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Beta-agonistas, bloqueadores do canal de cálcio, antagonistas
da ocitocina e inibidores das prostaglandinas.

TRABALHO DE PARTO Corticoprofilaxia


PREMATURO
Indicada entre 24 e 34 semanas. Betametasona ou
QUADRO DE RESUMO dexametasona.

Definição Neuroproteção

Parto prematuro é o parto que ocorre antes de 37 semanas Sulfato de magnésio entre 24 e 32 semanas.
completas e a partir de 20-22 semanas de gestação.

Fatores de risco
DEFINIÇÃO E EPIDEMIOLOGIA
Estresse, fadiga ocupacional, distensão uterina excessiva,
fatores cervicais, infecção, patologia placentárias, parto VIDEO_02_R4_GO_07
prematuro anterior, uso de drogas, alcoolismo, tabagismo, O parto pré-termo ou prematuro é aquele ocorrido a partir de
idade materna (< 18 ou > 40 anos), raça (negra), desnutrição 20-22 semanas e antes de 37 semanas completas (259 dias). É o
e baixo IMC, pré-natal inadequado, anemia (hemoglobina < principal problema da medicina perinatal atual, com altas taxas
10 g/dl), contratilidade uterina excessiva, baixo nível de complicação e custo extremamente elevado. Em 2010, quase
educacional e fatores genéticos. 15 milhões de crianças nasceram prematuras, sendo que 60%
dos partos ocorreram na África subsaariana e no sul da Ásia.
Mesmo em países desenvolvidos, a prematuridade ainda é a
Diagnóstico
maior causa de morbimortalidade perinatal.

Contrações regulares que provocam dilatação e apagamento


cervical. Nas últimas décadas, a incidência de prematuridade vem
aumentando, mas com melhores resultados perinatais. Isto
decorre de um maior número de interrupções da gestação por
Predição
indicações médicas, maior número de gestações gemelares
devido a técnicas de reprodução assistida e melhoria na
Medida do comprimento cervical (< 20 ou 25 mm); dosagem
assistência ao recém-nascido (FIGURA 1).
de fibronectina.

Prevenção

Progesterona vaginal entre 16-24 semanas. Indicação: parto


prematuro anterior; colo curto com menos de 24 semanas.

Tocólise

Contraindicações

➤ Morte fetal.
➤ Anomalia fetal letal.
➤ Sofrimento fetal agudo.

➤ Pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia.


➤ Sangramento materno com instabilidade hemodinâmica.
➤ Corioamnionite.
➤ Amniorrexe prematura (questionável).
➤ Dilatação cervical avançada (≥ 4 cm).
➤ Contraindicações relacionadas ao agente.

Medicações disponíveis
Figura 3.  Distribuição dos partos pré-termo nos EUA.

Um erro conceitual frequente é confundir prematuridade com


baixo peso ao nascer! A prematuridade está relacionada com a
idade gestacional do nascimento, enquanto o peso ao nascer
define se o recém-nascido é adequado ou não para aquela idade
gestacional. Se ele for menor que o percentil 10 para aquela
Figura 1.  Variação nas taxas de prematuridade ao longo dos idade gestacional, o recém-nascido é classificado como Pequeno
anos.
para a Idade Gestacional (PIG). Se o seu peso for adequado
(entre o percentil 10 e o 90), ele é classificado como Adequado
A sobrevivência neonatal está diretamente relacionada com a para a Idade Gestacional (AIG).
idade gestacional do parto, aumentando significativamente
após 28 semanas (FIGURA 2).
Outra classificação utilizada é de acordo com o peso absoluto ao
nascimento, sem qualquer relação com a idade gestacional:

➤ Baixo peso ao nascer: peso ao nascimento entre 1.500 e 2.500


g.

➤ Muito baixo peso ao nascer: peso ao nascimento entre 1.000 e


1.500 g.

➤ Extremo baixo peso ao nascer: peso ao nascimento entre 500


e 1.000 g.

LEMBRE-SE:
a prematuridade está relacionada com a idade
gestacional e não com o peso ao nascimento!

Figura 2.  Mortalidade neonatal de acordo com a idade


gestacional do nascimento.

MORBIMORTALIDADE NEONATAL
Por este motivo, divide-se a prematuridade da seguinte forma:
DO PRÉ-TERMO
➤ Prematuro extremo: < 28 semanas.
A morbimortalidade relacionada ao parto prematuro é uma
➤ Muito pré-termo: 28-30 semanas e seis dias. consequência da imaturidade dos órgãos. O parto pré-termo é
➤ Pré-termo precoce: 31-33 semanas e seis dias. responsável por 75% da mortalidade neonatal e 50% das lesões
neurológicas em crianças. Conforme mencionado
➤ Pré-termo tardio: 34-36 semanas e seis dias.
anteriormente, estas complicações ocorrem de forma
inversamente proporcional à idade gestacional do parto
VIDEO_03_R4_GO_07 (FIGURA 4) e (TABELA 1).
Felizmente, a maior parte dos fetos que nascem prematuros é
classificada como pré-termo tardio, o que resulta em menor
morbimortalidade.
Figura 5.  A) Parede alveolar sem ação surfactante:
Figura 4.  Complicações neonatais de acordo com a idade colabamento devido à instabilidade da interface ar/alvéolo.
gestacional do parto. B) Parede alveolar com ação surfactante: estabilidade,
facilitando a expansão alveolar.

TABELA 1: SOBREVIDA E SOBREVIDA INTACTA DE ACORDO Sabe-se que a lecitina é o principal fosfolipídio de ação
COM A IDADE GESTACIONAL. surfactante no pneumócito pulmonar, sendo assim responsável
pela maturação pulmonar. Até aproximadamente 35 semanas
de gestação, há predomínio da produção de lecitina por reação
de metilação, sendo instável como complexo surfactante. Após
esse período, passa a ser produzida predominantemente pela
via CDF-colina, tornando-se muito mais estável. Portanto, como
nos prematuros há predomínio da produção pela primeira via,
há maior predisposição à SAR.

Essa síndrome é caracterizada por respiração trabalhosa do


recém-nascido, taquipneia com tiragem intercostal ou esternal,
batimento de asa do nariz, gemência, acidose metabólica e
respiratória, cianose e estertores. O tratamento é feito com a
administração de surfactante exógeno, obtendo melhora
significativa na maioria dos casos. Em alguns casos, pode haver
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desenvolvimento da chamada doença da membrana hialina,
Perceba na FIGURA 4 que a insuficiência respiratória é a mais
pelo depósito de fibrina nos alvéolos.
frequente, acometendo inclusive recém-nascidos com mais de
34 semanas. A Síndrome de Angústia Respiratória (SAR) é a
principal causa de morte do recém-nascido pré-termo, Por estes motivos, diversas técnicas para tentar predizer a
conforme explicaremos a seguir. maturidade pulmonar foram descritas. Todas as abaixo
requerem a coleta de líquido amniótico através de
amniocentese para sua realização, o que limita de forma
As paredes alveolares do pulmão fetal são revestidas por dois
significativa sua aplicação na prática clínica.
tipos de células epiteliais: os pneumócitos tipo I e II. Os
pneumócitos I situam-se próximos às paredes capilares,
apresentam citoplasma reduzido e são desprovidos de atividade
secretora. Os do tipo II sintetizam e armazenam o surfactante
pulmonar. Esta substância é responsável pela estabilidade
alveolar, pois reduz a tensão superficial na interface ar/alvéolo,
diminuindo a pressão necessária para a sua expansão e
impedindo o seu colabamento (FIGURA 5).
➤ Dosagem de creatinina: avalia a maturidade renal, sendo Quatro fatores maiores levam ao trabalho de parto prematuro
tanto maior quanto mais avançada a gestação. Valores espontâneo em grande parte dos casos: estresse materno-fetal;
maiores ou iguais a 2 mg% falam a favor de feto maduro. hemorragia decidual; sobredistensão uterina; e infecção
intrauterina. Os fatores de risco, discutidos a seguir, de um
➤ Percentual de células fetais maduras: avaliação da
modo geral se encaixam nestas situações. Outras causas menos
maturidade epidérmica através da coloração pelo azul do
frequentes, mas também relevantes, são resposta inflamatória
Nilo. A presença de células anucleadas e de coloração
exagerada, insuficiência vascular uteroplacentária, fatores
alaranjada acima de 10% fala a favor de maturidade.
hormonais, incompetência cervical e fatores genéticos.
➤ Teste de Clements: mistura-se etanol à amostra de líquido
amniótico. A visualização de borbulhas estáveis após
As causas mais comuns do parto prematuro indicado são
agitação fala a favor da presença significativa de lecitina
distúrbios hipertensivos, hemorragia e sofrimento fetal crônico.
produzida pela via CDF-colina (mais estável).
➤ Relação lecitina/esfingomielina: se maior ou igual a 2,0, há VIDEO_06_R4_GO_07
provável maturidade pulmonar.
TABELA 3: CAUSAS DE PREMATURIDADE.
➤ Dosagem de fosfatidilglicerol: quando a dosagem deste
elemento do surfactante pulmonar se encontra maior ou
Iatrogenia Cesariana eletiva com IG
igual a 0,3 sugere maturidade pulmonar.
erroneamente calculada.

