Você está na página 1de 17

11

Crescimento Intrauterino
Restrito
José Antônio Magalhães
Alessandra Fritsch

Crianças que apresentam um peso adequado ao sistindo com seu acúmulo calórico até o termo,
nascimento têm uma reserva fisiológica neces- devido à deposição de gordura resultante do
sária para não desenvolverem complicações pró- metabolismo da glicose. A taxa de crescimento
prias dessa idade. A incidência de morbidez e a fetal não é constante, sendo progressiva e sus-
de mortalidade aumentam quando o peso ade- tentada da concepção ao término da gestação
quado não é atingido. Recém-nascidos de baixo de forma linear.
peso, com menos de 2.500 g ao nascer, divi-
dem-se em duas populações distintas, nas quais O processo de crescimento fetal pode ser divi-
se avaliam a quantidade e a qualidade da vida dido em três fases consecutivas de crescimento
intrauterina. A primeira população está relacio- celular (Linn; Santolaya-Forgas, 1998):
nada ao tempo de vida intrauterina e é represen- > Fase de hiperplasia: ocorre durante as primei-
tada pelos recém-nascidos pré-termo, com peso ras 16 semanas de gestação, sendo caracte-
 2.500 g em função de terem nascido antes do rizada por um rápido aumento do número
tempo. O segundo grupo é representado pelos celular.
recém-nascidos com  2.500 g por não terem
conseguido ganhar peso adequadamente devi- > Fase de hiperplasia e hipertrofia: ocorre entre
do à baixa qualidade da vida intrauterina, resul- 16 e 32 semanas de gestação, sendo caracte-
tando em um processo fisiopatológico chamado rizada pelo aumento do número e do tama-
restrição de crescimento fetal (Manning, 2000). nho das células concomitantemente.
O crescimento e o controle do desenvolvimento > Fase de hipertrofia: inicia-se nas 32 semanas
fetal dependem de fatores genéticos, endocri- de gestação, com um rápido aumento no ta-
nológicos, imunológicos, nutricionais e vascula- manho celular, sendo que, nessa fase, ocorre
res. A presença de um distúrbio qualquer que o maior ganho de gordura pelo feto.
apresente uma dessas origens pode resultar no
Um feto com crescimento normal aumenta 5 g/
atraso do crescimento do feto (Manning, 2000).
dia por volta das 15 semanas de gestação, 10
Considerados com uma unidade, o feto e a pla- g/dia em torno das 20 semanas e 30 a 35 g/dia
centa apresentam características diferentes de com 34 semanas.
crescimento. A placenta apresenta um desen-
volvimento contínuo até, aproximadamente, 37
semanas de gestação, quando inicia um pro-
Conceito
cesso de envelhecimento e cessação das trocas
feto-maternas. O feto, por sua vez, mantém o As definições de crescimento intrauterino restrito
seu crescimento durante toda a gestação, per- (CIUR) diferem segundo a literatura. Tais defini-
Rotinas em Obstetrícia 157

ções encontram-se fundamentadas na hipótese


de distribuição de peso e idade fetal comparadas a Frequência
curvas-padrão da população, devendo-se conside-
rar curvas próprias para cada tipo de população, já O CIUR é uma anormalidade fetal comum, reco-
que o crescimento fetal pode ser influenciado por nhecida em 5 a 10% das gestações. A incidência
alguns fatores específicos, como raça, sexo, classe é variável segundo a literatura. Isso se deve aos
socioeconômica e altitude (Resnik, 2002). diversos fatores envolvidos, pois sabe-se que,
nos países desenvolvidos, há menor incidência
A definição de CIUR mais utilizada na literatura de CIUR do que nos países subdesenvolvidos,
é representada por um crescimento fetal abaixo e essa taxa também é influenciada pelas carac-
do percentil 10 para a IG. Entretanto, é impor- terísticas culturais e socioeconômicas dentro
tante enfatizar que alguns fetos ou neonatos de um mesmo país (Goldenberg; Oliver, 1997).
considerados pequenos para a IG podem ser Além disso, a incidência de CIUR também se
constitucionalmente pequenos, representando modifica conforme os critérios de definição da
um achado ocasional da curva de crescimento doença e as formas de elaboração das curvas de
com distribuição normal, não apresentando os normalidade (Manning, 2000).
estigmas de uma restrição patológica de cres-
cimento (Goldenberg; Oliver, 1997). São os re-
cém-nascidos biologicamente menores.
Patogênese
Outros autores consideram o feto com CIUR
aquele com peso abaixo de dois desvios-padrão O CIUR não é uma doença específica, mas a
(2 DP) da média, o que corresponde aproxima- manifestação de muitos distúrbios fetais e ma-
damente ao percentil 3 (Cunningham et al., ternos. O diagnóstico etiológico é muito im-
2005). Já Manning (2000) recomenda que o portante, pois o manejo clínico, e o prognósti-
CIUR seja definido como percentil  5 para a IG co gestacional são totalmente dependentes da
(Figs. 11.1, 11.3 e 11.4). etiologia. Os casos de restrição de crescimento
fetal secundários a infecções virais precoces e as
Na verdade, um conceito mais abrangente de alterações genéticas têm um prognóstico asso-
CIUR pode ser definido como um processo pato- ciado à natureza e à severidade da patologia de
lógico que modifica o potencial de crescimento base. Por sua vez, casos associados à insuficiên-
do feto, de forma a restringir o desenvolvimento cia uteroplacentária em fetos normais têm um
intrauterino. prognóstico totalmente dependente do diag-
A altura uterina por semana de gestação avalia- nóstico precoce e do manejo obstétrico e neo-
da em uma população de gestantes brasileiras natal adequados para reduzir os riscos neonatais
(Oppermann et al., 2006) está representada na (Cunningham et al., 2005).
Figura 11.2. Os fatores supostamente associados à restrição
de crescimento intrauterino podem ser dividi-
dos em intrínsecos (endógenos) e extrínsecos
(exógenos), preferindo-se, entretanto, conside-
rar fatores fetais, uteroplacentários e maternos
(Quadro 11.1).

Mecanismos patológicos
Fatores fetais
O potencial primário de crescimento fetal é de-
terminado geneticamente. Esse potencial de cres-
cimento pode ser inibido, alterado ou desviado
devido a um conjunto de fatores que atuam so-
Figura 11.1 Recém-nascido com CIUR: idade ges- bre o metabolismo fetal e sobre o processo orga-
tacional de 29 semanas com 690 g de peso. nogenético, produzindo uma diminuição na taxa
158 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

45

p90
40

p75

35 p25
Altura uterina (cm)

p10

30

25

20

15
Semana 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39
N 445 495 454 478 490 594 602 621 579 600 662 606 715 666 695 734 784 791 687 481

Figura 11.2 Percentis 10, 25, 75 e 90 da distribuição das alturas uterinas a cada semana de gestação.
Fonte: Oppermmann e colaboradores (2006).

