Você está na página 1de 3

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _____ VARA DO JÚRI DA

COMARCA DE ___________, (1)

Maria, já qualificada nos autos da ação penal n o _____, que lhe


move a Justiça Pública (2) , por seu advogado que esta subscreve, não se conformando
com a respeitável decisão que a pronunciou, vem, respeitosamente, perante Vossa
Excelência, interpor

RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

com fulcro no art. 581, IV, do Código de Processo Penal. (3)

Requer seja recebido e processado o presente recurso e, caso


Vossa Excelência entenda que deva ser mantida a respeitável decisão, que seja
encaminhado, com as inclusas razões, ao Egrégio Tribunal de Justiça (4).

Nesses termos,
pede deferimento.
(local e data).
_______________________________
advogado – OAB no
RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

RECORRENTE:Maria
RECORRIDA: Justiça Pública
PROC. No _______
Egrégio Tribunal de Justiça, (5)
Colenda Câmara,
Douto Procurador de Justiça,

Em que pese o indiscutível saber jurídico do Meritíssimo Juiz “a


quo”, impõe-se a reforma de respeitável sentença que pronunciou a Recorrente, pelas
razões de fato e de direito a seguir expostas:

I – DOS FATOS

Por ter, supostamente, praticado aborto, com a autorização da


gestante, a Recorrente foi denunciada, sendo processada e ao final pronunciada pela
conduta descrita no art. 126 do CP.

A vítima não foi submetida a exame de corpo de delito.

II – DO DIREITO

Com efeito, o Meritíssimo Juiz “a quo” deixou de cumprir o art.158


do Código de Processo Penal, que estabelece que :

“Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame


do corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a
confissão do acusado.”

O aborto consiste na interrupção da gestação e, se esta não


resultar rigorosamente demonstrada, não há que se falar no delito do art. 126 do Código
Penal, mesmo que o tenha confessado a Recorrente, uma vez que a experiência tem
demonstrado que à confissão não se pode, nem se deve, atribuir absoluto valor probatório.

Dessa forma, torna-se imprescindível a comprovação da autoria e


da materialidade do aborto, não se podendo submeter a Recorrente, ao julgamento do
Tribunal do Júri, sem esclarecimento de laudo pericial baseado em exame de corpo de
delito.

Nesse raciocínio, o mestre E. Magalhães Noronha preleciona no


sentido de que:
“ O exame do corpo de delito é, destarte, o meio material que
comprova a existência do fato típico. É ele indispensável no
processo, diz o art. 158 do Código, que o declara nulo quando, nos
delitos que deixam vestígios, não for tal exame realizado (art. 564,
III, “b”). A exigência do Código é imperiosa, não admitindo que
ele seja suprido pela confissão do acusado” ( Curso de Direito
Processual Penal, Editora Saraiva, 27ª edição, pág. 134).

Na trilha desse entendimento, é pacífica a jurisprudência,


que diz:
“A realização do exame de corpo de delito é indispensável no
processo relativo a crime que deixa vestígio, como o aborto, sem a
possibilidade de ter-se consumado sem que os vestígios sensíveis
ficassem. Sua falta acarreta nulidade do processo, nos termos do
arts. 158 e 564, III, “b”, do CPP” (TJSP-AC-Rel. Adriano Marrey
-RT448 / 321).

Não comprovada nem a gravidez, nem a existência do feto


sacrificado, é impossível a persecução penal, e, com muito maior razão, mostra-se inviável
a subsistência do decreto de pronúncia, já que deparamos com crime material.

III – DO PEDIDO

Diante do exposto, requer seja conhecido e provido o presente


recurso, impronunciando-se a Recorrente, nos termos do art. 414 do Código de Processo
Penal e expedindo-se contramandado de prisão em seu favor, como medida de inteira
justiça.

(local e data).
_______________________________
advogado – OAB no

(1): Nesse caso o crime é doloso contra a vida e por isso a interposição do recurso em
sentido estrito deve ser feita ao Juiz da vara do júri. Outros endereçamentos possíveis são:
– se o crime for da competência da Justiça Estadual e não for doloso contra a vida:
“Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ___ Vara Criminal Comarca de _______”
– se o crime for de competência da Justiça Federal: “Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz
Federal da ___ Vara Criminal da Justiça Federal da Seção Judiciária de _______”
(2): Se a ação for privada, não se deve mencionar a justiça pública e sim a parte contrária.
(3): O fundamento do recurso em sentido estrito pode ser um dos incisos do artigo 581 do
CPP, o artigo 294 do Código de Trânsito, o artigo 44 da Lei 5.250/67, o artigo 6 o da Lei
1508/51 ou ainda o artigo 2o do Decreto-Lei 201/76.
(4): Se a competência fosse federal, deveria ser remetido o recurso ao Tribunal Regional
Federal.
(5): Idem ao item anterior. Lembrar que se a competência fosse da Justiça Federal a
saudação seria: “Egrégio Tribunal Federal; Colenda Turma; Douto Procurador da
República.”

Você também pode gostar