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TREINAMENTO ASSERTIVO

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inferno" ou a fazer espalhafatosas propostas . durante o passar desta década, a interpretação


Dentro da literatura, o comportamento asser- exemplo) têm sustentado que para se rotular
sexuais a uma estranha no metrô. Embora seja comportamental da teoria psicodinâmica de
tivo é definido ou descrito de várias maneiras o comportamento de agressivo, deve haver uma
possível que tais expressões de sentimentos Dollard e Miller (1950) eram amplamente lida,
intenção de agredir. Para os nosSOSpropósitos, possam resultar numa satisfação ou alívio mo- e a Science and Human Behavior obra ultrabe-
(Heimberg, Montgomery, Madsen & Heimberg,
1977; Lange & Jakubowski, 1976; Rimm & comportamento agressivo é o comportamento mentâneos para Ç>cliente, elas constituem com- haviorista de Skinner estava começando a cau-
Masters, 1974; Wolpe, 1973, por exemplo), que teria um impacto negativo no bem-estar portamentos inter-pessoais agressivos e prova- sar um impacto perceptível. Segundo, para
mas a maioria dos autores provavelmente con. dos outros. O que entendemos por "negativo"
velmente terão conseqüências desastrosas. Wolpe, a dessensibilização sistemática e o trei-
tomar-se-á mais clar.o mais adiante no capítulo. Fica evidente, então, que o treinamento asser- namento 1ssertivo estavam teoricamente intima-
cordaria c()m o seguinte: mente ligados, e a relativa fácil aceitação (em
O treinamento assertivo inclue qualquer tivo envolve mais que o simples fornecimento
<D O comportamento assertivo é o compor- procedimento terapêutico que tenha por obje- de instrução e prática na expressão espontânea alguns lugares, pelo menos) da dessensibiliza-
tamento inter-pessoal envolvendo a expressão tivo aumentar a habilidade do cliente para se de sentimentos (embora isto geralmente faça ção, certamente facilitaram a aceitação do trei-
honesta e relativamente direta dos pensamentos parte da terapia). Como ilustração: Na sessão namento assertivo, à Ia Wolpe. Terceiro, o modo
e sentimentos. engajar no comportamento assertivo. As metas de terapia, um cliente poderia ensaiar repetida pelo qual Salter apresentou suas idéias teve o
comportamentais incluem uma habilidade e energicamente como pedir ao chefe um aumen- efeito de antagonizar um bom número de clíni-
~ O comportamento assertivo é socialmente aumentada para expressar sentimentos negati- to mais do que merecido, ou convidar uma cos que de outro modo poderiam ter feito um
apropriado. vos (raiva, ressentimento) e sentimentos posi- garota para um programa. Quando implementa- uso bastante eficaz de suas técnicas. Ele atacou
(3) Quando uma pessoa está se comportando tivos (alegria, amor, elogio). dos, tais comportamentos envolveriam prova- a psicanálise com implacável vingança, e já
assertivamente, os sentimentos e bem-estar dos Assumiu-se que o aumento da assertividade velmente a expressão relativamente direta de que a maioria dos clínicos da época estavam
outros são levadOs em consideraçao. sentimentos de uma forma enfática e social- em certo grau ligados ao pensamento psicana-
beneficia o cliente de duas maneiras significa-
mente apropriada. Como tais, os comportamen- lítico, isso nunca o faria apreciado por eles. Ele
tivas. Primeira, considera-se que comportar-se
O que foi exposto acima tem como objetivo tos seriam quaificados de assertivos, mas dada indicava os procedimentos assertivos (ele usava
transmitir uma compreensão do que a maioria de um modo mais assertivo incutirá no .cliente a grande quantidade de ensaio, não poderiam o termo excitação) para praticamente todos os
dos autores e clínicos querem dizer quando uma sensação de bem-estar muito maior. Na ser rotulados de espontâneos. Da mesma forma, distúrbios psicológicos imagináveis e para todo
usam o termo comportamento assertivo. O fato . verdade, como indicamos no Capítulo 11, Wol- ensinar os clientes a .expressar um impulso de cliente. que era visto como vítima de inibição.
dos indivíduos da área não concordarem com pe (1958, 1969, 1973) acreditava que a respos- raiva intensa não seria qualificado como treina- Em gritante contraste com Wolpe, Salter pare-
ta assertiva é bastante semelhante ao relaxa- mento assertivo (e provavelmente resultaria em cia dar pouca atenção às conseqüências do
um conjunto uniforme de operações que defina agressão). Na verdade, como veremos adiante comportamento espontâneo e impulsivo, um
mento' muscular profundo, quanto à sua habi-
o comportamento assertivo tem sido um do's neste capítulo, o treinamento assertivo pode ter fato que contribuiu muito pouco para aumen-
lidade em inibir reciprocamente a ansiedade.
principais fatores no retardamento da pesquisa uma indicação terapêutica para os clientes que tar sua credibilidade aos olhos de clínicos
nesta área, especialmente no fim dos anos 60 Relatos subjetivos de clientes que se submetem tenham inclinação para a agressão impulsiva. conservadores. Assim, não foi difícil para mui-
e início dos 70 (McFall & Marston, 1970). 05 ao treinamento assertivo tendem a confirmar a tos colocar Salter de lado, cIassificando-o de
avanços na avaliação comportamental resolve- opinião de que a asserção realmente inibe a HISTÓRICO
"homem selvagem" e portanto deixarem de
ansiedade (este assunto é retomado numa seção apreciar o considerável mérito de sua aborda-
ram o problema até certo ponto, mas permanece
o imparto de um início tardio da pesquisa desta ~ubseqüente). Segunda, assume-se que ao com- As atuais técnicas de treinamento assertivo gem.
As técnicas específicas de Salter foram apre-
área: as técnicas para intensificar o compor- portar-se de uma m~~ira mais a~sertivl!, o são, até certo ponto, baseadas nos trabalhos de
sentadas um tanto concisamente em Condi/io-
tamento assertivo não foram pesquisadas a cliente será mais capaz de alcançar recompen- Wolpe (1958, 1969; Wolpe & Lazarus, 1966)
e, em grau menor, nos trabalhos de Andrew ned Rellex Therapy, ao lado de um grande
fundo como várias das outras técnicas popula- sas sociais significativas (tanto quanto mate-
Salter 0949, 1969). Entretanto, a Conditioned número de casos ilustrativos. Seus seis exercí-
res da terapia do comportamento. Contudo, a riais), e. assim obter ffiãis satisfação da vida. Reflex Therapy de. Salter, publicada em 1949, cios para promover a excitação (Salter, 1949,
Para se atingir estas importantes metas é
quantidade de pesquisa dentro da área tem foi o primeiro grande trabalho a exaltar as vir- pp. 97-100) são apresentados abaixo de forma
aumentado consideravelmente nos últimos anos necessário muito mais que expressar emoção. tudes do comportamento do tipo assertivo.
resumida:
e acredita-se que esta tendência certamente con- espontânea e irrefletida. Assim o terapeuta Assim, pode parecer surpreendente que os tra- 1. O uso de expressão emotiva, que envolve
tinuará. . deve ded~car uma atenção consider4yel ~s pro- balhos de Wolpe e seus seguidores tenham cau- a prática em expressar literalmente qualquer
váveis conseqüências inter-pesso~is advindas do sado um impacto relativamente maior que os sentimento. Alguns dos exemplos de Salter in-
Geralmente, os escritores da área fazem uma
de Salter. Existem muitas razões prováveis para cluem: "Eu detesto o cara e tudo que ele
distinção entre asserção e agressão (Heimberg engajamento em comportamento~ assertivos. Em tal. Primeiro, as organizações psiquiátricas e representa"; "Eu gosto de sopa"; "Querida, eu
et ai., 1977; Hollandsworth, 1977). A agressão especial, o terapeuta deve esforç*r-se para mini- psicológicas eram provavelmente mais acessí. te amo com todo meu fervor"; "Ora, isso foi