Figura 11.4 Recém-nascido com CIUR: cardiotoco-


grafia com redução da variabilidade batimento a
Figura 11.3 Recém-nascido com CIUR: Dopplerve-
batimento.
locimetria apresentando diástole reversa.

de utilização de nutrientes por unidade de peso e caso explicaria a maior parte das variações de
uma diminuição permanente no número de célu- comprimento e peso do tipo “hereditário”.
las. Isso ocorre nas seguintes circunstâncias: Quanto às anomalias cromossômicas, elas
atuam provavelmente sobre o peso do feto
a. Alterações genéticas ou cromossômicas: a mediante alteração na duração de algumas
alteração de peso pode ser consequência da fases específicas do ciclo celular. Distúrbios
ação de um único gene de longo efeito (p. cromossômicos e malformações congênitas
ex., fenilcetonúria) ou resultar de uma ação multifatoriais são responsáveis por aproxi-
multifatorial de vários genes. Esse último madamente 20% dos fetos com CIUR, e a
Rotinas em Obstetrícia 159

QUADRO 11.1
Fatores supostamente associados ao CIUR

Fatores maternos
> Gerais
– Idade: gestações em mulheres entre 21-29 anos têm menor possibilidade de prematuridade,
de mortalidade perinatal e de CIUR. A taxa de CIUR aumenta antes e depois desse período.
Gestações em mulheres 35 anos apresentam maior número de distúrbios metabólicos
(hipertensão e diabete melito), de implantação placentária inadequada e de insuficiência
uteroplacentária. O risco relativo para anormalidades cromossômicas frequentemente
associadas ao CIUR é maior em gestantes com  35 anos.
– Peso: o CIUR está associado a pacientes com peso inicial abaixo de 54 kg.
– História de CIUR materno aumenta o risco de CIUR para sua prole.
> Condições socioeconômicas
– Baixa escolaridade.
– Trabalho inadequado.
– Desnutrição.
> Hábitos
– Cigarro.
– Abuso de álcool.
– Uso de drogas ilícitas.
> Drogas
– Drogas teratogênicas têm importante efeito no crescimento fetal. Os anticoagulantes
(Varfarina), a hidantoína e o lítio estão associados a alterações fetais e ao CIUR.
> Doenças maternas
– Má adaptação da circulação materna.
– Doença renal crônica.
– Pré-eclâmpsia e hipertensão crônica.
– Hiperinsulinemia.
– Doença cardiopulmonar crônica.
– Anemia.
– Infecção do trato urinário.
– Doença autoimune.
Fatores fetais
> Anormalidades cromossômicas: identificadas em aproximadamente 15% dos casos de CIUR.
> Patologias: displasias (Fig. 11.9), condrodistrofias, osteogênese imperfeita, deficiência de
sulfatase placentária, defeitos de tubo neural.
> Radiação.
> Infecção intrauterina.
> Gestações múltiplas: uma das causas mais frequentes de CIUR.
> Fatores imunológicos.
> Intervalo entre as gestações: períodos inferiores a dois anos aumentam o CIUR.
> Ordem de nascimento: maior frequência de CIUR em primogênitos de pacientes jovens e mais
velhas.
Fatores uteroplacentários
> Anormalidades uterinas: em particular, útero bicorno e septado.
> Anormalidades placentárias: inserção anormal de cordão, anormalidade de forma, de sítio de
implantação (p. ex., placenta prévia), tumores, artéria umbilical única (Fig. 11.10), síndrome de
transfusão fetal e mosaico placentário.
160 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

porcentagem é substancialmente maior se a


falha de crescimento for detectada antes da
26a semana. Fetos com trissomia do 13, 18
e 21, assim como alterações autossômicas,
como deleções e alterações cromossômicas
estruturais, têm um crescimento abaixo do
esperado (Figs. 11.5, 11.6 e 11.7). O impacto
das aneuploidias no crescimento fetal é ilus-
trado pelos achados de um estudo no qual
foi coletado o cariótipo fetal de 458 fetos
entre 17 e 39 semanas de IG com CIUR. O
estudo mostrou que 89 fetos (19%) tinham
defeitos cromossômicos, mais comumente
trissomia do 18 (Snijders et al., 1993). Outras
doenças genéticas e anomalias congênitas,
por exemplo a síndrome de Potter, além de
anomalias cardíacas e malformações maio-
res, também estão frequentemente associa- Figura 11.6 Ressonância magnética fetal: hidro-
das à falha em manter um crescimento fetal cefalia (síndrome 18p-).
normal (Bernstein; Divon, 1997).
b. Infecções fetais: nas doenças virais, o vírus
chega à placenta, na fase de viremia, cau- parvovírus, quando ocorrem precocemente
sando placentite, lesão do endotélio vascular na gestação, também podem prejudicar o
e viremia fetal. No feto, o vírus ocasiona ini- crescimento fetal (Resnik, 2002).
bição direta da multiplicação celular, angio- c. Gestação múltipla: é associada a nascimen-
patia obliterante, rupturas cromossômicas e to pré-termo e CIUR (Fig. 11.8). Cerca de 15
citólise. Estima-se que doenças infecciosas a 30% das gestações gemelares podem ter
fetais sejam responsáveis por não mais de 5 restrição de crescimento, sendo que a curva
a 10% dos casos de CIUR (Bernstein; Divon, de crescimento começa a desviar-se do nor-
1997). O patógeno geralmente associado a mal após 32 semanas de gestação. É mais co-
CIUR é o citomegalovírus, sendo a infecção mum em gestações monocoriônicas acome-
geralmente primária e antes das 20 semanas tidas de síndrome da transfusão feto-fetal,
de gestação. Infecções fetais por rubéola e entretanto, crescimentos fetais discordantes

Figura 11.5 Ultrassonografia: polo cefálico com


hidrocefalia, síndrome 18p-. Figura 11.7 Peça: hidrocefalia (síndrome 18p-).
Rotinas em Obstetrícia 161

também podem ser observados em gêmeos


dicoriônicos (Resnik, 2002).

Fatores placentários
A insuficiência vascular uteroplacentária pode
reduzir o fluxo e induzir o CIUR pela diminuição
da pressão de perfusão, pelo aumento da resis-
tência vascular placentária ou pela diminuição
da superfície vascular de trocas. Esses mecanis-
mos podem atuar separadamente ou, como é
mais frequente, de modo conjunto.
Acredita-se que a diminuição da perfusão ute-
roplacentária associada à doença vascular ma-
Figura 11.8 Imagem ultrassonográfica de gesta- terna seja responsável por cerca de 25 a 30%
ção trigemelar.
de todos os recém-nascidos com CIUR, sendo
a causa mais comum em fetos não anômalos.
Pré-eclâmpsia grave e hipertensão crônica com
pré-eclâmpsia sobreposta normalmente interfe-
rem de maneira profunda no crescimento fetal
(Resnik, 2002). Em um estudo em que foram
comparadas 370 gestantes com pré-eclâmpsia
a gestantes normotensas, foram observadas di-
minuição de 12% no peso ao nascimento dos
recém-nascidos com doença grave e diminuição
de 23% com doença de início precoce na gesta-
ção (Odegard et al., 2000).
A placenta dos fetos com CIUR frequentemente
tem tamanho diminuído, função anormal, ou
ambos. Em um estudo, 1.569 recém-nascidos
Figura 11.9 Ultrassonografia: corte longitudinal
demonstrando o tórax fetal preenchido em mais
normais, sem alterações genéticas, que apre-
de 50% de seu volume pelo coração (displasia es- sentavam CIUR, foram avaliados em relação ao
quelética). tamanho placentário e ao peso de nascimento
e comparados com recém-nascidos com peso
adequado. Uma placenta menor foi achada em
24% dos recém-nascidos com CIUR (Heinonen;
Taipale; Saarikoski, 2001). Estudando-se a mor-
fologia placentária por microscopia eletrônica
de fetos com CIUR e a ausência de fluxo diastó-
lico umbilical, foram evidenciadas significativas
anormalidades no compartimento viloso termi-
nal, o que poderia explicar a impedância vascu-
lar observada clinicamente no estudo Doppler
(Krebs et al., 1996).
Alterações estruturais placentárias também
podem causar CIUR, incluindo artéria umbilical
única, inserção velamentosa do cordão, placen-
Figura 11.10 Ultrassonografia demonstrando ta bilobada e corioangioma. Além disso, fetos
imagem de cordão umbilical com apenas dois va- com CIUR podem estar associados à placenta
sos (agenesia de artéria umbilical) na região cer- prévia (Bernstein; Divon, 1997).
vical do feto.
162 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Fatores maternos sadas foi de 458 g, enquanto a média dos


