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Processo Civil III

Aulas Teóricas
INTRODUÇÃO

Processo Executivo – meio compulsório de cumprimento, sendo uma expressão do direito de ação
(20º, nº4, CRP), sendo a sua finalidade a realização coativa da prestação (ou seja, atua-se no
processo executivo, enquanto se discute/decide no Processo Declarativo). Não comporta
contradição mas pode haver oposição – que não faz parte do processo em si)1, é decidido perante
um órgão não jurisdicional que é o agente de execução.
A execução pode ser:
1. Singular – proposta p/ 1 exequente contra 1 executado
2. Universal – processo de insolvência
Atualmente temos a execução mista restritiva que consiste num meio termo, aquando são notificados
os credores reclamantes.
É na AE que é exercido um direito à prestação do credor, caso esteja garantido por uma garantia
real, valendo no processo executivo nos termos do 604º, nº1, nº2 – extinção da garantia pela venda
executiva.
Há um certo monopólio estadual para a ação executiva, uma vez que será deduzida a coação e até
a coerção, detendo o Estado o monopólio do ius imperium. Conforme decorre dos 817º, seguintes
do CC encontram-se regulados a ação de cumprimento e de execução, sendo que no 817º e 818º
há a previsão do direito de execução ( direito do credor contra o devedor, como agressão do
património), sendo que este não pode ser realizado a não ser recorrendo ao ius imperium do Estado.
O credor tem direito à execução, e não um direito de execução que pertence ao Estado.
Há duas execuções específicas que decorrem do 827º/CC e duas execuções não específicas (v.g.
prestação de facto infungível).

São elementos da execução:


1. Partes – 786º/CPC – intervenção de outros credores + cônjuge doo executado
2. Objeto – prestação + direito de executar o património de devedor ou 3º
À partida no Processo Executivo nada haverá a discutir, uma vez que os atos processuais consistem
em atos constitutivos/atuações e não em atos postulatórios como ocorre no processo declarativo.

A pretensão deve constar num título executivo (713º/CPC), sendo os requisitos da obrigação
exequenda:
1) Exequibilidade intrínseca;
2) Exequibilidade Extrínseca – que conste de 1 título executivo (703º CPC: não tem de ser
apenas sentenças de condenação, podendo ser títulos de crédito, documentos autênticos ou
autenticados.
Quanto às formas de processo:
1. Comum (forma única)
2. Especial (ordinária ou sumária)
546º/nº1/CPC

CARATERÍSTICAS DO PROCESSO EXECUTIVO


Não tem uma estrutura contraditória, ainda que a acolha de certa forma – havendo a possibilidade
de oposições, como é o caso de processos declarativos em anexo sem o integrarem
verdadeiramente como será o caso:
1) Embargos de terceiros
2) Oposição à penhora

1 Processo declarativo é decidido perante 1 órgão jurisdicional = tribunal


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3) Reclamação de créditos – especialização da execução que visa assegurar a prestação do


credor
É um processo formal, sendo que a existência de um título executivo é suficiente para o exequente
o instaurar, e para subsequentemente se afetar o património do executado. A execução tem um
caráter coativo que advém das sanções no processo, eventualmente também coerção em caso de
resistência. Tem um caráter descentralizado, uma vez que desde 2003 quer o Tribunal e o Agente
de Execução sendo este último o principal órgão de execução, resultando a repartição do 719º/CPC
e 729º quanto à competência do juiz – exemplo: decisão de tais processos declarativos anexos. É
regido pela transparência patrimonial, satisfazendo a pretensão do exequente, caso o agente de
execução não encontre bens penhoráveis, o executado será notificado para identificar com as
determinadas consequências conforme o 750º, nº1, CPC. Para além demais, temos que ter em
contra a publicidade das execuções pendentes ou insatisfeitas (quando não haja bens penhoráveis)
pela utilidade que esse conhecimento gera – publicidade estrita no CPC mas já lista pública de
execuções em Decreto Lei Especial.

PRINCÍPIOS PROCESSUAIS
 Dispositivo: o processo encontra-se na disponibilidade das partes, por iniciativa do
exequente, inclusive existência de negócios substantivos celebrados entre as partes reflexos
no Processo Executivo, 602º/CC convenção quanto aos bens que podem responder pelas
dívidas ainda 806º e 810º para extinguir a própria execução, mas não tudo na disponibilidade
das partes uma vez que quanto aos títulos executivos, o elenco é taxativo;
 Cooperação: manifestações com particularidades como é o caso do 726º, nº4, possibilidade
de o tribunal convidar o exequente a aperfeiçoar o requerimento executivo, dever de
cooperação do executado por exemplo quanto à transparência patrimonial;
 Gestão Processual: não encontra grande expressão, exceto quanto à execução de facto
negativo ser objeto de execução, conforme os poderes de gestão processual à medida do
caso concreto;
 Ponderação de interesses: entre exequente e executado, prevalecem os interesses do credor
sobre os do executado, favor creditoris ex.: possível executar uma decisão ainda não
transitada em julgado, mas não deixa de o executado tutela nos termos dos seus direitos
fundamentais
 Juízo de proporcionalidade: face a proteção do executado ex.: habitação de família, despejo
versus carência económica, também haverá proporcionalidade nas medidas executivas – ex.:
na penhora, limitada nos bens necessários para liquidar a dívida e as despesas do processo;
 Ponderação de interesses entre exequente e terceiros: no concurso de credores, sendo que
em termos de Direito Comparado ( Espanha, apenas singular; França/Itália todos, mas
alguns; em Portugal 786º, nº1, alínea b) CPC sendo citados para a execução os credores
que sejam titulares de direitos reais de garantia sobre o bem penhorado, é uma solução
intermédia, sendo que tem ónus sob pena de perder a hipoteca
 Responsabilidade do exequente no âmbito do processo sumário a regra é a citação
posterior à penhora do executado, benefício concedido ao exequente, se após isso
descobrirmos que é indevida 866º/CPC – responsabilidade destes pelos danos
culposamente causados ao executado, eventualmente multa
[ isto deve-se ao facto de não devermos facilitar a penhora de bens, em especial imóveis na
maioria dos casos executado já se encontra em situação económica difícil – ex.: executado
paga empréstimo bancário para casa de habitação, preterição das outra dívidas sendo que
este credor ação executiva para pagar, só tem essa habitação, caso este credor o execute já
não será apenas a execução da dívida mas fica sem casa, será sempre preferível a penhora
temporária do salário).

ÓRGÃOS DE EXECUÇÃO
A ação executiva:
1. Tribunal
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2. Agente de execução – é quem tem a direção processual, sendo o ius imperium em nome do
Estado (* antes quem detinha era o funcionário judicial que praticava atos materiais sob a
orientação do juiz declarativo e simultaneamente responsável pelos atos de execução)
Esta mudança de paradigma (*) deu-se com a revisão do CPC em 2003, havendo uma “privatização
da execução” segundo o Lebre Freitas o solicitador da execução hoje é o agente da execução;
contudo houve uma inspiração no modelo francês que consiste num profissional liberal que de forma
privada realiza atos de ius imperium.

Em termos orgânicos houve a criação de uma figura privada, que é indispensável para o processo
executivo, sendo parte de uma ordem profissional – “Solicitadores e Agentes de Execução” com
cédula Profissional Lei n.º 154/2015. São tidos como auxiliares de justiça, sujeitos a fiscalização por
parte de uma entidade administrativa externa.

Nem sempre estaremos no âmbito deste estatuto quando o Estado for o exequendo não se verifica
o agente de execução; ex.: dívida laboral até 30.000 euros oficiais de justiça e não agentes de
execução conforme resulta do 722º/CPC.
O estatuto conferido pela ordem profissional regular as formas de acesso à profissão, regime de
incompatibilidade e impedimentos, sujeitos a um conjunto de dever gerais: legalidade e justiça;
imparcialidade e independência; diligência; informação; sigilo e organização. Por norma designada
pelo exequente, o AE não o represente, não é seu mandatário. É importante o 721º, nº1 que trata os
honorários devido ao AE e pagamento por reembolso das despesas (tudo isto suportado pelo
exequente), que depois integram as custas de parte que serão pelo executado, aqui quanto às
custas:

 533º, nº2, c) – quando não tenha fundos


 735º - a penhora vai abranger estes honorários

Caso a penhora não chegar, possível ação à parte para reaver as custas ao executado. Rui
Pinto questiona a constitucionalidade do excesso destas custas

Portaria nº 282/2013 – conjunto de normas que estabelecem os valores, com tabelas anexas, x valor
ao início e depois vislumbrada fase a fase, se deixar de pagar as custas do AE então isto extingue-
se.

A ação executiva inicia-se com o 1º pagamento

P/ além da renumeração fixa, temos uma variável percentual consoante o dinheiro recuperado ou
garantido na ação.

Como designamos o AE? É escolhido pelo exequente aquando elabora o requerimento executivo
(720º, nº1 CPC), caso não o escolha a secretaria do Tribunal irá escolher aleatoriamente com base
na lista oficial // havia considerações do AE ser tido como mandatário do exequente devido a
possibilidade de escolha contudo o Professor Rui Pinto considera que tal não é assim. // Após a
designação, o AE poderá recusar-se passado 5 dias (720º, nº8) e se não aceitar, haverá designação
eletrónica. Podemos substituir o AE quando este morre, incapaz ou cessa funções, assim como
motivos disciplinares averiguados pela comissão de fiscalização sendo sancionado e afastado do
processo; não pode ser destituído pelo juiz, mas pode ser destituído pelo exequente 720º, nº4
CPC por declaração unilateral – RP critica por faltar a tal imparcialidade. O AE tem competências
pré-executivas no procedimento extra judicial pré executivo conforme resulta da Lei 34/2014 pode
procurar bens para satisfação da dívida, incentivando ao cumprimento e como forma de prevenção
da ação executiva que pode culminar na constância do nome da lista dos devedores, caso ñ sejam
encontrados bens, terá de haver uma certidão que declara a dívida incobrável, e caso AE seja
sorteado = recuperação do IVA.
Quanto às competências executivas 719º, nº1 que atribuí a direção do processo, tida como um poder
expansivo, incluindo todas as matérias de penhora, mesmo quando a lei não o determina, conquanto
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se for em termos constitucionais jurisdicional ou atribuída por lei ao Tribunal ou secretaria não caberá
ao AE, sendo que quanto a este último também é de conhecimento oficioso.
O Juiz da Execução tem 1 competência típica e nominada. O AE tem essencialmente competência
executiva (ius imperium) mas pontualmente também não executiva como é o caso da apreciação
liminar do requerimento executivo na forma sumária nos termos do 852º/CPC podendo deferir
despachos (ex.: de fixação da modalidade de venda): Os atos do AE sujeitos as regras gerais dos
atos processuais em termos supletivos 130º/CPC e ainda serão aplicáveis as que regulam os atos
decisórios do juiz; são impugnáveis pelo regime de nulidades processuais (falta de citação 195º
CPC exemplo), regimes próprios para alguns atos (penhora, meios de oposição – incidente de
oposição, embargo de terceiro) assim como através do 615º/CPC nulidades de decisão, ex.:
falta/excesso de pronúncia, falta de fundamentação. // Naquilo que não estiver abrangido por estas
vias, há 1 meio residual de impugnar: reclamação dos atos e decisões do AE 723º, nº1, c) sendo
tal mecanismo mesmo residual, abrangendo qualquer ilegalidade que não esteja prevista, é a única
via quando violado norma de estatuto de regulamento de execução, forma de recorrer das decisões
do agente de execução face a erro de direito ou de facto. O AE ainda que entidade privada atua em
nome do Estado, mandatário deste e NÃO do exequente – 162º Estatuto da OSAE. É tido como
prossector do interesse público exercendo poderes de autoridade, respondendo o Estado em termos
civis pela atuação do AE (o exequente só responderá se proceder à escolha intencional de AE para
x finalidade).

Processo deserto: quando por culpa do exequente esteja “deserto” por mais de 6 meses, mas já não
será assim se for por culpa do AE.
Os atos do AE são administrativos.

Como suspendemos a execução?? Por variadas situações: a execução provisória; sentença não
revogada em julgado; revogado pela relação e suscetível de recurso para o supremo; suspensão da
execução em função do embargo. Extingue-se com os fundamentos do 849º/CPC:
 Satisfação da pretensão do exequente ou com a falta de pagamento das quantias devidas
nos termos do 721º, nº3 CPC podendo nem chegar a iniciar-se;
 Revogação da 1ª Instância por decisão definitiva do Supremo;

Como se renova a execução? A lei prevê em 3 casos no 850º CPC


i. Título executivo com trato sucessivo – respeitante a prestações vencidas e vincendas
posteriores ao início da execução
ii. Não seja vendido bem para satisfação da garantia real por satisfação do crédito por outra
via, outro credor que tenha sido preterido face à garantia pode requerer a renovação;
iii. Quando encontrados bens penhoráveis, extinta uma ação face à falta deles;
Na hipótese de a execução visar a entrega de uma coisa, será execução específica direta (regulada
no CC), mas em todas as outras execuções – prestação de facto fungível, negativo ou pagamento
de quantia – temos que liquidar determina quantia para que ora o facto seja prestado à custa do
devedor, para que não o seja à custa desta ou para remeter essa quantia (produto de venda dos
bens) paga aos devedores.

Execução de quantia certa comporta 4 fases:


1) Fase inicial: entrega do requerimento executivo;
2) Fase da Penhora
3) Venda Judicial
4) Pagamento
As outras apresentam certas especificidades.

TRAMITAÇÃO DO PROCESSO EXECUTIVO


551º, nº1 – subsidiariamente aplicamos o processo declarativo. No processo executivo o
paradigmático é o pagamento de quantia certa [551º, nº3 + 859º - forma ordinária) // As execuções
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especiais aplicar-se-á em tudo o que não estiver previsto o regime comum: especificidades nos casos
de recurso 853º, 854º - tramitação será eletrónica.

Aspetos do Processo – Execução para Pagamento de Quantia Certa


A tramitação (forma ordinária):

1 – Fase inicial

 Entrega na secretaria do requerimento executivo, é um formulário eletrónio a ser preenchido


pelo mandatário judicial, cujos elementos constam do 724/6 // quanto a recusa 725º por
questões formais

 Se nada for objetado ao seguimento do requerimento executivo remetido ao juiz para


despacho liminar sendo a regra geral, havendo a possibilidade de reclamação dirigida ao juiz
de execução para recusa do requerimento

 Despacho do juiz pode ser indeferimento nos termos 726/2 quanto a questões substanciais,
de remessa para o tribunal competente – 104º / 105º incompetência relativa de
conhecimento oficioso; aperfeiçoamento 726º, nº4 ou citação do executado 726º, nº6,
CPC

 A citação do executado pode ser realizada num moimento prévio da ação executiva, quando
seja necessário tornar a obrigação do exequente exigível e líquida // citação prévia do
executado em relação ao momento da penhora, mas mesmo no processo ordinário 727º CPC
é possível ao exequente pedir dispensa de citação prévia do executado aquando receio
fundamento de dissipação do património do executado, ocorrendo após a penhora – isto traz
problemas de se interromper a prescrição com a citação 322º/2/CC sendo a escolha do
exequente entre o risco da prescrição (antes da citação) versus salvaguarda da posição
através de uma “execução surpresa”

MTS afirma ser possível compatibilizar com o 323º, nº1/CC porque a própria formulação do
pedido de dispensa da citação prévia do executado pode ser entendida como ato que exprime
a intenção de exercer 1 direito de crédito, e aí se dará a interrupção

A citação do executado visa opor-se à execução (e caso mencionados à penhora), a citação


será pessoal conforme o 719º, nº1 e 726º, nº8 compete ao AE.

 Quanto a contradição do exequente 728º, nº1 CPC por via dos embargos da execução 20
dias a contar da citação ou do processo declarativo, sendo possível o contraditório nos termos
do 734º ainda que tal não se tenha verificado, poderá o juiz com base em situações de
conhecimento oficioso, tomar em conta causas de oposição até à 1ª transmissão de um bem

2 – Fase de Penhora dos bens do executado

335º, nº1 – respondem quaisquer bens do executado passíveis pela dívida 601º/CC // o inicio da
penhora varia 748º, nº1 CPC e tem quatro momentos diferentes do início da mesma:

i. 724º, nº1, l) e nº3 – quando o exequente indica quais os bens suscetíveis de penhorados,
que nos termos do 751º/CPC o AE deve seguir, a menos que violem indicação norma
legal imperativa, princípio da proporcionalidade da penhora ou regra de economia
(penhorar o que for + fácil para satisfação do crédito
ii. Falta de indicação 748º, nº2 deve o agente de execução consultar o registo 717º/CPC
conforme a situação da execução:
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 Se não encontrar nada – execução previa/atual contra o executado – o agente tem


de inscrever a execução no registo
 Pelo 749º/CPC deve procurar aferir os bens do executado, p/ via da consulta
direta – base de dados – 749º, nº1, CPC - ou indireta 749º, nº6 ex.: consulta ao
banco que detenha a conta do executado;
 Não se encontrando bens executáveis (de todo) o 750º, nº1 CPC determina que
o exequente seja notificado para indicar bens suscetíveis de serem penhorados,
sendo que nº2 prevê a extinção quando tais razoes não sejam indicadas (*)
(*) solução introduzida na crise da Troika, sendo que o professor afirma que sim, que é uma boa
ideia porque há imensas execuções pendentes no nosso país.

Caso o AE no registo identifique que está pendente outra execução contra = executado, através das
consultas prévias do 749º, nº1 afere ainda os bens. Quando haja extinção da 1ª Execução contra o
= executado devido a falta de pagamento integral 751º/CPC o exequente vai ser notificado dessa
situação, e na falta de bens penhoráveis 748º, nº3 CPC; caso encontre bens precede a 1ª, e só
depois a 2ª; caso o exequente da 1ª não queira prosseguir, o 2º pode substituir-se a este.

3 – Fase da Graduação de Créditos

Depois da penhora de bens determinados, vão ser realizadas as citações – quando o executado não
tenha sido citado antes (se já antes notificado) – ex.: penhorado bem comum para pagamento de
dívida própria, citação do cônjuge do executado; credores (e apenas estes) que detenham garantias
reais sobre os bens executados para poderem reclamar os seus créditos;

4 – Fase da Venda

Venda dos bens penhorados, e após a obtenção da quantia, irá ocorrer o pagamento – PRIMEIRO
pelas custas do AE, depois exequente, e por fim aos credores reclamantes, não esquecer do 796º,
nº2 porque a graduação de créditos marcante, em teoria poderá também suceder o exequente nada
receber; depois também poderá haver recursos analisados numa fase posterior

Processo Sumário:
i. importa o 855º, nº1: uma vez verificada a entrada do requerimento executivo no tribunal
por via eletrónica;
ii. Enviado ao AE nomeado que pode recusar/aceitar – no caso de exceção dilatória, pode
este suscitar decisão de juiz = incompetência/ilegitimidade
iii. Penhora
iv. Citado o executado para se opor à execução e à penhora, diferentes motivos para cada
uma, ambos ou apenas para 1 delas, no prazo de 20 dias conforme resulta do 856º, nº1
– há uma exceção aquando execução dos próprios autos em que foi proferida nos termos
do 626º/CPC a execução segue a forma sumária e notificação do executado, citado para
ação declarativa;
v. 855º, nº5 de forma a não se penhorar bens que agridam especialmente, se titulo executivo
extrajudicial 550/2/d) não é titulo tao forte como sentença, permite sumária, determinados
bens (Como os imóveis) só serão penhorados depois da citação do executado
Outras formas de execução

Execução para entrega de uma coisa


861º e seguintes: 862º (coisa arrendada + regime de arrendamento urbano) = específica. O
faseamento é o seguinte:
i. Entrega do requerimento executivo 859º, 860º
ii. Entrega voluntária ou oposição do devedor, que poderá requerer as benfeitorias a que
tenha direito 860º, nº3 (devidas em processo de execução, apenas reconhecidas no
processo declarativo, na reconvenção)
iii. Não havendo entrega, o AE tem diligencias necessárias para que se verifique
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iv. 786º, nº1, a) – por analogia para norma prevista para a execução para pagamento de
quantia certa, quando necessário consentimento do cônjuge sob a alienação do imóvel
por exemplo;
Caso 3º com posse da coisa: o professor considera que depende entre uma ponderação entre o
direito do exequente e possuidor: DR > DOBRIGACIONAL. Quanto à entrega de coisas:
Móveis – vale o 861º e 755º a coisa é entregue ao exequente;
Imóveis – o exequente é investido na pose desse bem 861º, nº3, contudo excecionalidade
quando:
 Imóvel e o executado o ocupe como arrendatário, terá que o excuta proteção de arrendatário
863º, nºç1 e 864º, nº1 razoes de especial carência económica ou saúde obstam à
desocupação
 Imóvel arrendatário é terceiro, aplicamos o 863º, nº2
Caso não conseguimos encontrar a coisa a entregar (inexistente) ocorre a conversão da execução
através do 867º, ainda que saiba que a coisa não existe, será de entrega de coisa certa convertida
a pagamento de quantia certa.

Execução para prestação de facto

Regra fundamental: ninguém é obrigado a cumprir a prestação de facto (v.g. pintar 1 quadro), poderá
ser de facere/fungível ou não ou non facere/infungível.
Quando facto fungível ocorre à custa do devedor quando este não queira realizar por via de terceiro
868º/CC diferentes resultados quando perda de interesse do credor = quantia equivalente, mas na
mesma AE. Ainda quando não haja prazo para tal prestação 874º, 875º sendo que o nº2 deste fixa
um prazo preliminar, possível de articular com 874º, nº2. A tramitação é a seguinte:
i. Fase inicial – pedido do exequente e eventual oposição
ii. Se não houver oposição ou improcedente, custo da prestação de facto 870º, 869º, 868º,
867º e quantificação da indemnização;
iii. Realização de facto por 3º em certos casos 871º o próprio exequente se poderá oferecer
para realizar o facto
Se facto infungível admissível nos termos do CC uma compensação compulsória pecuniária 229º,
alínea a) CC, o 626º CC referente baseada em sentença estabelece no nº4 especificidades dessa
execução, não sendo fixado prazo aplicamos 874º e 875º; havendo prazo i) fase inicial –
requerimento + oposição eventual após citação; ii) conversão desta execução numa de pagamento
de quantia devida 869º/CC -> + regime de tramitação dessa.

Caso seja um facto negativo que tem como fim último a remoção do que decorra da obrigação ex.:
prédio construído, antes obrigação de não construir 876º, b) e c); restituição da situação anterior caso
não seja possível é devida apenas 1 indemnização 876º e 877º CC. Caso seja possível: demolição
da obra, indemnização e pagamento de sanção pecuniária compulsória se for infungível. Compete
ao exequente reconstituição da situação. Os deveres de gestão processual e omissão que não os
expressamente.

Procedimentos especiais – procedimento extrajudicial pré-executivo – o professor afirma muito


complexo, apesar da relevância prática nomeadamente permitir ao agente apurar com custos
reduzidos se o devedor detém bens suscetíveis de ser penhorados em processo de execução, se
deixa ou não.

CONDIÇÕES DE EXECUÇÃO

Professor MTS faz coincidir o objeto de ação executiva com o direito à execução nos termos do
817º/CC, o objeto de pretensão do credor. Sendo que 817º afirma que condições:
 Verificação de 1 sentença condenatória
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 Possibilidade de executar o património do devedor – ou seja, tem de haver uma violação de


obrigação para com o credor que irá gerar direito à execução
Considera ainda o direito à execução numa dimensão formal como condição de exequibilidade
extrínseca - direito que apenas se constitui com a existência de um documento/título executivo e
numa dimensão material como condição da exequibilidade intrínseca – direito a que o titulo se
refere, ou seja, uma obrigação exigível sendo que na sua conceção tal apenas depende de certas
condições como direito a 1 prestação; apenas a 1 obrigação atual (nunca futuras, usualmente
vencidas mas não necessariamente) [* ver posição de RP ]

Versus

Professor RP crítico desta posição quando no caso sejam direitos reais, em que não há 1 pretensão
prévia do credor, o direito à execução verifica-se quando haja violação de 1 direito dependente da
colaboração da outra parte contra a sua vontade. [*] determinada, liquidável, certa ou determinável
para efeitos de admissibilidade (RP – 732º, nº5)

Exequibilidade Extrínseca

Quando haja incumprimento de obrigação ou violação de Direito Real, há 1 direito constituído à


prestação que corresponderá ao exercício juntos dos tribunais do direito à execução, baseado num
título executivo. Segundo a doutrina maioritária tal documento determina a exequibilidade
extrínseca; segundo o Professor Rui Pinto é o documento que incorpora a causa de pedir na ação
executiva nos termos do 724º, alínea e) sendo os factos que fundamentam o pedido quando não
constem do título executivo.
Quanto às funções do TE não é de provar a causa de pedir (uma vez que tal interessa a declarativa,
na executiva não se visa uma sentença), mas sim representar a causa de pedir; tem a função de
causa constitutiva de direito à execução (vide 817º/CC + 10º, nº5 CPC); função delimitadora do objeto
e dos sujeitos de execução.
Os princípios que regem o TE são:
1) Tipicidade – só serão TE aqueles que a lei designa de forma expressa, não podem as partes
atribuir força executiva a documento que a lei não o faça;
2) Liberalidade
TE é dotado de suficiência, valendo por si mesmo como suporte à execução e de autonomia uma
vez que o documento tem força executiva independentemente de a obrigação ser exigível ou não, a
exequibilidade extrínseca é tendencialmente autónoma da intrínseca quanto as vicissitudes que
afetem 1 ou outra. Conquanto, face à questão de autonomia há situações em que tal não se verifica:
título formalmente nulo não haverá obrigação nem título; será uma nulidade substantiva de
conhecimento oficioso que inquinam a validade do título:
Ex.: Contrato celebrado por criança de 13 anos, problema de capacidade mas não afeta o título
porque o juiz não conhece; factos supervenientes que extinguem a obrigação e sejam de
conhecimento oficioso (Lebre Freitas afirma que implicará a extinção do TE).

Temos de atender às classificações do título executivo, uma vez que há diferenciação de regimes:
 Sentença Condenatória – 703º, nº1, alínea a) CPC sendo que toda e qualquer decisão
judicial que a título de mérito imponha 1 comando de atuação ao réu, que pode ser como
pedido único ou cumulado. Corresponde a uma ordem de cumprimento, de atuação
protagonizada pelo juiz que carece quando não seja acatada de forma voluntária, de uma AE
(≠ das sentenças constitutivas ou de simples apreciação, uma vez que estas duas últimas
são excluídas do âmbito deste TE, a menos que cumuladas, pois são sentenças unilaterais,
independentes da execução por via de colaboração do réu); também não incluí as sentenças
nas custas ou em matéria de litigância de má fé (705º) por não serem tidas como
condenações de mérito → Ex.: sentença de homologação de partilha de uma herança,
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constitutiva e não condenatória, contudo se reconhecer dívidas excecionalmente servirá de


título de execução; sentença para declarar A como credor de B é simples apreciação positiva
que reconhece crédito, não sendo executiva (TE) porque não condena no pagamento, apenas
reconhece. | ideia-chave: apenas se pode executar 1 dívida que não foi cumprida, e a única
sentença que afere o incumprimento é condenatória.
Discussão doutrinária sobre as SENTENÇAS IMPLÍCITAS } não obstante a qualificação
da ação cabe questionar se não se verificará subjacente uma dimensão condenatória – ex:
ação execução específica de Contrato-Promessa, não condenatória, mas se ulterior
incumprimento – estamos perante 1 TE implícito? O mesmo raciocínio perante a simples
apreciação positiva. Por outras palavras, consideramos TE o que vem expresso no título
ou não?
 Doutrina dominante } considera admissível em determinadas hipóteses, ou seja,
quando existam obrigações legais associadas à sentença em causa, como obrigações
automaticamente decorrentes da lei, sendo desnecessário fazer o pedido uma vez
que tal levaria a 1 cumulação aparente ou desnecessária, não carecem de ser
condenatórias, justificando-se no 703º, nº2 quanto aos juros de mora, afirmando ser
a tomada de posição do legislador
Rui Pinto } critico da supramencionada opinião, refere que o 703º, nº2 é uma posição quanto à
especificidade dos juros de mora, contudo a contrario não é aceitável condenações implícitas,
porque tal consequentemente levaria a desproporções no direito de defesa do devedor que apenas
se pode defender na ação executiva e não na declarativa, sendo que apenas admite em casos
excecionais se o interesse específico processual estiver em causa, sendo possível uma
condenação antecipatória (in futurum). Porquanto, o título abranger, tem de ser pedidas na ação
executiva (principio do dispositivo). E o 703º é omisso face aos juros remuneratórios ou
convencionais.
Ainda necessário referir as sentenças estrangeiras 706º, nº1 condenatórias que podem ser
executadas em Portugal desde que sujeitas a processo de revisão da sentença e confirmação
979º/CPC, não na EU. // Também é necessário termos em conta as sentenças homologatórias e
arbitrais; quanto as temporárias dependem de decisão de recurso é admissível? O artigo 704º
consagra que apenas quando transitadas em julgado, o 628º afirma que será executada a sentença
ressalvando que a cíveis não vêm em regra a sua eficácia condenatória suspendida (647º → efeito
meramente devolutivo → a menos que exceções ex.: 647º, nº5 (Garantia) – serão estas aceites,
dando a possibilidade ao devedor de prestar caução para suspender execução – se assim não o
fizer, há possibilidade de pedir que a casa de habitação não seja vendida, não podendo nenhum
credor receber dinheiro de venda de bens cuja decisão final inexista, caso o recuso ganho pelo
devedor em termos parciais a penhora será parcialmente levantada; se na totalidade a penhora é
totalmente levantada; problema: se os bens forem já vendidos ou AE ter terminado aplicamos o 839º
pedindo que a venda fique sem efeito = eficácia superveniente.

 Títulos executivos extrajudiciais – 703º, b) e c) CPC temos de distinguir entre os


documentos particulares e autênticos – exarados pelas partes ou por 1 entidade
administrativa (escritura pública, certificado de habilitações, testamento público). Dentro dos
documentos particulares } existem os simples (sem nenhuma intervenção pública), com a
assinatura e/ou a letra reconhecida (autenticado/documento sujeito a termo de autenticação
por notário, solicitador, advogado, autoridade dotada de poderes públicos), não terão forma
executiva sendo em regra títulos de crédito ≠ documentos autênticos e autenticados. Os
documentos podemos ser constitutivos ou recognitivos da obrigação e pode referir-se a
qualquer tipologia obrigacional. As obrigações que se encontram abrangidas pela alínea b
são qualquer documento privado abrange e serve como TE, ou seja aquilo que o
próprio enuncia mas possível força executiva para o obrigações implícitas que
automaticamente decorram da lei, Rui Pinto já o considera por as partes terem acordado no
negócio (ex.: contrato de arrendamento – não é necessário enunciação de todas as
obrigações que decorrem da lei, não abrangerá à data da entrega acordada); também é
possível que sirvam de TE para execução de obrigações futuras nos termos do 707º CPC
} é o caso de contratos preparatórios de contratos reais quoad constitutionem; segundo Lebre
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Freitas será o caso de contrato promessa, mútuo, depósito ou seja contrato preparatório de
mútuo, banco utiliza 1º título executivo para justificar outro TE; ex.: é preferível o 1º porque
tem hipoteca associada, contrato que demonstre levantamento de dinheiro, título como prova.
Cumpre ainda referir neste âmbito as eventuais como é o caso do banco obrigado a negociar
com o cliente maior empréstimo // quanto aos contratos de execução duradoura não se
encontram abrangidos p/ esta previsão (empreitada, fornecimento) pois a obrigação de
pagamento nasce com o 1º momento contratual ainda que não vencida até à entrega e assim
não 2 títulos executivos, não existe obrigação mas questão de exigibilidade de obrigação face
ao tipo (715º/CPC). | alínea c) } títulos de créditos que apesar de serem documentos
particulares (livrança, prazo de 3 anos, cheque prazo de 6 meses (VER LUL!) ) documentos
que incorporam o próprio direito de crédito sendo literais (nos limites das dívidas que
enunciam), abstratos e autónomos (não releva a validade de ato subjacente; sendo que o TE
crédito cheque apenas tem força executiva se verificados requisitos:
 Levado a pagamento em 8 dias a contar da data aposta no cheque
 Banco fazer protesto que houve (demonstrar) incumprimento [ jurisprudência que
defende que apenas após os 8 dias; a maioritária defende contudo que deixa de ter
força executiva se não nesses 8 dias)
 Após o término do prazo de 8 dias, 6 meses para a AE (exequibilidade rápida, após 6
meses, o direito prescreveu)
Após o decorrer desse prazo a dívida do cheque não será executada mas não
significa que o crédito se extinga passando a valer como reconhecimento de
dívida, confissão como devedor e é possível (ainda) uma AE com base em
cheque prescrito = causa da dívida constar do cheque, é indiferente o negócio
solene e apenas se mediata, ou seja já não vale se transmitida a terceira,
decorre de direito substantivo.

Pressupostos Processuais
Há 1 coincidência entre os pressupostos na AD e na AE. Sendo que na AE temos especificidades:
 Competência – 85º / 90º
 Patrocínio judiciário -58º
 Legitimidade – 53º, 55º, 57º
 Intervenção de terceiros – 54º
 Coligação das partes – 56º
 Cumulação objetiva – 709º
Se falta um dos pressupostos processuais insanáveis = indeferimento liminar do RE;
Se for sanável há convite sanatório nos termos do 734º sendo que o conhecimento dos pressupostos
processuais até ao 1º ato de transmissão de bens penhorados;

Quanto a possibilidade de conhecimento do mérito não obstante a falta de pressuposto processual,


é possível que tal se verifique ex.: falta de patrocínio judiciário obrigatório pelo executado, mas este
demonstra que se extinguiu não fará sentido atender à oposição.

