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CONHECIMENTOS DE DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

Dos direitos e deveres individuais e coletivos.

Dos Direitos Sociais.

Da Nacionalidade.

Dos Direitos políticos; Dos Partidos Políticos.


Conhecimentos de direitos e
garantias fundamentais

Direitos e garantias fundamentais superadas, mas sim incorporadas às novas gerações de


direitos fundamentais.
Os direitos fundamentais ganham destaque principal-
mente após a Revolução Francesa, momento em que diversas Primeira Geração
correntes filosóficas e políticas como o racionalismo e o
contratualismo inspiram a vontade popular de impor limites Surge no Século XVIII, no âmbito da Revolução Fran-
ao Estado, reconhecendo um núcleo mínimo de proteção do cesa. Os direitos fundamentais conquistados nessa época
indivíduo perante o Estado. A ideia de direitos fundamentais configuram liberdades negativas (status negativus), já que
surge da tentativa de se estabelecer um rol de direitos que representam um impedimento à atividade estatal, uma
seria inerente à própria condição humana, que não depen- omissão, um não fazer. Trata‑se dos direitos civis e políticos.
desse de uma vontade política. São, por isso, considerados
direitos naturais. Segunda Geração
Nossa Constituição relaciona os direitos fundamentais
em seu Título II, denominado “Dos Direitos e Garantias Desenvolvem‑se no Século XIX, inspirados pela Revolu-
Fundamentais”. A posição “geográfica” desse titulo, logo ção Industrial, sendo reconhecidos constitucionalmente no
no início do texto constitucional, demonstra a importância Século XX. Tais direitos possuem um caráter positivo (status
dos direitos fundamentais em nossa ordem constitucional. positivus) e exigem uma prestação do Estado. Inserem, assim,
Partindo do pressuposto de que o constituinte não utiliza uma obrigação de fazer, uma ação do ente estatal. São os
palavras inúteis, podemos concluir que direitos e garantias direitos sociais, econômicos e culturais.
possuem diferenças axiológicas. Os direitos possuem um ca-
ráter declaratório, enquanto as garantias possuem um nítido terceira Geração
sentido assecuratório. Os direitos se declaram, enquanto as
garantias se estabelecem, demonstrando que as garantias Os direitos de terceira geração, desenvolvidos no Sé-
são elementos instrumentais que garantem o respeito aos culo XX, voltam‑se à defesa dos interesses de titularidade
direitos que são declarados na Constituição Federal. coletiva, denominados interesses difusos. Esses direitos são
supraindividuais, já que não pertencem a um indivíduo
titularidade dos Direitos Fundamentais especificamente, mas sim a uma coletividade. São exemplos
o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado
Os direitos fundamentais podem ser exercidos tanto e a proteção do idoso.
pelas pessoas físicas quanto pelas pessoas jurídicas. Apesar A primeira geração remonta ao ideal de liberdade.
de o art. 5º, caput, da Constituição Federal referir‑se tão A segunda geração volta‑se à igualdade. Por fim, a terceira
somente aos brasileiros e estrangeiros residentes no país,
geração preocupa‑se com a fraternidade ou solidariedade.
entende‑se que os estrangeiros em geral, ainda que apenas
Temos, assim, a célebre frase, que marcou a Revolução Fran-
visitando a República Federativa do Brasil, também são
cesa: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
titulares desses direitos.
Há quem defenda a existência de quarta e quinta geração
A titulo de exemplo: Pablo, argentino e residente na
Argentina, solteiro, de dezoito anos de idade, de passagem de direitos fundamentais. Não há, porém, um consenso sobre
pelo Brasil, com destino aos Estados Unidos da América, foi quais sejam esses direitos fundamentais.
interceptado em operação da PRF. Nessa situação hipotéti-
ca, não obstante Pablo não seja residente no Brasil, todos Características dos Direitos Fundamentais
os direitos individuais fundamentais elencados no caput
do art. 5º da CF devem ser respeitados durante a referida Relatividade – Os direitos não são absolutos: eles podem
operação policial.1 ser relativizados, principalmente quando entram em choque.
As pessoas jurídicas também podem ser titulares de Até mesmo o direito à vida, que pode ser considerado o mais
direitos fundamentais, mas apenas daqueles direitos que fundamental dos direitos, pode ser relativizado. Exemplo
são com elas compativeis. São, assim, impedidas de exercer de relativização do direito à vida é encontrado no caso da
certos direitos como os direitos políticos (votar, ser votado pena de morte, autorizada na hipótese de guerra declarada.
etc.). Até mesmo as pessoas jurídicas de direito público são A relativização dos direitos fundamentais pode advir da
titulares de direitos fundamentais. capacidade de conformação que é dada ao legislador. Assim,
mesmo nos casos em que não existe uma reserva legal, ou
Geração dos Direitos Fundamentais seja, mesmo quando a constituição não faz referência à lei
é possível que o legislador venha a delimitar a forma de
Os direitos fundamentais não surgiram de forma ins- utilização dos direitos fundamentais.
tantânea. A conquista dos direitos fundamentais ocorreu No caso de choque de direitos fundamentais, teremos
ao longo da história, de tal forma que podemos identificar de observar certos parâmetros. Em primeiro lugar, deve ser
diversas gerações de direitos, que nada mais são do que a observado o princípio da legalidade. Segundo esse princípio,
representação de momentos históricos e os direitos ali a atuação do intérprete deve ser pautada nos critérios de
conquistados. As gerações de direitos também podem ser necessidade e adequação. Além disso, a hipótese de choque
denominadas dimensões de direitos fundamentais, termo de direitos fundamentais também inspira a utilização do
que deixa mais claro o fato de que as gerações não são princípio da harmonização ou da concordância prática, que
1
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/Classe A/
requer que o aplicador adote uma interpretação que evite
Padrão I/2012. o sacrifício total de um dos direitos em conflito.
Inalienabilidade – Não é possível transferir um direito tucional quanto na órbita legal3. A Constituição Federal de
fundamental. 1988 estabelece uma série de prerrogativas para as mulhe-
Irrenunciabilidade – Não é possível renunciar totalmente res, como a proteção de seu mercado de trabalho, prazo
a um direito fundamental. diferenciado para a licença à gestante, prazo reduzido para
Imprescritibilidade – Os direitos fundamentais não são a aposentadoria e inexistência de obrigação de alistamento
alcançados pela prescrição. A prescrição corresponde à perda militar em tempos de paz.
de uma pretensão em virtude do decurso do tempo. II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
historicidade – Os direitos e garantias fundamentais alguma coisa senão em virtude de lei;
possuem origem histórica.
Inviolabilidade – Não podem ser violados os direitos Comentário: traduz esse inciso o princípio da legalida-
fundamentais. de4. Todos nós podemos fazer tudo o que a lei não proíba,
Efetividade – O Estado deve primar por garantir o res- o que exprime a nossa capacidade de autodeterminação,
peito e a efetividade dos direitos fundamentais. também chamada autonomia das vontades.
Universalidade – Os direitos fundamentais alcançam a
todos. A autonomia das vontades definida no art. 5, II, da Cons-
tituição Federal não pode ser confundida com o princípio da
Obs.: os direitos e as garantias fundamentais consa- legalidade estrita ou restrita, que está descrito no art. 37 da
grados constitucionalmente não são ilimitados, uma vez Constituição Federal. O referido artigo, ao estipular a
que encontram seus limites nos demais direitos igualmente necessidade de observância da legalidade, impõe que o
consagrados na mesma Carta Magna.2 administrador público apenas faça o que está previsto em
lei. Podemos assim distinguir as duas legalidades:
Direitos e Deveres Individuais e Coletivos
Autonomia das vontades Legalidade estrita (art. 37 da CF).
Assim dispõe o art. 5º da Constituição Federal: (art. 5º, II, da CF)
Vincula os particulares Vincula o administrador público.
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qual- Permite que se faça tudo Apenas admite que se faça o que
quer natureza, garantindo‑se aos brasileiros e aos o que a lei não proíba a lei prevê.
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança O princípio da legalidade não pode ser confundido com
e à propriedade, nos termos seguintes: o princípio da reserva legal. A reserva legal impõe que certas
matérias sejam regidas apenas por lei em sentido estrito5.
Em primeiro lugar, há que se frisar que o dispositivo acima É o caso, por exemplo, da previsão de crimes e cominação
transcrito reproduz o princípio da isonomia, que consiste de penas, que somente pode ser feita por lei.
na proibição de criação de distinções que não sejam funda-
mentadas. Assim, impõe a Constituição que os iguais sejam III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamen-
tratados de forma igual e que os desiguais sejam tratados de to desumano ou degradante6;
forma desigual. Assim, por exemplo, justifica‑se a existência
de critérios diferenciados para homens e mulheres em uma
prova física em um concurso público ante as nítidas diferen- Comentário: cuida o dispositivo da dignidade da pessoa
ças fisiológicas entre os gêneros. humana. Este inciso está em consonância com o que dispõe
Denomina‑se igualdade material aquela que permite a o art. 1º, III, da Constituição Federal.
existência de diferenciações, desde que devidamente
justificadas. A igualdade formal que impede a estipulação IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo ve-
de distinções em qualquer hipótese muitas vezes resultará dado o anonimato7;
em injustiças, pois deixa de considerar as peculiaridades de
certas formações sociais. Comentário: a liberdade de expressão, como todo direito
A igualdade em nossa ordem constitucional deve ser le- fundamental, não é absoluta. Diversos limites serão encon-
vada em conta tanto na lei quanto perante a lei. A igualdade trados no exercício concreto de tais direitos. Primeiramente,
na lei é verificada quando da elaboração legislativa, impondo não se pode utilizar a liberdade de expressão para cometer
a formação de leis que tenham como pilar a inexistência de atos ilícitos, ofendendo os direitos fundamentais. Assim,
diferenciações odiosas. A igualdade perante a lei impõe o impede‑se, por exemplo, a utilização desse direito com a in-
tratamento igualitário por parte do aplicador do direito, ou tenção de ofender alguém. A repressão contra a má utilização
seja, por parte daquele que venha a interpretar a norma e a dos direitos fundamentais somente é efetiva se acompanhada
aplicar a disposição abstrata a um caso concreto. de identificação do responsável. O anonimato é vedado jus-
tamente por impossibilitar a responsabilização daqueles que
Passamos a comentar os setenta e oito incisos que com- venham a utilizar o direito fora dos limites constitucionais.
põem o art. 5º da Constituição Federal.
V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao
I – homens e mulheres são iguais em direitos e obriga- agravo, além da indenização por dano material, moral ou à
ções, nos termos desta Constituição; imagem;

Comentário: trata‑se de mais uma decorrência do prin- 3


Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑MS/Técnico Judiciário/Área Adminis-
cípio da isonomia. A previsão acima, porém, não impede trativa/2013.
a existência de distinções entre homens e mulheres. Tais 4
Assunto cobrado na prova da Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligên-
diferenciações podem ser feitas tanto no âmbito consti- 5
cias/2012.
Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑RO/Técnico Judiciário/2012.
6
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anac/Técnico Administrativo/2012.
2
Cespe/MPS/Agente Administrativo/2010. 7
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anac/Técnico Administrativo/2012.
Comentário: a proteção ao direito de intimidade pode
ser relativizado quando entra em choque com outros direi-
Comentário: duas possíveis punições contra quem uti- tos, como o direito de informação, que será estudado mais
liza de forma errada sua liberdade de expressão estão aqui à frente. A proteção da intimidade, como veremos a seguir,
dispostas. Primeiramente, temos o direito de resposta, que é apta até mesmo para justificar o segredo de justiça, que
exige do ofensor a concessão de meios para que o ofendido impede a publicidade de atos processuais.
venha a defender‑se publicamente. A segunda forma de O direito de imagem envolve aspectos físicos, inclusive a
punição corresponde à indenização por dano material, moral voz. Fica configurada a proteção, por exemplo, com a utilização
ou à imagem. A Constituição não define parâmetros para a comercial da imagem sem a autorização do titular do direito.
fixação do valor da indenização, que deverá ser fixado, em Pessoas públicas possuem uma tendência à relativização do di-
regra, pelo Poder Judiciário. reito de imagem frente ao direito de informação da sociedade.
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo
garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar
e a suas liturgias8; socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial12;
Comentário: a liberdade acima descrita alcança os fenô- Comentário: a penetração sem o consentimento do mo-
menos, possibilitando o livre exercício das crenças religiosas e rador pode ocorrer a qualquer hora do dia quando se tratar
a livre adoção de concepções cientificas, filosóficas, políticas de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro.
etc. Sendo o Brasil um país laico, não é mais aceita a previsão Para que o ingresso no domicílio seja realizado mediante
de religião oficial no País. determinação judicial, porém, é necessário que ele ocorra
durante o dia, considerado esse o período entre a aurora e
VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de
o crepúsculo, ou seja, aquele em que há luz solar.
assistência religiosa nas entidades civis e militares de O ingresso por determinação judicial está limitado por re-
internação coletiva9; serva jurisdicional, o que significa que não poderá ocorrer por
determinação de qualquer outra autoridade (polícia, Minis-
Comentário: são considerados locais de internação tério Público etc.) ou por comissão parlamentar de inquérito.
coletiva os hospitais, as prisões e os quartéis, por exemplo.
O conceito de casa para efeito de inviolabilidade de do-
micílio não se limita ao conceito civil, alcançando os locais
VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de
habitados de maneira exclusiva. São incluídos no conceito
crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se
os escritórios, as oficinas, os consultórios e, ainda, os locais
as invocar para eximir‑se de obrigação legal a todos imposta e de habitação coletiva, como hotéis e motéis.
recusar‑se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei10; A titulo de exemplo: no curso de uma investigação criminal,
a autoridade policial competente encontra indícios de que
Comentário: são consideradas obrigações a todos im- bens furtados há um ano de uma repartição pública estejam
postas, a obrigação de votar e o alistamento militar, que em guardados na residência dos pais de um dos investigados. A
tempos de paz obriga a todos os homens de nacionalidade autoridade policial dirige‑se, então, ao imóvel, durante o dia,
brasileira. Se alguém oferecer uma excusa de consciência onde, sem o consentimento dos moradores e independen-
para deixar de cumprir uma obrigação a todos imposta, terá temente de determinação judicial, efetua busca que resulta
de se sujeitar ao ônus de uma obrigação alternativa. Se, na localização dos bens furtados. Nessa hipótese, será inad-
porém, a obrigação alternativa não for cumprida, será missível, no processo, por ter sido obtida de maneira ilícita.13
aplicada, por exemplo, a pena de perda dos direitos políticos,
nos termos do art. 15, IV, da Constituição Federal. XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das
comunicações telegráficas, de dados e das comunicações
IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artis- telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas
tica, cientifica e de comunicação, independentemente de hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de
censura ou licença11; investigação criminal ou instrução processual penal14;
Comentário: a proibição da censura não impede que o Comentário: os sigilos, assim como todos os demais direi-
Estado venha a limitar a atividade de comunicação social, tos fundamentais, não são absolutos. Eles podem sofrer limi-
impedindo que os meios de comunicação venha a oferecer pro- tação legal ou judicial. Em relação ao sigilo das comunicações
gramação que não seja condizente com os valores da sociedade telefônicas, verifica‑se a previsão de uma reserva jurisdicional.
ou que sejam ofensivos a determinados grupos. A classificação Sendo assim, somente por ordem judicial é possível quebrar
indicativa de diversões públicas e a limitação à publicidade de o referido sigilo. Outra imposição posta em relação ao sigilo
tabaco, bebidas alcoólicas, remédios, terapias eagrotóxicos são das comunicações telefônicas é a necessidade de que somente
exemplos desse tipo de atividade, que é plenamente legítima. seja determinada a quebra para fins de investigação criminal
ou instrução processual penal. Não é possível quebrar o refe-
X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra rido sigilo em causas cíveis. Além disso, é necessário que seja
e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização observada a forma estabelecida em lei.
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; O sigilo das comunicações telefônicas não pode ser
confundido com o sigilo dos dados telefônicos. O extrato das
8
Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ‑SP/Escrevente Técnico Judiciário/2012.
9 12
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE‑AL/Técnico Judiciário/Área Administra- Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Ministério da Integração Nacio-
tiva/2010. nal/Secretaria Nacional de Defesa Civil/201 e Vunesp/Tribunal de JuStiça‑SP/
10
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/Ministério da Integração Nacio- Escrevente Técnico Judiciário/2010.
13
nal/Secretaria Nacional de Defesa Civil/2012; FCC/Assembleia Legislativa‑SP/ FCC/TJRJ/Técnico de Atividade Judiciária/2012.
14
Agente Técnico Legislativo/Direito/2010 e FCC/TRE‑AL/Técnico Judiciário/Área Assunto cobrado na prova do Vunesp/Tribunal de Justiça‑SP/Escrevente Técnico
Administrativa/2010. Judiciário/2010.
11
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Ancine/Técnico Administrati-
vo/2012 e FCC/TRE‑AL/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010.
ligações telefônicas é protegido pelo sigilo de dados, que não O direito de locomoção é protegido pelo habeas corpus
está sujeito à reserva jurisdicional. O conteúdo das ligações e somente é garantido dentro do território nacional.
é o que se denomina sigilo telefônico e está protegido pela
XVI – todos podem reunir‑se pacificamente, sem armas,
reserva jurisdicional.
O sigilo de dados engloba, por exemplo, os dados ban- em locais abertos ao público, independentemente de autori-
zação, desde que não frustrem outra reunião anteriormente
cários, fiscais e telefônicos.
convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio
Não estão sujeitos à reserva jurisdicional o sigilo da cor-
aviso à autoridade competente17;
respondência, das comunicações telegráficas e de dados. As-
Comentário: o direito de reunião, como se pode perce-
sim, é possível que a quebra seja determinada, nesses casos,
ber, depende do preenchimento de uma série de requisitos:
por ordem de uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito. a) ser realizada de forma pacífica;
b) seus participantes não podem estar armados;
XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou c) a reunião deve ocorrer em locais abertos ao públicos;
profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei d) exige um prévio aviso à autoridade competente, sem
estabelecer; a necessidade, porém, de autorização dessa autoridade;
e) não pode frustrar uma reunião anteriormente convo-
Comentário: esse inciso dispõe sobre norma de eficácia cada para o mesmo local.
contida, já que a liberdade de exercício de trabalho, ofício ou Outro requisito que pode ser inserido nesse rol é o de
profissão pode ser restringida pela lei que venha a estabelecer que a reunião seja temporária e episódica, como nos ensina
qualificações profissionais para determinada profissão. Dessa o autor Alexandre de Moraes.
forma, a inexistência de uma lei regulamentadora de certa pro- O direito de reunião também engloba passeatas, carrea-
fissão não é impedimento ao seu exercício, mas sim a garantia tas, comícios, desfiles, assim como cortejos e banquetes de
de uma ampla liberdade de acesso à atividade profissional. caráter político, que são formas legítimas de reunião. Caso
A liberdade profissional não engloba, porém, atividades o direito de reunião seja desrespeitado, o remédio cabível
ilícitas. O princípio da legalidade, anteriormente estudado, será o mandado de segurança, ação cabível para a proteção
permite que se faça tudo que não seja proibido por meio de de direito líquido e certo.
lei. Assim, não se pode exercer a “profissão” de traficante de
drogas porque tal atividade é ilícita, proibida pela legislação. XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
Por outro lado, a prostituição é totalmente livre em nosso vedada a de caráter paramilitar18;
País porque não existe lei regulamentando a atividade.
Comentário: o direito de associação permite que pessoas
XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e físicas e jurídicas se agrupem em prol de um interesse comum.
resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exer- Segundo o texto constitucional, é livre a formação de asso-
cício profissional15; ciações, desde que elas tenham um fim lícito e não possuam
caráter paramilitar. Para que uma associação tenha caráter
Comentário: o direito de informação pode ser encarado paramilitar, é necessário que ela venha a ter características
sobre duas óticas. similares às estruturas militares, tais como o uso de uniformes,
Sob o ponto de vista privado, o direito de informação da palavras de ordem, hierarquia militarizada, táticas militares etc.
sociedade englobará, por exemplo, a atividade jornalística,
que pode divulgar informações, ainda que pessoais, que XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de
sejam de interesse da sociedade. Admite‑se, nessa atividade, cooperativas independem de autorização, sendo vedada a
interferência estatal em seu funcionamento19;
porém, o sigilo da fonte, quando for necessário ao exercício
profissional. Esse sigilo não impede, porém, a responsabi-
Comentário: como visto no inciso anterior, é livre a
lização do responsável pela informação no caso de ela ser
criação de associações. A associação de pessoas em um
inverídica, por exemplo. regime de cooperativa, porém, pressupõe o preenchimen-
O direito de informação sob o aspecto privado será es- to de diversos requisitos legais, tendo em vista os diversos
tudado adiante, no inciso XXXIII deste artigo. benefícios que são concedidos a esse tipo de associativismo.
Não é permitida a interferência do estado no funcionamento
XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo das associações, o que não impede que o Poder Judiciário
de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele venha a suspender ou dissolver uma associação no caso de
entrar, permanecer ou dele sair com seus bens16; se verificar a prática de uma atividade ilícita.
A titulo de exemplo: cinco amigos, moradores de uma
Comentário: o direito de locomoção, como os demais favela, decidem criar uma associação para lutar por me-
direitos fundamentais, não é absoluto. lhorias nas condições de saneamento básico do local. Um
Primeiramente, há que se observar, para o seu exercício, político da região, sabendo da iniciativa, informa‑lhes
a prevalência da paz. Em hipóteses de guerra, que suscitam que, para tanto, será necessário obter, junto à Prefeitura,
a instituição de Estado de Sítio, é possível a restrição da uma autorização para sua criação e funcionamento. Nesta
liberdade de locomoção no território nacional. Além desse hipótese, a informação que receberam está errada, pois a
aspecto, há que se observar que o direito de locomoção Constituição Federal estabelece que a criação de associa-
inclui os bens pertencentes ao seu titular. Isso não significa, ções independe de autorização.20
porém, que os bens possuam de forma autônoma o direito
17
de locomoção, mas sim que eles possam acompanhar o Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico
Legislativo/Técnico em Radiologia, Esaf/Ministério da Integração Nacional/
proprietário que esteja se locomovendo. Secretaria Nacional de Defesa Civil/2012. Vunesp/Tribunal de Justiça‑SP/
Escrevente Técnico Judiciário/2010.
18
15
Assunto cobrado na prova do Vunesp/Tribunal de Justiça‑SP/Escrevente Técnico Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012.
19
Judiciário/2010. Assunto cobrado na prova da FCC/Assembleia Legislativa‑SP/Agente Técnico Legis-
16
Assunto cobrado na prova do Cespe/PRF/Agente Administrativo/Classe A/ lativo/2010 e Vunesp/Tribunal de Justiça‑SP/Escrevente Técnico Judiciário/2010.
20
Padrão I/2012. FCC/Instituto Nacional do Seguro Social/Técnico do Seguro Social/2012.
XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapro-
priação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse
XIX – as associações só poderão ser compulsoriamente social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro,
dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão ju- ressalvados os casos previstos nesta Constituição;
dicial, exigindo‑se, no primeiro caso, o trânsito em julgado21;
Comentário: a desapropriação não pode ser confundida
Comentário: como estudado no inciso anterior, as as- com o confisco, que é uma forma de expropriação definida
sociações podem ser compulsoriamente dissolvidas ou no art. 243 da Constituição Federal. A desapropriação resulta
terem suas atividades suspensas por uma decisão judicial. na aquisição compulsória de uma propriedade por parte do
A hipótese de dissolução, porém, mostra uma medida mais Estado, que deverá fundamentar tal ato de força na neces-
drástica, o que impõe que a decisão judicial seja revestida de sidade pública, na utilidade pública ou no interesse social.
um caráter definitivo, sem possibilidade de reforma por meio Essa previsão demonstra bem a ideia do inciso anterior, que
de recurso. Por conta disso, exige‑se o trânsito em julgado demonstra que o interesse do Estado está acima de interes-
de uma decisão judicial para que ela possa dissolver uma ses particulares quando se trata de dar à propriedade uma
associação. uma decisão terá trânsito em julgado quando função social. A indenização devida pelo ente estatal será,
não for mais cabível a interposição de recurso contra ela. de regra, justa, prévia e em dinheiro. A própria Constituição
Federal, porém, excepciona tal previsão, dispondo, em seus
XX – ninguém poderá ser compelido a associar‑se ou a arts. 182, §4º, III, e 184, acerca da desapropriação‑sanção,
permanecer associado; na qual a indenização é recolhida com base em titulos da
dívida pública e titulos da dívida agrária.
Comentário: assim como há a liberdade de criação de
associações, temos também a liberdade individual de inte- XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade
grar ou deixar de integrar a associação. Os integrantes da competente poderá usar de propriedade particular, assegu-
associação, portanto, não poderão ser compelidos a ingressar rada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano23;
na entidade ou de continuar compondo a associação.
Comentário: esse inciso trata da requisição adminis-
XXI – as entidades associativas, quando expressamente trativa, que permite ao Estado a utilização compulsória da
autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados propriedade particular. Existem duas diferenças quanto à
judicial ou extrajudicialmente22; indenização paga na requisição e na desapropriação. Pri-
meiramente, a indenização na requisição administrativa não
Comentário: a principal finalidade de uma associação é, representará o valor total do bem, mas apenas o valor do
sem dúvida, a defesa de interesses dos associados. A defesa dano eventualmente causado. Em segundo lugar, tendo em
dos interesses pode ocorrer perante o poder judiciário ou vista que o perigo iminente não é previsível, temos que o pro-
de forma extrajudicial. A defesa de interesses por meio da prietário somente será indenizado posteriormente ao uso,
associação, porém, depende de autorização dos associados, e não de forma prévia, como acontece na desapropriação.
que podem se expressar de forma individualizada ou conce-
der uma autorização genérica. XXVI – a pequena propriedade rural, assim definida em
A defesa de interesses dos associados é realizada por lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de
meio do instituto da representação processual. Na represen- penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua ati-
tação processual a associação fala em nome do associado e, vidade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar
por tal razão, precisa da autorização desse associado. o seu desenvolvimento;
Existe uma situação em que a associação atua de forma
extraordinária por meio da substituição processual. Trata‑se Comentário: a penhora consiste na utilização de bens do
da hipótese de impetração de mandado de segurança devedor para a quitação de sua dívida. O Poder Judiciário,
coletivo. A associação, nesse caso, defende interesses dos porém, não poderá utilizar‑se desse instituto para penhorar
associados em nome próprio, razão pela qual não necessita propriedades rurais se estiverem presentes alguns requisitos:
de autorização. – tratar‑se de uma propriedade pequena, tal qual defi-
nido em lei;
XXII – é garantido o direito de propriedade; – for a propriedade trabalhada pela família;
– a obrigação objeto do inadimplemento referir‑se a
Comentário: o núcleo de direitos enumerados no caput dívida contraída para a produção.
do art. 5º já dispõe sobre o direito de propriedade, consi-
derado pela doutrina como inserido em norma de eficácia Tendo em vista a impossibilidade de penhora dessas
contida. Isso significa que é possível que o legislador venha a terras, torna‑se pouco interessante o empréstimo de valores
restringir certos aspectos da propriedade, desde que não ve- aos respectivos produtores rurais. Por tal razão, dispõe a
nha a reduzi‑la aquém de seu núcleo mínimo, ou seja, desde
Constituição que a lei disporá sobre os meios de financiar seu
que não venha a desconfigurar esse direito de propriedade.
desenvolvimento, que muitas vezes é fomentado pelo Estado.
XXIII – a propriedade atenderá a sua função social;
XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de
Comentário: a propriedade, como qualquer direito utilização, publicação ou reprodução de suas obras, trans-
fundamental, não é absoluta, devendo ser garantida na pro- missível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar24;
porção em que também garante o bem‑estar da sociedade.
O descumprimento da função social da propriedade pode Comentário: a propriedade intelectual também é pro-
levar, por exemplo, à desapropriação do bem, destinando‑o a tegida no âmbito constitucional. Aqui estamos a tratar dos
uma finalidade que atenda ao interesse social, como a direitos autorais, que protegem bens imateriais destinados
reforma agrária.