a. Transtornos da nutrição e hábitos mater- recém-nascidos de mães expostas ao cigar-
nos: a desnutrição materna é a causa mais ro (fumantes passivas) foi de 192 g (Roquer
frequente de CIUR nos países subdesenvol- et al., 1995). Além do cigarro, drogas como
vidos. Em uma mulher habitualmente bem cocaína, heroína, álcool, anticonvulsivantes,
nutrida, a gravidez não é afetada de modo varfarina, agentes antineoplásicos e antago-
substancial, mas, se a desnutrição for crô- nistas do ácido fólico também contribuem
nica, prévia à gestação, a incidência de para a incidência de CIUR (Bernstein; Divon,
recém-nascido de baixo peso será de 40%, 1997; Resnik, 2002).
seja por prematuridade ou por CIUR. Diver- c. Condições patológicas: já é bem estabeleci-
sos estudos associam o peso materno pré- do o papel da hipertensão na patogênese do
-gestacional e o aumento de peso durante a CIUR, sabendo-se que a incidência aumenta
gestação ao peso do recém-nascido, ou seja, em 2 a 3 vezes. Também se associa restrição
mulheres estruturalmente magras ou mulhe- de crescimento fetal a doenças como diabete
res com ganho ponderal pequeno durante com alterações microcirculatórias, doenças
a gestação têm um risco maior de terem cardiovasculares e pulmonares que levam à
recém-nascidos com  2.500 g (Bernstein; hipoxia materna e ao lúpus eritematoso sistê-
Divon, 1997). Entretanto, estudos demons- mico (Bernstein; Divon, 1997). A associação
tram uma correlação não linear entre ingesta de trombofilias e CIUR vem sendo estudada
calórica materna e peso ao nascimento, pois, nos últimos anos. Uma metanálise publicada
mesmo quando a restrição da ingesta caló- recentemente (Facco; You; Grobman, 2009)
rica materna é grave, abaixo de 1.500 kcal/ mostra que não há fortes evidências dessa
dia, seu efeito no peso do recém-nascido é associação (baseada em estudos de nível III),
mais modesto do que o esperado (Bernstein; discutindo a necessidade de estudos de coor-
Divon, 1997). Sabe-se que, mesmo com uma te com um maior grau de evidência.
modesta queda de peso ao nascimento, a
mortalidade fetal é significativamente maior,
pois o problema é qualitativo e não quanti-
tativo (Cunningham et al., 2005). Recente-
Classificação
mente, tem sido estudada a associação do Várias tentativas de classificação do CIUR já fo-
consumo de cafeína durante a gestação com ram utilizadas. Na prática clínica, é importante
CIUR. Estudos observacionais (CARE Study distinguir entre dois padrões de anormalidades
Group, 2008) sugerem que pode haver al- de crescimento:
guma associação, entretanto são necessárias
> A restrição de crescimento fetal simétrico
mais evidências para que se possa orientar
(aproximadamente 5-10% dos casos) é ca-
adequadamente as gestantes.
racterizada por dimensões pequenas, tanto
b. Uso de drogas: o tabagismo é uma das maio- da cabeça como do esqueleto e da circun-
res causas de CIUR e uma das mais prevení- ferência abdominal fetal, sendo indicativa de
veis. Sabe-se que a etiologia do CIUR nesses um dano intrínseco e precoce na gestação
casos é resultado da exposição ao monóxido que ocasionou diminuição do número e do
de carbono (que diminui a capacidade da tamanho celular. O crescimento fetal é pre-
hemoglobina fetal de carrear oxigênio) e à judicado por anormalidades cromossômicas
nicotina, que, por sua vez, provoca a libe- (Fig. 11.11), malformações congênitas, dro-
ração de catecolaminas maternas, as quais gas, agentes químicos e infecções. O cresci-
reduzem a perfusão placentária. Existe uma mento é simetricamente afetado porque o
relação entre a quantidade de cigarros con- dano ocorreu nas fases primordiais da divisão
sumidos e o grau de restrição de crescimen- celular fetal (Resnik, 2002).
to (Bernstein; Divon, 1997). Em um estudo,
> A restrição de crescimento fetal assimétri-
evidenciou-se que a média de déficit de peso
co (aproximadamente 75-80% dos casos) é
dos recém-nascidos de mães fumantes pe-
causada por fatores extrínsecos, resultado
Rotinas em Obstetrícia 163

Indica-se a realização de pelo menos três exames


ultrassonográficos durante a gestação normal;
todavia deve-se levar em conta a disponibilidade
do exame e o seu custo em cada população (ver
Cap. 19, Ultrassonografia obstétrica).
Quanto mais cedo for realizado o exame
ultrassonográfico na gestação, mais preci-
sa é a estimativa da IG (erro de 3-5 dias até
12 semanas). Medidas fetais subsequentes
podem ser usadas para acompanhar o cres-
cimento fetal, porém não devem ser usadas
para um novo cálculo da IG (Fig. 11.12).

Figura 11.11 Ultrassonografia com imagem fe- No final da gravidez, a ecografia é menos con-
tal apresentando higroma cístico (síndrome de fiável na estimativa da IG, devido às variações
Turner). normais no crescimento fetal que ocorrem à
medida que a gestação avança. Entre 20 e 30
semanas, as estimativas de IG têm um erro de
aproximadamente duas semanas; esse erro au-
da disponibilidade inadequada de substra- menta para cerca de três semanas entre 30 e 40
tos para o metabolismo fetal. Nesse padrão semanas de gestação. Se uma única ecografia
de CIUR, as dimensões musculoesqueléticas for realizada, é melhor que seja feita por volta
e a cabeça fetal são poupadas, enquanto a da 18a semana, quando a estimativa da IG e a
circunferência abdominal é diminuída devi- avaliação das anomalias congênitas podem ser
do ao pequeno tamanho do fígado e à es- combinadas.
cassa quantidade de gordura subcutânea.
No segundo e terceiro trimestres, os parâmetros
Doenças vasculares maternas e insuficiência
de datação incluem a avaliação das medidas
uteroplacentária são os distúrbios que mais
fetais, como o diâmetro biparietal (DBP), a cir-
frequentemente limitam a disponibilidade
cunferência cefálica (CC), a circunferência ab-
de substratos metabólicos para o feto. Essas
dominal (CA) e o comprimento do fêmur (CF).
doenças geralmente se apresentam tarde na
A composição das medidas biométricas é mais
gestação, quando o crescimento fetal ocorre
acurada do que qualquer variável sozinha no se-
mais por aumento do volume celular do que
por multiplicação (Resnik, 2002).