é caracterizada de diferentes maneiras co o, mizar a possibilidade que a recém-encontrada veis para a consideração de uma abordagem burrice da minha parte".
asserção do cliente vir a provocar ~onseqüên-
por exemplo; socla mente repreensível" (Wol- cias seriamente punitivas ou d'estrutivas. Por comportamental ou baseada no aprendizado em 2. O uso de expressão facial, que envolve
pe, 1973), "coerciva" (Hollandsworth, 1977),
ou violadora dos direitos dos outros( Lange & .exemplo, o' terapeuta normalmente não encora- ..
Jak\1bowski, 1976). Alguns (Alberti, 1977, por jaria seu cliente a mandar seu chefe "para O
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3. Prática em expressar opinião contraditó- Sob a forma de estratégia de representação de bowski (1976), por exemplo, que recomenda- poderia ser benéfico. Esta decisão pode se ba.
rias quando alguém discorda. um papel, o psicod;rama é semelhante a uma vam energicamente a combinação de procedi- sear numa relativamente rotineira entrevista
4. Prática no uso de Eu (nosso exemplo: das .principais técnicas assertivas, o ensaio é mentos cognitivos e comportamentais dentro do de terapia comportamental, talvez em combi-
treinamento assertivo.
"Eu achei o outono da Nova Inglaterra fasci- semelhante a uma das principais técnicas.asser- nação com um dos vários inventários de asser-
nante", em vez de, "As pessoas acham o outo- tivas, o ensaio comportamental (descrito na se. Em contraste com a dessensibilização siste- ção disponíveis <T. P. Galassi, DeLo, Galassi
no da Nova Inglaterra fascinante,") ção de método). Entretanto, as metas do psico- mática (Capítulo 11) o termo treinamento asser- & Richey, 1975, Rathus, 1973a). O questio-
5. Prática em aceitar elogios (nosso exem- drama, incluindo catarse e insight, não são ge- tivo não representa um conjunto de procedi- nário Gambrill-Richey, apresentado na Tabela
plo: "~, eu também gosto dessa gravata", em ralmente consideradas como consistentes com mentos geralmente aceitos. Já confrontamos a 3.1, solicita que os clientes indiquem a proba-
vez de, "O quê, esse negócio veUto!"). abordagem de Wolpe com a de Salter. Como bilidade que eles teriam de engajar-se num
uma abordagem comportamental 1. O leitor que outro exemplo ilustrativo de como diferem entre
6. Prática em improvisar. dado ato assertivo. Pede-se aos clientes que
queira saber mais sobre psicodrama pode con- si os terapeutas que usam procedimentos asser- também indiquem seu grau de ansiedade ante-
A abordagem de Salter, consiste principal- sultar J. L. Moreno (1946, 1955), Lippit e tivos, Wolpe (1958) incluia no equipamento cipada enquanto envolvidos naquele compor-
mente na aplicação dos exercícios acima em Hubbel (1956), ou Z. T. Moreno (1965). do treinador a "arte de passar os outros para tamento.
conjuração com um insistente aconselhamento Um segundo autor cujas contribuições estão trás" de StephclI Potter (Potler, 1952). Lazarus
para o cliente se comportar mais assertiva- pelo menos indiretamente relacionadas com as (t 971), por outro lado, rejeitava especificamen- O Inventário de Asserção
mente. atuais práticas de treinamento assertivo é Kelly te tal técnica, preferindo uma abordagem mais de Gambrill e Richey
direta. Não obstanle, em se revendo a litera-
Wolpe, que já empregavao treinamento asser- (1955). (A terapia de papel fixo de KeIly é des- tura, fica claro que existe muito mais confor- "Muitas pessoas sentem dificuldade em lidar
tivo quando o livro de Salter surgiu, foi ainda crita com alguns detalhes no Capítulo IV). Em midade que divergências no' que constitue o com situações interpessoais que exijam delas
mais encorajado pelo livro de Salter (Wolpe, suma, a abordagem, que é uma interessant~ comportamento assertivo e quais os procedi- algumas asserção, por exemplo, recusar um
1969). Embora Wolpe e Salter tenham enfati- mistura da psicologia behaviorista e cognitiva, mentos básicos destinados a acentuar tal com-
zado a importância de se comportar de uma pedido, pedir um favor, fazer um elogio a
envolve a elaboração de um esboço da perso- portamento. Os métodos apresentados neste alguém, expressar aprovação ou desaprovação.
maneira mais assertiva, existem diferenças cru- nalidade de um indivíduo fictício que esteja capítulo provêm de uma variedade de fontcs, Por favor indique seu grau de desconforto
ciais entre suas abordagens. Primeiro, Wolpe livre das ansiedades e inadequações comporta- -incluindo nosso próprio trabalho clínico ou ansiedade no espaço reservado antes de cada
não achava que todo cliente necessitasse funda- mentais que perturbam o cliente, e depois a (Rimm, 1977a e b; Rimm & Masters, 1974) e uma das situações abaixo enumeradas. Utilize
mentalmente de treinamento assertivo, embora instrução do cliente no sentido de assumir este experiências, o trabalho de Wolpe (1958, 1969, a seguinte escala para indicar o grau de des-
seja óbvio que ele o empregava freqüentemente, papel. Isto inclue comportar-se de uma maneira 1973), Lazarus (1971, 1976), Salter (1949), conforto.
muitas vezes jitnto com o relaxamento e a consistente com o papel, e além disso, adotar Albertí e Emmons (1974), Lange & Jakubowski I == nenhum
dessensibilização. Segundo, embora Salter visse a maneira fictícia da pessoa perceber o mundo (1976), e outros clínicos, tanto quanto de idéias
contidas numa variedade de investigações ex- 2 == um pouco
a asserção (excitação) como uma característica até que, espera-se, o cliente não sinta mais que 3 == razoável
generalizada, Wolpe não era da mesma opinião. está assumindo um papel. As características da perimcntais. O leitor pode, portanto, encarar a
seguinte discussão como um tratamento amplo 4 == muito
Assim, para Wolpe, o fato de que um cliente representação de um papel ou da terapia de um 5 == muitíssimo
possa não ter dificuldade em expressar ressen- de métodos existentes, em vez de uma exposi-
papel fixo são razoavelmente semelhantes às ção de um único ponto de vista.
timento ou mágoa a um colega de trabalho, técnicas de ensaio comportamental usadas no "Agora, leia a lista pela segunda vez e
de modo algum assegura que ele possa se com- treinamento assertivo. indique depois de cada item a probabilidade
portar do mesmo modo com sua esposa. Como de você manifestar o comportamento se real-
O nome dé Albert Ellis está principalmente MÉTODO DE TREINAMENTO ASSERTlVO
veremos numa seção posterior, a literatura de mente fosse deparado com a situação. Por exem-
associado à terapia racional emotiva, uma abor-
pesquisa apoia Wolpe neste ponto. Terceiro, plo, se você raramente se desculpa quando co-
dagem cognitiva amplamente influente, di~cuti- Determinação da Necessidade
mete algum erro, marcará então "4" depois
Wolpe estava consideravelmente preocupado da em detalhes no Capítulo IX (EIlis, 1962, de Treinamento Assertivo
desse item. Utilize a seguinte escala para indi-
com as conseqüências inter-pessoais (especial- 1971b, 1973). Entretanto, Ellis tem freqüente- car a probabilidade de resposta:
mente negativas) dos atos assertivos. Alguns mente defendido práticas e procedimentos que Dada a superabundância de artigos e livros
dos pormenores da abordage Wolpiana (e a de de bolso sobre o assunto que têm surgido nos I == semprefaz
guardam uma notável semelhança com o trei- 2 == geralmente faz
Lazarus, 1971, que é semelhante) são incorpo- últimos 5 anos, é surpreendente que os clientes
namento assertivo atual: por exemplo, enfati- 3 faz a metade do tempo
rados na seção de "método" deste capítulo. zar a natureza irracional e auto-frustrante do raramente peçam o treinamento assertivo, e por ==