21 23
Assunto cobrado na prova da FCC/Assembleia Legislativa‑SP/Agente Legislativo Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/PRF/Agente Administrativo/
de Serviços Técnicos e Administrativos/2010. Classe A/ Padrão I/2012 e Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria
22
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ‑SP/Escrevente Técnico Judi- Nacional de Defesa Civil/2012.
24
ciário/2013 e FCC/Assembleia Legislativa‑SP/Agente Técnico Legislativo/2010. Assunto cobrado na prova do Cespe/Ancine/Técnico Administrativo/2012.
essencialmente a uma função estética (obras literárias, tante salientar que essa regra, por questões de soberania,
músicas, pinturas etc.). Compete à legislação a definição do somente é aplicável aos bens situados no Brasil.
prazo o qual os herdeiros poderão usufruir dos direitos
patrimoniais da propriedade intelectual. XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa
do consumidor;
XXVIII – são assegurados, nos termos da lei:
a) a proteção às participações individuais em obras co- Comentário: o Direito Constitucional constitui a base de
letivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive diversos ramos do Direito, instituindo as diretrizes necessá-
nas atividades desportivas; rias para que o legislador venha a criar a base legal necessária
b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico à plena eficácia de seus preceitos.
das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, Isso é exatamente o que ocorre com o Direito do Con-
aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e sumidor. Estudar o Direito Consumerista sob a ótica cons-
associativas; titucional é visitar os preceitos que servem de base para a
instituição de diversas garantias, tal qual aquelas definidas
Comentário: a coautoria, por exemplo, também deve ser no Código de Defesa do Consumidor.
protegida, tendo em vista que o texto constitucional protege Sendo assim, não se cuida aqui de estudar o Direito do
as participações individuais em obras coletivas. A imagem e Consumidor, mas sim as disposições inseridas dentro da
a voz humanas também são protegidas, independentemente ótica constitucional. Esse é um ponto que merece destaque
de sua utilização comercial. Cabe lembrar, porém, que tanto a no presente estudo.
imagem quanto a voz podem sofrer divulgação, independen- A Constituição Federal começa a referir‑se ao consumidor
temente de autorização, quando houver um interesse público em seu art. 5º, XXXII, que assim determina: “XXXII – o Estado
de informação. Nesse caso, a relativização desse dispositivo promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;”.
encontra amparo no art. 5º, XIV, da Constituição Federal, que Verifica‑se que a Constituição Federal não elabora lista-
trata do direito de informação. O direito de fiscalização do gem sobre o que venha a ser o direito do consumidor. Por
aproveitamento econômico das obras é feito, por exemplo, outro lado, traz a obrigação constitucional de sua proteção
por meio do ECAD – Escritório Central de Arrecadação e Dis- pelo Estado. Tal defesa será efetivada por meio da edição de
tribuição, entidade que arrecada e distribui direitos autorais. leis, como se verifica no Código de Defesa do Consumidor
(Lei nº 8.078/1990).
XXIX – a lei assegurará aos autores de inventos indus- O referido código também possui previsão no Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT). O ADCT,
triais privilégio temporário para sua utilização, bem como
em seu art. 48, determina que o Congresso Nacional deveria
proteção às criações industriais, à propriedade das marcas,
elaborar o Código de Defesa do Consumidor dentro de cento
aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo
e vinte dias após a promulgação da Constituição Federal.
em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico
Esse dispositivo possui grande importância, já que criou a
e econômico do País; obrigação de legislar sobre a matéria, reduzindo, assim, a
discricionariedade do Poder Legislativo.
Comentário: apesar de se relacionar também com a O referido prazo não foi respeitado, visto a data de edição
propriedade intelectual, a propriedade industrial se difere do da Lei nº 8.078, 11 de setembro de 1990.
direito autoral em virtude do caráter pragmático da invenção, Os consumidores também são protegidos pelo texto cons-
que se volta à utilidade da atividade criativa. Como a utilidade titucional quando é estabelecida, no art. 24, VIII, da Constitui-
deve ser regulada segundo o interesse social e o desenvolvi- ção Federal, a competência concorrente para a edição de lei
mento tecnológico e econômico do País, o privilégio de utili- que disponha sobre a responsabilidade por dano causado ao
zação dessa propriedade será apenas temporário. Após um consumidor. Amplia‑se, assim, a gama de normas que podem
determinado período, uma invenção, por exemplo, poderá ser ser editadas nesse sentido, nas órbitas federal e estadual.
produzida e comercializada sem necessidade de licença de seu Outro dispositivo de grande interesse para o direito do
inventor ou do detentor do direito de propriedade industrial. consumidor é o que garante o esclarecimento acerca dos
impostos que incidem sobre mercadorias e serviços. Assim
XXX – é garantido o direito de herança; dispõe o art. 150, § 5º, da CF:
Comentário: o direito de herança, como todos os de- A lei determinará medidas para que os consumidores
mais direitos fundamentais, não é absoluto, podendo ser sejam esclarecidos acerca dos impostos que incidam
relativizado, por exemplo, quando a ele se opõem débitos sobre mercadorias e serviços.
decorrentes de atividades ilícitas praticadas pelo de cujus,
como estudaremos no dispositivo a seguir. Essa disposição constitucional ganha destaque pelo fato
de consistir em obrigação destinada ao ente Estatal, que
XXXI – a sucessão de bens de estrangeiros situados no institui tributos. Demonstra‑se, assim, que o Direito do Con-
País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge sumidor não se restringe a impor obrigação ao fornecedor de
ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais bens ou serviços, mas também a todos aqueles que possam
favorável a lei pessoal do de cujus25; atingir a categoria dos consumidores.
Por fim, destacamos a disposição expressa no art.
Comentário: a Constituição brasileira tenta proteger 170, V, que estabelece a defesa do consumidor como um dos
cônjuge e filhos brasileiros quando da partilha de bens de princípios da ordem econômica. A inserção do direito
estrangeiros situados no Brasil. Para tanto, dispõe que deve consumerista em nossa ordem econômica representa um
ser aplicada a lei mais favorável aos familiares brasileiros, contrapeso ao liberalismo econômico, destacado pela liber-
mesmo que, para tanto, seja necessário afastar a legislação dade de iniciativa. Demonstra que a atividade econômica,
civil brasileira para que seja aplicada a legislação do país de apesar de livre, não se situa em posição de anarquia, tendo
origem do de cujus, ou seja, do estrangeiro falecido. Impor- em vista o papel cogente dos direitos fundamentais, como
25
do consumidor.
FCC/Assembleia Legislativa‑SP/Agente Técnico Legislativo/2010.
de convenção de arbitragem livremente acordada em um
negócio jurídico. É possível também que a Fazenda Pública
Essas são as disposições constitucionais relacionadas ao venha a condicionar um parcelamento tributário à renúncia
Direito do Consumidor. do direito de discutir o débito perante o Poder Judiciário.
Em alguns casos, o prévio acesso à via recursal adminis-
XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos
trativa se mostra necessário para a configuração do interesse
informações de seu interesse particular, ou de interesse
de agir, condição para o ajuizamento de uma ação. Para a
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob
impetração de habeas data, por exemplo, é necessário que
pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo
seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado26; o interessado em obter acesso ou a retificação de seus
dados pessoais comprove a existência de prévia negativa do
Comentário: o direito de informação pode ser encarado detentor do banco de dados.
sob ótica pública ou privada. Sob o aspecto privado, refere‑se A justiça desportiva possui uma precedência sobre o
ao direito de ser informado, independentemente de censu- sistema judicial no que se refere às causas relativas à dis-
ra. Sob a ótica pública, podemos entender tal prerrogativa ciplina e às competições desportivas. Nesse caso, a justiça
como o direito que possuímos de obter, junto aos órgãos desportiva terá o prazo de 60 dias, a partir da instauração
públicos, informações de interesse particular, ou de interesse do processo, para proferir sua decisão final. Somente após
coletivo ou geral. Esse direito é essencial, tendo em vista a o esgotamento da instância desportiva é que será possível
adoção de forma de governo republicana, que insere a ideia submeter a causa ao Poder Judiciário.
de que o Estado é uma coisa pública, de todos, razão pela
qual deve imperar o princípio da publicidade. A lei definirá o XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato
prazo no qual, sob pena de responsabilidade, a informação jurídico perfeito e a coisa julgada;
será prestada. Há, porém, exceções a esse princípio e que Comentário: nosso sistema constitucional adota a ideia
possibilitam a existência de informações sigilosas nos órgãos de irretroatividade da lei, impedindo, assim, que uma nova
públicos. Esse sigilo deverá estar amparado na segurança da lei produza efeitos sobre atos anteriormente realizados, até
sociedade e do Estado. mesmo sobre os efeitos futuros desses atos. A irretroativida-
Interessante notar que os fundamentos para o sigilo das
de, porém, não é total. A proibição constitucional limita‑se
informações constantes dos órgãos públicos recebeu funda-
aos casos em que a aplicação retroativa da lei prejudica o
mento diverso do segredo de justiça, que, segundo o art. 5º,
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
LX, da CF, será possível nos casos de proteção do interesse
A Lei de Introdução ao Código Civil, o Decreto‑Lei nº
social ou da intimidade.
4.657/1942, define o alcance dos referidos termos da
seguinte forma:
XXXIV – são a todos assegurados, independentemente
do pagamento de taxas:
a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral,
direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder; respeitados o ato jurídico perfeito, o direito adquirido
b) a obtenção de certidões em repartições públicas, e a coisa julgada.
para defesa de direitos e esclarecimento de situações de § 1º Reputa‑se ato jurídico perfeito o já consumado
interesse pessoal27; segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou.
§ 2º Consideram‑se adquiridos assim os direitos
Comentário: trata o presente inciso de uma gratuidade que o seu titular, ou alguém por êle, possa exercer,
constitucional incondicionada, o que significa dizer que a como aquêles cujo comêço do exercício tenha têrmo
cobrança de taxas para o exercício do direito de petição ou pré‑fixo, ou condição preestabelecida inalterável,
do direito de obter certidões será sempre inconstitucional. a arbítrio de outrem.
Há que se ressaltar que a constituição dispõe também sobre § 3º Chama‑se coisa julgada ou caso julgado a decisão
a gratuidade de duas certidões específicas: de óbito e de judicial de que já não caiba recurso.
nascimento, no art. 5º, LXXVI, da CF, que no âmbito consti-
tucional alcança apenas os reconhecidamente pobres, nos XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;
termos da lei.
Comentário: a proibição da existência de juízo ou tribunal
XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário de exceção impede que alguém seja julgado por um órgão
lesão ou ameaça a direito; judicial que não seja aquele ordinariamente competente para
o julgamento da causa. A vedação do dispositivo, porém, não
Comentário: cuida‑se da inafastabilidade da jurisdição se limita a esse aspecto, relativo à competência. A proibição
ou do princípio do amplo acesso ao Poder Judiciário, que também visa a evitar que no processo seja utilizado proce-
demonstra a intenção do constituinte de submeter ao Poder dimento diverso daquele previsto em lei, ofendendo, assim,
Judiciário toda lesão ou ameaça de lesão a direito, afastando, a legislação processual.
assim, o modelo francês de contencioso administrativo, ou
seja, de submissão de questões administrativas a tribunais XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a orga-
específicos. Sendo assim, seria inconstitucional, por exemplo, nização que lhe der a lei, assegurados:
a estipulação de taxas judiciárias elevadas ou fixadas em per- a) a plenitude de defesa;
centuais sobre o valor da causa, sem limite, pois impedem o b) o sigilo das votações;
amplo acesso da população ao Poder Judiciário. c) a soberania dos veredictos;
Em certos casos é possível transacionar acerca do direito d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos
de acesso à máquina judiciária, por exemplo, nas hipóteses contra a vida;
26
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ‑SP/Escrevente Técnico Comentário: o júri configura uma forma de exercício direto
Judiciário/2012 e Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional
de Defesa Civil/2012.
da soberania popular, tendo em vista que assegura ao povo
27
Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci-
vil/2012.
o julgamento de crimes dolosos contra a vida. No tribunal do em branco, que admitem a existência de complemento a ser
júri, o conselho de sentença, formado por pessoas leigas, do veiculado por normas infraconstitucionais, como a Lei de
povo, será o juiz de fato, sendo que o juiz de direito, togado, Tóxicos, por exemplo, que possui regulamento infraconstitu-
apenas terá a função de coordenar os atos processuais. cional no intuito de disciplinar quais substâncias devem ser
Como foi dito, o tribunal do júri possui competência para consideradas entorpecentes para efeitos penais.
julgar os crimes dolosos contra a vida, que são aqueles crimes
cometidos intencionalmente e que se voltam diretamente XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;
contra o bem “vida”. São exemplos de crimes contra a vida
o homicídio, o aborto, auxílio ou a instigação ao suicídio e o Comentário: trata‑se do princípio da irretroatividade da lei
infanticídio. Para que o crime seja julgado pelo júri, é neces- penal mais maléfica, da retroatividade da lei penal mais
sário que ele se volte diretamente contra a vida, não sendo benéfica ou da ultratividade da lei penal mais benéfica.
cabível o julgamento de crimes que se destinam a ofender Segundo o referido princípio, a legislação penal não pode
outros valores, mas que acabam por atingir também a vida ser aplicada a fatos produzidos antes de sua vigência, salvo
da vítima, tais como o latrocínio e a lesão corporal seguida quando tratar‑se de aplicação que beneficie o réu.
de morte. Dessa forma, se uma pessoa comete um crime quando
No júri, é admitida a utilização de quaisquer meios lícitos da vigência de uma Lei A e, posteriormente, surge uma lei
para o convencimento do conselho de sentença, garantia que B, mais maléfica, a data do julgamento será aplicada a Lei A,
a Carta Maior denomina plenitude de defesa. Também será ainda que não mais tenha vigência, tendo em vista que não
garantido o sigilo da votação, o que impede que os juízes se trata de retroatividade em prol do réu.
leigos sejam ameaçados ou que sejam feitas tentativas de
suborno, por exemplo. Por fim, cabe lembrar que o vere-
dicto resultante do julgamento do conselho de sentença é
soberano, o que impede que o juiz‑presidente do tribunal
venha a alterar alguma conclusão decorrente da votação. Isso
não impede, por outro lado, que sejam interpostos recursos
contra a decisão proferida pelo tribunal do júri, ocasião na
qual é possível que o julgamento seja desconstituído. No caso de a lei posterior ser mais benéfica, a condena-
ção aplicar‑lhe‑á, ainda que não vigente à época da conduta
XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem delitiva. Essa retroação pode até mesmo desconstituir deci-
pena sem prévia cominação legal; sões que já tenham transitado em julgado.
Cabe nota de que não se admite a Combinação de Leis.
Comentário: trata‑se do princípio da reserva legal ou da Se a lei posterior for em parte melhor e em parte pior que a
anterioridade da lei penal. A definição de crimes e a comina- anterior, o juiz não pode se utilizar da parte benéfica de uma
ção de penas somente é possível por meio de lei em sentido Lei W e da parte benéfica da Lei K, sob pena de agir como
estrito, excluindo‑se portanto atos normativos primários, um legislador positivo, já que criará uma terceira lei. O juiz
como as medidas provisórias. A previsão constitucional deverá, portanto, analisar qual das leis é mais branda para
desse inciso, porém, não impede a existência de leis penais beneficiar o réu no caso concreto.

Ex. 1:

Crime Permanente
Na hipótese de crime permanente, a prática criminosa se alonga no tempo. Como na extorsão mediante sequestro, a lei
será aplicada levando‑se em conta o último momento em que praticado ato executório do crime. Vejamos.