Parâmetros de avaliação
do crescimento e do
desenvolvimento fetais
Atualmente a ultrassonografia obstétrica é con-
siderada essencial na investigação do cresci-
mento fetal e no diagnóstico de CIUR. Além de
estimar com precisão a IG, se realizada preco-
cemente, oferece a vantagem de avaliar o peso
fetal, que é um dos parâmetros mais importan-
tes no exame de um feto suspeito de CIUR. O
exame ultrassonográfico também é usado para
acompanhar o padrão de crescimento fetal em Figura 11.12 Ultrassonografia no primeiro tri-
determinado intervalo de tempo (Ott, 1997; mestre gestacional, demonstrando a medida do
Resnik, 2002). comprimento cefalocaudal.
164 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

gundo e terceiro trimestres da gestação. Assim A suspeita de CIUR inicia-se quando ocorre dis-
como no cálculo da IG, também são usados mo- crepância entre o tamanho uterino e a IG. O ta-
delos de regressão e fórmulas para a determina- manho uterino pode ser avaliado objetivamente
ção da estimativa do peso fetal (Hadlock et al., pela medida da AU.
1985; Shepard et al., 1982), um parâmetro es-
Medidas seriadas da AU plotadas em curvas-pa-
sencial no diagnóstico e manejo do CIUR (Cap.
drão de crescimento são utilizadas para rastrea-
19, Ultrassonografia obstétrica).
mento de CIUR (Figs. 11.12 e 11.13). Entre 18
Alguns autores consideram a medida da CA o e 30 semanas de gestação, a medida da AU
índice de maior confiança para predizer o tama- em centímetros coincide com as semanas de
nho fetal (Manning, 2000). Além disso, fetos gestação. Se a medida for  2 a 3 cm do es-
que apresentarem um peso estimado normal, perado, deve-se suspeitar de crescimento fetal
mas uma CA em um percentil mais baixo, têm inadequado (Cunningham et al., 2005). O maior
um risco maior de desenvolverem restrição de problema em relação ao rastreamento de CIUR
crescimento (Kramer; Weiner, 1997). pela medida seriada da AU isolada é a impre-
cisão, pois o diagnóstico pode ser mascarado
ou incorreto em até 50% dos casos, sendo, em
Diagnóstico geral, sobrediagnosticado (Resnik, 2002). En-
tretanto, esses resultados não devem diminuir
A estimativa adequada da IG, a atenção ao a importância do exame no pré-natal, pois essa
ganho de peso materno, assim como a reali- medida é somente um método de screening na
zação cuidadosa da medida da altura uterina avaliação do crescimento fetal, que, associado a
(AU – medida da sínfise púbica ao fundo ute- fatores de risco maternos para CIUR, pode levar
rino) durante a gestação, contribuirão para a à investigação ecográfica adequada.
identificação de muitos casos de crescimento
fetal anormal em pacientes sem fatores de risco Em gestações em que a IG é incerta, seja por
para CIUR (Cunnhingam et al., 2005). A certe- DUM incerta ou por ecografias tardias, a avalia-
za do dia da última menstruação (DUM) é um ção do crescimento fetal fica mais complicada.
dado nem sempre possível de ser obtido, já que Deve ser realizada por meio de exames ultras-
em torno de 40% das mulheres não sabem a sonográficos seriados com intervalo de 2 a 3
DUM, por isso a importância da realização de semanas. A observação de crescimento fetal es-
uma ecografia precoce na gestação (Manning, perado para essa IG praticamente exclui a possi-
2000). A identificação de fatores de risco para bilidade de CIUR (Manning, 2000).
CIUR é o próximo passo, investigando-se histó- O diagnóstico de CIUR é sempre provável, por-
ria obstétrica prévia (recém-nascido com baixo que só é confirmado ao nascimento, quando
peso em gestações prévias, história de malfor- o recém-nascido é classificado como pequeno
mações fetais), distúrbios associados (doença para a idade gestacional (PIG) conforme o seu
autoimune, hipertensão arterial) e hábitos tóxi- peso e sua IG. A IG é calculada clinicamente ao
cos (tabagismo, uso de drogas) e nutricionais. nascimento por dois métodos: o Capurro e o
A história de CIUR prévia é um dos mais im-
Ballard. Mesmo assim, existem parâmetros para
portantes fatores de risco, devendo ser sempre
considerar CIUR patológico, pois a maioria des-
investigada (Cunnhingam et al., 2005). Casos
ses recém-nascidos é constitucionalmente pe-
de mulheres com fatores de risco significativos
quena, sendo apenas uma variante do normal.
devem receber maior atenção no pré-natal em
relação ao crescimento fetal, principalmente por Os métodos ultrassonográficos são aplicados
meio de ecografias seriadas. Por mais que a in- ao diagnóstico de CIUR de dois modos. Em
dicação do exame ultrassonográfico dependa de primeiro lugar, são usados para reconhecer a
circunstâncias clínicas e condições socioeconô- discrepância entre a massa (peso) fetal espera-
micas, uma avaliação ecográfica inicial, seguida da e a observada para uma IG. Em segundo,
por outra com 32 a 34 semanas de gestação, são empregados para determinar a etiologia, a
já serve para identificar muitos casos de CIUR severidade e o prognóstico em relação à dis-
(Cunningham et al., 2005). crepância observada (Manning, 2000). Um
Rotinas em Obstetrícia 165

PERCENTIS

Semanas 5 10 25 50 75 90 95

13 7,0 8,0 8,0 10,5 11,0 12,0 13,0


14 7,5 8,5 10,0 11,0 13,0 14,5 15,5
15 9,0 9,6 9,6 12,5 14,0 15,0 16,0
16 10,5 11,5 11,5 14,0 16,0 18.0 18,0
17 12,0 12,5 12,5 15,0 17,5 18,0 18,5
18 13,5 13,5 13,5 16,5 18,0 19,0 19,0
19 13,5 14,0 14,0 17,5 19,0 19,5 20,5
20 15,0 15,0 15,0 18,0 19,5 21,0 21,0
21 15,5 15,5 15,5 19,0 20,0 21,5 21,5
22 16,5 16,5 16,5 20,0 21,5 22,5 23,0
23 16,5 17,5 17,5 21,0 22,5 23,0 23,0
24 17,5 18,5 18,5 22,0 23,0 24,0 24,0
25 18,5 19,5 19,5 22,5 24,0 25,5 25,5
26 19,5 20,0 20,0 23,0 24,5 25,5 26,5
27 20,0 20,5 20,5 23,5 25,0 26,5 26,5
28 21,0 21,0 21,0 25,0 26,0 27,0 27,0
29 21,5 22,5 22,5 25,5 26,5 28,0 28,0
30 23,5 23,5 23,5 26,5 28,0 29,0 29,5
31 23,5 24,0 24,0 27,0 28,0 29,5 30,0
32 25,0 25,0 25,0 28,0 29,5 30,0 31,0
33 25,0 25,6 25,6 29,0 30,0 31,0 31,0
34 25,5 26,0 26,0 29,5 31,0 32,0 32,5
35 26,5 26,5 26,5 30,5 32,0 33,0 33,0
36 27,0 28,0 28,0 31,0 32,5 33,0 33,0
37 27,0 28,5 28,5 31,5 33,0 34,0 34,0
38 28,0 29,5 29,5 33,0 33,5 34,0 34,5
39 28,5 30,5 30,5 33,5 33,5 34,0 34,5
40 28,5 31,0 31,0 33,5 33,5 34,5 34,5

Figura 11.13 Altura uterina (em cm) para cada semana de amenorreia em relação ao percentil
(CLAP-948).

