitucionais.
Alguns
autores
chegam
mesmo
a
defender
o
seu
estatuto
de
órgãos
estaduais
–
contudo,
o
reconhecimento
de
relevância
jurídico-‐constitucional
dos
partidos
não
corresponde
à
sua
estatização.
O
estatuto
constitucional
dos
partidos
deriva
do
reconhecimento
da
liberdade
de
formação
dos
partidos
como
um
direito
fundamental
–
como
tal,
estes
não
podem
ser
considerados
órgãos
constitucionais.
Corporações
ou
associações
de
direito
público?
Nem
constitucionais,
nem
estaduais,
os
partidos
também
não
devem
qualificar-‐se
como
corporações
de
direito
público,
pois,
do
seu
estatuto
subjectivo,
deriva
a
sua
caracterização
como
associações
de
direito
privado.
A
sua
função
de
mediação
política
(expressão
da
vontade
do
povo)
confere-‐lhes,
porém,
um
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
estatuto
diferenciador
das
restantes
associações
privadas.
Como
tal,
podemos
classificar
os
partidos
políticos
enquanto
associações
privadas
com
funções
constitucionais.
5.3.
Liberdade
externa
e
liberdade
interna
3.1.
Liberdade
externa
• Liberdade
de
fundação
dos
partidos
políticos
(art.
51.º/1)
–
a
liberdade
externa
dos
partidos
reconduz-‐se
fundamentalmente
à
liberdade
de
fundação
de
partidos
políticos.
Assim,
será
inconstitucional
qualquer
regime
de
autorização
prévia
(art.
46.º/1).
• Liberdade
de
actuação
partidária
–
como
corolário
da
liberdade
de
associação
partidária,
ninguém
pode
ser
obrigado
a
fazer
parte
de
um
partido
ou
a
nele
permanecer
(art.
46.º/3).
• Extinção
dos
partidos
políticos
–
pertence
ao
Tribunal
Constitucional
ordenar
a
extinção
de
um
partido
político.
3.2.
Liberdade
interna
• Proibição
de
controlo
ideológico
ou
programático
(art.
51.º/3)
–
proibição
de
controlo
sobre
a
ideologia
ou
organização
interna
dos
partidos.
Contudo,
são
proibidos
os
partidos
políticos
de
ideologia
fascista,
proibição
esta
que
encontra
o
seu
fundamento
na
proibição
da
discriminação
de
raças
(art.
13.º).
• Admissibilidade
de
controlo
sobre
a
organização
interna
(art.
51.º/5)
–
apesar
da
clássica
inadmissibilidade
de
controlo
sobre
a
organização
partidária,
a
4ª
Revisão
Constitucional
veio
consagrar
um
conjunto
de
princípios
pelos
quais
os
partidos
se
devem
reger.
5.4.
Princípio
da
igualdade
de
oportunidades
dos
partidos
políticos
A
liberdade
partidária
é
inseparável
da
garantia
de
igualdade,
ou
seja,
o
reconhecimento
jurídico
a
todos
os
partidos
de
iguais
possibilidades.
Dimensões
da
igualdade
de
oportunidades:
• Na
concorrência
eleitoral
(art.
113.º/3)
–
distribuição
igual
da
propaganda
eleitoral
na
rádio,
televisão
e
imprensa
e
limitação
do
trabalho
de
publicidade
do
governo.
• No
financiamento
dos
partidos
(art.
51.º/6)
–
o
financiamento
público
das
campanhas
dos
partidos
é
justificado
pela
sua
importância
para
a
formação
da
opinião
dos
cidadãos.
5.5.
Direito
de
oposição
democrática
O
direito
de
oposição
democrática
é
um
direito
decorrente
da
liberdade
de
opinião
e
da
liberdade
de
associação
partidária.
Conexiona-‐se
com
outros
direitos
fundamentais,
como
os
direitos
de
reunião
e
manifestação
e
o
próprio
princípio
democrático,
e
engloba
um
conjunto
de
direitos
de
oposição,
como
o
direito
de
antena
(40.º/2).
5.6.