 Competência internacional } [diferente da AD] uma vez que principio que cada Estado
apenas é competente para medidas executivas cuja prática deve ocorrer nesse Estado, tendo
presente o princípio da territorialidade. Ex.: bens em PT, pode ser executado em PT, se
nenhuma medida ocorrer em Portugal, não relevam critério do domicílio; se requerente
solicitar penhora de bem x , sito em Espanha, os tribunais portugueses são
internacionalmente incompetentes para tal, faltando um pressuposto. Quanto a prática de
atos processuais: ex. – penhora, competência internacional para proceder mas não sobre o
bem sito em Espanha. – consequência do PT que os tribunais portugueses são
exclusivamente competentes para ações executivas quanto a bens imóveis sitos em PT nos
termos do 62º, d) + 89º/3 + 86º ou 90º - embora na opinião do professor MTS este 90º está
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desatualizado, uma vez que pensa na revisão da sentença estrangeira pela relação, propõe
a substituição pelo 62º que é útil quando bens penhoráveis em PT;
 Competência Interna } temos de ter em conta os vários tipos:
1) Material – 85º, nº1 a execução segue os autos onde foi proferida a decisão, nº2 quando
não seja competente devendo o tribunal remeter para o competente (especialização). Os
tribunais de competência alargada (territorial) são os de marítimo, propriedade intelectual
sendo próprios para executar as suas próprias decisões nos termos do 85º, nº2/CPC;
quanto a especializada (ex.: menores) valerá a mesma regra. Ex.: decisão proferida por
juízo central cível – 99º, nº1 ou 199º (?, juízo de execução na comarca e não o tribunal
que proferiu a decisão, contudo se não houver juízo de execução é competente o juízo
central cível nos termos do 117º e 130º, isto para execução de decisões judiciais
(SENTENÇAS) ≠ quando o título executivo extrajudicial há juízo de execução na comarca
ou não o há, e aí conforme o valor da execução será local ou central cível 117º + 130º.
2) Hierárquica – consta do 88º correndo sempre a competência pelo de 1ª Instância
3) Territorial – 85º/1 se proposta no tribunal competente, se não remetida. Eis alguns
exemplos: i) 86º domicílio da executado em alguns casos; 89º, nº1 a regra geral para
quando seja titulo executivo oposição à forma executiva (ações especiais face a
obrigações pecuniárias); se decisão arbitral 95º, nº3 e se julgado de paz 89º, nº1. Caso o
título seja extrajudicial o professor MTS admite que haja convencional, contudo não serão
validos quando a matéria da competência seja de conhecimento oficioso conforme 104º
 Patrocínio Jurídico: artigo 58º CPC obrigatório quando valor superior a alçada da relação,
se for < à alçada da relação mas > 1ª instancia, o PJ não será obrigatório mas pode ser
enxertado algum procedimento declarativo, diferente de incidentes na AE que são embargos
de 3º ou execução a penhora, o PJ nesses casos define-se nos termos do 40º; PJ obrigatório
advogado, advogado estagiário ou solicitador;
 Legitimidade singular: afere-se nos termos do 53º, nº1 CPC são as que constam do título
executivo, contudo há casos que não são determinados no momento da celebração como
ex.: pessoa a nomear, terá legitimidade quem for posteriormente nomeado; sucessão no título
executivo 54º, nº1. O 53º, nº2 vem adaptar esta regra segundo a qual são legitimas as que
constam do título, para abranger os casos em que não seja possível determinar as mesmas,
sempre que titulo de crédito ao portador, ex.: cheque = portador do cheque. O 54/2 estabelece
aferição com base na PJ – situações em que a divida garantida por GR, mas sobre bens de
3º, em que este adquiriu um bem onerado por garantia real 218º, nº2 CC devendo ser
proposta contra este (e devedor = litisconsórcio). Há mais 2 situações pela posição jurídica:
1) impugnação pauliana 616º, CC; 2) caso julgado contra terceiro 55º - casos especiais para
execução/ 316º e 320º não pratica nenhum ato em juízo, mas abrangido pela decisão, 263º,
nº3 ainda que não intervenha no processo, efeitos contra o adquirente, caso de substituição
processual.
 Legitimidade Plural:
 Cônjuges – litisconsórcio passivo quanto aos bens comuns segue o regime AD;
litisconsórcio ativo o Professor MTS afirma uma especialidade da AE: para adquirir
um bem não é necessário que ambos estejam em presença, tal como na AE não será
necessário para propor a ação e enquanto mera aquisição, até que haja oposição, a
presença dos 2 em juízo, contudo é necessária se houver oposição porque poderá
haver perda de bem comum. | Se as dívidas forem próprias respondem os bens
próprios do cônjuge devedor e subsidariamente a sua meação nos BC (separação de
bens para meação); quando dívidas comuns respondem os BC de ambos, sendo
necessário a presença dos 2 na AE. Se do título executivo não constarem ambos, se
sentença será ilegitimidade por preterição de litisconsórcio necessário mas preclusão;
se titulo extrajudicial 741º e 742º CPC que estabelece que DC quer em termos ativos
como passivo, ambos em juízo – sendo que o exequente/executado promove a
intervenção
 Outros – se TE for sentença nessa constarão como C e D as partes da AD, caso não
tenham estado na AD todas as partes que deveriam estar em juízos, nalguns casos
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conforme o que resultar da sentença entre as partes referidas, noutros tal poderá
conduzir a sentenças inúteis pela circunstância de não estarem todas as partes (v.g.:
3 coproprietários numa ação de divisão de coisa comum, e ação somente entre 2
sentença inútil e insusceptibilidade de execução porque é um litisconsórcio natural) –
não haverá preclusão, apenas constam da AE aqueles que tenham estado na AD,
quando titulo judicial = TE (se extrajudicial não haverá de todo preclusão)
Nota: quanto à ilegitimidade, violação de litisconsórcio
necessário na AE = conhecimento oficioso, conhecida em
despacho liminar, devendo pedir sanação ou indeferir se não for
sanado.
 Interesse Processual: há situações discutíveis sobre a sua verificação, regime especial no
caso de arrendamento urbano 849º, nº1 alínea c) – inutilidade superveniente da execução, o
que significa extinção por falta de interesse processual (MTS)
 Intervenção de terceiros: admissível em termos gerais, serve para suprir a ilegitimidade
plural que se verifique assim como possibilitar a intervenção de litisconsórcio voluntário.
Quanto ao regime geral relevam os embargos de terceiros que é uma forma de intervenção
(342º a 350º) com importância na ação executiva (reação contra penhora), também regimes
especiais como 786º, nº1, a) + b) – cônjuge do executado, penhora sobre ambos; e ainda
credores reclamantes
 Cumulação de Execuções: 709º a 711º é possível na AE, sendo simples (não
alternativa/subsidiária) é exigível compatibilidade substantiva sob pena de inaptidão do RE
146º/1/c), a cumulação pode ser inicial que se verifica desde o inicio é admitida por 1 questão
de economia processual (sentença: cumulação de 2 condenações; não é possível de executar
quando deva ocorrer nos próprios autos, apenas sentença proferida nesses autos 626º);
quando títulos extrajudiciais 709º consagra os requisitos admissibilidade (↔ AD) contudo
▲ alínea d) → requisito específico apenas quando execuções de = categoria, com =
finalidade ex.: ambas para entrega de coisa certa, competência absoluta e não relativa.
Quando verifiquemos cumulações baseadas em ≠ títulos executivos com fins diferentes} 709º,
nº2 através da conversão será passível a cumulação. / Quanto a cumulação sucessiva poderá
ser quando TE seja o mesmo – 850º, trato sucessivos: obrigações vincendas e vencidas (se
depois de extinta a execução → renovação para pagamento de prestações que se venceram,
então o MTS defende que será possível durante a pendência da execução.
 Coligação: regime = AD, para alem dos requisitos legais, na AE é necessário que todos estes
constem do mesmo título, para assegurar 1 conexão entre as prestações.

Exequibilidade Intrínseca
Artigo 713º CPC – necessidade de verificarmos a exigibilidade, certeza e liquidação, se os
requisitos não se encontrarem preenchidos 726º, nº 4 e convite para sanação sob pena de
indeferimento:
1) Exigibilidade – obrigação sujeita a prazo tem que se ter verificado, se necessário fixamos
1016º/1027º; quanto a prestações vincendas, condenação in futurum a lei não estabelece
um regime mas temos que aplicar 707º, nº2 em que o exequente terá que provar que a
obrigação se venceu entretanto após a obtenção do título executivo; quando obrigação pura
sem prazo a citação para AE valerá como declaração para cumprimento, não se diferindo
logo não é possível começar pela penhora de bens = ação sumária sem interpelação para o
cumprimento; se sinalagmática 715º o exequente tem de provar que cumprir a sua parte; se
condicionais sujeitas a suspensiva 715º; obrigações que decorram de contratos reais quoad
constitutionem (ex.: mútuo) é essencial a realização de 1 prestação para afirmarmos que o
contrato foi celebrado nos termos do 707º/CPC e prova complementar; obrigação de juros
703º, nº2 mesmo que do TE este não constem, os de mora são sempre devidos, podem ser
cobrados na execução versus Acórdão do STJ 09/2015 que firmou a jurisprudência de que
as sentenças condenatórias não abrangidas neste preceito → MTS critica. 550º, a) (nº3)
quer no sumário/ordinário citação prévia do executado; se obrigações alternativas no 714º,
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nº1 a citação inclui citação para declarar por qual delas opta, se optar por escolha de 3º
notificação desse para escolher; quanto as genéricas como nada se refere aplicamos
(também) o 714º.
2) Liquidez – não quer dizer que sejam somente as pecuniárias, ainda que assim o seja no
geral, mas também pode ser de quantidade. Procedemos na fase preliminar ou até antes à
liquidação da obrigação, a menos que ilíquida mas não seja exigível (duas exceções na
diferida 716/2 juros devidos + universalidade de facto/direito - ex:716/7, a liquidação
antecipada nos termos do 794/6 só a própria sentença condenatória só constitui título
executivo, contendo condenação genérica (609º) quando se verifique no PD. // A liquidação
liminar será cálculo aritmético no RE. 724º, nº1, alínea h) | Se titulo extrajudicial 716º, n6
quando não tenha de ser realizada pelo árbitro, 716/4 se não possível realizar cálculo
aritmético, executado será citado para contestar a liquidação apresentada pelo exequente.
Se nada se disser consideramos liquidada; se oposição 2ª parte do nº4/716º. Quando
liquidação por cálculo aritmético: oposição à execução (729º, alínea e) serve
nomeadamente para o executado deduzir oposição a liquidação. Contudo faz sentido abrir
PD para contestar 1 CA? Doutrina dominante criticam esta solução, a oposição não pode
implicar a abertura do Processo Declarativo, apenas oposição simples, sendo que o 716º,
nº8 consagra que se uma parte da obrigação for líquida e outra ilíquida, a primeira será logo
executada.

Oposição à Execução
Com a redação dada em 2013, o legislador retomou a expressão “embargo de executado”; em
todas as formas da AE se prevê esta forma de OE. Visam discutir (embargos do Executado –
doravante EE) se o TE é efetivamente, os pressupostos processuais da AE e questões da
exequibilidade intrínseca. Há tratamentos diferenciados para a OE conforme o TE que esteja em
apreço, nomeadamente quanto aos fundamentos que devam ser apresentados.
Fundamentos encontram-se previstos 729º a 731º aplicáveis a generalidade de formas da AE.
Quando comparamos 729 versus 696º (fundamentos para o recurso de revisão ou extraordinário
contra decisões transitadas em julgados) há situações comuns:
 Alíneas b) – falsidade do processo
 Alíneas i) e d) respetivamente – nulidade/anulabilidade
Se no momento da oposição a execução pendente recurso com base nestes fundamentos comuns,
não deixa de estar o executado dependente de apresentar oposição havendo eventualmente
suspensão do embargo do executado a aguardar a decisão de recurso.

Quanto aos fundamentos da OE se baseada em:


1) Sentença Judicial – 729º CPC desde logo vícios de TE (inexistência ou inexequibilidade);
vícios do próprio PD (anterior, de onde deriva o TE) nomeadamente quanto a citação do
reu, falsidade do processo, caso julgado contraditório com a decisão; falta de pressupostos
processuais da AE (ex.: falta de PJ, legitimidade, etc não discutido na AE mas em
embargo); falta de exequibilidade intrínseca (não é obrigação certa, exigível ou líquida);
qualquer facto extintivo ou modificativo da obrigação (mas não da AD e não invocado,
preclusão – apenas factos que se verifiquem após o encerramento da discussão em 1ª
Instância) – ex.: falta de pagamento de divida ou direito de retenção; alínea g) apenas se
refere a casos de superveniência objetiva mas para MTS também se superveniência
subjetiva quanto ao conhecimento do executado. Não se referem factos impeditivos uma
vez que dificilmente é concebível posteriormente ao encerramento da discussão, contudo o
prof Lebre Freitas afirma que em certas situações de anulabilidade será possível e MTS
concorda que possível, defendendo integrar-se nesta alínea os casos de impossibilidade
não culposa do cumprimento posterior ao encerramento da discussão. Quanto à
compensação a jurisprudência tem vindo a demonstrar bastantes dificuldades, transposição
para ação executiva do 266º CPC dedução por reconvenção assim se extinguindo o crédito
do exequente por contra crédito do executado, o que o prof MTS considera não ser
problemática mas houve quem defendesse que se a compensação não fosse invocada na
AD ficava precludida essa possibilidade, mas o regente discorda pois a compensação não é
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um ónus de mandato mas uma faculdade; oposição à sentença homologatória


(291º/2/CPC).
Nos termos do 857º temos o regime de OE baseado na injunção a jurisprudência do TC
outrora considerou inconstitucional o regime anterior, houve uma procura por flexibilização,
e atualmente previsão de casos que não há oposição devido a justo impedimento, e ainda
que não haja possível fundamento para deduzir na mesma oposição excecionalmente. O
TC também considerou inconstitucional este regime. Assim, a injunção servirá muito pouco,
se não invocar na oposição pode depois vir a invocar? MTS diz que não faz sentido;
sendo que esta posição do TC é tida como maximalista considerando ambos os regimes
inconstitucionais, mas em Portugal também injunção europeia para pagamento – em RE, no
qual não se assegura aquilo que TC exige.
2) Decisão arbitral – 730º/CPC remete para LAV, = fundamentos que vigoram para anulação
da DA;
3) Títulos extrajudiciais – 731º CPC todos os fundamentos suscetíveis de serem indicados do
729º - ex.: não falta de citação pois procedido de processo; qualquer fundamento que possa
ser invocado em juízo – qualquer defesa por impugnação ou exceção 571º

Referência à Proposta de Grupo de Trabalhos nos termos do 729º ex.: meio de prova de alínea
g), qualquer meio de prova e já não exigência, problema histórico de base quanto a coleção de
PE, antes sumário com modalidades

Regime de dedução – dos embargos obedece a algumas especificidades conforme AE em


questão, após citação do executado 656º CPC → regime do PD → embargos de executado =
PD nº2/728º CPC. Tem como efeitos se forem deduzidos, a priori não se suspenderá, apenas
ocorrerá paralelamente à execução – exceções: 733º, nº1 nomeadamente quando o
embargante preste caução quando seja o TE um documento particular e seja a assinatura
impugnada/por decisão do juiz verificada impugnação exigibilidade ou liquidação da
exequenda; 860º, nº2 execução para coisa certa → apenas como exceção. 732º/5 → determina
que a decisão de mérito dos embargos à execução → caso julgado quanto a existência,
validade e exigibilidade da obrigação exequenda. Os embargos da oposição são paralelos com
a contestação: ónus de contestar sob pena de preclusão da mesma forma, este número
preclude numa futura invocação.

Constituição da Garantia Patrimonial

Penhora de Bens e Direitos

606º, nº1 → património do devedor = garantia geral de créditos; são penhoráveis todos os
direitos que possam garantir o crédito (esfera de devedor) – não apenas bens, mas também
direitos reais v.g. direito de superfície; inclusivos a penhora de expetativas de aquisição, rendas,
abonos, vencimentos e salários, depósitos e Estabelecimento Comercial. // Quando se verifique
uma garantia real é relevante para AR, quer do exequente como de terceiro (regime de reclamação
de créditos de 3º na AE).

Penhora encontra-se norteada por determinados princípios:

1) Economicidade – 751/1 – seguro para satisfação de créditos

2) Proporcionalidade – ñ se deve penhorar nem mais nem menos do que o necessário 735/3;
751/3
3) Fungibilidade – 753º, sempre possível a substituição de 1 caução equivalente assegurando
a satisfação de interesse de ambas as partes
Quanto à competência funcional para os atos de penhora (a busca de bens penhoráveis) esta
será de competência do AE, sendo que o juiz tem 1 papel residual (759º, nº1). Quanto ao seu
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âmbito 755º a 763º (Bens imóveis); 764º a 772º (bens móveis), 773º a 783º quanto a direitos
fundamentalmente de crédito sob 3º, penhora de créditos/executado por sua vez ser credor de 1
devedor. Também temos o 823º, nº1 CC quanto à convolação da penhora, que ad início de 1 bem
e passa para outro. As vicissitudes da penhora é que é possível 1 2ª penhora de bens
penhorados 794º, nº1, solução em certos casos, mas no sentido em que o exequente da 2ª
execução (REGRA: não podem ocorrer 2 execuções paralelas sobre o mesmo bem, apenas
possível venda) → reclama o seu crédito na 1ª execução, desse mesmo bem. Caso o 1º desista,
pode ser substituída. Poderá ser levantada 773º, nº1 face à decorrência do tempo, a requerimento
do executado e casos gerais.

Funções da Penhora
1) Individualizadora – incide a execução em bens determinados do executado, sobre os que
tenham suscetibilidade de ser penhorados: o AE procura → se não encontra ambas as
partes notificadas para identificar → se não o fizerem, extingue-se. A escolha dos bens
penhoráveis será dispensável quando exista uma garantia real (752º, nº1) aí cairá sobre
esses mesmos bens, o 751º/2 regula a situação em que o exequente indique os bens
penhoráveis no requerimento, e o AE ficará obrigado a respeitar essas indicações caso não
violem norma legal imperativa (limites da penhora/Impenhorabilidades) ou se ofenderem o
princípio da proporcionalidade.
2) Proporcionalidade – 751º, nº3 CPC, há uma confusão interpretativa em termos doutrinários
sendo que o Regente afirma que estabelece condições para a habitação do executado em
função de fatores, contudo não concorda com esta interpretação afirmando que atendendo
ao PP na penhora (6 meses), assim propõe a alteração de regime, e não mantendo.
3) Conservativa – quando é constituído um depositário para cuidar dos bens, conservação
jurídica dos mesmos, cabe aferir o que ocorre quando se após a penhora dos bens, o
executado vender a terceiro? Caso aplicássemos o 263º a execução continuaria perante 3º,
porém o regime está no 819º e seguintes do CC – preceitos fundamentais, sendo
inoponíveis à execução os atos de disposição, onerações sobre bens penhoráveis, para a
penhora será como se nunca tivesse ocorrido (o alienante não deixa de ser o executado) –
mas há exceções: determinados direitos de terceiros não podem ficar paralisados – ex.:
prédio rústico foi penhorado, o vizinho pode constituir direito de passagem; bem em
copropriedade apenas um deles é penhorado, não impede que outro peça a divisão de bem
comum; situações em que se verifique a oponibilidade de garantias reais ainda que
constituídas após a penhora (direito de retenção 759º, nº2 CC); 820º CC crédito de
prestação de trabalho, se motivo justificado o devedor executado e cujo salário foi
penhorado pode terminar o seu contrato de trabalho.
O Regente concluí que a penhora não é um direito real de garantia (inoponibilidade, regime de
arresto, remissão) enquanto o direito real se adapta a 1 dinâmica (ex.: compra de 1 bem
hipotecado), a penhora ficciona a estática. Não deixa de ter uma função primordial de garantia,
porquanto o exequente obtém com a penhora a satisfação do seu crédito 822º/CC direito a ser
pago com preferência sob qualquer outro credor que não detenha garantia real.

Limites à Penhora
Em termos processuais, podemos penhorar os bens do devedor/executado que sejam suscetíveis
de penhora. Podemos concluir que o objeto de penhora depende de 3 fatores:
1) Responsabilidade pelas dívidas: os bens que a lei substantiva preveja que
respondam: a regra da responsabilidade das dívidas quer PC/PS é universal e imediata
das dívidas (601º, CC) porém temos exceções –
 Por lei – ex: PC e Responsabilidade Limitada + Regime de bens cônjuges
 Verificação de Patrimónios separados – massas de bens destinados a certas dívidas
ex.: 1744º separação plena ou autonomia perfeita do património) ou massas de bens
que respondem subsidariamente (autonomia imperfeita) através da verificação da
subsidiariedade objetiva 697º CC, 752º CPC – benefício de excussão prévia real +
697º/752º base para defesa do executado na OE); subjetiva 638º, nº1 e fiador
subsidiariedade subjetiva em que o fiador tem legitimidade pelo 52º, devedor
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subsidiário é devedor que consta do titulo; 745º, nº1 a 4 direito de defesa preventiva
da penhora no prazo da oposição a penhora, em principio não forma sumária contra
o fiador, sob pena de beneficio de excussão prévia a menos que renúncia 550º //
questões entre fiador e devedor principal, hipoteca e beneficio de excussão real, se
3º diferente 639º/CC // hipoteca contemporânea: o fiador já contava com a mesma
ainda que posterior a penhora, não tem de ser anterior
 Convencionalmente as partes poderão restringir a responsabilidade conforme 602º a
603º CC restringir a certos bens ou excluir certos bens, a garantia real das obrigação
está sujeita à disponibilidade das partes, mas não se pode esvaziar a mesma sob
pena de credor abdicar do seu direito, renuncia antecipada que é proibida pelo CC
segundo a doutrina
2) Disponibilidade e transmissibilidade (direitos indisponíveis/intransmissíveis):
determina em 1º lugar que apenas podem ser os bens disponíveis, não podem ser as
coisas que se encontram foram do comércio (202º), o direito a alimentos (2008º/CC) ou
indemnização por acidente de trabalho. Não poderemos penhorar direitos intransmissíveis –
dependentes de consentimento de terceiro para transmissão, subjetivamente
intransmissíveis ou uso e habitação objetivamente intransmissíveis pela própria lei
3) Impenhorabilidades (limite processual e não substantivo, que constam sendo que há
quem diga que não é substantivo, apesar de Rui Pinto assinalar que é direito
substantivo na prática): são um limite por via de regimes concretos, são normas que
proíbem a penhora a certos bens nunca em qualquer circunstância podem ser penhorados
= impenhorabilidades absolutas 736º CPC – ofensiva a bons costumes (móveis para
culto religioso; indispensáveis (cadeira de rodas); animais de companhia que não seja
predominantemente à exploração económica; Rui Pinto afirma que qualquer bem viole os
bons costumes ex.: penhorar uma aliança; bens com diminuto valor económico sob pena de
gerar 1 ato processual inútil, insatisfação do objetivo da penhora; isentos por lei de penhora
(435º CT), contudo algumas críticas porque todo este artigo remonta aos anos 30 ainda que
modernizado, deveremos sempre averiguar casuisticamente mas não taxativamente tendo
presente a DPH e a Proporcionalidade = clausula geral da constitucionalidade; em que as
normas que certos bens podem ser penhorados em determinadas circunstancias
(impenhorabilidades relativas 737º, CPC) e normas que não restringindo a penhorabilidade
do bem o limitam em termos quantitativos ex.: certos direitos de créditos apenas
parcialmente penhorados, impenhorabilidades parciais 738º e 739º. | É, ainda, atendível as
≠ e as classificações da im/penhorabilidade:
 Impenhorabilidade voluntária (727º)
 Subjetiva versus Objetiva: nº4; nº5; - ex: 725/1 bens onerados por garantia real – são
os que respondem em 1º lugar; dívidas de cônjuges 740º, nº1 CC;
 Parcial: 738º/CPC salários, apenas essa parte nº3 e 4 = 2/3 do salário, o limite máximo
à impenhorabilidade será de 3 salários mínimos nacionais; nº5 quanto a conta bancária:
é de aferir que o salário impenhorável é o do mês corrente, se X tem Y na conta
bancária que advenha de salários anteriores podemos penhorar; nº6 a pedido do
executado, competência discricionária caberá ao juiz da isenção/redução do salário da
penhora durante um ano
 Forma da penhora: 754º, nº5

Quanto aos limites subjetivos da penhora: se 3º executado (54º/2), e para casos em que incide
sobre bens de 3ºs (embargos de terceiro, oposição/ação de reivindicação alternativamente). 735/2
– situações sobre bens de terceiro, que não seja estranho a execução todavia que
cumulativamente não seja devedor temos o 818º/CC (exemplo) vinculados à garantia de 1 crédito
ou quando o bem seja objeto do ato praticado em prejuízo do credor e esse impugnado =
impugnação pauliana 616º, nº1, nº4 CC → em qualquer uma destas situações encontramos a
penhorabilidade subsidiária [fiador → beneficio de excussão prévia 639º, nº1 – subsidiariedade
subjetiva]. Há 3 situações possíveis de se verificarem aquando demanda:
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1) Devedor Principal e Subsidiário demandados simultaneamente 735º, nº1 a nº4, caso


execução ordinário, ambos citados antes da realização da penhora 795º, nº1 e 728º, nº1
oposição pelo fiador que pode invocar benefício, mas se for forma sumária, a citação
apenas será realizada após a penhora, podendo invocar benefício conforme 794º, nº1,
alínea d)
2) Devedor Principal é o único demandado, os bens não são suficientes para o pagamento da
dívida 745º, nº3 CPC o exequente poderá requerer que a execução prossiga contra o fiador
e chama-o à ação;
3) Devedor Subsidiário é o único demandado 795º, e oposição a penhora 745º, nº2 o
exequente pode requerer que prossiga também contra o devedor principal
Tais situações supramencionadas consequentemente 550º, nº3, alínea d) (Forma de Processo).
Existem limites temporais quanto aos bens que pertencem ao executado não há questões,
contudo podem ser penhorados bens que não pertençam ao executado – transmissão a terceiro de
imóvel hipotecado, bem penhorável (54º, nº2) assim como bens futuros (salários que venham a
vencer).

Constituição da Penhora
Em termos de Direito Comparado a forma do Processo é dependente dos bens que forem
penhorados. Em Portugal, no CPC também 772º (móveis/imóveis); 783º (direitos).
A penhora tem inicio através do lavramento pelo AE, nalgumas situações registadas, e notificadas
ou citada (notificação acompanha a citação se for sumário).

Quanto à penhora de crédito – ex.: credor sobre 3º devedor, esse crédito tem suscetibilidade de
ser penhorado como ativo patrimonial do executado, complexo sendo 773º que estabelece através
da comunicação à ordem de execução: 3º devedor tem ónus/deveres. Quanto aos créditos
penhoráveis pecuniários (situação mais comum, contudo também pode ser de facere facto
fungível) não terão que estar vencidos, uma vez que tal diminuiria a possibilidade de penhora, mas
desconto por antecipação vide nº5) e podem ser futuros. // Caso existam vários devedores, temos
que seguir o regime substantivo (regime/relação dos D – solidária, qualquer pode ser). → 773º, nº1
comunicação ao AE , crédito a seu cargo → se falta de comunicação esse 3º devedor tem que
declarar a existência de crédito, sobre esse há garantias ou não → meio de ónus do devedor mas
773/4 na falta de resposta de 3º devedor, se este reconhece a existência de obrigação para efeitos
de penhora declaração nº2 espera-se pela verdadeira, justificando o nº5 (responsabilidade de
litigância de MF). → Nada disser aplicamos o 777º, nº1 a 4 em que o devedor poderá deduzir
oposição mas com fundamentos deviam ser antes, a omissão não será preclusiva da dedução da
obrigação mas responsável pelos danos causados. O reconhecimento da parte deste devedor pode
ser simples/complexo (776º, nº3, CPC). Alguns créditos litigiosos quando contendem as partes
(ausência da confluência de razoes), solucionada na lei (obrigação sinalagmática por exemplo) →
caso 3º negue o crédito face a pedido de informação 775º, ouve o juiz exequente e executado,
depois exequente decide manter, se mantiver crédito litigioso, se 773º/1 e não comunicação →
oposição à penhora. // Quando o crédito se vença 777º, nº1, A) e b) mas quando não requerimento
voluntário 777º, nº3: execução contra 3º devedor possível, não material.
Por sua vez, a penhora de depósitos bancários
A penhora de expectativa de aquisição de um direito verifica-se nos casos paradigmáticos da
promessa de compra e venda ou da venda com reserva de propriedade (enquanto não se verificar
o pagamento). A expectativa de aquisição apenas existirá enquanto realizados os pagamentos
devidos pelo executado – ex aluguer de automóvel de longa duração com aquisição -, podendo ser
realizados pelo próprio exequente. 778°/3) – passa depois a penhora a incidir sobre o próprio bem,
uma vez na esfera do executado.
A administração dos bens penhorados consta do 760° e ss. Quando se verifique depósito, 756°/1
– em regra o depositário é o próprio agente de execução, a menos que o exequente consinta face
à solicitação do executado. Pelo 760°/1 o depositário estará vinculado aos deveres gerais (1187°
CC). O prof considera que o depositário terá legitimidade para propor ações em relações a atos de
administração ordinária, mas já não quanto à extraordinária (dependendo de autorização do juiz). O
761° regula depois a remoção do depositário.
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Impugnação da Penhora
Violação dos Limites Objetivos
Uma vez penhorados os bens, é possível verificar-se a oposição à penhora. Esta pode ter como
fundamento a violação dos limites objetivos à penhora (incidentes nos bens), por via do incidente de
oposição à penhora regulado nos artigos 784° e 785°, que dispõem, nomeadamente, dos
fundamentos objetivos de oposição em concreto. Trata-se de um incidente, ação declarativa
acessória à execução - para MTS, valor do 302°/1; tendo legitimidade para tal o executado (742° o
cônjuge do executado pode promover oposição à penhora, invocando a comunicabilidade// 1682°
CC e 784°/1 – o cônjuge do executado pode ainda opor-se à penhora, citado nos termos da aliena
a) do n°1, por ser necessária a presença de ambos quando bens comuns e não questão de ambos
próprios do cônjuge pois tal será já fundamento de oposição subjetivo); a dedução deste incidente
terá que cumprir o prazo de 10 dias a contar da citação e no sumário de 20 dias (795° e 856°/1). A
circunstância de ter sido deduzida oposição à penhora terá consequências na ação – admissível que
possa vir a ser considerada procedente, 785° e cautelas, ainda que a execução não seja suspensa,
chegados ao momento da venda dos bens, nenhum credor poderá ser pago pelo produto da venda
de um bem sem prestar caução (+ se casa de habitação, primeiro decisão de 1° instância, para que
se possa vender a mesma). Sendo procedente a oposição, o 785°/6 determina o levantamento da
penhora e o cancelamento dos registos que tenham sido realizados. A lei admite, porém, ainda que
excecionalmente, a oposição por via de requerimento, em situações simples que não justifiquem o
incidente – 738°/6, 741°/4 e 751°/4.

Violação dos Limites Subjetivos


Quanto à impugnação da penhora por violação de limites subjetivos, ou seja, de bens que não
pertençam ao executado. Desde logo verificamos no 764°/3 a situação em que um terceiro venha
ilidir a presunção sob a propriedade de bens móveis, opondo-se à penhora (meio relativamente
expedito mas exige prova documental inequívoca da propriedade/ mesmo que o requerimento venha
a ser considerado improcedente, tal não impede a dedução de outros meios de oposição à penhora,
nomeadamente os chamados embargos de terceiro).
Os embargos de terceiro são uma das formas de intervenção por oposição do terceiro que
concretamente são modalidade da intervenção de terceiros da oposição (342°-350° do CPC). Nos
termos do 344°/2, estes serão deduzidos após a penhora – porém, o 350° consagra os embargos
preventivos. Pelo 347°, um dos efeitos possíveis do recebimento dos embargos (após despacho
liminar) será o de estes servirem para a restituição provisória da posse. Apenas poderão ser
deduzidos por terceiro em relação à execução (irrelevante se alguém que poderia ter sido executado
ou não, conforme conste do título executivo), resultando a sua legitimidade da circunstância de terem
sido penhorados bens de que era possuidor ou proprietário (problemas de legitimidade, regime geral,
inclusive a substituição processual/ se vários terceiros, por ex, basta um dos proprietários deduzir).
Este terceiro pode mais uma vez ser um cônjuge do executado, com fundamento na penhora de bens
próprios, o 348° estabelece que os Embargos de 3° devem ser propostos contra as partes permitidas
numa execução – exequente e executado (litisconsórcio necessário natural). Quanto aos seus
fundamentos, estes constam do 342° (posse incompatível com a penhora realizada no processo ou
direito de terceiro incompatível com a penhora realizada da execução/ meio possessório ou petitório,
conforme – alteração de 95/96, antes, embargos de terceiro eram um processo especial para a
defesa da posse apenas, MTS concorda com a evolução (1285° e reminiscências no CC). Quando é
o direito de terceiro incompatível com a penhora do bem? 824°/2 do CC (dinheiros que se mantém e
que constituídos previamente serão oponíveis à execução/ ex se penhorado um usufruto sob
propriedade plena, penhora sob bem de 3°, mas solução não poderá ser outra para MTS, mas
discussão na doutrina. O 348° prevê ainda a exceptio domini, aplicável (344°/2j) para os casos em
que haja posse (exceção de domínio deduzida contra a oposição de terceiro, ex sim terceiro é
possuidor, mas executado é proprietário/ figura tradicional mas no direito processual corresponderia
a um pedido reconvencional, mas a lei não o prevê). Poderão ser ainda contra invocados quaisquer
exceções – ex nulidade da transmissão, exceção perentória.
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Terceiros para efeitos de Registo – ligados pela circunstância de terem adquirido o mesmo bem
(apenas B pode opor o registo a A e apenas C pode opor o seu Registo a B). 5°/4 do CRP – em
relação ao exequente a situação nunca se verifica quando penhora do bem e não alienação ou
aquisição, ainda que executado e terceiro sim. Assim, não sendo o exequente terceiro para efeitos
de Registo – o exequente não poderá invocar o Registo da penhora contra o terceiro que não detenha
o direito registado, desvalorizando a penhora registada, o terceiro poderá embargar e vencer o direito
do exequente. MTS critica esta consequência do 5°/4 do CRP, entre outros problemas (em termos
de venda executiva).
300° - a posse ou direito incompatível como fundamentos para os embargos de terceiro – porém, no
âmbito da ação executiva, a penhora em si mesma não fundamenta que possa o mero possuidor ou
o possuidor em nome alheio, apenas o de detenha um direito associado (porém, se alegar a posse,
presunção de um direito subjacente. O terceiro pode opor nos embargos de terceiro os direitos:
direitos reais de garantia (em princípio não poderá, 786°/1/d e 788°/1, reclamar o crédito ao invés//
apenas em caso excecional); direitos reais de gozo; direitos pessoais de gozo (apenas em
determinados casos - promessa de compra e venda, promitente comprador pode também quando
contrato de eficácia real e Registo anterior à penhora// jurisprudência e construção desta
possibilidade quando eficácia meramente obrigacional// contrato de arrendamento, 597° CC, a venda
não implica a extinção do contrato de arrendamento// 1183°/2, comodatário e depositário,
possibilidade de embargos de terceiro, meio de oposição à penhora e à apreensão do bem noutras
situações, em regra não se verificara motivo de oposição à penhora).
Quanto ao regime deste incidente declarativo - os embargos podem ser preventivos ou posteriores
– em 30 dias após citação da decisão 344°/2 CC. Não sendo deduzido embargo de terceiro, este
não perderá o seu direito – a venda executiva é uma transmissão derivada, o adquirente só adquire
os direitos do executado, não originária, e assim se o executado não era proprietário, não passa o
adquirente a ser. Os embargos de terceiro são sempre sujeitos a indeferimento liminar nos termos
gerais – 345°, especificidade, com fundamento na extemporaneidade da sua dedução. Se não
indeferido, o tribunal terá ainda que apreciar da sua admissibilidade (verosimilhança, 345°), havendo
que ser realizada a prova (344°/2) e os embargos apenas continuam se o juiz entender pela
verisimilhança do direito invocado pelo terceiro. Se forem os embargos recebidos – 347° CC,
possivelmente meio ou fundamento para a restituição provisória da posse. Os embargos serão
contraditórios (348°, notificação para que o exequente e executado contestem). Posto isto, segue-se
o regime geral do processo declarativo. O 349° estabelece a constituição de caso julgado da decisão
dos embargos (remissão – na hipótese de o exequente ter deduzir a exceptio domíni, ter oposto
direito do executado, também caso julgado/ decisão de mérito sobre a titularidade de um bem).
Além dos embargos de terceiro, há ainda que atender à ação de reivindicação, meio de oposição
à penhora quando violadora dos limites subjetivos (839°/d/1, mesmo depois da venda do bem
penhorado na ação executiva – se depois, também antes). Esta não tem contudo efeitos tão
favoráveis como os embargos para o terceiro embargante (840° e 841°, alguns).
Solução desarmónica com o 824°/2 – extinção dos direitos não registados vs antes da venda
executiva direitos não registados podem fundamentar a oposição à execução (não deveria ser
oponível).