diagnóstico acurado é conhecido por meio da querem avaliação sequencial a cada duas sema-
morfometria fetal, da morfologia e da avalia- nas para confirmar a continuidade da velocida-
ção funcional: quantidade de líquido amnió- de de crescimento normal, sendo o prognóstico
tico, avaliação do bem-estar fetal e avaliação perinatal excelente. O segundo padrão observa-
pelo Doppler. do é uma velocidade de crescimento diminuída,
caindo os valores a cada medida, na qual os tes-
Em relação às gestantes em investigação tes de intervalo revelam uma diferença maior da
para CIUR que não possuem uma IG confi- velocidade de crescimento esperada. Esses fetos
ável, recomenda-se um intervalo de 2 se- podem ser considerados com CIUR e alteração
manas para comparação dos parâmetros de da condição fetal (Manning, 2000). A Figura
crescimento. Isso porque a comparação em 11.14 mostra o fluxograma para a investigação
intervalos mais curtos impossibilita a dife- de suspeita de CIUR por ecografia.
renciação de mudanças, devido ao erro da
medida ultrassonográfica. A associação entre oligoidrâmnio e restrição de
crescimento fetal patológica já tem sido reco-
Estimativas sequenciais fetais com intervalo de nhecida há muito tempo (Cunningham et al.,
duas semanas, em geral, produzirão um dos se- 2005; Manning, 2000), sendo mais observada
guintes padrões. A velocidade de crescimento nos fetos com insuficiência uteroplacentária.
pode ser paralela à curva de distribuição normal, Tem sido detectada nesses fetos a presença de
mas permanecerá abaixo do percentil 10 (ou de hipoxemia e acidemia por análise do sangue de
outro percentil usado como ponto de corte). cordão e sabe-se que eles alteram a sua fun-
Nesses fetos, o diagnóstico de feto pequeno ção renal e diminuem o débito urinário em
normal é o mais provável. Na ausência de sinais resposta a episódios de hipoxemia, levando à
funcionais de comprometimento, tais fetos re- diminuição do volume de LA (Cunningham et
166 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

Suspeita de CIUR

Idade cronológica DUM

Conhecida Desconhecida

Repetir ecografia em
Medidas ecográficas
3 semanas

Coincidentes Não-coincidentes Crescimento

Gestação normal Erro de data Adequado Inadequado

CIUR

Avaliar sinais funcionais

Figura 11.14 Fluxograma para investigação de suspeita de CIUR por método dinâmico com ecografia.
A morfometria fetal e a avaliação funcional estão intimamente relacionadas a etiologia, prognóstico e
orientação de manejo.
Fonte: Adaptada de Manning (2000).

al., 2005; Manning, 2000). A mortalidade pe- sofrimento fetal, sem vantagens em relação aos
rinatal aumenta conforme a diminuição da desfechos perinatais.
medida vertical do maior bolsão de LA, medida
Mesmo que o peso estimado fetal tenha a me-
essa que cai significativamente quando o maior
lhor sensibilidade para identificar fetos com CIUR,
lago mede  2 cm (Manning, 2000). Recente-
existem ainda outros parâmetros que auxiliam no
mente vem se estudando a melhor maneira de
diagnóstico de CIUR, como a avaliação do grau
avaliar-se a quantidade de líquido amniótico.
placentário, o diâmetro cerebelar transverso, a
Acredita-se que o índice de líquido amniótico
medida do tecido adiposo subcutâneo no abdo-
(ILA), por ter sido introduzido na prática clínica
me fetal e o estudo Doppler da circulação mater-
de vários centros do mundo sem a avaliação de
no-fetal (Ott, 1997). Dentre esses parâmetros, o
qualquer estudo prospectivo para sua valida-
último estudo contribui tanto para o diagnóstico
ção, deve ser substituído pela medida vertical
como para o seguimento dos fetos com CIUR.
do maior bolsão para o diagnóstico de oligoid-
râmnio (medida vertical do maior bolsão < 2  Quando se tem um provável diagnóstico de
1) (Manning, 2009). Uma metanálise incluindo CIUR, esforços devem ser feitos para avaliar
quatro ensaios clínicos randomizados (Nabhan; a etiologia dessa restrição de crescimento.
Abdelmoula, 2008) comparando ILA e medida A ultrassonografia novamente tem um pa-
do maior bolsão conclui que, quando o ILA é pel fundamental, pois, na presença de mal-
usado para diagnóstico de oligoidrâmnio, sig- formações fetais, deve ser realizada cordo-
nificativamente mais casos são diagnosticados, centese ou amniocentese para avaliação do
com mais induções de parto, mais cesáreas por cariótipo (Cunningham et al., 2005).
Rotinas em Obstetrícia 167

fetal durante a gestação, permitindo o diagnós-


O estudo Doppler e os tico e a monitoração de gestações de baixo e de
mecanismos adaptativos alto risco para CIUR. Em uma gestação normal,
há uma diminuição na impedância da artéria
fetais umbilical com o desenvolvimento da gravidez.
O estudo Doppler proporciona muitas infor- Consequentemente, o fluxo diastólico aumenta
mações importantes sobre aspectos fetais, ma- em relação ao fluxo sistólico, resultando em uma
ternos e placentários em gestações com CIUR, razão sístole/diástole (S/D) menor. Essas mudan-
assumindo o principal papel no seu manejo ças vasculares refletem a maturação e o aumen-
(Harman; Baschat, 2003). Atualmente, é bem to da eficiência no desenvolvimento cardiovas-
estabelecido por numerosos ensaios clínicos cular fetal, que trabalha contra uma resistência
randomizados que o uso desse exame pode re- placentária baixa, determinando boas condições
duzir significativamente a mortalidade perinatal, para adequadas perfusão e oxigenação do feto
assim como a indução de parto desnecessária em formação (Harman; Baschat, 2003).
em fetos prematuros com CIUR (Alfirevic; Neil- As trocas circulatórias anormais na placenta evi-
son, 1995; Chauhan et al., 2009). denciadas no feto com CIUR são ocasionadas
Com a evolução do conhecimento a respeito do por crescimento e desenvolvimento placentário
processo inicial da placentação, aprimorou-se o inadequados. O dano placentário é geralmente
uso do Doppler na pesquisa da circulação ma- crônico, iniciando-se com uma placenta peque-
terna e fetal, como preditor de CIUR e doenças na, composta por alguns infartos placentários.
hipertensivas maternas. Como um parâmetro Nesses casos, a primeira anormalidade identifi-
único, a presença de incisura protodiastólica nas cada pelo Doppler é um aumento contínuo de
artérias uterinas no início do segundo trimestre resistência em ambos os lados da placenta – re-
(24 semanas) pode ser preditiva de disfunção fletido no estudo Doppler como um aumento na
placentária, com consequente aumento de risco resistência das artérias uterinas bilateralmente
para desenvolvimento posterior de CIUR e pré- – com a presença de incisuras protodiastólicas.
-eclâmpsia (Harman; Baschat, 2003). Se essa situação se estabiliza, o feto se adapta,
com um modesto declínio na sua curva de cres-
A combinação da ultrassonografia convencional
cimento, sem comprometimentos futuros (Har-
com o Doppler da artéria umbilical fetal confere
man; Baschat, 2003).
um excelente valor preditivo para o diagnóstico
de CIUR, tanto que alguns autores consideram Se a insuficiência placentária evolui, ocorrem
esse diagnóstico duvidoso quando o estudo Do- progressivos infartos placentários, com forma-
ppler é normal (Harman; Baschat, 2003). A ultras- ção e deposição de fibrina, o que pode remo-
sonografia Doppler evidencia diferenças significa- ver 50% ou mais da área de trocas placentá-
tivas entre recém-nascidos PIG e recém-nascidos rias. Como o processo é crônico, o feto pode
normais, já que 34% dos recém-nascidos PIG têm compensar e se estabilizar novamente. Esses
Doppler alterado, em relação a apenas 4% dos mecanismos crônicos de adaptação incluem di-
recém-nascidos normais (Ott, 1997). Além disso, minuição do crescimento somático, diminuição
o Doppler é muito utilizado para diferenciar fetos do tamanho do fígado e redução ou mesmo au-
com CIUR patológico (que requerem acompa- sência da deposição de gordura (Harman; Bas-
nhamento intensivo) daqueles fetos constitucio- chat, 2003).
nalmente pequenos (que podem ser manejados
No momento em que aumenta a resistência vas-
de maneira mais conservadora) (Baschat; Weiner,
cular placentária, ocorre uma progressiva dete-
2000). Também é um instrumento importante
rioração na onda de fluxo da artéria umbilical,
para diferenciar CIUR de causa placentária de
o que acarreta o início da resposta circulatória
outras etiologias, como aneuploidias e síndromes
sistêmica fetal. Isso ocorre quando a pO2 cai
congênitas (Harman; Baschat, 2003).
para 60% do normal (Harman; Baschat, 2003).
O estudo por Doppler a cores reproduz, mais O feto, então, inicia o processo de adaptação
precisamente, um mapeamento da circulação a um ambiente de hipoxia progressiva, criando
168 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