TABELA 2: PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DE CURTO E LONGO


PRAZO RELACIONADAS À PREMATURIDADE. Sobredistensão Uterina Gestação gemelar e
polidramnia.

Amniorrexe Prematura Primária ou secundária a


outros elementos.

Gestação de Alto Risco Devido a alterações


endócrinas e aumento da
contratilidade.

Hemorragias da Segunda Placenta prévia e DPP.


Metade da Gravidez

Malformações Uterinas Útero suporta mal a


(Hipoplasia e Defeitos de distensão dada pelo feto.
Fusão) e Miomas

Incompetência Causa de prematuridade,


Istmocervical abortamento tardio e
amniorrexe prematura.

Infecções ➤ Infecção aguda com


hipertermia levando ao
VIDEO_05_R4_GO_07 aumento da cinética
uterina.
➤ Corioamnionite: pode
CAUSAS DE PREMATURIDADE desencadear prema‐
turidade tanto pelo
No nosso meio, as taxas de parto prematuro situam-se em torno possível óbito fetal
de 10% dos nascimentos. Nos EUA, esta taxa é de 12%. Estima-se quanto pelo
que 30 a 35% dos casos de prematuridade ocorrem por desenvolvimento de
indicação médica, 40 a 45% são decorrentes de trabalho de amniorrexe prematura.
parto espontâneo e 30 a 35% são consequência de Ruptura
Prematura das Membranas Ovulares (RPMO).

FATORES DE RISCO
Um dos principais fatores de risco para parto prematuro é a
➤ Postura em pé.
história de parto prematuro em gestação anterior, o que
aumenta o risco em até duas vezes na gestação subsequente. No ➤ Uso de máquinas industriais.
entanto, o parto prematuro apresenta características ➤ Esgotamento físico.
multifatoriais e muitas vezes não é possível identificar um fator
associado. Vale ressaltar que os fatores de risco para
➤ Estresse mental ou ambiental.
prematuridade são muito semelhantes àqueles para RPMO.
Distensão Uterina Excessiva
Algumas características maternas aumentam o risco de
prematuridade, como tabagismo, uso de drogas ilícitas, baixo ➤ Gestação múltipla.
peso pré-gestacional (IMC < 20 kg/m²) e intervalo interpartal ➤ Polidramnia.
curto (menor que 18-24 meses). A suspensão do tabagismo ao
longo da gravidez pode amenizar este risco. Outros fatores
➤ Anomalia uterina ou miomatose.
como infecções genitais, infecções urinárias e doença ➤ Dietilestilbestrol.
periodontal também já foram relacionados, porém não há
comprovação de que o tratamento destas condições irá
Fatores Cervicais
diminuir o risco de parto prematuro.

➤ História de aborto de segundo trimestre.


Dentre os fatores de risco da gestação atual, o comprimento
cervical curto, normalmente definido como menor que 25 mm
➤ História de cirurgia cervical.
com menos de 24 semanas, possui uma boa correlação com o ➤ Dilatação ou apagamento prematuro do colo.
parto pré-termo e é inclusive utilizado como método de
rastreamento para esta complicação obstétrica, como veremos a Infecção
seguir. Quanto menor o colo, maior o risco de prematuridade. A
sobredistensão uterina, caracteristicamente encontrada na
➤ IST.
polidramnia e na gestação gemelar, também são fatores de risco
importantes. ➤ Pielonefrite.
➤ Infecção sistêmica.
O estresse, tanto físico quanto emocional, está associado a
➤ Bacteriúria.
eventos adversos da gravidez, como natimortalidade,
crescimento intrauterino restrito e a própria prematuridade. Os ➤ Doença periodontal.
mecanismos propostos são diversos, mas parece haver uma ➤ Vaginose bacteriana.
correlação com ativação prematura do eixo placentário-adrenal
materno. Baixo nível socioeconômico, extremos da vida
Patologia Placentária
reprodutiva e raça negra também são fatores de risco descritos.

➤ Placenta prévia.
Vamos citar os fatores de risco que já foram associados à
prematuridade: ➤ DPP.
➤ Sangramento vaginal.

FATORES DE RISCO PARA PARTO PREMATURO.


Outros

Estresse
➤ Parto prematuro anterior.

➤ Mulher solteira. ➤ Uso de drogas.

➤ Baixo status socioeconômico. ➤ Alcoolismo.

➤ Ansiedade. ➤ Tabagismo.

➤ Depressão. ➤ Idade materna (< 18 ou > 40).

➤ Eventos de vida (divórcio, morte). ➤ Raça (negra).

➤ Cirurgia abdominal durante a gravidez. ➤ Desnutrição e baixo IMC.


➤ Pré-natal inadequado.
Fadiga Ocupacional
➤ Anemia (hemoglobina < 10 g/dl).
➤ Contratilidade uterina excessiva.
➤ Baixo nível educacional.
➤ Fatores genéticos.
Fatores Fetais

➤ Anomalia congênita.
➤ Crescimento restrito.
➤ Feto do sexo masculino.

Os principais micro-organismos associados à prematuridade


são: E. Coli, Streptococcus do grupo B, Chlamydia trachomatis,
Trichomonas sp., Bacteroides sp., Gardnerella vaginalis,
Ureaplasma urealyticum, Peptostreptococcus sp., Neisseria
gonorrheae e Mycoplasma hominis.

VIDEO_07_R4_GO_07 Figura 6.  Colo uterino normal.

PREDIÇÃO E PREVENÇÃO
Considerando todas as complicações para o recém-nascido
descritas, várias tentativas foram propostas para identificar as
pacientes que evoluirão para o parto pré-termo e,
principalmente, para reduzir sua incidência. No entanto, poucas
medidas foram realmente eficazes nestas duas situações.

PREDIÇÃO DO PARTO PRÉ-TERMO


ULTRASSONOGRAFIA
Figura 7.  Colo uterino curto (14 mm).
A ultrassonografia é o melhor exame para avaliação do colo
uterino, sendo tanto confiável quanto reprodutível. A via
Não existe consenso sobre a utilização da medida do colo
transvaginal é a de escolha, pois não é influenciada pela
uterino como forma de rastreamento de parto pré-termo.
obesidade materna, posição do colo ou sombra da apresentação
Muitos autores recomendam sua utilização apenas em
fetal.
pacientes com história de parto pré-termo anterior, enquanto
outros advogam que ela seja utilizada de forma universal,
A medida do colo uterino deve ser feita em um corte mesmo em pacientes assintomáticas. O American College of
longitudinal, desde o orifício externo até o orifício interno. Esta Obstetricians and Gynecologists (ACOG) não recomenda o
avaliação normalmente é feita entre 18 e 24 semanas, no rastreamento universal em pacientes sem história de parto
mesmo momento da realização da ultrassonografia prematuro, porém relata que esta estratégia pode ser
morfológica. considerada.

O percentil 10 entre 22 e 24 semanas é de 25 mm e um estudo VIDEO_09_R4_GO_07


observacional identificou que um colo menor que este tamanho Publicações recentes sugeriram que a presença de imagem
no período descrito apresentou um risco relativo de 6,5 para hiperecogênica próxima ao orifício interno do colo uterino,
parto pré-termo antes de 35 semanas e 7,7 para parto antes de chamada de sludge, é indicativa de infecção intra-amniótica
32 semanas. O percentil 5 (20 mm) também é utilizado como subclínica e que está relacionada com trabalho de parto
ponto de corte para risco de parto prematuro, com aumento do prematuro (FIGURA 8). No entanto, a conduta frente a este
risco relativo e do valor preditivo positivo. achado ainda não é bem estabelecida, já havendo sido proposto
antibioticoterapia mas ainda sem evidências científicas sobre
sua eficácia.
RESIDÊNCIA MÉDICA –
SELEÇÃO UNIFICADA PARA RESIDÊNCIA MÉDICA
DO ESTADO DO CEARÁ – SU CE

As medidas de rastreamento das principais complicações da


gestação incluem avaliações bioquímicas e biofísicas.
Levando em consideração a oportunização e a possibilidade
de prevenção baseada em evidências científicas, qual medida
deve ser acrescentada ao exame morfológico fetal de
segundo trimestre em populações de alto risco,
assintomáticas?

Figura 8.  Sludge intra-amniótico.


a) Medida do colo uterino via transvaginal.

b) Dopplervelocimetria de artérias uterinas.

c) Dosagem da Fibronectina fetal no conteúdo vaginal.