Execução da Garantia Patrimonial


Participação dos Interessados
Finda a penhora, nos termos do 786°, segue-se a citação. Será, designadamente, citado, o cônjuge
do executado - n°1/a e n°5) do 786°. Este intervirá no processo em três situações distintas – incidente
de separação de bens (não de tornando verdadeira parte da ação/ quando dívida própria mas
necessário penhorar bens comuns, não passíveis de penhora, e assim requer-se a separação de
bens/ 740°); 786°/5, incidente de comunicabilidade da dívida (741°/ 741° 5 e 742°/2, parte se dívida
tida como comum, se não, 743° e embargo de terceiro/ deduzido pelo exequente); incidente de
intervenção do cônjuge (786°/1/a primeira parte/ 1682°CC, o executado terá que ser citado, terá que
dar o consentimento para alienação, torna-se parte/ 787° aplicável, oposição à penhora/ por dívida
própria não podem responder bens próprios do cônjuge nem bens comuns, remissão para o 784°,
daí que oposição à penhora, pois os bens não passam a poder responder por ser parte).
A Intervenção dos credores, por sua vez, verifica 3 hipóteses possíveis:
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- A execução fica restringida ao exequente que deduzir a execução – execução singular;


- Na execução podem intervir quaisquer credores tenham ou não garantias reais sobre os bens
penhorados – processo de insolvência;
- Sistema misto que vigora entre nós, a intervenção dos credores é restrita aos credores que tem
garantias reais sobre os bens penhorados.
A regra pela qual a lei admite a intervenção destes credores é a seguinte: nos termos do 604.º/2 do
CC extinguem-se, com a venda, todas as garantias reais sobre os bens penhorados. São
fundamentos de invocação desta reclamação, por exemplo, garantias reais, entre outras. A lei
estabelece, porém, algumas limitações quanto à reclamação - além das garantias reais (regime geral)
ainda é necessário ter presente a situação do 794.º (numa execução posterior são penhorados os
mesmos bens que já tinham sido penhorados numa execução anterior/ solução = suspensão da
segunda execução, sendo que o exequente vai reclamar o seu crédito na execução anterior). Se o
credor for titular de um arresto – enquanto o arresto não for convertido em penhora (762.º), o titular
do arresto ao pode reclamar o seu crédito. Ainda quanto às garantias reais, pode não haver
coincidência total entre a garantia real que se faz valer na execução e à penhora realizada na mesma
execução – ex consignação de rendimentos, o credor que tem uma consignação de rendimentos, se
os bens penhorados vierem a ser vendidos, ele vai ser pago não pela consignação, mas sim pelo
produto que for obtido nessa mesma venda. É sempre necessário admitir a reclamação de créditos
– o que a justifica é a extinção das garantias reais por força da venda, logo, se na execução não vier
a realizar-se a venda dos bens penhorados (se o exequente for satisfeito de outra forma que não
pelo produto dos bens) – ex: 806.º permite um acordo para pagamento em prestações. Além disso
importa ter presente que a situação dos privilégios creditórios a favor do Estado que são graduadas
antes da penhora – foram introduzidas restrições à reclamação no 788.º. São reclamáveis - o crédito
não necessita de estar vencido, embora no 791.º a lei impõe que se faça o desconto do pagamento
desse credor. Em regra, os credores reclamantes seriam terceiro, mas não é impossível que o credor
tenha um outro crédito. Titularidade passiva – 54.º/2. A lei impõe que, nos termos do 788.º/2, o credor
reclamante tenha um título exequível, mas não necessariamente um título que já exista no momento
da reclamação de créditos – 792.º.
Quanto aos pressupostos processuais – a reclamação de créditos indica-se em processo
declarativo com os pressupostos processuais gerais, mas verificando duas referências especiais.
Estamos a falar de juízos de execução ou juízos centrais cíveis, mas nesta execução podem ser
reclamados créditos quer do Estado, quer dos trabalhadores (privilégios creditórios), pelo que não
há nenhuma restrição quando ao conhecimento dos créditos para a reclamação. O Patrocínio
judiciário vem previsto no 59.º/2.
Quanto à posição do credor demandante, não se pode dizer que este assume propriamente a
posição de parte/exequente, por uma razão – 782.º/6, só pode ser pago através dos bens sobre os
quais incida a sua garantia real (e não através de quaisquer outros bens que existam no património
do devedor). Tem posição oposta quer ao exequente, quer ao executado.
Tal levanta um problema referente à citação dos credores - os possíveis credores reclamantes
devem ser citados; sabemos quem são os credores através do registo/ mas há garantias reais que
não estão registadas, como os privilégios creditórios. Importa analisar as consequências da falta de
citação do credor, sendo que o regime consta do 786.º/6: 1.ª parte - anula-se tudo o que tenha sido
praticado depois do momento em que os credores reclamantes deveriam ter sido citados – é a regra
(187.º). Há uma execução - vendas, adjudicações, remições ou pagamentos efetuados quando o
exequente não tenha sido o único beneficiado. Na hipótese em que o credor reclamante não foi citado
(não pode reclamar), mas o produto da venda não beneficiou apenas o exequente, mas também
outro credor, então, nesse caso, já não se verifica nulidade decorrente da falta de citação. 2° parte -
o credor poderia ter reclamado, mas não o fez, porque não foi citado, então, não há anulação, mas
ele tem direito a receber de acordo com as regras do enriquecimento sem causa (não tem fim
indemnizatório), sem prejuízo da responsividade civil da pessoa a quem seja imputável a falta de
citação (ao agente de execução).
Havendo citação, o credor tem 15 dias para deduzir a reclamação de créditos. Vai fazê-lo numa
petição inicial e, nos termos do 788.º/1, vai invocar a garantia real sobre os bens penhorados e vai
pedir o pagamento do seu crédito pelo produto da venda dos bens penhorados. Esta petição inicial
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pode ser rejeitada pela secretaria, nos termos gerais do 558.º, mas pode também ser rejeitada
liminarmente – 791.º/4.
Tendo havido reclamação, há que analisar a sua tramitação - são notificados quer o exequente quer
o executado, bem como os demais credores reclamantes. Há possibilidade de qualquer um deles
poder contestar as oposições - 789.º/1 e 2. Porém, a reclamação pressupõe um TE, logo, segundo
o regime do 789.º/4 e 5, os fundamentos de oposição à execução têm de ser em função do TE ser
judicial ou extrajudicial. 790.º - o credor reclamante pode voltar a responder.
Depois da fase dos articulados, segue-se os termos do processo comum de declaração. Em todo o
caso, nos termos do 798.º/5, tudo isto pode ser inútil quando seja provável que o produto da veda
não ultrapasse as custas da própria execução.
Se a petição foi aceite pela secretaria, passamos para a graduação dos créditos – 798.º/5, há uma
graduação relativa dos créditos entre si. Se o credor exequente não tiver nenhuma garantia real
sobre os bens penhorados – importa referir que todos os credores que tenham garantias reais,
independentemente de quais sejam, os seus créditos são graduados antes do exequente e tudo é
pago antes deste.
Embora haja uma opção divergente, não se pode deixar de entender que a sentença de reclamação
de créditos faz caso julgado quer quanto aos créditos reclamados, quer quanto aos créditos na
reclamados.

Satisfação dos Créditos


Os créditos podem ser satisfeitos através da venda executiva, mas também através de outros meios
– 795.º/ satisfação por adjudicação de bens, consignação ou o produto da venda, admitindo-se ainda
um pagamento em prestações e um acordo global. A situação mais evidente da satisfação será a
entrega em dinheiro - depósito bancário. A Consignação de rendimentos na própria ação executiva
– aquilo a que se chama de consignação judicial pela lei civil (658.º) -, vem prevista nos artigos
803.º/1 e 805.º. 804.º/2 - forma de rendimentos que podem existir sobre bens penhorados, regime
da locação.
Verificamos duas situações em que não há lugar à venda executiva:
- Pagamento de prestações (806.º e seguintes): nos termos do 806.º/1, resulta de uma acordo
entre exequente e executado. O acordo pode ser simples, mas segundo os números 2 e 3,
este acordo pode conter algo mais do que um mero acordo sobre pagamento de prestações
(como o reforço ou a substituição de garantia/ acordo pode conter ainda a causa objeto da
penhora (?), outras cláusulas ou convenções). Este acordo poderá ainda ser total pu parcial
– no caso de haver vários exequentes e/ou vários executados, é admissível um acordo por
cada uma dessas execuções; se houver apenas um único credor exequente, aí só se pode
admitir um acordo parcial se o crédito for divisível pelo exequente e executado; se o crédito
for indivisível e havendo várias exequentes e executadas, impõe-se a intervenção de todos.
Deve ser celebrado de forma escrita - 806.º/1. O 807.º/1 contém a conversão da penhora em
hipoteca (se a penhora incide sobre bem imóvel) ou penhor (se a penhora incide sobre bem
móvel). O 806.º/2 determina que o acordo extingue a execução, mas é necessário ter
presente a possibilidade de renovação dessa execução por força do acordo parcial, situação
prevista no 809º/1 - o acordo em prestações é entre exequente e executado, logo, pergunta-
se se houver créditos reclamados na exceção/ o 809.º permite que algum credor reclamante
possa requerer a renovação da execução para satisfação do seu crédito/ perante este pedido,
o exequente é notificado e permite-se que ele desista da garantia (alínea a)) ou venha a
querer a renovação da instância para pagamento do remanescente do seu crédito (808.º/1).
- Acordo global (810.º/1): Engloba todos os exequente e todos os executados, bem como
todos os credores reclamantes (810.º/5). Este acordo pode ainda envolver terceiros que
posaram também fazer parte deste acordo: um terceiro assume o pagamento da dívida
exequenda. O 810.º/1, em termos objetivos, também diz em que é que o acordo pode
consistir: pode englobar um acordo de pagamento ou numa simples moratória ou qualquer
outra estipulação. Da remissão do n.º 1 para o 807.º verifica-se também aqui a conversão da
penhora ou hipoteca ou penhor. Este acordo também extingue a execução. Mas tal como
sucede no outro acordo, o incumprimento implica a caducidade do acordo global que
consequentemente permite a possibilidade de renovação da execução.
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Venda executiva – regime de venda e adjudicação


Não havendo possibilidade de satisfazer o crédito do exequente através das situações em que se
viu anteriormente, vai ocorrer a venda executival, prevista no 795º/1 – há mesmo que proceder à
essa venda para satisfação do crédito do exequente e dos credores.
São Modalidades da venda executiva (811.º), desde logo, a Venda judicial (aliena a) do 811.º/1e),
realizada perante o tribunal; a Venda extrajudicial (outras situações da alínea l). Quanto ao
adquirente da venda, os bens podem ser adquiridos por um terceiro, mas também pode ser
adquirente qualquer interessado e o credor reclamante. No caso de ser o próprio credor reclamante
ou um qualquer interessado, há duas situações possíveis – esse credor ou exequente é tratado como
qualquer adquirente, pelo que a única situação específica é a de esse credor reclamante ou
exequente ficar dispensado de pagar o preço, se tiver alguma a coisa a receber.
A competência para a venda pertence ao AE.
Há aspetos comuns ao regime da venda e ao da adjudicação/as várias modalidades da venda -
813.º trata do princípio da proporcionalidade da venda; 814.º trata da venda antecipada de bens;
815.º trata da dispensa de depósito. O 812.º a) regula a preparação da venda – determinação do dos
bens a vender (valor básico dos valores a vender que é realizado nos termos do 812.º/3 e 4).
A venda judicial é realizada pelo tribunal e mediante proposta em carta fechada – o CPC trata da
venda judicial como a forma paradigmática de alienação dos bens. Mas o 811.º/1 g) prevê a venda
em leilão eletrónico e a Portaria 282/2013 estabelece, hoje em dia, que a forma primordial de
realização da venda é esta venda em leilão eletrónico. Preços definir um valor base de venda dos
bens 816.º/2 – 85% do valor de base. A venda é realizada na presença do juiz. O adquirente que
apresentou a proposta vencedora (824.º/2) é notificado para apresentar ou pagar em 15 dias o preço
e se isso não suceder (se o vencedor não depositar o preço), passamos para o 825.º, verificando-se
três hipóteses: aceita-se a proposta a seguir; a venda fica sem efeito (escolhe-se outra modalidade
como a venda por negociação particular); o próprio adquirente vai ser executado para pagamento
dessa mesma quantia.
O 827.º refere-se à adjudicação e ao registo da venda executiva - isto só sucede depois dos 15
dias em que foi depositada a quantia por parte do adquirente. Problema: qual é o momento que para
este efeito da venda judicial se considera ser aquele em que a venda se efetuou? O do 827.º ou o
momento em que o adquirente ganhou a aquisição mediante proposta em carta fechada? MTS: deve
entender-se que o momento translativo é o da aceitação da proposta do adquirente; esse efeito
translativo fica condicionado ao pagamento do preço.
811.º - venda em depósito público (282/2013).
Quanto à Adjudicação dos bens, esta consiste na situação em que tanto o credor reclamante como
o exequente já não são tratados como qualquer terceiro (já não há benefício da dispensa), mas temos
uma situação especial para o exequente ou credor que fica com os bens para satisfação do próprio
crédito. O exequente ou um credor reclamante pretende ficar com os bens penhorados com a
finalidade de facilitar a satisfação do respeito crédito. É uma venda que é realizada não por terceiros,
mas ao credor reclamante ou ao exequente. Esta matéria está regulada no 799.º e 80.º. Há ainda
que mencionar da dação em cumprimento - se a adjudicação for em dação em cumprimento, isso
extingue o crédito; se for pro solvendo, o crédito não se extingue, mas apenas na parte invocada;
extingue a execução.
Quanto ao exercício de preferências, perante uma venda não se exclui a situação de existirem
direitos de terceiros que não devem ser excluídos, mas há restrição importante – 422.º do CC. No
âmbito da AE, por força do 842,º, verificamos ainda um direito de preferência especial – o chamado
direito de remição é atribuído a descendentes e ascendentes do executado, portanto, trata-se de um
direito de preferência, mas é limitado (facilita-se que os bens permaneçam na família).

Efeitos da Venda Executiva


O 1° efeito da venda executiva será o efeito translativo, verificando-se uma aquisição derivada – não
pode adquirir mais do que os direitos que o executado tinha, sendo relevante o direito que existia no
momento da penhora (819° CC, se alteração posterior, inoponivel à execução). Para mais, em
algumas situações a venda será invalida, o que permitirá ao executado a restituição dos bens
vendidos. Um segundo efeito será o efeito extintivo - 824°/2 CC, os direitos reais de garantia
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extinguem-se, outros direitos reais ainda em certos casos constantes do artigo (819°). Quanto aos
direitos reais de garantia, o preceito é claro ao consagrar a sua extinção com a venda executiva,
devido ao facto de os titulares de direitos reais de garantia poderem reclamar os respetivos créditos
(se reclamarem pagos, se não, extinto o direito). Quanto ao direitos reais de gozo, se sujeitos a
registo e registo posterior ao arresto de penhora ou garantia, extinguem-se, a menos que direitos
reais de gozo que sejam constituídos ainda que depois da penhora na sequência de exercício de
direitos de terceiros (ex constituição de servidão após penhora de um bem, direito de terceiro). Por
sua vez quanto aos direitos reais de aquisição (422° do CC determina quais os direitos de preferência
– legais ou convencionais com eficácia real, apenas estas podem ser exercidas na ação executiva),
nos termos do 819° CPC os titulares serão notificados para exercer o seu direito na ação executiva,
não o fazendo, há que distinguir a preferência legal da convencional, sendo que as convencionais
têm eficácia relativa enquanto as legais poderão ser exercidas em qualquer alienação do bem e
portanto a convencional se extingue quando não exercida, e a legal se mantém. Quanto aos direitos
pessoais de gozo, estes não constam do 824°/2 do CC, mas estes não podem deixar de se extinguir
com a venda executiva, ainda que com exceção (1547° CC, adquirente de um bem arrendado passa
a assumir a qualidade de senhorio, o contrato de arrendamento não se extingue com a venda
executiva). Um outro efeito da venda executiva será o repristinatório – com a venda executiva
renascem ou repristinam situações que se deveriam extinguir, por exemplo: 2 prédios, servidão de
passagem, venda executiva e o mesmo proprietário, depois passa ao mesmo titular, com a venda
executiva passa um dos prédios a outro titular e renasce a servidão; nu proprietário de um imóvel,
adquire o usufruto, renasce. Por fim, será ainda efeito da venda executiva, o sub-rogatório – os
direitos de terceiro que caducarem transferem-se para o produto da venda dos respetivos bens
(824°/3 CC). Neste âmbito há que distinguir os DR de garantia dos outros direitos reais ou pessoais
de gozo extintos numa venda executiva – o produto da venda serve para o pagamento dos titulares
de direitos reais de garantia extintos/ nos restantes casos, apenas se o produto da venda chegar
para pagar os créditos, os credores reclamantes e ainda sobra dinheiro, situação rara.
Vale tudo isto para as situações de remissão? O exequente adquire?
Quanto à invalidade da venda executiva tal vem previsto nos artigos 838° (óptica do adquirente) e
839° (na óptica do executado). A invalidade poderá ser substancial ou formal. Dentro da invalidade
substancial, o 838° determina que será a venda inválida por erro sobre o objeto, como regime
especial para a venda executiva, quer para a venda de coisas oneradas (205° a 209° CC’ quer para
o regime geral (251°/247° CC). Este verifica a especialidade de o declaratório não não se exigir que
o adquirente não conhecesse ou não devesse ignorar, por uma questão de bom senso – não faria
sentido fazer depender a anulação da venda o conhecimento pelo agente execução da
essencialidade das características para o adquirente. A indemnização a que o adquirente irá ter
direito consta do 908° e 909° do CC. O 838° apenas trata dos casos de vendas oneradas – no CC,
o 913°/1 manda porém aplicar este regime à venda de coisas oneradas, podendo-se então concluir
que tal será de cumprir na venda executiva. Outra situação de invalidade substancial consta do
839°/1/d, quando a coisa vendida não pervença ao executado e seja reivindicada pelo seu
proprietário – esse terceiro, com direito incompatível ao direito penhorado, terá também os embargos
de terceiro, que obstam à venda executiva. O 840° prevê ainda o protesto pela reivindicação – antes
da realização da venda, o terceiro vem protestar pela reivindicação da bem, propor ação de
reivindicação e afirma-lo na execução, do qual derivam certas consequências como cautelas face a
este protesto (840°/1 2° parte, os bens móveis não são entregues ao comprador e o produto da venda
não é levantado sem que se preste caução). Se esta ação de reivindicação for considerada
procedente – há que equilibra as posições de ambos, 240° como proteção ou cautela dos interesses
do reivindicante mas há que conciliar com os do adquirente, 825° CC (o adquirente pode exigir que
o preço seja restituído e que os danos sejam espadados pelos credores e executado que hajam
procedido com culpa). Serão ainda fundamentos da invalidade da venda o que constam das alíneas
a), b) e c) do 39°/1, referentes a vícios formais. Por fim, o 839°/2 determina já não a invalidade mas
a ineficácia da venda – sem efeito se exercício do direito de preferência por quem o possa exercer.

Pagamento/ Extinção dos Créditos


Se o requerimento para pagamento voluntário 847° - se antes da venda, credores reclamantes
não vão perder a garantia, não há que assegurar a satisfação dos seus direitos; mas se n°2 847°, já
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tiver sido realizada a venda e adjudicação, há que assegurar o pagamento dos seus direitos. O 847°/3
estabelece, para o procedimento do pagamento, que o oficial de justiça determine qual a quantia que
deve ser depositada para satisfação os créditos. Não se prevê a hipótese em que a execução ocorre
perante agente de execução – mas aplica-se esta disposição na mesma. Tal implica a realização do
chamado depósito preliminar, com base nas informações prestadas, depósito dispensado, porém,
nos termos do 846°/5, quando o requerente junte documento comprovativo da quitação. Verificado o
pagamento preliminar – afere-se da suficiência da sua quantia, n°4 do 846°, seguindo-se o
apuramento final das quantias devidas para pagamento, devendo o exequente, executado ou terceiro
depositar essas mesmas quantias. O 847°/6 prevê que há que seguir a lei substantiva quando
pagamento realizado por terceiro – eventual sub-rogação de terceiro em relação ao credor. A sub-
rogação pode verificar-se de forma voluntária (581°/591° CC) ou de forma legal (592° CC, quando
terceiro estiver diretamente interessado na satisfação do crédito, automaticamente sub-rogado). Nem
sempre a satisfação do crédito, assim, conduz à sua extensão, passando a verificar-se outro credor.
Quanto ao pagamento coercivo, previsto no 795°, para aferir do montante a pagar a cada um dos
reclamantes e exequente, nenhuma disposição no CPC o regula – podemos defender a aplicação
analógica do 847°. O 796°/2, em relação aos credores reclamantes, prevê que cada um deles receba
o pagamento apenas do produto da venda dos bens sobre os quais tem garantia real. A satisfação
dos créditos é depois realizada pela ordem da sua gradação sucessiva – primeiro, são pagas com o
produto da venda, as custas (541°), depois, o credor hipotecado e apenas depois, se sobrar, se
pagará ao credor exequente (dentro da totalidade da quantia a que tem direito). 796°/3 – credor
estado muitas vezes tem privilégios creditórios mobiliários ou imobiliários, prevalecentes sobre
titulares de outras garantias reais/ se credor privilegiado pago na sua totalidade, já pouco restaria
para os outros 2, estabelecendo este preceito a possibilidade de que outros credores para além do
privilegiado (impostos, SS), vejam satisfeitos os seus créditos (já algumas limitações à própria
reclamação de créditos por parte destes credores/ apenas aplicável se graduado à frente do credor
reclamante e exequente e se a quantia não for suficiente para a satisfação dos seus créditos). Este
preceito, porém, gera um problema na sua aplicabilidade – refere duas grandezas, não estabelecidas
uma em função da outra/ para mais, complexidade agravada quando mais do que um credor
privilegiado/ publicação do prof sobre a sua aplicabilidade.

Extinção da ação executiva


Esta vem prevista no artigo 849° - com o pagamento, após efetuada a liquidação e restante
procedimento (pagamento coercivo); por via de outras formas de extinção (846°/5 – ex de outra forma
de extensão/ perdão ou quitação/ 847°/1 e 2/ para extinção, integral).
Verificamos ainda algumas vicissitudes respeitantes à execução – desde logo, a anulação da
execução, que consta do 851°, falta de criação que ocorreu na própria execução e terá esta
consequência, aparente revelia do reu, que não intervém na execução, o réu pode pedir a anulação
a execução, mesmo que depois de finda a execução. 696° - fundamentos para recurso de anulação
da execução, após finda a mesma (aliena e), constitui fundamento para tal ter decorrido a execução
e se demonstra ter faltado a citação/ duplicação eventualmente desnecessária). O 851° determina
ainda no n°2 o que sucede quando esteja a execução pendente – suspensos todos os termos da
execução e conhece-se imediatamente da reclamação. Outra vicissitude que se poderá verificar,
esta já apenas após a extinção da execução corresponde à renovação da mesma – 850°/2, qualquer
credor reclamante, prazo de 10 dias contados da notificação, pode requerer a mesma para obtenção
do pagamento do seu crédito (que não havia sido satisfeito, por não ter sido sequer o mesmo
graduado); 850°/5, respeitante ao 849° alienas, referindo-se à situação das mesmas (+ casos de
dupla penhora sobre os mesmos bens (794°); 809°/1, na sequência de pagamento em prestações,
qualquer credor reclamante tem direito potestativo a pedir a renovação da execução; 810°/3, acordo
global, incumprimento do mesmo, o exequente ou qualquer credor reclamante pode requerer a
renovação; 850°/1, renovação na situação de título executivo de trato sucessivo, ou seja, referente
a prestações periódicas, permitindo a lei que nesses casos tal seja pedido, para pagamento das
prestações que após a extinção da ação executiva se tiverem vencido (possível acumular prestações
que se vençam na própria execução, depois possível renovar a instância para pedir as que se
vençam posteriormente). Estas situações de renovação encontram alguns limites, nomeadamente
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conforme a forma como se extinguiu a anterior (se 794°, iniciativa oficiosa do juiz porque tribunal
incompetente já não se poderá renovar).

Aulas Práticas

Tramitação da Ação Executiva


A definição encontra-se no 10º/4 e 5/CPC, temos 1 credor e devedor que no PD equivaleriam ao
Autor e o Réu. Contudo, aqui é exequente e executado. Na AE o Exequente pede ao tribunal a
realização coerciva e coativa de uma obrigação. Porquê? Há um título executivo (contrato entre
as partes, sentença – 703º/CPC) , que faz com este (direito à execução), que possa através de
uma ação judicial pedir que o Estado (direito de execução) obrigue o devedor a pagar, para
realização coativa da prestação/obrigação. Pode ter 3 finalidades:
1. Pagamento de quantia certa: pode decorrer de forma ordinária e sumária (550º CPC),
sendo que sumária quando baseadas nos títulos do 550º, nº2 e ordinário todos os outros e
imperativamente tudo o que está no 550º, nº3 – a diferença entre ambas é a citação porque
na ordinária será prévia. Quando o executado é citado p/ penhora tem 1 momento para
defesa (oposição), caso seja precedente vamos e depois novo momento, logo 2 momentos
de defesa (ordinária); enquanto que na sumária salta-se a oposição, não havendo citação
prévia ou momento de defesa do executado, só no momento da penhora é que se cita o
executado e aí é que se pode opor à penhora. Em ambas as formas processuais há 1
impulso processual da parte do exequente, 724º. Sendo que ordinário pela secretaria
(725º) e no sumário pelo agente de execução. Esta apreciação independente da forma,
pode levar à recusa/admissão do requerimento. Se for recebida continua nos seus trâmites,
depois de fazer a apreciação formal, o juiz averigua se exceção dilatória (averiguação
material). Se houver, e for insanável indeferimento liminar; se sanável o juiz convida o
exequente a aperfeiçoamento → citação do executado (ORDINÁRIO) // se SUMÁRIO
depois da apreciação do AE, o juiz tem 1 papel residual que só intervirá se o AE forçar nos
termos do 835º, nº2, b) (verificação dos pressupostos). Ainda no ordinário, na citação o
executado pode 1) oposição à penhora → procedente a ação ordinária executiva acaba e
não será alvo de penhora; 2) não fazer nada ou então pagar logo aí (cumprimento
voluntário) ≠ se a oposição for improcedente passamos para a penhora → na penhora a
única coisa que haverá momento de defesa // no Sumário é no momento da penhora que é
citado (856º/CPC) para se opor à execução e a penhora | depois averiguamos se concurso
de credores → havendo executiva com que os direitos reais de garantia constituídos sobre
os bens penhorados, caduquem e por isso todos são chamados para reclamação de
créditos, como forma de defender são notificados, se não perdiam a sua garantia 788º, 791º
→ venda executiva → pagamento de custa, credor exequente e por fim aos reclamantes
que venham a declarar os seus créditos 795º → extinção do Processo executivo.
2. Entrega de Coisa Certa
3. Prestação de facto

Caso 1
Na sequência de um aparatoso acidente rodoviário, A e B foram condenados pelo tribunal
competente a ressarcir C dos danos patrimoniais e não patrimoniais resultantes do acidente
que envolveu o automóvel daqueles e a motorizada desta, de acordo com os valores que se
viessem a apurar futuramente, atendendo à impossibilidade de calcular, desde logo, e em
termos definitivos, os danos sofridos por Celeste.
Munida da referida sentença, C pretende agora propor Acão executiva para pagamento de
quantia certa contra A e B, apresentando, para tal, um requerimento executivo, no qual, após
juntar os valores que considera necessários para a liquidação da obrigação, conclui por um
pedido de 12.500€.
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1. Celeste tinha um título executivo? Analise a pretensão desta, atendendo aos pressupostos
de exequibilidade extrínseca e intrínseca.
Estamos perante uma ação executiva nos termos do 10º, nº4, nº5 do CPC sendo que é uma AE de
pagamento de quantia certa. Neste sentido é necessário analisar as condições de ação executiva
(não se trata de pressupostos processuais), ou seja, quanto a exequibilidade extrínseca e intrínseca.
Quanto à extrínseca nos termos do 703º CPC é daqui que resulta a exequibilidade de pretensão, ou
seja, é necessário um título executivo, que irá determinar a possibilidade realização coativa da
correspondente prestação através de 1 AE, ou seja de acordo com a sua função constitutiva irá
atribuir exequibilidade a 1 pretensão, delimitando os fins e limites da AE e tendo também uma função
probatória. Conquanto, o TE não é suficiente por si mesmo para fundamentar a ação quando a
obrigação não for certa, exigível e líquida. Quanto à exequibilidade intrínseca decorrente do
713º/CPC corresponde as caraterísticas da obrigação que consta do titulo, neste sentido quanto à
exigibilidade diz respeito à justificação da execução (se não for, ainda, exigível não justifica proceder
a realização coativa da prestação), certa e líquida correspondente à possibilidade, uma vez que
temos que determinar e quantificar a prestação devida de forma a proceder à realização coativa. No
caso em apreço, quanto à exequibilidade extrínseca temos um título executivo, uma sentença (703º,
nº1, alínea a)), conquanto é uma sentença genérica conforme 609º, nº2 e 556º, nº1, alínea b), sendo
aplicável o nº6 do 704º porque é ilíquida, não indicando os valores em carência, carecendo de
exequibilidade intrínseca, uma vez que não estamos perante um caso simples cálculo aritmético
como seria o caso dos juros 716º, nº2 CPC, terá que existir uma liquidação antecipada para que seja,
nos termos do 716º, nº1 teria que haver uma especificação dos valores que considera devidos, não
obstante a sentença não seria titulo executivo, pela necessidade de haver uma liquidação da
obrigação em processo declarativo, não caindo nas exceções do 716º, nº2 e nº7, carecendo assim
de exequibilidade extrínseca e intrínseca.

2. Manteria a sua resposta se A e B tivessem interposto recurso da decisão judicial?


Em termos de exequibilidade extrínseca, à partida a sentença nos termos do 704º, nº1, alínea a)
CPC apenas constitui TE após o trânsito em julgado (628º/CPC). Contudo, a exequibilidade pode
ter efeito imediato no caso do 704º, nº1, 2ª parte, se concluirmos que a apelação tem efeito
devolutivo (647º, nº1). Tal é exequibilidade provisória, não pode haver processamento posterior
à penhora, salvo se o exequente nos termos do 704º, nç2, CPC pagar caução, e tem de ser de
certos bens (704º, nº4). Não sendo necessário aguardar pela decisão em trânsito em julgado
para intentar a AE, uma vez que visa por 1 lado a proteção do credor e por outro evitar a
interposição de 1 recurso pelo demandado de forma a obviar a execução da decisão que o
condenou a cumprir uma obrigação. Uma vez que regra geral é efeito devolutivo 647º, nº1 CPC,
porquanto o nº3, sendo a requerimento do executado será atribuído efeito suspensivo quando a
execução lhe cause prejuízo e se ofereça para prestar caução 704º, nº5, CPC. Não obstante, o
recurso não cabe numa destas exceções.

Se admitirmos que o recurso foi feito para a Relação, presumimos apelação. Se Supremo
diferente. Sendo uma execução de natureza provisória pode mudar consoante a decisão no
recurso – ver Esquema 5, 647º/4 e 649/2.

3. Explique de que forma seria liquidável a quantia exequenda, bem como a admissibilidade
e o meio processual a que A e B poderiam recorrer para contestar o valor indicado no
requerimento executivo por C.
Estamos no âmbito da exequibilidade intrínseca. Para uma obrigação pode ser executada tem que
ter as características do 713. In casu, o problema é a liquidez. 716º diz nos como proceder à
liquidação da obrigação para que ela dique exequenda. Sempre que temos uma obrigação cuja
liquidação pode ser feita por simples calculo aritmético aplica-se o 716º/1 e 724º/1h). o executado
vai poder responder se quiser a este valor a partir do 729ºe). Diferente é quando a liquidação da
obrigação não dependa de simples cálculo aritmético. Ai temos q dividir entre títulos extra judiciais
(716/4) e judiciais (716/4 e 5). 716/4 diz nos que o exequente vai também no requerimento executivo
colocar o valor mas depois disso o executado é citado para contestar. Ou seja, nestes caso, o
processo é sempre o ordinário (porque o sumario suprime esta situação). Na falta de contestação
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considera se fixado o valor do requerimento executivo, se ele contestar passa se para os termos do
processo declarativo e o valor e2fixado por sentença. No caso dos títulos judiciais, aplica se o 716/4
e 5. Como é que sabemos qual aplicar? quanto vigorar o ónus mencionado no nr 5, aplicamos o
716/5 e não vamos ao nr4.
O nosso caso cabe no 556º/1b. Perguntar se vigor ou não o ónus de proceder a liquidação. Vamos
ao 358º. Se combinar mos o 716º/5 com o 556º/1a) e b) e com o 358º/ 1 e2 vemos que são os casos
da universalidade e outro qualquer que tem o ónus. 404/6 se ele não liquidar na acção declarativa
AKA não usar o ónus. Quando não vigora este ónus AKA só na alínea c) do 556º/1, ai aplica se o
716º/4.
No 716/5 o que tem que chegar é já uma sentença que já esteja líquida.
Quando no caso dizem que o exequente apresentou um requerimento e juntos os valores
necessários não é possível porque havia um ónus de liquidar na accao declarativa. A luz do 359º
devia ter requerido logo à partida que fosse feita esta liquidação na acção declarativa.
Ver esquema 6 do livro da AA

4. Poderia C, no momento da liquidação da obrigação exequenda, incluir os montantes relativos a


juros de mora, apesar de a sentença não fazer qualquer referência a estes? Se sim, a partir de
quando?
No fundo a questão é se o título executivo abrange ou não juros de mora. A questão já foi controversa, mas
hoje já está na lei. 703º/2. A liquidação é feita pelo agente de execução (art?). 806º/1 do CC. 805º/2 e 3 CC.
Só é exigível o crédito a partir da sua liquidez. No entanto, o 805º/3, 2ª parte faria com que, no nosso caso,
com a citação para a acção declarativa, os juros de mora começavam a contar. Mas o acórdão do STJ de
uniformização de jurisprudência de 9 de maio de 2002 veio interpretar restritivamente este preceito e diz que
é desde o momento em que a obrigação se torna líquida.