Desobediência
civil
e
oposição
política
Nos
últimos
tempo,
tem
sido
discutido
se
a
desobediência
civil
de
pode
considerar
como
forma
de
expressão
da
oposição
política.
A
desobediência
civil
entende-‐se
como
um
acto
público,
não
violento,
de
protesto.
Contudo,
a
desobediência
civil
é
um
direito
de
qualquer
cidadão
e
encontra-‐se
plenamente
justificada
constitucionalmente.
6.
Princípio
democrático
e
princípio
maioritário
O
princípio
maioritário
está
intrinsecamente
conexionado
com
o
princípio
democrático,
e
baseia-‐se
na
concordância
da
maioria
para
o
estabelecimento
vinculativo
de
uma
dada
ordenação
jurídica.
Assim,
o
voto
é
livre
e
igual
e
beneficia
de
uma
legitimidade
quantitativa
maioritária.
Limites
do
princípio
maioritário:
• Limites
externos
–
o
direito
da
maioria
é
sempre
um
direito
em
concorrência
com
o
direito
das
minorias.
• Limites
internos
-‐
a
maioria
não
pode
assentar
numa
pretensão
absoluta
de
verdade.
Não
existe
um
preceito
constitucional
a
reconhecer
o
princípio
maioritário,
valendo
este
como
princípio
constitucional
geral.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
CAPÍTULO
III
POSIÇÕES
JURÍDICAS:
DIREITOS
E
DEVERES
FUNDAMENTAIS
I.
Semântica,
história
e
perspectivas
1.
Semântica
1.1.
Direitos
fundamentais
e
direitos
do
homem
Os
direitos
do
homem
são
direitos
naturais
e
inalienáveis,
ou
seja,
posição
subjectivas
das
quais
o
homem
goza
pelo
simples
facto
de
o
ser.
São
válidos
para
todos
os
povos
e
em
todos
os
tempos.
Os
direitos
fundamentais
são
s
direitos
do
homem
incorporados,
reconhecidos
e
protegidos
efectivamente
na
constituição.
Assim,
os
direitos
fundamentais
são
os
direitos
objectivamente
vigentes
numa
ordem
jurídica
concreta.
1.2.
Constitucionalização
e
fundamentalização
Constitucionalização
(ou
positivação
constitucional)
–
designa-‐se
por
constitucionalização
a
incorporação
de
direitos
subjectivos
do
homem
em
normas
constitucionais,
tendo
como
principal
consequência
o
controlo
da
constitucionalidade
dos
actos
normativos
reguladores
destes
direitos,
como
forma
de
protecção
dos
mesmos.
Fundamentalização
(ou
fundamentalidade):
• Formal
–
associação
aos
direitos
fundamentais
as
características
que
estão
ligadas
à
constituição
em
sentido
formal.
Assim,
o
estatuto
constitucional
das
normas
consagradoras
de
direitos
fundamentais
compreende
quatro
dimensões:
o Valor
paramétrico;
o Procedimento
agravado
de
revisão;
o Limites
materiais
de
revisão
(art.
288.º/d
e
e);
o Parâmetros
materiais
de
actuação
dos
órgãos
legislativos,
administrativos
e
jurisdicionais.
• Material
–
o
conteúdo
dos
direitos
fundamentais
está
associado
a
exigências
materiais
ligadas
a
necessidades
estruturantes
da
pessoa
humana.
A
ideia
de
fundamentalidade
fornece
suporte
à
cláusula
aberta,
princípio
da
não
tipicidade
ou
norma
com
“fattispecie”
aberta
(3
notas):
o Abertura
da
Constituição
a
direitos
material
mas
não
formalmente
constitucionais,
ou
seja,
que
não
integram
o
texto
constitucional.
Está
em
causa
a
faculdade
de
reconhecer
como
direitos
fundamentais
outros
direitos
positivados
noutros
documentos
(art.
16.º/1);
o Abertura
da
Constituição
a
novos
direitos
fundamentais,
que
vão
emergindo
da
realidade.
o Aplicação
a
esses
outros
direitos
fundamentais
os
traços
formais
que
valem
para
os
direitos
fundamentais.