Ex. 2:

XLI – a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos Comentário: primeiramente, há que se asseverar que o
direitos e liberdades fundamentais; racismo consiste em atitude de segregação, não se limitando a
ofensas verbais de conteúdo discriminatório. Ademais, o racis-
Comentário: trata‑se de cláusula genérica de proteção mo não precisa estar atrelado acritérios biológicos, englobando
ao próprio sistema de garantias fundamentais do cidadão. qualquer forma de discriminação baseada em critérios étnicos,
religiosos etc. A inafiançabilidade impede a concessão de liber-
XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e dade provisória mediante pagamento de fiança. A imprescriti-
imprescritivel, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei; bilidade impede que o Estado venha a perder sua pretensão
XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará,
entre outras, as seguintes:
punitiva em virtude do decurso do tempo. Por fim, a pena de
a) privação ou restrição da liberdade;
reclusão impõe a aplicação de regime de pena inicialmente
b) perda de bens;
fechado, sendo cabível, porém, a progressão de regime.
c) multa;
d) prestação social alternativa;
XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insusceti-
e) suspensão ou interdição de direitos;
veis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos
Comentário: as penas descritas no presente inciso for-
como crimes hediondos, por eles respondendo os mandan-
malizam um rol meramente exemplificativo das penas que
tes, os executores e os que, podendo evitá‑los, se omitirem;
podem ser adotadas em nosso ordenamento jurídico. Estabe-
lece a Constituição, ainda, o princípio da individualização da
Comentário: os delitos definidos nesse inciso não admi-
pena, que impõe a pena adequada ao réu, segundo elemen-
tem o pagamento de fiança com a finalidade de se obter a
liberdade provisória, bem como a concessão dos benefícios tos objetivos (relacionados à conduta criminosa) e subjetivos
da graça ou da anistia. Interessante notar que será cabível (relativos ao perfil do réu). Segundo esse preceito, deve o juiz,
a modalidade omissiva em relação àqueles que puderem ao proceder à dosimetria da pena, adequar a pena de forma
evitar esses crimes. a amoldar‑se perfeitamente à situação segundo critérios de
quantidade, tipo e regime de cumprimento.
XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritivel a Por conta desse preceito já foi considerada inconstitucional
ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem a tentativa de se proibir a progressão de regime, que permite
constitucional e o Estado Democrático28; ao réu progredir, passando do regime fechado, mais grave,
para os regimes semiaberto e aberto. A imposição de regime
Comentário: o presente inciso disciplina o terceiro grupo integralmente fechado retira do juiz a possibilidade de indivi-
de crimes que mereceram do constituinte uma repressão dualizar a pena segundo as peculiaridades existentes no caso,
especial. Tal qual no racismo, foi excluída a possibilidade de aplicando o mesmo regime de pena em qualquer situação.
pagamento de fiança e de prescrição de tais delitos.
Sendo assim, temos o seguinte panorama no que se XLVII – não haverá penas:
refere aos crimes com repressão especial, definidos cons- a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos
titucionalmente: termos do art. 84, XIX;
– inafiançáveis: racismo, crimes hediondos, tráfico, b) de caráter perpétuo;
tortura, terrorismo e ação de grupos armados contra c) de trabalhos forçados;
a ordem constitucional e o Estado Democrático; d) de banimento;
– imprescritiveis: racismo e ação de grupos armados e) cruéis;
contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;
– sujeitos a reclusão: racismo; Comentário: a pena de morte, como podemos perce-
– insuscetiveis de graça ou anistia: hediondos, tráfico, ber, somente é cabível quando o Presidente da República
tortura e terrorismo. declara guerra, sendo aplicada nas hipóteses previstas na
legislação penal específica57.
Cabe lembrar que nada impede que a legislação venha a Apesar de a Constituição Federal proibir a condenação
ampliar as características aqui listadas, prevendo, por exem- em relação a penas de caráter perpétuo, é possível que uma
plo, que outros crimes também sejam sujeitas a prescrição. sentença condenatória venha a impor pena de duzentos anos
de reclusão, por exemplo. Ocorre que, apesar de a sentença
XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, impor pena que provavelmente extrapola a prazo de vida
podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do de um ser humano, impõe o Código Penal que a execução
perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos dessa pena não poderá ultrapassar o prazo de trinta anos,
sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do o que acaba por impedir que a condenação resulte em uma
patrimônio transferido; penalidade de caráter perpétuo.
A pena de trabalhos forçados impede que o condenado
Comentário: o princípio da pessoalidade da pena impede seja obrigado a trabalhar de forma desumana, sendo obri-
que a condenação penal venha a ser estendida, subjetiva- gado a empreender esforços que extrapolem o limite da
mente, extrapolando a figura do autor. Nosso sistema repudia capacidade humana.
a responsabilidade de pena objetiva, razão pela qual a pena O banimento significa o exílio, o desterro de um nacional.
somente pode ser aplicada a quem seja culpado (em sentido Consiste na proibição de permanência no território de seu
lato) pela conduta delitiva. A referida limitação, porém, não país. Não pode ser confundido com a expulsão, que se refere
se aplica aos reflexos patrimoniais da atividade criminosa. apenas aos estrangeiros e não é propriamente uma pena,
A obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento mas uma medida de resguardo da soberania do país. Se fosse
de bens pode alcançar os herdeiros, desde que a execução considerada uma pena, seríamos obrigados a obedecer a um
da dívida se limite ao patrimônio efetivamente transferido. devido processo legal para poder expulsar um estrangeiro,
Dessa forma, ainda que os reflexos patrimoniais sejam o que não ocorre. Na expulsão, o estrangeiro é retirado do
transferidos aos sucessores, a obrigação nunca poderá ser País por ter cometido ato contrário aos interesses nacionais.
cobrada em montante superior ao valor do patrimônio Também não pode ser confundida com banimento a ex-
transferido, o que, de certa forma, impede a existência de tradição, que consiste na entrega de um estrangeiro ou de um
uma responsabilidade penal objetiva. brasileiro naturalizado a um país estrangeiro, permitindo‑se,
assim, seu julgamento e a aplicação de pena naquele Estado.
28
Por fim, registramos que o banimento não pode ser
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/Assembleia Legislativa‑SP/Agente
Técnico Legislativo/2010; FCC/TRE‑AL/Técnico Judiciário/Área Administrati- confundido com a deportação, que decorre da retirada do
va/2010 e FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/Área
Administrativa/2010.
território brasileiro daqueles estrangeiros que não cumprem XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade
com os requisitos legais migratórios. física e moral;
Resumindo:
Comentário: o preso fica sob a tutela do Estado, devendo
ter resguardada sua integridade física e moral. O Estado será
responsável tanto pelos danos gerados por seus agentes,
quanto por aqueles que sejam gerados pelos demais presos,
tendo em vista o dever de cuidar da integridade daqueles
que estão sob sua custódia.

L – às presidiárias serão asseguradas condições para


que possam permanecer com seus filhos durante o período
de amamentação;
Por fim, registra a Constituição do Brasil a proibição de
aplicação de penas cruéis, já que ferem a dignidade da Comentário: o direito à amamentação assegura, de certa
pessoa humana. forma, a obediência ao princípio da pessoalidade da pena,
já que a criança não será afetada nem sofrerá prejuízo em
XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos virtude do fato cometido pela mãe.
distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o
sexo do apenado; LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o na-
turalizado, em caso de crime comum, praticado antes da
Comentário: a medida acima visa a resguardar a figura do naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico
preso, evitando abusos em virtude da maior suscetibilidade ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei58;
de certos presos. Evita também que a prisão deixe de ser
um local de ressocialização para se tornar uma verdadeira Comentário: cuida‑se, aqui, da primeira distinção trazida
escola de crime, já que os presos de menor periculosidade no texto constitucional acerca dos brasileiros natos e dos na-
poderiam ser influenciados pelos presos de maior tendência turalizados. Graficamente podemos representar a disposição
à criminalidade. acima da seguinte maneira:

LII – não será concedida extradição de estrangeiro por LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão
crime político ou de opinião31; pela autoridade competente32;

Comentário: o disposto neste inciso impede que o ins- Comentário: cuida‑se do princípio do juiz natural, que
tituto da extradição venha a ser utilizado como forma de garante ao jurisdicionado o direito a receber a prestação
perseguição política. É respeitado, portanto, o pluralismo jurisdicional segundo as regras rigidamente estabelecidas em
político, que é a liberdade de se optar por determinadas lei. Se uma causa é julgada em juiz incompetente, por exem-
concepções políticas. Cabe lembrar, ainda, que a Constituição plo, estamos diante de nítida ofensa ao referido princípio.
Federal, em seu art. 4º, X, prevê a concessão de asilo políti- Há quem defenda a existência do princípio do promotor
co, que nada mais é do que um impedimento à extradição, natural, que também seria um consectário do presente inci-
concedido àqueles que sofrem de perseguição política em so. Esse princípio diz respeito à impossibilidade de alteração,
país estrangeiro. de forma arbitrária, do membro do Ministério Público desig-
nado para uma causa, buscando‑se, dessa forma, a garantia
29
da independência funcional, já que impede que os membros
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anac/Técnico Administrativo/2012.
30
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico
do parquet sofram qualquer pressão.
Legislativo/Técnico em Radiologia/2012 e FCC/Assembleia Legislativa‑SP/Agente
São exemplos de prisões cautelares as temporárias,
preventivas, por pronúncia etc.
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
LVIII – o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;
Comentário: estamos diante do princípio do devido pro-
cesso legal, que impõe a observância das normas processuais
Comentário: em nosso país, privilegiando‑se a presun-
vigentes para que alguém seja privado de sua liberdade ou
ção de legitimidade e a fé pública, adota‑se como regra a
de seus bens. A presente regra também é denominada
identificação feita por meio de documentos civis. Em casos
“devido processo legal substancial” e impõe a observância
excepcionais, porém, desde que haja previsão legal, poderá
da proporcionalidade de da razoabilidade.
ser feita a identificação criminal, papiloscópica ou fotográfica,
por exemplo.
LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrati-
Assim, quando alguém é detido, somente será obrigado
vo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório
a proceder a uma identificação criminal se, por exemplo,
e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;
não possuir identificação civil, tiver identificação civil em
mau estado de conservação ou cometer delitos específicos,
Comentário: este inciso explicita o conteúdo do devido
previstos em lei.
processo legal processual, estipulando duas regras básicas,
que são o contraditório e a ampla defesa. LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação
O contraditório consiste no direito de contra‑argumentar, pública, se esta não for intentada no prazo legal33;
ou seja, de apresentar uma versão que conteste as alegações
feitas pela parte adversa. Comentário: esse é o caso da ação penal privada sub-
A ampla defesa pressupõe a possibilidade de se produzir sidiária da pública. Vamos aqui, de forma sintética, resumir
provas no processo, juntando elementos fáticos à argumen- esse trâmite.
tação feita em sua defesa. O Poder Judiciário somente age quando é provocado.
A isso chamamos princípio da inércia. Dessa forma, para
LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas que o Estado possa condenar alguém pelo cometimento de
por meios ilícitos; um crime, é necessário que o Judiciário seja provocado por
meio de uma ação penal.
Comentário: no exercício da ampla defesa, não é possível As ações penais podem ser ajuizadas pela vítima (ação
juntar aos autos provas que tenham sido obtidas por meios penal privada) ou pelo Ministério Público (ação penal pú-
ilícitos. A presente medida busca evitar que a atividade de pro- blica), quando for o caso. Quando proposta pela vítima,
dução de provas se torne um estimulo à prática de atos ilícitos. denominamos queixa‑crime; quando iniciada pelo Ministério
Em certos casos, porém, essa proibição é relativizada, Público, denominamos denúncia.
desde que a prova obtida por meio ilícito seja o único meio A lei penal possui o papel de definir qual será a forma de
de prova capaz de garantir o direito de defesa de pessoa que propositura da ação, sendo mais comum a propositura pelo
esteja na condição de acusada. Ministério Público. Nesse caso, se o Ministério Público não
A doutrina e a jurisprudência reconhecem a regra da apresentar denúncia no prazo legal, abrir‑se‑á oportunidade de
prova ilícita por derivação (teoria dos frutos da árvore en- a vítima substituir o Ministério Público, por meio da ação
venenada). Segundo tal regra, também serão inadmitidas penal privada subsidiária da pública.
no processo as provas que forem obtidas a partir de uma
prova obtida por meio ilícito. Vamos supor, por exemplo, LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos
que um policial faça uma escuta clandestina, descobrindo processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse
que um crime será cometido no dia seguinte, em tal lugar, social o exigirem34;
em tal hora. Se esse policial presenciar o crime e fotogra-
far a cena, tais fotos também serão ilícitas, pois somente Comentários: os atos processuais, via de regra, são
foram obtidas a partir das informações colhidas na escuta públicos, assim como os julgamentos realizados no âmbito
clandestina, atividade criminosa que contamina as provas do Poder Judiciário (art. 93, IX, da CF). Excepcionalmente,
subsequentes. porém, teremos o chamado “segredo de justiça”, que impõe
Por fim, ressaltamos que o simples fato de existirem provas restrição à publicidade dos atos processuais. A Constituição
obtidas por meios ilícitos em um processo não significa que Federal traz duas hipóteses de restrição do acesso aos atos
haverá absolvição do réu. É possível, dessa forma, a conde- processuais:
nação se existirem no processo outras provas independentes a) defesa da intimidade;
e capazes de fundamentar eventual sentença condenatória. b) interesse social.
É importante que o aluno não confunda esse segredo
LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito com o segredo relativo às informações de caráter público.
em julgado de sentença penal condenatória; O art. 5º, XXXIII, da CF dispõe sobre o acesso às informações
constantes de órgãos públicos. Naquele caso, as hipóteses de
Comentário: cuida o presente inciso do que comumente sigilo são as relacionadas à defesa do Estado e da sociedade.
se denomina princípio da presunção de não culpabilidade Interessante notar que a Constituição defenda a possi-
ou da presunção de inocência. Com base nesse dispositivo, bilidade de um julgamento ser sigiloso para a proteção da
somente após o trânsito em julgado da sentença condenató- intimidade, mas dispõe que não será possível restringir a
ria, o réu poderá ser considerado culpado. Isso não significa,
porém, que ele não poderá ser preso antes disso. A prisão

não é atrelada à culpa, já que pode ser uma medida de cau- 33


FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012.
tela, evitando‑se a fuga do preso ou o risco de cometimento 34
Assunto cobrado na prova da FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Admi-
de novos delitos. nistração/2012.
publicidade se a sua divulgação for necessária para o res- Comentário: duas são, portanto, as comunicações obri-
guardo do direito de informação (art. 5º, XIV, da CF), que gatórias relativas à prisão de uma pessoa e ao local onde se
possui titularidade coletiva. encontre:
a) ao juiz competente. Essa comunicação justifica‑se, por
LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou exemplo, pelo fato de esse juiz possuir o poder de relaxar a
por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária prisão, quando ilegal.
competente, salvo nos casos de transgressão militar ou b) à família do preso ou à pessoa por ele indicada. A co-
crime propriamente militar, definidos em lei35; municação à família ou a pessoa indicada é essencial para
que o direito à assistência seja prontamente exercido.
Comentário: nesse ponto do texto constitucional, come- Se, porém, o preso não indicar nenhuma pessoa, torna‑se
ça a ser tratado o instituto da prisão. A utilização do termo irrelevante a previsão da segunda comunicação, segundo o
“ninguém será preso senão...” dá a entender que se trata entendimento do Supremo Tribunal Federal.
de um rol taxativo, motivo pelo qual não há que se aceitar
hipóteses de prisão que não se ajustem às hipóteses previstas LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os
constitucionalmente. quais o de permanecer calado, sendo‑lhe assegurada a
O presente inciso inicialmente dispõe sobre duas hipóte- assistência da família e de advogado37;
ses de prisão: prisão em flagrante e prisão por ordem judicial
escrita e fundamentada. Comentário: o presente dispositivo garante ao preso três
A prisão em flagrante, primeira hipótese tratada, pode prerrogativas: permanecer calado, assistência da família e
ser feita por “qualquer do povo”, nos termos do que dispõe assistência de advogado.
o art. 301 do Código de Processo Penal. Está em situação O direito de permanecer calado deve ser garantido a
de flagrante quem: todos, independentemente de serem presos. As testemu-
• está cometendo a infração penal; nhas, porém, somente possuem direito de permanecerem
• acaba de cometê‑la; caladas em relação às informações que possam servir para
• é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofen- sua incriminação. Essa determinação protege o direito que
dido ou por qualquer pessoa, em situação que faça temos contra autoincriminação (princípio do nemo tenetur
presumir ser autor da infração; se detegere).
• é encontrado logo depois com instrumentos, armas, O direito de permanecer calado pode ser estendido
objetos ou papéis que façam presumir ser ele autor da para alcançar também o direito de mentir sem incorrer em
infração. atividade ilícita.
A assistência da família impede, por exemplo, que o preso
atenção! Nas infrações permanentes, como na de ex- fique incomunicável. A assistência do advogado é irrestrita,
torsão mediante sequestro, entende‑ se o agente em fla- devendo ser assegurada proteção da defensoria pública ao
grante delito enquanto não cessar a permanência. Dessa preso que não possua condições de contratar um advogado
forma, é possível sua prisão durante todo o período do às suas expensas.
sequestro, sem necessidade de autorização judicial.
LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsá-
veis por sua prisão ou por seu interrogatório policial;
Como a prisão em flagrante pode ser feita por qualquer
do povo, ela será a única possibilidade de prisão que é con-
Comentário: a identificação dos responsáveis pela prisão
cedida às Comissões Parlamentares de Inquérito.
ou pelo interrogatório do preso é um instrumento necessário
A segunda hipótese de prisão diz respeito à ordem
à proteção contra abusos, já que intimida o agente público
judicial escrita e fundamentada. Nesse caso, deverá o juiz
quanto às práticas abusivas ou ilícitas. Importante notar que
determinar a expedição do respectivo mandado, que poderá
a identificação será obrigatória mesmo nas hipóteses de cri-
instrumentalizar diversos tipos de prisão (preventiva, tem-
minosos de alto grau de periculosidade, independentemente
porária etc.). Cabe notar o fato de que essa prisão, por ser
de supostamente oferecerem risco de retaliação em relação
escrita, nada tem a ver com a voz de prisão, que pode ser
aos agentes públicos.
dada pelo juiz em uma audiência, por exemplo.
A terceira hipótese de prisão refere‑se à transgressão
LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela
militar ou crime propriamente militar, que, no caso, pres-
autoridade judiciária;
cindem de ordem judicial. Ressalte‑se que a Constituição
expressamente proíbe a impetração de habeas corpus, que
Comentário: como já ressaltado, cabe ao juiz analisar a
é uma medida destinada à proteção do direito de ir e vir,
legalidade da prisão, podendo, de ofício, determinar o
nas hipóteses de punição disciplinar militar (art. 142, § 2º).
relaxamento da prisão.
Por fim, cabe registrar uma hipótese bem específica de
prisão, que será criada no caso de decretação de Estado de
LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido,
Defesa. Trata‑se da prisão por crime contra o Estado, que
quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;
tem previsão no art. 136, § 3º, da Constituição do Brasil.
Comentário: a liberdade provisória consiste no direito de
LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se
o preso responder ao processo em liberdade. A lei definirá
encontre serão comunicados imediatamente ao juiz com-
quais são as hipóteses em que a liberdade provisória será
petente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada36;
admitida, casos em que o acusado não poderá ser levado à
35
FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012. prisão ou nela mantido.
36
Assunto cobrado nas seguintes provas: FGV/Senado Federal/Técnico Legisla-
Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
Existem duas modalidades de liberdade provisória: sem “Remédios Constitucionais”.
pagamento de fiança e mediante pagamento de fiança. Com-
pete à lei definir quais serão as hipóteses em que a liberdade LXX – o mandado de segurança coletivo pode ser im-
provisória exigirá o pagamento de fiança, que é um valor petrado por:
dado em garantia pelo preso, assegurando sua colaboração a) partido político com representação no Congresso
nas investigações e na instrução. Nacional.
Não admitem fiança: racismo, crime de grupos armados b) organização sindical, entidade de classe ou associa-
contra o Estado Democrático e contra a ordem constitucional, ção legalmente constituída e em funcionamento há pelo
crimes hediondos, tráfico de drogas, tortura e terrorismo. menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros
ou associados39.
LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do
responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
de obrigação alimenticia e a do depositário infiel; “Remédios Constitucionais”.

Comentário: a prisão civil é aquela utilizada na cobrança LXXI – conceder‑ se‑á mandado de injunção sempre que a
de dívidas. Não tem um caráter punitivo, mas sim coerciti- falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício
vo, voltado ao adimplemento da obrigação. A prisão civil é dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
admitida em duas hipóteses: inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania40;
a) inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação
alimenticia; Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
b) depositário infiel. “Remédios Constitucionais”.
A prisão por obrigação alimenticia somente ocorrerá
nos casos em que a dívida é voluntária, ou seja, quando não LXXII – conceder‑se‑á habeas data:
houver um motivo de força maior para o inadimplemento a) para assegurar o conhecimento de informações
da obrigação. relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros
O depositário infiel é responsável pelo bem, devendo ou bancos de dados de entidades governamentais ou de
devolvê‑lo imediatamente nas hipóteses legais. caráter público.
Tais hipóteses eram definidas em nosso ordenamento b) para a retificação de dados, quando não se prefira
jurídico. Ocorre que o Supremo Tribunal Federal veio a consi- fazê‑lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo.
derar o Pacto de São José da Costa Rica, tratado internacional
que impede esse tipo de prisão, uma norma supralegal, ou Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
seja, superior às demais normas legais. Isso fez com que “Remédios Constitucionais”.
fossem derrogadas as normas legais que dispunham sobre
a prisão civil do depositário infiel. LXXIII – qualquer cidadão41 é parte legítima para propor
Antes desse entendimento, a prisão do depositário infiel ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio pú-
era justificada por uma obrigação processual ou por uma blico ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade
obrigação contratual. Na primeira situação, estando o bem administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico
em discussão perante o Poder Judiciário, determinava‑se que e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má‑fé, isento
o detentor fosse nomeado depositário infiel. Na segunda si- de custas judiciais e do ônus da sucumbência42;
tuação, o depositário recebia o bem em virtude de uma obri-
gação contratual, como no contrato de alienação fiduciária. Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
Em resumo, a situação que temos hoje é a seguinte: “Remédios Constitucionais”.
a prisão civil do depositário infiel é prevista na Constituição
nos casos previstos em lei. O Pacto de São José da Costa LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e
Rica, porém, com seu status supralegal, derrogou todas as gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos;
previsões legais de prisão do depositário, de tal forma que
tornou, na prática, inviável a utilização do instrumento de Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico
prisão nessas hipóteses. “Gratuidades Constitucionais”.

LXVIII – conceder‑se‑á habeas corpus sempre que al- LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judi-
guém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou ciário, assim como, o que ficar preso além do tempo fixado
coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou na sentença;
abuso de poder38;
Comentário: essa indenização não poderá ser pleiteada
Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico pela via do habeas corpus. Será necessário portanto que,
“Remédios Constitucionais”. além do habeas corpus liberatório, seja ajuizada ação ordi-
nária para demonstração da responsabilidade civil do Estado.
LXIX – conceder‑se‑á mandado de segurança para prote- ger
direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus

ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou


abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa 39

40
Esaf/MF/Assistente Técnico/Administrativo/2012.
Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci-
jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; vil/2012.
41
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 10ª Região (DF e TO)/Técnico Judiciário/
38
Assunto cobrado nas seguintes provas: Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Administrativo/2013.
Diligências/2012 e FCC/Instituto Nacional do Seguro Social /Técnico do Seguro 42
Assunto cobrado na prova da Vunesp/Tribunal de Justiça‑SP/Escrevente Técnico
Social/2012. Judiciário/2010.
LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, do regime e dos princípios constitucionais, bem como de
na forma da lei: tratados internacionais.
a) o registro civil de nascimento; Nesse sentido, já foi reconhecida a existência de direitos
b) a certidão de óbito43. e garantias individuais até mesmo no art.150 da Constituição
Federal, que estabelece as limitações constitucionais ao
Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico poder de tributar.
“Gratuidades Constitucionais”. Cabe lembrar que os tratados internacionais que apenas
disponham de direitos e garantias fundamentais, sem se
LXXVII – são gratuitas as ações de habeas corpus e submeter ao procedimento de aprovação similar ao da pro-
habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao posta de emenda constitucional, não terá status de emenda
exercício da cidadania44. constitucional, mas força de norma supralegal.