Caso 2
J celebrou um contrato-promessa de CV com M, nos termos do qual ficou acordado que celebrariam
no mês seguinte um contrato de CV da casa de férias de M. Posteriormente, tendo M recusado celebrar
o contrato prometido, J pediu a execução específica do contrato prometido, o que veio a acontecer. No
entanto, M teima em não entregar a chave da casa a J.
1. Pode J propor acção executiva contra M para forçar a entrega da chave da casa ou deve recorrer
a uma nova acção declarativa?
A execução específica (830º CC) é uma ação executiva? É uma ação declarativa constitutiva: completa o
contrato prometido. Esta sentença não é condenatória.
Princípio do dispositivo: o tribunal tem de se pronunciar sobre tudo o que é alegado pelas partes e não se pode
pronunciar sobre mais nada. Ela pediu ao tribunal o quê? Pediu para declarar que a casa era dela. Ela tinha
de pedir para lhe entregar a casa e ela não fez. Ela não fez um pedido de condenação, só fez um pedido de
mera apreciação.
O Professor Miguel Teixeira de Sousa diz que o tribunal pode fazer uma condenação implícita, que é um pedido
implícito: pode conhecer e condenar quando não havia qualquer utilidade económica em só fazer este pedido;
racionalizar o pedido do autor. Ou seja, ela pedir para que seja declarado que a casa é dela não tem utilidade
económica, visto que com isso ela continua sem poder entrar em casa, uma vez que não tem a chave.
O Professor Rui Pinto não aceita condenações implícitas: Fundamentos:
 Princípio do dispositivo: o advogado do autor foi mau, problema dele.
 Princípio do contraditório: os pedidos implícitos podem acabar por ser usados para limitar os meios de
defesa do réu.
O Professor Lebre de Freitas admite excepcionalmente as condenações implícitas.
Se eu for advogado do autor, vou tentar evitar as condenações implícitas, pedir tudo o que tenha a pedir,
inclusive a chave. Se eu for parvo e não o fizer, tendo defender as condenações implícitas para já ter um título
executivo para a ação executiva.
A ação enquanto instrumento de resolução, final e efectiva de um conflito, como decorre dos artigos 20º e
202º/1CPC, é possível na medida em que assegura um direito à tutela jurisdicional. No caso concreto, a
Josefina perante um incumprimento do contrato-promessa pela parte da Mimi tem um direito à ação, tendo que
se averiguar qual assegurará mais o seu direito.
Nos termos do artigo 10º, nº1 do CPC, podemos distinguir as acções declarativas e executivas, sendo que
estas últimas, são aquelas pelas quais o credor consegue a realização coactiva de uma obrigação que lhe é
devida (10º/4).
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A J tem efectivamente uma obrigação que lhe é devida, a entrega da casa pela Mimi, no seguimento da
sentença de execução específica. Logo, à partida poderia recorrer à ação executiva para dessa forma
conseguir que a devedora cumpra o que lhe é imposto. Porém temos que analisar se será necessária uma
nova ação declarativa e se os pressupostos para uma ação executiva estão preenchidos.
No presente caso estamos perante uma ação para entrega de coisa certa (10º/6 e 859º e ss.), a chave da casa,
corre por isso em forma única, nos termos do artigo 550º/4 e 626º/ 1, e segue a tramitação dos artigos 859º e
seguintes do CPC.
O artigo 10º, nº5 diz-nos que toda a execução tem por base um título, pelo qual se determinam o fim e os
limites da ação em causa, já o artigo 703º diz-nos quais os títulos executivos possíveis.
Esta necessidade de título executivo para se intentar uma ação executiva é qualificada por alguns autores
como pressupostos processuais, como é o caso dos professores Anselmo de Castro e Lebre de Freitas, porém
o entendimento do professor Rui Pinto é diferente, como expõem no seu manual, “a exigência de título ou de
certeza e liquidez da obrigação constitui claramente um requisito de tipo diferente dos pressupostos
processuais - diferentes da competência ou da personalidade, capacidade ou legitimidade”. O professor
acrescenta ainda que não se tratam de pressupostos processuais por não se respeitarem a uma relação
processual, sendo o título executivo apenas uma condição de ação. O professor fala assim de exequibilidade
formal quando se refere ao título executivo e de exequibilidade material quando o que está em causa é a
obrigação.
Quanto à exequibilidade extrínseca (formal): O professor afirma que o título executivo é “um documento pelo
qual o requerente da realização coativa da prestação demonstra a aquisição de um direito a uma prestação,
requisitos legalmente prescritos”. Quanto às espécies, o artigo 703º/1, enumera nas suas quatro alíneas o que
pode servir de base à execução. No caso em questão, o título executivo que serviria de base à execução seria
a sentença do tribunal de execução específica do contrato-promessa, mas não há uma posição clara quanto a
inserir-se na alínea a), sentenças condenatórias, estes casos.
Quanto à posição do professor Lebre de Freitas, este entende que sentença condenatória existe em qualquer
tipo de ação, não apenas de condenação, mas também de mera apreciação, constitutiva ou até de execução,
sendo a decisão o título executivo para efeito da sua cobrança coerciva. Afirma que “em qualquer tipo de ação,
tem, em princípio, lugar a condenação em custas e a decisão que a profere constitui título executivo para o
efeito da sua cobrança coerciva”. Artur Anselmo de Castro dá o exemplo da sentença de execução específica
de um contrato-promessa, como um caso de condenação implícita, referindo que esta pode levantar problemas
ao nível do princípio do dispositivo. O professor Rui Pinto não concorda que se fale de condenação implícita,
dizendo que apenas o admite a título excepcional.
A execução específica do contrato-promessa é uma ação constitutiva em que se impõem de modo imediato,
pela própria sentença, o direito a uma prestação, assim sendo não faz sentido a Josefina recorrer a uma nova
ação declarativa. Nas palavras do professor Rui Pinto, “uma ação constitutiva como a de execução específica
é uma ação executiva”.
Quanto à exequibilidade intrínseca (material), o título deve demonstrar uma obrigação, que seja certa, líquida
e exigível, de acordo com o artigo 713º CPC. A obrigação exequenda terá de ser certa (ou seja, determinada
em relação à sua qualidade, sendo possível diferenciá-la de todas as outras), exigível (ou seja, quando se
encontra vencida ou quando o seu vencimento depende de simples interpelação do devedor) e líquida (ou seja,
quando se encontra determinada ou determinável em relação à sua quantidade), nos termos do art. 713º.
Neste caso parecem estar verificados os três requisitos, a Mimi já estava em incumprimento do contrato-
promessa, e a obrigação do contrato era a venda e posteriormente a entrega da casa, que se encontrava
determinado.
Ter ainda em conta que a sentença só pode constituir título executivo depois de trânsito em julgado, nos termos
do artigo 704º/1 CPC. E que o título executivo deve acompanhar o requerimento inicial de execução, enquanto
pressuposto formal. Como consequência da falta deste defende-se, actualmente, de acordo com o princípio da
economia processual, que o juiz deve proferir despacho de aperfeiçoamento, porém em tempos já se defendeu
um despacho de indeferimento liminar.

2. Admitindo que a pretensão de J relativa à entrega da chave se encontrava abrangida pelo título
executivo, pronuncie-se sobre a consequência de J propor, desde logo, uma nova acção
declarativa, desconsiderando a exequibilidade do documento em causa.
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Admitindo que seria possível à Josefina recorrer à ação executiva para que assim lhe fosse entregue a casa,
estando assim esta ação abrangida por título executivo e a exequente legitimada, poderia mesmo assim propor
contra o devedor legitimado, uma ação declarativa, mas que era desnecessária.
Assim, nos termos do artigo 535º/2/c), havendo esta desnecessidade em causa, o autor é responsável pelas
custas. Tendo, contudo, que se verificar a “manifesta força executiva” e que não haja esta necessidade do
processo de declaração.

Caso 4
O, empreiteiro analfabeto, em agonia no leito da morte, pediu á sua namorada N para esta lhe redigir e
assinar, a seu rogo, o seu testamento. Elaborado de acordo com as instruções de O, do testamento
cerrado constava o seguinte:
i) Um legado a N da sua casa de férias na Comporta, hipotecada a favor de M;
ii) Sem prejuízo do legado, deixou todos os seus bens ao seu único herdeiro, o irmão L;
iii) Reconheceu ter uma dívida de 100.000€ para com M, resultante de um fornecimento de
calçada portuguesa, dívida essa garantida pela hipoteca já constituída e que onerava a sua
casa de férias na Comporta.
O testamento cerrado não foi aprovado por notário.
O faleceu uns meses depois, tendo N prontamente aceitado o legado e L prontamente aceitado a
herança. M pretende agora, após a partilha do acervo hereditário de O, exigir o pagamento dos 100.000€.
1. M tem título executivo? Contra quem?
Este caso refere-se a um testamento cerrado (2206º CC) não autenticado que, entre outras coisas, contém um
reconhecimento de dívida como consta do art. 458º/2 CC.
Este testamento é válido?
 Não, 2208º CC: invalidade material, era analfabeto.
 2206º/1/4 e 5, 2208º CC + 154º/4 e 6 CNotariado.
 Como testamento não servia para nada.
 Vamos presumir que era válido. Ele vale como título executivo, visto que ele tem um reconhecimento
de dívida?
Perguntando-se se este testamento vale para Miquelino como um título executivo?
O título executivo é um documento que demonstra um facto aquisitivo do direito à prestação por parte do
requerente da prestação coativa, dentro dos requisitos legalmente prescritos. Esses mesmos títulos executivos
encontram-se previstos no art. 703º CPC, sendo o artigo taxativo.
O testamento cerrado é considerado um documento particular simples, uma vez que não houve nenhum tipo
de intervenção pública (não foi aprovado pelo notário e é omisso quanto às outras duas entidades
equiparadas).
Antes da entrada em vigor do Lei 41/2013 de 26 junho, o CPC no art. 46º alínea c) previa que tinha força
executiva qualquer documento particular mesmo que esse documento fosse simples ou com assinatura
reconhecida, exigia-se para ser considerado título executivo somente que fosse assinado pelo devedor e que
constituísse uma obrigação.
Atualmente já não é assim, foi suprimida a previsão da ampla categoria dos documentos particulares simples
e com assinatura reconhecida.
Na nova redação, no art. 703º/1/b) não cabem documentos particulares simples, nem documentos particulares
com assinatura reconhecida. Só cabem os documentos particulares autenticados, com duas exceções.
 Uma constante no art. 703º/1/c) relativamente aos títulos de crédito.
 Outra é pela existência de um DL que dê força executiva ao documento, cabendo, portanto, no art.
703º/1/d).
Porém, como nenhuma destas alíneas se encaixa no problema, não sendo, portanto, de aplicar, ele não valerá
como título executivo. E agora? Como é que podíamos passar a ter título executivo?
 Podia servir de meio de prova, pegava nele, intentava uma ação declarativa de condenação (10º/2/b))
e, assim, transformava-o num título executivo (sentença condenatória – 703º/a)).
 Outra via:
 Nós não sabemos quando é que ele fez o testamento. Se tivesse sido antes de 2013, visto que era
um documento particular, era título executivo.
 O TC declarou inconstitucional retirar-se força executiva a este tipo de documentos constituídos
antes de 2013 – tutela da expectativa.
Contra quem é que o título executivo podia valer?
 Sucessores do de cujus – NÃO.
 Só contra o morto, porque não havia testamento
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Evidentemente que o testamento, ato de disposição de bens por morte, não pode constituir título executivo
enquanto nele radica a transmissão dos bens do testador. Mas já o será, por nos situarmos no campo das
obrigações, quando o testador nele confessa uma dívida sua ou constitui uma dívida que impõe a um sucessor.
 Em ambos os casos, tem de se verificar a posterior aceitação da herança pelo sucessor, a qual
constitui, no primeiro caso, condição da transmissão da dívida, e, portanto, fundamento da legitimidade
passiva do sucessor para a execução, e, no segundo, condição suspensiva da própria obrigação.
 Por isso, a aceitação tem de ser alegada e, pelo menos no segundo caso, provada pelo exequente
(54º/1 e 715º/1), respetivamente); mas o título executivo é sempre o testamento e não o ato da
aceitação da herança.

2. Pronuncie-se sobre a relevância da aceitação do legado e da herança para a exequibilidade da


pretensão de M.
O título deve demonstrar uma obrigação que constitui o objeto mediato da relação material que seja certa,
líquida e exigível como decorre do 713º CPC.
No caso em questão terá de se averiguar se está preenchido o requisito da exigibilidade, sendo que será
exigível a obrigação que está em tempo de cumprimento.
No caso concreto trata-se de uma exigibilidade complexa como facto constitutivo complementar por se tratar
de uma condição suspensiva.
Pode concluir-se que para a ação ser exequível é necessário que a obrigação seja exigível e para tal é preciso
a verificação de uma condição suspensiva. Isto é, a aceitação da herança e do legado é indispensável para
ação ser exigível e deste modo exequível.
Sem esta exigibilidade a execução extinguia-se por falta de condição material do seu objeto material.
O exequente deve, pelo art. 715º/1, alegar e provar documentalmente no requerimento executivo essa mesmo
verificação da condição (art. 724º/1/h)/2ª parte).
Neste caso a forma do processo é ordinária (550º/3/a)).
Antes da citação do devedor e sem a sua audição, o juiz vai apreciar os factos expostos, conhecer a prova e
decidir da ocorrência da condição alegada pelo exequente, podendo, todavia, o juiz concluir pela necessidade
de ouvir o devedor antes da decisão, onde nesse caso será citado para contestar a verificação da condição
suspensiva, caso não o faça, a condição será dada como verificada.
Divergência doutrinária:
 LF, MTS, RP – testamento é que é o título executivo.
 O título é o testamento, que precisa que uma condição de exequibilidade para serem
demandados os herdados, a aceitação (mas isto não integra propriamente o título, juntamos ao
requerimento executivo).
 A aceitação (2249º e 2250º) é condição de exequibilidade para efeitos do art. 715º/1.
 Ou seja, apresentamos o testamento como título executivo e juntamos a aceitação.
 Eurico Lopes Cardoso – aceitação é que é o título executivo.
 Faz paralelismo com o art. 458º com a confissão da dívida. É como se fosse um reconhecimento
das dívidas da herança.
 Esta posição é anterior ao novo CPC. A aceitação não cabe no nosso 703º.
 O art. 54º ultrapassa os problemas que este prof apresentava.
Contra quem é que é proposta a ação executiva:
 Conta o Olavo.
 Com a aceitação: contra o L e a N.
 Os herdeiros respondem pelas dívidas e os legatários não. Logo, a N não será devedora.
“Contra quem?” A legitimidade é um pressuposto processual. Na acção executiva há um principio da
legitimidade formal que nos diz que a legitimidade se retira do titulo. No caso temo um desvio a regra geral.
Temos uma sucessão numa obrigação que acontecia depois da constituição da obrigação mas depois da
accao1aexecutiva. A legitimidade do devedor está no 54º/1. São legítimos os sucessores. Nestes caso em que
a sucessão e feita na pendência da acção ou vamos 351º ss promover habilitação de herdeiros ou então 356º.
É diferente a sucessão ocorrer antes da acção executiva ou durante porque muda a legitimidade. No caso,
2068º CC era Leopoldo que ao aceitar e tornando-se herdeiro do devedor se torna parte legítima como
executado nesta acção. Isto porque ele é um herdeiro e não u legatário. Como a Nandinha é legatária não vai
responder pelas dívidas (se não tivesse a hipoteca!).
Consequências da ilegitimidade singular e plural na acção executiva. A singular é sanável? 726º/2b). Sempre
que estamos a olhar para pressupostos processuais temos que pensar em que momento é que esse
pressuposto é conhecido na acção. No momento do despacho. No vaso de ilegitimidade singular é de
conhecimento oficioso e não é sanável. Portanto vai haver um despacho de indeferimento liminar. Ou então se
for um caso de processo sumario (que é o caso porque há uma hipoteca) não podemos dizer que há u
indeferimento liminar, temos que dizer que o agente de execução deve suscitar a intervenção do juiz nos termos
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do 855/2b). A ilegitimidade singular é também fundamento da oposição à execução (729ºc)). No processo


ordinário esta oposição à execução vai acontecer antes na penhora mas no sumário só vai aconteceu depois
da penhora. A ilegitimidade plural é a preterição de um litisconsórcio necessário. E de conhecimento oficioso
mas é sanável. A partida o juiz deve proferir um despacho de wperfeicoamnete726º/4. 726/5 se ele mesmo
assim não aperfeiçoar há indeferimento. 729º/c é fundamento de oposição à execução. 731º se o titulo
executivo não é sentença (?) Ou seja, estes artigos não se aplicam necessariamente ao caso, a professora
está a falar no geral. No nosso caso é um caso extra judicial. O exequente pode sanar o vício até 30 dias em
trânsito em julgado do despacho de indeferimento ou da sentença a dizer que o executado tem razão na
oposição.
Para a maioria da doutrina o testamento é o título executivo, ainda que o exequente tenha de conseguir trazer
à acção executiva e privar ao juiz que o herdeiro aceitou aquela herança. Portanto temos um titulo executivo
cuja exequibilidade esta dependente da demonstração que se faz pelo 715º de que o herdeiro aceitou a
herança. Este artigo é usado para obrigações condicionais ou obrigações em que há uma contraprestação.
Há doutrina, como é o caso do Professor Lopes Cardoso que defende que o título executivo não é o testamento,
mas a própria aceitação da herança por Leopoldo.

3. M propôs acção executiva apenas contra L, apresentando o testamento em questão. L afirma


que a execução deve iniciar-se pelo bem hipotecado, a casa de férias na Comporta. Quid iuris?
A regra geral é que na ação executiva tem legitimidade como exequente e executado quem no título figura
como credor e devedor segundo o 53º/1, tendo então a execução por base um título executivo como se retira
do 10º/5. Só que esta regra admite desvios.
O art. 735º/2 admite que nos casos especialmente previstos na lei, podem ser penhorados bens de terceiros à
dívida, desde que a execução tenha sido movida contra o terceiro, caso contrário, seria ilegítimo. O terceiro à
dívida não pode ser, porém, terceiro ao processo.
Um dos casos em que existe um desvio ao regime geral e uma extensão subjetiva do âmbito primário da
penhora é, nomeadamente, o art. 54º/2, que trata os casos em que existe uma garantia real de uma dívida
alheia.
Dispõe o artigo 752º/1 CPC que "executando-se dívida com garantia real que onere bens pertencentes ao
devedor, a penhora inicia-se pelos bens sobre que incida a garantia e só pode recair noutros quando se
reconheça a insuficiência deles para conseguir o fim da execução”.
Contudo, o bem sujeito a hipoteca não está na propriedade do devedor, mas sim de Nandinha, que é terceira.
A execução nesse caso não começa necessariamente pela penhora do bem dado a garantia como se pode
retirar do 752º/1 e o 697º CC, ambos a contrario.
O art. 752º só se aplicaria se a casa tivesse sido deixada a L.
A hipoteca não afasta a responsabilidade do devedor no cumprimento das obrigações nem transforma a
responsabilidade do devedor em responsabilidade subsidiária relativamente à garantia prestada.
O devedor não tem deste modo direito a que a execução comece por bens alheios, podendo o credor escolher
entre:
 Demandar apenas o devedor, como fez.
 Propor ação executiva contra o terceiro e, mais tarde, chamar o devedor à ação, caso os bens sejam
insuficientes, pelo 54º/2, 1ºparte e nº3, num litisconsórcio superveniente.
 Por último, propor a ação executiva desde logo contra o terceiro e o devedor em litisconsórcio
voluntário pelo 54º/2, 2ª parte. Respondendo o terceiro neste caso, tal como no anterior, apenas sobre
o bem onerado com a garantia real, sendo ainda necessário apresentar a escritura pública da hipoteca
devidamente registada.
Assim:
 Podia haver ação contra o devedor: L;
 Ou contra a Nandinha: N;
 Ou contra os dois (L + N);
 2071º/1 CC legatários não respondem pelas dívidas.
 54º: pode propor só contra um e só contra outro ou contra os dois.
 53º e 54º: princípio de favor creditoris: o exequente faz o que quiser, se quiser chamar só o devedor
principal chama, se quiser chamar só o garante chama, se quiser chamar os dois chama.
 Problema: benefício da excussão prévia (638º e ss. CC) – não existe com as hipotecas.
 Quando há um terceiro garante, fiador, com benefício da excussão, diz ao exequente para
esgotar primeiro o património do devedor, só podendo ir ao seu depois.
 Princípio da escolha:
 Teoria – é normal que goste de chamar todos, para ter mais garantias.
 Prática: depende.
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 Litisconsórcio voluntário – hipótese de escolha ao credor.


Estes terceiros nunca podem ser terceiros na acção exevutiva. Eles próprios não são devedores da obrigação
mas mm assim eles tem que constar da acção executiva como executados. Se virmos no caso que temos um
exequente a pedir a execução de um bem de uma pessoa que não esta no titulo, então algo não esta bem.
Mas quem é que pode ser executado? Apenas o devedor? Não, podem ser também 3os a divida. 735º/1 e
regra geral. Mas há 2 casos excepcionais no 735º/2 CPC e 818º CC. Se o 3º for garante da obrigação ou então
quando gouve uma impugnação pauliana. No nosso caso, a Nandinha tinha um bem (casa de ferias) sobre o
qual foi constituído hipoteca pelo que ela passou a ser garante da obrigação. A hipoteca significa que este
credor, que é o inquilino, pode servir se do preço deste imóvel para pagar a sua divida. Neste caso o garante
pode ser chamado a acção executiva como executado. Caso diferente é quando podemos ter hipotecas sobre
bens próprios do devedor e aí vamos pela regra geral porque não há um terceiro na obrigação porque é o
devedor.
Penhorado um bem de 3º que não seja parte temos penhora ilegal, e o 3º pode defender-se através de
embargos de 3º ou através de acção de reivindicação.
In casu, o bem não poderia ter sido executado nem penhorado.
Seria diferente se o bem fosse do Leopoldo porque ele é executado (53/1). Se o bem que está hipotecado
fosse dele ai sim a penhora já podia 697º CC e 752º/1 CPC há possibilidade de penhora começar pelos bens
hipotecados.

4. Imagine que, iniciada a execução contra L, M constata que o valor dos bens herdados é inferior
ao valor da obrigação exequenda e pretende demandar N, que se defende, afirmando que M
renunciou tacitamente à execução da hipoteca. Quid iuris?
O Miquelino, ao não indicar o bem onerado à penhora e o agente de execução também não o ter mencionado,
significa que não está a exercer o seu direito real de garantia e que não pode Nandinha, nesse caso, ser
executada.
Se fosse penhorar o bem sem o ter mencionado na execução, daria origem a uma ilegitimidade. Existiria então
uma ilegalidade subjetiva da penhora e podia a Nandinha fazer uma oposição através de embargo de terceiros
ou de uma ação de reivindicação.
Contudo, por de forma tácita não exercer este direito da garantia real, não está de maneira nenhum a renunciá-
lo, pois tal só seria possível pelos modos previstos na lei civil. A única maneira de renúncia, no caso em
concreto, seria pela forma extrajudicial preenchendo os requisitos de validade do 731º CC e feita antes da
execução.
Nada impede que, se os bens do devedor não chegarem, o exequente não possa propor uma nova ação
executiva contra o terceiro, embora não exista uma disposição legal expressa, pode retirar-se esta conclusão
das regras gerais sobre a legitimidade na ação executiva.
Como o título executivo proveio de uma sentença, a propositura da ação executiva contra o proprietário dos
bens onerados pressupõe que contra ele também tenha sido proposta ação declarativa de condenação e nesta
tenha sido declarada a existência da garantia pelo 635º/1, 667º/2 e 717º/2, todos do CC.
Qualquer que fosse a hipoteca (704º e 710º/1 e 714º), o 731º dispõe que a renúncia tem de ser expressa.
Ainda que eu dissesse no requerimento executivo que não queria, que renunciava etc., não estava a renunciar,
porque tem de ser documento autenticado. Podia sempre chamar a Nandinha, posteriormente.
Não estamos renunciar à hipoteca porque tal renúncia está regulada pelo 731º/1 CC que no diz que ela deve
ser expressa e escrita em documento reconhecido e uma vez que o requerimento executivo por si não é um
documento em que o exequente consiga fazer esta renúncia. A renúncia não pode ser tácita. Se o exequente
não o faz então ela continua valida e a produzir efeitos, ainda que nesta acção o exequente só possa fazer
valer dela se demandar a 3ª proprietária do bem sobre a qual está constituída a hipoteca.
54º/2. A doutrina no geral admite a intervenção do 3º anda que inicialmente a acção só tenha sido proposta
conta o devedor. MTS diz que se admite a intervenção principal provocada em quase rodos os casos (opinião
muito aberta). Lebre de feitas também diz que em geral é admissível quando a intervenção seja passiva isto é,
intervenção do réu (ele é obrigado a entrar na acção) e provocada pelo exequente (ou seja, é o exequente que
chama o réu à acção).
Ver esquema 13 do livro da AA

5. Suponha que M propõe acção executiva apenas contra N, apresentando o testamento em


questão e percebendo, mais tarde, que o valor da casa de férias é manifestamente inferior ao
valor da obrigação exequenda. Quid iuris?
Desde logo há que atentar na problemática em torno da legitimidade. Para isto há que considerar o facto de
Nandinha ter recebido a casa de férias que estava hipotecada a favor de Miquelino e o facto de que o único
herdeiro de Osvaldo era Leopoldo, logo é este que sucede na titularidade da dívida para com Miquelino.
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Assim, Leopoldo é o devedor principal, como sucessor de Osvaldo; Nandinha figura como um terceiro garante
do cumprimento visto que ela adquiriu a coisa (isto é, a casa de férias) que estava onerada com a hipoteca;
Miquelino é, por sua vez, o credor da obrigação de 100,000,00 EUR, crédito esse que estava garantido com
hipoteca sobre o bem de Nandinha, terceira à divida.
Concretizando, Miquelino, sendo credor da obrigação, é ele que deve promover a execução, de acordo com o
53º CPC, detendo assim legitimidade processual ativa.
Já do lado da legitimidade processual passiva, há que referir que Osvaldo é o devedor originário da dívida de
100,000,00 EUR, visto que é ele que figura no título como devedor da obrigação exequenda. Logo, de acordo
com o mesmo art. 53º CPC seria contra ele que deveria ser instaurada a ação.
Com a sua morte, sendo esta um facto sucessório posterior à formação do título e anterior à produção do
requerimento, segundo o art. 54º nº1 CPC a execução teria, na verdade, de correr contra os seus sucessores,
neste caso, Leopoldo, seu único herdeiro, que lhe sucede na obrigação (caso Osvaldo tivesse falecido já na
pendência da ação executiva o exequente teria primeiro de promover o incidente de habilitação de herdeiro
por morte do devedor, de acordo com o art. 351º CPC).
Porém, figura no caso que existe ainda um terceiro interveniente, Nandinha, que vem a adquirir, por legado, a
casa hipotecada e contra quem Miquelino instaura a ação pelo facto de a casa daquela ter sido dada como
garantia do pagamento da dívida. Há desde logo que referir que não é pelo facto de Nandinha ser agora a
proprietária da casa que é ela o devedor principal; ela é apenas o garante do cumprimento da obrigação por
deter um bem onerado com uma hipoteca que foi dada por Osvaldo como garantia do pagamento da dívida
que este detinha para com Miquelino. Isto advém da conjugação dos artigos 686º nº1 e 818º, 1ª parte do CC e
735º nº2 CPC. Assim, de acordo com as regras de legitimidade passiva do 54º CPC, a execução pode também
ser movida contra esta.
Ora, no caso em apreço, Miquelino moveu apenas a ação contra Nandinha, garante do cumprimento, o que
não tem qualquer problema visto que a lei confere ao exequente a possibilidade de escolha entre mover a ação
contra o devedor e terceiro, em coligação, ou apenas contra o terceiro, sem chamar o devedor, ao abrigo do
54º/2 1ª parte CPC e de acordo com o 697º a contrario CC. Configura-se, assim, um caso de legitimidade
opcional visto que o 735º/2 CPC determina que podem ser penhorados bens de terceiro desde que a ação
tenha sido movida contra ele, o que ocorre neste caso.
Além disto, há que referir que, de acordo com a opinião do senhor Professor Rui Pinto, o 54º/2 CPC é uma
norma de legitimação passiva de terceiro (a norma “dá legitimidade ao terceiro, mas não a retira ao devedor”)
e não configura um caso de litisconsórcio necessário do terceiro com o devedor.
Deste modo, e de acordo com a posição do Professor Rui Pinto, Miquelino poderia instaurar a ação somente
contra Nandinha, ao abrigo do 54º/2, 1ª parte CC.
Questão diversa é a de saber o que ocorre se, ao apenas se demandar o terceiro garante do cumprimento, se
verificar que o bem em causa não é suficiente para pagar a totalidade da dívida, o que efetivamente ocorre
com Miquelino no caso em apreço.
Ora como bem explica o professor Rui Pinto, se se verificar, após a distribuição do produto da venda, que o
bem onerado com a garantia (neste caso, hipoteca) é insuficiente para o pagamento da dívida, o exequente
pode requerer, no processo corrente, o prosseguimento da ação executiva também contra o devedor para que
o seu crédito seja satisfeito na totalidade, de acordo com o 54º/3 CPC.
Portanto, ao deparar-se com a insuficiência da casa de férias de Nandinha para o pagamento total da sua
dívida, Miquelino pode demandar na decorrência da execução, Leopoldo (atual devedor principal da dívida, por
sucessão por morte a Osvaldo, devedor originário). Deste modo, esta intervenção principal constituí, agora,
uma situação de litisconsórcio superveniente, visto que o devedor apenas foi chamado à ação no decorrer da
mesma. Além disto, a obrigação exequenda é a mesma, o pagamento dos 100,000,00 EUR,
independentemente da diferente posição dos executados (Leopoldo, devedor, e Nandinha, garante real), logo
não poderia ficar extinta face a um e não extinta face ao outro. Há que referir que este é um caso de
litisconsórcio superveniente em que não há discordância na doutrina quanto à admissibilidade da intervenção
de um terceiro na execução, visto que é um dos casos tipificados na lei, concretamente, no já referido 54º nº3
CPC.
Apesar disto, há apenas que referir que Miquelino poderia desde o início da ação ter chamado Leopoldo
(devedor) e Nandinha (Garante real) em litisconsórcio voluntário, de acordo com a possibilidade conferida pelo
54º nº2, 2ª parte CC. A única situação em que existiria problemas seria se o exequente (Miquelino) tivesse
apenas demandado inicialmente o devedor (Leopoldo) e executasse ao mesmo tempo a garantia (de
Nandinha). Como explica Rui Pinto, este não seria um caso de ilegitimidade do devedor, mas de ilegalidade
subjetiva da penhora.
Situação prevista no 54º/3.
No 54º/2 ou demandamos logo a partida o 3º mais o devedor, ou enato, no 54/3 diz nos que no caso em que
apresentamos o requerimento executivo e colocamos la como executado apenas o 3º nos podemos
posteriormente, se vir-mos que o bem é de valor inferior à dívida, podemos depois vir demandar o devedor.
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Este caso é um caso de litisconsórcio voluntario sucessivo porque o exequente não e obrigado a demandar o
devedor, só o faz se quiser ver a sua divida cumprida, e sucessivo porque ele depois pode demandar o devedor.
Neste caso, a dúvida é: se demandarmos em 1º lugar o devedor, podemos mais a frente demandar o 3º?
Questão da intervenção principal provocada! É admissível se não estiver expressamente consagrada na lei!
Sim! Mas esta questão não se coloca neste caso, porque neste caso a questão esta completamente resolvido
pelo 54º/3.

6. Imagine que L, cabeça-de-casal da herança, procedeu, de má-fé, à alienação gratuita dos bens
que compõem a herança a favor de P. P tem legitimidade passiva para a acção executiva
intentada por M?
Nesta situação, tal como configurada pelo caso, parece que houve um ato praticado em prejuízo do credor,
isto é, Leopoldo alienou gratuitamente e de má-fé os bens da herança a favor de Patrícia para que a dívida
reconhecida no testamento não pudesse ser paga a Miquelino por falta de bens, visto que, de acordo com a
regra do 744º/1 CPC, para pagar as dívidas da herança, só podem penhorar-se os bens dessa mesma massa
patrimonial.
Ora, o 818º CC permite que a execução possa incidir sobre bens de terceiro quando esses bens tenham sido
objeto de ato praticado em prejuízo do credor. Concretamente, esta situação é configurada pelo 610º CC como
impugnação pauliana e que concretiza uma extensão subjetiva do âmbito primário da penhora a quem não é
devedor, mas sim um terceiro à dívida.
Há desde logo que referir que a impugnação pauliana do 610º CC não se confunde com a sub-rogação do 606º
CC visto que, enquanto nesta última o credor reage contra a inação do devedor; já na primeira, o credor reage
conta os atos praticados pelo devedor em seu prejuízo. No caso concreto, o devedor doa os bens que fazem
parte da herança para que o pagamento ao credor não seja possível. Ora é exatamente contra estas situações
que o instituto da impugnação pauliana visa dar proteção, dando a possibilidade ao credor de reagir contra
aqueles atos.
Deste modo, o primeiro requisito da impugnação pauliana é que exista uma diminuição da garantia patrimonial
(610º, 1ª parte CC), isto é, a diminuição dos valores que respondem pelo cumprimento da obrigação.
Para além disto, é necessário que daí resulte uma impossibilidade de satisfação do crédito (610º alínea b)).
 Ora no caso concreto, como só iriam responder pela dívida, os bens da herança (de acordo com o
744º CPC), tendo estes sido alienados, não existiam bens para pagar a dívida, logo existe uma
diminuição da garantia patrimonial que impossibilita o cumprimento da obrigação. É de referir que a
alienação dos bens também não tinha natureza pessoal (isto é, não era para dar cumprimento a
encargos patrimoniais com casamento, adoção, perfilhação, etc.).
Por último, o crédito/dívida era anterior ao ato de alienação gratuita dos bens, estando preenchida a previsão
da al. a) do 610º CC.
Sequencialmente, o 616º/1 CC permite que o credor possa executar esses bens no património de terceiro (o
que significa que não é necessário que os bens voltem para o património do devedor para o credor os poder
executar), o que é confirmado pelo já citado, 818º CC. Porém, para que tal execução seja possível, é necessário
que contra esse terceiro seja obtida uma sentença de impugnação pauliana, que será o título executivo, de
acordo com a segunda parte do 818º CC.
No caso concreto, para que Miquelino pudesse intentar ação executiva também contra Patrícia seria necessário
que primeiro obtivesse sentença de impugnação pauliana, para usar essa sentença como título executivo para
executar os bens no património de Patrícia, adquirindo esta, consequentemente, legitimidade passiva.
Dúvida da doutrina – ainda não há sentença da impugnação pauliana, mas querem chamar Patrícia apesar de
não haver título. Ou seja, dentro do 54º/2 e 3, cabe a impugnação pauliana?
 O Professor Rui Pinto diz que há legitimidade passiva, como se fosse um garante dos bens que estão
a ser dissipados.
 Deste modo, o professor Lebre de Freitas vê este terceiro (Patrícia) como devedor visto que foi
condenado; já Rui Pinto entende que o terceiro adquire legitimidade passiva por causa dos bens, isto
é, como garante da obrigação exequenda, aplicando, por este motivo, o 54º/2 CPC.
 MCM não concorda.
 Diz que o 20º/4 e 18º CRP estariam a ser violados.
 Resposta: não tem legitimidade passiva. Mas alguma doutrina minoritária diz que sim.
Podemos demandar pessoas que não o devedor, que são os terceiros. Estes terceiros não são terceiros à
execução, mas sim um terceiro à obrigação exequenda. Podem ser demandados nos casos do 725º/2 e 818º
CC. 818º diz-nos que pode ser executado terceiro que é garante da obrigação. Caso da impugnação pauliana.
O que acontece é que o Leopoldo, que ia ser executado, queria alienar de má-fé os seus bens a terceiro, de
modo a dissipar o seu património, para evitar que seja executado. 0 818º/2 CC resolve porque diz que quando
o devedor vende os seus bens de forma a prejudicar o credor o credor intenta uma acção de impugnação
pauliana e se ela for procedente ele fica com um título executivo para ele poder executar os bens ao terceiro
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que alienou os bens. Neste caso, o título executivo já é a sentença da impugnação pauliana. 616º/1 CC diz
que o credor tem o direito a restituição dos bens através da execução dos bens no património do tereceiro. O
que vamos fazer é executar directamente o património do terceiro. Surge um novo título executivo. Para
conseguir-mos fazer isto, no entanto, temos que executar o terceiroº (porque não podem ser executado bens
se não tiver sido executado na acção aquele a quem foram executados os bens). Se não conseguir-mos
executar, o bem foi com o caralho.
Lebre de Freitas e Rui Pinto dizem que se aplica analogicamente o 54º/2 porque dizem que a legitimidade do
devedor continua a resultar do 53º/1. Já a razão da legitimidade do terceiro resulta do facto de ele ser garante
do bem, porque ele alienou o bem do devedor (os Professores consideram que o património do devedor é o
seu garante e como tal passa o terceiro a ter esse garante, dai resultando a sua legitimidade).
Mas não dar muita importância a isto, está mal explicado.

