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Resumo:
O desfalque, roubo ou furto de mercadorias infelizmente é muito comum nas empresas, principalmente nas que produzem e
comercializam bens. Devido à importância do fenômeno, estudaremos nesse Roteiro os procedimentos contábeis aplicáveis aos casos de
desfalque, roubo e furto praticados por terceiros ou empregados, tendo em vista a possibilidade de ganho e perda de estoque.
1) Introdução:
Muitas empresas vem investindo pesadas quantias para minimizar perdas com desfalque, roubo e furto de mercadorias praticadas por
terceiros ou pelos próprios empregados, tanto internamente, como no transporte das mercadorias, no itinerário entre a empresa e o
cliente. Dentre as ações praticadas pelas empresas podemos destacar:
Além dos problemas envolvendo segurança, sabemos que muitas empresas apresentam problemas relacionados à administração, controle,
contabilização e avaliação dos estoques, o que também podem gerar importantes desfalques em sua escrita contábil.
Devido à importância do assunto, estudaremos nesse Roteiro os procedimentos contábeis aplicáveis aos casos de desfalque, roubo e furto
praticados por terceiros ou empregados, tendo em vista a possibilidade de:
a. Ganho de Estoque: Quando a indenização da empresa seguradora for superior ao custo de aquisição ou produção, para empresas
com seguro contra desfalque, roubo e furto;
b. Perda de Estoque: Quando não há indenização de seguro ou a indenização for inferior ao custo de aquisição ou produção; e
c. Perda Zero de Estoque: Quando a indenização de seguro cobre apenas o custo da mercadoria roubada ou furtada.
2) Controle de Estoque:
Para as empresas sujeitas a tributação do Imposto de Renda pela sistemática do Lucro Real é crucial que se mantenha controle adequado
dos estoques, em quantidade e valor, da movimentação e avaliação dos inventários, pois estas refletem diretamente a determinação do
lucro líquido do exercício, além de afetar os resultados gerenciais que, acabam por refletir diretamente na análise do desempenho da
empresa.
Assim, é indispensável o registro permanente dos estoques de matérias-primas e insumos de produção para as empresas industriais, e das
mercadorias para revenda nas empresas comerciais, podendo seu registro ser feito em livro, fichas ou em formulários contínuos emitidos
por sistema de processamento de dados. Seus saldos, depois de feitos ajustamentos decorrentes do confronto com a contagem física,
serão transpostos anualmente para o Livro Registro de Inventário (Modelo 7).
No entanto, pode ocorrer que o contribuinte não possua registro permanente de estoques, com apuração mensal. Nesse caso o inventário,
no final do exercício, será definido: em quantidades, por contagem física; em preço, segundo aqueles praticados nas compras mais
recentes e constantes de Notas Fiscais; e em valor, pela multiplicação do preço por quantidade.
3) Ajuste de Estoques:
As empresas deverão ao menos uma vez ao ano, no final de cada ano civil, levantar o inventário físico das mercadorias constantes em seus
estoques, o chamado inventário periódico.
Verificada alguma divergência entre o estoque físico e o registrado na contabilidade, a empresa deverá regularizar a diferença mediante
registro a débito ou a crédito na conta de "Estoques", no grupo "Ativo Circulante" do Balanço Patrimonial, caso sejam apuradas faltas ou
sobras respectivamente.
Desta forma, as faltas de mercadorias em razão de roubos, furtos ou qualquer outra forma de desfalque deverão ser baixadas do Ativo
Circulante da empresa assim que constatada a ocorrência.
4) Tratamento Fiscal:
4.1) Dedução de Prejuízos (Tributos Diretos):
Prescreve o artigo 364 do RIR/1999:
Artigo 364: Somente serão dedutíveis como despesas os prejuízos por desfalque, apropriação
indébita e furto, por empregados ou terceiros, quando houver inquérito instaurado nos termos da
legislação trabalhista ou quando apresentada queixa perante a autoridade policial.
Analisando a citada legislação, concluímos que a dedutibilidade dos prejuízos por desfalque, apropriação indébita ou furto, serão
admitidas apenas quando estiver intimamente ligado à:
Assim, quando não tiver ocorrido efetivo prejuízo, como por exemplo, no caso de ter havido indenização, ou estar o evento coberto por
seguro, indevida será a dedução, por ausência de um dos pressupostos de seu cabimento. Mas, caberá dedutibilidade parcial ou lucro,
quando a indenização for inferior ou superior ao custo das mercadorias, respectivamente.
Na ocorrência de prejuízo, total ou parcial, esse valor será dedutível, caso atenda os pré-requisitos acima. Caso seja apurado lucro, esse
valor deverá ser oferecido à tributação, como resultado.