DOSAGEM DA FIBRONECTINA FETAL NA
SECREÇÃO CERVICOVAGINAL d) Swab retal e vulvar para cultura de estreptococos do
grupo B.
A fibronectina fetal é uma glicoproteína produzida por diversas
células, incluindo hepatócitos, fibroblastos, células endoteliais e
R. Perceba que as bancas da prova de especialista nem
células do âmnio fetal. Ela é responsável pela adesão
sempre fogem da polêmica! Apesar de a indicação universal
intercelular do trofoblasto durante a implantação e pela
ser controversa na literatura, a medida do colo uterino por
manutenção da aderência placentária com a decídua uterina,
via transvaginal é um bom método de rastreamento de parto
sendo detectada em concentrações maiores quando há
prematuro em pacientes assintomáticas. Já a fibronectina
remodelamento estromal do colo.
fetal não foi eficaz neste sentido. Resposta: letra A.

A detecção da fibronectina fetal nas secreções cervicovaginais


foi descrita como um possível preditor de parto prematuro com
membranas íntegras, podendo ser esta detecção qualitativa ou PREVENÇÃO
quantitativa. Uma concentração maior que 50 ng/ml se associa a
parto em sete dias em 30% dos casos e parto em duas semanas Diversas medidas como farmacoterapia com indometacina ou
em 41%. Sua maior qualidade encontra-se no valor preditivo antibióticos, repouso ou suplementação de ômega 3, vitamina C
positivo, já que apenas 1% das mulheres com teste negativo (< e vitamina E não foram capazes de reduzir a incidência de
50 ng/ml) terá parto em uma semana. parto pré-termo. Atualmente, apenas a utilização de
progesterona e a cerclagem cervical em casos selecionados
Diversos estudos em pacientes assintomáticas falharam em foram eficazes como forma de prevenção primária.
mostrar benefício perinatal na detecção da fibronectina fetal.
Mais recentemente, tem-se recomendado sua mensuração Recentemente alguns estudos foram desenhados utilizando
associada com a medida do colo uterino para pacientes pessário vaginal em pacientes com colo curto entre 20 e 24
sintomáticas com menos de 34 semanas (FIGURA 9). semanas. Os resultados, no entanto, são controversos e ainda
não há recomendação de uso do pessário para prevenção de
trabalho de parto prematuro na prática clínica.

PROGESTERONA
Na maioria dos mamíferos, a retirada da progesterona é um
evento que resulta no parto. Nos humanos, apesar de os níveis
de progesterona continuarem elevados durante o parto,
Figura 9.  Associação da ultrassonografia transvaginal com
acredita-se que há uma redução da atividade dos seus
fibronectina fetal em gestantes sintomáticas com menos de receptores. Estes dados justificam a reposição da progesterona
34 semanas.
via intramuscular ou vaginal como forma de prevenção do
parto prematuro. No Brasil, apenas a via vaginal está
disponível.
Pacientes com história de parto pré-termo espontâneo anterior
devem receber suplementação com progesterona micronizada RESIDÊNCIA MÉDICA –
por via vaginal 200 mg/dia a partir de 16-24 semanas, que ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL –
deverá ser mantida até 34-37 semanas. Esta medida é capaz de AMRIGS
reduzir a recorrência do evento em torno de 35%.
Em relação ao nascimento pré-termo, analise as assertivas a
seguir: I. Parto pré-termo anterior é um dos mais
Outra indicação de progesterona é a identificação de um colo
importantes fatores de risco. II. Ruptura prematura das
uterino curto em uma paciente com menos de 24 semanas e
membranas é a causa identificável mais comum. III. Não há
sem história de parto prematuro, no chamado rastreamento
indicação de rastreamento rotineiro de parto pré-termo
universal. O ACOG considera um colo de 20 mm como indicativo
através da medida do colo uterino por via transvaginal. IV.
de reposição de progesterona, enquanto outras referências
Em pacientes com feto único e risco de parto pré-termo,
mencionam 25 mm. De qualquer maneira, estudos
deve-se usar progesterona vaginal. Quais estão CORRETAS?
demonstraram uma redução de até 45% na incidência de parto
prematuro, além de redução similar na morbimortalidade
neonatal.
a) Apenas I e II.

b) Apenas III e IV.


Até o momento, os estudos são controversos em relação ao uso c) Apenas I, II e III.
da progesterona em pacientes com gestação múltipla, com a
maior parte deles não demonstrando benefício na sua
d) Apenas I, II e IV.

utilização. Assim, a reposição de progesterona nesta população e) I, II, III e IV.


não está indicada.
R. Mais uma questão polêmica sobre o rastreamento de parto
VIDEO_10_R4_GO_07 pré-termo através da ultrassonografia no segundo trimestre!
As bancas de provas de especialistas tendem a considerar
este rastreamento universal válido, portanto a afirmativa III
CERCLAGEM UTERINA
está incorreta. A progesterona é o método de escolha para
A cerclagem uterina é um procedimento utilizado para o prevenção da prematuridade em pacientes de alto risco,
tratamento da incompetência istmocervical, causa importante como parto prematuro anterior, e a amniorrexe prematura é
de abortamento de segundo trimestre, e foi proposta como responsável por 30% dos casos de prematuridade. Resposta:
intervenção para prevenção de parto prematuro. letra D.

A realização de cerclagem uterina entre 16 e 24 semanas em


pacientes de baixo risco de parto prematuro com colo menor
que 25 mm não demonstrou benefício na redução de parto pré- DIAGNÓSTICO
termo, com alguns relatos inclusive de aumento de eventos. No
entanto, uma metanálise demonstrou que há redução da A diferenciação entre um verdadeiro e um falso trabalho de
incidência de prematuridade após cerclagem em pacientes com parto prematuro é muitas vezes difícil, considerando-se que há
colo curto (menor que 25 mm) E história de parto pré-termo maior atividade uterina a partir do terceiro trimestre. Por outro
(antes de 34 semanas). lado, a tentativa de caracterizar claramente o trabalho de parto
pré-termo pode resultar em atraso na conduta adequada.

O critério diagnóstico para trabalho de parto prematuro mais


aceito atualmente é o seguinte:

➤ Quatro contrações em 20 minutos ou oito em 60 minutos; E


➤ Dilatação cervical maior que 2 cm; OU

➤ Apagamento cervical maior ou igual a 80%.

A presença de contrações uterinas regulares sem a modificação


cervical é considerada como ameaça ou falso trabalho de parto
prematuro.

CONDUTA
A conduta depende de vários fatores, como idade gestacional,
vitalidade fetal e recursos neonatais. De forma resumida, a RESIDÊNCIA MÉDICA –
conduta oscila entre a tentativa de inibir a atividade uterina e ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL –
adotar medidas que possam melhorar o prognóstico fetal, como AMRIGS
corticoterapia e neuroproteção fetal, ou prestar assistência ao
trabalho de parto prematuro. A inibição do trabalho de parto só Qual das situações abaixo se constitui em contraindicação

está indicada quando o risco das complicações perinatais


absoluta para a inibição de um Trabalho de Parto

superar o risco de manutenção da gravidez e das condutas Prematuro?

adotadas ou quando há necessidade de transferência para


centros de referência de tratamento neonatais. a) Diabete tipo 1 compensado.

b) Corioamnionite.

c) Polidrâmnio.
INIBIÇÃO DO TRABALHO DE PARTO
d) Pré-eclâmpsia leve.
A inibição do trabalho de parto consiste no uso de drogas e) Pielonefrite materna.
tocolíticas. No entanto, estas medicações não prolongam de
forma significativa o parto, mas o atrasam em torno de 48
R. A presença de infecção das membranas amnióticas
horas. Este tempo é suficiente para o transporte para outra
justifica a interrupção da gestação pelos riscos maternos e
unidade com cuidados intensivos neonatais e para prescrição
fetais. Desta forma, não tem sentido fazer tocólise nestes
de corticoterapia, conforme discutiremos a seguir. O uso isolado
casos e sim induzir o parto, quando for possível. Resposta:
da tocólise, sem associação com a corticoterapia, não melhorou
letra B.
os resultados perinatais e também não há indicação da
manutenção da tocólise após o curso de corticoterapia.

Os agentes tocolíticos devem ser utilizados entre 24 e 34 ATENÇÃO


semanas, visto que após esta idade gestacional os resultados
neonatais são favoráveis. Antes de 24 semanas a mortalidade O objetivo da tocólise é ganhar tempo para prescrição da
neonatal é extremamente elevada e não é reduzida nem mesmo corticoterapia ou permitir a transferência da gestante!
pela corticoterapia, portanto também não há benefício da
tocólise nesta fase.
Vamos apresentar os principais tocolíticos e suas características:
O uso de antibioticoterapia em pacientes com membranas
íntegras ou o repouso no leito não foram capazes de ➤ Bloqueadores de canal de cálcio:
interromper ou adiar o trabalho de parto prematuro, portanto
não estão indicados para este fim. Atuam diretamente pelo bloqueio do influxo de íons de
cálcio pela membrana celular e inibição da liberação do
VIDEO_11_R4_GO_07 cálcio intracelular pelo retículo sarcoplasmático. A menor
quantidade de cálcio livre intracelular resulta em inibição
CONTRAINDICAÇÕES À TOCÓLISE da fosforilação-mediada da miosina de cadeia leve quinase,
➤ Morte fetal. resultando em relaxamento do miométrio. São considerados
por alguns autores como a medicação de escolha para
➤ Anomalia fetal letal. tocólise devido ao menor número de efeitos colaterais,
➤ Sofrimento fetal agudo. principalmente em comparação com os beta-agonistas.