7. Suponha que, em execução movida contra L, M indicou à penhora uma famosa


escultura que L herdara da sua mãe. L pretende opor-se a esta penhora. Quid
iuris?
Neste caso, Miquelino vem indicar à penhora um bem que não consta dos bens da herança
proveniente da sucessão de Osvaldo, mas sim da herança da mãe de Leopoldo. Ora, o que
se pretende saber é se pode um bem do património do devedor-herdeiro responder por uma
dívida proveniente da herança do falecido?
A regra do 735º nº1 e 744º CPC dita que o objeto da penhora se reconduz aos “bens do
devedor suscetíveis de penhora que, nos termos da lei substantiva, respondem pela dívida
exequenda”. Nesta sequência, temos de atentar na lei substantiva para determinar a relação
entre os bens do devedor e a dívida.
Assim, temos a regra do 2071º CC: apenas respondem pelas dívidas os bens da herança!
 Problema de prova muito grande.
 Devemos pedir inventário, ajuda a delimitar os bens da herança, delimita o património
que responde pela dívida.
 O ónus da prova cabe ao executado.
No caso concreto, o bem indicado por Miquelino (uma famosa escultura) pertence à herança
que Leopoldo recebeu de sua mãe e não do seu irmão Osvaldo. Ora, na medida em que a
dívida pela qual Miquelino é credor pertencia a Osvaldo, só podem responder por essas
dívidas, os bens que Leopoldo tenha recebido da herança do falecido Osvaldo e já não de
sua mãe, porque a massa patrimonial que integra a herança deste último está plenamente
separada dos bens do herdeiro Leopoldo (nomeadamente a tal escultura).
Nesta sequência, Leopoldo poder-se-ia opor à penhora daquele bem, de acordo com o art.
784º nº1 CPC, neste caso, alínea c), visto que a penhora ia incidir sobre um bem que nos
termos da lei substantiva não responde pela divida exequenda.
Esta oposição traduz um incidente declarativo da execução, ou seja, é acessória da ação
executiva (sem esta, aquela não é possível) que tem como função permitir que o executado
oponha defesa a um ato de penhora de um bem seu.
Sendo pedida a revogação da penhora de um bem do executado, esta ação figura como
uma ação constitutiva extintiva, na opinião de Rui Pinto. Fundamentos (isto é, causas de
pedir) dessa oposição são aqueles que constam das várias alíneas do 784º/1 CPC. Falta
apenas referir que, neste caso concreto, pelo facto de o título executivo ser um título
extrajudicial, de acordo com o 550º/2c) CPC, este processo segue a forma sumária, logo,
como a penhora é realizada antes da citação do executado, este terá de apresentar oposição
no prazo de 20 dias a contar da citação da execução e do ato de penhora, de acordo com o
856º/1 CPC.
Do 744º/1 resulta que o Leopoldo só pode ser penhorado nos bens que o Osvaldo lhe deixou
naquele testamento. O 744º/2 dá-nos um mecanismo de defesa para quando isto não
acontece. Imaginando que a penhora incide sobre um bem que ele não herdou, o Osvaldo
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podia pedir ao agente de execução o levantamento da execução. Ou seja, quando a penhora


é feita ilegalmente, o executado tem um outro meio para se opor, para além da oposição à
penhora, que é esta que consta do 744º. Ele não precisa de deduzir oposição à penhora, e
essa não tem que ir a juízo, ele pode simplesmente requer o levantamento da penhora. Se
o exequente não se opuser a acção procede. Se o exequente se opuser o executado só
pode consegui o levantamento da penhora se privar que aqueles bens que firam penhorados
não resultam da herança, etc. (744º/3).
723º/1c) permite ao executado reclamar da decisão do agente de execução ao juiz.

8. Considere agora que M fornecera igualmente calçada portuguesa a L e que L,


tal como outros tantos clientes de M, lhe devia 50.000€, dívida essa titulada por
sentença de condenação proferida em acção declarativa que já decorrera. No
âmbito de uma operação de cobrança em massa das dívidas dos seus clientes,
M pretende propor apenas uma acção executiva contra L, pelas dívidas desde e
pela dívida contraída pelo falecido O (com eventual chamamento à demanda de
N), bem como contra P, outro cliente que também não lhe pagara os
fornecimentos de calçada portuguesa e cuja divida se encontrava igualmente
titulada por outra sentença de condenação proferida em acção declarativa. Quid
iuris?
No caso concreto, Miquelino pretende demandar Leopoldo pela sua dívida (titulada por
sentença de condenação) e pela dívida do irmão (titulada por testamento) e, para esta última,
chamar também Nandinha, e demandar Pedrito pela sua dívida (também titulada por
sentença de condenação). Portanto temos o seguinte esquema:
Divida própria (sentença condenação)
Miquelino Dívida de Leopoldo Dívida de Osvaldo (testamento) + GR Nandinha
Dívida de Pedrito (sentença condenação).

Pelo que temos de verificar se Miquelino pode propor uma ação contra vários devedores por
dívidas diferentes e independentes entre si e, ainda, tituladas por títulos executivos de
diferente natureza.
Desde logo, há que notar a dualidade de regimes que procuram gerir situações deste género.
Deste modo, somos confrontados com o regime do 709º e 710º CPC, pelo que importa
esclarecer a diferença entre os dois:
 Relativamente ao 709º, está em causa uma cumulação de execuções fundadas em
títulos diferentes (judiciais, extrajudiciais e quase judiciais);
 Já no 710º consta o regime aplicável à cumulação de execuções fundadas em
sentença.
Ora, atentando no caso concreto, podemos logo verificar que estamos perante uma situação
do 709º visto que um dos títulos executivos é um testamento e, os restantes, sentença
condenatória. Assim, há que analisar os requisitos do 709º CPC, verificar se estão
preenchidos e concluir se a pretensão de Miquelino é admissível.
Cumulação de execuções baseadas em títulos diferentes: 709º:
 709º1/a): estamos perante um caso de incompetência absoluta do tribunal para
alguma das execuções, o que não torna possível a cumulação.
 85º e 89º: a competência é diferente para as execuções baseadas em sentença
(85º) e para as execuções baseadas em outros títulos executivos (89º).
 Normalmente, quando temos títulos de natureza diferente, a competência do
tribunal também será diferente.
 Não podia haver cumulação, o pedia para o exequente escolher com qual queria
seguir.
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Coligação (56º):
 São raras as situações de coligação.
 Também não é possível, pois para além de se verificarem as situações impeditivas
do 709º/1, 56º/1/b) exige que os devedores se encontrem obrigados no mesmo título,
o que não acontece.
 Logo, 38º e 726º/4 e 5: o processo sobe ao juiz e ele faz um despacho liminar ao
exequente a dizer que apenar de as duas partes separadas terem legitimidade, juntas
não têm legitimidade, por isso, haverá absolvição do pedido se o exequente não
escolher um executado.
Para além de termos uma pluralidade de execuções (pluralidade de pedidos), temos também
uma pluralidade de partes. Há litisconsórcio ou coligação? No litisconsórcio (passivo) o que
nos temos é um exequente que vai demandar vários executados, mas os pedidos em relação
aos executados são sempre os mesmos. Ou seja, os pedidos são feitos de todas as partes
contra todas as partes (in casu, na parte activa só está uma pessoa, mas podiam ser vários).
Já na coligação, o exequente vai executar vários devedores, mas as execuções vão ser
diferentes. Neste caso há uma coligação. É uma coligação ilegal por isso o juiz deve proferir
o despacho de aperfeiçoamento e basicamente perguntar-lhe qual é o pedido que ele quer
escolher (38º e 726º/4). Caso ele nada diga vamos para o 727º/5 e 739º/c e 731º (ou 8, não
percebi bem).

22/Mar/2019
709º/1c) e pressuposto a compatibilidade de processos. Se um for sumario e outro ordinário
é indiferente porque ambos são processo comum (pagamento de quantia certa é processo
comum). Se for por exemplo acção executiva para pagamento de alimentos já é um processo
especial por não isso pode. Também é exigido que as execuções não tenham fins diferentes
(709º/1b)). Também é necessária a competência absoluta do tribunal. Doutrina vai ao 555/1
e 186º/2b para dizer que tem que haver compatibilidade substantiva.
Nota sobre o 709º e 710º: sempre que hajam títulos diversos vamos ao 709º; se for uma
condenação baseada na mesma sentença vamos ao 710º, portanto pressupõe que só
tenhamos uma titulo executivo, que é essa sentença.
Quanto a este caso do testamento, havendo hipoteca a forma de processo pelo 550º/2 seria
o sumário.

Caso 5
Pedro vendeu um barco a Raquel, por 20.000€, no dia 3 de Abril. No dia 5 de Abril,
Pedro dirigiu-se ao Banco X para apresentar a pagamento o cheque que Raquel
entregara. Contudo, o pagamento foi-lhe recusado por falta de provisão.
1. Pode Pedro intentar uma acção executiva contra Raquel, anexando ao
requerimento executivo o cheque sem provisão? Manteria a sua resposta se,
em vez de um barco, o negócio subjacente fosse a compra e venda e um imóvel?
703º/1c), 10º/5
Exequibilidade extrínseca. O cheque é um título de crédito e portanto é titulo executivo por
força do 703º/1c. A grande questão é saber se cheque ainda esta válido. De acordo com
29º/1 da lei uniforme relativa ao cheque, tem 8 dias. O cheque não tinha provisão, se tivesse
não haveria problema nenhum.
No cheque temos sempre que separar dois grandes campos: campo da obrigação cartular,
que é aquela que vamos executar enquanto o cheque ainda está válido + relação subjacente
a esta obrigação cartular que é a relação que as artes têm e que leva uma a dar a outra o
cheque. Nestes 8 dias aquilo que nos temos é a obrigação cartular.
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MTS diz que sendo uma obrigação abstracta (o cheque) o exequente não vai ter que alegar
os factos constitutivos desta obrigação.
Quanto à compra do imóvel, claro que a nossa resposta não ia mudar. O cheque é título
executivo independentemente da forma do negócio e do seu valor.

2. Imagine que Pedro se dirigia ao Banco X no dia 24 de Abril do mesmo ano.


Manteria a sua resposta?
Questão é quando é que o cheque prescreve? O 29º/1 la lei anteriormente mencionada diz
que tem 8 dias para apresentar o cheque. Há doutrina que diz que se o beneficiário
ultrapassa este prazo, o cheque prescreve, e já só vale como titulo executivo como
quirógrafo. No entanto há doutrina que defende que não prescreve porque o 32º/2 diz que o
banco (sacador) ainda pode pagar o cheque se quiser, na verdade ele não está prescrito. O
que pode acontecer entre estes 8 dias e os 6 meses, o que pode acontecer é que o sacador
pode revogar o cheque unilateralmente, mas não está prescrito.

A grande diferença entre estas posições é que:


 No título de crédito, aquilo que há é uma obrigação abstracta, ou seja, o exequente
não tem que alegar os factos constitutivos.
 Já no quirografo, retira-se daquele cheque o reconhecimento de dívida do 468º (?)
CC e podemos pegar nele e executar a dívida, mas para isso o reconhecimento de
dívida já está no âmbito da relação subjacente e por isso é que o 709º/2b), 2ª parte,
diz que o exequente tem que alegar os factos constitutivos.
O que está hoje na lei é que o mero quirógrafo vale como título executivo.
A doutrina apresenta alguns pressupostos para que o quirógrafo valha como titulo executivo:
o cheque tem que estar assinado, tem que se enunciar os factos constitutivos (sendo que
isto decorre da lei), a relação subjacente não pode ter natureza formal (se for por exemplo
uma compra e venda de imóvel já não pode). Só vai valer entre o beneficiário e o sacador.

3. Imagine que Pedro se dirigia ao Banco X no dia 20 de Dezembro do mesmo ano.


Manteria a sua resposta?
A compra e venda deu-se no dia 3 de abril. Passaram-se 8 meses.
A lei, a livrança e o cheque são hoje os únicos documentos particulares a que a lei geral
confere exequibilidade (cfr. 703º/1c)). A questão que se coloca é a de saber se, prescrita a
obrigação cartular constante de uma letra, livrança ou cheque, poderá o título de crédito
continuar a valer como título executivo, desta vez enquanto escrito particular
consubstanciando a obrigação subjacente. A doutrina maioritária entende que sim. Quando
o titulo de credito mencione a causa da relação jurídica subjacente, o título prescrito vale
como documento particular respeitante a relação jurídica subjacente. Quanto aos títulos de
crédito prescritos dos quais não conste a causa da obrigação, há que distinguir consoante:
 A obrigação a que se reportem resulte de um negocio jurídico formal. Neste caso,
uma vez que a causa do negócio jurídico e um elemento essencial deste, o documento
não constitui titulo executivo (221º/1 e 223º/1 CC).
 A obrigação a que se reportem não resulte de um negocio jurídico formal. Neste caso,
porém, a autonomia do título executivo em face da obrigação exequenda e a
consideração do regime de reconhecimento de dívida (458º/1 CC) leva a admiti-lo
como título executivo, sem prejuízo de a causa da obrigação dever ser invocada na
petição executiva e poder ser impugnada pelo executado; mas, se o exequente não
a invocar, ainda que a título subsidiário, no requerimento executivo, não será possível
fazê-lo na pendência do processo, após a verificação da prescrição da obrigação
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cartular e sem o acordo do executado (264º), por tal implicar alteração da causa de
pedir.
O cheque constitui um titulo de credito que, enquanto meio de pagamento, se materializa
numa “ordem pura e simples dada por uma pessoa (sacador) a um banco (sacado) para que
pague determinada quantia por conta da provisão bancária à disposição do sacador”. Para
que o cheque possa valer como titulo de credito, a lei uniforme relativa aos cheques
estabelece dois requisitos cumulativos:
 Em 1º lugar, o cheque pagável no país onde for passado deve ser apresentado a
pagamento no prazo de 8 dias, sendo que esse prazo começa a correr no primeiro
dia seguinte ao indicado no cheque como “data de emissão” (29º e 56º LUC).
Terminando o prazo de 8 dias em dia de feriado legal, o termo transfere se para o
primeiro dia útil seguinte.
 Em 2º lugar, acção do portador contra os endossantes, contra o sacador ou contra os
demais coobrigados (15º a 27º LUC) prescreve decorridos que sejam 6 meses,
contados do termos do prazo de apresentação (52º LUC).
De todo o modo, mesmo que não tivessem sido observados os prazos legais previstos no
29º e 52º/1 LUC, para a apresentação do cheque a pagamento ou para o acionamento
judicial do sacador, ainda assim o cheque conservaria o valor de titulo executivo, agora
enquanto quirógrafo da obrigação, desde que o exequente invocasse no requerimento
executivo a relação jurídica subjacente a emissão do cheque.
Como já tinham passado os 6 meses, valia como quirógrafo. Ou seja, nem sequer é aquilo
relevante àquela questão doutrinária dos 8 dias vs 6 meses. A partir do 6 meses não há
ninguém que diga que o cheque valha como título executivo como titulo de credito porque
esta prescrito pelo 52º/1 LUC.
703/1c esta expressamente previsto que l quirografo vale como titulo executivo.
Condições: Têm que ser indicado os factos constitutivos do facto subjacente + doutrina
acrescenta que o negócio valutel não pode ser negócio formal. Ou seja, se fosse CV de
imóvel já não podia porque esse é um negócio formal.

4. Suponha que Pedro tinha endossado o seu cheque a Quina, e que esta, no dia
20 de Dezembro do mesmo ano, apresentou o cheque a pagamento o Banco X,
que lhe comunicou a falta de provisão de Raquel. Quina poderia usar o cheque
como título executivo?
Se o cheque for apresentado a pagamento e a conta sacada não se achar devidamente
provisionada, o banco deve proceder a devolução do cheque, com a menção, aposta no seu
verso, da recusa por falta de provisão. Com efeito, nos termos do 40º LUC, o portador do
cheque só pode “exercer os seus direitos de acção contra os endossantes, sacador e outros
coobrigados, se o cheque, apresentado em tempo útil, não for pago e se a recusa do
pagamento for verificada:
 Quer por um acto formal (protesto)
 Quer por uma declaração do sacado, datada e escrita sobre o cheque, com a
indicação do dia em que este foi apresentado
 Quer por uma declaração datada duma câmara de compensação, constando que o
cheque foi apresentado em tempo útil e não foi pago”.
A questão é que já se tinham passado 8 meses.
Ora, tratando-se o cheque de um título de crédito, este constitui titulo executivo, nos termos
do 703º/1c). Nessa eventualidade, “Estando o direito de credito do exequente titulado por
um cheque e sendo este um título de crédito que incorpora a relação cambiária que constitui
causa de pedir do pedido executivo, não necessita o exequente, com vista a fazer valer a
sua pretensão alegar a factualidade respeitante a causa ou relação jurídica subjacente a
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emissão do titulo, tornando-se-lhe apenas necessário, para a procedência dessa pretensão,


evidenciar a validade e eficácia dessa relação cambiária”.
De todo o modo, mesmo que não tivessem sido observados os prazos legais previstos no
29º e 52º/1 LUC, para a apresentação do cheque a pagamento ou para o acionamento
judicial do sacador, ainda assim o cheque conservaria o valor de titulo executivo, agora
enquanto quirógrafo da obrigação, desde que o exequente invocasse no requerimento
executivo a relação jurídica subjacente a emissão do cheque.
Só temos título executivo com o cheque como mero quirógrafo e portanto a doutrina entende
que ele só vai valer entre as partes imediatas, ou seja, entre o sacador e o sacado. Ou seja,
não há título executivo pelo que não tinha exequibilidade extrínseca e, como tal não havia
título executivo. 726º/2a) e 855º/2b), consoante o processo seja ordinário ou sumário.

Caso A
Nesta semana os jornais económicos e desportivos têm capas semelhantes: Xavier,
futebolista e antiga glória da seleção nacional, faz parte das listas de devedores de
mais um Banco prestes a rebentar (“BPR”) e pode ver os seus bens penhorados no
âmbito de um processo de execução.
Segundo o notário que falou com os jornalistas, Xavier terá celebrado, na sua
presença, dois contratos:
(i) Um contrato de abertura de crédito com o BPR, que tinha sede em Lisboa,
nos termos do qual este se obrigava a disponibilizar ao cliente, durante um
ano, um montante máximo de 100.000,00 €, podendo Xavier solicitar a
qualquer momento os montantes que desejasse. O contrato teria comissões
com uma taxa de 3,5% (que incidiam sobre o montante imobilizado) e uma
taxa de juro de 6,5% (sobre o montante solicitado). Diz-se terem sido os
valores solicitados utilizados para cobrir as despesas que Xavier foi
acumulando recentemente decorrentes de um vício na aplicação para
telemóvel Football Manager Mobile, que o parece ter prendido ao seu
telemóvel para constantemente;
(ii) Um contrato de compra e venda, também com o BPR, através do qual este
vendeu a Xavier um imóvel de que se queria desfazer, um pequeno terreno
para este usar como campo de futebol. O preço deste bem deveria ser pago
em dez prestações mensais de 10.000,00 €. Xavier só terá assegurado o
pagamento das três primeiras prestações.
Uns meses mais tarde, em entrevista exclusiva na televisão, olhos nos olhos, cheios
de lágrimas, Xavier declarou que já não tem dinheiro e afirmou muito assertivamente
que não irá pagar o que deve, nem juros, nem comissões – “estou pobre e aquele
banco está cheio de malandros!” – apesar das suas obrigações no âmbito do primeiro
contrato ainda não se terem vencido. Os jornais já haviam revelado que Xavier tinha
solicitado “apenas” 75.000,00 €, prontamente disponibilizados pelo BPR.
No dia seguinte, o BPR emitiu um comunicado em que afirmava que já tinha
encarregado os seus advogados de, tão rápido quanto possível, intentarem uma única
ação executiva contra Xavier para conseguirem recuperar todos os créditos em dívida.
Os jornalistas vêm falar consigo, especialista em Executivo e fazem-lhe as seguintes
perguntas:
1. Haveria algum problema quanto à exequibilidade extrínseca e intrínseca desta
ação executiva? Se sim, que problemas? E quais as suas consequências?
Nota: relativamente ao segundo contrato, vamos pressupor que já tinham
decorrido 8 meses desde a celebração do mesmo e que Xavier tinha assegurado
apenas o pagamento das três primeiras prestações.
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Para que seja possível intentar uma acção executiva, é necessário que exista um título
executivo (10º/5). Com efeito, a acção executiva só pode ser intentada se tiver por base um
título executivo, o qual, para além de documentar os factos jurídicos que constituem a causa
de pedir da pretensão deduzida pelo exequente, confere igualmente o grau de certeza
necessário para que sejam aplicadas medidas coercivas contra o executado.
Quanto ao 1º contrato: contrato de abertura de crédito
 Exequibilidade intrínseca: a obrigação exequenda deve ser certa, exigível e líquida
(714º a 716º), devendo a execução principiar pelas diligencias, a requerer pelo
exequente, destinadas a tornar a obrigação certa, exigível e líquida, quando esta não
o seja em face do título executivo (713º):
 A obrigação diz-se certa quando está determinada em relação à sua qualidade,
o que implica que o objecto da prestação se encontre perfeitamente delimitado
ou individualizado, isto é, que se saiba precisamente o que se deve. O mesmo
é dizer que a obrigação será certa desde que seja possível diferenciá-la de
todas as outras, sendo que essa diferenciação pode ter lugar antes da
propositura da acção executiva ou nas diligências iniciais da execução.
Compreendendo a obrigação exequenda juros que continuam a vencer-se, a
sua liquidação é feita pelo agente de execução em face do título executivo e
dos documentos que o exequente ofereça em conformidade com ele, ou,
sendo caso disso, em função da taxas legais de juro de mora aplicáveis
(716º/2).
 A obrigação diz-se exigível quando já se encontra vencida ou quando o seu
vencimento depende da simples interpelação do devedor, ou seja, quando já
pode ser exigida. Na falta de estipulação ou disposição especial da lei, o credor
tem o direito de exigir a todo o tempo o cumprimento da obrigação, assim como
o devedor pode, a todo o tempo, exonerar se dela (777º/1 CC). Estando em
causa uma obrigação a prazo ou a termo, isto é, uma obrigação em que as
partes convencionaram “um dia ou um prazo para que o credor exija a
prestação ou para que o devedor a realize”, o mero decurso do prazo implica
o vencimento e exigibilidade da obrigação, sem necessidade de interpelação
ao devedor (779º CC).
 A obrigação diz-se líquida quando se encontra determinada em relação à sua
quantidade, isto é, quando se sabe exactamente quando se deve ou quando
essa quantidade é facilmente determinável através de uma operação de
simples cálculo aritmético, com base em elementos constantes do próprio título
executivo (716º/1).
Atenção ao 703º/2, segundo o qual, ainda que o título executivo seja omisso, considera-se
abrangidos por ele os juros de mora à taxa legal, da obrigação dele constante.
 Exequibilidade extrínseca: um título executivo é um documento pelo qual o requerente
da realização coactiva de prestação demonstra a aquisição de um direito a uma
prestação. É necessário que estejamos perante um dos títulos executivos previstos
no 703º. Penso que se aplica o 703º/1b) e 707º porque é dito no caso que Xavier
celebrou o contrato na presença de notário, ou seja, documento particular
autenticado, uma vez que terá sido confirmado pelas partes (363º/3 CC: os
documentos particulares são havidos por autenticados quando confirmados pelas
partes, perante notário). Ver 150º a 152º do código do notariado.
No momento da celebração o banco cobra logo a taxa de imobilização dos 100.000€: nesta
altura, já é título executivo para cumprimento desta obrigação de pagamento da taxa de
3.5%
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Não decorre do contrato a obrigação de Xavier pagar logo a restituição dos 100mil nem as
taxas de cada mobilização.
Quando Xavier levanta 75.000€ e dispõe do valor de 10.000€ constitui-se o contrato de
mútuo (contrato real quoad constitutionem).
Do contrato de mútuo retira-se a obrigação de restituição dos 75.000€ + juros
Aqui, por força do 707º iríamos provar esta constituição do mútuo por prova complementar.
Contrato de abertura de crédito. Não é logo um contrato de mútuo porque logo à partida o
banco não entregou o dinheiro. O contrato de mútuo é real quoad constitutionem pelo que
só produz efeitos dom a entrega da coisa. O que acontece no crédito e que o banco obriga-
se a disponibilizar o dinheiro, mas só a partir do momento em que Xavier dispõe do dinheiro
é que se constitui o contrato mútuo.
Há que distinguir dois grandes momentos:
 Num primeiro momento, da abertura do credito, o devedor é o banco (porque se
obrigou a disponibilizar 100.000 €) e o credor é Xavier. À taxa de 3,5% chama-se
comissão de imobilização. A sua obrigação nasce logo na constituição do contrato de
abertura de credito. Ou seja, temos o banco como devedor no que toca a disponibilizar
os 100.000, mas também temos o xavier como devedor quanto a pagar a taxa de
imobilização. Disto resulta que se mostrássemos o contrato, ele constituía logo título
executivo (pelo menos no que toca a exequibilidade extrínseca) quanto aos juros.
Basicamente o que temos neste momento é um contrato promessa de mútuo.
 Num segundo momento, quando o Xavier levanta os 75.000, já podemos falar de
contrato de mútuo. Aqui, xavier é devedor não só da restituição do capital (75.000 que
ele levantou), mas também dos juros convencionados. 703º e 707º
Através de prova complementar é que se vai provar que aconteceu este 2º momento! Porque
neste segundo momento não basta o contrato de abertura de credito para provar que ele
levantou os 75.000€. Vamos ter que provar (707º) para provar que o segundo momento
aconteceu. Se não se conseguisse provar, havia indeferimento liminar por falta de titulo
executivo (?).

Quanto ao 2º contrato: compra e venda de imóvel


 Exequibilidade extrínseca: Na situação em apreço, tratando-se de um contrato de
compra e venda de um bem imóvel, terá sido celebrado por escritura pública ou por
documento particular autenticado (875º CC). De qualquer das formas é nos dito no
enunciado que o notário esteve presente na celebração do contrato, pelo que este é
titulo executivo nos termos do 703º/1b). Não se aplica o 707º porque não é uma
prestação futura.
 Exequibilidade intrínseca: a obrigação exequenda deve ser certa, exigível e líquida
(714º a 716º), devendo a execução principiar pelas diligências, a requerer pelo
exequente, destinadas a tornar a obrigação certa, exigível e líquida, quando esta não
o seja em face do título executivo (713º):
 A obrigação diz-se certa quando está determinada em relação à sua qualidade,
o que implica que o objecto da prestação se encontre perfeitamente delimitado
ou individualizado, isto é, que se saiba precisamente o que se deve. O mesmo
é dizer que a obrigação será certa desde que seja possível diferenciá-la de
todas as outras, sendo que essa diferenciação pode ter lugar antes da
propositura da acção executiva ou nas diligências iniciais da execução. No
caso em análise estamos perante uma situação em que Xavier deve ao Banco
a quantia global de 70.000€, referente a prestações mensais que não foram
por ele liquidadas.
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 A obrigação diz-se exigível quando já se encontra vencida ou quando o seu


vencimento depende da simples interpelação do devedor, ou seja, quando já
pode ser exigida. Na falta de estipulação ou disposição especial da lei, o credor
tem o direito de exigir a todo o tempo o cumprimento da obrigação, assim como
o devedor pode, a todo o tempo, exonerar se dela (777º/1 CC). Estando em
causa uma obrigação a prazo ou a termo, isto, e uma obrigação em que as
partes convencionaram “um dia ou um prazo para que o credor exija a
prestação ou para que o devedor a realize”, o mero decurso do prazo implica
o vencimento e exigibilidade da obrigação, sem necessidade de interpelação
ao devedor (779º CC). É o que acontece neste caso. Na situação em análise,
a obrigação tem prazo certo (já que está em causa uma prestação que se
vence mensalmente) razão pela qual o mero decurso do prazo implica o
vencimento da obrigação, com a consequente constituição do devedor em
mora (805º/2a) CC). Estando em causa prestações, do 934º a contrario CC
resulta que a falta de cumprimento de uma prestação que exceda 1/8 do preço
importa o vencimento e dá lugar à resolução do contrato e à perda do benefício
do prazo face às prestações seguintes. Ora, 1/8 do preço (100.000€) seriam
12.500€. 70.0000€ excede 12.500€, pelo que se aplica o artigo. (afastar a
aplicação do 781º CC pois este só se aplica em relação às prestações
instantâneas fraccionadas e não às prestações periódicas).
 A obrigação diz-se líquida quando se encontra determinada em relação à sua
quantidade, isto e, quando se sabe exactamente quando se deve ou quando
essa quantidade é facilmente determinável através de uma operação de
simples cálculo aritmético, com base em elementos constantes do próprio título
executivo. A obrigação é líquida na medida em que está em causa o
pagamento de uma quantia pecuniária, perfeitamente determinada, no
montante de 70.000€.
Se ele incumbiu as 5 prestações e já estamos nos 8 meses, essas 5 já se venceram portanto
o exequente pode executar essas cinco. A grande questão que se colocava era se havia
forma do exequente executar logo as 2 outras que faltam, mas que ainda não s tinham
vencido. O 934º CC resolve, segundo o qual temos vencimento antecipado dessas duas
prestações.

2. Será que o Banco pode mesmo intentar uma única ação executiva, com base
naqueles dois contratos, contra Xavier?
Nota: vamos pressupor que Xavier, tendo pago todas as prestações até lá,
incumpriu a 9ª prestação.
Equacionar a hipótese estar-mos perante uma cumulação de execuções fundadas em títulos
diferentes (709º CPC).
Sendo que Xavier só incumpriu na 9ª prestação, tal prestação (no valor de 10.000€), por não
exceder 1/8 do preço (12.500€), não origina o direito de resolução do contrato, nem a perda
do beneficio do prazo relativamente às prestações seguintes, como dispõe o 934º CC. No
entanto, uma vez que estamos perante uma obrigação com prazo certo (já que está em
causa uma prestação que se vence mensalmente), o mero decurso do prazo implica o
vencimento da obrigação, com a consequente constituição do devedor em mora (805º/2a)
CC). Ou seja, a prestação em falta (10.000€) é exigível.
Assim, em princípio, poderia haver cumulação, desde que não se verifique nenhuma das
circunstâncias impeditivas do 709º/1. Dúvida sobre se os processos são os mesmos..
Quanto às formas de processo:
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 Forma do processo do contrato de compra e venda: se ele só não pagou a 9ª


prestação então deve 10.000€. Assim, por força do 550º/2d), o processo segue a
forma sumária porque o valor da acção não excede o dobro da alçada da 1ª instância
(valor da alçada é 5.000€), que não excede.
 Forma do processo contrato de abertura de crédito: forma ordinária.
Seja como for, podemos ter uma cumulação pela qual uma acção deveria seguir a forma
sumária e a outra a forma ordinária por força do 37º/2. Diz-nos ainda o 709º/5 que se ocorrer
cumulação de execuções que devam seguir forma de processo comum distinta, a execução
segue a forma ordinária. As formas são abas comum, e isso é que interessa! A forma
ordinária e a sumária são ambas forma de processo comum.
Legitimidade activa: o banco BPR constava como credor de ambos os títulos executivos
apresentados, pelo que tinha legitimidade activa para a execução (53º/1). Legitimidade
passiva: Xavier constava de ambos os títulos como devedor (53º/2), sendo parte legítima.
Acção segue a forma de processo comum ordinário, 550º/1.
Quando são duas execuções de pagamento de quantia certa, temos sempre o 709º/1b)
verificado.

3. Imagine que, em vez de três meses, já tinham passado oito meses e que Xavier
tinha pago todas as prestações relativas ao segundo contrato (CV do imóvel).
A sua resposta alterava-se?
Aqui já não existiria cumulação porque Xavier já teria pago todas as prestações relativas ao
contrato de CV do imóvel, pelo que a acção apenas poderia ser intentada contra Xavier
relativamente ao contrato de abertura de crédito. Faltando apenas uma prestação ele só
podia executar essa, não se aplica o 934º, a obrigação exequenda é 10.000€.

4. Suponha que aqueles contratos não tinham sido celebrados na presença de um


notário, mas que ambos incluíam a seguinte cláusula: «O presente documento
constitui título executivo». Poderiam estes contratos ser executados?
MTS: O titulo executivo apresenta a características da tipicidade. O legislador, de modo
imperativo, fixa que documentos podem desempenhar função de título executivo. Não são
títulos executivos os documentos que a lei não qualifique como tal. O rol de títulos
executivos, constante do 703º/1 é completado pelo 704º a 708º, alem de legislação avulsa.
Trata se de um rol taxativo, não se admitindo o seu alargamento por interpretação extensiva
e, muito menos, por analogia. Vale para ele uma regar de tipicidade.
Mas podem as partes determinar que outros documentos possam valer como titulo
executivo? Rui pinto diz que não: a tipicidade do 703º é acompanhada de imperatividade.
Não está na disponibilidade de credor e devedor darem ou retirarem forca executiva a certo
documento.
Manuel de Andrade: não se considera excluída a validade das cláusulas tendentes a privar
de forca executiva os títulos negociais, clausulas essas que seriam pelo menos fundamento
bastante para que, recorrendo ao processo declaratório, não obstante estar munido de um
titulo judicial o autor não incorra na sanção do 535º, do pagamento das custas. Rui pinto
responde e diz que alem da imperatividade, o 809º CC parece não permitir que o credor
renuncie antecipadamente ao direito de acção.