Comentário: esse dispositivo será tratado no tópico § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre
“Gratuidades Constitucionais”. direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às
LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são
emendas constitucionais46.
assegurados a razoável duração do processo e os meios que
garantam a celeridade de sua tramitação.
Comentário: o presente dispositivo, inserido pela Emen-
da Constitucional nº 45/2004, abriu a possibilidade de trata-
Comentário: esse dispositivo foi inserido na reforma
dos e convenções internacionais possuírem força de emenda
constitucional de 2004 que, por meio da Emenda Constitucio-
constitucional. Para tanto, será necessário preencher os dois
nal nº 45, realizou a chamada “reforma do Poder Judiciário”. requisitos, de forma cumulada: tratar de direitos humanos
No caso, os processos judicial e administrativo passam a ter e ser aprovado por três quintos de cada Casa do Congresso
a garantia da razoável duração do processo. Nacional em dois turnos de votação.
Dois problemas surgem em relação a tal dispositivo. Os tratados que não cumprirem tais requisitos, como
Primeiramente, temos a dificuldade em definir qual será a vimos, terão forma de lei ordinária ou força supralegal.
duração razoável do processo, principalmente pelo fato de
que as ações possuem múltiplos graus de complexidade. § 4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal
Em segundo lugar, a dificuldade encontrada reside no fato Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão47.
de o dispositivo possuir uma redação muito ampla, que não
especifica, no caso concreto, as medidas a serem adotadas. Comentário: essa importante determinação acaba por
A conclusão a que chegamos, portanto, é a de que se trata colocar em discussão a noção clássica de soberania, que vê no
de uma norma‑princípio, que exigirá concretização por meio Estado Soberano um ente totalmente independente. Passa
de políticas públicas e da atividade legislativa. o Brasil, a partir da inserção desse dispositivo pela Emenda
O judiciário, em caráter excepcional, tem deferido pedi- Constitucional nº 45/2004, a submeter‑se à jurisdição de um
dos de julgamento imediato da causa em respeito ao direito organismo internacional se houver manifestado adesão ao
à razoável duração do processo. ato de criação. Cumpre ressaltar, porém, que essa previsão
se limita aos tribunais penais, não podendo ser estendida a
§ 1º As normas definidoras dos direitos e garantias outras áreas como a do comércio internacional.
fundamentais têm aplicação imediata45.
Remédios Constitucionais
Comentário: o fato de as normas desse artigo terem apli-
cação imediata significa dizer que podem ser aplicadas a um Os remédios constitucionais são garantias definidas no
caso concreto imediatamente, sem necessidade de norma corpo do art. 5º da Constituição Federal, que visam à prote-
regulamentadora, por exemplo. Essa é a razão pela qual di- ção de valores também definidos na Carta Maior. Apesar de
versos remédios constitucionais, ainda que não tivessem seu a maioria dos remédios tramitar perante o Poder Judiciário,
existem remédios, como o direito de petição, que podem
papel bem definido pela legislação, puderam ser utilizados tramitar perante órgãos administrativos. Consideraremos,
imediatamente, como é o caso do mandado de segurança. em nosso estudo, os seguintes remédios constitucionais:
A aplicação imediata, porém, não impede que uma nor- • habeas corpus;
ma tenha eficácia contida, ou seja, que admita a restrição • habeas data;
de sua eficácia por meio da atuação do legislador ordinário. • mandado de segurança;
§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição • mandado de injunção;
não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios • ação popular;
por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a • direito de petição.
República Federativa do Brasil seja parte.
habeas Corpus
Comentário: o presente dispositivo deixa claro que o rol
de direitos do art. 5º não possui caráter exaustivo, mas sim, Finalidade: este remédio constitucional, previsto no
exemplificativo. Fica, portanto, aberta a oportunidade de art. 5º, LXVIII, da Constituição Federal, visa à proteção da
liberdade de locomoção (direito de ir, vir e permanecer)
reconhecimento de novos direitos e garantias decorrentes
46
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ‑SP/Escrevente Técnico
43
FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/Área Administrati- Judiciário/2012; Cespe/Câmara dos Deputados/Técnico Legislativo/Técnico
va/2010. em Radiologia/2012 e FCC/Assembleia Legislativa‑SP/Agente Técnico Legisla-
44
FCC/TRT 9ª Região (PR)/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013. tivo/2010.
47
45
FCC/TRT 9ª Região (PR)/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013. FCC/TRT 9ª Região (PR)/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013.
Gratuidade: trata‑se de ação gratuita, independente-
mente de qualquer condição.
contra lesão ou ameaça causada por abusos de poder ou
ilegalidade48. Como se percebe, não há uma necessária habeas Data
correlação desse remédio ao Direito Penal, motivo pelo qual
o habeas corpus poderá ser impetrado até mesmo no caso Finalidade: o presente remédio constitucional, previsto
de prisão civil por dívida, já que está envolvida, nesse caso, no art. 5º, LXXII, da Constituição do Brasil possui uma dupla
a liberdade de locomoção. finalidade. Vejamos no quadro abaixo.
Como já salientamos anteriormente, esteremédio constitu-
cional não se presta a discutir punições disciplinares militares. de informações relativas à pessoa do
acesso impetrante, constantes de registros
O habeas corpus não se submete a prazo prescricional
ou decadencial, sendo cabível enquanto durar a lesão ou
ou 
retificaçã
o
ameaça de lesão ao direito que se pretende proteger. Visa a ou bancos de dados de entidades
governamentais ou de caráter
assegurar público.
Legitimidade ativa: possui legitimidade ativa aquele
que pode impetrar o habeas corpus, chamado, portanto,

de impetrante. Esse remédio é dos mais informais, já que Portanto, uma das finalidades do habeas data é a pos-
pode ser impetrado por qualquer pessoa, física ou jurídica, sibilidade de retificação de dados, quando não se prefira
independentemente de capacidade civil, de advogado e de fazê‑lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo.49
mandato outorgado pelo paciente. Exige‑se, porém, como A impetração do habeas data exige, ainda, a demonstra-
um formalismo mínimo, que a petição seja assinada, já que ção de que houve uma prévia negativa administrativa. Em
é considerado inexistente o habeas corpus apócrifo. outras palavras, o impetrante deve demonstrar que buscou
previamente o acesso às informações diretamente junto ao
Paciente: será considerado paciente aquele que estiver a banco de dados, sem obter, porém, sucesso.
sofrer lesão ou ameaça a seu direito de locomoção e venha
a ser protegido pelo remédio constitucional. O paciente Legitimidade ativa: qualquer pessoa pode impetrar o
será necessariamente uma pessoa física, já que as pessoas habeas data, desde que as informações pleiteadas se refiram
jurídicas não possuem liberdade de locomoção, prerrogativa exclusivamente ao impetrante. Trata‑se, dessa forma, de uma
que é incompativel com elas. ação personalíssima.

Legitimidade passiva: a legitimidade passiva é conferida Legitimidade passiva: apenas pode ser impetrado o
àquele que age como coator, praticando atos ilícitos ou em banco de dados de caráter público (Serasa, SPC etc.) ou
abuso de poder, razão pela qual será considerado impetrado. respectiva entidade governamental (INSS, Receita Federal
do Brasil, Polícia Federal etc.).
tipos: podemos classificar o habeas corpus como pre-
ventivo, que é aquele impetrado quando há uma ameaça ao Gratuidade: trata‑se de ação gratuita, independente-
direito de locomoção, ou repressivo, impetrado quando já mente de qualquer condição.
se configura a ilegalidade ou o abuso de poder, e “de ofício”,
concedido pelo juiz independentemente de impetração. Mandado de Segurança
No habeas corpus preventivo, pode ser expedido salvo
conduto, que é instrumento que impede a prisão do paciente Finalidade: o mandado de segurança se presta à proteção
nas hipóteses descritas na ordem judicial concessiva da ordem. de direito líquido e certo contra abuso de poder ou ilegalida-
Imaginemos uma situação em que o paciente será ouvido de. Direito líquido e certo é aquele que se mostra delimitado
como acusado em uma Comissão Parlamentar de Inquérito quanto à extensão e inquestionável quanto à existência. De
e requer, por meio de um habeas corpus, a expedição de um forma simplificada, podemos dizer que o direito líquido e
salvo conduto para garantia de seu direito de permanecer ca- certo é aquele que não demanda ampla instrução probatória,
lado. Poderá o Supremo Tribunal Federal, nesse caso, conceder motivo pelo qual a única prova admitida no mandado de
o remédio para que o paciente não seja preso caso venha a segurança é a de caráter documental.
legitimamente exercer seu direito sem que incida, portanto, No mandado de segurança, o direito é facilmente aferí-
em crime, caso recaia em falso testemunho. vel a partir da leitura das normas legais aplicáveis ao caso.
No writ repressivo, já existe a situação de coação e o Compete à parte, portanto, apenas demonstrar que se
paciente requer, portanto, a sua soltura, por exemplo. Tanto enquadra na situação descrita na lei. Cabe mandado de se-
no habeas corpus preventivo quanto no repressivo, há a gurança, portanto, para pleitear aposentadoria por tempo de
possibilidade de concessão de medida liminar. serviço, quando bastar a certidão de tempo de serviço para
A liminar é uma medida precária, que busca a proteção comprovar que o impetrante preenche os requisitos legais
do bem quando exista perigo de dano irreparável ao bem para usufruir do benefício. No caso, porém, de aposentadoria
tutelado. Somente será concedida a liminar se houver a fu- por invalidez, quando é necessário realizar perícias e ouvir
maça do bom direito, ou seja, a plausibilidade das alegações testemunhas, o direito não é líquido e certo, motivo pelo qual
feitas pelo impetrante. não será possível, a priori, impetrar mandado de segurança.
Por fim, o habeas corpus ex officio é aquele que é Dessa forma, no mandado de segurança não se discute
concedido pelo juiz independentemente de provocação. matéria probatória, de cunho fático. Por outro lado, mos-
Imaginemos que um impetrante ingressa com um recurso tra‑se plenamente possível discutir questões de direito, de
requerendo a atipicidade da conduta do réu. Nesse caso,
cunho abstrato. Nesse sentido, a Súmula nº 625/STF dispõe
o magistrado, ainda que não concorde com o impetrante
que “a controvérsia sobre matéria de direito não impede
no que toca à atipicidade da atitude do réu, pode conceder concessão de mandado de segurança”.
habeas corpus de ofício, para reconhecer que o crime está A impetração do mandado de segurança não está vincu-
prescrito. lado ao esgotamento da instância administrativa. Por conta

48 49
Assunto cobrado na prova do Cespe/MPS/Agente Administrativo/2010. FCC/Assembleia Legislativa‑SP/Agente Técnico Legislativo/Direito/2010.
disso, dispõe a Súmula nº 430/STF que “pedido de reconsi- direito, já que o seu titular poderá pleitear seu direito por
deração na via administrativa não interrompe o prazo para meio de uma ação ordinária. Cabe lembrar que, no mandado
o mandado de segurança”. de segurança preventivo, não há prazo decadencial, tendo
em vista que o ato coator sequer foi produzido.
Legitimidade ativa: o mandado de segurança pode ser
ajuizado por qualquer pessoa, física ou jurídica. Súmula nº 512/STF: segundo entendimento jurispru-
dencial do Supremo Tribunal Federal, não cabe condenação
Legitimidade passiva: somente pode ser impetrado em em pagamento de honorários advocaticios em Mandado de
um mandado de segurança quem seja autoridade pública Segurança. Em outras palavras, a parte que sucumbente
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições não será obrigada a pagar à parte vencedora uma parcela
do Poder Público50, ou seja, a ela equiparado por atuar em do valor da causa para pagamento do advogado responsável
função eminentemente pública, mediante delegação. pelo êxito.
tipos: o mandado de segurança pode ser classificado em atenção! O prazo decadencial para impetração do man-
preventivo ou repressivo, e ainda em individual ou coletivo. dado de segurança foi considerado constitucional pelo
O mandado de segurança preventivo presta‑se a evitar Supremo Tribunal Federal, o que resultou na edição da
ofensa a direito líquido e certo que seja e que se ache ame-
Súmula nº 632/STF.
açado, ainda que não exista o ato lesivo.
O mandado de segurança repressivo volta‑se a afastar
ofensa já perpetrada contra direito líquido e certo. Já existe, Jurisprudência: vejamos alguns entendimentos jurispru-
nesse caso, lesão ao bem jurídico que se quer tutelar. denciais acerca do cabimento do mandado de segurança.
O mandado de segurança individual busca a proteção
dos interesses do impetrante. O mandado de segurança será Cabe mandado de segurança Não cabe mandado de se-
individual ainda que vários impetrantes optem por ajuizar gurança
uma só ação, na condição de litisconsortes. Para a proteção do direito de Contra lei em tese.
No mandado de segurança coletivo, previsto no art. 5º, reunião.
LXIX, da Constituição Federal, o impetrante defende, em Para proteção do direito de Contra decisão judicial transi-
nome próprio, um direito alheio. Cuida‑se de forma de subs- certidão. tada em julgado.
tituição processual, razão pela qual não há necessidade de Para a proteção de direito que Contra ato judicial passível
autorização dos titulares do direito protegido. Nesse sentido, esteja na pendência de decisão de recurso.
a Súmula nº 629/STF, que determina que a “impetração de na esfera administrativa.
mandado de segurança coletivo por entidade de classe em
favor dos associados independe da autorização destes”. Mandado de Injunção
São legitimados a impetrar o mandado de segurança
coletivo: Cabimento: o mandado de injunção, previsto no art. 5º,
• partido político com representação no Congresso LXXI, da Constituição Federal, pode ser impetrado sempre que
Nacional51; a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício
• organização sindical, entidade de classe ou associação dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania54.
um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou Cuida‑se, assim, de ação voltada à supressão de omissão
associados. legislativa relativa à regulamentação de direitos previstos cons-
titucionalmente. Se tivermos uma norma de eficácia limitada,
Um partido político com representação no Congresso por exemplo, que ainda não produza totalmente seus efeitos
Nacional possui legitimidade para impetrar mandado de porque ainda não foi produzida lei regulamentadora, será
cabível o mandado de injunção contra o órgão responsável
segurança coletivo apenas em defesa de seus filiados.52
pela omissão, buscando‑se a edição da norma.
É possível a concessão de mandado de segurança cole- Durante muito tempo defendeu‑se que o mandado de
tivo impetrado por partido político com representação no injunção não poderia dar ao Poder Judiciário o poder de,
Congresso Nacional, para proteger direito líquido e certo persistindo a omissão, determinar qual será a disciplina legal
não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando a ser aplicada ao caso concreto. Entendia‑se, nesse caso, que
o responsável pelo abuso de poder for ministro de Estado.53 estaríamos ferindo o princípio da separação dos poderes,
Destaca‑se que a entidade de classe possui legitimidade para motivo pelo qual era necessário adotar posicionamento não
impetrar o mandado de segurança ainda que a preten- são concretista. Esse não é, porém, o atual entendimento do
veiculada interesse apenas a uma parte da categoria Supremo Tribunal Federal, que já admite que o Poder Judiciário
(Súmula nº 630/STF). indique, no caso de omissão, quais serão as regras aplicáveis
para que os impetrantes possam usufruir de forma plena os
atenção! O mandado de segurança coletivo é hipótese iso- direitos que lhe foram conferidos pela Constituição do Brasil.
lada em que as associações fazem substituição processual. O desrespeito à determinação de regulamentação de um
Nas demais ações ajuizadas pelas associações, o que se dispositivo constitucional é denominada inconstitucionalida-
pratica é a representação processual, que exige autorização de por omissão, e também pode ser combativa por meio da
dos representados. ação direta de inconstitucionalidade por omissão, que será
posteriormente tratada.
Prazo Decadencial: a impetração do mandado de se‑ Legitimidade ativa: o mandado de injunção pode ser
gurança deve ser feita no prazo de cento e vinte dias, con- impetrado por qualquer pessoa que possua interesse direto
tados da data da ciência do ato ilegal ou cometido em abuso na regulamentação do dispositivo constitucional.
de poder. A perda desse prazo, porém, não leva à perda do
50
Legitimidade passiva: será considerado impetrado aque-
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anatel/Técnico Administrativo/2012.
51
Assunto cobrado na prova da FCC/Assembleia Legislativa‑ SP/Agente Legislativo
le que seja responsável pela omissão legislativa.

de Serviços Técnicos e Administrativos/2010.


52 54
Cespe/Anatel/Técnico Administrativo/2012. FCC/Assembleia Legislativa‑SP/Agente Legislativo de Serviços Técnicos e Admi-
53
Cespe/MPu/Técnico Administrativo/2013. nistrativos/2010.
Gratuidades Constitucionais
O texto constitucional trata de diversas hipóteses de
tipos: são cabíveis o mandado de injunção individual e o
gratuidade, sendo de suma importância que o candidato
mandado de injunção coletivo. O segundo tipo de mandado
identifique quais as condicionantes para a fruição desse
de segurança é uma criação pretoriana, ou seja, foi reco-
direito. Vamos esquematizar.
nhecido pelos tribunais, ainda que não houvesse disciplina
constitucional a respeito. Assim, devem ser aplicadas ao
Dispositivo Gratuidade Observações
mandado de injunção coletivo as disposições do mandado
de segurança coletivo. 5º, XXXIV Direito de peti- Incondicionada – independe
ção do pagamento de taxas
ação Popular 5º, XXXIV Direito de certi- Incondicionada – independe
dão do pagamento de taxas
Finalidade: a ação popular é voltada à anulação de ato 5º, LXXIII Ação Popular Condicionada à boa‑fé do autor
lesivo: 5º, LXXIV Assistência jurídi- Condicionada à comprovação
• ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado ca integral da insuficiência de recursos
participe;
5º, LXXVI Certidão de nas- Condicionada à comprovação
• à moralidade administrativa;
cimento de pobreza, na forma da lei
• ao meio ambiente;
• ao patrimônio histórico e cultural. 5º, LXXVI Certidão de óbito Condicionada à comprovação
de pobreza, na forma da lei
Cumpre notar que a ação popular só se presta à anulação 5º, LXXVII Habeas corpus Incondicionada
desses atos, não sendo o instrumento adequado à punição 5º, LXXVII Habeas data Incondicionada
do agente público que causou um dano a interesses da socie- 5º, LXXVII Atos necessários Gratuitos na forma da lei
dade. A punição, no caso, poderá ser discutida em eventual ao exercício da
ação de improbidade. cidadania
É possível declarar a inconstitucionalidade de uma lei
por meio da ação popular, desde que essa declaração não Direitos Sociais
seja o objeto principal da ação popular. Assim, a declaração
de inconstitucionalidade da lei pode ser um meio, nunca a A Constituição dedica um capítulo inteiro aos direitos
finalidade precípua da ação. sociais, quais sejam: a educação, a saúde, a alimentação o
A ação popular deverá ter por objeto um ato adminis- trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
trativo. Não é cabível essa ação contra uma decisão judicial. previdência social, a proteção à maternidade e à infância
Por permitir que o cidadão defenda diretamente os e a assistência aos desamparados56.
interesses do povo, pode‑se considerar a ação popular uma Esses direitos, delineados no art. 6º da CF, possuem um
forma de exercício da democracia direta. caráter protetivo, assistencial. Trata‑se de direitos funda-
Não existe foro por prerrogativa de função em relação à mentais de segunda geração (introduzidos em larga escala
ação popular. Assim, ainda que a ação seja ajuizada contra no Brasil com a política social introduzida por Getúlio Vargas,
o Presidente da República, não será julgada pelo Supremo principalmente em 1934). Outros direitos sociais podem ser
Tribunal Federal. encontrados no Título VIII do texto constitucional.
Os direitos sociais consubstanciam, em sua grande maio-
Legitimidade ativa: só podem ajuizar ações populares
ria, normas programáticas. Esse tipo de norma possui eficácia
os cidadãos, ou seja, aqueles que possuam direitos políticos.
limitada, exigindo, para seu alcance, a construção de políticas
Ficam excluídas, portanto, as pessoas jurídicas e as pessoas fí-
públicas pelo legislador constituído. Questão tormentosa
sicas que não estejam no pleno gozo de seus direitos políticos.
que hoje se apresenta é aquela relativa à possibilidade de
se limitar a efetividade dos direitos fundamentais em nome
Legitimidade passiva: a ação popular deve ser ajuizada
do princípio da reserva do possível. Em outras palavras, isso
contra a autoridade pública autora do ato impugnado.
resulta em saber se o Estado pode deixar de cumprir com
seu papel de garantir os direitos sociais à população, sob a
Gratuidade: a ação popular será gratuita, mas sua gratuida-
alegação de não possuir recursos materiais para tanto.
de é condicionada à boa‑fé. Se a ação for ajuizada com má‑fé,
Em contraposição à limitação da reserva do possível,
o autor será condenado ao pagamento das custas judiciais.
encontra‑se a previsão de um mínimo existencial no que
Direito de Petição tange à concretização dos direitos sociais. Esse contraponto
é reforçado pela proibição do retrocesso, outra teoria que
também impede que a reserva do possível sirva de justificati-
Finalidade: o direito de petição, previsto no art. 5º, XX-
va ao abandono das previsões constitucionais programáticas.
XIV, da CF, também considerado um remédio constitucional,
A proibição do retrocesso impede que venha a reduzir
difere‑se dos demais por não consistir em uma ação judicial.
o montante de recursos voltados à execução de políticas
Trata‑se de instrumento exercido perante o Poder Público
públicas concretizadoras dos direitos fundamentais. Essa
com o objetivo de:
teoria, porém, pode desenvolver um perigoso efeito colateral.
• defesa de direitos;
Caso reconhecida a proibição da diminuição dos recursos
• representação contra ilegalidade ou abuso de poder.
alocados em determinada atividade, é possível que o gestor
evite aumentar a parcela orçamentária destinada à política
Qualquer pessoa pode utilizar‑se do direito de petição,
pública desenvolvida, com vistas a evitar uma vinculação nos
que não pode ser impedido por meio de obstáculos legais.
orçamentos vindouros.
Dessa forma, segundo o novo entendimento do Supremo
Sobre a eficácia das normas programáticas, o Supremo
Tribunal Federal, é inconstitucional exigir depósito prévio
ou arrolamento de bens e direitos como condição de ad- Tribunal Federal vem expedindo alguns pronunciamentos no
missibilidade de recurso administrativo55.