2.
História
A
doutrina
identifica
várias
gerações
ou
momentos
na
história
dos
direitos
fundamentais,
visto
que
o
seu
reconhecimento
foi
progressivo
e
paulatino,
a
sua
densidade
aumentando
com
as
exigências
e
necessidades
da
realidade.
2.1.
A
pré-‐história
Na
antiguidade,
ainda
não
era
reconhecida
a
existência
de
direitos
do
homem
–
basta
considerar
,
por
exemplo,
que
Platão
e
Aristóteles
entendiam
o
estatuto
de
escravidão
como
algo
de
natural.
Apesar
de
no
mundo
romano
encontrarmos
já
a
ideia
de
igualdade
natural
e
a
ideia
de
humanidade,
esta
encontrava-‐se
no
terreno
da
filosofia
e
da
doutrina
política,
não
conseguindo
converter-‐se
em
categoria
jurídica.
As
concepções
cristãs
medievais
abriram
o
caminho
para
a
submissão
do
direito
positivo
às
normas
jurídicas
fundamentais
–
contudo,
os
direitos
consagrados
as
cartas
de
franquias
medievais
(das
quais
se
destacam
a
Magna
Carta
de
1215)
eram
direitos
estamentais,
ou
seja,
direitos
corporativos
da
aristocracia
feudal
em
face
do
seu
suserano.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
1.3.
Direitos
de
natureza
análoga
aos
direitos,
liberdades
e
garantias
O
art.
17.º
menciona
uma
categoria
de
direitos
–
os
direitos
de
natureza
análoga
aos
direitos,
liberdades
e
garantias.
Estes
direitos
de
natureza
análoga
são
direitos
que,
apesar
de
não
constarem
no
catálogo
dos
direitos,
liberdades
e
garantias,
gozam
do
seu
regime
especial.
Podem,
assim,
encontrar-‐se
entre
os
direitos
económicos,
sociais
e
culturais,
ou
entre
os
restantes
direitos
fundamentais
dispersos.
Contudo,
a
determinação
dos
contornos
destes
direitos
de
natureza
análoga
não
está
isenta
de
dificuldades.
O
Dr.
Gomes
Canotilho
propõe
a
seguinte
metódica
para
a
captação
da
natureza
análoga
de
um
direito:
DIREITOS,
LIBERDADES
E
GARANTIAS
DE
NATUREZA
ANÁLOGA
De
participação
Pessoais
Dos
trabalhadores
política
Direitos
(positivos)
–
Direito
pessoal
de
Direito
de
Direito
de
n.a.
dos
direitos
inerentes
ao
natureza
análoga
participação
política
trabalhadores
homem
como
indivíduo
(n.a.)
de
n.a.
ou
como
participante
na
vida
política.
Liberdades
(negativos)
–
Liberdade
pessoal
Liberdade
de
Liberdade
de
n.a.
dos
defesa
da
esfera
jurídica
de
n.a.
participação
política
trabalhadores
dos
cidadãos
perante
os
de
n.a.
poderes
políticos.
Garantias
(processuais)
Garantia
pessoal
de
Garantia
de
Garantia
de
n.a.
dos
–
garantias
ou
meios
n.a.
participação
política
trabalhadores
processuais
adequados
de
n.a.
para
a
defesa
dos
direitos.
1.4.
Direitos
fundamentais
dispersos
São
direitos
fundamentais
que
se
encontram
fora
do
catálogo
(arts.
24.º
-‐
79.º).
Alguns
destes
direitos
gozam
de
natureza
análoga
aos
direitos,
liberdades
e
garantias,
enquanto
que
outros
se
aproximam
dos
direitos
sociais.
Ver
exemplo
do
art.
268.º/4.
1.5.
Direitos
só
materialmente
fundamentais
O
art.
16.º/1
consagra
o
princípio
da
cláusula
aberta,
também
chamado
de
princípio
da
não
tipicidade
ou
da
norma
com
“fattispecie”
aberta,
que
reconhece
a
existência
de
direitos
fundamentais
fora
do
texto
constitucional.