4.1. Alteraria a sua resposta se os contratos tivessem sido celebrados em 31


de Agosto de 2013? (Ver link que Prof mandou para o email de um artigo do MTS)
O 703º tem um elenco taxativo e portanto o que as partes fazem neste caso não é possível.
A questão que se coloca é que ate ao dia 31 de Agosto de 2013 constava do elenco de titulo
executivos os documentos particulares. A partir de 1 de Setembro de 2013 temos este novo
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elenco. Então o que fazemos aos documentos particulares anteriores a 1 de setembro? Vão
ou não configurar título executivos nas acções executivas que sejam propostas de 1 de
Setembro de 2013 em diante? As execuções anteriores a entrada em vigor estão protegidas.
Como a lei se aplica para o futuro e se já não consta do elenco os documentos particulares,
todos estes documentos que sejam constituídos depois de 1 de Setembro de 2013
obviamente já não vale como título executivo. Então e os documentos particulares
constituído antes de 1 de setembro de 2013? Podem ser título executivo em acções
propostas depois de 1 Setembro de 2013? Rui Pinto diz que sim! E que se dissermos que
não, basicamente estão a aplicar retroactivamente a lei. Já MTS e Lebre de Freitas dizem
que o facto de nós dizer-mos que este documento não pode ser título executivo não equivale
a uma forma de retroactividade, equivale apenas a aplicar a nova lei para o futuro. MTS diz
que e exagerado falar de uma legítima expectativa da tutela do exequente porque é certo
que a CRP garante o direito aos tribunais, mas isso não significa que também garanta o
direito ao acesso a uma forma de processo, que é a forma executiva! O exequente tem
sempre aberta a porta do processo declarativo!
O TC no Ac. n° 408/2015, de 23 de Setembro, veio declarar com força obrigatória geral, a
inconstitucionalidade da norma que aplica o 703º a documentos emitidos anteriores a 1 de
Setembro de 2013. No fundo vem concordar com o Professor Rui Pinto.

27/Mar/2019 1x
29/Mar/2019 1x
Caso 11
Fausto deslocou-se ao stand de automóveis do seu amigo Gualdino, pretendendo
comprar um automóvel para oferecer a sua filha Helga como prenda de casamento.
Foi celebrado por documento autenticado o contrato de compra e venda entre Fausto
e Gualdino. Ficou estipulado que o contrato apenas produziria os seus efeitos após a
celebração do casamento de Helga. Fausto encontrava se indeciso em relação à cor
do automóvel (rosa, roxo ou amarelo) a escolher. Tendo Gualdino dois automóveis de
cada uma destas cores no seu stand, ficou acordado que Helga telefonaria a Gualdino,
durante aquela semana, a indicar a cor escolhida.
Helga casou com um conhecido actor (o casamento foi noticiado em toas as revistas
cor-de-rosa) sem ter escolhido a cor do seu novo automóvel. Fausto, por seu lado,
cumpriu a obrigação de pagamento do preço no dia seguinte ao casamento, na
presença da sua mulher, Ivone.
1. Pode Fausto propor acção executiva contra Gualdino para a entrega forcada do
automóvel? E Helga?
Não é um contrato a favor de 3º porque daqui não conseguimos retirar que ficou no próprio
contrato formalmente indicado que aquele contrato visava beneficiar Helga. O que temos é
uma compra e venda entre Fausto e Gualdino. O Fausto tinha como intenção, depois de
comprar o carro, entregá-lo a Helga. Mas isso não significa que seja um contrato a favor de
3º. Tinha que ser mais explícito e constar formalmente do contrato. Ela não tinha então
legitimidade. Fausto tinha legitimidade porque era credor.

2. Se sim, pronuncie-se sobre o título executivo em questão, em especial sobre:


2.1. A relevância da celebração do casamento para a acção executiva;
Título executivo: 703º/1b) contrato de compra e venda.
Estamos dentro da exequibilidade intrínseca, em especial, pressuposto da exigibilidade
Condição suspensiva (270º, 1ª parte, CC): “as partes podem subordinar a um acontecimento
futuro e incerto a produção dos efeitos do negócio jurídico”.
Uma vez que a condição se verificou, a prestação torna-se então exigível.
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Quando a prestação da obrigação está dependente de condição suspensiva incumbe ao


exequente proceder, segundo o 715º, à alegacão e prova documental, no próprio
requerimento executivo, da verificação da condição (cfr. 724º/1h), segunda parte: “no
requerimento executivo o exequente alega a verificação da condição suspensiva”).
Podia levantar-se a questão de a celebração do casamento ser um facto público e notório
uma vez que Helga casou com um actor muito conhecido. Mas a jurisprudência não parece
seguir essa linha de pensamento, pois para que seja considerado um facto público e notório
o homem médio tem que conhecer e a Professora entende que a maioria das pessoas não
lê revistas cor-de-rosa e, como tal, não teria conhecimento deste facto. Se considerássemos
que era um facto publico e notório este é de conhecimento oficioso, pelo que o exequente
não teria que provar (412º/1).
Após a reforma de 2013, garante-se no 550º/3 a) que haverá sempre despacho liminar
judicial, mesmo quando a forma a seguir seja a sumária. Caberá, então, ao juiz apreciar os
factos expostos, conhecer sumariamente da prova e decidir da ocorrência do facto alegado
pelo exequente: a condição. Por regra, estas diligências têm lugar antes da citação do
devedor, sem a sua audição. Todavia, o juiz pode concluir pela necessidade de ouvi-lo antes
da decisão. Nesse caso o devedor será citado para contestar a verificação da condição,
cumulativamente com a oposição à execução. Mas recebe a advertência de que, na falta de
contestação, se considera verificada a condição, nos termos do requerimento executivo, sem
prejuízo dos casos de revelia inoperante do 568º.
A decisão da verificação da condição suspensiva vale apenas na instância processual onde
foi proferida. Em função do seu teor, o juiz admitirá ou rejeitará a pretensão executiva, com
base em prova sumaria, sem vincular qualquer outra causa, declarativa ou executiva,
principal ou incidental. Assim, não só o executado pode impugnar a exigibilidade na oposição
a execução, como pode uma nova execução da mesma dívida ser intentada, caso a
execução seja rejeitada por inexigibilidade.

2.2. A importância da natureza sinalagmática do contrato em questão;


715º/1: como é um contrato sinalagmático, Fausto tem que provar que pagou a prestação.
Se ele tiver o recibo do pagamento tudo ok. Se não tiver não é grave porque nos termos do
715º/2 não há necessidade de ser uma prova documental, e portanto pode ser testemunhal
e ele podia indicar a mulher Ivone como testemunha. Mas neste caso, tem de existir
intervenção do juiz para apreciar, nos termos do 715º/3.

2.3. A relevância da falta da escolha do automóvel por Helga.


Estamos dentro da exequibilidade intrínseca, em especial, pressuposto da certeza
Obrigação genérica (539º CC: “se o objecto da prestação for determinado apenas quanto ao
género”) ou alternativa (543º CC: “é alternativa a obrigação que compreende duas ou mais
prestações, mas em que o devedor se exonera efetuando aquela que, por escolha, vier a
ser designada”)? Penso que seja alternativa. A escolha pode caber a 3º (in casu, Helga), por
força da remissão do 549º CC para o 542º CC (“se couber a terceiro, a escolha só é eficaz
se for declarada ao devedor e ao credor, e é irrevogável”). A Professora diz que é uma
obrigação alternativa e não genérica porque o género ainda não está definido: falta definir a
cor. Mas de qualquer das formas é um bocado irrelevante porque o regime é o mesmo.
Havendo uma obrigação alternativa, sabemos que a obrigação ainda não é certa (requisito
da exequibilidade). Assim, e necessário haver determinação da prestação a que o credor
esta vinculado. A escolha de uma obrigação alternativa pode recair sobre três pessoas: o
devedor, o credor ou um 3º.
 Imaginando que a escolha recai sobre o credor:
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 Se as partes convencionarem um prazo para a escolha e este for ultrapassado,


pelo 542º/2 a escolha passa para o devedor;
 Se as partes não convencionarem um prazo, a escolha recai sempre sobre o
credor portanto quando este vai propor uma acção executiva pelo 714º/1 e
724/1h vai ser o credor a escolher a prestação.
 Imaginando que as partes convencionaram entre si que a escolha recai sobre o
devedor ou que nada disseram:
 Na falta de determinação é o devedor que escolhe;
 Admitindo que as partes não convencionaram prazo, o credor interpõe acção
executiva contra o devedor, e pelo 714º/1 o devedor é citado para escolher no
prazo de 20 dias (prazo da oposição);
 Se as partes tiverem convencionado prazo, ou o devedor escolhe, a obrigação
torna-se certa antes da acção executiva, ou seja, ele escolhe
extrajudicialmente, pelo que o credor tem na acção executiva de provar que a
escolha já foi feita, nos termos do 715º ;
 Se as partes tiverem convencionado prazo mas não houver escolha, a doutrina
diz que se o credor puser uma acção depois de ultrapassado este prazo, e
não tendo havido escolha, a escolha regressa ao credor antes da acção
executiva e portanto quando o requerimento executivo é apresentado ao
tribunal o credor vai ter de determinar qual é a prestação.
 As partes convencionam que a escolha cabe a um 3º:
 Não havendo prazo, quando se propõe a acção, pelo 714º/2 cabe ao 3º
escolher, sendo ele citado nesse sentido, tendo de escolher no prazo de 20
dias também;
 Se, em sede de acção executiva, o devedor ou o 3º é citado para escolher e
não escolhe, a escolha volta para o credor, nos termos do 714º/3;
 Se as partes convencionaram um prazo e o 3º escolhe, o credor tem que
demonstrar na acção que essa escolha foi feita, nos termos do 715º;
 Se as partes convencionaram um prazo e o 3º não escolhe dentro deste (que
é o que acontece no nosso caso), não existe resposta na lei, mas há discussão
doutrinária:
 Ou aplicamos analogicamente o 400º/2 CC (escolha passa para
tribunal);
 Ou aplicamos o 542º/2;
 Ou fazemos o mesmo raciocínio que é feito para o devedor que tem
prazo e não escolhe a tempo (escolha regressa para o credor).
In casu, fazia sentido que se Helga não escolhesse (sendo que Helga era quem ia beneficiar
do carro), fazia sentido que a escolha fosse para o devedor (porque tem ligação com Helga).
Mas isto vai depender de caso para caso.
Rui Pinto: cabendo a escolha a terceiro, este é notificado para a efectuar, nos termos do
714º/1 (“escolha da prestação na obrigação alternativa”). Portanto, o terceiro poderá
escolher no prazo da oposição à execução, i.e., em 20 dias a contar da notificação, se outro
não tiver sido fixado pelas partes, sob pena de devolução desse direito ao credor.
In casu, Helga não procedeu a escolha como deveria. Tinha uma semana para proceder a
escolha, sob pena de tal escolha passar para o credor (Fausto).

Caso 14
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Diga se o tribunal em causa é competente para as seguintes acções executivas,


referindo ainda as consequências de uma eventual incompetência:
1. Acção executiva proposta no Tribunal da Relação de Évora por Núria, residente
em Lisboa, contra Olga, residente em Évora, ambas magistradas, para execução
de uma decisão judicial proferida no Tribunal da Relação de Évora que
condenou Olga a pagar 40.000€ a Núria.
1º Competência internacional: dizer que não estamos perante uma situação plurilocalizada
e portanto são competentes os tribunais portugueses.
2º Competência em razão da jurisdição (matéria): neste campo, na acção executiva, os
únicos tribunais competentes são os judiciais, sempre! (64º CPC + 40º/1 LOSJ).
3º Competência em razão da hierarquia: só são competentes os tribunais de 1ª instância .
Se for intentada uma acção executiva na Relação ou no Supremo, há logo incompetência
absoluta.
4º Competência em razão do território:
5º Competência em razão da matéria: Primeiro temos que ver se o tribunal competente tem,
ou não, juízo de execução (procurar no DL 49/2014 (ROFTJ); artigo 66º ss). Ou seja, íamos
procurar a Comarca de Évora (77º), corremos as alíneas e verificamos que existe um juízo
de execução na alínea f): juízo de execução de Montemor O Novo. Encontrámos o nosso
tribunal competente. Se em Évora não existisse um juízo de execução, aí sim, passamos à
competência em razão do valor.
6º Competência em razão do valor: só vamos ver o valor se não houver juízo de execução
no tribunal territorialmente competente. Se o valor da acção for superior a 50.000 €, então é
competente o juízo central cível (117º/1b) LOSJ). Se o valor da acção for inferior a 50.000 €
é competente o juízo local cível (130º/2c) LOSJ).
Aplicávamos o 86º LOSJ. 84º LOSJ só se aplica se o domicílio do executado e o juízo e a
circunscrição onde ele exerce a sua profissão sejam o mesmo. Faltam algumas informações
no caso pr isso não podemos saber. Admitindo que Olga era juíza numa outra circunscrição,
aplicamos o 86º LOSJ. Era competente o tribunal do domicilio o réu: Évora. Évora tem juízo
de execução: Montemor-O Novo. É esse o tribunal competente. A acção não podia ter sido
proposta onde foi, pelo que temos duas incompetências: incompetência em razão da
hierarquia (absoluta pelo 96º CPC) e incompetência porque devia ter sido proposta em juízo
de execução e não foi (incompetência absoluta porque é em razão da matéria). Mesmo que
uma delas fosse relativa, a absoluta sobrepõe-se, portanto teríamos sempre uma
incompetência absoluta. 89º/1 é de conhecimento oficioso. 278º/1 a) CPC.

2. Acção executiva proposta na 1ª Secção cível do Tribunal Judicial da Comarca


do Porto por Nando, residente no Porto, contra Óscar, residente em Viseu, para
execução de uma decisão judicial da 1ª Secção cível do Tribunal Judicial da
Comarca do Porto (resultante de recurso interposto para o Tribunal da Relação
do Porto), que condenou Óscar a pagar 50.0000€ a Nando.
Competência internacional: uma vez que não estamos perante uma situação plurilocalizada
e portanto são competentes os tribunais portugueses.
Competência em razão da jurisdição: na acção executiva os únicos tribunais competentes
são os judicias (64º CPC e 40º/1 LOSJ).
Competência em razão da hierarquia: no plano da hierarquia, apenas os tribunais de 1ª
instncia têm competência executiva (85º/1 e 86º CPC), ou seja, os tribunais de comarca
(29º/3 LOSJ). Esta abrange, designadamente, a competência para a execução de decisão
proferida em acção proposta na Relação ou no Supremo, em algum dos casos especiais
(indemnização contra magistrados; revisão de sentenças estrangeiras) em que, no âmbito
da acção declarativa, o tribunal superior funciona como 1ª instância. Portanto as decisões
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de 1ª instância são executadas pelos tribunais de comarca, em regra (79º LOSJ). Assim, os
tribunais superiores não têm competência executiva. São tribunais de recurso e de resolução
de conflitos de jurisdição e de competência, nos termos do 42º/2, 52º a 55º e 72º a 74º LOSJ.
Têm, ainda, uma competência de reconhecimento de sentenças estrangeiras (cfr 73º e)
LOSJ).

Competência em razão do território: neste caso o título executivo é uma sentença, pelo que
são aplicáveis as disposições do 85º a 88º e 90º CPC. No caso, diz-nos o 85º/1 CPC que,
uma vez que o processo subiu em recurso o processo corre no traslado (649º/1 CPC).
85º/1 e 2: há que distinguir o tribunal que recebe o requerimento e o tribunal que tem
competência para fazer a execução.
O tribunal a que era dirigido o requerimento executivo seria a comarca do Porto.

Competência em razão da matéria: o tribunal competente seria o da comarca do Porto.


Então, vamos ver se neste existe juízo de execução. Existe (93º/1/u ROFTJ)! No Porto há
1ª e 2ª secção de execução, com sede no Porto e na Maia, respectivamente. Assim, o
tribunal competente será o juizo de execução do Porto.
Uma vez que há secção de execução no Porto, se o processo tivesse sido proposto na
secção cível estaríamos perante um caso de incompetência (não sei se absoluta ou material)
(65º e 85º/1). Assim sendo, teria que haver remessa (oficiosamente) para a secção de
execução (85º/2 CPC). Apesar de ser uma incompetência absoluta, sana-se pelo 85º/2,
porque é entregue ao tribunal que tinha apreciado a causa (apesar de ser o incompetente
para a execução).

Competência em razão do valor: uma vez que há secção de execução no tribunal


territorialmente competente, não há necessidade de ter em conta o valor.

Não ouvi a correcção.

3. Acção executiva proposta na 1ª Secção de execução do Tribunal Judicial da


Comarca de Lisboa por Móveis Luisinha, Lda., com sede em Lisboa, contra
Madeiras Pimpão, Lda., com sede em Vila Real, para execução de uma sentença
proferida na 1ª Secção de comércio do Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa
e cuja obrigação exequenda ascende a 500.000€.
Competência internacional: uma vez que não estamos perante uma situação plurilocalizada
e portanto são competentes os tribunais portugueses.
Competência em razão da jurisdição: na acção executiva os únicos tribunais competentes
são os judicias (64º CPC e 40º/1 LOSJ).
Competência em razão da hierarquia: no plano da hierarquia, apenas os tribunais de 1ª
instância têm competência executiva (85º/1 e 86º CPC), ou seja, os tribunais de comarca
(29º/3 LOSJ). Esta abrange, designadamente, a competência para a execução de decisão
proferida em acção proposta na Relação ou no Supremo, em algum dos casos especiais
(indemnização contra magistrados; revisão de sentenças estrangeiras) em que, no âmbito
da acção declarativa, o tribunal superior funciona como 1ª instância. Portanto as decisões
de 1ª instância são executadas pelos tribunais de comarca, em regra (79º LOSJ). Assim, os
tribunais superiores não têm competência executiva. São tribunais de recurso e de resolução
de conflitos de jurisdição e de competência, nos termos do 42º/2, 52º a 55º e 72º a 74º LOSJ.
Têm, ainda, uma competência de reconhecimento de sentenças estrangeiras (cfr. 73º e)
LOSJ).
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Competência em razão do território: neste caso o título executivo é uma sentença, pelo que
são aplicáveis as disposições do 85º a 88º e 90º CPC. Por força do 85º/1 CPC e 128º/3
LOSJ, compete ao juízo de comércio (que foi quem proferiu a decisão) a execução das
decisões. Ou seja, a acção deveria ter sido proposta na 1ª secção de comércio da comarca
de Lisboa e não na 1ª secção de execução do tribunal judicial da comarca de lisboa.

Competência em razão da matéria: uma vez que, dentro da Comarca de Lisboa, quem
proferiu a decisão foi o tribunal de comercio, e este que tem competência, por força do 129º/2
e 128º/3 LOSJ.

Competência em razão do valor: não importa.

Havia incompetência material porque a acção no juízo de execução e não na secção de


comércio. É insanável.
Temos sentença. Existe juízo de execução na comarca de Lisboa? Sim. Não há problema
que o exequente, em vez de pelo 85º/1 CPC propor na secção onde foi proferida sentença,
propor logo na secção que é competente. Nos temos juízo de execução mas pelo 129º/1
LOSJ exclui a competência do juízo de execução. 128º/3 é competente a secção de
comércio. Devia ter sido aí proposta. É uma incompetência material, incompetência absoluta,
conhecimento oficioso, sendo um título executivo uma sentença, por norma estamos perante
processo sumário por isso devia ser o agente de execução a avisar o juiz para indeferimento,
ainda assim podia haver um despacho qualquer ou absolvição da instância. 729c) e 731º:
incompetência absoluta é sempre fundamento para oposição a execução.

4. Acção executiva proposta na 1ª Secção cível do Tribunal Judicial da Comarca


do Porto por Eva, residente no Porto, contra Fabiana, residente em Beja, para
execução de um requerimento de injunção ao qual foi aposta fórmula executória
e cuja obrigação exequenda ascende a 5.000€.
Competência internacional: uma vez que não estamos perante uma situação plurilocalizada
e portanto são competentes os tribunais portugueses.
Competência em razão da jurisdição: na acção executiva os únicos tribunais competentes
são os judicias (64º CPC e 40º/1 LOSJ).
Competência em razão da hierarquia: no plano da hierarquia, apenas os tribunais de 1ª
instância têm competência executiva (85º/1 e 86º CPC), ou seja, os tribunais de comarca
(29º/3 LOSJ). Esta abrange, designadamente, a competência para a execução de decisão
proferida em acção proposta na Relação ou no Supremo, em algum dos casos especiais
(indemnização contra magistrados; revisão de sentenças estrangeiras) em que, no âmbito
da acção declarativa, o tribunal superior funciona como 1ª instância. Portanto as decisões
de 1ª instância são executadas pelos tribunais de comarca, em regra (79º LOSJ). Assim, os
tribunais superiores não têm competência executiva. São tribunais de recurso e de resolução
de conflitos de jurisdição e de competência, nos termos do 42º/2, 52º a 55º e 72º a 74º LOSJ.
Têm, ainda, uma competência de reconhecimento de sentenças estrangeiras (cfr. 73º e)
LOSJ).
Competência em razão do território: neste caso o título é extrajudicial, pelo que é aplicável
o 89º CPC. Afastar a aplicação do 89º/2 CPC porque a injunção é sempre uma obrigação
pecuniária pelo que nunca será para entrega de coisa certa, não havendo igualmente no
caso nenhuma garantia real. Assim, nos termos do 89º/1 CPC, é competente para a
execução o tribunal do domicílio do executado. Assim, é competente o tribunal da comarca
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de Beja. Cabe no 703ºd) CPC, injunção é título executivo por força deste artigo porque está
especialmente previsto no Anexo do DL 269 de 98, 14º/1
A injunção é um procedimento que permite que o credor de uma dívida obtenha um título executivo, sem necessidade de
promover acção declarativa no tribunal.

Competência em razão da matéria: uma vez que em Beja não existe juizo de execução (70º
ROFTJ). Não havendo, passamos para competência em razão do valor.

Competência em razão do valor: se o valor da acção for superior a 50.000 €, então é


competente o juízo central cível (117º/1b) LOSJ). Se o valor da acção for inferior a 50.000 €
é competente o juízo local cível (130º/2c) LOSJ). Neste caso, o valor da acção é 5.000€,
pelo que o tribunal competente será o juízo local civel (130º/2c) LOSJ) da comarca de Beja
(70º/2b) ROFTJ).

Uma vez que foi proposta a acção na secção cível da comarca do Porto, estamos perante
uma incompetência material ou relativa, uma vez que está em causa a violação de regras
de competência fundadas na divisão judicial do território (violação do 88º/1, 1ª parte CPC).
Esta incompetência é de conhecimento oficioso, conforme o 104º/1 CPC.

5. Acção executiva proposta na 1ª Secção cível do Tribunal Judicial da Comarca


de Lisboa por Take Away Custódio, Lda., com sede em Lisboa, contra Frangos
Damião, Lda., com sede em Castelo Branco, para execução de uma dívida
titulada por contrato celebrado no Porto, cuja obrigação exequenda ascende a
20.000€ e que tem como garantia uma hipoteca constituída sobre um imóvel sito
na Guarda.
Competência internacional: uma vez que não estamos perante uma situação plurilocalizada
e portanto são competentes os tribunais portugueses.
Competência em razão da jurisdição: na acção executiva os únicos tribunais competentes
são os judicias (64º CPC e 40º/1 LOSJ).
Competência em razão da hierarquia: no plano da hierarquia, apenas os tribunais de 1ª
instância têm competência executiva (85º/1 e 86º CPC), ou seja, os tribunais de comarca
(29º/3 LOSJ). Esta abrange, designadamente, a competência para a execução de decisão
proferida em acção proposta na Relação ou no Supremo, em algum dos casos especiais
(indemnização contra magistrados; revisão de sentenças estrangeiras) em que, no âmbito
da acção declarativa, o tribunal superior funciona como 1ª instância. Portanto as decisões
de 1ª instância são executadas pelos tribunais de comarca, em regra (79º LOSJ). Assim, os
tribunais superiores não têm competência executiva. São tribunais de recurso e de resolução
de conflitos de jurisdição e de competência, nos termos do 42º/2, 52º a 55º e 72º a 74º LOSJ.
Têm, ainda, uma competência de reconhecimento de sentenças estrangeiras (cfr. 73º e)
LOSJ).
Competência em razão do território: neste caso está em causa um título extrajudicial, pelo
que se aplica o 89º CPC. Mais concretamente, o 89º/2 CPC, uma vez que está em causa
uma execução por dívida com garantia real, sendo portanto competente o tribunal do lugar
onde a coisa se encontre ou o da situação dos bens onerados. Ou seja, é competente o
tribunal da comarca de Guarda (pois é lá que se encontra o imóvel hipotecado).

Competência em razão da matéria: o tribunal da comarca da Guarda não tem juízo de


execução (81º ROFTJ), pelo que cabe averiguar o valor da acção.

Competência em razão do valor: se o valor da acção for superior a 50.000 €, então é


competente o juízo central cível (117º/1b) LOSJ). Se o valor da acção for inferior a 50.000 €
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é competente o juízo local cível (130º/2c) LOSJ). Neste caso, o valor da acção é 20.000€
pelo que será competente o juízo local cível (130º/2c) LOSJ) da comarca da Guarda (penso
que a secção de competência genérica, desdobrada em matéria cível e criminal, com sede
na Guarda (81º/2e) ROFTJ)).

Uma vez que a acção foi proposta na secção cível da comarca de Lisboa, estamos perante
um caso de incompetência relativa, uma vez que está em causa a violação de regras de
competência fundadas na divisão judicial do território (violação do 89º/2 CPC). Esta
incompetência é de conhecimento oficioso, nos termos do 104º/1 CPC. Quanto à
incompetência, devia haver remessa para o tribunal competente pelo 105º/3 CPC.

6. Acção executiva proposta na 2ª Secção de execução do Tribunal Judicial da


Comarca de Lisboa por Catarina Modista, Lda. contra Roupas Caló, ambas com
sede em Lisboa, para execução de uma dívida titulada por contrato de
fornecimento, cuja obrigação exequenda ascende a 10.000€, tendo sido
indicado à penhora no requerimento executivo um armazém da executada, sito
em Almada.
Competência internacional: uma vez que não estamos perante uma situação plurilocalizada
e portanto são competentes os tribunais portugueses.
Competência em razão da jurisdição: na acção executiva os únicos tribunais competentes
são os judicias (64º CPC e 40º/1 LOSJ).
Competência em razão da hierarquia: no plano da hierarquia, apenas os tribunais de 1ª
instância têm competência executiva (85º/1 e 86º CPC), ou seja, os tribunais de comarca
(29º/3 LOSJ). Esta abrange, designadamente, a competência para a execução de decisão
proferida em acção proposta na Relação ou no Supremo, em algum dos casos especiais
(indemnização contra magistrados; revisão de sentenças estrangeiras) em que, no âmbito
da acção declarativa, o tribunal superior funciona como 1ª instância. Portanto as decisões
de 1ª instância são executadas pelos tribunais de comarca, em regra (79º LOSJ). Assim, os
tribunais superiores não têm competência executiva. São tribunais de recurso e de resolução
de conflitos de jurisdição e de competência, nos termos do 42º/2, 52º a 55º e 72º a 74º LOSJ.
Têm, ainda, uma competência de reconhecimento de sentenças estrangeiras (cfr. 73º e)
LOSJ).
Competência em razão do território: Em razão do território. 89º CPC. Não se aplica o 2. Uma
penhora não é uma garantia real. 89º/1. Seria Lisboa. Podíamos aplicar a segunda parte do
artigo: executado podia escolher. Quando nada nos é dito sobre onde deve ser cumprida a
obrigação, aplicamos o 774º CC (domicílio: Lisboa).
Competência em razão da matéria: O tribunal de comarca de Lisboa tem juizo de execução,
sendo ele o competente. Existem duas secções no juízo de execução da comarca de Lisboa.
A acção foi proposta na 2ª secção: a professora entende que não existe incompetência
nenhuma (não existe incompetência em função do território porque Almada é em Lisboa,
esta secção faz parte da secção da comarca).
Competência em razão do valor: não importa.

7. Acção executiva proposta na 1ª Secção do Tribunal Judicial da Comarca de


Lisboa com apresentação de uma livrança como título executivo, cujo local de
pagamento era uma agencia bancária de Braga. A livrança serviu para garantir
a divida emergente de um contrato, nos termos do qual as partes (exequente e
executado) atribuíram competência aos tribunais da comarca de Lisboa para
dirimir todos e quaisquer litígios resultantes do incumprimento do contrato.
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Competência internacional: uma vez que não estamos perante uma situação plurilocalizada
e portanto são competentes os tribunais portugueses.
Competência em razão da jurisdição: na acção executiva os únicos tribunais competentes
são os judicias (64º CPC e 40º/1 LOSJ).
Competência em razão da hierarquia: no plano da hierarquia, apenas os tribunais de 1ª
instância têm competência executiva (85º/1 e 86º CPC), ou seja, os tribunais de comarca
(29º/3 LOSJ). Esta abrange, designadamente, a competência para a execução de decisão
proferida em acção proposta na Relação ou no Supremo, em algum dos casos especiais
(indemnização contra magistrados; revisão de sentenças estrangeiras) em que, no âmbito
da acção declarativa, o tribunal superior funciona como 1ª instância. Portanto as decisões
de 1ª instância são executadas pelos tribunais de comarca, em regra (79º LOSJ). Assim, os
tribunais superiores não têm competência executiva. São tribunais de recurso e de resolução
de conflitos de jurisdição e de competência, nos termos do 42º/2, 52º a 55º e 72º a 74º LOSJ.
Têm, ainda, uma competência de reconhecimento de sentenças estrangeiras (cfr. 73º e)
LOSJ).
Competência em razão do território: Partes convencionaram, 95º. Se formos ao 104ºa)
temos que o a convenção é possível porque neste caso vamos aplicar a segunda parte do
89º/1 (se fosse a primeira já não era admitida). Sendo admissível a convenção, seria
competente o tribunal acordado, ou seja, comarca de Lisboa.
Competência em razão da matéria: Tem juízo de execução, sendo esse o tribunal
competente
Competência em razão do valor: não importa.

8. Acção executiva proposta na 1ª Secção cível do Tribunal Judicial da Comarca


de Lisboa por Teresa, residente em Lisboa, contra Samanta e Rubina, ambas
residentes em Coimbra, para execução de uma sentença judicial, proferida no
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa, que condenou Samanta a pagar
50.000€ a Teresa e Rubina a entregar-lhe uma autocaravana que, de momento,
se encontra em Faro.
Não corrigimos.
Cumulação de execuções, mais especificamente, coligação (activa?)* (pluralidade de partes
e pluralidade de pedidos). Não se coloca nenhuma problema uma vez que o 710º CPC diz-
nos que é permitido cumular a execução de todos os pedidos julgados procedentes na
sentença. Se este artigo não existisse não seria possível a coligação, neste caso, por causa
do 709º/1b) CPC, uma vez que numa acção pedimos o pagamento de quantia certa e noutra
a entrega de coisa certa). Contudo, o 710º afasta a aplicação deste artigo por isso está tudo
ok. O 709º CPC só se aplica quando os tribunais competentes são diferentes (?).
* Litisconsórcio (passivo): um exequente demanda vários executados, mas os pedidos em relação aos executados são
sempre os mesmos.
Coligação: o exequente vai executar vários devedores, mas as execuções vão ser diferentes.

Competência internacional: uma vez que não estamos perante uma situação plurilocalizada
e portanto são competentes os tribunais portugueses.
Competência em razão da jurisdição: na acção executiva os únicos tribunais competentes
são os judicias (64º CPC e 40º/1 LOSJ).
Competência em razão da hierarquia: no plano da hierarquia, apenas os tribunais de 1ª
instância têm competência executiva (85º/1 e 86º CPC), ou seja, os tribunais de comarca
(29º/3 LOSJ). Esta abrange, designadamente, a competência para a execução de decisão
proferida em acção proposta na Relação ou no Supremo, em algum dos casos especiais
(indemnização contra magistrados; revisão de sentenças estrangeiras) em que, no âmbito
da acção declarativa, o tribunal superior funciona como 1ª instância. Portanto as decisões
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de 1ª instância são executadas pelos tribunais de comarca, em regra (79º LOSJ). Assim, os
tribunais superiores não têm competência executiva. São tribunais de recurso e de resolução
de conflitos de jurisdição e de competência, nos termos do 42º/2, 52º a 55º e 72º a 74º LOSJ.
Têm, ainda, uma competência de reconhecimento de sentenças estrangeiras (cfr. 73º e)
LOSJ).
Competência em razão do território: neste caso o título executivo é uma sentença, pelo que
são aplicáveis as disposições do 85º a 88º e 90º CPC. Assim, por força do 85º/1 CPC, será
competente o tribunal onde foi proferida a decisão: comarca de Lisboa.

Competência em razão da matéria: uma vez que na comarca de Lisboa existe juízo de
execução (84º/1p) ROFTJ), será esse juízo o competente.

Competência em razão do valor: não releva pois existe juízo de execução na comarca de
Lisboa.

Uma vez que a acção foi proposta na secção cível da comarca de Lisboa estamos perante
uma incompetência absoluta por violação de normas de competência em razão da matéria
(96º CPC). Dado ser um vício insuprível, após o despacho de indeferimento liminar ou a
decisão de absolvição do executado da instância, o exequente terá que instaurar nova
execução no tribunal competente: juízo de execução da comarca de Lisboa.

9. Considere a hipótese anterior. A sua resposta seria igual se:


a) Fossem apresentados, como títulos executivos, duas sentenças?
Não resolvemos.

b) O título em causa fosse extrajudicial?


Não resolvemos.

05/Abr/2019 Participei 1x
10/Abr/2019
Caso 18
Maria propôs acção executiva contra Nuno, munida de setnça que condenava este a
pagar aquela a quantia de 15.000€. Citado para a acção executiva, Nuno deduziu
oposição à execução trinta dias depois, com os seguintes fundamentos:
(i) A dívida fora parcialmente perdoada (no montante de 5.000€) por Maria já
antes da propositura da acção declarativa, numa festa em que ambos se
encontravam, embora Nuno apenas se tenha lembrado desse facto agora.
Nuno afirma que a dívida foi parcialmente extinta, arrolando dez
testemunhas que também se encontravam na festa, apesar de não ter
qualquer prova documental para apresentar na oposição à execução.
(ii) Nuno detinha um contra-crédito sobre Maria, cujo valor ascendia a 30.000€,
que se constitui antes da propositura da acção declarativa, mas que apenas
se tornou exigível na pendência da mesma. Nuno apresentou um documento
a provar a sua pretensão, que revestia todos os pressupostos de
exequibilidade extrínseca e intrínseca. Tendo em conta o exposto, pretende
compensar a sua dívida remanescente de 10.000€ e apresentar reconvenção
quanto aos restantes 20.000€.
(iii) Nulidade da citação para a acção executiva.
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1. Analise a oportunidade e a admissibilidade dos fundamentos e das provas


apresentadas por Nuno.
Oposição está prevista no 728º ss. O prazo é de 20 dias. In casu, o executado tinha
ultrapassado este prazo, por isso aplica-se o disposto no 732º/1a). Como estamos a executar
uma sentença, em princípio a forma do processo será a sumária (626º/2). 856º/1. Quando
ele é chamado para se opôr à execução, uma vez que estamos no processo sumário,
também era chamado para se opôr à penhora, no mesmo momento. Este primeiro
fundamento não levantava grandes questões, aplicava-se claramente o 729º/g). Mas para
que este seja aplicado, é necessário que estejam verificados dois requisitos: o facto tem que
ser superveniente (611º). 573º e 588º; para além disso, a prova desses factos deve ser feita
por prova documental. Neste caso, o facto não era superveniente. Para além disso, a prova
testemunhal, e a única prova admissível, no ambito do 729º/g), é a prova documental. Havia
indeferimento liminar 732/1d). MTS diz que para a superveniência dos factos também conta
a superveniência subjetiva: factos que o executado não conhecia, sem culpa, ou factos que
na altura não podiam ter sido provados com prova documental. Já Rui Pinto entende que só
contam os factos supervenientes objectivos. No entender deste último, para alegar os factos
supervenientes será a revisão de sentença, nos termos do 696º/c, e não através da oposição
à execução, sendo com base nessa revisão que ele vai pedir a extinção da instância.
Conclusão: não é fundamento de oposição à execução.