mecanismos compensatórios de redistribuição tagem de refletir a função cardíaca e o padrão


do fluxo sanguíneo para áreas nobres do orga- respiratório fetal (Harman; Baschat, 2003). O
nismo (como cérebro e circulações centrais) em Doppler venoso é muito efetivo em predizer
detrimento de outros órgãos (como pulmões complicações perinatais graves, manifestadas
e rins), havendo redução no débito urinário e, por mortalidade, acidemia, asfixia neonatal e
consequentemente, diminuição do volume de necessidade de UTI neonatal (Baschat et al.,
LA. A redistribuição de fluxo sanguíneo gerada 2003). A onda “a”, medida pelo Doppler do
pela hipoxia estimula a vasodilatação cerebral, ducto venoso, torna-se progressivamente
preservando no feto a CC, enquanto a CA pro- menor com a piora da função cardíaca fetal.
gressivamente diminui (Harman; Baschat, 2003; A onda “a” retrógrada ocorre em fetos com
Manning, 2000). A artéria cerebral média (com- CIUR grave e representa iminência de morte
partimento fetal) é utilizada como parâmetro de fetal. Pode estar associada a pulsações na veia
avaliação da diminuição da resistência vascular umbilical, refletindo importante acidose e hi-
cerebral (Harman; Baschat, 2003). poxemia fetais (Harman; Baschat, 2003). Mais
detalhes podem ser obtidos no Capítulo 13,
Todo esse quadro de deterioração fetal pode
Avaliação da saúde fetal.
ser acompanhado efetivamente por meio do
estudo Doppler da artéria umbilical, no qual Resumidamente, o feto humano adapta-se aos
ocorre um aumento da resistência, com uma efeitos da insuficiência placentária. Quando es-
consequente redução no fluxo diastólico final, sas adaptações falham, a deterioração fetal é
que pode ser progressivo em fetos gravemente manifestada por modificações circulatórias que
comprometidos, podendo chegar até a uma au- podem ser detectadas pelo estudo Doppler.
sência total de fluxo diastólico, diástole ausente
Componentes essenciais na avaliação do
(diástole zero) ou mesmo fluxo diastólico retró-
feto com CIUR são o Doppler arterial (arté-
grado ou reverso (diástole reversa) (Harman;
rias uterinas [compartimento materno], ar-
Baschat, 2003).
téria umbilical [compartimento placentário]
O aumento da resistência vascular na arté- e artéria cerebral média [compartimento
ria umbilical está associado a um aumento fetal]) e o Doppler venoso (para detalhes
progressivo na incidência de eventos ad- sobre a função cardiovascular).
versos fetais, como morte ao nascimento,
oligoidrâmnio, baixo peso ao nascer e cesá-
rea de urgência por sofrimento fetal. Além Manejo do crescimento
disso, associa-se também a problemas neo-
natais, como acidose venosa umbilical, ne-
intrauterino restrito
cessidade de ressuscitação cardiopulmonar, Manejo anteparto
ventilação mecânica por tempo prolongado
O manejo clínico de uma gestação com CIUR é
e tempo de admissão prolongado em UTI
complexo. A estratégia ideal irá depender da IG
neonatal (Baschat; Harman, 2001).
ao diagnóstico, da etiologia do CIUR, da pro-
Persistindo a deterioração fetal progressiva, os babilidade de sobrevivência fetal extrauterina e
mecanismos de adaptação começam a falhar, do nível de experiência e recursos tecnológicos
o que acarreta comprometimento da função da instituição de tratamento (Kramer; Weiner,
cardíaca fetal. As causas da descompensação 1997). As gestações com CIUR devem ser ma-
cardíaca são complexas: pós-carga aumenta- nejadas em um centro terciário, em virtude das
da, cardiomegalia hipertensiva, diminuição possíveis complicações perinatais. Um plano de
do retorno venoso pela hipoperfusão placen- assistência materno-fetal deve consistir em con-
tária, insuficiência coronariana e hipoxemia trole da evolução materna durante o pré-natal,
cardíaca. Na tentativa de evitar-se que o feto avaliação ultrassonográfica do crescimento fe-
chegue até esse nível de comprometimento, tal, monitoração do bem-estar fetal e aquilo que
o Doppler da circulação venosa vem sendo é mais importante no acompanhamento dessa
cada vez mais estudado, pois pode ter a van- gestação: o estudo Doppler.
Rotinas em Obstetrícia 169

Tentativas de aumento do ocorre uma promoção no crescimento fetal pro-


crescimento fetal vocado por aumento da glicose circulante e di-
Devemos ter em mente que a descoberta de minuição da resistência placentária. Entretanto,
uma etiologia para o CIUR capaz de ser modifi- em dois estudos pequenos comparando o uso
cada no pré-natal é rara, embora se deva tentar de betamiméticos e placebo em gestantes com
inverter ou modificar o padrão de crescimento fetos com baixo peso, não houve diferenças sig-
anormal. Quanto à terapêutica propriamente nificativas entre os dois grupos (Say; Gülmezo-
dita, é preciso reconhecer que não há trata- glu; Hofmeyr, 2004).
mento específico. Entretanto, existem pequenas Além disso, outros tratamentos têm sido tes-
evidências derivadas de ensaios clínicos rando- tados no CIUR, incluindo os bloqueadores dos
mizados que apontam benefícios no tratamento canais de cálcio, a terapia materna com oxigê-
antenatal dos fetos com CIUR. nio, a expansão do volume plasmático materno,
O controle dos fatores de risco deve ser o pas- assim como heparina e baixas doses de aspirina.
so inicial no manejo do CIUR, dispensando-se Entretanto, nenhum deles tem se mostrado efi-
especial atenção ao tabagismo. Por mais que caz (Chauahn et al., 2009; Resnik, 2002).
não existam evidências que comprovem que o
Avaliação da saúde fetal
repouso melhora o crescimento fetal ou os des-
fechos perinatais associados ao CIUR, muitos Atualmente, além do estudo Doppler comenta-
obstetras orientam repouso em decúbito late- do anteriormente, existem outros meios de ava-
ral esquerdo (DLE), a fim de proporcionar uma liação do bem-estar fetal em gestações de alto
melhor perfusão uteroplacentária (Cunningham risco: a monitoração cardíaca anteparto (CTG)
et al., 2005). Dentro desse mesmo nível de evi- e o perfil biofísico fetal (PBF). Mais detalhes so-
dência, a atividade física diária também deve bre esses testes estão no Cap. 13, Avaliação da
ser limitada. Não há evidências científicas que saúde fetal. Os métodos não invasivos de avalia-
justifiquem a internação hospitalar de gestantes ção da vitalidade fetal, quando adequadamente
com CIUR para repouso, pois, além de inefetiva realizados e interpretados, permitem estimar a
e de alto custo, também se torna inconveniente probabilidade de acidose.
para o casal (Say; Gülmezoglu; Hofmeyr, 2004). A sequência de alteração das atividades biofísi-
Uma gestante necessita de uma dieta de 2.100 cas fetais em caso de hipoxia obedece à ordem
a 2.300 calorias por dia para oferecer um bom inversa de sua instalação durante a embriogê-
substrato para o desenvolvimento fetal. No úl- nese. Dessa maneira, a frequência cardíaca fe-
timo trimestre da gestação, é necessário um tal é o primeiro parâmetro a alterar-se; a seguir,
incremento de aproximadamente 300 calorias altera-se o padrão dos movimentos respiratórios
extras por dia. A composição da dieta parece ter fetais, dos movimentos corporais e, por último,
menos importância do que o total de calorias. altera-se o tônus, que são marcadores agudos
A suplementação alimentar a gestantes com da vitalidade fetal. Por meio do mecanismo
CIUR tem sido investigada com alguns nutrien- de redistribuição do fluxo sanguíneo fetal se-
tes, como carnitina, aminoácidos e soluções de cundário à hipoxemia crônica, ocorre uma di-
glicose. Por mais que alguns estudos mostrem minuição progressiva do volume de LA, sendo
alguns benefícios, é imperativo que se realizem considerado um marcador crônico da vitalidade
trabalhos bem delineados e com amostras maio- fetal (Harman; Baschat, 2003). Em fetos muito
res para que sejam detectados efeitos adversos comprometidos com CIUR severo, pode haver
com essa prática. Portanto, atualmente não é uma descompensação aguda da condição fetal.
indicada a suplementação de nutrientes a ges- Nessa circunstância, recomenda-se que os testes
tantes com CIUR (Chauahn et al., 2009; Say; de avaliação fetais sejam realizados com maior
Gülmezoglu; Hofmeyr, 2004). frequência, até mesmo duas vezes por dia (Man-
ning, 2009).
Os betamiméticos, além de relaxarem a muscu-
latura uterina e as estruturas vasculares, agem Ao integrarmos os testes de avaliação fetal,
sobre o metabolismo da glicose. Teoricamente, o estudo Doppler e os parâmetros biofísicos
170 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