Assim,
em
virtude
de
as
normas
que
os
reconhecem
e
protegem
não
terem
a
forma
constitucional,
estes
direitos
são
chamados
de
direitos
fundamentalmente
constitucionais.
1.6.
Direitos
só
formalmente
fundamentais
Não
existem
direitos
fundamentais
apenas
formalmente
constitucionais,
pela
mesma
lógica
segundo
a
qual
não
existem
normas
constitucionais
que
o
sejam
apenas
a
nível
formal.
2.
Funções
dos
direitos
fundamentais
As
funções
dos
direitos
fundamentais
são
quatro
e
foram
sendo
historicamente
assumidas.
2.1.
Função
de
defesa
Função
de
defesa
da
pessoa
humana
e
da
sua
dignidade
perante
os
poderes
do
Estado.
Dupla
perspectiva:
• Direitos
enquanto
normas
de
competência
negativa
para
os
poderes
públicos,
proibindo
as
ingerência
destes
na
esfera
jurídica
individual:
• Direitos
enquanto
faculdades
de
exercício
positivo
dos
mesmos
pelos
cidadãos.
2.2.
Função
de
prestação
social
Direitos
a
prestações
são
direitos
do
particular
a
obter
algo
através
do
Estado
(saúde,
educação
e
segurança
social).
Assim,
o
Estado
é
chamado
a
garantir
um
conjunto
de
bens
fundamentais
–
Estado
social.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
• Direitos
dos
cidadãos
de
outros
Estados-‐membros
da
União
Europeia
(art.
15.º/5)
–
traduz
a
refracção,
na
ordem
constitucional
portuguesa,
da
cidadania
europeia.
A
cidadania
europeia
não
é
uma
categoria
política
estática,
estando
aberta
ao
aprofundamento
da
integração
europeia.
O
nº
5
do
art.
15.º
foi
introduzido
com
a
1ª
Revisão
Constitucional
e
consagra
o
alargamento
de
alguns
direitos
políticos
pertencentes
aos
cidadãos
portugueses
aos
cidadãos
de
Estados-‐
membros
da
União
Europeia
(como
o
nº
4).
Direitos
dos
portugueses
no
estrangeiro
(art.
14.º):
Os
direitos
fundamentais
valem
também
para
o
cidadãos
não
residentes
no
território
nacional,
que
têm
os
mesmos
direitos
e
deveres
dos
cidadãos
portugueses
residentes
em
Portugal,
salvo
aqueles
que
sejam
incompatíveis
com
a
ausência
do
país
(algo
que
terá
de
ser
determinado
caso
a
caso).
Os
cidadãos
portugueses
nessas
condições
também
têm
direito
à
protecção
do
Estado
para
o
exercício
desses
direitos,
estabelecendo-‐se
uma
discriminação
positiva.
A
questão
das
pessoas
colectivas
(art.
12.º/2)
A
Constituição
reconhece
expressamente
a
capacidade
de
gozo
de
direitos
às
pessoas
colectivas,
superando
assim
uma
concepção
de
direitos
fundamentais
exclusivamente
centrada
sobre
os
indivíduos.
Contudo,
é
necessário
responder
às
seguintes
perguntas:
qual
o
sentido
de
pessoas
colectivas
usado?
Todas
as
pessoas
colectivas
gozam
de
direitos
fundamentais?
Existem
dois
tipos
de
pessoas
colectivas:
• Pessoas
colectivas
de
direito
privado;
• Pessoas
colectivas
de
direito
público.
As
pessoas
colectivas
não
podem
ser
titulares
de
todos
os
direitos
fundamentais,
mas
apenas
daqueles
que
sejam
compatíveis
com
a
sua
natureza.
Este
problema
deverá
ser
resolvido
casuisticamente.
Não
serão
aplicáveis,
por
exemplo:
• Direito
à
vida
e
à
integridade
pessoal;
• Direito
de
constituir
família.
Levanta-‐se
também
a
questão
da
titularidade
de
direitos
por
parte
das
pessoas
colectivas
de
direito
público,
opondo-‐se
uma
tese
negativa
e
positiva.