55 56
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anac/Técnico Administrativo/2012. Assunto cobrado na prova do Cespe/Ibama/Técnico Administrativo/2012.
sentido de que o Estado não pode deixar de atender à popu- • Salário mínimo, fixado em lei e nacionalmente uni-
lação sob a alegação de que não possui receita orçamentária. ficado. Mesmo aqueles que recebem remuneração
A maioria dos casos se relaciona à atuação do Estado na área variável não podem receber nunca salário inferior ao
da saúde, nos quais o Tribunal tem julgado procedentes re- mínimo.
cursos interpostos com o objetivo de se autorizar a compra
de medicamentos. O salário mínimo deve ter aumentos periódicos, de modo
Conforme estudamos, o Brasil terá como um de seus fun- a manter seu poder aquisitivo. O reajuste, porém, deve ser
veiculado por lei, nada impedindo que a matéria seja tratada
damentos a busca da função social do trabalho e, para tanto,
também por meio de medida provisória.
prevê a Constituição Federal alguns direitos do trabalhador.
O salário mínimo atender às necessidades básicas do
Os direitos dos trabalhadores podem ser divididos em duas trabalhador e de sua família, com moradia, alimentação,
categorias: direitos individuais e direitos coletivos do trabalho. educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e
Os trabalhadores urbanos e rurais são tratados de forma igua- previdência social.
litária, sendo que a maioria dos seus direitos individuais está A economia não pode ser indexada ao salário mínimo. Em
descrita no art. 7º da CF, que passaremos a estudar. outras palavras, o salário mínimo não pode servir de valor
Antes de visualizarmos os direitos em espécie, devemos de referência, vinculando reajustes de preços e serviços. Isso
registrar que para o Direito do Trabalho não há uma total evita que os reajustes periódicos deixem de surtir efeitos
coincidência entre os termos “trabalhador” e “emprega- reais, já que, ao mesmo tempo em que o salário mínimo
do”, sendo que o segundo pressupõe o preenchimento de aumentasse, toda a economia sofreria um fenômeno infla-
diversos requisitos, como a habitualidade, a onerosidade, cionário automático.
a subordinação e a pessoalidade. Para o Direito Constitu- A Suprema Corte entende que o salário mínimo não pode
cional, porém, de natureza marcantemente principiológica, servir de base de cálculo de nenhum adicional, inclusive do
essa distinção deixa de ter importância, de tal forma que adicional de insalubridade. Nesse julgamento foi aprovada a
utilizaremos os dois termos indiscriminadamente. quarta súmula vinculante do Supremo Tribunal Federal, que
recebeu a seguinte redação:
Isonomia trabalhista
Salvo os casos previstos na Constituição, o salário
A Constituição Federal se preocupou com a discriminação mínimo não pode ser usado como indexador de base
entre os trabalhadores que apresentam formas diferentes de cálculo de vantagem de servidor público ou de
de contratos. Sendo assim, cuidou o texto de impor o trata- empregado, nem ser substituído por decisão judicial.
mento igualitário entre os trabalhadores:
• urbanos e rurais; Nada impede que pensões, estipuladas em virtude de
• portador de deficiência; ato ilícito (morte de um pai de família, por exemplo), sejam
• trabalhador manual, técnico e intelectual; fixadas com base no salário mínimo, já que essas prestações
• trabalhadores com vínculo empregaticio permanente buscam satisfazer as necessidades básicas tratadas pelo
art. 7º, IV, da CF. Então, se alguém atropela um trabalhador,
e trabalhador avulso57;
pode ser obrigado a pagar um salário mínimo à viúva, du-
• não pode, ainda, haver diferenças por motivos de sexo,
rante o prazo provável em que a vítima teria de sobrevida,
idade, cor ou estado civil. sem que isso signifique ofensa à proibição de vinculação ao
salário mínimo.
Proteção da Relação de trabalho • Piso salarial: é aquele valor considerado como o mí-
nimo a ser pago por determinada empresa. Não deve
• Proteção contra a despedida arbitrária ou sem justa ser confundido com o salário mínimo profissional.
causa, a ser definida em lei complementar, que deve • Irredutibilidade do salário: não é possível ao em-
prever indenização compensatória, entre outros direitos: pregador diminuir o salário, salvo por meio acordo ou
atualmente, uma indenização compensatória imposta ao convenção coletiva de trabalho, que são acordos
empregador que promove a demissão arbitrária ou sem firmados entre o sindicato e o empregador ou entre o
justa causa é a multa de 40% sobre o saldo do FGTS do sindicato patronal e os sindicatos dos trabalhadores,
trabalhador, autorizada pelo art. 10 do ADCT. respectivamente.
• Seguro-desemprego, no caso de despedida involuntá- • Décimo terceiro salário.
ria do trabalhador. • Remuneração do trabalho noturno superior ao
• Aviso prévio proporcional, no mínimo de trinta dias, diurno. Para cumprir tal determinação a legislação
proporcional ao tempo de serviço, nos termos da lei. infraconstitucional prevê, além de um percentual a
• Proteção em face da automação: a evolução de ramos mais no salário daquele que trabalha no período
da ciência, tal qual a mecatrônica, pode levar a uma noturno, também uma redução na contagem da hora
demissão em massa (exemplo: uso de catracas ele- trabalhada, que se reduz a 52 minutos e 30 segundos.
trônicas em ônibus coletivos). Deve o Estado cuidar • Proteção contra a retenção dolosa do salário, cons-
para que os trabalhadores se preparem para as novas tituindo crime o não pagamento sem justificativa58.
tecnologias e não se tornem “obsoletos” no mercado Proíbem‑se, assim, descontos no salário que não sejam
de trabalho. autorizados pelos trabalhadores. No caso de a empresa
estar passando por sérios problemas financeiros, o não
Prestações Pecuniárias pagamento do salário pode não ser doloso, e sim,
culposo, não constituindo, portanto, crime.
• Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGtS, obri- • Participação nos lucros, ou resultados, desvinculada
da remuneração, e participação na gestão da empre-
gatório aos trabalhadores.

57 58
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE‑AL/Técnico Judiciário/Área Administra- Assunto cobrado na prova da FCC/TRE‑AL/Técnico Judiciário/Área Administra-
tiva/2010. tiva/2010.
desse no acidente. As ações acidentárias atualmente são
julgadas na Justiça do Trabalho (art. 114 da CF).
sa, conforme definido em lei, sendo que a participa-
ção na gestão tem um caráter excepcional59. Prescrição trabalhista
• Salário‑família, pago por cada dependente do traba-
lhador de baixa renda, nos termos da lei. • A prescrição resulta da perda de uma pretensão em
• Remuneração das horas extras em pelo menos cin-
virtude da inércia de seu titular. O direito de ação, vi-
quenta por cento superior à hora normal60. A legisla-
sando ao recebimento de créditos trabalhistas, existe
ção, porém, pode determinar a aplicação de hora extra
desde que o empregado busque a proteção jurisdi-
em percentual superior em casos específicos.
• Remuneração paga em virtude do gozo de férias, cional no prazo de cinco anos após o surgimento do
correspondente a 1/3 (um terço) do salário normal, direito reclamado, limitado tal prazo a dois anos após
independentemente da remuneração ordinariamente o término do contrato de trabalho. Anteriormente,
devida no período. havia uma diferenciação para o prazo prescricional dos
• Pagamento de adicional para as atividades penosas trabalhadores rurais. Porém, com a Emenda Constitu-
(que exigem muito esforço do trabalhador), insalubres cional nº 28/2000, o prazo passou a ser único para os
(que oferecem risco à saúde do trabalhador) ou peri- trabalhadores urbanos e rurais.
gosas (que apresentam risco de morte ao trabalhador). Interessante notar que, no caso de morte do trabalha-
dor, se aplica apenas o prazo de cinco anos, sem se le-
Jornada de trabalho var em conta o prazo de dois anos. Assim, a prescrição
total dos direitos ocorrerá apenas cinco anos após a
• Jornada de trabalho não superior a oito horas diárias morte do trabalhador.
de forma a não ultrapassar, no total, quarenta e quatro
horas semanais. Por meio de acordo ou convenção Vejamos alguns exemplos de prescrição.
coletiva é possível a compensação de horários ou
redução de jornada.
O turno ininterrupto de revezamento, hipótese na
qual o empregado não desfruta do intervalo intrajor-
nada, exige jornada de trabalho máxima de seis horas,
salvo negociação coletiva61. O STF, no julgamento do
RE nº 205.815/RS firmou o entendimento de que o
fato de a empresa conceder intervalo para descanso
e refeição não descaracteriza o turno ininterrupto de
revezamento, com direito a jornada de seis horas,
prevista no art. 7º, XIV, da Constituição Federal.
• Repouso semanal remunerado. Tal repouso deve ser
concedido preferencialmente aos domingos.
• Férias anuais remuneradas, com o pagamento de um
adicional correspondente a 1/3 do salário normal,
conforme tratado anteriormente. Interessante notar Maioridade trabalhista
que, apesar de o direito de férias possuir fundamento
constitucional, o período de gozo das férias não tem • Os menores de 18 anos não podem exercer trabalho
cunho constitucional, sendo definido pela legislação. noturno, perigoso ou insalubre62. Somente a legislação
Assim, uma eventual redução do período de férias, infraconstitucional restringe o exercício de atividade
visando à flexibilização das relações trabalhistas, no penosa pelo menor, não havendo, portanto, previsão
ponto, sequer exigiria a edição de norma constitucio- constitucional. Os menores de 16 anos só podem tra-
nal, bastando uma reforma legislativa. balhar na condição de aprendiz, que é um contrato de
trabalho específico, o qual busca a profissionalização
Proteção à Saúde do Trabalhador do educando. Por fim, temos que os menores de 14
anos não podem exercer nenhum trabalho.
• Licença-gestante, com garantia de manutenção do
emprego e do salário, pelo período de 120 (cento e Em resumo, temos o seguinte quadro:
vinte) dias e licença-paternidade de acordo com o
que a lei estabelecer, que é atualmente de cinco dias. Menores de Menores de Menores de
A licença‑paternidade pode, sob determinados 18 anos 16 anos 14 anos
aspectos, se afastar de uma literal medida de proteção Proibição de trabalho Somente podem exer-
Não podem exercer
à saúde do trabalhador. Sua manutenção neste tópico noturno, perigoso ou cer trabalho na condi-
atividade laborativa.
insalubre. ção de aprendiz.
se faz sob o ponto de vista didático.
• Redução dos riscos de acidentes de trabalho, utilizan- Outros direitos
do‑se de medidas eficazes na prevenção de acidentes e
de doenças profissionais. • Incentivo ao mercado de trabalho da mulher.
• Seguro contra acidentes de trabalho, que deverá ser
• aposentadoria, desde que preenchidos os critérios
pago pelo empregador, sem que isso exclua a possibili-
previstos na legislação.
dade de sua responsabilização civil quando houver culpa
• Assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o
59
Assunto cobrado nas seguintes provas: FCC/TRE‑AL/Técnico Judiciário/Área Ad- nascimento até cinco anos de idade em creches e
ministrativa/2010 e FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/ pré‑escolas.
Área Administrativa/2010.
60
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE‑AL/Técnico Judiciário/Área Administra-
tiva/2010.

61
Assunto cobrado na prova da FCC/TRE‑AL/Técnico Judiciário/Área Administra-
62
tiva/2010. Assunto cobrado na prova da Vunesp/TJ‑SP/Escrevente Técnico Judiciário/2012.
Com a nova redação do art. 7º, parágrafo único, dada vínculo permanente e trabalhador avulso. Alguns desses não
pela EC nº 72/2013, foram assegurados aos trabalhadores são previstos, pois são incompativeis com o vínculo domés-
domésticos os seguintes direitos em total equiparação aos tico, como a distribuição de lucros e o trabalhador avulso.
demais trabalhadores: O rol de direitos aqui apresentado é meramente exem-
• salário mínimo; plificativo, sendo que outros podem ser previstos na própria
• irredutibilidade de salário; Constituição ou pela legislação infraconstitucional. Nesse
• garantia de salário mínimo a quem percebe remune- sentido, o Supremo Tribunal Federal julgou constitucional
ração variável; o art. 118 da Lei nº 8.213/1991, que garante a manutenção
• décimo terceiro salário; do contrato de trabalho, em caso de acidente de trabalho,
• proteçãodosalário, constituintecrime suaretençãodolosa; pelo prazo mínimo de doze meses.
• jornada de trabalho não superior a 8 horas diárias e
quarenta e quatro semanais; Sindicatos
• repouso semanal remunerado; Em nosso País, é livre a associação profissional ou sin-
• hora extra; dical, constituindo uma importante forma de proteção dos
• férias anuais remuneradas; direitos sociais. Assim, seria inconstitucional a estipulação
• licença à gestante; por meio da legislação de restrições à liberdade de criação
• licença‑paternidade; de sindicatos ou associação profissional. Isso não significa,
• aviso prévio proporcional; porém, que não existam na Constituição inúmeras restri-
• redução dos riscos inerentes ao trabalho; ções à sua atuação. O texto constitucional, por exemplo,
• aposentadoria; estipula que somente é permitida a criação de uma única
• reconhecimento das convenções e acordos coletivos organização sindical, para cada categoria profissional ou
de trabalho; econômica, em cada base territorial, que nunca será inferior
• proibição de diferença de salários, de exercício de à área de um Município. Não existe, portanto, concorrência
funções e de critério de admissão por motivo de sexo, entre sindicatos, já que cada trabalhador estará vinculado
idade, cor ou estado civil; a uma categoria, que, por sua vez, terá um único sindicato
• proibição de discriminação do trabalhador portador na base territorial.
de deficiência; Os sindicatos não dependem de autorização do Estado
• proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a para sua fundação, porém a Constituição impõe que sejam
menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores registrados no órgão competente. Dispõem, assim, de direito
de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a de auto‑organização, que impede a interferência e a inter-
partir dos quatorze anos. venção estatal na organização sindical.
Além disso, cabe registro de que os trabalhadores tam-
Outros direitos foram estendidos, porém com ressal- bém são livres para decidir se serão ou não inscritos nos
vas. A Constituição define que os direitos a seguir devem quadros do sindicato. Mesmo que não inscrito no sindicato,
ser conferidos às empregadas domésticas se atendidas as o trabalhador possui direito de ser protegido por essa ins-
condições estabelecidas em lei e observada a simplificação tituição. A filiação ao sindicato pode trazer algumas prer-
do cumprimento das obrigações tributárias, decorrentes da rogativas que não são previstas em lei como, por exemplo,
relação de trabalho doméstico e suas peculiaridades. Em a utilização de serviços assistenciais (clubes de recreação,
outras palavras, podemos dizer que são direitos que depen- planos de saúde etc.), que são um atrativo à filiação.
dem de regulamentação específica, que levará em conta as O objetivo do sindicato é a defesa dos interesses da
características e peculiaridades da relação doméstica, que é categoria, razão pela qual, por exemplo, é obrigatória a parti-
marcada por um grau de informalidade e pela simplicidade cipação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho.
do empregador, que não possui tanto aparato econômico e Essa defesa de direitos e interesses coletivos ou individuais da
burocrático quanto uma empresa. São eles: categoria envolve tanto questões judiciais quanto administra-
• relação de emprego protegida contra a despedida ar- tivas. Na defesa no âmbito judicial, os sindicatos exercem o
bitrária ou sem justa causa, inclusive com indenização que se denomina direito de substituição processual, no qual
compensatória, dentre outros direitos; se defende em nome próprio direito alheio. A substituição
• seguro‑desemprego, em caso de desemprego involun- processual é feita sem a necessidade de autorização de seus
tário; filiados ou dos integrantes da categoria.
• fundo de garantia do tempo de serviço; Quanto à substituição processual, cabe notar que se for-
• remuneração do trabalho noturno superior à do diur- maram duas correntes. A primeira entendia que os sindicatos
no; poderiam defender interesses coletivos (supraindividuais)
• salário‑família; e individuais homogêneos, mas não teria a capacidade de
• assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o executar a sentença, papel que caberia individualmente aos
nascimento até cinco anos de idade, em creches e beneficiados. A segunda corrente, mais ampliativa, defendia a
pré‑escolas; possibilidade ampla de os sindicatos defenderem os interesses
• seguro contra acidentes do trabalho, a cargo do em- da categoria. No julgamento do RE nº 210.029‑STF, a Supre-
pregador, sem excluir a indenização no caso de dolo ma Corte, em votação por maioria, definiu a prevalência em
ou culpa; nosso País da segunda corrente, findando, assim, a discussão
• integração à previdência social. a respeito da amplitude do art. 8º, III, da CF. De acordo com o
Supremo Tribunal Federal, o art. 8º, III, da CF, assegura ampla
Continuaram sem previsão o piso salarial, a participa- legitimidade ativa ad causam dos sindicatos como substitutos
ção nos lucros, jornada reduzida para turnos ininterruptos, processuais das categorias que representam na defesa de di-
proteção do mercado de trabalho da mulher, adicional por reitos e interesses coletivos ou individuais de seus integrantes.
atividades penosas, insalubres ou perigosas, proteção em A contribuição confederativa/assistencial, destinada à
face da automação, ação trabalhista com prazo prescricional manutenção do sistema confederativo, será fixada em
de cinco anos, proibição de distinção entre trabalho manual, assembleia, tem incidência facultativa aos trabalhadores da
técnico ou intelectual e igualdade entre trabalhador com categoria e não se confunde com a contribuição sindical,
III – fundo de garantia do tempo de serviço;
IV – salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unifica-
fixada em lei e de pagamento obrigatório por todos aqueles do, capaz de atender a suas necessidades vitais básicas e às
que integram a categoria. de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde,
Os aposentados têm direito de votar e serem votados nas lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com
organizações sindicais. A Carta Maior traz ainda a estabilida- reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo,
de sindical, que significa que o empregado sindicalizado não sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;
pode ser dispensado a partir do registro da candidatura a V – piso salarial proporcional à extensão e à complexi-
cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda dade do trabalho65;
que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se VI – irredutibilidade do salário, salvo o disposto em
cometer falta grave. convenção ou acordo coletivo66;
Por fim, note‑se que as disposições constitucionais VII – garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para
acerca dos sindicatos também se aplicam à organização de os que percebem remuneração variável;
sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as VIII – décimo terceiro salário com base na remuneração
condições que a lei estabelecer. integral ou no valor da aposentadoria;
IX – remuneração do trabalho noturno superior à do
Considerações Finais diurno;
A Constituição Federal de 1988 assegura aos trabalha- X – proteção do salário na forma da lei, constituindo
dores o direito de greve63, que não deve, no entanto, ser crime sua retenção dolosa;
confundido com o direito de greve dos servidores públicos, XI – participação nos lucros, ou resultados, desvinculada
o qual possui fundamento em norma de eficácia limitada, da remuneração, e, excepcionalmente, participação na ges-
prescrita no art. 37, VII, da Constituição Federal. tão da empresa, conforme definido em lei;
Essa prerrogativa deverá ser utilizada segundo a vontade XII – salário‑família pago em razão do dependente do
dos trabalhadores, não sendo admitida a greve do empre- trabalhador de baixa renda nos termos da lei;
gador, chamada lock out. Dessa forma, compete aos traba- XIII – duração do trabalho normal não superior a oito
lhadores decidir sobre a oportunidade de exercer o direito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a
de greve e os interesses que devam por meio dele defender. compensação de horários e a redução da jornada, mediante
A lei deve definir os serviços ou atividades essenciais, dis- acordo ou convenção coletiva de trabalho;
pondo sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da XIV – jornada de seis horas para o trabalho realizado em
comunidade, bem como deve prever penalidades para o caso turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação
de cometimento de abusos no exercício do direito de greve. coletiva;
Dispõe ainda o texto constitucional, que é assegurada XV – repouso semanal remunerado, preferencialmente
a participação dos trabalhadores e dos empregadores nos aos domingos67;
colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses XVI – remuneração do serviço extraordinário superior, no
profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão mínimo, em cinquenta por cento à do normal;
e deliberação. XVII – gozo de férias anuais remuneradas com, pelo me-
Finalizando o rol do Capítulo II do Título II, dispõe o texto nos, um terço a mais do que o salário normal;
constitucional que é assegurada, nas empresas com mais XVIII – licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do
de duzentos empregados, a eleição de um representante salário, com a duração de cento e vinte dias;
dos trabalhadores com a finalidade exclusiva de promover XIX – licença‑paternidade, nos termos fixados em lei68;
o entendimento direto com os empregadores. Seria assim, XX – proteção do mercado de trabalho da mulher, me-
um verdadeiro representante eleito pelos empregados para diante incentivos específicos, nos termos da lei;
a defesa de seus direitos junto ao empregador. Cabe ressal- XXI – aviso prévio proporcional ao tempo de serviço,
var que isso não retira a obrigatoriedade da intervenção do sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei69;
sindicato nas negociações coletivas de trabalho. XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio
de normas de saúde, higiene e segurança;
Dispositivos Constitucionais XXIII – adicional de remuneração para as atividades pe-
nosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;
tÍtULO II XXIV – aposentadoria;
DOS DIREItOS E GaRaNtIaS FUNDaMENtaIS XXV – assistência gratuita aos filhos e dependentes
............................................................................................. desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade em creches
CaPÍtULO II e pré‑ escolas70;
Dos Direitos Sociais XXVI – reconhecimento das convenções e acordos cole-
tivos de trabalho;
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimen- XXVII – proteção em face da automação, na forma da lei;
tação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, XXVIII – seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do
a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a empregador, sem excluir a indenização a que este está
assistência aos desamparados, naforma desta Constituição. (Re- obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;
dação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 15/9/2015) XXIX – ação, quanto aos créditos resultantes das relações
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os
além de outros que visem à melhoria de sua condição social: trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos
I – relação de emprego protegida contra despedida após a extinção do contrato de trabalho;
arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei comple-