esta razão, raramente sabem que tal tratamento 4 == raramente faz


Três autores adicionais contribuiram direta comportamento não assertivo, e fornecer tarefas 5 == nunca faz
ou indire~amentepara as técnicas atuais de trei- exist~. Assim, geralmente fica ao encargo do
de casa envolvendo o comportamento assectivo. terapeuta informar o cliente de sua disponibi-
namento assertivo. Um deles é J. L. Moreno A contribuição de Ellis para o treinamento "Finalmente, indique por favor as situações
lidade e valor potencial. Normalmente, isto é em que gostaria de agir mais assertivamente,
(1946, 1955), a quem o leitor pode reconhecer . assertivo é também aparente nos trabalhos re- feito após o terapeuta ter decidido, experimen- colocando um círculo em volta do número do
como o fundador do psicodrama. O psicodrama centes de outros do campo, Langue e Jaku- talmente talvez, que o treinamento assertivo item.
envolve a dramatização no palco das atitudes
e conflitos da vida real dos clientes participan- 1 Strum (1965) e J. L Moreno (1%3) sugeriram
tes. Enfatiza fortemente a espontaneidade e a um passlvel eslreilcmenlo de relações entre o ponto
improvisação, elementos que Salter ressaltava. de vista comportamental e psicodramático. \'1
TREINAMENTO ASSERTIVO 71

TABELA 3.1 / O GAMBRILLAND RICHEYASSERTIONINVENTORY

Grau de Probabilidade
desconforto Situação de resposta
__1. Recusar o pedido de alguém para emprestar seu carro
_2. Elogiar um amigo
__3. Pedir um favor a alguém
4. Resistir a pressão de um vendedor
___5.. Pedir desculpas quando estâ errado
6. Recusar um convite para uma reunião ou encontro
___7. Admitir medo e pedir consideração
_8. Dizer a uma pessoa com quem você estâ intimamente envolvido
quando ela lhe diz ou faz algo que o aborrece
9. Pedir um aumento
_10. Admitir não ter conhecimento em alguma ârea
11. Recusar um pedido para emprestar dinheiro
12. Fazer perguntas pessoais
___13. "Desencorajar" um amigo muito falante
__14. Pedir uma critica construtiva
15. Iniciar uma conversa com um estranho
___16. Elogiar uma pessoa com a qual você estâ romanticamente
envolvido ou interessado
17. Convidar alguém para sair, ou marcar uma reunião
18. Seu pedido inicial para uma reunião é recusado, fazer o pedido
novamente para uma outra hora
___19. Admitir estar confuso sobre um assunto em discussão e pedir
esclarecimento
__20. Pedir emprego
__21. Perguntar se você ofendeu alguém
_22. Dizer a alguém que você gosta dele/dela .
_23. Pedir o serviço esperado quando este estâ demorando, por exemplo,
num restaurante
_24. Discutir abertamente com uma pessoa sobre a critica dela sobre
seu comportamento
_25. Devolver artigos com defeitos, por exemplo, numa loja ou restaurante
__26. Expressar uma opinião que difere daquela da pessoa com quem.
você estâ conversando
__27. Resistir a propostas sexuais, quando você não estâ interessado '-
__28. Dizer a uma pessoa quando você acha que ele/ela tenha feito algo
injusto com você
_29. Aceitar um convite para sair
_30. Contar a alguém boas notícias sobre você
__31. Resistir a pressão para beber
__32. Resistir a uma exigência injusta de uma pessoa. significativa
__33.
___34. Demitir-sede um emprego
Resistir a pressão de provocação sexual
.

__35. Discutir abertamente com uma pessoa sobre a critica dela sobre
seu trabalho
---"_36.Pedir a devolução de coisas emprestadas
__37. Receber elogios
__38. Continuar a conversar com alguém que discorda de você
_39. Dizer a um amigo ou alguém com quem você trabalha quando ele
diz ou faz alguma coisa que o aborrece .
_40. Pedir a uma pessoa que o está irritando, numa situação em público,
para parar
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7'l: TERAPIA COMPORTAMENTAL

"Observação. :e importante assinalar os índi- Freqüentemente a ansiedade manifesta-se