➤ Pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia.


Os bloqueadores de canal de cálcio apresentam rápido início
➤ Sangramento materno com instabilidade de ação e posologia facilitada. Algumas sugestões de
hemodinâmica. posologias incluem uma dose de ataque oral com 30 mg de
➤ Corioamnionite (absoluta). nifedipina, seguida de 20 mg de nifedipina de longa duração
de 4-6 horas. Alternativamente, é possível utilizar 10 mg por
➤ Amniorrexe prematura (questionável).
via oral a cada 20 minutos até o máximo de quatro doses. Os
➤ Dilatação cervical avançada (≥ 4 cm). efeitos colaterais mais comuns são hipotensão, cefaleia e
➤ Contraindicações relacionadas ao agente. náuseas.
CONTRAINDICAÇÕES AO USO DE CONTRAINDICAÇÕES AO USO DE
BLOQUEADORES DE CANAL DE CÁLCIO BETAMIMÉTICOS
➤ Hipotensão. ➤ Cardiopatia sensível à taquicardia.
➤ Insuficiência aórtica. ➤ Diabetes descontrolado.

ATENÇÃO: o uso concomitante com sulfato de


➤ Inibidores da síntese de prostaglandina:
magnésio é potencialmente perigoso, devido ao
risco de bloqueio neuromuscular e hipotensão
Atuam inibindo a cicloxigenase e bloqueando a conversão
grave. do ácido araquidônico livre em prostaglandina. Uma vez
que as prostaglandinas E e F têm papel relevante na gênese
das contrações uterinas, através do aumento da formação de
➤ Betamiméticos:
gap junctions miometriais e aumento do cálcio intracelular
disponível, espera-se que sua inibição produza uma
Atuam na musculatura involuntária lisa, como nos diminuição das contrações.
receptores uterinos, causando relaxamento muscular.
Promovem a elevação do AMP-c, com consequente
Os efeitos colaterais maternos são leves, como náuseas e
diminuição do cálcio livre intracelular.
vômitos, e dificilmente limitam a sua utilização. No entanto,
o seu uso está associado com o fechamento do canal arterial
Esta classe de medicações é efetiva na inibição do trabalho em até 50% dos fetos expostos, principalmente após 32
de parto prematuro em 48 horas, porém apresenta diversos semanas. Muitas vezes esta constrição é transitória e
efeitos colaterais que limitam seu uso. Taquicardia materna, reversível após a suspensão da medicação, mas fechamentos
hipotensão, desconforto torácico, palpitação, tremor, persistentes já foram descritos com o uso contínuo. Outras
cefaleia, náuseas, vômitos, hipocalemia e hiperglicemia são complicações fetais e neonatais importantes são
efeitos colaterais comuns. Pacientes cardiopatas oligodramnia, enterocolite necrosante e canal arterial
frequentemente apresentam descompensação da doença de patente.
base, portanto não devem utilizar estas medicações caso não
suportem o aumento da frequência cardíaca.
Nesta classe de tocolíticos, a indometacina é o fármaco mais
frequentemente utilizado. Pode ser prescrita na dose inicial
Algumas das medicações disponíveis no mercado estão de 100 mg por via retal, seguida de 100 mg via retal a cada
listadas abaixo e não há evidências de que uma seja
12 horas ou 25-50 mg por via oral a cada 4 horas, por no
superior à outra: máximo 48 horas.


Salbutamol – cinco ampolas diluídas em 500 ml S.G. 5% (5
mcg/1 ml). Iniciar 10 gotas por minuto, aumentando 10 CONTRAINDICAÇÕES AO USO DE
gotas a cada 20 minutos até a cessação completa das INIBIDORES DA CICLOXIGENASE
metrossístoles ou até o surgimento de taquicardia
materna ou fetal; ➤ Disfunção plaquetária.


Ritodrina – 150 mg em 500 ml S.G. 5% em velocidade de ➤ Distúrbios da coagulação.
0,05 mg/min, com aumentos de 0,05 até a dose máxima de ➤ Disfunção hepática.
0,35 mg/min;
➤ Úlcera gastrointestinal.

Terbutalina – pode-se utilizar a via venosa ou subcutânea.
➤ Disfunção renal.
O esquema venoso pode ser realizado pela infusão de 2,5
mcg/min até a dose de 25 mcg/min. O esquema ➤ Asma.
subcutâneo pode ser realizado pela administração de 0,25
mg a cada 20 minutos, até o máximo de três horas. A
terbutalina, quando utilizada por via endovenosa, se ➤ Antagonista da ocitocina:
associa com maior frequência à ocorrência de edema
pulmonar. Portanto, prefere-se, neste caso, a via
subcutânea.
A ocitocina estimula a contração uterina ao converter o VIDEO_12_R4_GO_07
fosfatidilinositol em inositol trifosfato, que se liga a uma
proteína no retículo sarcoplasmático e libera cálcio no
citoplasma. O atosiban é um antagonista seletivo do receptor CORTICOTERAPIA
de ocitocina no miométrio e na decídua, impedindo as
contrações uterinas mediadas por este hormônio. Os efeitos A corticoterapia antenatal promove a síntese de surfactante no
colaterais maternos e fetais são considerados nulos, visto pulmão fetal, aumentando a complacência pulmonar, além de
que só há receptores de ocitocina no útero e nas mamas. Sua reduzir a permeabilidade vascular e melhorar a resposta
eficácia é similar aos outros agentes tocolíticos, porém seu neonatal ao surfactante. Também há relatos de aceleração na
custo atual é consideravelmente mais elevado. maturação pulmonar em outros órgãos, incluindo cérebro, rins
e intestino.
Sua posologia consiste em três etapas:
Estudos mostraram que a administração de betametasona ou

6,75 mg venoso durante um minuto; dexametasona antes do parto prematuro reduz a mortalidade
perinatal, síndrome do desconforto respiratório, hemorragia

300 mcg/min, IV, em três horas;
intraventricular, canal arterial patente e enterocolite

100 mcg/min, IV, durante três horas e meia. necrosante. É importante ressaltar que a corticoterapia
utilizada neste contexto, por um curto período, não está
Em casos de fracasso com a posologia proposta, mantém-se a associada com aumento de risco de corioamnionite mesmo em
dose de 100 mcg/min durante até 48 horas, não se devendo pacientes com amniorrexe prematura.
ultrapassar a dose total de 330 mg.
Outros corticoides não devem ser utilizados, pois não
atravessam eficazmente a barreira placentária, pois são
CONTRAINDICAÇÕES AO USO DE metabolizados pela 11-beta-hidroxiesteroide desidrogenase tipo
ANTAGONISTAS DA OCITOCINA  II placentária ou por apresentarem excessivo efeito
mineralocorticoide. Em pacientes que estão utilizando
➤ Não há contraindicações específicas ao uso do regularmente outros corticoesteroides, como por exemplo a
atosiban. prednisona, e que tenham indicação de maturação pulmonar
fetal, está indicada a troca para betametasona ou dexametasona
por 48 horas e posterior retorno ao corticoide em uso. Ou seja,
➤ Sulfato de magnésio:
outros corticoides não substituem a betametasona ou
dexametasona.
O sulfato de magnésio age competindo com o cálcio na placa
motora ou na membrana celular. Apesar de muito utilizado
As doses recomendadas são:
anteriormente como agente tocolítico, sua eficácia é inferior
aos outros agentes descritos anteriormente e não é mais
➤ Betametasona: 12 mg, IM, 1x ao dia, por dois dias;
recomendado com este intuito. Esta medicação pode ser
utilizada para prevenção de dano neurológico no recém- ➤ Dexametasona: 6 mg, IM, 2x ao dia, por dois dias.
nascido, como veremos a seguir.
As duas medicações parecem ser igualmente efetivas quando
comparamos a incidência de morte e morbidade neonatal. Não
RESUMO há diferença na dose recomendada para gestações gemelares e,
como há benefício no seu uso a partir de seis horas, o corticoide
INFORMAÇÕES QUE VOCÊ DEVE SABER SOBRE
deve ser prescrito mesmo que não seja possível completar as
OS TOCOLÍTICOS:
duas doses.