mentar, que preverá indenização compensatória, dentre


outros direitos; 65
Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012.
66
II – seguro-desemprego, em caso de desemprego in- Assunto cobrado na prova da Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligên-
cias/2012.
voluntário64; 67
Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012.
68
Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012.
63
Assunto cobrado na prova do Cespe/Anac/Técnico Administrativo/2012. 69
Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012.
64
Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012. 70
Vunesp/TJ‑SP/Escrevente Técnico Judiciário/2013.
a) e b) (Revogadas pela Emenda Constitucional nº 28, Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores
de 25/5/2000) e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que
XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto
funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, de discussão e deliberação.
cor ou estado civil; Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados,
XXXI – proibição de qualquer discriminação no tocante é assegurada a eleição de um representante destes com a
a salário e critérios de admissão do trabalhador portador finalidade exclusiva de promover‑lhes o entendimento direto
de deficiência; com os empregadores.
XXXII – proibição de distinção entre trabalho manual,
técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos; Nacionalidade
XXXIII – proibição de trabalho noturno, perigoso ou
insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a Nacionalidade é o laço de caráter político e jurídico que
menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, liga um indivíduo a um determinado Estado, de forma a
a partir de quatorze anos; qualificá‑lo como parte integrante do povo. Esse laço traz em si
XXXIV – igualdade de direitos entre o trabalhador com muitos direitos e muitos deveres àqueles que se enquadram
vínculo empregaticio permanente e o trabalhador avulso. nos requisitos necessários à aquisição de uma nacionalidade.
Parágrafo único. São assegurados à categoria dos traba-
lhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, Origem da Nacionalidade
VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI,
XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas A nacionalidade pode ser adquirida por um critério terri-
em lei e observada a simplificação do cumprimento das torial ou por critério hereditário. No primeiro caso, trata‑se
obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes do ius soli, hipótese na qual se adquire uma nacionalidade em
da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos virtude do nascimento dentro do território de determinado
nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua in- Estado. Por outro lado, a aquisição de uma nacionalidade
tegração à previdência social. (Redação dada pela Emenda pode decorrer da nacionalidade dos pais do indivíduo, caso
Constitucional nº 72, de 2013) em que teremos um direito transferido de maneira consan-
Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, ob- guínea, hereditária, o que a doutrina denomina ius sanguinis.
servado o seguinte: Na maioria dos países, os critérios utilizados para a con-
I – a lei não poderá exigir autorização do Estado para a cessão do vínculo da nacionalidade combinam os critérios
fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão consanguíneo e territorial, como no caso do Brasil, que
competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a veremos à frente.
intervenção na organização sindical; Cabe notar que o Direito Constitucional tem um caráter
II – é vedada a criação de mais de uma organização histórico muito marcante, decorrente da evolução gradativa
sindical, em qualquer grau, representativa de categoria pro- nos negócios do Estado. Dessa maneira, conseguimos per-
fissional ou econômica, na mesma base territorial, que será ceber fatores históricos que influenciam demasiadamente
definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, na adoção dos critérios de nacionalidade. Por exemplo, em
não podendo ser inferior à área de um Município; países que tiveram forte movimento emigratório ou que
III – ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses apresentam baixa densidade demográfica, percebe‑se uma
coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões tendência à adoção do critério do ius sanguinis (ex.: Itália e
judiciais ou administrativas; Japão). Em outros, porém, que recebem um grande
IV – a assembleia geral fixará a contribuição que, em se contingente de imigrantes ou que possuem alta densidade
tratando de categoria profissional, será descontada em folha, demográfica, nota‑se que o critério do ius soli ganha mais
para custeio do sistema confederativo darepresentação sindical força (ex.: Estados unidos da América).
respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;
V – ninguém será obrigado a filiar‑se ou a manter‑se Espécies de Nacionalidade
filiado a sindicato;
VI – é obrigatória a participação dos sindicatos nas Destacam‑se duas espécies de nacionalidade: a primária e
negociações coletivas de trabalho71; a secundária. A primária ou originária é aquela que resulta
VII – o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado do nascimento, por mais que o reconhecimento somente
nas organizações sindicais; ocorra posteriormente. Em nosso país denominamos bra-
VIII – é vedada a dispensa do empregado sindicalizado sileiro nato aquele que possui esse tipo de nacionalidade.
a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou A nacionalidade secundária, derivada ou adquirida, se forma
representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até após o nascimento do indivíduo, caso em que brasileiros são
um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave denominados naturalizados.
nos termos da lei.
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam‑se à Polipátridas e apátridas
organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores,
atendidas as condições que a lei estabelecer. É possível que uma pessoa possua mais de uma nacio-
Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos nalidade. trata-se do polipátrida, indivíduo que adquire,
trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê‑lo e de forma primária ou de forma secundária, nacionalidades
sobre os interesses que devam por meio dele defender. diversas, mantendo-as72. No caso do Brasil, as hipóteses de
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e dupla (ou múltipla) nacionalidade estão prevista no art. 12,
disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis § 4º, II, que estudaremos a seguir.
da comunidade. Por sua vez, os apátridas, também chamados heimatlos,
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às não possuem qualquer nacionalidade. Tal situação ocorrerá,
penas da lei. por exemplo, no caso de os pais possuírem a nacionalidade
cionalidade tem caráter personalíssimo (só pode ser exercida
pelo titular do direito), só podendo ser exercida quando o
de um país que adota exclusivamente o critério do ius soli e
indivíduo adquirir a capacidade civil, ou seja, o menor não
terem seu filho em um país que apenas aceita o ius sanguinis.
pode ser representado ou assistido pelos pais para exercer
A criança não possuirá a nacionalidade do país de origem
de seus pais nem a nacionalidade do país em que nasceu. a opção. Assim sendo, depois de atingir a maioridade civil,
O art. 15 da Declaração universal dos Direitos Humanos a opção passa a ser condição suspensiva da nacionalidade
estatui que todos têm direito a uma nacionalidade e proíbe brasileira, isto é, o direito só vale a partir do implemento da
que as pessoas sejam privadas de sua nacionalidade ou que condição. O menor, antes da opção, é, portanto, brasileiro
sejam obrigados a mudar a nacionalidade de forma arbitrária. nato, sendo que, após a maioridade, a opção passa a cons-
tituir condição para a continuidade do vínculo do indivíduo
Formas de aquisição de Nacionalidade no Brasil com o Brasil. A necessidade da maioridade para a realiza-
ção da opção foi positivada pela Emenda Constitucional
Primária (brasileiros natos) nº 54/2007, que inseriu, ainda, a possibilidade de registro
A Constituição brasileira denominou natos aqueles bra- em repartição brasileira no exterior.
sileiros que adquirem a nacionalidade primária. A naciona-
lidade primária pode ser estabelecida pelo ius soli (critério Secundária
territorial), que é aquele determinado pelo local de nasci- Existem duas formas de se adquirir a nacionalidade
mento, ou pelo ius sanguinis (critério hereditário), quando brasileira, que estão previstas na Constituição Federal. Há
a aquisição se dá pela ascendência, ou seja, pelo sangue73. outras hipóteses de naturalização, que são previstas em lei,
No Brasil os critérios de ius soli e ius sanguinis foram mas não possuem cunho constitucional, estando afetas à
adotados de forma mesclada, de tal maneira que diversas matéria Direito Internacional Público. Deixaremos de tratar
hipóteses descritas no texto constitucional envolvem ques- das hipóteses legais, referindo‑nos apenas às hipóteses
tões territoriais e hereditárias ao mesmo tempo. previstas expressamente no texto constitucional.
São brasileiros naturalizados:
São brasileiros natos: 1º Caso (naturalização ordinária)
1º caso: • ser um estrangeiro originário de país de língua por-
• nascidos no Brasil; tuguesa;
• excetuando‑se os filhos de pais estrangeiros a serviço • residir há pelo menos um ano, sem interrupção, no
de seu país de origem. Brasil;
2º caso: • possuir idoneidade moral, ou seja, ter uma conduta
• nascidos no estrangeiro, filho de pai ou mãe brasilei- moralmente correta perante a sociedade.77
ro (não importa se nato ou naturalizado), a serviço 2º Caso (naturalização extraordinária)
do Brasil74. Por exemplo, o filho de uma diplomata • ser estrangeiro, de qualquer nacionalidade;
brasileira a serviço do Brasil em Cuba. A utilização do • residir no Brasil há pelo menos quinze anos, sem
termo ou deixa claro que basta que um dos genitores interrupção;
esteja na situação descrita para que o filho receba a
• não possuir condenação penal;
nacionalidade brasileira.
• requerer a naturalização.78
Ex.: conforme disposição da CF, será brasileiro nato
o filho, nascido em Paris, de mulher alemã e de em-
baixador brasileiro que esteja a serviço do governo O primeiro caso de naturalização depende de um ato
brasileiro naquela cidade quando do nascimento do discricionário do Presidente da República, enquanto o se-
filho.75 gundo caso configura um direito subjetivo do estrangeiro,
3º caso: ficando o Estado brasileiro obrigado a concedê‑la caso todos os
• nascidos no estrangeiro, de pai ou mãe brasileiros, requisitos estejam preenchidos. A concessão da naturali-
desde que: zação, portanto, não está sujeita a juízo de conveniência da
– sejam registrados em repartição brasileira compe- administração, sendo um ato vinculado.
tente; ou Importante lembrar que a naturalização sempre depen-
– venham a residir na República Federativa do Brasil e derá de requerimento do estrangeiro, não existindo mais
optem, em qualquer tempo, após atingida a maiorida- previsão para a naturalização automática, como a grande
de, pela nacionalidade brasileira. A jurisprudência do naturalização que ocorreu no governo provisório do marechal
STF diz que, nesse caso, a nacionalidade é primária, Deodoro da Fonseca (1889‑1891).
pois existe desde o nascimento, ficando apenas sujeita O STF decidiu que o requerimento de naturalização
a uma condição para o seu implemento. possui caráter meramente declaratório. O que isso traz de
efeito prático? Na prática, isso leva ao entendimento de que
A titulo de exemplo: Eulina, nascida em 18 de novembro os efeitos da naturalização retroagem à data da solicitação.
de 2011 no Brasil, é filha de cidadão espanhol e de cidadã Assim, um estrangeiro que possua os 15 anos de residência
croata que estavam passando suas férias em passeio turís- ininterrupta e não tenha sido condenado criminalmente,
tico no Piauí. Carmem, nascida em 22 de fevereiro de 2012 nos termos do art. 12, II, b, da CF, poderá ser investido em
na Grécia, é filha de cidadãos brasileiros que estavam a um cargo público, mesmo que sua posse tenha ocorrido
serviço da República Federativa do Brasil no mencionado antes da naturalização, desde que ele já tenha solicitado a
país. Neste caso, Eulina e Carmem são brasileiras natas76. nacionalidade brasileira.
Segundo o Supremo Tribunal Federal, a opção pela na-
73
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRT 10ª Região (DF e TO)/Técnico Judiciário/
Administrativo/2013.
74
Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/MF/Assistente Técnico/Adminis-

trativo/2012 e Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de


77
Defesa Civil/2012. Assunto cobrado nas seguintes provas: Esaf/MF/Assistente Técnico/Adminis-
75
Cespe/TJ‑DF/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2013. trativo/2012 e Esaf/Ministério da Intergação Nacional/Secretaria Nacional de
76
FCC/Ministério Público do Estado do Amapá/Técnico Ministerial/Auxiliar Ad- Defesa Civil/2012.
78
ministrativo/2012. Assunto cobrado na prova da Esaf/MF/Assistente Técnico/Administrativo/2012.
• adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos em que
Observação: aos portugueses residentes no Brasil é admitida a dupla nacionalidade:
podem ser atribuídos os mesmos direitos reservados – concessão de nacionalidade estrangeira de forma
aos brasileiros naturalizados107. Tal instituto, chamado originária pela lei estrangeira, ou seja, o brasileiro não
de quase nacionalidade (a ser estudado a seguir), não tenha optado por adquiri‑la. Ainda que o brasileiro se
pode ser confundido com a naturalização ordinária. esforce por reconhecer essa nacionalidade, esse reco-
nhecimento não pode ser confundido com pedido de
Quase Nacionalidade naturalização, já que se trata de nacionalidade originá-
ria. Tal situação é muito comum com os descendentes
É possível que os portugueses possuam todas as prerro- de italianos, caso em que a nacionalidade italiana é
gativas dos brasileiros naturalizados, caso em que teremos a concedida pelo critério do ius sanguinis, tornando o
figura do português equiparado. Para obter um certificado de brasileiro um polipátrida.
equiparação, é necessário que o português venha a residir – exigência da aquisição da nacionalidade estrangeira
no Brasil e que haja reciprocidade em relação aos brasileiros para que o brasileiro exerça seus direitos civis no país
que venham a residir em Portugal. Não há, como se pode estrangeiro, ou para que permaneça no território desse
perceber, um prazo mínimo de residência e sequer critérios país.
quanto à índole do português que requer a naturalização.
Cabe ressaltar que a quase nacionalidade não é concedida Dispositivos Constitucionais
a todos aqueles que sejam oriundos de países que adotem
o idioma português como língua oficial, mas apenas àqueles tÍtULO II
que sejam oriundos da República de Portugal. DOS DIREItOS E GaRaNtIaS FUNDaMENtaIS
Nesse caso, não teremos um português naturalizado .............................................................................................
brasileiro, mas sim, um português que, mesmo sem se natu- CaPÍtULO III
ralizar, possui todos os direitos que são conferidos aos brasi- Da Nacionalidade
leiros naturalizados, bastando um certificado de equiparação.
Art. 12. São brasileiros:
Distinções entre Natos e Naturalizados I – natos:
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda
Não poderá haver distinções entre brasileiros natos e na- que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a
turalizados, salvo nos casos previstos na Constituição, a saber: serviço de seu país84;
• possibilidade de extradição apenas dos brasileiros b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
naturalizados (art. 5º, LI, da CF); brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da
• restrições quanto à propriedade de empresas de República Federativa do Brasil;
comunicação social para os brasileiros naturalizados, c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe
consistente na exigência de um mínimo de dez anos brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasi-
de naturalização (art. 222 da CF); leira competente ou venham a residir na República Federativa
• previsão de cargos privativos de brasileiros natos do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a
(art. 12, § 3º, da CF). maioridade, pela nacionalidade brasileira;
II – naturalizados:
São cargos privativos, ou seja, reservados apenas aos a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade
brasileiros natos: brasileira, exigidas aos originários de países de língua
• Presidente e Vice‑Presidente da República80; portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e
• Presidente da Câmara dos Deputados81; idoneidade moral;
• Presidente do Senado Federal; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes
• Ministro do Supremo tribunal Federal82; na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos
• Carreira diplomática; ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram
• Oficial das Forças Armadas83; a nacionalidade brasileira.
• Ministro de Estado da Defesa; § 1º Aos portugueses com residência permanente no
• Membros do Conselho da República (art. 89, VII), que País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão
define a existência de seis brasileiros natos a serem atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos
indicados para esse Conselho. previstos nesta Constituição.
§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasi-
Perda da Nacionalidade leiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta
Constituição.
Perderá a nacionalidade o brasileiro que: § 3º São privativos de brasileiro nato os cargos:
• tiver contra si sentença judicial que cancele a naturali- I – de Presidente e Vice‑Presidente da República;
zação, por haver o brasileiro cometido atividade nociva II – de Presidente da Câmara dos Deputados;
ao interesse nacional (não alcança os natos). III – de Presidente do Senado Federal;
IV – de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
79
Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Ci- V – da carreira diplomática;
vil/2012.
80
Assunto cobrado na prova da FCC/Ministério Público do Estado do Amapá/ VI – de oficial das Forças Armadas;
Técnico Ministerial/Auxiliar Administrativo/2012. VII – de Ministro de Estado da Defesa.
81
Assunto cobrado na prova da FCC/Ministério Público do Estado do Amapá/ § 4º Será declarada a perda da nacionalidade do brasi-
Técnico Ministerial/Auxiliar Administrativo/2012.
82
Assunto cobrado nas seguintes provas: Vunesp/TJ‑SP/Escrevente Técnico Judi- leiro que:
ciário/2012; FCC/Ministério Público do Estado do Amapá/Técnico Ministerial/ I – tiver cancelada sua naturalização, por sentença judi-
Auxiliar Administrativo/2012; Esaf/Ministério da Integração Nacional/Secre-
taria Nacional de Defesa Civil/2012 e Vunesp/Tribunal de Justiça‑SP/Escrevente
cial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;
Técnico Judiciário/2010. 84
83
Vunesp/TJ‑SP/Escrevente Técnico Judiciário/2012. Vunesp/TJ‑SP/Escrevente Técnico Judiciário/2013.
é que, naquele, o Estado realiza a consulta pública antes de
editar o ato, enquanto no referendo, o ato é instituído an-
II – adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: teriormente à consulta pública. Tanto no plebiscito quanto
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela no referendo a decisão popular é soberana.
lei estrangeira; um exemplo prático de plebiscito decorreu da previsão
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, contida no art. 2º do ADCT. Em tal dispositivo, havia a pre-
ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição visão de um plebiscito a ser realizado com a finalidade de
para permanência em seu território ou para o exercício de se estipular a forma de governo (república ou monarquia
direitos civis. constitucional) e o sistema de governo (parlamentarismo
Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da Repú- ou presidencialismo). Tal plebiscito, que fora previsto ini-
blica Federativa do Brasil. cialmente para o dia 7 de setembro de 1993, acabou sendo
§ 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a transferido para a data de 21 de abril de 1993 pela Emenda
bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. Constitucional nº 2/1992.
§ 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios pode- Quanto ao referendo, podemos citar aquele realizado em
rão ter símbolos próprios. outubro de 2005, com a finalidade de decidir a respeito do
fim do comércio de armas e munição no Brasil.
Direitos Políticos De acordo com o art. 49, XV, da Constituição, compete
exclusivamente ao Congresso Nacional, independentemente
Esta parte da Constituição prevê uma série de regras de sanção do Presidente da República, autorizar o referendo
destinadas a delimitar a forma de atuação do indivíduo nas e convocar plebiscito. A Lei nº 9.709/1998 regulamentou o
decisões políticas do Estado. Aquele que se enquadra nos exercício do referendo e do plebiscito, assim definindo os
requisitos impostos pela Constituição para atuar ativamente institutos em seu art. 2º:
na vida política do País recebe a denominação “cidadão”.
A atuação política é um direito público subjetivo que Art. 2º Plebiscito e referendo são consultas formu-
confirma a opção feita no parágrafo único do art. 1º da ladas ao povo para que delibere sobre matéria de
Constituição Federal, de um regime político democrático, acentuada relevância, de natureza constitucional,
no qual “o poder emana do povo, que o exerce por meio de legislativa ou administrativa.
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta § 1º O plebiscito é convocado com anterioridade a
Constituição”. ato legislativo ou administrativo, cabendo ao povo,
A participação indireta do povo no poder ocorre com a pelo voto, aprovar ou denegar o que lhe tenha sido
representação. Nesta, o representante exerce um mandato submetido.
e não fica vinculado à vontade dos representados. Além § 2º O referendo é convocado com posterioridade a
disso, o eleito não representa apenas os seus eleitores, mas ato legislativo ou administrativo, cumprindo ao povo
toda a população de um território. Desse modo, o mandato a respectiva ratificação ou rejeição.
é considerado livre e geral.85
A soberania popular é exercida pelo sufrágio universal A iniciativa popular de lei é uma forma de os cidadãos
e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos 86. iniciarem um projeto de lei, que será votado pelo Congresso
Deve‑se ter muito cuidado com esses termos: Nacional, pelas Assembleias Legislativas ou pelas Câmaras
• Sufrágio é o núcleo básico do direito político, que se Municipais de Vereadores, conforme a iniciativa seja de ato
exprime pela capacidade de atuar politicamente, vo- legislativo federal, estadual ou municipal, respectivamente.
tando, sendo votado etc. O sufrágio aqui adotado é o Cabe ressaltar que o termo “iniciativa popular” não é o mais
universal, que garante a todos o direito do voto com adequado, pois não é qualquer um do povo que pode iniciar
peso único, contrapondo‑se ao sufrágio censitário ou o processo legislativo, mas tão somente os cidadãos.
capacitário, em que há critérios discriminatórios para Os requisitos para a iniciativa popular variam segundo a
o acesso à cidadania. esfera, conforme quadro abaixo:
• Voto representa o próprio exercício do poder decisório.
O voto é direto, secreto e tem valor igual. Iniciativa popular
• Escrutinio é o modo de exercício do direito de voto. Ato normativo requisitos
Segundo o art. 60, § 4º, o voto direto, secreto, universal Assinatura de 1% do eleitorado nacional,
e periódico é cláusula pétrea, ou seja, algo que não pode dividido em pelo menos cinco Estados,
ser extinto por meio de emenda constitucional. Cabe res- Federal sendo que em cada Estado deve ser re-
saltar que não é cláusula pétrea o voto obrigatório, o que colhida assinatura de 0,3% (três décimos
nos leva a pensar que podemos, por meio de uma emenda por cento) do eleitorado estadual.
constitucional, instituir o voto facultativo como regra. Voto Os requisitos devem ser definidos em lei
Estadual
universal significa o fim do voto censitário ou capacitário, estadual.
no qual apenas aqueles que tinham riquezas podiam votar. Assinatura de 5% (cinco por cento) do
Outras formas de exercício da soberania popular são o Municipal
eleitorado do Município.
plebiscito, o referendo e a iniciativa popular. Tais instrumen-
tos se apresentam como emanações da democracia direta, Capacidade Eleitoral Ativa
aquela por meio da qual os cidadãos definem diretamente
suas pretensões, sem a intervenção de representantes. Para votar é necessário o alistamento eleitoral. O alis-
Tanto o plebiscito quanto o referendo são formas de tamento eleitoral é um procedimento administrativo feito
perguntar aos cidadãos o que eles pensam sobre determi- junto à Justiça Eleitoral e que irá permitir a aquisição dos
nada opção política do Estado (lei ou ato administrativo a ser direitos políticos àquele que preencher os requisitos legais
adotado). Tais formas de consulta pública, porém, não são para ser eleitor.
idênticas. A grande diferença entre o plebiscito e o referendo É obrigado a se alistar e a votar o brasileiro que possua
mais de dezoito anos.
85
Cespe/TRE‑BA/Técnico Judiciário/Área Administrativa/2010.
86
FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012.
Podem ou não se alistar e votar, ou seja, possuem alis- rada a vida pregressa do candidato, e a normalidade
tamento e voto facultativo o analfabeto, o maior de setenta e legitimidade das eleições contra a influência do
anos e os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. poder econômico ou o abuso do exercício da função,
Cabe lembrar que tanto o alistamento eleitoral quanto o voto cargo ou emprego na administração direta e indireta.
são facultativos. Assim, um cidadão que se aliste aos dezessete
anos, ainda assim, mantém a sua opção de votar ou não. Esse papel é exercido pela Lei Complementar nº 64/1990.
Não podem se alistar, sendo considerados, portanto, Não é possível a criação de inelegibilidade por lei ordi-
inalistáveis, os estrangeiros e, durante o serviço militar nária ou medida provisória. Não cabe à lei complementar
obrigatório, os militares conscritos87. a criação de inelegibilidades absolutas, papel reservado à
própria Constituição.
Capacidade Eleitoral Passiva – Condições de Há vários tipos de inelegibilidade:
Elegibilidade • absoluta: são impedimentos para a eleição em qual-
quer cargo.
Para que um cidadão possa se candidatar é necessário São absolutamente inelegíveis os inalistáveis (como os
comprovar sua elegibilidade. Para tanto, são necessários estrangeiros e militares conscritos88) e os analfabetos.
alguns requisitos: O rol de inelegibilidades absolutas é taxativo, sendo
• Nacionalidade brasileira. A nacionalidade brasileira impossível o seu implemento por meio de lei.
nata só é exigível para a candidatura a Presidente da • relativa: não são impedimentos relativos à própria
República e Vice‑Presidente da República. Nos cargos pessoa, mas a uma condição circunstancial que restrin-
de senador e deputado federal, a nacionalidade nata ge o exercício da capacidade eleitoral passiva no que
só é exigida do presidente da respectiva Casa. tange a certos cargos. A Constituição Federal admite
• Pleno exercício dos direitos políticos. Se o cidadão a criação de novas inelegibilidades relativas por meio
sofre uma suspensão ou perda dos direitos políticos, de lei complementar. Tratando dessas inelegibilidades
por exemplo, não está apto a ocupar um cargo público legais, temos a Lei Complementar nº 64/1990.
eletivo.
• alistamento eleitoral. É possível o exercício isolado da Inelegibilidades Relativas
capacidade eleitoral ativa, ou seja, é possível que uma O doutrinador Alexandre de Moraes, em seu Direito
pessoa possa votar sem ter capacidade de ser votado, Constitucional, sintetizou com grande clareza as possíveis
tal qual os analfabetos. Por outro lado, o exercício da inelegibilidades relativas. Ousamos, porém, em discordar
capacidade eleitoral passiva depende do alistamento quanto à suposta inelegibilidade relativa referente aos mi-
como eleitor, de tal forma que não é possível ser votado litares. As regras distintas, aplicadas aos militares com mais
sem ter a capacidade de votar. ou com menos de dez anos de serviço, não são, em verdade,
• Domicílio eleitoral na circunscrição. O domicílio inelegibilidades, tendo em vista que não impedem de ne-
eleitoral, que não se confunde com o domicílio civil, nhuma forma o exercício da capacidade eleitoral passiva por
é aquela região onde o cidadão se alista e mantém parte daquele que compõe as forças armadas ou as forças
algum vínculo. militares estaduais. Trata‑se, como veremos, de uma regra
• Filiação partidária. Não é permitida a candidatura de funcional castrense, que somente definirá a possibilidade de
candidato não filiado a partido político. Existem permanência do candidato nas forças armadas.
regras próprias para a candidatura daqueles que não A primeira inelegibilidade que encontramos é a inele-
podem exercer atividade político‑partidária, tais como gibilidade por motivos funcionais. Nesse caso, temos que
os militares. os chefes do Poder Executivo federal, estadual, distrital e
• Idade mínima. A idade mínima será definida de acor- municipal e quem os houver sucedido ou substituído ao
do com o cargo que o candidato pretende ocupar. longo do mandato somente poderão ser reeleitos para um
Segundo o art. 11, § 2º, da Lei nº 9.504/1997, o preen- único período subsequente.
chimento desse requisito será verificado com base na Essa possibilidade foi inserida pela Emenda Constitucio-
data da posse, não do registro da candidatura. Vejamos nal nº 16/1997, beneficiando o então Presidente da República,
quais são as idades relativas a cada cargo eletivo de Fernando Henrique Cardoso (1995‑1998 e 1999‑2002). Tam-
nossa república: bém foi reeleito o Presidente da República Luiz Inácio Lula da
– trinta e cinco anos para Presidente da República, Silva (2003‑2006 e 2007‑2010). A experiência mostrou que há
Vice‑Presidente da República e senador; forte tendência de que o povo venha a preferir a estabi-
– trinta anos para governador e vice‑governador; lidade, evitando a quebra do ciclo iniciado pelo Presidente
– vinte e um anos para deputado federal, estadual e da República em seu primeiro mandato. Essa tendência tam-
distrital, prefeito, vice‑prefeito e juiz de paz; e bém pode ser verificada em outros países, como os Estados
– dezoito anos para vereador. unidos da América do Norte.
O que se proíbe não é o exercício de mais de dois man-
Inelegibilidade datos, mas que se exerça mais de dois mandatos de forma
sucessiva. Nesse ponto, a Constituição brasileira se distingue
As inelegibilidades são condições impeditivas do exercício da Norte Americana, que proíbe que alguém exerça o car-
da capacidade eleitoral passiva. A Constituição traz algumas go de Presidente da República mais de uma vez, de forma
hipóteses de inelegibilidade e prevê que uma lei complemen- sucessiva ou não.
tar deverá estabelecer A renúncia antes do término do mandato não retira a
vedação a um terceiro mandato sucessivo, já que, do con-
outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua ces- trário, a norma poderia ser facilmente burlada, bastando
sação, a fim de proteger a probidade administrativa, que se renunciasse em períodos muito próximos ao fim do
a moralidade para o exercício do mandato, conside- mandato. Além disso, essa vedação também alcança as