ces de desconforto (localizadas na frente dos claramente quando o cliente tenta engajar-se
itens) enquanto indica a probabilidade de res- num intercâmbio importante, como no caso de
.-posta. De outro modo, um índice pode influen- um estudante que fica desesperadamente agita-
ciar o outro e fica difícil uma asserção realista do sempre que convida uma garota para sair,
de seu comportamento. Para evitar isso, colo- ou o empregado leal que fica com a língua
que um pedaço de papel sobre seus índices de presa quando pede ao patrão um merecido
desconforto enquanto indica as situações pela aumento. Às vezes a ansiedade antecipada é
segunda vez quanto à probabilidade de res- tão intensa que o indivíduo evita a situação,
posta. " o que leva a uma imediata frustração e às vezes
Evidentemente, o questionário de Gambrill à depressão. De vez em quando, o terapeuta
e Richey fornece uma abundância de informa- confronta-se com um cliente que tem um boa
ções potencialmente úteis, mas algumas pala- capacidade para se engajar em intercâmbios
vras de precaução são necessárias. Os inventá- significativos sem ansiedade aparente, mas que
rios assertivos desta natureza podem fornecer constantemente exibe uma dolorosa falta de
uma indicação de que o cliente dirá' ou fará habilidade, o que resulta num fracasso em
algo numa determinada situação, mas isso de satisfazer necessidades fundamentais e conse-
modo algum assegura que a resposta será asser- qüente ansiedade. Rimm, por exemplo, obser-
tiva. Para ilustrar, suponha que um cliente indi- vou uma entrevista com um jovem cliente de-
que que ele ou ela certamente iria negar o sesperançado com sua inabilidade para estabe-
pedido de emprestar o carro, e o fariam con- lecer relacionamentos satisfat6rios com as ga-
fortavelmente. Em situações reais, o compor- rotas. Ele não parecia acreditar que lhe faltas-
tamento formal do cliente podia bem ser agres- se de modo algum habilidades necessárias; con-
sivo em vez de assertivo, por exemplo, "Droga, tudo, quando lhe foi pedido para interpretar
não. .. acontece que é a porcaria do meu um determinado incidente envolvendo uma
carro!". Evidentemente, o inventário não regis- proposta iniCial para uma mulher atraente do
traria isso. Questionários como 05 de Gambrill grupo estudantil da faculdade, suas verbaliza-
e Richey são potencialmente valiosos e nós ções eram insensíveis e desajeitadas, e não era
encorajaríamos seu uso, mas principalmente de se admirar que seu intercâmbio terminasse
como técnicas de levantamento iniciais. em recusa.
Naturalmente, os elementos de Gambrill e No exemplo acima, a descrição verbal do
Richey, ou qualquer um dos outros inventários cliente sobre seu próprio comportamento ao
assertivos, podem ser facilmente incorporados tentar fazer propostas românticas estava clara-
numa entrevista clínica com qualquer grau de mente em vantagem sobre sua maneira de res-
estrutura que o terapeuta julgue apropriado. ponder quando representava a situação experi-
Se o terapeuta empregar ou não um questio- mental. Contradições desta natureza não são
nário de asserção estruturado, ele ou ela pro- absolutamente raras, e quando ocorrem é pos-
curará indicações das dificuldades interpessoais sível que o comportamento interpretado seja
do comportamento na entrevista do cliente. bem mais exato que a caracterização verbal do
Como dissemos, a maioria dos clientes não cliente de como ele geralmente age em tal
pedem o treinamento assertivo. Mas em regra situação. Embora o ensaio comportamental
geral, eles estão dispostos a falar dos proble- constitua a base da terapia assertiva, é também
mas que estão tendo com os outros, e tais uma técnica inestimável de diagnóstico, e seu
problemas podem geralmente ser re-restrutura- uso é recomendado. Uma discussão detalhada
dos em termos de ansiedade interpessoal numa do ensaio comportamental é apresentada numa
situação específica. Se a ansiedade está clara- seção posterior.
mente ligada à inabilidade do cliente em ex- Freqüentemente o terapeuta precisa lidar
pressar os sentimentos de um modo que seja com pessoas cuja ansiedade está relacionada
pessoalmente satisfatório, como também social- com a expressão de raiva. Muitas vezes a ansie-
mente eficaz, o treinamento assertivo é prova- dade leva a uma supressão quase que total
velmente indicado. das expressões diretas de hostilidade no inter-
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câmbio alvo, embora às vezes o indivíduo possa te", ou "Não vale a pena ficar .com rai va por
expressar raiva de uma maneira ambivalente causa disso". Uma alta freqüência de ~postas
ou escusatória, produzindo um desempenho in- desta natureza podem bem refletir uma grande
satisfatório e ineficaz. A inabilidade para ex- quantidade de raiva latente. Nem deve o tera-
pressar a raiva diretamente leva às vezes a um peuta se deixar enganar pela afirmação "Qua~:
modo passivo-agressivo de lidar com a hostili- do fico furioso, eu realmente P erco a c;lbeça
"E
dade. Agressãopassivaé o título que os clíni- o que pode geralmente ser traduzido pof m-
cos aplicam a comportamentos cuja intenção é bora eu raramente tenha desculpa para rtl°str~r
a de punir o outro de alguma maneira indireta ou mesmo sentir raiva, algumas situaçõ~s eVI-
(freqüentemente induzindo culpa). Se o indiví- dentemente são tão erradas e injustas aueeu
duo é hábil nisso, ele será poupado da imediata preciso reagir."
'do
represália da parte de sua vítima, . que geral- . Uma vez que o terapeuta tenha rçunl
mente deixará de rotular o comportamento de
seu agressor como agressivo ou punitivo. Infe- prova suficiente de que a hostilidade não f eXé
pressada é um problema, sua próxima t~re a
lizmente para o indivíduo que exibe regular- convencer o cliente disso, o que é uma eJ1lpresa
mente a agressão passiva, mais cedo ou mais nada fácil.' Contar a um cliente, o qual julga. o
tarde sua vítima começará a sentir-se ressen- sentimento de raiva imoral, que ele está pentln-
tida e a evitar o agressor. Não se pode esperar
do raiva, pode ser comparável a dizer P urn~
que indivíduos exibindo padrões estáveis de solteirona da era vitoriana que ela é ~exua
comportamento passivo-agressivovenham a ter mente insasiável, Um confronto prematu(O p~
muitos relacionamentos duradouros e satisfa- vavelmente irritaria o cliente, que poderia somr
tórios; esta situação freqüentemente os leva e acenar com a cabeça que sim, mas que inter-
a procurar a ajuda terapêutica. .
namente sentiria um ressentimento e tal1-to e~
Dos vários tipos de problemas .interpessoais relação ao terapeuta; essa reação poderia resU
tratáveis pelo treinamento assertivo, aqueles tar com o cliente encerrando a terapia. Reco-
associados com a raiva não-expressa (ou indire- .mendamos que sejam primeiro estabelecitlos .os
tamente expressa) estão entre os mais difíceis sentimentos de confiança e segurança pat'a que
de se lidar. Pessoas que têm uma considerável os sentimentos hostis do cliente sejam trptados
dificuldade em expressar raiva, freqüentemen- de uma forma graduada. Para alguns cI#entes,
te acreditam que não só é errado expressar a isto poderia signüicar lidar com sentirtlentoS
raiva abertamente, como é igualmente errado suaves de raiva ocorrendo em situaçõe~ rela-
"ter pensamentos de raiva". Na verdade, o leitor tivamente insignificantes; enquanto para
pode reconhecer nesta crença uma ética explí- outros, a área geral poderia ser abordad~ com
cita de certas religiões organizadas. Infeliz- o uso de sinônimos (reconhecidamente so~l'~
mente, indivíduos assim indotrinados não estão forma de eufemismos) para "raiva", "hPsU :
imunes ao comportamento nocivo dos outros, Por exemplo: ."Eu tenho a impressão qud " voc.e u
o que significa que eles são são suscetíveis à está um pouco irritado com sua esposa, , o I
raiva quanto qualquer um de nós, mas são . "Você acha que é um p!>uco desagr~dáve
proibidos de admiti-Ia para si mesmos, quanto quando seu pai o interrompe assim?". Uma
mais a um terapeuta. Assim, o terapeuta depa- vez que o cliente esteja persuadido de q~e ele
ra-se com uma tarefa múltipla. Primeiro, ele tem sentimentos de raiva, o treinamento asser-
precisa identificar corretamente ().grau em que tivo pode começar.
.seu cliente sente hostilidade nas suas interações Do mesmo modo que é pouco comum efncOn-
inter-pessoais diárias. Quanto a isso, é útil para trar clientes que apresentem um pe.dido v'0lun-
o terapeuta refletir se ele próprio (ou a pessoa tário de. ajuda para expressar hostilidade". tam-
"comum") sentiria raiva nas situações em ques- bém é raro encontrar clientes que verbapzem,
tão, e se a expressão facial do cliente ~ o tom espontaneamente, que sentem amor ou ateição
de voz refletem raiva. Alguns clientes, quando por .outra pessoa, mas nãq sabem como com-
se defrontam com a possibilidade de certas si- partilhar desses sentimentos - embora este
tuações serem desagradáveis ou induzirem à seja um problema bastante comum. Assi~, um
raiva, respondem com "Não era tão importan- cliente poderia CGntara seu terapeuta qu~ ama
74 1ERAPIA COMPORTAMENTAL'