Argumentos
da
tese
negativa
–
impossibilidade
da
titularidade:
1. Argumento
da
natureza
dos
direitos
–
os
direitos
fundamentais
são
direitos
de
defesa
perante
os
poderes
públicos,
logo
não
faz
sentido
reconhecer
às
entidades
públicas
estes
direitos.
2. Argumento
da
confusão
–
se
as
pessoas
colectivas
de
direito
público
fossem
titulares
de
direitos,
então
seriam
simultaneamente
titulares
e
destinatárias
dos
mesmos.
Argumentos
da
tese
positiva
–
possibilidade
e
limites:
1. Argumento
literal
–
a
Constituição
não
distingue
entre
pessoas
colectivas
de
direito
público
e
de
direito
privado.
2. Algumas
pessoas
colectivas
gozam
de
uma
posição
de
infraordenação
em
relação
ao
Estado,
podendo
como
tal
ocorrer
situações
de
conflito
entre
elas.
Assim,
as
pessoas
infraestaduais
terão
de
ser
titulares
de
direitos
fundamentais.
Direitos
fundamentais
colectivos
e
direitos
fundamentais
de
exercício
colectivo
1. Direitos
fundamentais
colectivos
–
assim
como
certos
direitos
fundamentais
pressupõem
uma
referência
humana,
não
sendo
susceptíveis
de
gozo
e
exercício
por
parte
de
pessoas
colectivas,
também
existem
na
Constituição
direitos
cuja
titularidade
é
inerente
às
pessoas
colectivas
como
tais
(ver
arts.
40.º,
direito
de
antena,
54.º,
56.º
e
57.º).
2. Direitos
fundamentais
de
exercício
colectivo
–
existem
também
direitos
cuja
titularidade
é
individual,
mas
que
só
se
podem
exercer
colectivamente
(exemplo
–
o
direito
à
greve).
Titularidade
e
capacidade
de
exercício
de
direitos
A
distinção
do
direito
privado
entre
capacidade
de
gozo
de
direitos
(ou
titularidade)
e
capacidade
de
exercício
não
terá
qualquer
utilidade
no
direito
constitucional.
Por
um
lado,
porque
não
faz
sentido
reconhecer
direitos
fundamentais
insusceptíveis
de
ser
exercidos;
por
outro
lado,
esta
restrição
pode
ser
um
expediente
para
a
restrição
inconstitucional
de
direitos.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
2.
Princípio
da
igualdade
(art.
13.º)
2.1.
Da
igualdade
formal
à
igualdade
material
Um
dos
princípios
estruturantes
do
regime
geral
dos
direitos
fundamentais
é
o
princípio
da
igualdade,
que
tem
como
base
o
princípio
da
dignidade
social
de
todos
os
cidadãos.
Considera-‐se
que
o
princípio
da
igualdade
é
um
dos
princípios
estruturantes
do
sistema
constitucional,
visto
conjugar
dialecticamente
as
dimensões
liberais,
democráticas
e
sociais
do
Estado
de
Direito
democrático
e
social:
• Dimensão
liberal
–
ideia
de
igual
status
social
de
todas
as
pessoas,
independentemente
do
nascimento,
perante
a
lei,
geral
e
abstracta.
• Dimensão
democrática
–
ideia
de
igualdade
na
participação
da
vida
política.
• Dimensão
social
–
eliminação
das
desigualdades
de
facto
para
se
assegurar
uma
igualdade
material.
Esta
igualdade
é,
desde
logo,
a
igualdade
formal
–
que
também
recebe
o
nome
de
liberal
ou
jurídica
-‐,
que
corresponde
ao
que
está
consagrado
no
art.
13.º/1.
Assim,
podemos
afirmar
que
a
Constituição
acolhe
a
versão
historicamente
adquirida
da
fórmula
clássica
do
princípio
da
igualdade,
que
veio
pôr
fim
ao
sistema
de
privilégios
do
antigo
regime
e
se
traduz
na
exigência
de
igualdade
de
aplicação
do
direito.
Mas
o
alcance
da
protecção
constitucional
do
conteúdo,
quer
quanto
ao
âmbito,
quer
quanto
ao
conteúdo,
não
fica
por
aqui.
