Você está na página 1de 3

162 Ga l lahue, Ozmun & Goodway

dam à medida que a criança cresce (Marsala e desse esforço combinado é um leve movimento
VanSant, 1998). de deslizamento para a frente (Fig. 8.3). As per­
nas em geral não são usadas nessas primeiras
tentativas de rastejar. O rastejar aparece nos be­
LOCOMOÇÃO
bês em torno do sexto mês, mas podem surgir
O movimento do bebê no espaço depende das bem antes, lá pelo quarto mês.
capacidades emergentes de lidar com a força da
gravidade. A locomoção não se desenvolve in ­ Engatinhar
dependentem ente da estabilidade; a primeira
O engat i nhar evolui a partir do rastejar e, m ui­
baseia-se muito na segunda. O bebê apenas será
tas vezes, chega a um a forma bastante eficiente
capaz de movimentar-se livremente quando ti­
de locomoção para o bebê. O engatinhar difere
ver mestria nas tarefas desenvolvimentais rudi­
do rastejar pelo fato de que pernas e braços são
mentares da estabilidade. A seguir abordamos as
usados em oposição. As primeiras tentativas do
formas mais freqüentes de locomoção em que o
bebê de engatinhar são caracterizadas por m o ­
bebê se envolve enquanto aprende a lidar com a vim entos deliberados de um m em bro de cada
força de gravidade. Essas formas de locomoção vez. Q uando a proficiência do bebê aumenta, os
também estão resumidas na Tabela 8.2. movim entos tornam -se sincrônicos e mais rá ­
pidos. Os engatinhadores mais eficientes usam
C o n c e ito 8 .4 um padrão cont r alateral (braço direito e per­
na esquerda). Certos indícios sugerem que os
O desenvolvimento de capacidades locomotoras ru­ bebês que pularam o rastejar e passaram dire­
dimentares fornece ao bebê recursos para explorar tam ente ao engatinhar eram m enos eficientes
um m undo em rápida expansão . nos movimentos de engatinhar do que aqueles
que haviam experimentado primeiro o rastejar
Rastejar (Adolph,Vereijken e Denny, 1998).Ver na Figura
Os movimentos de rastejamento do bebê são as 8.4 a representação visual do engatinhar contra­
primeiras tentativas de locomoção propositada. lateral.
O r a stej a r evolui à medida que o bebê adqui­
re controle dos músculos da cabeça, do pescoço Marcha ereta
e do tronco. Na posição pronada e usando um A aquisição da marcha ou do andar na posição
padrão homolateral, o bebê pode alcançar um ereta depende da estabilidade do bebê. Em pri­
objeto à sua frente, tirando a cabeça e o peito meiro lugar, o bebê precisa ser capaz de contro­
do chão. Ao voltar, os braços estendidos a em ­ lar o corpo na posição de pé, antes de manejar
purram de volta na direção dos pés. O resultado as mudanças posturais dinâmicas necessárias à

I Seqüência desenvolvimental e idade aproximada do surgimento de capacidades


locomotoras rudimentares

Idade de surgimento
Tarefas de locomoção Capacidades específicas aproximada

Movimentos horizontais Rastejar sentado Terceiro mês


Rastejar Sexto mês
Engatinhar Nono mês
Andar de quatro Décimo primeiro mês
Marcha ereta Andar com apoio Sexto mês
Andar com alguém segurando as mãos Décimo mês
Andar com a condução de alguém Décimo primeiro mês
Andar sozinho (mãos para cima) Décimo segundo mês
Andar sozinho (mãos para baixo) Décimo terceiro mês
Compreendendo o Desenvolvimento M oto r 163

Figura 8.3
Rastejar.

Figura 8.4
Engatinhar.

locomoção na posição ereta. As primeiras te n ­ Enquanto a maturação do sistema nervoso


tativas de andar com independência costumam central é extremamente im portante para o ad ­
acontecer em algum m om ento entre o décimo vento do andar, outros fatores orientados para
e o décimo quinto mês e são caracterizadas por o indivíduo, como as qualidades elásticas dos
um a base de apoio, pés virados para fora e joe­ músculos, as propriedades anatômicas de ossos
lhos levemente flexionados. Esses primeiros m o­ e articulações e a energia transmitida aos m em ­
vimentos de andar não são sincrônicos e fluidos. bros que se movem, servem de sistemas inte­
São irregulares, hesitantes e desacompanhados rativos críticos (Thelen, 1992). Fatores am bien­
de movimentos recíprocos dos braços. Foi d e­ tais adicionais, como o estímulo e a assistência
monstrado que, enquanto aprendem a andar, os dos pais e a disponibilidade de móveis para se
bebês exibem padrões de cocontração em vários apoiar, podem contribuir para o m om ento de
grupos musculares da parte inferior do corpo. surgimento do andar independente.
Os grupos musculares agonistas e antagonis­ Shirley (1931) identificou quatro estágios
tas são ativados ao mesmo tempo, na tentativa pelos quais passa o bebê enquanto aprende a
de m anter a estabilidade do corpo (Okamoto e andar sem ajuda:"(a) um periodo inicial de pi­
Okamoto, 2001). sar, em que se faz um leve progresso (3 a 6 me-
164 Gallahue, Ozmun & Goodw a y