2. Considere o fundamento (ii) apresentado por Nuno. Poderia Nuno reconvir?


Em relação à compensação dos 10.000€ estamos no âmbito de aplicação do 729h) porque
se trata de uma compensação judicial. Não estamos no âmbito do 729g).
Doutrina diverge sobre os pressupostos para a admissibilidade da compensação baseada
no 729ºh) porque se a compensação alegada nos termos do 729ºg) exige que esteja em
causa um facto superveniente, que tem necessariamente de ser provado por prova
documental, Rui Pinto entende que estas duas alíneas devem ser lidas em conjunto: os
factos da alínea g) devem também ser supervenientes e devem ser provados por prova
documental. Já lebre de Freitas diz que as estas alíneas são autónomas e portanto se na
alínea h) não estão lá esses dois requisitos, então não podemos acrescentar coisas à lei.
Para além disso, o que pode ser dito, é que se a compensação na acção declarativa tem
que ser feita por meio de reconvenção, se dissermos que só podiam estar aqui factos
supervenientes, nos iríamos estar a transformar este ónus de reconvenção numa obrigação,
o que seria contra legem. No fundo, estaríamos a transformar a faculdade da reconvenção
numa obrigação. Não percebi bem este último argumento.
Não nos diz quando é que se tornou exigível a compensação na pendência da acção, se foi
logo no início ou no fim. Se a exigibilidade for anterior anterior à contestação, a sua
exigibilidade devia aí ter sido invocada. Se foi posterior, mas antes do encerramento ada
discussão, Rui Pinto entende que pode ser alegada em articulado superveniente. Lebre de
Freitas entende que a compensação judicial só pode ser feita por reconvenção e a
reconvenção só pode ser feita na contestação, então a compensação judicial não pode ser
feita depois da contestação. Ainda assim, Rui Pinto admite articulado superveniente para
invocar tanto a compensação judicial como a extrajudicial.

3. Pronuncie-se sobre os efeitos do recebimento da oposição à execução sobre a


acção executiva em curso.
A grande regra é a de que a oposição não suspende a marcha do procedimento para a acção
executiva. Ou seja, imaginando que estamos no processo ordinário, o que vem a seguir à
oposição é a penhora, pelo que, mesmo havendo oposição, procede-se para a penhora. Mas
há excepções, que constam do artigo 733º/1 e 5 CPC. Se a execução não for suspensa
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temos que olhar para o artigo 733º/4 CPC. Havendo suspensão, a eficácia dos actos que já
foram produzidos mantém-se.

4. Sendo a oposição à execução procedente, comente as consequências dessa


procedência, considerando, em especial: (i) a natureza da sentença que julgue
a oposição à execução procedente; e (ii) a possibilidade de formação de caso
julgado material.
Rui Pinto: a oposição à execução tem sempre um pedido que é principal, que é a extinção
da acção executiva, sendo este o pedid inerente a todo o pedido de oposição. Daí que o
Professor diga que a oposição é uma acção declarativa constitutiva processual porque tem
efeitos de extinção desta relação processual. Se a oposição for procedente, o resultado vai
ser a extinção da acção executiva, ou seja, o resultado é sempre um resultado processual.
Eventualmente pode existir um segundo pedido, que é um pedido de simples apreciação
negativa, por força do 732º/5 CPC, que consiste na apreciação da exigibilidade, etc. da
obrigação. Esta apreciação é meramente eventual porque pode haver oposição com base
noutros fundamentos que não, por exemplo, a exigibilidade (cfr.729ºc), em relação aos
quais não há caso julgado. O 732º/5 CPC é uma excepção às regras do caso julgado
porque por regra só faz caso julgado a procedência da acção, e não os seus fundamentos.
Havendo improcedência da oposição, o exequente vai ser absolvido do pedido de oposição
e portanto a instância de oposição vai-se extinguir e o procedimento da acção executiva
vai continuar. Havendo procedência da oposição: 722º/4 CPC.

5. Imagine agora que nuno não deduziu oposição à execução, apesar de


regularmente citado para o efeito. Encontra-se numa situação de revelia? A sua
resposta seria a mesma se, tendo Nuno deduzido oposição à execução, Maria
não contestasse?
Não dedução da oposição: quais os efeitos? Não existe o ónus de oposição a execução e
portanto o executado não se encontra numa posição de revelia. Se o ele deduzir e o outro
não contestar: 732º/3 já existe o ónus de contestar.

6. Imagine que Nuno pretendia opor-se à execução com base em fundamentos


cuja demonstração não carecem de prova. Considera a oposição à execução o
meio mais dequado?
Havia um fundamento que não carecia de prova. Nós não sabermos se ele cabe no 729º
CPC. Se sim, ele só pode alegar por oposição à execução. Se não estiver, a doutrina
entende que se o 729º não acautela todos os interesses do executado, dado que no artigo
não estão todos os fundamentos que o executado poderia ter interesse em alegar, então
tem que haver outro meio. Esse meio é o simples requerimento do 723/1d) CPC.

7. Considere agora os seguintes dados: (i) a acção executiva provocou danos


sérios na esfera jurídica de Nuno; (ii) a oposição à execução promovida por
Nuno foi parcialmente procedente (apenas procedeu o fundamento (ii), embora
tenha sido rejeitada a reconvenção). Pode Nuno formular um pedido
indemnizatório contra Maria? E pode fazê-lo numa acção declarativa autónoma?
Estávamos perante um processo sumário porque o título executivo era uma sentença: 626º/2
CPC. Responsabilidade: 858º CPC. São pressupostos gerais para aplicação deste artigo: 7
da oposição (pode ser parcial) e a dispensa de citação prévia. Pressupostos especiais: são
os da responsabilidade civil, o acto (?), a culpa (858º CPC), nexo causal e o dano (tanto o
prejuízo causado, como os prejuízos futuros). O 858º não se aplica automaticamente, temos
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de aplicar os pressupostos da responsabilidade civil e da criminal. Rui Pinto defende que


esta responsabilidade do exequente deve correr numa acção autonóma.

Caso 21
António é casado com Benta no regime de comunhão de adquiridos.
1722º CC: são bens próprios os bens que levaram para o casamento, os bens que
adquiriram por herança e por doação e os bens adquiridos por virtude de direito próprio
anterior.
1724º CC: são bens comuns o produto do trabalho de cada um e os bens adquiridos durante
o casamento.

1. Analise as seguintes hipóteses, enunciando as formas de tutela do credor


Capitolino e do cônjuge do executado, quando aplicável.
(i) António e Benta, necessitando de fazer obras na casa de ambos, celebraram
validamente com Capitolino um contrato de mútuo no valor de 250.000€. O
casal não procedeu ao reembolso do capital nem ao pagamento de juros.
a) Capitolino propõe acção executiva apenas contra António, que deduz
incidente de comunicabilidade da dívida a Benta.
1691º/1a) CC: dívida que responsabiliza ambos os cônjuges. Pelas dívidas que são da
responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens comuns do casal e só na sua
falta ou insuficiência é que respondem, solidariamente, os bens próprios de qualquer um dos
cônjuges (1695º/1 CC).
* a dívida é comum quando tem por fonte facto praticado por ambos os cônjuges; a dívida é comunicável quando tem por
fonte um facto praticado por um dos cônjuges, mas que vincula o outro em razão da natureza comum dos bens que a dívida
onera ou em razão da função económica comum que desempenham na vida do casal. São dívidas comunicáveis:
1691º/1a), 2ª parte CC (comunicação voluntária) e 1691º/1 b) a e) e 1691º/2 CC (comunicação legal).
A questão que se coloca é a de saber se a ação executiva tinha ou não que ser proposta
contra ambos os cônjuges. A doutrina diverge:
 Rui Pinto entende que estamos perante um caso de litisconsórcio necessário passivo,
pelo que não pode ser demandado apenas um dos cônjuges, ambos têm de ser
demandados.
 Rui Pinto aplica o 34º/3 CPC para defender o litisconsórcio necessário. Assim,
defende que o 740º CPC não se aplica, uma vez que o cônjuge deve ser
sempre citado como devedor comum, em litisconsórcio necessário.
 MTS também assim o entende, contudo fundamenta a sua posição com base
no 1695º/1 CC, pois uma vez que respondem os bens do casal (comuns e
próprios) há uma afectação patrimonial própria, podendo ser afectados os bens
comuns cujas pessoas sejam titulares deles, pelo que não faz qualquer sentido
intentar a ação executiva apenas contra um dos cônjuges.
 A preterição deste litisconsórcio leva à ilegitimidade, que pode ser sanada por
intervenção principal provocada pelo exequente no prazo dado em despacho
liminar ou superveniente para a sua sanação. Na falta deste e após o devido
despacho de indeferimento ou de extinção superveniente da instância o credor
pode aproveitar ainda a ação, pela renovação, nos termos do 261º/2.
 Lebre de Freitas entende que não existe litisconsórcio necessário, mas sim um
litisconsórcio voluntário, pelo que o credor que disponha de título executivo contra
ambos pode decidir contra quem quer deduzir a execução. A seu ver, o 740º CPC
aplica-se a todos os casos de execução movida contra um só dos cônjuges! Ou seja,
aplica-se não só os casos de responsabilidade exclusiva do executado, mas também
aqueles em que a responsabilidade é comum, mas a execução foi movida contra um
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só dos responsáveis. Simplesmente, há que atender, na ordem a observar na


penhora, à diferença dos regimes substantivos aplicáveis:
 Sendo a dívida da responsabilidade exclusiva do executado, a penhora deve
começar pelos bens próprios dele e só depois pode ser penhorada a meação;
 Sendo a dívida comum e havendo título executivo contra ambos os cônjuges,
a penhora deve começar pelos bens comuns e só na sua falta ou insuficiência
pode incidir sobre bens próprios. Assim, só se não houver bens comuns é que
se justifica a propositura da execução contra um só dos obrigados no título;
 Sendo a dívida comum e baseando-se a execução em sentença que apenas
constituía título executivo contra um dos cônjuges, o executado, que não
chamou o cônjuge a intervir no processo declarativo, para o convencer da sua
responsabilidade (316º/3a) CPC), não pode alegar no processo executivo que
a dívida é comum. Segue-se assim o regime da penhora das dívidas de
responsabilidade exclusiva do executado, sem prejuízo do apuramento ulterior
de contas entre os cônjuges (1671º/1 CC) e da possibilidade de o credor ainda
propor nova acção declarativa contra o cônjuge não condenado. O
chamamento a intervenção principal do cônjuge não demandado constitui
assim um ónus do cônjuge demandado na acção declarativa, cuja
inobservância preclude a invocação da comunicabilidade da dívida;
 Sendo a dívida comum e baseando-se a execução em título extrajudicial contra um
só cônjuge: 741º e 742º CPC.

Assim, adoptando a posição do Professor Rui Pinto, estando em causa um litisconsórcio


necessário, a acção teria de ter sido intentada contra ambos os cônjuges, havendo, in casu,
uma ilegitimidade (33º/1 CPC). É uma excepção dilatória (577ºe) CPC) de conhecimento
oficioso (578º CPC). Mas por força do 316º/1 CPC, António pode chamar a juízo Benta para
intervir na causa.
Adoptando a posição do Professor Lebre de Freitas, aplica-se o 740º CPC, segundo o qual,
após a penhora dos bens comuns, tem lugar a citação de Benta, para, no prazo de 20 dias,
requerer a separação de bens ou mostrar que ela está já requerida, sob pena de a execução
prosseguir sobre os bens comuns (740º/1 CPC).
Citada o cônjuge do executado (786º/1 a)), pode ele, no prazo de 20 dias de que dispõe
para a oposição (787º/1):
 Requerer a separação de bens, em processo de inventário que corre por apenso a
execução e tem, entre outras, a particularidade de poder ser impulsionado, não só
pelo cônjuge do executado, como parte principal, mas também pelo exequente, e de
nele poderem ser ouvidos os credores conhecidos (740º e 81º do regime jurídico do
processo de inventário);
 Ou, juntar aos autos certidão comprovativa da pendência de processo de separação
de bens já instaurado, por apenso a outra execução, ou perante notário nos termos
da Lei 23/2013 (740º/1).

Ou seja, se Benta nada fizer, a execução prosseguirá nos bens penhorados (740º/1). Caso
contrário, a execução é suspensa até que se verifique a partilha e se, nesta, os bens
penhorados não forem atribuídos ao executado, poderão ser penhorados outros que lhe
tenham cabido (740º/2 CPC).
Se Benta for citada para declarar se aceita que a dívida é comum, essa aceitação é,
incompatível com a separação de bens do 740º/1 CPC, pelo que, se esta tiver sido requerida,
ou se Benta tiver provado que a requereu antes de António suscitar a questão da
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comunicabilidade, a citação de Benta para o efeito de se pronunciar sobre esta já não tem
de ter lugar.
Quanto ao incidente de comunicabilidade, dado que a dívida já é comum, não tem efeito útil.

Titulo executivo extrajudicial porque 1143º CC.


As dívidas dos cônjuges podem ser próprias, comuns ou comunicáveis. Se nada for dito, é
sempre própria, a não ser que seja comum. As comuns são de conhecimento oficioso. A
comum e aquela em que do titulo executivo constam os dois cônjuges (1691 a) CC). Quando
tivermos uma divida comunicável, é uma dívida quando foi contraída por apenas um cônjuge,
ou seja, no titulo executivo só consta um cônjuge. É comunicável ou porque houve
consentimento do outro cônjuge ou por uma qualquer disposição legal (1691 b) a e), 1693/2
e 1694/1 CC). Se não houver incidente de comunicabilidade, a dívida vai ser própria (1692
a) CC). Responsabilidade das próprias esta no 1696º (1º bens próprios do cônjuge
executado + bens do 1696º/2 e só em 2º lugar, ou seja, se eles não forem suficientes, os
bens comuns). A responsabilidade das comuns e comunicáveis está no 1695º. Se na acção
executivo se executarem os bens comuns do cônjuge, então vamos ter que chamar o
cônjuge da pessoa que esta a ser executado pelo 740º e ele pode pedir a separação dos
bens (assim só é executada a meação do cônjuge executado; ele é chamado porque
estamos a executar bens comuns que também são dele). Se estivermos perante o 1695º,
em 1º lugar são executados os bens comuns e em 2º lugar os bens próprios. Se nos tivermos
perante regime de separação de bens obviamente não existem bens comuns, logo a única
cisa que se pode executar são os bens próprios do cônjuge executado. Só no caso do 1695º
é que vai ser possível alegar a comunicabilidade pelo 751º ou 742º CPC

b) Capitolino propõe acção executiva contra António e Benta.


1691º/1a) CC: dívida que responsabiliza ambos os cônjuges. Pelas dívidas que são da
responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens comuns do casal e só na sua
falta ou insuficiência é que respondem, solidariamente, os bens próprios de qualquer um dos
cônjuges (1695º/1 CC).
* a dívida é comum quando tem por fonte facto praticado por ambos os cônjuges; a dívida é comunicável quando tem por
fonte um facto praticado pot um dos cônjuges, mas que vincula o outro em razão da natureza comum dos bens que a dívida
onera ou em razão da função económica comum que desempenham na vida do casal. São dívidas comunicáveis:
1691º/1a), 2ª parte CC (comunicação voluntária) e 1691º/1 b) a e) e 1691º/2 CC (comunicação legal).
A questão que se coloca é a de saber se a ação executiva tinha ou não que ser proposta
contra ambos os cônjuges. A doutrina diverge:
 Rui Pinto entende que estamos perante um caso de litisconsórcio necessário passivo,
pelo que não pode ser demandado apenas um dos cônjuges, ambos têm de ser
demandados.
 Rui Pinto aplica o 34º/3 CPC para defender o litisconsórcio necessário. Assim,
defende que o 740º CPC não se aplica, uma vez que o cônjuge deve ser
sempre citado como devedor comum, em litisconsórcio necessário.
 MTS também assim o entende, contudo fundamenta a sua posição com base
no 1695º/1 CC, pois uma vez que respondem os bens do casal (comuns e
próprios) há uma afectação patrimonial própria, podendo ser afectados os bens
comuns cujas pessoas sejam titulares deles, pelo que não faz qualquer sentido
intentar a ação executiva apenas contra um dos cônjuges.
 A preterição deste litisconsórcio leva à ilegitimidade, que pode ser sanada por
intervenção principal provocada pelo exequente no prazo dado em despacho
liminar ou superveniente para a sua sanação. Na falta deste e após o devido
despacho de indeferimento ou de extinção superveniente da instância o credor
pode aproveitar ainda a ação, pela renovação, nos termos do 261º/2.
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 Lebre de Freitas entende que não existe litisconsórcio necessário, mas sim um
litisconsórcio voluntário, pelo que o credor que disponha de título executivo contra
ambos pode decidir contra quem quer deduzir a execução. A seu ver, o 740º CPC
aplica-se a todos os casos de execução movida contra um só dos cônjuges! Ou seja,
aplica-se não só os casos de responsabilidade exclusiva do executado, mas também
aqueles em que a responsabilidade é comum, mas a execução foi movida contra um
só dos responsáveis. Simplesmente, há que atender, na ordem a observar na
penhora, à diferença dos regimes substantivos aplicáveis:
 Sendo a dívida da responsabilidade exclusiva do executado, a penhora deve
começar pelos bens próprios dele e só depois pode ser penhorada a meação;
 Sendo a dívida comum e havendo título executivo contra ambos os cônjuges,
a penhora deve começar pelos bens comuns e só na sua falta ou insuficiência
pode incidir sobre bens próprios. Assim, só se não houver bens comuns é que
se justifica a propositura da execução contra um só dos obrigados no título;
 Sendo a dívida comum e baseando-se a execução em sentença que apenas
constituía título executivo contra um dos cônjuges, o executado, que não
chamou o cônjuge a intervir no processo declarativo, para o convencer da sua
responsabilidade (316º/3a) CPC), não pode alegar no processo executivo que
a dívida é comum. Segue-se assim o regime da penhora das dívidas de
responsabilidade exclusiva do executado, sem prejuízo do apuramento ulterior
de contas entre os cônjuges (1671º/1 CC) e da possibilidade de o credor ainda
propor nova acção declarativa contra o cônjuge não condenado. O
chamamento a intervenção principal do cônjuge não demandado constitui
assim um ónus do cônjuge demandado na acção declarativa, cuja
inobservância preclude a invocação da comunicabilidade da dívida;
 Sendo a dívida comum e baseando-se a execução em título extrajudicial contra um
só cônjuge: 741º e 742º CPC.

Assim, adoptando a posição do Professor Rui Pinto, estando em causa um litisconsórcio


necessário, a acção teria de ter sido intentada contra ambos os cônjuges. Dado que foi isso
que aconteceu, pelas dívidas respondem os bens comuns e só na sua falta ou insuficiência
é que respondem, solidariamente, os bens próprios de qualquer um dos cônjuges (1695º/1
CC).

(ii) António comprou a Capitolino um robot de cozinha, para ele e Benta


cozinharem. O contrato de compra e venda foi autenticado por notário. O
preço não foi pago.
a) Capitolino propõe acção executiva contra António e Benta.
Não é dívida comum porque o contrato de compra e venda foi celebrado só por António. É
no entanto uma dívida comunicável, por força, em princípio, do 1691º/1b) CC (“dívidas
contraídas para ocorrer aos encargos normais da vida familiar”). Seria discutível se esta
compra cabe ou não no âmbito desta alínea, devendo ser tidos em conta elementos como a
capacidade económica do casal (para ver se é ou não um encargo normal; se fossem muito
pobres, não caberia nesta alínea) e também o efectivo proveito comum do casal (o qual não
se presume, 1691º/3 CC), parecendo este estar verificado dado que a hipótese diz que
António comprou o robot “para ele e Benta cozinharem”.
Também seria de equacionar a hipótese da aplicação do 1691º/1c) CC.
Admitindo que se aplica o 1691º/1b) CC: é dívida comunicável. Assim, são da
responsabilidade comum dos cônjuges, nos termos do 1694º/1 CC, pelo que pela dívida em
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causa respondem os bens comuns e só na sua falta ou insuficiência é que respondem,


solidariamente, os bens próprios de qualquer um dos cônjuges (1695º/1 CC).
No entanto Benta não tem legitimidade passiva dado não tratar-se de uma dívida comum,
pelo que a ação executiva só pode ser proposta contra o cônjuge que consta do título
executivo como devedor, ou seja, contra António (53º/1 CPC).
O que pode acontecer, depois, é António vir alegar a comunicabilidade da dívida, nos termos
do 742º CPC, ou Capitolino fazê-lo nos termos do 741º CPC.
Assim, Benta deveria opor-se à execução uma vez que não tem legitimidade (passiva), nos
termos do 728º/1 e 729º/c). Se a oposição à execução for procedente ela passa a cônjuge
do executado, deixando de ser executada. Sendo a dívida comunicável, o Capitolino
pode deduzir um incidente de comunicabilidade que, sendo procedente, faz com que Benta
volte a ser executada (741º CPC). Em bom rigor, o que o exequente deveria ter feito desde
o início era, em vez de propor ação executiva contra Benta, deduzir logo um incidente de
comunicabilidade.

b) Capitolino propõe acção executiva apenas contra António, alegando a


comunicabilidade da dívida a Benta, que rejeita a comunicabilidade da
dívida.
Movida acusação apenas contra um dos cônjuges, a comunicabilidade da dívida pode ser
requerida pelo exequente (741ºCPC), ou pelo executado (742º CPC). Havendo um incidente
de comunicabilidade o cônjuge do executado é citado para no prazo de 20 dias declarar se
aceita ou não a comunicabilidade (741º/2 e 742º/1 CPC). Há então três cenários possíveis:
 Benta pode aceitar a comunicabilidade: a dívida é considerada comum, pelo que,
respondem ambos os cônjuges. Respondem os bens comuns e subsidiariamente
bens próprios de cada um dos cônjuges, solidariamente.
 Benta pode não se pronunciar sobre a comunicabilidade: nesse caso, diz-nos o 741º/2
CPC que a dívida é considerada comum.
 Benta pode impugnar a comunicabilidade, por força do 741º/3 CPC. Foi isso que
aconteceu.
 Se a dívida for considerada comum, a execução prossegue também contra
Benta (741º/5 CPC). 1695º CC
 Se a dívida não for considerada comum, Benta deve, no prazo de 20 dias após
o trânsito em julgado da decisão, requerer a separação de bens ou juntar
certidão comprovativa da pendência da ação em que a separação já tenha sido
requerida, sob pena de a execução prosseguir sobre os bens comuns (741º/6
CPC).

c) Capitolino propõe acção executiva apenas contra António, sem alegar a


comunicabilidade da dívida com Benta.
A acção não tinha que ser proposta contra os dois cônjuges, dado não estar em causa uma
dívida comum. De todo o modo, António pode deduzir ele próprio incidente de
comunicabilidade, nos termos do 742º/1 CPC.
O cônjuge executado é citado apenas para requerer a separação de bens, de forma a
proteger da penhora a sua meação nos bens comuns (740º/1).

(iii) António celebrou validamente com Capitolino um contrato de mútuo no valor


de 50.000€, tendo em vista a aquisição de electrodomésticos para a casa que
partilha com Benta. António não restitui o capital nem pagou os juros.
a) Capitolino propõe acção executiva apenas contra António.
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Não é uma dívida comum. Discutível se é uma dívida comunicável:


 Eventual aplicação do 1691º/1a), 2ª parte CC (“as dívidas contraídas por um deles
com o consentimento do outro”), mas não temos dados suficientes.
 Eventual aplicação do 1691º/b) CC, mas diria que não pois gastar 50.000€ em
electrodomésticos não é, para um família com poder económico médio, um encargo
normal da vida familiar.
Diria que é uma dívida própria de António, não havendo comunicabilidade. Assim, é da
exclusiva responsabilidade de António, nos termos do 1692º a) CC. Logo, Capitolino fez bem
em propor a ação apenas contra António, pois a execução deve ser promovida contra a
pessoa que no título tenha a posição de devedor (53º/1 CPC). Pela dívida vão responder os
bens próprios de António e, subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns (1696º CC).
Errado! 1691/1c)

b) Capitolino propõe acção executiva contra António, alegando a


comunicabilidade da dívida com Benta.
Movida acusação apenas contra um dos cônjuges, a comunicabilidade da dívida pode ser
requerida pelo exequente (741ºCPC), ou pelo executado (742º CPC). Havendo um incidente
de comunicabilidade o cônjuge do executado é citado para no prazo de 20 dias declarar se
aceita ou não a comunicabilidade (741º/2 e 742º/1 CPC). Há então três cenários possíveis:
 Benta pode aceitar a comunicabilidade: a dívida é considerada comum, pelo que,
respondem ambos os cônjuges. Respondem os bens comuns e subsidiariamente
bens próprios de cada um dos cônjuges, solidariamente.
 Benta pode não se pronunciar sobre a comunicabilidade: nesse caso, diz-nos o 741º/2
CPC que a dívida é considerada comum.
 Benta pode impugnar a comunicabilidade, por força do 741º/3 CPC.
 Se a dívida for considerada comum, a execução prossegue também contra
Benta (741º/5 CPC).
 Se a dívida não for considerada comum, Benta deve, no prazo de 20 dias após
o trânsito em julgado da decisão, requerer a separação de bens ou juntar
certidão comprovativa da pendência da ação em que a separação já tenha sido
requerida, sob pena de a execução prosseguir sobre os bens comuns (741º/6
CPC).

(iv) António comprou a Capitolino um veleiro para passear com a sua amante de
longa data. O contrato de compra e venda foi autenticado por notário. O
preço não foi pago.
a) Capitolino propõe acção executiva contra António e Benta.
Dívida própria de António, não havendo comunicabilidade. Assim, é da exclusiva
responsabilidade de António, nos termos do 1692º/1a) CC. Pela dívida vão responder os
bens próprios de António e, subsidiariamente, a sua meação nos bens comuns (1696º CC).
Tendo sido proposta a ação contra ambos os cônjuges, Benta deverá opor-se à execução
alegando a sua ilegitimidade (731º e 53º/1 CPC). Se a oposição for procedente, passa a ser
cônjuge do executado e deverá requerer a separação de bens, sob pena de a execução
prosseguir sobre os bens comuns (740º/1 CPC).

b) Capitolino propõe acção executiva apenas contra António, alegando a


comunicabilidade da dívida a Benta.
Movida acusação apenas contra um dos cônjuges, a comunicabilidade da dívida pode ser
requerida pelo exequente (741ºCPC), ou pelo executado (742º CPC). Havendo um incidente
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de comunicabilidade o cônjuge do executado é citado para no prazo de 20 dias declarar se


aceita ou não a comunicabilidade (741º/2 e 742º/1 CPC). Há então três cenários possíveis:
 Benta pode aceitar a comunicabilidade: a dívida é considerada comum, pelo que,
respondem ambos os cônjuges. Respondem os bens comuns e subsidiariamente
bens próprios de cada um dos cônjuges, solidariamente.
 Benta pode não se pronunciar sobre a comunicabilidade: nesse caso, diz-nos o 741º/2
CPC que a dívida é considerada comum.
 Benta pode impugnar a comunicabilidade, por força do 741º/3 CPC.
 Se a dívida for considerada comum, a execução prossegue também contra
Benta (741º/5 CPC).
 Se a dívida não for considerada comum, Benta deve, no prazo de 20 dias após
o trânsito em julgado da decisão, requerer a separação de bens ou juntar
certidão comprovativa da pendência da ação em que a separação já tenha sido
requerida, sob pena de a execução prosseguir sobre os bens comuns (741º/6
CPC).

c) Capitolino propõe acção executiva apenas contra António, sem alegar a


comunicabilidade da dívida a Benta.
Atenção que, apesar de Capitolino não ter alegado a comunicabilidade da dívida a Benta,
António pode fazê-lo com recurso ao 742º CPC, sem prejuízo de Benta poder impugnar tal
comunicabilidade.
Não tendo sido alegada nenhuma comunicabilidade, a Benta basta requerer a separação de
bens, sob pena de a execução prosseguir sobre os bens comuns (740º/1 CPC).

24/Abr/2019 2x
Caso 23
Vasco, casado com Xica no regime de comunhão geral de bens, adquiriu diversos
electrodomésticos para equipar a casa que comprara com Xica, pelo valor global de
50.000€, tendo pago através de cheque à ordem da Wortin. No acto da compra, Zito,
pai de Vasco, foi parte no contrato, na qualidade de fiador. Dois dias depois, a Wortin
verificou que o cheque não tinha provisão, razão pela qual intentou imediatamente
uma acção executiva contra Zito, requerendo a dispensa de citação prévia deste.
1732º CC: são bens comuns todos os bens presentes e futuros dos cônjuges, que não sejam
exceptuados pela lei; 1733º CC: bens próprios.
Fiança: 627º ss CC
Títulos em causa: cheque e contrato. Ambos são títulos executivos. Se wortin tiver proposto
a acção executiva apenas com base no cheque, então o único devedor que nele consta é o
Vasco, pois no cheque não há menção à fiança, pelo que não título executivo contra Zito, e
por isso ele só podia demandar o Vasco. Já se o título executivo fosse o contrato (que tinha
que ser autenticado, caso contrário não valia como título), então nessa caso já temos título
executivo contra o fiador pois aqui ele já se encontra no título executivo.

1. Poderia a Wortin propor acção executiva apenas contra Zito? Pronuncie-


se desenvolvidamente sobre a legitimidade passiva de Zito e sobre os
seus meios de tutela.
O fiador é um devedor subsidiário, na medida em que é titular passivo de uma obrigação
acessória da do devedor principal e pode, como tal, exigir a prévia excussão do património
do devedor principal antes de os seus bens responderem pela dívida, nos termos do 627º/2
e 638º CC. Movida uma execução contra o devedor principal e o devedor subsidiário,
constitui ónus deste a invocação do benefício da excussão prévia, como resulta do 745º/1
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CPC, no prazo de 20 dias a contar da citação (728º/1, aplicável por força da remissão do
745º/1 CPC). Se o invocar, a penhora começa pelos bens do devedor principal e só pode
incidir em bens do devedor subsidiário, depois de efetuada a venda dos primeiros, se apurar
que eles são insuficientes para o pagamento das custas da execução, do crédito exequendo
e dos credores reclamantes que antes dele tenham sido graduados.
Se a execução tiver sido movida apenas contra o devedor principal, o problema não se põe,
uma vez que nela não podem ser penhorados bens de terceiro (o fiador), contra quem a
execução não foi proposta; mas (cfr. litisconsórcio sucessivo), sempre que haja título
executivo contra o devedor subsidiário, é possível a sua citação ulterior para a execução,
depois de verificada, após excussão, a insuficiência do património do devedor principal
(745º/3 CPC).
In casu, a execução parece ter sido movida apenas contra o devedor subsidiário (fiador:
Zito), pelo que poderá este, invocando o benefício da excussão prévia, obter a sua
suspensão, até que o exequente (Wortin) requeira a citação do devedor principal, contra
quem tenha também título executivo, para excutir o respectivo património (745º/2). Mas, se
o título executivo for uma sentença proferida apenas contra o devedor subsidiário, em acção
em que não tenha intervindo o devedor principal, o benefício da excussão prévia não é já
invocável, por o réu, na acção declarativa, não ter chamado a intervir o devedor principal,
nos termos do 316º/3a) CPC, a menos que então expressamente tenha declarado que não
pretendia renunciar ao benefício da excussão (641º/2 CC).
Qual a forma e qual o prazo em que Zito (fiador) se pode valer do benefício da excussão
prévia, quando este não é automático? Quanto à forma, basta um simples requerimento.
Quanto ao prazo, deve ser invocado no prazo para os embargos de executado (745º/1).
A ação executiva só pode ser proposta sob a forma de processo ordinário, nos termos do
550º/3d) CPC.
Afastar aplicação do 640º CC (“Exclusão dos benefícios anteriores”)

2. Considere agora que a Wortin, não tendo título executivo contra Zito,
intentou uma acção declarativa apenas contra este, e que este, enquanto
fiador, foi condenado a responder pela dívida contraída por Vasco.
Mudaria alguma coisa na sua resposta à questão anterior?

3. Explique a diferença entre os conceitos “excussão prévia” e


“insuficiência de bens”, bem como a sua relevância na penhorabilidade
subsidiária.

4. Imagine que Zito revelou ao agente de execução que Vasco escondia


jóias bastantes valiosas num cofre em sua casa. O agente de execução
desconsiderou as indicações de Zito, acabando por concluir que o
património do(s) devedor(es) principal(ais) é insuficiente. Quid iuris?

5. Imagine ainda que, para garantia da dívida de 50.000€, Urraca, mãe de


Xica, hipotecou o seu T0 dois dias depois da constituição da fiança. Esta
hipoteca favorece, de algum modo, Zito?
Se o fiador conhecia que havia esta hipoteca sobre o crédito que ele estava a garantir então
é normal que ele se faça fazer valer desse crédito (cfr 639º CC). Não é o caso de haver uma
fiança e posteriormente uma hipoteca, pois ele não fazia ideia. Portanto neste caso ele não
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se pode fazer valer da hipoteca (ou seja, não pode vir dizer que antes de executarem os
seus bens, têm que executar o T0) portanto a única coisa que ele podia fazer era alegar o
benefício da excussão prévia em relação ao devedor principal.