Num
dado
momento
da
História,
o
Estado
“cão
de
guarda
nocturno”
entra
em
crise
e
exige-‐se,
para
além
de
uma
igualdade
formal
–
igualdade
perante
a
lei
–,
uma
igualdade
material
–
igualdade
na
criação
e
através
da
lei.
O
âmbito
de
protecção
do
princípio
da
igualdade
abrange,
na
ordem
constitucional
portuguesa,
as
seguintes
dimensões:
• Proibição
do
arbítrio;
• Proibição
de
discriminação;
• Obrigação
de
diferenciação.
2.2.
O
princípio
da
proibição
do
arbítrio
A
proibição
do
arbítrio
constitui
um
limite
externo
da
liberdade
de
conformação
ou
de
decisão
dos
poderes
públicos,
como
princípio
negativo
de
controlo.
Assim,
existirá
observância
de
igualdade
quando
indivíduos
ou
situações
iguais
não
são
arbitrariamente
tratados
como
desiguais,
e
assim
este
princípio
tem
de
andar
sempre
ligado
a
um
fundamento
material
ou
critério
material
objectivo.
Este
critério
costuma
ser
sintetizado
em
3
notas:
• Fundamento
sério;
• Sentido
legítimo;
• Estabelecimento
de
uma
diferenciação
jurídica
com
fundamento
razoável.
Contudo,
a
vinculação
do
legislador
ao
princípio
da
igualdade
não
elimina
a
sua
liberdade
de
conformação
legislativa,
pois
a
ele
pertence,
dentro
dos
limites
constitucionais,
definir
ou
qualificar
as
situações
que
poderão
funcionar
como
elementos
de
referência
a
um
tratamento
igual
ou
desigual.
2.3.
Princípio
da
proibição
da
discriminação
O
princípio
da
proibição
da
discriminação,
consagrado
no
art.
13.º/2
,
não
significa
uma
exigência
de
igualdade
absoluta
em
todas
as
situações,
nem
proíbe
diferenciações
de
tratamento.
Consagra
um
conjunto
de
factores
discriminatórios
ilegítimos,
que
correspondem
aos
mais
frequentes
e
historicamente
mais
significativos.
Contudo,
esta
lista
não
tem
um
carácter
exaustivo,
sendo
puramente
enunciativo.
Assim,
exige-‐se
que
as
medidas
de
diferenciação
sejam
materialmente
fundadas
sob
o
ponto
de
vista
da
segurança
jurídica,
da
proporcionalidade
e
da
justiça,
não
se
baseando
num
motivo
constitucionalmente
impróprio.
2.4.
Princípio
da
obrigação
de
diferenciação
A
obrigação
de
diferenciação
vem
compensar
a
desigualdade
de
oportunidades,
confirmando
a
função
social
do
princípio
de
igualdade,
ou
seja,
o
dever
de
atenuação
das
desigualdades
fácticas
(sociais,
culturais
e
sociais)
pelos
poderes
públicos,
através
de
discriminações
positivas.
Diferenciação
e
discriminação
não
são
conceitos
equivalentes
pois,
numa
situação
de
diferenciação,
não
existe
necessariamente
discriminação.
A
discriminação
negativa
é
uma
diferenciação
ilegítima,
enquanto
que
discriminação
positiva
já
é
um
tipo
de
diferenciação
legítima.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012
2.5.
Princípio
da
igualdade
perante
os
encargos
públicos
O
princípio
da
igualdade
perante
os
encargos
públicos
é
outra
manifestação
do
princípio
da
igualdade,
que
afirma
que
estes
devem
ser
objecto
de
igualdade
material.
O
seu
sentido
tendencial
é
o
seguinte:
• Os
encargos
públicos
devem
ser
repartidos
de
forma
igual
pelos
cidadãos;
• No
caso
de
existir
um
sacrifício
especial
de
um
indivíduo
ou
grupo
de
indivíduos
justificado
por
razões
de
interesse
público,
deve
estabelecer-‐se
uma
indemnização
ou
compensação.