DlLEM A DO DESENVOLVIMENTO

O engatinhar faci l ita a organização em 1982 e de novo em 1999 a American Acade­


n e urol ó gica. Ou a promove? my o f Pediatrics tenha declarado que os programas
de tratam ento de padrão neurológico não têm ne­
Tem havido considerável questionam ento sobre a
nhum mérito especial e que as afirmações de seus
im portância do engatinhar no desenvolvim ento
proponentes continuam sem provas. Na verdade,
m otor da criança e sobre o método "adequado" de
a academia é enfática ao condenar os tratamentos
engatinhar. O princípio da organização neurológica,
de padrão neurológico, dizendo: "Esse tratam ento
com frequência chamado de padrão neurológico,
baseia-se em uma teoria de desenvolvimento do cé­
creditou grande importância às técnicas adequadas rebro antiquada e extremamente sim plificada". In­
de engatinhar e rastejar como um estágio necessário fo r mações atuais não sustentam as afirmações dos
à aquisição da dominância hemisférica cortical. proponentes de que esse tratam ento é eficaz, e o
De aco rdo com o princíp io da dominância, é ne­ seu uso continua sem garantias.
cessário um lado do córtex para a organização neu­ O desenvolvimento do cérebro é complexo, e o
rológica apropriada. Uma organ ização problemática, desenvolvimento m otor inicial, durante o período
supõe-se, causa problemas motores, perceptivos e do bebê, desempenha papel im portante, mas ain­
de linguagem na cr iança e no adulto. da indeterminado. Os dados atuais, entretanto, não
Durante anos, neurologistas, pediatras e pes­ sustentam as afirmações feitas pelos adeptos da
quisadores da área do desenvolvim ento infantil teoria da dominância hemisférica e pelos advogados
ataca r am vigorosamente essa hipótese. Porém, ela da padronização, que insistem em que o engatinhar
continua a surgir como tópico de discussão em rela­ "apropriado" é necessário à organização apropriada
ção aos programas de estimulação do bebê, embora do cérebro.

ses); (b) um período de ficar de pé com ajuda (6 seção, apenas os aspectos básicos da m anipu ­
a 10 meses); (c) um período de andar conduzido lação - alcançar, pegar e soltar - serão consi­
por alguém (9 a 12 meses); (d) um período de derados.
andar sozinho (12 a 15 meses)" (p. 18). À pro ­ Como nas seções sobre estabilidade e loco­
porção que o bebê passa por cada um desses moção, aqui as capacidades de manipulação do
estágios e progride em direção a um padrão de bebê podem ser suscetíveis a surgimento preco­
andar maduro, ocorrem várias mudanças. Em ce, embora o processo seja bastante influenciado
primeiro lugar, a velocidade do andar acelera-se pela maturação. Q uando está pronta em termos
e o tam anho do passo aum enta. Em segundo, de maturação, a criança beneficia-se de opor­
a largura do passo aum enta até que se estabe­ tunidades iniciais para praticar e aperfeiçoar as
leça o andar independente e depois decresce capacidades de manipulação rudimentar.
um pouco. Em terceiro lugar, a eversão do pé A seguir, estão os três passos gerais em que
diminui de modo gradual, até que os pés fiquem se envolve o bebê durante a aquisição das ca­
bem apontados para a frente. Em quarto lugar, a pacidades de manipulação rudimentar. A Tabela
marcha com andar ereto aos poucos se suaviza, 8.3 fom ece um resumo da seqüência desenvolvi­
0 com primento do passo torna-se regular, e os mental e a idade aproximada de surgimento das
movimentos do corpo, sincrônicos. Logo depois capacidades de manipulação rudimentar.
de alcançar o andar independente, a criança de
1 a 3 anos vai experimentar o andar para os la­
dos, para trás (Eckert, 1973) e na ponta dos pés
(Bayley, 1935). A emergência das capacidades de manipulação ru­
dimentar possibilita ao bebê em desenvolvimento o
primeiro contato com objetos no ambiente imediato.
M A N IP U L A Ç Ã O
Como acontece com a estabilidade e a locomo­ Alcançar
ção, as capacidades manipulativas do bebê evo­ Durante os quatro primeiros meses, o bebê não
luem ao longo de um a série de estágios. Nesta faz movimentos de alcançar em relação a o b ­

Você também pode gostar