a esposa, mas que "não precisa dizer a ela" para testar o amor daquela pessoa. Se o par-
porque ela "sabe", isto é, ela pode "ler nas ceiro deixar de manifestar este sentimento re-
entrelinhas". Não raramente, existe a implica- gularmente, isto pode levar o outro a um ato
ção de que é responsabilidade da outra parte mais drástico (encontros sexuais consumados
de alguma forma saber que ela é amada ou em vez de flertes casuais numa festa, por exem-
apreciada. É bom indicar que em qualquer rela- . pIo) para convencer o parceiro de que está real-
cionamento envolvendo sentimentos intensos, mente havendo falta de amor. Como ilustração,
dicas sutis passam geralmente desapercebidas, Wolpe (1958) descreveu o caso de um homem
e sentimentos de afeição, entusiasmo, e amor cuja esposa estava engajada num caso extra-
devem ser bem explícitos, pelo menos de vez conjugal que ele tolerava, mas do qual também
em quando. Geralmente, entretanto, os clientes Se ressentia. Somente quando ele tornou seus
parecem mais dispostos a admitir sentimentos sentimentos eficazmente conhecidos que sua
positivos, honestos, mas inadequadamente co- esposa terminou o caso, e de bom grado.
municados,' que os de ressentimento e raiva.. Como no caso da hostilidade, o terapeuta
provavelmente porque a cultura é muito mais precisa decidir se o cliente está sentindo ciúme.
permissível acerca da expressão de sentimentos Novamente, fazendo-se a pergunta: "Uma pes-
positivos. Por outro lado, existem muitas pes- soa comum sentiria algum ciúme nesta situa-
soas (homens especialmente) que acreditam que ção?", provavelmente será de valor diagnóstico.
expressar amor e afeição indica fraqueza. Nesse Os probl~mas envolvidos em persuadir o cliente
caso, a tarefa do terapeuta pode ser a de trans- a reconhecer estes sentimentos (e a ver o bene-
formar esta atitude do cliente, indicando como fício terapêutico de expressá-los de um modo
expressões francas de sentimentos positivos são razoável) são semelhantes àqueles surgidos em
interpretados pela maioria das pessoas como relação à raiva não expressada. Aqui também,
sinal de força e segurança. uma abordagem gradual e recomendada.
Uma emoção que pode apresentar dificulda- Como indicamos no início do capítulo, a
des de diagnóstico especiais é o ciúme. Este asserção. (ou a falta dela) não é um traço geral.
rótulo tem uma variedade de significados em Isto é, uma pessoa pode ser bastante assertiva
nossa cultura, mas estam os nos referindo espe- em uma situação, e contudo receosa e ineficaz
cificamente a sentimentos de ansiedade e ressen- em outro conjunto de circunstâncias aparente-
timento diante da ameaça de perder alguém que mente relacionadas. É absolutamente necessário
amamos para um rival. O ciúme extremado, que o terapeuta esteja ciente disso, para que
especialmente quando infundado, tem destruí- ele ou ela não cheguem a conclusões prema-.
do muitos relacionamentos, e as estratégias te- turas e errôneas que impediram a marcha do
rapêuticas para o tratamento deste problema tratamento. Em numerosas ocasiões o clínico
pode bem incluir uma combinação de dessensi- se confronta com um cliente sorridente e ver-
bilização sistemática (Capítulo 11), treinamento balmente fluente que apresenta o quadro super-
assertivo, e certas técnicas cognitivas a serem ficial de um indivíduo extremamente confiante
apresentadas no Capítulo IX. e competente em praticamente qualquer inter-
Embora sentimentos ocasionais de ciúme câmbio social. O terapeuta poderia facilmente
ameno sejam inevitáveis e normais, muitos indi- concluir que o treinamento assertivo é a última
víduos recusam-se a admitir tais sentimentos, coisa que tal indivíduo precisa. Contudo, uma
talvez porque eles os coloquem na mesma cate- entrevista cuidadosa (incluindo a interpretação
goria de raiva pura ou egoísmo. Certas pessoas de um papel) freqüentemente revelará situações
são embuídas com uma ética de amor total- específicas significativas nas quais o cliente
mente abnegado que na realidade não pode revela uma penosa falta de asserção. Isto é bem
existir entre um homem e uma mulher engaja- ilustrado pelo homem de negócios confiante e
dos num relacionamento de amor. Dadas certas ativo que é intimidado pela esposa ou pelos
expectativas normais e um grau normal de filhos; ou, mais especificamente, pela esposa
possessividade, o ciúme será sentido algumas quando ele tenta tomar certos tipos de decisões,
vezes. Freqüentemente um parceiro tentará de- ou pelos filhos quando tenta aplicar alguma
liberadamente induzir esse sentimento no outro, disciplina verbal. Outro exemplo é a mulher
TREINAMENTO ASSERTIVO 75

. profissional fria e altamente articulada que, cliente, sendo necessária uma .motivação razoá-
embora defendendo o feminismo, virá a admi- ,velo ~as especificamente, contudo, a perspec-
tir~ sob um questionamento cuidadoso, que é tlva inicial de Se comportar assertivamente em
freqüentemente vítima de conquistas sexuais certas situações pode ser assustadora. ~ possí-
insatisfatórias e inescrupulosas Porque ela é vel que para muitos clientes que necessitam
. incapaz de dizer não. Do outro lado da moeda, de treinamento assertivo, tentativas anteriores
os clientes podem dar evidência de extrema significativas (talvez na infância) de asserção
ansiedade e aparente falta de .auto-confiança tenham tido conseqüências altamente desagra-
e/ou habilidades sociais durante uma entrevista dáveis. Embora seja geralmente verdadeiro que
inicial, não porque esta seja sua maneira habi- a asserção apropriada resulta em conseqüências
tual de interação social, mas porque não estão posItIvas, não se pocfeesperarque o cEeiife
acostumados a situações onde eles têm que Sâiliã diSto-;-e fãZ parte aã tarefa do terllpeuta
revelar facetas altamente problemáticas e emba- salientar isso, dentro do contexto específico das
raçosas de suas vidas pessoais. dificuldades atuais do cliente.
Em resumo, o diagnóstico de problemas que - O terapeuta pode enfatizar os efeitos nega-
dizem respeito a uma falta de asserção pode tivos da não-asserção (frustração, ressentimen,
s:r facilitado pelo uso de questionári?s d~ asser- to, falta de satisfação) pelos quais o cliente
~o estru,turados, e~~ora a determmaçao pre- está passando, 'e os sentimentos de bem-estar
CIsa de area~ de dIf~culdadenorma~ente re-
quer .entrevIstas
,
cUIdadosas.
. . O .tremamento
pessoal
. -e alívio,
. .
como também de aumento da
sati sfaçao mterpessoa,I que 1rá- provaVelmente
assertIvo e geralmente md Icado quando o clien-
.
t e e,. mcapaz de expressar sentimentos de uma , resuItar do aumento de asserçao.
maneira tanto pessoalmente satisfatória quanto Alguns autores (Alberti '& Emmons, 1978;
efetiva socialmente. As indicações de treina- Lange & Jacubowski, 1976) sugerem que os
mento 86sertivo incluem sinais óbvios de ansie-indivíduos têm o "direito" inalienável de ser
dade interpessoal ou evitamento habitual de in- .
assertivo, e pode haver pouca dúvida que im-
'terações interpessoais importantes, tanto quan-buir no cliente tal crença pl;'oduzàs vezes um
to sinais óbvios ou sutís de que o cliente esteja
poderoso efeito de motivação. Contudo, julga.
vivendo emoções intensas, mas não-expressadas, mos que os riscos associados à apresentação
especialmente raiva, ressentimento e ciúme. A da asserção como um direito pesam muito mais
falta de asserção deveria ser vista como uma que o valor motivante ou terapêutico. Primeiro,
deficiência comportamental relacionada mais embora antecipemos que a maior parte dos
a situações específicas do que a um traço geralcomportamentos assertivos do cliente teriam
da personalidade. conseqüências positivas, às vezes as conseqüên-
cias serão negativas, e as conseqüências nega-
Apresentação do Conceito de Treinamento
tivas são mais frustrantes quando os compor-
Assertivo ao Cliente tamentos são motivados por um senso de jus-
tiça. Uma atitude justa pode encorajar.o cliente
Assumiremos que o terapeuta esta conven- a insistir num determinado comportainento em
cido agora de que certos problemas do cliente face a um feedback negativo; é provável que
refletem uma falta de asserção. O próximo tal experiência seja desanimadora, tanto quanto
passo é informar ao cliente sobre o ;einamento auto-frustrante. Segundo, concordamos com.
ãssertivoeêõiíSegÜirãCôoperaçãõ dele ou dela. Ellis (1962, 1971b) e outros terapeutas cogni-
Embarã isso não tenha sido submetido-r pes- tivos que' certas crenças sobrecarregadas de
quisa controlada, a maioria dos autores da área valor contribuem enormemente para o sofri-
colocam considerável ênfase na indução de uma mento humano (ver Capítulo IX 'para uma dis.,
atitude entusiástica e positiva em relação ao cussão de Ellis). Os terapeutas cognitivos fazem.
treinamento assertivo antes de se ..tentar os um grande esforço para salientar a seus clientes
procedimentos em si. Em parte, porque o trei- que tais crenças são freqüentemente de nature-
namento assertivo, como a maioria das outras za arbitrária. Dentro de tal contexto terapêutico,
uma partIcIpação -Dastanfe ativa por ,parte âo seria logicamente inconsistente apresentar a .
715 TERAPIA COMPORTAMENTAL