87 88
Assunto cobrado na prova do Cespe/TRE‑BA/Técnico Judiciário/Área Adminis- Assunto cobrado na prova do Cespe/TJ‑DF/Técnico Judiciário/Área Administra-
trativa/2010. tiva/2013.
para cargos no Município, os parentes do governador ficam
impedidos de se elegerem pelo próprio Estado e os paren-
eleições previstas no art. 81 da CF, que são aquelas abertas tes do Presidente da República não podem se eleger para
no caso de vacância dos cargos de Presidente da República e qualquer cargo no território brasileiro. Já houve decisão do
Vice‑Presidente da República antes do término do mandato. TSE que estendeu esse impedimento não só para o cônjuge,
Também não é possível que o titular de dois mandatos mas também para o companheiro, ou seja, aquele a que se
presidenciais sucessivos venha a se candidatar a Vice‑Presi- une por meio de uma união estável. Interessante notar que
dente, ainda que realize a desincompatibilização, pois o vice a união estável entre pessoas do mesmo sexo, denominada
substitui e sucede o presidente. Assim, teríamos a possibilidade homoafetiva ou homossexual, também resulta em inelegi-
de um indivíduo exercer o cargo três vezes consecutivas. bilidade, equiparando‑se ao casamento para tais efeitos.
Diferente é a situação do vice, que possui interessantes A desincompatibilização (afastamento do cargo nos
posicionamentos jurisprudenciais. Vejamos: seis meses anteriores ao pleito) também traz reflexos para
• O vice, reeleito ou não, pode se candidatar ao cargo do a inelegibilidade reflexa. Assim, de acordo com o entendi-
titular, mesmo se houver substituído o titular durante mento do Tribunal Superior Eleitoral, caso o titular do cargo
o mandato. eletivo executivo renuncie ao mandato seis meses antes das
• Se o vice houver substituído o titular nos últimos seis eleições, seus parentes e cônjuge (ou companheiro) poderão
meses anteriores à eleição, poderá se candidatar ao se candidatar para cargos eletivos no mesmo território de
cargo do titular, mas não poderá buscar, posterior- jurisdição.
mente, a reeleição. A substituição já terá contado Cabe, porém, uma ressalva no sentido de que o parente
como um primeiro mandato. Essa mesma regra, com somente poderá ocupar o mesmo cargo preenchido pelo
maior razão, também é aplicada no caso de sucessão, renunciante por uma vez consecutiva. Então, se João, pai de
a qualquer tempo. Marília, é prefeito de uma cidade e realiza a desincompati-
• Se o vice desejar disputar cargo que não seja o do seu bilização, Marília somente poderá ocupar o cargo por um
respectivo titular, deverá obedecer à norma descrita mandato. Essa regra se mostra de extrema importância, pois
no art. 1º, § 2º, da LC nº 64/1990, que assim dispõe: considera os parentes como um único candidato, mesmo que
pela via reflexa, evitando assim a perpetuação de oligarquias
o Vice‑Presidente, o Vice‑Governador e o Vice‑Pre- feito no poder pela técnica do revezamento entre membros da
poderão candidatar‑se a outros cargos, preser- vando mesma família. A possibilidade de ocupar o cargo de chefe
os seus mandatos respectivos, desde que, nos do Poder Executivo não será concedida ao parente, porém,
últimos 6 (seis) meses anteriores ao pleito, não se o atual ocupante estiver no segundo mandato, caso em
tenham sucedido ou substituído o titular.
que, efetuada a desincompatibilização por um prefeito, por
exemplo, o parente fica elegível, não podendo, entretanto, se
• Se o vice houver sucedido o titular, ele ocupará de
candidatar ao cargo de prefeito, nem mesmo de vice‑prefeito,
forma plena esse cargo e, com isso, recebe também
em respeito ao art. 14, § 5º e 7º, da CF.
todas as incompatibilidades. Dessa forma, caso queira Dessa forma, se o renunciante ao mandato for o prefeito
se candidatar a cargo diverso, deverá proceder à de-
reeleito do Município de Cabrobró, sua companheira poderá
sincompatibilização.
se candidatar a deputada federal, mas não a prefeita do
referido Município.
Estes mesmos chefes do Executivo, caso queiram se ele-
O Supremo Tribunal Federal decidiu que não subsiste a
ger para outros cargos, deverão renunciar ao mandato seis
inelegibilidade se havia separação de fato do cônjuge antes
meses antes das eleições. Esta norma não se aplica para o
do início do mandato, já que o que a norma busca é evitar
caso de reeleição para o mesmo cargo, em que é inexigível
o monopólio do poder político por grupos hegemônicos
tal afastamento. Essa renúncia é o que a doutrina chama de
ligados por laços familiares. No caso concreto analisado
norma de desincompatibilização do chefe do Poder Execu-
pela Suprema Corte, a separação de fato foi reconhecida na
tivo, já que tem a função de retirar uma incompatibilidade,
sentença que decidiu o pedido de divórcio.
evitando o uso da máquina pública para favorecimento do
Outra inelegibilidade é a denominada inelegibilidade por
candidato.
motivo de domicílio, que deriva da condição para exercício
O vice que deseja se candidatar ao cargo de titular não
da cidadania passiva e envolve a exigência de que, na forma
tem obrigação de proceder à desincompatibilização.
da lei, o requisito do domicílio eleitoral seja preenchido. As-
A renúncia ou licença para o exercício de outros cargos
sim sendo, a legislação eleitoral determina um prazo mínimo
pode ser requerida, mas não é obrigatória e nem gerará
de domicílio na circunscrição eleitoral em que se pretende
inelegibilidade do renunciante.
concorrer. Isso acaba gerando um obstáculo ao cidadão que
O Vice‑Presidente, vice‑governador e vice‑prefeito po-
derão concorrer para outros cargos sem a necessidade de deseja alterar seu domicílio para se candidatar em uma outra
renunciar, desde que nos seis meses antes das eleições não circunscrição, por exemplo.
tenham sucedido ou substituído o titular. Por fim, cabe registro de que as inelegibilidades e as
Outra inelegibilidade relativa é aquela que aparece por condições de elegibilidade são aferidas ao tempo do registro
motivo de casamento, parentesco ou afinidade. No território da candidatura.
de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos
ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente Militares
da República, de governador de Estado ou Território, do
Distrito Federal, de prefeito ou de quem os haja substituído O militar das forças armadas e os militares dos Estados,
dentro dos seis meses anteriores não poderão ser eleitos. Distrito Federal e Territórios são plenamente alistáveis, desde
No caso de reeleição do cônjuge ou parente, não há esse que não estejam na condição de conscritos. Por outro lado,
impedimento, ou seja, se o cônjuge ou parente já é titular de o art. 142, § 3º, V, da Constituição Federal, determina que o
mandato eletivo e está concorrendo ao mesmo cargo, não “militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a
haverá tal impedimento, que é denominado inelegibilidade partidos políticos”.
reflexa. Diante desse quadro surgiu um problema: como permitir
Como consequência de estar restrita à jurisdição do chefe o registro da candidatura do militar se, para comprovar a
do Executivo, os parentes do prefeito não podem se eleger
elegibilidade, é necessário comprovar filiação partidária? A dos direitos políticos, por também resultarem na perda da
resposta foi dada pelo Tribunal Superior Eleitoral. nacionalidade, por exemplo, a perda da nacionalidade pela
O TSE entendeu que o militar da ativa, sendo alistável e aquisição de outra (art. 12, § 4º, II).
elegível, mas não filiável, em função de sua condição excep-
cional, não precisa comprovar a prévia filiação partidária, Princípio da anualidade da Lei Eleitoral
bastando demonstrar o pedido do registro da candidatura,
apresentado pelo partido e autorizado pelo candidato. Para evitar mudanças de última hora nas regras do “jogo”,
Interessante notar que a mesma regra não será aplica- a Constituição Federal prevê que uma lei editada para alterar
da ao servidor da Justiça Eleitoral, tendo em vista que se o processo eleitoral só se aplicará às eleições que ocorram
trata de situação diversa. O referido servidor, em respeito à pelo menos um ano após sua vigência. A vigência dessas leis
moralidade que deve ser preservada nos pleitos eleitorais, coincidirá com a sua publicação, não existindo, via de regra,
para candidatar‑se deverá pedir exoneração do cargo público vacatio legis, ou seja, período de tempo entre a publicação
em tempo hábil para o cumprimento da exigência legal de e a vigência.
filiação partidária.
A partir do registro da candidatura o militar será: Dispositivos Constitucionais
• afastado da atividade se tiver menos de dez anos de
serviço; ou tÍtULO II
• agregado pela autoridade superior se contar com mais DOS DIREItOS E GaRaNtIaS FUNDaMENtaIS
de dez anos de serviço. O militar ficará na condição de .............................................................................................
agregado a partir do registro da candidatura até a diplo- CaPÍtULO IV
mação, caso eleito, ou até o regresso à força armada, Dos Direitos Políticos
caso não seja eleito. Na hipótese de ser eleito, o militar
que estava agregado, passará para a inatividade no ato Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio
da diplomação. universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para
todos, e, nos termos da lei, mediante:
O afastamento da atividade do militar que possui menos I – plebiscito;
de dez anos de serviço é considerado definitivo, sem possi- II – referendo;
bilidade de retorno à atividade, portanto. III – iniciativa popular89.
§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são:
Perda ou Suspensão dos Direitos Políticos I – obrigatórios para os maiores de dezoito anos;
II – facultativos para:
Não existe mais no Brasil a cassação de direitos políticos, a) os analfabetos;
utilizada como instrumento político de repressão em tempos b) os maiores de setenta anos;
passados. Atualmente, somente é permitida a perda (tempo c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.
indefinido) ou suspensão (tempo definido) desses direitos. § 2º Não podem alistar‑se como eleitores os estran-
O fato de a perda não ter tempo definido de duração não geiros e, durante o período do serviço militar obrigatório,
significa que ela seja perpétua. Haverá sempre a possibi- os conscritos90.
lidade de se afastar a causa da perda, restaurando‑se os § 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei:
direitos políticos. I – a nacionalidade brasileira91;
A perda/suspensão dos direitos políticos implica a im- II – o pleno exercício dos direitos políticos;
possibilidade de votar, de ser votado e, se já detentor de III – o alistamento eleitoral;
mandato eletivo, de perder o cargo. IV – o domicílio eleitoral na circunscrição92;
São hipóteses de perda dos direitos políticos: V – a filiação partidária;
• cancelamento da naturalização por sentença transitada VI – a idade mínima de:
em julgado; e a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice‑Presidente
• recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou pres- da República e Senador93;
tação alternativa (art. 5º, VIII, da CF). b) trinta anos para Governador e Vice‑Governador de
Estado e do Distrito Federal94;
São hipóteses de suspensão: c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado
• condenação criminal com trânsito em julgado, enquan- Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice‑Prefeito e juiz de paz95;
to durarem os efeitos da pena; d) dezoito anos para Vereador.
• improbidade administrativa (art. 37, § 4º, da CF); e § 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.
• incapacidade civil absoluta. § 5º O Presidente da República, os Governadores de
Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver
Basta a verificação judicial da incapacidade civil abso- sucedido, ou substituído, no curso dos mandatos poderão
luta, mediante decretação de interdição de incapaz, para a ser reeleitos para um único período subsequente.
imediata suspensão dos direitos políticos. § 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da
A suspensão por condenação criminal com trânsito em República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal
julgado se aplica inclusive aos casos de condenação por con-

travenções penais. No caso de o condenado ser beneficiado 89


FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012.
com a suspensão condicional da pena, o sursis, não ocorre a 90
FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012.
reaquisição dos direitos políticos, continuando suspensos até 91
Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012.
92
a extinção da punibilidade. Assunto cobrado nas seguintes provas: Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Di-
ligências/2012 e FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012.
É necessária uma sentença judicial para a decretação da 93
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Técnico Judiciário/Área
perda dos direitos políticos, de uma forma geral. Administrativa/2013; Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012 e
Existem outras hipóteses previstas na Constituição FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Administração/2012.
94
Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012.
Federal que acabarão por resultar em perda e suspensão 95
Funcab/MPE‑RO/Técnico/Oficial de Diligências/2012.
• prestação de contas à Justiça Eleitoral100;
• funcionamento parlamentar de acordo com a lei101.
e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos
até seis meses antes do pleito96.
§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titu- Os partidos políticos são dotados de autonomia no que
lar, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o tange à sua estrutura interna. Os estatutos, que devem ser
segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, registrados no Tribunal Superior Eleitoral após a aquisição da
de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, personalidade civil, devem estabelecer normas de fidelidade
de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis e disciplina partidárias.
meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato O Supremo Tribunal Federal entende que a fidelidade
eletivo e candidato à reeleição. partidária emana da Constituição e impede que os candi-
§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes datos eleitos venham a migrar de partido. Entendeu‑se que o
condições: caráter partidário é particularmente verificado no sistema
I – se contar menos de dez anos de serviço, deverá proporcional e que a mudança de partido quebra um voto
afastar‑se da atividade; de confiança que é dado pelo cidadão‑eleitor e gera uma re-
II – se contar mais de dez anos de serviço, será agregado lação desequilibrada de forças no parlamento. Ressaltou‑se,
pela autoridade superior e, se eleito, passará automatica- na hipótese, que não se tratava de impor sanções como as
mente, no ato da diplomação, para a inatividade. descritas no art. 55 da Constituição Federal, mas de reco-
§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de nhecer que não há direito subjetivo a manter‑se no cargo,
inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger que, em essência, pertence ao partido. Considera‑se, assim,
a probidade administrativa, a moralidade para exercício de a desfiliação ou a transferência injustificada um ato culposo
mandato considerada vida pregressa do candidato, e a nor- incompativel com a função representativa do ideário político
malidade e legitimidade das eleições contra a influência do responsável pelo ingresso do parlamentar na sua função
poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo
representativa.
ou emprego na administração direta ou indireta.
§ 10. O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Ainda em relação à fidelidade partidária, entendeu a Su-
Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da di- prema Corte que o reconhecimento da fidelidade partidária
plomação, instruída a ação com provas de abuso do poder não implicava atividade legiferante do Poder Judiciário, mas
econômico, corrupção ou fraude97. sim conferir a máxima efetividade das normas constitucio-
§ 11. A ação de impugnação de mandato tramitará em nais. Asseverou‑se, ainda, que não haveria nulidade nos atos
segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se praticados pelos parlamentares tidos por infiéis, tendo em
temerária ou de manifesta má‑fé. vista a aplicação da teoria do agente estatal de fato.
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo
perda ou suspensão só se dará nos casos de: partidário e a horários gratuitos na televisão e no rádio.
I – cancelamento da naturalização por sentença transi- É proibida a formação de partidos políticos de caráter
tada em julgado; paramilitar. Aliás, toda forma de associação é proibida de
II – incapacidade civil absoluta; possuir tal caráter. uma associação de caráter paramilitar é
III – condenação criminal transitada em julgado, enquan- aquela que se caracteriza, por exemplo, pelo uso de unifor-
to durarem seus efeitos; mes, patentes e palavras de ordem com fins militares.
IV – recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou
prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; Verticalização
V – improbidade administrativa, nos termos do art. 37,
§ 4º. A Emenda Constitucional nº 52, de 8 de março de 2006,
Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em acabou com o instituto denominado verticalização, ou
vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição seja, a obrigação de que as coligações de âmbito nacional
que ocorra até um ano da data de sua vigência. encontrassem paralelo nas coligações feitas no âmbito es-
tadual, municipal e distrital. Essa regra, apesar de constituir
Partidos Políticos importante norma de moralização do sistema partidário,
impedindo a utilização do partido para efeitos eleitorais que
Os partidos políticos podem ser livremente criados,
subvertessem as diferentes ideologias por eles defendidas,
fundidos, incorporados ou extintos, desde que se resguarde:
limitava a atuação dos partidos, o que levou o Congresso
• a soberania nacional;
• o regime democrático; Nacional a promulgar a EC nº 52/2006, com a intenção de
• o pluripartidarismo; que ela tivesse validade para as eleições que ocorreriam no
• os direitos fundamentais da pessoa humana. mesmo ano.
Atentativa de fazer com que averticalização já se extinguis-
Existem alguns preceitos que devem ser observados se no ano de 2006 feria o art. 16 da Constituição Federal, que
pelos partidos políticos. São eles: prevê o princípio da anterioridade da lei eleitoral, o que foi reco-
• caráter nacional98; nhecido pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da ADI
• proibição de recebimento de recursos financeiros de nº 3.685/DF–STF, em que se entendeu que o § 1º do art. 17
entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação alterava profundamente o processo eleitoral em nosso País,
a estes99; razão pela qual somente deve incidir sobre as eleições que
ocorram após um ano da sua inserção no texto constitucional.
96
FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judiciário/Área Administrati-
va/2010.
97
Assunto cobrado na prova da FGV/Senado Federal/Técnico Legislativo/Admi-
nistração/2012.