➤ Bloqueadores de cálcio – mais utilizado,


Um ciclo de corticoterapia deve ser prescrito entre 24 e 34
contraindicado em cardiopatas e pacientes com
semanas em toda gestante com risco de parto prematuro em
hipotensão. Uso cauteloso em conjunto com sulfato de
uma semana, independentemente da presença de rotura
magnésio;
prematura de membranas ovulares. Seus maiores benefícios
➤ Indometacina – contraindicada após 32 semanas por são atingidos em gestantes entre 28 e 34 semanas. Caso haja o
risco de oligodramnia e fechamento precoce do ducto diagnóstico de trabalho de parto prematuro, recomenda-se o
arterioso; uso de tocólise por 48 horas conforme discutido anteriormente.
➤ Beta-agonistas – contraindicados em cardiopata,
muitos efeitos colaterais; Mais recentemente houve uma ampliação do uso de corticoide
para maturação pulmonar fetal. O ACOG permitiu o seu uso a
➤ Atosiban – medicação mais cara, mas sem
partir de 23 semanas caso haja decisão de ressuscitação do
contraindicações específicas;
recém-nascido por parte da família.
➤ Sulfato de magnésio – menos efetivo que os outros.
No outro extremo, a utilização de corticoterapia entre 34 e 36 Indica-se sulfato de magnésio em todas as gestantes com idade
semanas e seis dias diminuiu a morbidade respiratória do gestacional entre 24 e 32 semanas em trabalho de parto ativo (>
recém-nascido, apesar de ter aumentado a incidência de 4 cm de dilatação, com ou sem RPMO) ou em parto pré-termo
hipoglicemia neonatal. Esta conduta após 34 semanas só poderá eletivo indicado por razões maternas ou fetais, na dose de 4-6 g
ser tomada caso a paciente não tenha feito corticoterapia em bolus durante 20 minutos, seguido de 1-2 g/hora de
anteriormente e se isto não for atrasar a conduta recomendada. manutenção, por no máximo 24 horas antes do parto, sendo
suspenso logo após o mesmo. Não se recomenda sua
readministração caso o parto não se concretize neste período.
ATENÇÃO Em indicações eletivas, preconiza-se sua administração por,
pelo menos, quatro horas antes do parto (FIGURA 10).
O corticoide entre 34 e 36 semanas e seis dias não deve
atrasar a conduta! Portanto, a tocólise não está indicada
nesse período.

VIDEO_13_R4_GO_07
A dose de resgate consiste em um novo ciclo de corticoterapia
caso nova ameaça de parto surja após sete dias da dose inicial.
Ela pode ser prescrita até 34 semanas. O uso de corticoterapia
por um período maior que dois ciclos está associado à redução
do peso ao nascer e do perímetro cefálico do recém-nascido,
portanto não é recomendada.

VIDEO_14_R4_GO_07
Mulheres diabéticas em uso de insulina devem ser
rigorosamente acompanhadas pelo risco de descontrole
glicêmico. Ocorre aumento de cerca de 30% na contagem total
Figura 10.  Sulfato de magnésio para neuroproteção.
de leucócitos e aproximadamente 45% de redução na contagem
de linfócitos dentro de 24h após injeção de betametasona, as
quais retornam aos valores basais dentro de três dias. No As pacientes deverão ser avaliadas para intoxicação pelo sulfato
entanto, não há aumento das formas jovens como bastões. de magnésio periodicamente, diagnosticada a partir da abolição
do reflexo patelar e redução da frequência respiratória (< 12
irpm). A oligúria (diurese < 25 ml/h) predispõe à intoxicação
Em relação ao feto, podem ocorrer alterações nos parâmetros
pelo magnésio.
de avaliação do bem-estar fetal, tais como diminuição ou
aumento da frequência cardíaca fetal basal, diminuição ou
aumento da variabilidade, diminuição dos movimentos fetais e
alterações nos parâmetros biofísicos fetais, as quais podem ser ASSISTÊNCIA AO TRABALHO DE
confundidas com comprometimento do bem-estar fetal. Tais
alterações são transitórias e retornam ao normal no quarto dia
PARTO PREMATURO
após a administração da primeira dose de corticoide. O parto deve ser assistido quando houver:

➤ Presença de contraindicações à tocólise;


SULFATO DE MAGNÉSIO PARA ➤ Idade gestacional maior que 34 semanas ou menor que 24
NEUROPROTEÇÃO semanas;

➤ Falha na tocólise.
Estudos recentes, incluindo grandes ensaios randomizados
placebo-controlados e metanálises, mostraram redução
significativa da morbidade neurológica e paralisia cerebral em O trabalho de parto de um feto prematuro apresenta alguns

recém-nascidos cujas mães receberam sulfato de magnésio detalhes importantes que precisam ser lembrados. Existe uma
antes do parto, apesar de o mecanismo para esta proteção ainda maior incidência de apresentação pélvica em comparação aos

não estar bem esclarecido. De qualquer maneira, as evidências fetos a termo, especialmente com menos de 32 semanas de

apontam que o sulfato de magnésio funciona como idade gestacional. Recomenda-se, nestes casos, a realização de
neuroprotetor quando o parto ocorre antes de 32 semanas. cesariana pela maior dificuldade de extração da cabeça
derradeira.
Alguns autores recomendam a monitorização fetal contínua, já
que a acidemia fetal intraparto pode piorar as complicações RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2020
atribuídas à prematuridade. Outro ponto importante é a SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO
profilaxia para o estreptococo do grupo B (GBS), que deve ser ESTADO DE PERNAMBUCO – SES-PE
feita de acordo com o protocolo discutido na apostila Obstetrícia Qual é a medicação que promove neuroproteção ao
Básica (FLUXOGRAMA 1). concepto, diminuindo as chances de paralisia cerebral no
parto prematuro antes de 32 semanas?

a) Terbutalina.
b) Sulfato de magnésio.
c) Progesterona.
d) Antagonistas de receptores de ocitocina.
e) Inibidores da cicloxigenase.

R. Apesar de todas as medicações prescritas terem alguma


relação com o trabalho de parto prematuro, apenas o sulfato
de magnésio é capaz de promover neuroproteção. Resposta:
letra B.

RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2020


SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE - SÃO PAULO – SUS-
SP
Gestante de 33 semanas encontra-se em trabalho de parto
Fluxograma 1.  Fluxograma para profilaxia do GBS. prematuro. A vitalidade fetal é adequada e a mãe não tem
comorbidades. A dinâmica uterina é de 3 contrações em 10
minutos, o foco é de 144 bpm, a dilatação é de 2 cm,
Antigamente, acreditava-se que a cesariana protegeria o feto
apresentação cefálica alta e móvel. As intervenções a serem
prematuro de hemorragia intracraniana e morte perinatal,
feitas nesse momento são:
principalmente aqueles com menos de 1.500 g. No entanto,
estudos mostraram que não há este benefício e esta prática não
a) Nifedipina, betametasona e penicilina.
é mais recomendada. Da mesma forma, não se recomenda
episiotomia rotineira ou fórcipe para proteção fetal. b) Atosibano e penicilina.
c) Inibina, sulfato de magnésico e cefazolina.
d) Terbutalina e sulfato de magnésio.
LEMBRE-SE e) Betametasona e sulfato de magnésio.

O trabalho de parto prematuro em paciente sem swab para R. Como não há uma contraindicação aparente para tocólise,
GBS é uma indicação de profilaxia para sepse neonatal para o devemos prescrever imediatamente este tipo de medicação.
estreptococo do grupo B! Mas lembre-se: a tocólise isoladamente não tem benefício,
devendo ser utilizada em conjunto com a corticoterapia para
melhorar o resultado neonatal! A prescrição de penicilina
VIDEO_15_R4_GO_07 para profilaxia da sepse neonatal pelo GBS não seria
obrigatória neste momento, visto que o trabalho de parto
ainda é bem inicial, mas não estaria errada. Não há
indicação de sulfato de magnésio para neuroproteção após
32 semanas. Resposta: letra A.
➤ Na presença de infecção: interrupção imediata em

ROTURA PREMATURA DE qualquer IG.

MEMBRANAS OVULARES
➤ Na ausência de infecção:

QUADRO DE RESUMO

Definição

Rotura espontânea das membranas amnióticas antes do


início do trabalho de parto. É dita pré-termo (RPPMO)
quando ocorre antes de 37 semanas de gestação.
Outros

Fatores de risco
Antibioticoprofilaxia para Streptococcus do grupo B,
corticoterapia e neuroproteção conforme indicações
➤ Exames invasivos: amniocentese e cordocentese (risco de
habituais.
1 a 2%).
➤ Incompetência istmocervical.

➤ Inserção baixa de placenta.


