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Estreptococo do Grupo B

Adriana de Lima Mello

Enfermeira Obstetra, Doula e Educadora Perinatal

O estreptococo do Grupo B (EGB) é um diplococo gram-positivo


que pode colonizar o trato gastrointestinal, a vagina ou a uretra,
de forma assintomática, da mesma forma em países
desenvolvidos ou em desenvolvimento. Pode estar presente de
forma transitória, intermitente ou crônica. Não existe diferença
em relação à frequência da colonização quando comparamos
mulheres gestantes durante as várias fases da gestação e as não gestantes. Esta bactéria é
identificada através de um exame que se chama Swab (coleta de secreção vaginal e retal com
cotonete que é colocado em meio de cultura para posterior avaliação), este exame é solicitado
por alguns profissionais quando a mulher se encontra com 35 a 37 semanas de idade
gestacional. Atualmente no Brasil não há consenso sobre as práticas de coleta, bem como
tratamento de mulheres com estreptococo do Grupo B, pois não existem estudos locais que
demonstrem a prevalência da doença bem como o custo-benefício (redução de infecções) com
o tratamento.
O Streptococcus agalactiae foi identificado nos anos 60, nos Estados Unidos da América (EUA)
e emergiu como a principal causa infecciosa de morbidade e mortalidade precoce na década
de 1970 permanecendo ainda hoje como a principal causa de sepse de origem materna nesse
país. Ele também pode ser causa de infecção na gestante (15%), o que ocasiona várias
complicações como corioamnionite (infecção nas membranas da bolsa amniótica),
endometrite (infecção do útero), infecção do trato urinário e da cirurgia. A prevalência de
colonização materna pelo EGB é influenciada pelo local da coleta, período da gravidez em que
esta foi realizada, raça, idade (quanto menor a idade, maior é o risco), paridade (quanto menor
a paridade maior a chance de colonização) e nível sócio-econômico.
Segundo o Ministério da Saúde (MS) apenas 1:2000 recém-nascidos têm a infecção pelo
estreptococo do grupo B geralmente evidenciada como doença respiratória, sépsis ou
meningite na primeira semana de vida, com maior incidência e letalidade em recém-nascidos
com idade gestacional inferior a 37 semanas. A infecção é transmitida pela mãe durante a
passagem pelo canal de parto.
A forma de prevenção desta contaminação pelo bebê utilizada atualmente têm sido o uso de
antibiótico durante o trabalho de parto e parto, mais comum a Penicilina, porém, devido ao
baixo índice infecções graves têm se discutido o uso de antibióticos para todas as gestantes
com resultado positivo, pois segundo o MS, usar antibiótico para todas poderia ser perigoso
pelos efeitos colaterais, pela indução de aumento da resistência antimicrobiana e por não ser
um procedimento custo-efetivo, uma vez que em estudo de revisão recente do Cochrane
(OHLSSON;SHAH, 2009) que avaliou o uso de antibiótico para prevenção durante o trabalho de
parto e parto, não houve evidência de benefícios nos desfechos para os bebês e mães, que
recomendem o uso desta prática. A mortalidade de bebês por esta doença e a mortalidade
neonatal por todas as causas não diminuíram de forma significativa, assim como as mortes por
sépsis por outras bactérias que não o estreptococo B. Em relação às infecções maternas
também não houve redução significativa no grupo tratado. A conclusão é a de que no
momento não há evidências suficientemente boas que suportem o uso preventivo de
antibióticos durante o trabalho de parto e parto, para reduzir a doença e a mortalidade
causada pelo estreptococo B (grau de recomendação A – nível de evidência I) (OHLSSON;
SHAH, 2009. Desta forma não há recomendação nacional para a coleta deste exame.
Alguns pesquisadores mesmo diante dos fatos descritos mantém uma postura mais
conservadora, mesmo diante das orientações do MS, e recomendam o uso de antiobiótico
preventivo nos seguintes casos:
“ - Bacteriúria (presença de infeção urinária) pelo EGB em qualquer época da gestação;
- Gestante com filho anterior com doença invasiva pelo EGB;
- Gestante com resultado de cultura positiva para EGB:
Parto vaginal: Realizar a antibiótico a partir do início do trabalho de parto e repetir a cada 4
horas até o nascimento.
Parto cesáreo com trabalho de parto: realizar 4 horas antes e no momento da cesárea.
- Gestantes com culturas não realizadas, inconclusivas ou resultado desconhecido, mas com
fatores de risco: rompimento da bolsa ≥18 horas, parto com Idade Gestacional < 37 semanas,
temperatura materna ≥38°C durante o trabalho de parto e parto.”
E a pesquisa para o estreptococo do Grupo B é indica nos seguintes casos:
“- Nos casos de trabalho de parto prematuro, rotura da bolsa, cerclagem (procedimento em que
se “costura” o colo do útero para evitar o abortamento), deve-se colher cultura quando ocorrer a
internação no hospital se a mesma não tiver resultado prévio;
- Gestante com mais que 22 semanas de idade gestacional e que necessite de
internação hospitalar por risco de trabalho de parto prematuro;”
O uso de antibiótico devido a resultado positivo para o EGB em gestação anterior; cesárea
planejada sem de trabalho de parto ou rompimento da bolsa com IG ≥ 37 semanas, resultado
negativo 5 semanas antes do parto, independente dos fatores de risco, é contra-indicado.

Bibliografia:

- Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção


Básica. Atenção ao pré-natal de baixo risco / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à
Saúde. Departamento de Atenção Básica. – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2012.

- COSTA, H.P.F. Prevenção de doença perinatal pelo estreptococo do Grupo B. Sociedade


Brasileira de Pediatria, 2010.

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