asserção como um direito absoluto 2. Terceiro Terapeuta: Que mais você sente quando ele
- e isso também relaciona-se às idéias de Ellis está por perto?
e outros terapeutas cognitivos - a ponto de Cliente: Como disse, ffico bastante transtorna-
que a asserção seja apresentada como um direi- do e nervoso, e quando apareço na casa dele
to, os clientes assumiriam que deveriam ser para jantar, não sinto fome. Não quero
assertivos. Quase que invariavelmente tal atitu- ofender minha irmã, então eu como, mas
.

de leva ao que chamamos "neurose de asser~ depois tenho vontade de vomitar.


ção". Os clientes observam que não são asser-
tivos em todas as situações in vivo imagináveis. Terapeuia: Então, em outras palavras, a manei-
Eles então se punem repetidamente por esta ra de seu cunhado agir te deixa com raiva e
aparente imperfeição, gerando um grande des- an~ioso, e absolutamente doente do estôma-
conforto desnecessário no processo. :e certo go? Parece que você se sente bastante infeliz
que mensagens do tipo "tu deves" podem ser do lado dele.
lidas no comportamento de qualquer treinador Cliente: :e, bastante infeliz. Como ia dizendo,
assertivo entusiástico, mas na nossa opinião, ele não é o único, mas é pior ao lado dele.
apresentar a asserção como um direito absoluto
Terapeuta: Finja então por um minuto que
apenas ,encoraja isso.
você é o tipo de pessoa que pudesse xingá-Io
Segundo nossa experiência, uma alternativa
sempre que ele o estivesse chateando. Sem-
construtiva para a apresentação da asserção
pre que ele estivesse pegando no seu pé, te
como um direito é enfatizar que comportar-se
assertivamente é auto-estimulante, ao passo que perseguindo do jeito que ele faz. Como você
se sentiria então?
ã. falta de asserção é freqüentemente auto-
frustrante. Em especial, descobrimos que carac- Cliente: Bem, se eu o xingasse, ele diria algo
terizar o comportamento de um cliente como cruel para ferir meus sentimentos. Não vale-
"auto-ffrustrante" (e, naturalmente, dar as ra- ria ~ pena.
zões pelas quais é auto-frustrante) quase sem-
Terapeuta: Mas suponha. que você fosse tão.
pre resulta num aumento útil da motivação de
eficaz em dizer-lhe como você se sente, que
mudança.
ele realmente entendesse sua mensagem e
O diálogo a seguir, entre um terapeuta e um
t dixasse em paz, e até te tratasse com admi-
cliente adulto que admitiu que é intimidado e
sente um enorme ressentimento pelo cunhado, ração e respeito. Como você acha que se
sentiria então?
ilustra este ponto.
Cliente: :e difícil de imagimfr isso. Se eu pu-
Terapeuta: Do que você esteve dizendo, parece desse fazê-Io - vencê-Io no seu próprio
claro que você sente bastante ressentimento jogo - eu me sentiria bem melhor. Eu só
e raiva em relação a seu cunhado. O que quero que ele me deixe em paz, e eu gosta-
você acha de sentimentos desse tipo? Quero ria de visitar minha irmã com mais fre-
dizer, é uma maneira boa ou agradável de
qüência. Mas acho que nunca poderia fazer
se sentir?
isso. .. Eu simplesmente não sou assim.
Cliente: Ora, não, exatamente o oposto. Às
OBSERVAÇÃO: Como freqüentemente ocor-
vezes acho que vou perder o controle e
bater nele. Isso seria terrível. re no início do treinamento assertivo, o clien-
te deixa de fazer uma distinção entre asser-
ção e agressão. A menos que o cliente seja
"Os leitores enfadados com nossa atitude de auxiliado a fazer esta distinção importante, é
~vitar a asserção como um direita absoluto deveriam improvável que o cliente se permita compor-
notar que não vemos por isso a asserção como um tar-se mais assertivamente.
erro. Em vez disso, concordaríamos com Heimberg
e associados (1977) que ê de pouco proveito pensar Terapeuta: Quando você disse que "não é
na asserção em termos de valores absolutos. Na ver-
dade, falamos aos clientes sobre direitos, mas dentro assim", você quer dizer que não se sente à
de um contexto legal, o que é uma coisa bastante vontade, sendo agressivo,e talvez magoando
dif~rente. o sentimentosde outras pessoas?
TREINAMENTO ASSERTIVO . 77

