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Durante o meu ensino médio muitas experiências vivenciadas no ambiente

escolar, para além do conteúdos e saberes apreendidos, se fixaram na minha


memória de uma forma que mesmo hoje, discorridos anos, se mantém vívidas
como se fosse uma banalidade que só se mantém lembrada por ter acontecido
recentemente.
As aulas de física são momentos que podem funcionar muito bem com a
utilização de exemplos cotidianos onde existe a presença de fenômenos físicos
que ilustram de forma mais didática algo que se encontra teorizando através de
fórmulas nos livros e é algo que os professores dessa área costumam adotar
com frequência.
Um dos episódios mais significativos pra mim aconteceu na aula de física por
decorrência de alguns exemplos cotidianos que o professor utilizou pra ilustrar
algum conteúdo que, diferente do exemplo, não me recordo mais. Ele falava
com entusiasmo sobre alguma propriedade física da eletricidade e citou o caso
da casa dele onde tinha instalado o aparelho de segurança e que só tinha o
inconveniente de que, ao somar o tamanho da casa dele, que demandava
iluminação, o uso de ar-condicionado, portão elétrico da garagem e o uso de
outros equipamentos de demandava consumo de eletricidade a sua conta de
luz aumentava significamente, podendo atingir mais de um salário mínimo
mensal.
Acho que, enquanto um adolescente de quinze anos foi um pequeno choque
saber que alguém falava com tanta naturalidade que apenas em uma despesa
de eletricidade mensalmente gastava algo que representava mais da metade
do que meus pais juntos conseguiam ganhar trabalhado um mês inteiro e que
era o que poderia ser gasto em todas as despesas de uma família com cinco
pessoas durante todo um mês.
Como Paulo Freire sinaliza em “A Importância do Ato de Ler” o professor não
deve impor o seu conhecimento ao aluno .... Tem que entender o universo dos
alunos para partir daí.... (Procurar citação correta).
Episódios como esses onde alguém narrava uma realidade muito diferente da
minha, vindo de professores e colegas de turma, e que me faziam sentir o
abismo existente entre o interlocutor e eu foram frequentes e, depois de um
certo tempo, pararam de me causar espanto, não que eu começasse a
naturalizar aquilo. Acredito que a sensação foi me despertando uma primária
consciência das diferenças que podem existir separadas por tão pouco espaço
geográfico. Existiam alunos que compartilhavam uma realidade similar a minha
e outros...
Com o processo de expansão física que vivia o Campus a nossa turma foi
realocada para uma sala recém construída que ficava no primeiro andar, do
lado de uma nova construção que acontecia simultaneamente as minhas aulas,
de modo que, enquanto eu assistia aula,ao olhar pela janela eu poderia
acompanhar os pedreiros, serventes e mestres de obra na sua rotina de
trabalho e enxergar meu pai entre os trabalhadores, não a pessoa física dele
com a sua fisionomia, mas projetar a possibilidade dele ser um daqueles
trabalhadores que ali se encontravam a trabalhar e não ocupando o lugar do
professor a minha frente, na reitoria, na biblioteca, em nenhum desses lugares
mais prestigiados. Meu pai poderia ser um daqueles operários e, se eu não me
encontrasse estudando ali naquele momento, em um futuro próximo eu
também poderia estar ali conhecendo um lugar como o IFPB como operário e
não como aluno.

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