98
Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico
100
Judiciário/Área Administrativa/2010. Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico
99
Assunto cobrado nas seguintes provas: Cespe/TJ‑DF/Técnico Judiciário/Área Judiciário/Área Administrativa/2010.
101
Administrativa/2013 e FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico Judici- Assunto cobrado na prova da FCC/Tribunal Regional Eleitoral do Acre/Técnico
ário/Área Administrativa/2010. Judiciário/Área Administrativa/2010.
Dispositivos Constitucionais 2. (Secretaria de Defesa Social/Curso de Formação de Ofi-
ciais da Polícia Militar de Pernambuco/2014) Quanto
tÍtULO II às chamadas “ações constitucionais”, é correto afirmar
DOS DIREItOS E GaRaNtIaS FUNDaMENtaIS que:
............................................................................................. a) o Mandado de Segurança poderá ser concedido
CaPÍtULO V para proteger direito líquido e certo, mesmo ampa-
Dos Partidos Políticos rado por habeas corpus ou habeas data, quando o
responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no
de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, exercício de atribuições do Poder Público.
o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fun- b) o habeas data somente é concedido para a retifi-
damentais da pessoa humana e observados os seguintes cação de dados, quando não se prefira fazê‑lo por
preceitos: processo sigiloso, judicial ou administrativo.
I – caráter nacional; c) associação legalmente constituída e em funciona-
II – proibição de recebimento de recursos financeiros mento há menos de um ano poderá impetrar Man-
de entidade ou governo estrangeiros ou de subordinação a dado de Segurança coletivo em defesa dos interesses
estes; de seus associados.
III – prestação de contas à Justiça Eleitoral; d) o Mandado de Injunção será concedido sempre que
IV – funcionamento parlamentar de acordo com a lei. a falta de norma regulamentadora torne inviável o
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para exercício dos direitos e liberdades constitucionais e
definir sua estrutura interna, organização e funcionamento das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à sobe-
e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas co- rania e à cidadania.
ligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre e) somente o Ministério Público é parte legítima para
as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou propor ação popular que vise anular ato lesivo ao
municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de patrimônio público ou de entidade de que o Esta-
disciplina e fidelidade partidária. do participe, à moralidade administrativa, ao meio
§ 2º Os partidos políticos, após adquirirem personalidade ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.
jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no
Tribunal Superior Eleitoral. 3. (Prefeitura do Jaboatão dos Guararapes/ Secretaria
§ 3º Os partidos políticos têm direito a recursos do Municipal de Planejamento, Gestão e Desenvolvimento
fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na Econômico/Guarda Municipal/2014) Sobre os Direitos
forma da lei. e Garantias Fundamentais, assinale a alternativa incor-
§ 4º É vedada a utilização pelos partidos políticos de reta nos termos da Constituição Federal.
organização paramilitar. a) Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei.
EXERCÍCIOS b) A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
podendo penetrar sem consentimento do morador,
1. (Secretaria de Defesa Social/Curso de Formação de salvo em caso de flagrante delito, desastre, para
Oficiais da Polícia Militar de Pernambuco/2014) Todos prestar socorro ou, durante o dia, por determinação
são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na- judicial.
tureza, garantindo‑se aos brasileiros e aos estrangeiros c) O preso tem direito à identificação dos responsáveis
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à por sua prisão ou por seu interrogatório policial.
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos d) A lei não poderá estabelecer distinção entre brasilei-
termos seguintes: ros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos
I – A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela na Constituição Federal.
podendo penetrar sem consentimento do morador, e) A Constituição Federal veda que os Estados, o Distrito
salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para Federal e os Municípios tenham símbolos próprios.
prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial. 4. (IAuPE/ARPE/Analista de Regulação de Serviços Públi-
II – A lei estabelecerá o procedimento para desapro- cos Delegados/Área Jurídica/2014) Com relação aos
priação por necessidade ou utilidade pública, ou por direitos e garantias fundamentais constantes da Cons-
interesse social, mediante justa e prévia indenização tituição, analise as afirmativas abaixo:
em dinheiro, ressalvados os casos previstos nessa Cons- I – A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela
tituição. podendo penetrar sem consentimento do morador, sal-
III – Qualquer cidadão é parte legítima para propor ação vo em caso de flagrante delito, desastre, para prestar
popular que vise anular ato lesivo ao patrimônio público socorro ou, durante qualquer horário, por determina-
ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade ção judicial.
administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histó- II – Ninguém será privado de direitos por motivo de
rico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má‑fé, crença religiosa, de convicção filosófica ou política,
isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência. salvo se as invocar para eximir‑se de obrigação legal a
todos imposta e recusar‑se a cumprir prestação alter-
Assinale a alternativa correta. nativa fixada em lei.
a) Somente a afirmativa III está correta. III – A criação de associações e a de cooperativas in-
b) Somente a afirmativa I está incorreta. dependem de autorização, não sendo exigida lei que
c) Somente as afirmativas I e III estão incorretas. as regule, sendo vedada a interferência estatal em seu
d) Todas as afirmativas estão corretas. funcionamento.
e) Todas as afirmativas estão incorretas.
e) As liberdades públicas não são incondicionais, por
isso devem ser exercidas de maneira harmônica, ob-
Assinale servados os limites definidos na própria Constituição
a) se somente I estiver correta. Federal e nas leis inferiores.
b) se somente II estiver correta.
c) se somente III estiver correta. 9. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Acer-
d) se somente II e III estiverem corretas.
ca do Princípio da Livre Manifestação de Pensamento,
e) se I, II e III estiverem corretas.
é incorreto afirmar que
a) o direito à livre expressão não pode abrigar, em sua
5. (IAuPE/ARPE/Analista de Regulação de Serviços Públi-
abrangência, manifestações de conteúdo imoral que
cos Delegados/Área Jurídica/2014) A garantia consti-
tucional, que deve ser usada para incluir nos assenta- implicam ilicitude penal.
mentos do impetrante a justificativa sobre informação b) as liberdades públicas não são incondicionais, por
verdadeira, mas que está pendente de decisão admi- isso devem ser exercidas de maneira harmônica, ob-
nistrativa ou judicial, denomina‑se servados os limites definidos na própria Constituição
a) mandado de segurança. Federal.
b) mandado de injunção. c) o preceito fundamental de liberdade de expressão
c) habeas data. não consagra o ‘direito à incitação ao racismo’, dado
d) ação ordinária. que um direito individual não pode constituir‑se em
e) medida cautelar. salvaguarda de condutas ilícitas, como sucede com
os delitos contra a honra.
6. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Acer- d) a liberdade de expressão constitui‑se em direito fun-
ca dos Direitos Fundamentais, é correto afirmar que: damental do cidadão, envolvendo o pensamento, a
a) os estrangeiros residentes no País não fazem jus aos exposição de fatos atuais ou históricos e a crítica.
direitos e garantias fundamentais. e) a proteção constitucional à livre manifestação de
b) somente os estrangeiros residentes legalmente no pensamento não engloba os direitos de ouvir, assistir
País fazem jus aos direitos e garantias fundamentais. ou ler.
c) não há, no Brasil, direitos ou garantias que se revis-
tam de caráter absoluto. 10. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Acer-
d) os direitos e garantias individuais têm caráter abso- ca dos Princípios da Inviolabilidade da Intimidade, da
luto. vida privada, da honra e imagem, marque a alternativa
e) somente os brasileiros fazem jus aos direitos e ga- incorreta.
rantias fundamentais. a) É inadmissível, como regra, a quebra do sigilo fiscal,
bancário e telefônico de qualquer pessoa ou autori-
7. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Acer- dade pública.
ca do Princípio da Igualdade, é correto afirmar que b) A utilização de imagem ou fotografia, sem prévia au-
a) o princípio da isonomia para ter aplicação efetiva torização, de pessoa em anúncio com fins lucrativos
precisa de regulamentação ou de complementação caracteriza violação a sua imagem.
normativa. c) É inadmissível, como prova, a degravação de conver-
b) é ilegal a promoção de militares dos sexos masculino sa telefônica e de registros contidos na memória de
e feminino mediante critérios diferenciados, haja vis- microcomputador, obtidos sem ordem escrita do juiz
ta todos pertencerem à mesma Corporação Militar.
do promotor ou do delegado.
c) a lei específica pode estabelecer critérios diferen-
d) É inadmissível a utilização de provas ilícitas ou for-
ciados para promoção entre homens e mulheres,
jadas.
na carreira militar.
e) É inadmissível a veiculação pública, por órgão de co-
d) não é possível, em hipótese alguma, se estabelecer
diferença de critérios de admissão, considerando‑se municação, de fatos apurados em inquérito policial.
o sexo.
e) é ilegal se estabelecerem diferenças em razão de 11. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Acer-
tamanho e/ou requisitos físicos para homens e mu- ca do Princípio da inviolabilidade de Correspondência
lheres ingressarem no serviço público. e de Comunicação, não se pode afirmar que:
a) é ilegal a condenação de alguém, se, no processo,
8. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Acer- foi utilizada prova ilícita, caracterizada pela escuta
ca do Princípio da Legalidade, assinale a alternativa ver- telefônica indevida, ainda que outras provas existam
dadeira. sobre a culpa do réu.
a) A previsão de exame psicotécnico em concurso pú- b) somente a lei pode estabelecer os casos e as condi-
blico depende, apenas, de prévia previsão no edital ções em que se realizará a escuta telefônica.
do certame. c) não se pode preventivamente impedir que o juiz
b) A decisão que grava um prédio pelo tombamento, possa autorizar uma escuta telefônica.
decorrente do poder de polícia, limitando o direito d) a gravação clandestina de uma conversa torna ilegal
de propriedade, tendo em conta sua feição social, há esta prova, não podendo a gravação ser utilizada,
de ser exercida em estrita observância ao princípio ainda que para inocentar o réu.
da legalidade. e) a gravação de conversa pessoal, ambiental ou te-
c) A lei ou o regulamento podem ditar regras de ação lefônica feita por um dos interlocutores sem o co-
positiva (fazer) ou negativa (Não fazer ou de se abs- nhecimento dos demais constitui ação clandestina,
ter). mas não ilegal, podendo esta prova ser usada num
d) Pode‑se criar obrigações, funções e deveres aos processo para condenar um dos interlocutores.
servidores públicos militares pela via de decreto
autônomo ou resoluções.
12. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Acer- a) não poderá participar do concurso, tendo em vista
ca do Direito de Reunião e de Associação, não se pode a restrição do edital.
afirmar que b) poderá impetrar “habeas data” e assegurar o seu
a) é plena a liberdade de associação para fins lícitos. direito de participar do concurso.
b) a lei poderá estabelecer requisitos objetivos para c) poderá impetrar mandado de segurança, pleiteando
criação de associações e sindicatos sem que isso con- sanar a ilegalidade do edital e assegurar a sua parti-
figure interferência estatal no seu funcionamento ou cipação no concurso.
na sua autonomia. d) poderá ingressar em juízo com “habeas corpus” e
c) o direito à livre associação, embora seja atribuído participar do concurso.
e reconhecido a cada pessoal, somente pode ser e) terá como única alternativa ingressar com represen-
tação perante o Ministério Público, o qual proporá
exercido de forma coletiva, com várias pessoas.
d) é assegurado ao servidor público o direito à livre ação popular atinente à matéria.
associação, permitindo que os policiais militares
16. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) O
estaduais tenham suas próprias associações e sin-
princípio constitucional, segundo o qual ninguém é
dicatos, para atuarem na defesa de seus interesses. considerado culpado até o trânsito em julgado de sen-
e) o Policial Militar Estadual associado poderá ser re- tença penal condenatório, é o princípio da(o)
presentado por sua associação de classe, na defesa a) vedação às provas ilícitas.
dos interesses da categoria, desde que previsto nos b) ampla defesa..
estatutos desta ou em lei. c) contraditório.
d) presunção de inocência
13. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Acer- e) devido processo legal.
ca dos Direitos Fundamentais, é incorreto afirmar que
a) embora os direitos fundamentais estejam previstos 17. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009)
na Constituição Federal de 1988, nada impede que Quando a falta de norma regulamentadora de uma
outros sejam reconhecidos, decorrentes dos princí- previsão constitucional inviabilizar o exercício dos di-
pios por ela adotados ou dos tratados internacionais reitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas
em que a República Federativa do Brasil seja parte. inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania,
b) a proteção ao direito à vida prevista na Constituição pode o prejudicado ingressar em juízo com um
Federal de 1988 impede a realização de abortos fora a) Mandado de Segurança.
dos casos previstos em lei. b) Mandado de Segurança Coletivo.
c) o Brasil se submete à jurisdição de tribunal penal c) Mandado de Injunção
internacional desde que tenha aderido a este e con- d) “Habeas Data”.
cordado com sua criação. e) “Habeas Corpus”.
d) a proteção ao direito à vida prevista na Constituição
Federal de 1988 impede que se reconheça o direito 18. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Com
à eutanásia. relação ao sigilo de correspondência, é correto afirmar
e) a proteção ao direito à vida prevista na Constituição que:
Federal de 1988 impede que se reconheça o direito a) o sigilo telefônico só pode ser quebrado pela polícia
ao suicídio, sendo sua prática um crime. judiciária nas hipóteses de crime(s) apenado(s) com
reclusão.
14. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Acer- b) é possível a interceptação telefônica por ordem do
ca do Direito de Propriedade, é correto afirmar que Ministério Público, para fins de investigação de pa-
a) o direito à propriedade não é absoluto, devendo ternidade.
atender a sua função social. Considera‑se ato ca- c) a interceptação telefônica só pode ser determinada
racterizador do não atendimento da função social pelo Juiz após representação do Delegado de Polícia,
da propriedade rural o fato de essa não cumprir os pelo prazo improrrogável de 15 (quinze) dias.
direitos trabalhistas dos empregados que nela tra- d) a interceptação telefônica poderá ser decretada pelo
balham. Juiz para fins de investigação criminal ou instrução
b) viola o direito de propriedade o estabelecimento processual penal.
de regras que limitem o seu exercício, tais como o e) no caso de crimes hediondos, pode a autoridade
estabelecimento de recuos e limites máximos de policial determinar a interceptação telefônica.
área construída ou a fixação de altura máxima para
edificação. Com base nessa informação, responda às duas questões
c) o descumprimento da função social da propriedade seguintes
pode autorizar a desapropriação de um imóvel urba-
no para fins de reforma agrária, desde que precedido O art. 5º, inciso XI, da Constituição Federal, determi-
de prévia e justa indenização em dinheiro. na que a casa é o asilo inviolável do indivíduo, nela
d) os procedimentos para desapropriação para fins de ninguém podendo penetrar sem o consentimento do
interesse social, utilidade pública e reforma agrária morador, salvo em algumas situações expressamente
podem ser estabelecidos por decreto do poder exe- previstas na própria Constituição.
cutivo estadual.
e) toda desapropriação deverá ser precedida de prévia 19. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Po-
e justa indenização em dinheiro, independentemen- de‑se dizer que não está compreendido como domicílio
te de sua finalidade. (“ou casa”)
a) o apartamento em que o indivíduo resida com sua
15. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) família.
Aquele que estiver na iminência de sofrer coação ao b) o quarto de hotel, quando não esteja sendo utilizado.
seu direito de inscrever‑se em um concurso público, c) a área destinada à administração e gerência de um
por questões alusivas à cor da sua pele bar ou restaurante.
24. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) O
princípio constitucional em decorrência do qual não
d) o “trailler” que sirva de residência. se admite a pena de morte no Brasil é o princípio da(o)
e) as alternativas “b” e “d” estão corretas. a) reserva legal.
b) ampla defesa.
20. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) Du- c) contraditório.
rante a noite, não se pode ingressar na casa do indiví- d) “favor rei”.
duo, sem o seu consentimento, e) humanidade.
I – para cumprimento de ordem judicial.
II – para prestar socorro. (Cespe/MPu/Técnico do MPu/Segurança Institucional e
III – em caso da prática de crime em flagrante. Transporte/2015) Os direitos fundamentais arrolados pela
IV – em caso de desastre. CF balizam o trabalho do servidor público. Considerando as
disposições constitucionais insculpidas nos artigos que vão
Somente está incorreto o que se afirma em do 5º ao 15, julgue os itens subsecutivos.
a) I. 25. O fornecimento de certidão para a defesa de direitos
b) I e III. ou para o esclarecimento de situações pessoais pelos
c) II e III. órgãos públicos encontra respaldo constitucional.
d) II, III e IV. 26. É incondicional o direito à reunião com fins pacíficos em
e) III. local aberto ao público.
27. A prática de racismo constitui crime inafiançável e im-
21. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) O prescritivel.
suspeito da prática de um crime que é conduzido até 28. Só a lei pode obrigar a pessoa a fazer ou deixar de fazer
uma Delegacia de Polícia alguma coisa.
a) está obrigado a responder às perguntas que lhe fo- 29. As cartas dirigidas a servidor podem ser livremente aber-
rem formuladas, sob pena de que seu silêncio seja tas pelos órgãos de segurança institucional.
interpretado em desfavor de sua defesa.
b) não está obrigado a responder às perguntas que 30. (Funiversa/SAPeJuS‑GO/Agente de Segurança Prisional/
lhe forem formuladas, salvo se estiver em flagrante 2015) Segundo a Constituição Federal, é correto afirmar
delito. que
c) não está obrigado a responder as perguntas que lhe a) é possível a aplicação da pena de banimento no Brasil.
forem formuladas, não podendo o seu silêncio ser b) a lei regulará a individualização da pena e adotará,
interpretado em prejuízo de sua defesa. entre outras, a prestação social alternativa e a sus-
d) não pode se recusar a falar, pois o direito ao silêncio pensão ou interdição de direitos.
só é válido em juízo. c) o brasileiro nato pode ser extraditado, em caso de
e) poderá exercer o seu direito ao silêncio, salvo se comprovado envolvimento em tráfico ilícito de en-
estiver sendo acusado da prática de crime hediondo. torpecentes e drogas afins, na forma da lei.
d) pode ser concedida a extradição de estrangeiro por
22. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) As- crime de opinião.
sinale a alternativa correta. e) é permitido o trabalho noturno a menores de 16 anos,
a) No Brasil, não há prisão civil por dívida. na condição de aprendiz.
b) Somente se admite a prisão civil por dívida decorren-
te do inadimplemento de pena de multa que tenha 31. (Funiversa/SAPeJuS‑GO/Agente de Segurança Prisional/
sido aplicada em processo criminal. 2015) Com base na Constituição Federal, assinale a al-
c) Admite‑se a prisão civil pelo não pagamento de fiança. ternativa correta.
d) A prisão civil por dívida somente subsiste no Brasil, a) É reconhecida a instituição do júri, sendo asseguradas
nas hipóteses de inadimplemento de pensão alimen- a plenitude de defesa, a publicidade das votações e
ticia e de depositário infiel. a soberania dos veredictos.
e) As alternativas “b” e “d” estão corretas. b) O racismo constitui crime imprescritivel e é sujeito
pena de detenção, nos termos da lei.
23. (Secretaria de Defesa Social/PMPE/Soldado/2009) As- c) A tortura é crime inafiançável e insuscetivel de graça
sinale a alternativa correta. ou anistia.
a) Em nenhuma hipótese, a exposição da imagem do d) É crime passível de fiança, a despeito de sua gravidade,
preso em canal de televisão pode ensejar ação de a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a
reparação civil de reparação do dano. ordem constitucional e o Estado democrático.
b) É legítima a exposição da imagem daquele contra e) A obrigação de reparar o dano e a decretação do
quem foi expedido mandado de prisão e não foi perdimento de bens podem ser estendidas aos suces-
localizado em seus endereços, até que a prisão se sores do condenado e contra eles executadas, acima
concretize. do limite do valor da herança transferida.
c) Em nome do princípio da igualdade entre os presos,
32. (CRSP/PM‑MG/Soldado/2013) De acordo com a Consti-
após ser catalogado na penitenciária, o indivíduo
tuição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu
perde o direito de ser chamado pelo próprio nome,
artigo 5º e seus incisos que trata dos direitos e deveres
sendo identificado, apenas, por um número.
individuais e coletivos, é correto afirmar que:
d) Desde que haja o trânsito em julgado da sentença
a) A criação de associações e, na forma da lei, a de coo-
condenatória, o preso não mais gozará do direito de
perativas independem de autorização desde que seu
ser visitado pelos seus familiares. estatuto de funcionamento esteja em concordância
e) O direito à imagem é absoluto, não podendo haver, com parâmetros de funcionamento do governo estatal.
em nenhuma hipótese, a divulgação da imagem do
acusado.
b) Todos têm direito a receber dos órgãos públicos infor- c) determina que ninguém será preso sem que haja o
mações do seu interesse particular, ou de interesse trânsito em julgado de sentença penal condenatória.
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, d) admite a condenação à pena de privação de liberdade
sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas de caráter perpétuo.
cujo sigilo seja imprescindível à segurança da socie-
dade e do Estado. 37. (Funcab/SEDS‑TO/Assistente Socioeducativo/Técnico em
c) A lei penal não retroagirá, salvo para punição do réu. Enfermagem/2014) Assinale a alternativa em conformi-
d) A lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetiveis dade com a Constituição Federal
de graça ou anistia a prática da tortura, peculato, o a) Estrangeiros, militares e analfabetos não têm direito
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o ter- ao voto.
rorismo e os definidos como crimes hediondos, por b) Servidores públicos civis têm direito à greve, porém
eles respondendo os mandantes, os executores e os não à livre associação sindical.
c) Banimento e perda de bens são duas das penas ad-
que, podendo evitá‑los, se omitirem.
mitidas pela Constituição Federal
d) Provas obtidas por meios ilícitos são inadmissíveis no
33. (Funcab/SEDS‑TO/Analista Socioeducador/2014) Entre
processo.
os direitos dos trabalhadores urbanos e rurais garantidos
expressamente no artigo 7° da Constituição Federal de
38. (Exatus/PM‑RJ/Soldado da Polícia Militar/2014) “Todos
1988 estão: são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer na-
a) o fundo de garantia do tempo de serviço e a licença-
tureza, garantindo‑se aos brasileiros e aos estrangeiros
‑paternidade. residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
b) o décimo terceiro salário e a igualdade na remune- liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade...”.
ração dos trabalhos noturno e diurno. Esse trecho dos Direitos e Garantias Fundamentais trou-
c) o seguro‑desemprego, em caso de desemprego vo- xe à luz dos princípios constitucionais o princípio da:
luntário, e o aviso‑prévio proporcional ao tempo de a) Moralidade.
serviço, sendo no mínimo de trinta dias. b) Igualdade.
d) a garantia do salário mínimo, exceto para os que re- c) Legalidade.
cebem remuneração variável, e a aposentadoria. d) Publicidade.
34. (Funcab/SEDS‑TO/Analista Socioeducador/2014) Em 39. (Fumarc/PC‑MG/Investigador de Polícia/2014) É livre a
relação aos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos criação, a fusão, a incorporação e a extinção de partidos
disciplinados no artigo 5° da Constituição Federal, é políticos, resguardados a soberania nacional, o regime
correto afirmar que: democrático, o pluripartidarismo e os direitos funda-
a) é assegurado a todos o livre exercício de cultos religio- mentais da pessoa humana e observados os seguintes
sos, embora seja proibida a prestação de assistência preceitos, exceto:
religiosa nas entidades civis e militares de internação a) a prestação de contas à Justiça Eleitoral.
coletiva. b) a proibição de recebimento de recursos financeiros
b) a todos é assegurado o acesso à informação, sendo, de entidade ou governo estrangeiros ou de subordi-
no entanto, resguardado o sigilo da fonte, quando nação a estes.
necessário ao exercício profissional. c) o caráter nacional.
c) o racismo, o terrorismo e o tráfico internacional de d) o funcionamento parlamentar de acordo com o es-
drogas são crimes inafiançáveis e imprescritiveis. tatuto.
d) é garantido a todos o direito de reunir‑se pacificamen-
te, sem armas, em locais abertos ao público, desde GaBaRItO
que haja autorização prévia da autoridade pública
competente. 1. d 11. a 21. c 31. c
2. d 12. d 22. d 32. b
35. (Funcab/SEDS‑TO/Analista Socioeducador/2014) Assina- 3. c 13. e 23. b 33. a
le a alternativa correta em relação aos direitos políticos 4. b 14. a 24. e 34. b
disciplinados na Constituição Federal. 5. c 15. c 25. C 35. d
a) O alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para 6. c 16. d 26. E 36. a
os maiores de dezoito anos e os analfabetos. 7. c 17. c 27. C 37. d
b) Não podem alistar‑se como eleitores os estrangeiros 8. b 18. d 28. C 38. b
e os analfabetos. 9. e 19. b 29. E 39. d
c) O alistamento eleitoral e o voto são facultativos para 10. c 20. d 30. b
os maiores de setenta anos e para os conscritos du-
rante o serviço militar obrigatório.
d) A filiação a um partido político e a nacionalidade
brasileira são duas das condições de elegibilidade
previstas no texto constitucional.

36. (Funcab/SEDS‑TO/Assistente Socioeducativo/Técnico em


Enfermagem/2014) Ao regular as hipóteses de privação
de liberdade, a Constituição Federal:
a) admite hipótese de prisão por dívida civil.
b) admite a prisão apenas quando há ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente

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