. Cliente: :e. Quero dizer que não gosto quando alguém me critica, especialmente se me ridi~
. outras pessoas me tratam desse jeito. En- cularizam. Você acha que eu sairia melhor
tende? . disso se apenas me decidisse. . .. li,me abrir?
Terapeuta: Acho que sim, e eu realmente enten- Terapeuta: Certo. Existem algumas coisas que
do onde vQcê quer chegar. Você não gosta podemos fazer para ajudá-Io a expressar seus
quando o seu cunhado te maltrata e não sentimentos.
quer ser cruel. Bastante razoável. Mas, sabe,
ser assertivo não é o mesmo que ser agressi- Neste ponto o terapeuta descreveria resumi-
vo. Agiessão é quando você não dá a mínima damente o método e fúndamento do treina-
para o que os outros sentem. Quando se está mento assertivo. Ele poderia salientar que as
send~se.!.tivo, ~gente !.e~l'!J'!n~_selmp~ respostas na interpr~tação de um papel, dentro.
como a outra pessoa se sente, mas Também dos limites "seguros" do consultório pode re- .
Cõmovocê proprio se sente. sultar apenas num aumento de eficácia em
Cliente: Acho que entendo mais ou menos a situações interpessoais, e que quando uma
diferença. Ser assertivo não é menosprezar pessoa está se comportando "assertivamente,
as pessoas. Hmmmm... Não sei. .. talvez fica bastante difícil para ela sentir ansiedade.
dizer a ele comome sinto fossea coisacerta Certos autores (Wolpe & Lazarus, 1966) reco-
a fazer. . . mendam que se apresente ao cliente a história
Terapeuta: Veja bem, eu não quero dar uma de um caso exemplo para lhe dar uma noção
de Deus e dizer o que é certo ou errado. mais concreta do que existe à sua disposição.
Mas vou dizer. o seguinte: será muito mllis Ao introduzir o assunto do treinamento asser-
honesto da sua parte contar a ele como você tivo, deveria-se tomar cuidado para não comu-
Se sente realmente. E 'se você é como a nicar que esses procedimentos são apenas efi-
maioria das pessoas, viii se sentir bem depois. cazes para ajudar as pessoas a expressar sen~
Especialniente, se você disser de uma maneira timentos negativos. Como Lazarus (1973) obser-
que não o faça sentir como uma espécie de va, a literatura clínica e de pesquisa inicial
monstro. E quer saber mais uma coisa? EJds- deram uma grande ênfase a este aspecto da
te uma boa possibilidade de seu cunhado nem asserção (de falha) mas o fato é que um espec-
mesmo perceber que está pegando no seu pé. tro bastante amplo de comportamento inter-
Se você o fizer consciente disse, aí ele tem peSsoal pode ser valorizado pelo treinamento
uma escolha. assertivo. Lazarus delineia quatro dessas clas-
C1i~nte:Você faz parecer que eu esfeja fazen- ses de respostas: dizer não; fazer um pedido;
do um favor a ele. expressar sentimentos (positivos ou negativos);
Terapeuta: Eu não estava pensando nestes ter- e iniciaçãoe domíniode uma ~nversa. .
mos, mas e~se é um bom aspecto. .Ele pode
estar atazanando uma porção de outras pes-
soas. " sabe, .estar aborrecendo-as, sem IMPLEMENTAÇAO DE PROCEDIMENTOS
ASSERTIVOS
mesmo saber. .

Cliente (pausa longa): Acho que sim. Ele faz


isso mesmo. Talvez eu possa ajudá-Io (ri). Ensaio Comporta mental
Terapeuta: Isso é bem possível! Mas não se Com certeza a técnica de treinamento asser-
perca você no processo. A principal coisa tivo mais comumente usada é a de ensaio com-
em ser assertivo é que você se sentirá me- portamental. Esta técnica requer que o cliente
'lhor, e provavelmente gostará mais de si e o terapeuta desempenhem relevantes intera-
. mesmo. E seu cunhado vai levá~lo mais a
'ções inter-pessoais. Parte do tempo o cliente
sério. Ser não-assertivo pode às vezes ser representa ele msmo, com o trapeuta assumin-
muito auto-frustrante. do o papel de uma pessoa significativa da vida .
Cliente: Auto-frustrante. :e. .. essa é uma boa do cliente, tal como um dos pais, o patrão ou
.maneira de colocar. Mas o problema é que cônjuge. No' desempenho deste papel, o tera-
" sempre fico tenso e, s!lbe, me fecho quando peuta precisa retratar a outra pessoa com
--
78 1ERAPIA COMPORTA MENTAL

algum grau de realismo. Já que o cliente é nor- imitar. Contudo, a melhor estratégia provavel-
malmente a única fonte de informação sobre a mente seria incorporar tanto o feedback ime-
outra pessoa, é exigido dele as instruções de diato quanto à modelação (Edelstein & Eisler,
como o terapeuta deve se comportar. Dizer ao 1976; Hersen, Eisler & Miller, 1974; Hersen,
cliente que o "show é dele" e que ele precisa Eisler, Miller, Johnson & Pinson, 1973; Kaz-
"dirigir a peça" pode servir para envolvê-Io din, 1976b). Considere o exemplo a seguir.
mais e ao mesmo tempo apelar para os impul- Um universitário tem dificuldade em convi-
sos teatrais latentes que a maioria das pessoas dar garotas para sair. Na situação presente, ele
possue. O cliente poderia modelar o comporta- tenta convidar a garota pelo telefone. Ele se
mento inteiramente, ou, se isto provoca muita apresentou e engajou a garota no tipo de papo
ansiedade ou for embaraçoso, simplesmente aproprjado. Tanto o cliente quanto o tera-
descrever o comportamento a ser modelado. peuta concordaram que agora é hora de convi-
com o terapeuta preenchendo os detalhes. dá-Ia para saIr.
Tendo assim fixado o palco, o cliente geral-
mente inicia o quadro com o comportamento Cliente: A propósito (Pausa) acho que você
que é típico dele em tal situação. O terapeuta não vai querer sair sábado à noite?
responde de acordo com seu papel, e isto, por Terapeuta: Até a parte em que você a convida
sua vez, vai de encontro à resposta do cliente, para sair, você estava indo muito bem. Con-
e assim por diante. Normalmente, trocas desta tudo, se eu fosse a moça, acho que poderia
natureza são bastante breves, e às vezes a na- tet ficado um pouco ofendida quando você
tureza da tarefa alvo é tal que apenas o cliente disse: "A propósito". :e como se convidá-Ia
precisa ter uma resposta. Por exemplo, um para sair fosse meramente casual. Além disso,
cliente pode desejar aprender como lidar com pela maneira como a pergunta foi colocada,
um balconista que insiste em ignorá-Io. Aqui o você estava sugerindo que ela não estava
terapeuta poderia dizer: "Finja que sou o com vontade de sair com você. Imagine por
balconista. Represente o que você diria (disse) enquanto que eu sou você. Agora, que tal
para mim". O cliente encerraria a troca com soa isto: "Estão passando um filme no Var-
uma única afirmação, tal como: "Com licen- sity neste sábado que eu gostaria de assistir.
ça, desculpe mas você poderia me atender Se você não' tem outros planos, eu gostaria
quando terminar?". muito de levá-Ia."
Com base em tais comportamentos represen- Cliente: Isso soou bem. Como se você estivesse
tados inicialmente, o terapeuta se encontra seguro de si mesmo e também gostasse da
numa excenlente posição de avaliar se o treina- garota.
mento assertivo é necessário para a situação Terapeuta: Por que você não tenta?
que acaba de ser interpretada, e se é necessá-
Cliente: Sabe aquele filme no Varsity? Bem, eu
rio para a situação que acaba de ser interpre-
gostaria de ir, e gostaria de levá-Ia no sába-
tada, e se é ,necessário determinar os compor- do, se você não tiver nada melhor para
tamentos exatos do cliente que precisem de fazer.
mudança. Se as deficiências forem aparentes, o
terapeuta pode optar pelo fornecimento imedia- Terapeuta: Bem, saiu realmente melhor. Seu
tom de voz foi muito bom. Mas a última
to de um feedback corretivo (apresentado de
frase: "se você não tiver nada melhor para
uma forma decididamente não-punitiva) que
fazer", isto soa como se você pensasse que
seria seguido de uma segunda tentativa por
parte do cliente. Este procedimento poderia não tem muito a oferecer. Por que não refa-
zemos mais uma vez?
continuar até que o cliente e o terapeuta con-
cordassem que a resposta é apropriadamente Cliente: Sábado gostaria de assistir o filme no
assertiva e é acompanhada por um mínimo de Varsity, e, se você não tem outros planos,
ansiedade. Ou então, logo após a resposta ini- gostaria de levá-Ia.
cial do cliente, o terapeuta poderia modelar Terapeuta: Muito melhor, na verdade, excelen-
imediatamente uma resposta mais adequada, a te. Você estava confiante, determinado e
qual o cliente teria então oportunidade de sincero.
---