➤ Macrossomia.
DEFINIÇÃO E PREVALÊNCIA
➤ Polidramnia. A Rotura Prematura das Membranas Ovulares (RPMO), também
➤ Trabalho de parto prematuro. chamada de amniorrexe prematura, é definida como rotura
espontânea das membranas amnióticas antes do início do
➤ Infecções genitais (estrepto B, gonococo).
trabalho de parto. Ela é referida como pré-termo (RPPMO)
➤ Tabagismo. quando ocorre antes de 37 semanas de gestação.
➤ Sangramento genital.
Como há uma quebra da esterilidade intraútero após a RPMO,
➤ Vaginose bacteriana.
diversos parâmetros precisam ser avaliados para decidirmos se
➤ Gestação múltipla. a gestação deverá ser mantida ou interrompida.
➤ Deficiências nutricionais.
Ela ocorre em cerca de 8% das gestações a termo, enquanto a
➤ Doenças maternas.
RPPMO complica 3% de todas as gestações. Além disso, a RPMO
➤ Atividade sexual. é responsável por entre 30 e 35% dos partos prematuros e
➤ Traumatismo. também por grande parte da morbimortalidade associada ao
nascimento antecipado.
➤ História de parto prematuro.

VIDEO_16_R4_GO_07
Diagnóstico

➤ Anamnese e exame físico.


FATORES DE RISCO
➤ Outros: teste da nitrazina, pesquisa de elementos fetais,
teste da cristalização, ultrassonografia, AmniSure®, Actim A RPMO pode ser um processo fisiológico, quando por exemplo
PROM. ocorre em uma gestação a termo devido a um processo normal
de fraqueza progressiva das membranas, ou um processo
Conduta patológico de enfraquecimento que normalmente resulta na
RPMO pré-termo. A infecção intra-amniótica é frequentemente
identificada como causa de RPPMO, enquanto a história de
amniorrexe prematura pré-termo aumenta o risco de
recorrência em três vezes na gestação subsequente.
Os outros fatores de risco para RPMO são similares àqueles ➤ Detecção do pH vaginal (teste do papel de nitrazina): sabe-
encontrados no trabalho de parto prematuro espontâneo, como se que o pH vaginal normalmente situa-se entre 4,5 e 5,5,
comprimento cervical curto, polidramnia, IMC baixo, baixo enquanto o líquido amniótico tem pH alcalino (6,5 a 7,5).
nível socioeconômico, tabagismo e uso de drogas ilícitas. Assim Portanto, confirmando o pH vaginal acima do normal,
como no trabalho de parto prematuro espontâneo, muitas vezes podemos sugerir o diagnóstico de RPMO.
não é possível identificar um fator de risco ou causa associada à A fita é introduzida no fundo de saco posterior e, quando
RPMO pré-termo. azul, significa pH maior que 6-6,5, sendo, portanto, sugestivo
de RPMO. Sangramento, sabão, sêmen, cervicite e vaginose
podem tornar o pH mais alcalino e resultar em um teste
FATORES DE RISCO PARA RPMO
falso-positivo, enquanto um falso-negativo pode ocorrer na
presença de pouco líquido amniótico;
➤ Exames invasivos: amniocentese e cordocentese (risco de
1 a 2%). ➤ Teste da cristalização da secreção vaginal: o fluido obtido
de fundo de saco vaginal, aplicado sobre uma lâmina e
➤ Incompetência istmocervical.
deixado secar por 10 minutos apresentará na vigência de
➤ Inserção baixa de placenta. amniorrexe a típica aparência em folha de samambaia,
também observada no muco cervical durante a 1ª fase do
➤ Macrossomia.
ciclo menstrual em mulheres não grávidas (estímulo
➤ Polidramnia. estrogênico) – FIGURA 1. Durante a gestação, não é esperada
➤ Trabalho de parto prematuro. a cristalização do muco cervical, devido aos altos teores de
progesterona;
➤ Infecções genitais (estrepto B, gonococo).
➤ Tabagismo.
➤ Sangramento genital.

➤ Vaginose bacteriana.
➤ Gestação múltipla.
➤ Deficiências nutricionais.

➤ Doenças maternas (deficiência de alfa-1-antitripsina,


síndrome de Ehlers-Danlos, doença falciforme).

➤ Atividade sexual.
➤ Traumatismo.
Figura 1.  Teste da cristalização da secreção vaginal.
➤ História de parto prematuro.

DIAGNÓSTICO
VIDEO_17_R4_GO_07
Em mais de 90% dos casos, a RPMO é diagnosticada através de
anamnese e exame físico. A paciente refere perda de líquido
claro via vaginal, que pode ser de forma contínua ou em
pequena quantidade. À inspeção, visualiza-se o líquido
escorrendo pela fenda vulvar ou, quando isto não ocorre,
realiza-se um exame especular que identifica a saída de líquido
através do orifício externo do colo. É fundamental, durante o
exame especular, tentar visualizar se há prolapso de cordão,
algum sinal de infecção e qual é a apresentação fetal, quando
possível.

O toque vaginal deve ser realizado se houver contrações


uterinas e suspeita de trabalho de parto. Caso contrário, ele
deverá ser evitado, pois aumenta o risco de infecção
ascendente.

Nos casos duvidosos, podemos utilizar os seguintes testes


diagnósticos auxiliares:
➤ Teste do fenol vermelho: posiciona-se um tampão vaginal Devido ao custo elevado, deve-se restringir seu uso aos casos
na vagina da paciente e, após um tempo, adiciona-se algumas que não puderem ser diagnosticados pelo exame físico,
gotas do reagente, quando se observa a alteração da ultrassonografia, teste da cristalização arboriforme e teste
coloração (de laranja para vermelho); da nitrazina.
➤ Teste de Lanneta: identifica a mudança de coloração
(incolor para marrom) da amostra de secreção vaginal
depositada em lâmina e aquecida durante um minuto,
também confirmando a rotura de membranas;

➤ Presença de elementos fetais em secreção vaginal:


presença de lanugem e células da epiderme fetal (poligonais),
as últimas caracterizadas por assumirem coloração
alaranjada (orangiófilas) após tratamento com sulfato azul do
Nilo a 1%;

➤ Injeção de contrastes na cavidade abdominal: através de


amniocentese, introduzem-se corantes (índigo-carmim,
vitamina B12) na cavidade abdominal e observa-se se
ocorrerá o tingimento de um forro ou tampão vaginal após 30
minutos. É um método pouco utilizado na prática devido aos
riscos associados; Figura 2.  AmniSure®.

➤ Ultrassonografia: permite avaliar a diminuição do líquido


amniótico através do Índice de Líquido Amniótico (ILA) ou o
➤ Actim PROM®: é um teste similar ao AmniSure®, inclusive
Maior Bolsão Vertical (MBV). Considera-se oligodramnia quando comparamos a sensibilidade e especificidade
quando os valores são menores que 5 cm e 2 cm, diagnóstica, porém detecta a proteína de ligação ao fator de
respectivamente. Outras causas de oligodramnia, como crescimento insulina-like -1 (IGFBP).
crescimento intrauterino restrito e malformações renais
fetais, deverão sempre ser consideradas e resultados falso- VIDEO_18_R4_GO_07
negativos ocorrem em casos de polidramnia ou que ainda
não apresentaram grande perda de líquido por via
transvaginal;
RPMO A TERMO
➤ Dosagem de Alfafetoproteína: a AFP é a enzima produzida
pelo feto e eliminada pelo rim que está presente em altas Normalmente a RPMO após 37 semanas é seguida de contrações
concentrações no líquido amniótico, mas não na vagina de e início do trabalho de parto. Metade das pacientes em que se
mulheres grávidas em condições normais. Sua identificação opta pela conduta conservadora após este período tem o parto
na secreção vaginal é indicativa de perda líquida; em até 33 horas e 95% tem o parto em até 94 horas. O principal
risco da RPMO a termo é a infecção intrauterina, que está
➤ AmniSure®: trata-se de um teste rápido que detecta a
diretamente relacionada com o tempo de amniorrexe.
proteína alfa microglobulina placentária no fluido vaginal
(PAMG-1). A PAMG-1 apresenta nível reduzido no sangue e
nível basal extremamente reduzido (50-220 picogramas/ml)
nas secreções cervicovaginais quando as membranas fetais RPMO PRÉ-TERMO
estão intactas. Já suas concentrações no líquido amniótico
estão compreendidas num intervalo entre 2.000-25.000 ng/ml O tempo de latência entre a amniorrexe e o parto é
e o teste é capaz de detectar a PAMG-1 a partir de 5-7 ng/ml. inversamente proporcional à idade gestacional do evento. De
Desta forma, sua presença na secreção vaginal em altas qualquer maneira, independentemente da conduta obstétrica,
concentrações é indicativa de ruptura das membranas. metade das pacientes deste grupo terá o parto em uma semana.

Através de um kit específico, um swab estéril é inserido na Há evidência clínica de infecção intra-amniótica em 15 a 25%
vagina por um minuto e a seguir é transferido para um dos casos e a infecção puerperal ocorre em até 20%. Este risco é
frasco contendo um solvente. Após um minuto, introduz-se maior em idades gestacionais mais precoces. Outra complicação
uma fita de teste (AmniSure®) no frasco e o resultado é comum é o descolamento prematuro de placenta, que incide em
revelado pela presença de uma ou duas linhas após 5-10 2 a 5% das RPPMO.
minutos: uma linha visível significa resultado negativo para
fluido amniótico e duas linhas visíveis define um resultado
positivo. A ausência de linhas significa resultado inválido.