Por outro lado, tenha-se em consideração que, se em exercícios posteriores ao em que tiver a empresa suportado o prejuízo (e, portanto,
deduzido legitimamente a despesa) for ela indenizada ou vier ela a usufruir compensação de qualquer natureza, deverá o valor
correspondente ser considerado receita, como "recuperação ou devolução de custos, deduções ou provisões".
Quando o autor do desfalque, roubo, furto ou apropriação indébita for sócio ou proprietário da empresa ofendida, não se terá configurado
o direito a dedução, pois não sendo o agente considerado terceiro e muito menos empregado da empresa, não estará presente um dos
pressupostos de cabimento, a "Imputabilidade da autoria a empregados ou terceiros".
Nota:
Já em relação ao IPI, seu regulamento estabelece que seja anulado, mediante estorno na escrita fiscal, o crédito do imposto:
● Relativo à matéria-prima, produto intermediário, material de embalagem, e quaisquer outros produtos que hajam sido furtados ou
roubados, inutilizados ou deteriorados ou, ainda, empregados em outros produtos que tenham tido a mesma sorte.
Por sua vez, a legislação do ICMS, da maioria dos Estados, obriga os contribuintes a estornarem o crédito aproveitado por ocasião da
entrada de mercadoria, objeto de desfalque, furto ou roubo. Para exemplificar, reproduzimos o artigo 67 do RICMS do Estado de São
Paulo, que assim dispõe:
Artigo 67: Salvo disposição em contrário, o contribuinte deverá proceder ao estorno do imposto
de que se tiver creditado, sempre que o serviço tomado ou a mercadoria entrada no
estabelecimento:
...
Base Legal: Artigo 3º, § 13 e 15 da Lei n° 10.833/2003; Artigo 254 do RIPI/2010 e; Artigo 67 do RICMS/2000-SP.
5) Tratamento Contábil:
Analisaremos neste capítulo o tratamento contábil que deverá ser observado pelas empresas, no registro de desfalque, roubo ou furto de
mercadorias praticados por terceiros ou pelos próprios empregados, para tanto utilizaremos como exemplo a empresa Vivax Indústria e
Comércio de Eletrônicos Ltda.
No mês na finalização do inquérito trabalhista foi processado a rescisão de José Aparecido no valor de R$ 2.000,00 (Consideraremos
apenas o salário para efeito de exemplificação), que foi contabilizado na empresa da seguinte forma:
Legenda:
R: Resultado; e
PC: Passivo Circulante.
Como podemos verificar, o empregado tem um líquido a receber no valor de R$ 1.780,00 (R$ 2.000,00 - R$ 220,00). Esse é o limite que
poderá ser descontado do empregado, tendo em vista que o regulamento interno da empresa limita o desconto ao saldo a receber no
momento da rescisão.
Considerando que a Vivax cumpriu todos os pressupostos legais para dedutibilidade da perda, teríamos os seguintes lançamentos no
Livro Diário da empresa:
Legenda:
AC: Ativo Circulante;
R: Resultado; e
PC: Passivo Circulante.
Caso a empresa tenha contratado seguro como garantia para o ressarcimento de prejuízos causados por desfalque, roubo ou furto de
mercadorias praticados por terceiros ou pelos próprios empregados, deverá ser feitos os seguintes lançamentos antes do registro do
prejuízo ou lucro:
Legenda:
AC: Ativo Circulante.
Legenda:
AC: Ativo Circulante;
R: Resultado; e
PC: Passivo Circulante.
Agora, suponhamos que o caminhão da transportadora Rápido Transportes Ltda., empresa terceirizada pela Vivax, tenha sido furtado no
trânsito da mercadoria até o cliente final e que toda a mercadoria tenha sido levada. Considerando que houve registro de Boletim de
Ocorrência e abertura de inquérito policial, a baixa das mercadorias deverá ser feita da seguinte forma:
Legenda:
AC: Ativo Circulante;
R: Resultado; e
PC: Passivo Circulante.
Como podemos observar, como as mercadorias não estavam cobertas por seguro, todo o seu custo foi tratado como prejuízo efetivo,
sendo seu valor reclassificado como perda, para assim compor o resultado do exercício, como outras despesas operacionais.
Caso a empresa tenha contratado seguro como garantia para o ressarcimento de prejuízo causados por desfalque, roubo ou furto de
mercadorias praticados por terceiros ou pelos próprios empregados, ocorridos dentro ou fora da empresa, o registro do prejuízo ou do
lucro deverá ser feito da seguinte forma:
Legenda:
AC: Ativo Circulante; e
R: Resultado.
Como vemos, a apropriação da indenização da empresa seguradora deverá ser feito pelo do valor efetivamente recebido, sendo que,
apenas a diferença entre o prejuízo e o valor da indenização será dedutível na apuração do imposto de renda. Caso a indenização seja
maior, a diferença será considerado resultado tributável.
Informações Adicionais:
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