2.6.
Direitos
especiais
de
igualdade
Ao
lado
do
princípio
geral
da
igualdade,
que
encontra
a
sua
positivação
constitucional
no
artigo
13.º,
a
Constituição
consagra
um
conjunto
de
direitos
específicos
ou
especiais
de
igualdade,
que
visam
efectivar
o
princípio
material
de
igualdade.
Estes
direitos
específicos
valem
como
lex
specialis
relativamente
ao
princípio
geral,
e
como
tal
sobrepõem-‐se
ou
têm
preferência
sobre
os
preceitos
do
art.
13.º/1,
que
vale
como
lex
generalis.
IV.
Regime
específico
dos
direitos,
liberdades
e
garantias
Os
direitos,
liberdades
e
garantias
e
os
direitos
de
natureza
análoga
beneficiam
de
um
regime
específico,
ou
seja,
uma
disciplina
jurídico-‐constitucional
específica
que
goza
dos
seguintes
traços
caracterizadores:
• Aplicabilidade
directa;
• Vinculatividade
de
entidades
públicas
e
privadas;
• Reserva
da
lei
para
a
sua
restrição;
• Princípio
da
autorização
constitucional
expressa
para
a
sua
restrição;
• Princípio
da
proporcionalidade
das
leis
restritivas;
• Princípio
da
generalidade
e
abstracção
das
leis
restritivas;
• Princípio
da
não
retroactividade
de
leis
restritivas;
• Princípio
da
salvaguarda
do
núcleo
essencial;
• Limitação
da
possibilidade
de
suspensão
nos
casos
do
estado
de
sítio
e
de
emergência;
• Garantia
do
direito
de
resistência;
• Garantia
da
responsabilidade
do
Estado
e
demais
entidades
públicas;
• Garantia
perante
o
exercício
da
acção
penal
e
a
adopção
de
medidas
de
polícia;
• Garantia
contra
leis
de
revisão
restritivas.
1.
Aplicabilidade
directa
(art.
18.º/1,
segmento
1)
Esta
cláusula
de
aplicabilidade
directa
ganhou
inspiração
na
Lei
Fundamental
de
Bona,
e
implica
o
fim
da
doutrina
das
liberdades.
Os
direitos,
liberdades
e
garantias
são
directamente
aplicáveis
porque:
• Valem
constitucionalmente
como
normas
definidoras
de
posições
jurídicas;
• Aplicam-‐se
sem
necessidade
de
interposição
conformadora
de
outras
entidades,
nomeadamente
o
legislador;
• Constituem
direito
actual
e
eficaz.
Assim,
a
aplicabilidade
directa
permite:
• Invocar
as
normas
consagradoras
de
direitos,
liberdades
e
garantias
na
ausência
de
lei;
• Invocar
a
invalidade
de
actos
normativos
que
infrinjam
os
preceitos
consagradores
de
direitos,
liberdades
e
garantias,
e
assim
estes
valem
contra
a
lei
e
em
vez
dela.
2.
Vinculação
das
entidades
públicas
e
privadas
(art.
18.º/1,
segmento
2)
2.1.
Vinculação
de
entidades
públicas
Os
preceitos
dos
direitos,
liberdades
e
garantias
vinculam
as
entidades
públicas,
princípio
este
que
não
pode
ser
uma
particularização
do
princípio
geral
da
constitucionalidade,
sendo
conotado
com
a
aplicabilidade
directa.
Esta
cláusula
exige
uma
vinculação
sem
lacunas,
ou
seja,
abrangendo
todos
os
âmbitos
funcionais,
e
deve
ser
entendida
de
duas
perspectivas:
• Perspectiva
funcional
–
funções
das
entidades
públicas;
• Perspectiva
formal-‐organizacional
–
titulares
ou
órgãos
dessas
entidades.
A
primeira
das
“entidades
públicas”
a
ser
vinculada
é
o
Estado
em
sentido
estrito,
ou
seja,
o
legislador,
a
administração/governo
e
os
tribunais.
Laura
Nunes
Vicente
–
Ano
Lectivo
2011/2012