O fabricante informa uma sensibilidade de 99%,


especificidade de 100%, valor preditivo positivo de 100% e
valor preditivo negativo de 99%.
Os principais riscos para o feto são decorrentes das
complicações da prematuridade. O desconforto respiratório é a CONDUTA
complicação mais comum, mas hemorragia intraventricular,
enterocolite necrosante e sepse também ocorrem com Primeiramente, todas as pacientes devem ser internadas após o
frequência. A associação de RPPMO com infecção intrauterina diagnóstico de RPMO, visto que não há estudos que atestem a
ou aquela que ocorre em idades gestacionais mais precoces segurança para a conduta conservadora fora do ambiente
aumenta o risco de atraso de neurodesenvolvimento e lesão da hospitalar.
substância branca do sistema nervoso central.
A definição da conduta nos casos de amniorrexe prematura
A RPMO pré-viável ocorre em menos de 1% das gestações e a depende de algumas variáveis: idade gestacional, presença ou
probabilidade de morte e morbidade neonatal diminui quanto não de infecção, avaliação da vitalidade fetal e presença ou não
maior for a latência para o parto e maior a idade gestacional de trabalho de parto. A presença de infecção intra-amniótica,
que a RPMO ocorre. A sobrevivência é de 14,4% quando a descolamento prematuro de placenta ou sofrimento fetal
RPPMO ocorre antes de 22 semanas, subindo para 57,7% justificam a interrupção imediata da gravidez,
quando ocorre após esta idade gestacional. Em torno de 80% independentemente da idade gestacional.
terão parto dentro de duas a cinco semanas após a amniorrexe
pré-viável.

CORIOAMNIONITE
Outro problema da RPMO pré-viável é a hipoplasia pulmonar,
que acomete entre 10 e 20% dos neonatos e possui uma alta A principal origem da infecção é por via ascendente. A febre
letalidade. Esta complicação grave é rara quando a RPMO parece ser o único indicador confiável para o diagnóstico,
ocorre após 24 semanas, provavelmente porque já ocorreu quando associada à ruptura prematura de membranas. Já a
algum desenvolvimento alveolar pulmonar para suportar o leucocitose não parece ser um bom indicador de infecção
desenvolvimento fora do útero. Os maiores fatores associados isoladamente, devendo ser associado a outros parâmetros,
com a hipoplasia pulmonar são idade precoce da amniorrexe e como taquicardia fetal, sensibilidade uterina e odor vaginal
oligodramnia após o evento. A oligodramnia precoce também fétido.
resulta em malformações fetais, como implantação baixa de
orelhas, deformidade de membros e achatamento da face, na Não há consenso no diagnóstico de corioamnionite. O
chamada sequência de Potter. Ministério da Saúde (2012) define este diagnóstico a partir da
presença de febre materna (≥ 37,8ºC) e pelo menos dois dos
Neste contexto, a gestante também encontra-se em risco, com seguintes critérios:
relato de sepse materna em 1% dos casos, além de endometrite,
descolamento prematuro de placenta e retenção placentária. ➤
Leucocitose materna (leucometria > 15.000 cels/mm3);
➤ Taquicardia materna (> 100 bpm);
A FIGURA 3 resume o prognóstico da RPMO pré-termo.
➤ Taquicardia fetal (> 160 bpm);
➤ Sensibilidade uterina;
➤ Líquido amniótico com odor fétido.

Outros marcadores podem auxiliar no diagnóstico, como


dosagem de proteína C-reativa, dosagem de interleucina-6,
Velocidade de Hemossedimentação (VHS) e análise do líquido
amniótico por meio de amniocentese.

Após o diagnóstico, institui-se imediatamente a


antibioticoterapia empírica, pela associação de ampicilina (2 g,
IV, 6/6 horas) e gentamicina (5 mg/kg por dia ou 1,5 mg/kg 8/8
horas), que deverá ser mantida até 48 horas após o último
Figura 3.  Relação entre momento da RPMO pré-termo e o
intervalo do parto. episódio febril, não sendo necessária a administração de
manutenção oral. É possível a adição de clindamicina 900 mg
8/8 horas ou metronidazol 500 mg de 8/8 horas por via
VIDEO_19_R4_GO_07 intravenosa para ampliar a cobertura anaeróbia caso seja
Desta forma, percebemos que o que influencia diretamente o realizada cesariana ou se não houver resposta inicial ao
resultado gestacional é o momento da amniorrexe e o tempo tratamento antibiótico.
para o parto. Isto servirá como base para a conduta, que será
descrita a seguir.
É obrigatória a interrupção imediata da gravidez,
independentemente da idade gestacional, devido aos riscos RESIDÊNCIA MÉDICA –
maternos e fetais associados à terapia conservadora em ASSOCIAÇÃO MÉDICA DO RIO GRANDE DO SUL –
vigência de infecção intrauterina. Deve-se dar preferência ao AMRIGS
parto vaginal para evitar contaminação da cavidade abdominal.
Gestante primigesta apresenta-se na emergência com 33
semanas e ruptura prematura de membranas. Pré-natal sem
VIDEO_20_R4_GO_07
anormalidades. Ao exame físico, apresentou temperatura
RESIDÊNCIA MÉDICA – axilar de 39,1ºC, pressão arterial de 80/50 mmHg, frequência

SECRETARIA DE ESTADO DE SAÚDE DE GOIÁS – cardíaca materna de 126 bpm e batimentos cardiofetais de
170 bpm. Dinâmica uterina de duas contrações em 10
SES-GO
minutos. Apresentação cefálica e líquido claro fluindo pela
A corioamnionite responde por cerca de 25% dos partos cérvice uterina. Qual a conduta imediata mais adequada
prematuros. A principal causa da corioamnionite é a nesse caso?
infecção:
a) Iniciar antibioticoterapia para corioamnionite e realizar
a) Urinária. cesariana.

b) Dentária. b) Iniciar nifedipina para tocólise, após comprovado bem-


estar fetal.
c) Genital ascendente.
c) Não iniciar medicamento para tocólise pelo diagnóstico
d) Orofaringeana.
de ruprema, aplicar corticosteroide e aguardar a evolução
espontânea do parto.
R. A corioamnionite ou infecção intra-amniótica é uma
d) Iniciar antibioticoterapia para corioamnionite e iniciar
inflamação aguda das membranas e do córion da placenta,
ocitocina para indução imediata do parto.
tipicamente consequente à infecção bacteriana
polimicrobiana ascendente da vagina e do colo uterino no e) Coletar swab vaginal e anal para Streptococcus agalactie,
contexto de ruptura de membranas, condição que iniciar antibioticoprofilaxia com penicilina G cristalina e
corresponde a mais de 70% dos casos de corioamnionite. induzir imediatamente o parto com misoprostol.
Resposta: letra C.
R. A paciente do caso clínico tem diagnóstico de amniorrexe
prematura associada à febre, hipotensão arterial e
taquicardia materna e fetal. Estamos frente a um quadro de
corioamnionite e a conduta deverá ser antibioticoterapia
com interrupção da gestação. Mas cuidado! A melhor via de
parto é a vaginal, visto que a cesariana aumenta o risco de
infecção da cavidade abdominal. Resposta: letra D.

RPMO COM ≥ 34 SEMANAS


A conduta na amniorrexe com 34 semanas ou mais deve ser a
interrupção imediata da gestação. Uma metanálise demonstrou
que a indução do trabalho de parto reduziu o tempo entre a
RPMO e o parto, a incidência de corioamnionite e/ou
endometrite e a taxa de admissão em unidade de terapia
intensiva neonatal, isto sem aumentar a taxa de cesariana ou
parto operatório.

A indução pode ser feita tanto com misoprostol ou com


ocitocina, mas há relatos de aumento da taxa de corioamnionite
quando utilizado prostaglandinas. O uso de métodos mecânicos,
como a sonda de Foley, deve ser evitado também pelo risco de
infecção. O ACOG recomenda aguardar pelo menos 12 a 18
horas de contrações uterinas eficazes em vigência de ocitocina
para declarar falha de indução e indicar a cesariana. Deve-se
evitar toques vaginais frequentes para não aumentar o risco de
infecção ascendente.
O uso de antibióticos neste contexto deve-se restringir àquelas
pacientes que possuem indicação de profilaxia para o RESIDÊNCIA MÉDICA –
estreptococo do grupo B (FLUXOGRAMA 1). O uso profilático de HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES - UFRN
antibióticos na RPMO a termo apresentou resultados – HUOL
controversos com relação à redução da infecção intrauterina,
portanto ainda não é recomendado. Primigesta de 22 anos de idade, com gravidez de 25 semanas
é admitida no serviço de urgência obstétrica com diagnóstico
de rotura prematura de membranas ovulares. O uso de
corticoide, nesses casos, tem sido:

a) Relacionado ao aumento do risco de infecção materna.

b) Indicado para reduzir o risco de enterocolite


necrotizante.

c) Relacionado fortemente com sepsis neonatal.

d) Contraindicado por não ser benéfico nessa idade


gestacional.