fetais (CTG e PBF), podemos permitir que a como hipertensão materna, oligoidrâmnio,
gestação prossiga, minimizando o impacto falha no crescimento fetal em um período de
da prematuridade e protegendo contra da- acompanhamento de 2 a 3 semanas, PBF baixo
nos fetais irreversíveis (Harman; Baschat, ( 6 em 10) ou se o Doppler da artéria umbilical
2003) (Tab. 11.1). revelar ausência de fluxo distólico ou fluxo re-
verso (Resnik, 2002).
Fetos próximos do termo
( 34 semanas) que apresentam Se houver dúvidas em relação ao momento de
crescimento intrauterino restrito indicar a interrupção da gestação, a paciente
A interrupção da gestação é a melhor conduta deverá permanecer em acompanhamento con-
para os fetos com CIUR que já estão a termo tínuo do bem-estar fetal. O Doppler da artéria
(Cunningham et al., 2005). Os fetos próximos umbilical deve ser realizado quinzenalmente, e o
do termo deverão nascer quando surgirem evi- PBF, junto com o MAP, semanalmente (Kramer;
dências de evolução desfavorável da gestação, Weiner, 1997). A avaliação ultrassonográfica

Tabela 11.1 Avaliação fetal integrada no CIUR

Resultado dos testes fetais Interpretação Manejo recomendado

> CA  percentil 5; CC/CA > CIUR diagnosticado > Intervenção somente por
elevada > Asfixia rara fatores obstétricos ou
> PBF  8; volume de LA normal > Risco aumentado de maternos
> AU anormal sofrimento fetal intraparto > PBF semanal
> ACM normal > Doppler a cada 2 semanas
> CIUR > CIUR com preservação > Intervenção por fatores
> PBF  8; volume de LA normal cerebral obstétricos, maternos ou feto
> AU com ausência de diástole > Possível hipoxemia; asfixia rara  34 semanas de IG
ou diástole reversa > Risco aumentado de > PBF 3 x/semana
> ACM com resistência sofrimento fetal intraparto > Doppler AU, ACM, Doppler
diminuída venoso semanal
> CIUR > CIUR com preservação >  34 semanas de IG:
> ACM com resistência cerebral interrupção
diminuída > Início do comprometimento >  32 semanas de IG:
> Oligoidrâmnio fetal corticoide (maturidade fetal);
> PBF  6 > Hipoxemia é comum repetir todos os testes em 24
> Doppler venoso normal > Possível acidemia e asfixia horas
> Hipoxemia é comum
> CIUR > CIUR com preservação >  32 semanas de IG:
> Oligoidrâmnio cerebral interrupção
> PBF  6 > Comprometimento fetal >  32 semanas de IG:
> Doppler venoso alterando-se, > Hipoxemia é comum individualizar os casos;
mas fluxo na veia umbilical > Acidemia e asfixia são comuns corticoide (maturidade fetal);
ainda normal manter CTG contínua; repetir
todos os testes para definir o
momento da interrupção
> CIUR > CIUR com descompensação > Se feto viável, interrupção em
> PBF  6 > Instabilidade cardiovascular centro terciário, com boas
> Doppler venoso alterado, com > Hipoxemia condições de atendimento em
fluxo pulsátil na veia umbilical > Acidemia e asfixia são comuns UTI neonatal
> Mortalidade perinatal alta
> Morte iminente

CA, circunferência abdominal; CC, circunferência cefálica; AU, artéria umbilical; ACM, artéria cerebral média; CTG,
cardiotocografia.
Fonte: Adaptada de Harman e Baschat (2003).
Rotinas em Obstetrícia 171