6. As regras de penhorabilidade subsidiária também podem ser aplicadas


em execução de dívida com garantia real que onere bens pertencentes ao
devedor?
697º CC e (…) CPC

Caso 28
Numa acção executiva proposta contra Clotilde foi penhorado um valioso colar de
safiras que esta herdara da sua bisavó. No dia seguinte ao da constituição da penhora,
e já sem o colar em seu poder, Clotilde vendeu o colar a Diamantina (apesar de o
mesmo não ter sido entregue a esta), que nada sabia sobre a penhora em curso.
Acresce que, uma semana depois, Clotilde empenhou o mesmo colar a favor de Estela.
1. Após a penhora, quem é o proprietário do colar de safira? E o possuidor? E o
detentor?
Quando falamos da penhora da casa, do carro, do colar, estamos a falar da penhora de
coisas, mas na verdade não se penhoram coisas, penhoram-se sempre direitos (ex: direito
de propriedade). Aquilo que se apreende, isso sim são coisas. Uma coisa é o objecto da
penhora, outra é o objecto da apreensão.
Depois da penhora vendeu o bem, portanto o problema aqui é a alienação de bens
penhorados. 819º CC (“sem prejuízo das regras do registo, são inoponíveis à execução os
actos de disposição, oneração ou arrendamento dos bens penhorados”) é essencial para
determinar o direito incompatível de terceiro para efeitos de embargo de terceiro.
Efeitos de penhora de coisas:
 Concessão de preferência (822º CC):
 Alguém que constitua a penhora em primeiro lugar vai receber primeiro o
produto da venda. Tem preferência quem constitui o direito real em primeiro
lugar.
 Desapossamento do executado:
 É o que acontece no caso. Quando existe a penhora de um bem dá-se o
desapossamento, ou seja, o titular executado perde a posse do bem, mas tal
não significa que deixe de ter poder sobre o bem.
 A penhora não tem efeito translativo, a acção executiva sim. A penhora não
provoca a transmissão do direito de propriedade. O colar é penhorado e é
apreendido, mas isto não significa que ela deixe de ser proprietária do colar,
só o é com a venda do mesmo (824º/1 e 826º CC). A penhora leva à
transmissão da posse, mas não à transmissão do direito. A proprietária do colar
então portanto Clotilde.
 Indisponibilidade jurídica:
 819º CC: sempre que estejamos numa situação em que o bem foi penhorado
e a seguir ocorre um acto transmissivo, onerador ou de arrendamento do bem,
temos uma situação em que o acto é ineficaz (não é inválido/nulo).
 Quando Clotilde transmite o colar a Diamantina, fá-lo quanto a um direito
(direito de propriedade sob o colar) de que é titular. O que acontece é que essa
transmissão não é eficaz, não é oponível perante os credores da execução:
eficácia relativa (ineficácia perante credores exequentes e credores
reclamantes).
In casu, a venda ocorreu à revelia do credor de execução:
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 Se o acto é válido significa que se transmitiu o direito à Diamantina só que esta tem
uma titularidade precária. Imagine se que aparece F que adquire o bem em venda
executiva, a propriedade de Diamantina caduca (824º/2). Além disso, D tem um direito
compatível com a execução, ou seja, não pode embargar de terceiro, pois o direito foi
constituído depois da penhora. Só pode embargar de terceiro quem tem direitos
constituídos antes da penhora!
 Diamantina apenas pode pedir uma indemnização à C, mas a tutela é meramente
obrigacional e não real (ao contrário do que sucede na venda executiva). O que pode
Diamantina fazer para se precaver?
 Ou adquire mas paga para que haja levantamento da penhora;
 Não sabendo da penhora, pode requerer a anulação do negocio pelo regime
da venda de bens onerados.

Através da penhora os bens são apreendidos pelo agente de execução que os entrega a um
depositário quando este seja outrem, 764º/1 e 768º/2 e 3 CPC. Os poderes de uso, fruição
e administração passam para a responsabilidade do agente de execução a partir do
momento da apreensão e não antes. A entrega efectiva tanto pode resultar de tradição
voluntária dos bens pelo executado ao depositário, como de uma “ocupação” forçada por
parte do agente de execução, caso aquele não colabore (cfr 757º/2).
As consequências desta apreensão no plano da posse variam consoante a posição
doutrinária adoptada:
 MTS: “a penhora impõe ao executado um desdobramento da posse sobre os seus
bens: o executado permanece possuidor em nome próprio, nos termos do seu direito
de que ainda fica como titular, mas vê constituir-se sobre eles uma posse que é
exercida pelo depositário e que tem o conteúdo que resulta dos poderes que são os
concedidos a este último”. Mesmo quando o executado permanece depositário dos
bens penhorados, 756º/1 e 772º CPC, a sua posse é exercida nessa qualidade e não
como titular de um direito real sobre eles.
 Lebre de Freitas: pela penhora o direito do executado é esvaziado dos poderes de
gozo que o integram, os quais passam para o tribunal que, em regra, os exerce
através de um depositário. In casu, tratando-se de uma penhora que incide sobre o
objecto corpóreo de um direito real (penhora de bem imóvel, penhora de bem móvel
(e o caso), penhora de quota em bem indiviso), a transferência dos poderes de gozo
importa a transferência de posse. Cessa a posse do executado e inicia-se uma nova
posse pelo tribunal: o depositário passa, em nome do tribunal, a ter a posse do bem
penhorado”.
 Rui Pinto: segue a posição do MTS, entendendo que a penhora não tem efeito
extintivo ou translativo da posse do executado. O depositário, máxime, agente de
execução, ao apreender está a exercer poderes do Estado, ou seja, o Estado é
possuidor em nome próprio e o depositário é detentor, enquanto possuidor em nome
do Estado (1253ºc) CC). O executado não perde a sua posse civil. Mas enquanto a
posse do executado passa a mera posse civil, a posse do Estado é a posse efectiva.
Ou seja, penhorada uma coisa corpórea, não há transferência de posse a favor do
Estado, nem extinção da posse do executado acompanhada de constituição de uma
outra para o tribunal: sobre o bem passam a incidir duas posses, a civil do executado
e a efectiva do Estado.
 Mais favorável para o executado esta tese pois a manutenção da posse civil
permite a manutenção da legitimidade do executado para usar meios de defesa
da posse, mesmo na pendência da penhora.
Solução:
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 Proprietária: Clotilde até que se realize a venda executiva (824º/1 CC a contrario);


 Possuidor:
 MTS e Rui Pinto: posse desdobra-se: posse civil do executado e posse do
Estado;
 Lebre de Freitas: tribunal (através do depositário);
 Detentor: depositário (depende do caso, mas tanto pode ser o agente de execução
como o próprio executado, em certos casos).
A penhora tem duas funções: uma função conservatória e uma função de garantia. Função
conservatória porque vai assegurar a venda executiva e função de garantia porque pelo
822º/1 CC penhora vai beneficiar o credor que promoveu a penhora perante outros credores
que não tenham garantias reais anteriores.

2. Pronuncie-se sobre o desvalor dos negócios jurídicos celebrados por Clotilde


após a penhora.
Quanto à venda por Clotilde a Diamantina do colar penhorado:
 Rui Pinto:
 819º CC: “sem prejuízo das regras do registo, são inoponíveis em relação a
execução os actos de disposição, oneração ou arrendamento dos bens
penhorados”; tem por âmbito a penhora de direitos reais. Ou seja, todos os
actos posteriores à penhora são ineficazes perante a execução, isto e, é
ineficaz perante o exequente, os credores reclamante e o credor adquirente.
Ou seja, é uma ineficácia interna e apenas se verifica se for necessária para
garantir a eficácia da execução. Perante todos os outros terceiros que não
estejam na execução ela é válida. Estela é terceira à execução. 667º/1 CC
Clotilde não pode alienar o bem e, fazendo-o, seria um negócio sobre bem
alheio pelo que o penhor seria inválido.
 820º CC: “sendo penhorado algum credito do devedor, a extinção dele por
causa dependente da vontade do executado ou do seu devedor, verificada
depois da penhora, e igualmente inoponível a execução”; vale para a penhora
de créditos e direitos de estrutura relativa em geral;
 Os actos de disposição e oneração que o executado pratique não tê efeitos
enquanto os bens estiverem penhorados (ineficácia); não estamos perante
uma invalidade: a penhora não retira ao executado os poderes de livre
disposição e oneração, pelo que os seus actos não são ilícitos. Por isso, se a
penhora for levantada os efeitos “suspensos” terão lugar retroactivamente à
data do acto.
 Mas trata-se de uma ineficácia relativa pois, como resulta do 819º e 820º CC
os actos de disposição ou de oneração são ineficazes apenas perante ou em
relação a “execução”, ou seja, os actos em questão produzem efeitos perante
quem não for parte ou interveniente na execução. Há pois uma eficácia
externa dos actos de disposição e oneração de bens penhorados praticados
pelo executado, internamente ineficazes

Quanto ao acto de penhor. É um acto de oneração. 822º CPC. Os direitos reais de garantia
são, em geral, eficazes perante a execução. No entanto, e segundo o entendimento da
doutrina, na qual se inclui Rui Pinto, o penhor não pode ter eficácia que pois este contrato
só se perfecciona com a entrega da coisa e esta não verifica. Ou seja, o contrato de penhor
não chegou sequer a formar-se.

3. Que conselhos daria a Diamantina?


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Sobre o conceito de “direito incompatível” (342º/1 CPC): sabido que a penhora se destina a
possibilitar a ulterior venda executiva, e com ela incompatível todo o direito de terceiro, ainda
que derivado do executado, cuja existência, tido em conta o ambito com que e feita, impediria
a realização desta função, isto, e a transmissão forcada do objecto apreendido (cfr 840º/1
CC). E incompatível com a penhora o direito de propriedade plena, que sempre impedirá a
venda executiva do bem sobre o qual incide e também o são os direitos reais menores de
gozo que viriam a extinguir-se com a venda executiva. Seja de quem for que o terceiro tenha
derivado o seu direito (do executado ou de outrem), os embargos são lhe consentidos.
Se estiver em causa um direito real de aquisição ou um direito real de garantia, a
incompatibilidade não se verifica, visto que o respectivo titular encontrar satisfação no
esquema da acção executiva.
Diamantina não pode recorrer aos embargos de terceiro porque:
 Não tem posse (ela nunca chegou a adquirir a posse, cfr. 1263º CC sobre as formas
de aquisição da posse);
 Não tem direito incompatível (porque comprou quando a penhora já tinha sido
constituída);
Portanto a única coisa que ela pode fazer e recorrer ao regime de venda de bens onerados,
905º ss CC. Dado que não sabia da existência da penhora Diamantina encontrava se em
erro, pelo que o contrato é anulável (905º CC).
824º/3 CC. Ocorrendo a venda executiva, este bem, sendo vendido, pelo 824º/2 CC vai
caducar porque ele não é anterior (daí que não seja possível a acção de reivindicação).
Assim, diz-nos o número 3 que o bem vai ser vendido e se sobrar alguma coisa aí o 3º vai
poder exercer o seu direito de propriedade. Em relação ao executado que vendou o bem,
trata-se de uma venda de bem onerado (905º CC), mas isto já não tem a ver com a acção
executiva. 838º CPC tem a ver com a venda executiva de um bem onerado. Não se aplica
neste caso! Esta venda é uma venda complemente à parte da venda executiva.

4. A penhora é uma garantia real? Justifique.


Doutrina diverge.
MTS entende que a penhora não é uma garantia real porque não vê na penhora nem a
sequela nem a inerência, que são próprias dos direitos reais de garantia. O que a penhora
faz é ignorar a transmissão do bem e continua a ser executado o executado e não o terceiro
adquirente. Se tivéssemos por exemplo uma hipoteca, o que ia acontecer é que a hipoteca
seguia o bem e depois seria oponível ao terceiro que constituiu o bem. Já a penhora não
segue o bem. Rui Pinto concorda mas acrescenta umas merdas.

5. Imagine agora que o colar fora alienado por Clotilde a Diamantina antes da
penhora, uma vez que Clotilde, prevendo uma iminente agressão judicial dos
seus bens, começou a dispor do seu património ao desbarato. Ainda assim, o
exequente pretende penhorar o referido colar. Quid iuris?
Impugnação pauliana, 610º. É fundamento para chamar à execução um terceiro. Se for
julgada procedente o credor tem direito a restituição do bem ou poderia penhora-lo
directamente, 616º. 735º/2, 818º CC e 54º/2 CC Diamantina ia poder ser executada e aquele
bem podia ser penhorado. Se for improcedente não haveria penhora daquele bem, seria
venda de bem alheio que é nula.
819º CC “sem prejuízo das regras de registo”: o que se pergunta é: um facto de disposição,
oneração ou arrendamento anterior à penhora é oponivel, certo? Sim. Mas o 819º CC
ressalva as regras de registo. Imaginem que temos esta compra e venda mas em vez de ter
sido registada, não foi. E posteriormente temos uma penhora registada. Vejamos o exemplo
da compra e venda de um imóvel (em que é obrigatório o registo). Aquela compra e venda
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anterior à penhora não registada é oponível à penhora? Fazia sentido que não fosse porque
se temos uma penhora que foi registada e uma compra e venda que não o foi (mas que
devia ter sido) fazia sentido que essa compra e venda não fosse oponível. Mas o 5º/1 Código
Registo Predial faz uma interpretação restritiva do conceito de terceiro, estabelecendo que
é terceiro apenas aquele que adquiriu do mesmo transmitente. Ou seja, A vende a B, que
não regista e, posteriormente, B vende a C, que regista. Esta compra e venda é oponível a
C? Não, porque C é terceiro em relação a B. Se nós tivermos uma compra e venda e depois
uma penhora com venda executiva. Imaginem, A vende a B que não regista e depois nós
teríamos na venda executiva o Estado a vender a C, que regista. Nós não temos nesta
situação adquirentes do mesmo transmitente portanto os factos sujeitos a registo produzem
efeito mesmo sem registo porque não são terceiros de acordo com as regras do registo.
Portanto a grande conclusão é a de que o comprador que não registou pode opôr-se à
execução e embargar de terceiro, mesmo sem registo, porque a compra e venda sem registo
produz à mesma os seus efeitos porque não é terceiro para efeitos de registo. MTS é
completamente contra esta posição e percebe-se o porquê.

Caso 29
Ludovina propôs acção executiva contra Belmira para pagamento de uma quantia em
dívida que ascende a 250.000€, indicando no requerimento executivo os seguintes
bens à penhora:
(i) O recheio da casa que Belmira habita com a sua família;
(ii) A casa de férias de que Belmira é comproprietária, sendo Cervantes o outro
comproprietário;
(iii) A papelaria de Belmira, localizada num imóvel arrendado a Emília, a
senhoria;
(iv) O automóvel comercial que Belmira utiliza ao abrigo de um contrato de
locação financeira celebrado com a Locacar SA;
(v) Uma bicicleta que se encontra no jardim de Belmira e que foi comprada a
Felisberto com reserva de propriedade, não tendo ainda sido pago o preço.
2. Considere o ponto (i). Imagine que o agente de execução decidiu penhorar:
(i) Uma máquina de lavar loiça que fora emprestada a Belmira no dia
anterior, pela loja responsável pela reparação da sua máquina e que se
encontrava coberta de inúmeros autocolantes fluorescentes com o
seguinte texto: “Repara Tudo, Lda. - Reparar sem parar de funcionar”.
Quid iuris?
1129º CC (comodato): “contrato gratuito pelo qual uma das partes entrega a outra certa coisa
móvel ou imóvel, para que que se sirva dela, com a obrigação de a restituir”.
A máquina de lavar loiça não é um bem impenhorável pois não é considerado um bem
indispensável à economia domestica (737º/3 CPC), fazendo-se a sua apreensão nos termos
do 764º/1 CPC (porque é um bem não sujeito a registo).
764º/3 CPC: “presume-se pertencerem ao executado os bens encontrados em seu poder,
mas, feita a penhora, a presunção pode ser ilidida (…)”.
A penhora em causa sofre de uma ilegalidade subjectiva porque foi penhorado um bem que
não é do executado. O nosso sistema jurídico concede três meios de reacção contra este
tipo de penhora:
 Oposição por simples requerimento (764º/3): tem lugar no próprio processo de
execução; a lei concede a possibilidade de se fazer, perante o juiz, prova documental
inequívoca de que a coisa pertence a terceiro, mediante simples requerimento
acompanhado dessa prova, presumindo-se até lá que a coisa pertence ao executado
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(764º/3 CPC). Quem tem legitimidade? O executado ou alguém em seu nome e a loja.
Quanto à prova:
 Lebre de Freitas: A apresentação de documento autêntico com data anterior à
data da penhora, ou de documento particular que tenha sido autenticado,
reconhecido ou apresentado em serviço público (que nele tenha atestado a
apresentação) em data anterior à da penhora, e normalmente suficiente para
o efeito, se não houver motivo sério para duvidar da sua genuinidade ou da
validade do acto documentado.
 Rui Pinto: um simples documento particular também pode ser invocado como
meio de prova.
Se o juiz der despacho de procedência há levantamento da penhora, caso
contrário a penhora mantém-se.
 Embargos de terceiro (342º ss CPC): constitui acção declarativa e processa-se por
apenso à execução; o direito de propriedade da loja sobre a máquina é incompatível
com a penhora, pelo que aquela pode deduzir embargos de terceiro.
 Acção de reivindicação (1311º e 1315º CC): constitui acção declarativa comum,
afigurando-se como um meio geral, plenamente autónomo da execução, a todo o
tempo ao alcance do proprietário (loja) cujo direito tenha sido ofendido pela penhora.
Se proceder, pode levar à anulação da venda que no processo executivo foi efectuada
(839º/1d) CPC).
Mas a presunção deve funcionar mesmo quando seja manifesto que os bens são de terceiro?
Lebre de Freitas defende que o agente de execução não deve realizar a penhora “quando
seja confrontado, no próprio acto, com a evidência do direito de terceiro”. A seu ver, antes
da penhora, a ilisão da presunção do 764º/3, 1ª parte, caberia ao agente de execução e
depois da penhora seria feita perante o juiz, nos termos do preceito. Rui Pinto não concorda:
diz que o 764º/3 ignora a situação material do bem, a qual apenas pode ser considerada em
sede de ilisão da presunção. Acrescenta ainda que o agente de execução não tem
competência para ilidir a presunção por si mesmo, pelo que será nula uma decisão do agente
de execução de recusa da penhora de bem que esteja na posse no executado.

(ii) Cinco garrafas de vinho do porto, apesar de Belmira tentar impedir a


penhora, afirmando que aquelas garrafas pertenciam à sua mãe, facto
que foi desconsiderado. Mesmo após a mãe de Belmira se deslocar a
casa desta para confirmar, perante o agente de execução, que as garrafas
eram suas, apresentando inclusive um talão do El Corte Português, onde
comprara as garrafas, o agente de execução manteve a penhora das
garrafas. Quid iuris?
A penhora em causa sofre de uma ilegalidade subjectiva porque foi penhorado um bem que
não é do executado. O nosso sistema jurídico concede três meios de reacção contra este
tipo de penhora:
 Oposição por simples requerimento (764º/3): tem lugar no próprio processo de
execução; a lei concede a possibilidade de se fazer, perante o juiz, prova documental
inequívoca de que a coisa pertence a terceiro, mediante simples requerimento
acompanhado dessa prova, presumindo-se até lá que a coisa pertence ao executado
(764º/3 CPC). OU SEJA, o facto de a mãe de Belmira ter mostrado os talões da
compra das garrafas (que são um documento particular) não releva pois, para que
seja ilidida a presunção, a prova tem que ser invocada perante o juiz (mencionar
aquela questão da pergunta anterior sobre se a presunção deve funcionar ou não
quando seja manifesto que os bens são de terceiro). Para além disso só se pode ilidir
a presunção depois da penhora (diz expressamente no artigo “mas, feita a penhora,
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a presunção pode ser ilidida”). Prova testemunhal não vale de nada. O talão poderia
valer mas o problema é que nós sabemos que a mãe comprou 5 garrafas, mas não
sabemos se foram aquelas 5 garrafas em concreto. Será que mostrar o talão é
suficiente? Se no talão estivessem descriminadas as garrafas e associado a ele o
nome da mãe e o seu NIF não haveria problema. Se disser só “5 garrafas” seria difícil
defender que esta prova é inequívoca.
 Lebre de Freitas: A apresentação de documento autentico com data anterior à
data da penhora, ou de documento particular que tenha sido autenticado,
reconhecido ou apresentado em serviço publico (que nele tenha atestado a
apresentação) em data anterior a da penhora, e normalmente suficiente para
o efeito, se não houver motivo serio para duvidar da sua genuinidade ou da
validade do acto documentado.
 Rui Pinto: um simples documento particular também pode ser invocado como
meio de prova.
 Embargos de terceiro (342º ss CPC): constitui acção declarativa e processa-se por
apenso à execução;
 Acção de reivindicação (1311º e 1315º CC): constitui acção declarativa comum,
afigurando-se como um meio geral, plenamente autónomo da execução, a todo o
tempo ao alcance do proprietário cujo direito tenha sido ofendido pela penhora. Se
proceder, pode levar a anulação da venda que no processo executivo foi efectuada
(839º/1d) CPC).
(iii) O computador de Juvenal, que este emprestara a Belmira, e que, por sua
vez, lhe fora locado por Mauro. Quid iuris?
Belmira é a comodatária (1129º CC), Juvenal é o locatário (1022º CC) e Mauro é o
proprietário.
O agente de execução penhorou o computador com base na presunção do 764º/3 CPC.
Ilegalidade subjectiva porque o bem executado pertencia a terceiro. Tanto Juvenal como
Mauro são terceiros à execução.
Quanto a Mauro (proprietário):
O nosso sistema jurídico concede três meios de reacção contra este tipo de penhora
(ilegalidade subjectiva):
 Oposição por simples requerimento (764º/3): tem lugar no próprio processo de
execução; a lei concede a possibilidade de se fazer, perante o juiz, prova documental
inequívoca de que a coisa pertence a terceiro, mediante simples requerimento
acompanhado dessa prova, presumindo se ate la que a coisa pertence ao executado
(764º/3 CPC).
 Lebre de Freitas: A apresentação de documento autentico com data anterior à
data da penhora, ou de documento particular que tenha sido autenticado,
reconhecido ou apresentado em serviço publico (que nele tenha atestado a
apresentação) em data anterior a da penhora, e normalmente suficiente para
o efeito, se não houver motivo serio para duvidar da sua genuinidade ou da
validade do acto documentado.
 Rui Pinto: um simples documento particular também pode ser invocado como
meio de prova.
 Embargos de terceiro (342º ss CPC): constitui acção declarativa e processa-se por
apenso à execução; o direito de propriedade da loja sobre a máquina penhora é
incompatível com a penhora, pelo que aquela pode deduzir embargos de terceiro.
 Acção de reivindicação (1311º e 1315º CC): constitui acção declarativa comum,
afigurando-se como um meio geral, plenamente autónomo da execução, a todo o
tempo ao alcance do proprietário cujo direito tenha sido ofendido pela penhora. Se
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proceder, pode levar a anulação da venda que no processo executivo foi efectuada
(839º/1d) CPC).
Ver questão da cumulação de embargos com acção de reivindicação.
Quanto a Juvenal (locatário; direito pessoal de gozo AKA direito de crédito):
O nosso sistema jurídico concede três meios de reacção contra este tipo de penhora
(ilegalidade subjectiva):
 Oposição por simples requerimento (764º/3): pode porque Juvenal tem um direito
pessoal de gozo sobre o computador! Se o computador pertencesse ao executado
(Belmira), não podia. Mas como pertence a Mauro, que é um terceiro, podem protestar
tanto este, como os seus garantes e titulares de direitos oneradores, ainda que sejam
direito pessoais de gozo. Tem lugar no próprio processo de execução; a lei concede
a possibilidade de se fazer, perante o juiz, prova documental inequívoca de que a
coisa pertence a terceiro, mediante simples requerimento acompanhado dessa prova,
presumindo-se até lá que a coisa pertence ao executado (764º/3 CPC).
 Lebre de Freitas: A apresentação de documento autentico com data anterior à
data da penhora, ou de documento particular que tenha sido autenticado,
reconhecido ou apresentado em serviço publico (que nele tenha atestado a
apresentação) em data anterior a da penhora, e normalmente suficiente para
o efeito, se não houver motivo serio para duvidar da sua genuinidade ou da
validade do acto documentado.
 Rui Pinto: um simples documento particular também pode ser invocado como
meio de prova.
 Embargos de terceiro (342º ss CPC): uma vez que Juvenal apenas tem um direito
pessoal de gozo, sem qualquer eficácia real, de acordo com a posição do MTS ele
não se pode opôr à penhora por embargos de terceiro uma vez que o seu direito se
extinguiria com a venda executiva (824º/2 CC), pelo que não é um direito incompatível
com a penhora. Já Rui Pinto entende que, apesar de, por regra, não apresentarem
incompatibilidade os direitos pessoais de gozo, a locação apresenta um regime
diferente, dada a sua oponibilidade assente na regra do 1057º CC. O professor
discorda da doutrina que defende que a locação não caduca com a venda executiva,
entendendo que a locação deve ser tratada nos mesmos e exactos termos dos
direitos reais de gozo menores. Assim:
 Uma locação anterior à primeira garantia não pode integrar o objecto da
penhora; se for objecto da penhora esta é ilegal e os embargos de terceiros
serão procedentes e uma eventual venda será nula;
 Uma locação posterior à própria penhora é ineficaz (819º CC); a locação será
inoponível à penhora, os embargos de terceiro serão manifestamente
improcedentes e a futura alienação executiva válida;
 Se for uma locação posterior à primeira garantia, sendo esta do exequente,
então a penhora pode ser legal ou se restringe à propriedade de raiz ou se
estende ao arrendamento, conquanto que o arrendatário seja citado nos
termos do 54º/4; se assim não for, os embargos de terceiro serão procedentes.
Constitui acção declarativa e processa-se por apenso à execução;
 Acção de reivindicação (1311º e 1315º CC): constitui acção declarativa comum,
afigurando-se como um meio geral, plenamente autónomo da execução, a todo o
tempo ao alcance do proprietário (loja) cujo direito tenha sido ofendido pela penhora.
Se proceder, pode levar a anulação da venda que no processo executivo foi efectuada
(839º/1d) CPC). NÃO pode porque não é proprietário (1311º CC) nem tem um direito
real (1315º CC).
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Quanto a Belmira, o meio mais comum de reacção seria a oposição à execução.


Sobre embargos de terceiro. O terceiro vai ter de alegar que a penhora ofende um direito
seu. A ofensa significa que não é possível o 3º exercer o seu direito sobre a coisa e ao
mesmo tempo existir a penhora. Emas o direito tem q ser incompatível com a penhora. A
doutrina tem vindo a apontar critérios diferentes para dizer o que é um direito incompatível.
(iv) Considerando a alínea anterior, se Juvenal fosse usufrutuário do
computador, a sua resposta seria igual? E se fosse um credor
pignoratício, a quem o computador fora entregue, depois de empenhado
por Mauro?
Usufruto: direito real menor de gozo anterior à penhora. Pode tudo, até acção de
reivindicação por via do 1315º CC. O esquema de resolução é igual ao do direito de
propriedade.
Crédito pignoratício: direito real de garantia. São oponíveis à execução os direitos reais de
garantia que incidam sobre os bens penhorados, dada a sua natureza de causa legítima de
preferência, nos termos do 604º/2 CC. Uma vez que o bem penhorado é de terceiro (Mauro)
e não do executado (Belmira), Juvenal (terceiro garante) poderá embargar de terceiro
porquanto, não sendo credor do executado, mas de terceiro, não será citado para a
reclamação de créditos ou, sê-lo-á invalidamente. Doutrina seguida por Rui Pinto, Castro
Mendes, MTS e Lebre de Freitas. Penhor é incompatível com a penhora porque a penhora
pressupõe a apreensão da coisa e o penhor só se constitui com a entrega da coisa.

(v) Imagine que a casa de Belmira era também a sede social da Belmiriti,
unipessoal, Lda., sociedade da qual Belmira era socia única. Poderia a
Belmiriti, Unipessoal, Lda. opôr-se à penhora, alegando que o recheio da
casa lhe pertencia?

03/Mai/2019 2x

Caso 31
Guiomar propôs acção executiva contra Hércules, tendo sido indicada à penhora a
totalidade do salário mensal de Hércules, que ascende a 600€. Foi ainda penhorado
um crédito de Hércules sobre a Sempre Seguro, S.A., no montante de 300€ mensais,
a título de pagamento vitalício de uma indemnização devida na sequência de um
aparatoso acidente de trabalho que provocou lesões físicas irreversíveis em Hércules.
1. Pronuncie-se sobre a admissibilidade e forma por que seria feita a penhora dos
rendimentos de Hércules, referindo ainda o prazo e a natureza do meio de
oposição à penhora deste.
A minha resposta está errada. Ver mais abaixo o que está escrito a azul.
Quanto ao salário:
O 738º/ 1 a 4 estabelece um regime que impede a penhora de parte de um crédito pecuniário
que cumpra a função de sustento de uma pessoa singular, o que parece ser o caso. Assim,
de acordo com o 738º/1 CPC: “são impenhoráveis dois terços da parte líquida dos salários”,
sendo os limites os estabelecidos no 738º/3 CPC: “a impenhorabilidade prescrita no número
1 tem como limite máximo o montante equivalente a três salários mínimos nacionais À data
de cada apreensão e como limite mínimo, quando o executado não tenha outro rendimento,
o montante equivalente a um salário mínimo nacional”.
Sendo que o salário são 600€, 1/3 são 200€. Só esse montante poderia ser penhorado.
Está errada a minha resposta!!! O que o número 3 nos vai dizer é que, admitindo que o
salário mínimo nacional são 600€, sendo que o salario de Hércules era 600€ era tudo
impenhorável!!!! Se ele ganhasse, por exemplo, 601€, só 1€ seria penhorável, pois o
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legislador entendeu que o valor mínimo para alguém viver é 600€. O limite máximo da
impenhorabilidade é 1800€! Tudo o que exceda esse montante vai ser penhorado. Ou seja:
o limite mínimo é 600€ (se for mais baixo que isso não pode ser penhorado) e o limite máximo
é 1800€ (tudo o que for acima vai ser penhorado).
Quanto à indemnização por acidente de trabalho
É duvidoso se na indemnização por acidente se incluem as prestações indemnizatórias por
acidente de trabalho ou doença profissional. No passado era regra a impenhorabilidade dos
créditos resultantes de acidentes de trabalho. Esta solução manteve-se no actual artigo 78º
da Lei n°98/2009 de 4 de setembro em matéria de acidentes de trabalho. No entanto, o 12º
do DL n°329-A/95 de 12 de setembro determina que “não são invocáveis em processo civil
as disposições constantes de legislação especial que estabeleçam a impenhorabilidade
absoluta de quaisquer rendimentos, independentemente do seu montante, em colisão com
o 738 CPC”. Em suma: pretende-se que as penhoras de rendimentos sejam tratadas todas
de igual modo perante os tribunais comuns, mediante a aplicação única do 738º, com
afastamento das impenhorabilidades absolutas criadas por legislação avulsa. Deste modo,
conclui-se que nas acções do âmbito de processo civil, as pensões pagas em acidentes de
trabalho são penhoráveis, mas beneficiando da impenhorabilidade de dois terços do 738º.
Já nas acções do âmbito de processos especiais, como o laboral, as pensões pagas em
acidentes são absolutamente impenhoráveis.
Sendo que a pensão são 300€, 1/3 são 100€. Só esse montante poderia ser penhorado.
Quando no 738º/3 CPC diz “quando o executado não tenha outro rendimento”, o que nós
temos que ver é se ele no final fica ou não com 600€! Se penhorar um bocado do salário e
um bocado da indemnização e ele ficar com menos de 600€ não é admissível! Ele tem
sempre que ter 600€ no total.
A impenhorabilidade previsto no 738º/1 CPC supõe que a função de assegurar a
subsistência do executado foi conhecida oficiosamente pelo agente de execução. Se isso
não suceder, restará ao executado opôr-se depois à penhora com fundamento na parte final
do 784º/1a) CPC. A função de sustento do executado constitui um facto impeditivo da
penhora da totalidade do valor, pelo que o ónus da sua prova cabe ao executado e, por isso,
a dúvida ou incerteza sobre o carácter periódico da referida indemnização resolve-se, nos
termos do 414º CPC, contra a parte a quem aproveitaria a demonstração desse facto.

2. Imagine que a obrigação exequenda era uma obrigação de alimentos. Manteria


a sua resposta à questão anterior?
A impenhorabilidade do 738º/1 CPC não se aplica nas execuções em que a obrigação
exequenda é por alimentos. Nessa eventualidade vigora uma regra que, de facto, é oposta
à do 738º/1: pode ser penhorada, dentro dos limites do princípio da proporcionalidade (cfr.
735º/3 e 751º/2, 2ª parte), a totalidade do rendimento do executado. Apenas se estabelece
uma impenhorabilidade da “quantia equivalente à totalidade da pensão social do regime não
contributivo” (202,34€) (738º/4 CPC). Portanto, e em termos práticos, o direito a alimentos
do credor prevalece sobre o direito a alimentos (por via do seu rendimento) do devedor
executado.
Exemplo: B ficou por sentença, obrigado a pagar mensalmente 300€ a A, ex-mulher, a título de alimentos; sobrevindo o
incumprimento. A coloca execução para pagamento de seis meses em atraso de alimentos, na qual se penhora a totalidade
do vencimento líquido do B, no valor de 1800€ do A, salvo os 202,34€.
Não se confunda esta situação em que o credor tem direito a alimentos por parte do
executado, daquela outra em que, numa qualquer execução, se quer penhorar o direito a
alimentos do executado em face de 3º. Nesse caso a penhora não pode ser feita por se tratar
de um direito impenhorável (2008º/2 CC).
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3. Considere agora que Hércules tem três filhos e que a sua mulher se encontra
desempregada. Com o seu salário penhorado, Hércules não tem forma de pagar
as despesas mensais do seu agregado familiar, razão pela qual se encontra
numa situação de desespero. O que pode Hércules fazer, de forma a mitigar os
efeitos desta penhora?
738º/6 CPC: “Ponderados o montante e a natureza do crédito executado, bem como as
necessidades do executado e do seu agregado familiar, pode o juiz, excepcionalmente e a
requerimento do executado, reduzir, por período que considere razoável, a parte penhorável
dos rendimentos e mesmo, por período não superior a 1 ano, isentá-los de penhora”.
O requerente poderá recorrer a diversos meios de prova, incluídos os de natureza
testemunhal, sendo o despacho do tribunal proferido no uso de um poder discricionário. De
modo a evitar decisões-surpresa, o despacho deve ser fundamentado e, sob pena da
equidade se transformar em arbitrariedade deve haver sujeição ao princípio do contraditório.
Por outro lado, esta providência não suspende a execução, pois apenas reduz a fracção
penhorável dos rendimentos ou os isenta de penhora. A redução e a isenção temporárias da
penhora são absolutamente excepcionais. Destinam-se à salvaguarda da sobrevivência
digna do executado e do seu agregado familiar, pelo que o juiz deverá tentar alcançar um
equilíbrio justo entre o direito do credor à satisfação do seu crédito e o direito do devedor à
garantia de um mínimo de subsistência própria e do seu agregado familiar.

4. Uma semana depois da penhora do seu salário, Hércules é despedido com justa
causa. Quid iuris?

08/Mai/2019 2x
Sai toda matéria dada nas teóricas, inclusive a venda (mas se a venda sair é em pergunta
teórica). Mas não é certo que haja pergunta teórica. Reclamação de créditos também sai.
MTS é direito incompatível aquele que não caduca. 824/2 diz que os direitos reais anteriores
à penhora sem registo não caducam com a venda (ex: usufruto: o que vai acontecer é que
a venda é nula por ser venda de bem alheio). Se o usufruto for posterior à penhora, ele é
ineficaz. Por isso MTS diz que só pode embargar de 3º os que têm direitos anteriores à
penhora.
O embargo de terceiro pode ter como fundamento não só direito incompatível mas também
a posse. A posse neste caso é a posse fundada num direito incompatível.
Discussão sobre a posse em nome alheio (ex: locação, comodato). Pode por exemplo um
comodatário embargar de 3º em nome próprio e em nome da pessoa que lhe deu o bem em
comodato. Uma pessoa pode embragar de 3º com fundamento na posse quando o direito
de que ela seja titular e que funde essa posse seja incompatível com a penhora. A posse
acompanha o direito incompatível, sempre que seja possível embargar de 3º com base num
direito incompatível da titularidade de um direito próprio, não pode é em nome alheio. Não
percebi bem.

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