R. A corticoterapia entre 24 e 34 semanas reduz a incidência


de síndrome do desconforto respiratório, enterocolite
necrosante, hemorragia intraventricular e morte neonatal,
sem aumentar o risco de infecção materna ou fetal mesmo
nos casos de RPMO. Resposta: letra B.

O sulfato de magnésio para neuroproteção fetal não possui


Fluxograma 1.  Fluxograma para profilaxia do GBS. qualquer restrição quando há RPMO e deve ser utilizado
seguindo as recomendações para o trabalho de parto
VIDEO_21_R4_GO_07 prematuro.

A tocólise profilática na vigência de RPMO, ou seja, quando não


RPMO ENTRE 24 E 34 SEMANAS há atividade uterina, não é recomendada, pois aumentou a taxa
de corioamnionite sem benefício materno ou fetal significativo.
Na ausência de infecção, há benefício na conduta conservadora Da mesma forma, em pacientes com trabalho de parto ativo a
nesta faixa de idade gestacional. A paciente deverá ser tocólise terapêutica não prolongou a latência ou melhorou os
internada e avaliada rotineiramente para infecção, resultados neonatais.
descolamento prematuro de placenta, compressão do cordão
umbilical, sinais de sofrimento fetal e trabalho de parto. Não há VIDEO_24_R4_GO_07
consenso na frequência desta avaliação, mas ela pode ser desde Um estudo multicêntrico americano demonstrou aumento do
diária até duas vezes por semana. O parto está recomendado período de latência entre a RPMO pré-termo (entre 24 e 32
quando a idade gestacional de 34 semanas for alcançada. semanas) e o parto nas pacientes que utilizaram
antibioticoterapia em comparação ao placebo, com 50% das
VIDEO_22_R4_GO_07 mulheres do grupo de estudo tendo parto após uma semana do
A elevação da temperatura pode indicar infecção intrauterina, evento. Além disso, os recém-nascidos apresentaram menor
enquanto outros achados, como leucocitose e marcadores de incidência de síndrome do desconforto respiratório,
inflamação, não são específicos na ausência de febre, enterocolite necrosante e eventos adversos compostos.
especialmente se foi administrada corticoterapia.
O esquema antibiótico utilizado neste estudo foi de ampicilina e
O uso de corticoide antenatal está recomendado, pois reduz as eritromicina venosos a cada 6 horas por 48 horas, seguido por
complicações da prematuridade sem aumentar o risco de amoxicilina e eritromicina oral a cada 8 horas por 5 dias. Como
infecção materna ou fetal, conforme discutido no capítulo a eritromicina venosa não é disponível no Brasil, o esquema
anterior. Um ciclo de corticoterapia está recomendado entre 24 antibiótico utilizado é o seguinte:
e 34 semanas, podendo ser considerado a partir de 23 semanas.
O ciclo de resgate, no entanto, é controverso neste contexto
assim como o uso de corticoterapia entre 34 e 36 semanas e seis
dias.

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O FLUXOGRAMA 3 resume a conduta na RPMO.
ANTIBIOTICOTERAPIA PARA AUMENTO DA
LATÊNCIA DA RPMO

Ampicilina 2 g, IV, a cada 6 horas, por 48 horas +


Azitromicina 1 g, VO, dose única. Após, amoxicilina 500
mg, 8/8 horas, por mais 5 dias.

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Se a paciente entrar em trabalho de parto em vigência do
antibiótico para latência da RPMO, deve-se trocar o esquema
para profilaxia do GBS (FLUXOGRAMA 2).

Fluxograma 3.  Conduta na Rotura Prematura das


Membranas Ovulares (RPMO).

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RESIDÊNCIA MÉDICA R4 – 2020


HOSPITAL UNIVERSITÁRIO ONOFRE LOPES -
UFRN – HUOL
Paciente de 24 anos, Gesta II Para I, sendo um parto normal,
chega ao serviço de urgência da maternidade apresentando
perda líquida vaginal. O cálculo da idade gestacional foi
compatível com 35 semanas e, ao exame obstétrico, detectou-
se apresentação cefálica e feto com boa vitalidade. O exame
especular confirma a amniorrexe. Diante desse caso, o
obstetra deve:

a) Realizar a antibioticoprofilaxia para sepse neonatal por


estreptococo do grupo beta e iniciar a indução do parto.
Fluxograma 2.  Profilaxia para GBS na RPPMO. b) Iniciar a antibioticoprofilaxia para sepse neonatal por
estreptococo do grupo beta e administrar corticoides para
A associação amoxicilina/clavulanato deve ser evitada, pois está o amadurecimento pulmonar fetal.
associada a maior risco de enterocolite necrosante. c) Administrar sulfato de magnésio para proteção neural do
feto e induzir o parto após 48 horas de iniciada a perda
líquida vaginal.

RPMO COM MENOS DE 24 d) Administrar corticoides para o amadurecimento


pulmonar fetal e realizar uma ultrassonografia para
SEMANAS avaliar o volume de líquido amniótico residual.

As pacientes deverão ser orientadas sobre o risco da conduta R. Frente a uma amniorrexe com mais de 34 semanas,
conservadora e a alta taxa de morbimortalidade perinatal neste recomenda-se a interrupção da gestação, preferencialemente
contexto. O ACOG e o Ministério da Saúde (2012) recomendam com indução do trabalho de parto, sem necessidade de
que a interrupção da gestação seja oferecida à paciente. corticoterapia ou sulfato de magnésio nesta idade
gestacional. Como não há relato de swab para GBS,
Caso a paciente opte pela conduta conservadora e não haja recomenda-se a profilaxia antibiótica já que
sinais de infecção, é possível o acompanhamento ambulatorial obrigatoriamente teremos um parto prematuro. Resposta:
até alcançar a viabilidade neonatal, quando a internação letra A.
hospitalar deve ser realizada. A antibioticoterapia de latência
pode ser feita neste período, no entanto a corticoterapia não é
recomendada, pois não reduz a altíssima mortalidade se o parto
ocorrer.
RESIDÊNCIA MÉDICA – SITUAÇÕES ESPECIAIS
SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DO ESTADO DE
Pacientes com RPMO pré-termo e herpesvírus ativo deverão ser
PERNAMBUCO – SES-PE
tratadas com aciclovir com intuito de diminuir a transmissão
Gestante com diagnóstico de ruptura prematura das vertical. Caso as lesões ainda estejam presentes no momento do
membranas na 33a semana de gestação, ausência de parto, está indicada a cesariana.
infecção, colo imaturo, apresentação cefálica e vitalidade
fetal preservada. Além de antibióticos, recomenda-se: A conduta para gestantes portadoras de HIV com RPPMO ainda
não é bem estabelecida. Dados iniciais sugeriam que a
a) Corticoterapia e conduta expectante. transmissão vertical aumentava com o tempo de bolsa rota, mas
parece que esta duração não influencia a transmissão vertical
b) Corticoterapia seguida de cesárea.
nas pacientes em uso de Terapia Antirretroviral (TARV) e baixa
c) Corticoterapia e indução do parto com misoprostol ou carga viral. Recomenda-se que a conduta seja individualizada,
ocitocina. considerando-se a conduta conservadora quando a
prematuridade for muito significativa, a paciente estiver
d) Indução do parto com misoprostol.
utilizando TARV e a carga viral for baixa.
e) Indução do parto com ocitocina.

Pacientes que apresentam RPMO após amniocentese


R. A ausência de infecção e sofrimento fetal permite a diagnóstica apresentam resultado gestacional favorável, com
conduta conservadora na RPMO entre 24 e 34 semanas, com frequente normalização do líquido amniótico e interrupção da
prescrição de antibioticoterapia para aumento da latência perda de líquido.
entre a amniorrexe e o parto e corticoterapia para melhorar
o resultado neonatal. Resposta: letra A.
Caso ocorra amniorrexe em uma paciente com cerclagem
uterina, não há consenso sobre a conduta e tanto a retirada
quanto a manutenção do fio são opções aceitáveis.

GESTAÇÃO SUBSEQUENTE
A paciente com RPPMO apresenta risco maior de recorrência e
parto prematuro. Assim, alguns autores recomendam o uso de
progesterona entre 16 e 24 semanas para pacientes com parto
prematuro espontâneo anterior, mesmo que o motivo do parto
tenha sido RPMO. Da mesma forma, é possível a realização de
cerclagem caso a paciente tenha história de parto prematuro
espontâneo e colo curto em ultrassonografia com menos de 24
semanas.

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