para avaliar o crescimento fetal deve ser repe- Manejo intraparto


tida a cada 2 a 3 semanas (Kramer; Weiner,
O modo de parto é decidido conforme a etiolo-
1997). A evidência de maturidade pulmonar
gia do CIUR, o grau de comprometimento fetal,
fetal é suficiente para indicar o parto em fetos
a evidência de acidemia, a IG e a quantidade de
com CIUR próximos do termo (Resnik, 2002).
LA (Kramer; Weiner, 1997). Cada caso deve ser
O maior número de informações sobre a individualizado na escolha da via de parto mais
condição fetal deve ser coletado, e esse nú- adequada.
mero nunca deve ser considerado apenas O CIUR geralmente é secundário à insuficiência
um parâmetro isolado na decisão da inter- placentária, e essa situação, na maioria das ve-
rupção da gestação (Harman; Baschat, 2003). zes, é agravada no momento do parto. Durante
Fetos distantes do termo o trabalho de parto, essas gestações devem ser
monitoradas por cardiotocografia, com o intuito
( 34 semanas) que apresentam
de detectar sinais de sofrimento fetal. As com-
crescimento intrauterino restrito
plicações perinatais, como asfixia e eliminação
Acredita-se que a maturidade pulmonar fetal es- de mecônio, são achados comuns nos fetos
teja acelerada no ClUR (Cunningham et al., 2005). mais comprometidos. Assim, o atendimento
Entretanto, fetos com menos de 34 semanas e neonatal deve ser rápido e eficiente.
que provavelmente necessitarão de interrupção
da gestação beneficiam-se do uso de corticoste-
roides na prevenção de síndrome da angústia res-
Complicações neonatais e
piratória e de hemorragias cerebrais, diminuindo a
morbimortalidade perinatal (Resnik, 2002). sequelas a longo prazo
Fetos com CIUR longe do termo, viáveis, que es- O CIUR aumenta o risco de mortalidade perinatal,
tão evoluindo bem, também são acompanhados sendo responsável por aproximadamente 26%
na sua curva de crescimento a cada 2 a 3 sema- dos natimortos (Morrison; Olson, 1985). Quando
nas, com estudo Doppler mensal e PBF semanal. presente, traz um risco sete vezes maior de mor-
Os fetos que apresentarem evolução desfavorá- talidade perinatal, sendo particularmente acentu-
vel com progressivas alterações no estudo Do- ado no aumento do risco de morbidade perinatal
ppler deverão ser monitorados com maior fre- grave (Manning, 2000). Esse risco neonatal é ain-
quência, e cada caso deve ser individualizado, da maior em recém-nascidos muito prematuros
medindo-se o risco de dano fetal e até mesmo com CIUR, com peso entre 501 e 1.550 g, pois
de morte fetal com a manutenção da gestação são associados a um risco maior de morte neona-
versus o risco da prematuridade (Cunningham tal, enterocolite necrosante e síndrome da angús-
et al., 2005). Estudos recentes corroboram que tia respiratória (Bernstein et al., 2000).
a morbidade e a mortalidade são determinadas Excluindo-se os casos de CIUR secundários a
principalmente pela idade gestacional e pelo aneuploidias, malformações congênitas e infec-
peso ao nascimento e não por testes anormais ções fetais, os demais fetos permanecem em um
de vitalidade fetais anteparto. Além disso, não estado de má oxigenação crônica e deprivação
há evidências de que a conduta de interrupção de nutrientes, o que pode resultar em muitas
baseada nesses testes antenatais previnam se- complicações ao nascimento, como asfixia pe-
quelas neurológicas a longo prazo (Chauhan et rinatal, encefalopatia isquêmica neonatal, as-
al., 2009; Thornton et al., 2004). piração de mecônio, policitemia, hipoglicemia
neonatal, hipotermia e outras complicações
Mudanças na circulação venosa fetal de-
metabólicas. Dessa forma, é imperativo otimizar
tectadas pelo estudo Doppler geralmente
o tempo do trabalho de parto, evitando a pro-
acontecem após as anormalidades detecta-
gressiva hipoxia e oferecendo um atendimento
das na circulação arterial e são indicativas
neonatal imediato (Resnik, 2002).
de grave comprometimento fetal e inter-
rupção imediata da gestação, independen- Em relação ao desenvolvimento neurológico a
temente da IG (Resnik, 2002). longo prazo dos recém-nascidos que apresenta-
172 Freitas, Martins-Costa, Ramos & Magalhães

ram CIUR, os resultados dos estudos ainda são ceram prematuras e apresentaram deterioração
muito conflitantes (Cunningham et al., 2005). importante no fluxo umbilical (Resnik, 2002).
Alguns mostram que as crianças que tiveram
Evidências mais recentes sugerem que fetos que
CIUR apresentaram um grau de quociente de
inteligência (QI) que varia entre normal e pouco apresentam CIUR ou baixo peso ao nascimento
diminuído. Esses achados são estatisticamente compensam o ambiente hostil em que viveram
significativos, mas irrelevantes na prática clínica. desenvolvendo uma síndrome metabólica mais
Estudos subsequentes confirmam aumento de tarde em suas vidas, com aumento de risco para
risco para um pior desenvolvimento intelectual o desenvolvimento de hipertensão, dislipidemia,
e menor capacidade de aprendizado na escola intolerância à glicose e cardiopatia isquêmica.
(Geva et al., 2006; Leitner et al., 2007; Leonard Essa síndrome é descrita na literatura como “hi-
et al., 2008). Além disso, já foi demonstrada pótese de Barker”, sugerindo que a morbimorta-
uma significativa associação entre CIUR e para- lidade na vida adulta é pré-determinada a partir
lisia cerebral. Os piores desfechos têm sido ob- da vida fetal e neonatal (Kanaka-Gantenbein;
servados nas crianças com CIUR grave que nas- Mastorakos; Chrousos 2003; Kaijser et al., 2008).

REFERÊNCIAS

ALFIREVIC, Z.; NEILSON, J. P. Doppler Clin. Obstet. Gynecol., v. 40, n. 4, p. terine growth restriction: definitions
ultrasonography in high-risk pregnan- 723-729, 1997. and standards. Clin. Obstet. Gynecol.,
cies: Systematic review with meta CARE STUDY GROUP. Maternal ca- v. 40, n. 4, p. 704-714, 1997.
analysis. Am. J. Obstet. Gynecol., v. ffeine intake during pregnancy and HADLOCK, F. P. et al. Estimation of fe-
172, n. 5, p. 1379-1387, 1995. risk of fetal growth restriction: a lar- tal weight with the use of head, body
BASCHAT, A. A. et al. Qualitative ve- ge prospective observacional study. and femur measurements: a prospec-
nous Doppler waveform analysis im- BMJ., v. 337, p. a2332, 2008. tive study. Am. J. Obstet. Gynecol., v.
proves prediction of critical perinatal CHAUHAN, S. P. et al. Intrauterine 151, n. 3, p. 333-337, 1985.
outcomes in premature growth-res- growth restriction: comparison of HARMAN, C.; BASCHAT, A. Arte-
tricted fetuses. Ultrasound. Obstet. American Collage of Obstetricians rial and venous Dopplers in IUGR.
Gynecol., v. 22, n. 3, p. 240-245, and Gynecologists practice bulletin Clin. Obstet. Gynecol., v. 46, n. 4, p.
2003. with other national guidelines. Am. J. 931-946, 2003.
BASCHAT, A. A.; HARMAN, C. R. An- Obstet. Gynecol., v. 200, n. 4, p. 409. HEINONEN, S.; TAIPALE, P.; SAARI-
tenatal assessment of the growth res- e1-409.e6, 2009. KOSKI, S. Weights of placentae from
tricted fetus. Curr. Opin. Obstet. Gy- CUNNINGHAM, F. G. et al. Fetal gro- small-for-gestational age infants
necol., v. 13, n. 2, p. 161-168, 2001. wth disorders. In: _____. Williams revisited. Placenta, v. 22, n. 5, p.
BASCHAT, A. A.; WEINER, C. P. Um- obstetrics. 22th ed. New York: Mc- 399-404, 2001.
bilical artery Doppler screening for Graw-Hill, 2005. cap. 38, p. 893-910. KAIJSER, M. et al. Perinatal risk fac-
the small for gestacional age fetus in FACCO, F.; YOU, W.; GROBMAN, W. tors for ischemic heart disease: disen-
need of antenatal surveillance. Am. J. Genetic thrombophilias and intraute- tangling the roles of birth weight and
Obstet. Gynecol., v. 182, n. 1 (pt. 1), rine growth restriction, a meta-analy- preterm birth. Circulation, v. 117, n.
p. 154-158, 2000. sis. Obstet. Gynecol., v. 113, n. 6, p. 3, p. 405-410, 2008.
BERNSTEIN, I. M. et al. Morbidity and 1206-1216, 2009. KANAKA-GANTENBEIN, C.; MAS-
mortality among very low birth wei- GEVA, R. et al. Neuropsychological TORAKOS, G.; CHROUSOS, G. P.
ght infants with intrauterine growth outcome of children with intrauterine Endocrine-related causes and conse-
restriction. The Vermount Oxford growth restriction: a 9-year prospec- quences of intrauterine growth re-
Network. Am. J. Obstet. Gynecol., v. tive study. Pediatrics, v. 118, n. 1, p. tardation. Ann. N. Y. Sci., v. 997, p.
182, n. 1 (pt. 1), p.198-206, 2000. 91-100, 2006. 150-157, 2003.
BERNSTEIN, P. S.; DIVON, M. Y. Etio- GOLDENBERG, R. L.; OLIVER, S. P. KRAMER, W.; WEINER, C. Manage-
logies of fetal growth restriction. Small for gestational age and intrau- ment of intrauterine growth restric-

Você também pode gostar