TREINAMENTO -ÃSSERTIVO 79

Alguns dos princípios discutidos nos Capítu- Freqüentemente, quando o terapeuta .assume
10s V e VI são incorporados no diálogo acima o papel do cliente, o cliente modela o compor- .
Um deles é a utilização de muito esforço sob tamento da outra pessoa da interação. Esta
a forma de elogio por parte do ter!!peuta. O técnica, conhecida como troca de papéis, é
segundo é a utilização do principio de aproxi- útil porque fornece um contexto mais real, no
mações sucessivas. Depois da primeira tentativa qual o terapeuta pode modelar o comporta-
"de imitar o terapeuta, o terapeuta elogiou aque- mento adequado para o cliente. Além disso,
les componentes da resposta do cliente que assumir o papel de outra pessoa .encoraja o
refletiam melhora. Se o terapeuta tivesse insis- cliente a experimentar os tipos de senti~entos
tido num desempenho perfeito, quase tudo que que a outra pessoa (qualquer pessoa) iria plau-
o cliente disse não teria atingido o objetivo. sivelmente experimentar numa dada situação.
Entretanto, quando o terapeutal'ercebe qual- Isto tem especial valor Se o cliente tem ex-
quer melhoradiscemível no. comportamento.d.9 pectativas negativas e irreais de como as outras
cliente, taf melhora, em vez de se perder,~-_ pessoas irão responder a propostas mais asser-
ãiste na segunda respost<l..Reco~ensar a me- tivas. Por exemplo, considere o cliente que
1hOraem vez dos níyeis absolPtos de dese1JZpe- seja relutante em expressar opinião contrária
nho é geralmente chamado de modelação, e, a seu chefe com medo de ofendê-Io. Engajan-
como consideramos nos Capítulos V e VI, a do-se numa troca de papéis, o cliente tem a
modelação é um ingrediente essencial da modi- oportunidade de observar o terapeuta mode-
ficação comportamental. Também é enfatizado lando o ato de discordar de uma maneira di-
nestes capítulos a importâncr;='dê se lidar com - plomática e bem argumentada, e de observar
segmentos relativamente pequenos de compor- sua própria reação emocional diante disso. Ele
tamento de cada vez. Em treinamento assertiyo pode ficar surpreso ao perceber que a resposta
i~tv si!;.l1iflcaque iIiicialmente, pelo menos, modelada não provocou sentimentos especial-
monólogos prolongados não são modelados pelo mente negativos afinal de contas, e isso fome-
fe'fapéülã,_~ opta, em vez disso. por trab!!lhar ceria um ímpeto adicional para tentar o novo
na produção de DiêlllÕra em pequenas porÇ.óes comportamento in vivo.
do comportamento do cliente. Comumente, os O diálogo a seguir ilustra a técnica.de troca
seguimentos de uma interação são tratados em de papéis, como também os procedimentos e
seqüência até que a interação esteja completa. princípios descritos na discussão anterior. A
Então o terapeuta poderia fazer com que o cliente é uma adolescente, prestes a concluir
cliente "juntasse" (isto é, ensaiasse) a seqüên- o curso de 2.. grau. Ela não é uma aluna excep-
cia completa, simulando assim a interação como cionalmente boa e não apresenta nenhum dese-
ela realmente ocorreria. jo de ir para a faculdade, mas sua mãe, que a
. Observe que no diálogo acima, o terapeuta domina, está insistindo para que ela o faça.
acompanhou não apenas o conteúdo' da verba-
lização do cliente, como também o tom de voz. Terapeuta: Bem, está aparente para mim que
A maioria concordaria que o comportamento você não qúer ir para.a faculdade. Está claro
assertivo consiste de muito mais que respostas também que você já pensou bastante sobre
de conteúdo assertivo. Os treinadores asserti- o assunto. Agora, o que acontece quando
vos dão cçlDsiderávelimportância aos compo- você discute isso com sua mãe?
nentes paralinguísticos e não-verbais do com- Cliente: Nós 'não discutimos ex~tamente isso.
portamento do cliente, incluindo: Ela diz o que é melhor par~ mim, e que sou

Componentes Paralingllfsticos Componentes Não-Verbais ..


Latência da resposta Contato visual
Amplitude da resposta Expressão facial
Duração da resposta . Expressão corporal
Tom da voz Inclinação do corpo (aproximando-se ou afas~
Problemas de fluência na fala tando-se da outra pessoa)
80 TERAPIA COMPORTAMENTAL

imatura e que não sei o que quero, e que muito cuidado. Eu não iria gostar da facul-
vou me arrepender pelo resto da minha vida dade e não me sairia bem. (A representação
por não ter ido para a faculdade. do papel termina). Agora, porque você não
Terapeuta: E como isso faz você sentir-se? tenta algo assim? Você será você mesma e
Cliente: Com raiva interior e bastante frustra- eu serei sua mãe. (Como mãe) Insisto que
você se inscreva. Eu gosto de você e isso
da. Parece que não consigo falar uma pala-
será para seu próprio bem.
vra, mas se eu dissesse o que realmente sinto.
ela ficaria magoada, então eu não falo. Vou Cliente: (Como cliente) Eu sei que você gosta
para meu quarto e choro um pouco. de mim, e estimo muito. Mas eu já pensei
bastante e sei que não vou me sair bem.
Terapeuta: Só para ver como você age nesta Acho realmente que não seria uma boa idéia.
situação, eu farei o papel de sua mãe e você Tenho certeza que não.
será você mesma. Você dirige a peça e
Terapeuta: Dessa vez saiu-se realmente melhorl
assegure que eu aja como sua mãe. Pronta? Como você se sentiu?
Lá vai. (Como mãe) Quando você vai se
matricular. na universidade federal? Você Cliente: Um pouco ansiosa.
ainda não foi, não é? Terapeuta: Vamos tentar novamente.
Cliente: Não. Você sabe que eu não quero mes- OBSERVAÇÃO: Certos autores da área (por
mo ir. exemplo, Jakubowski-Spector, Observação 7;
Terapeuta: Eu sei que você não tem idade bas- Lange e Jakbowski, 1976; Lazarus, 1973)
tante para saber o que querô Você é muito salientam a importância da empatia no com-
imatura e vai se arrepender pelo resto de sua portamento assertivo e concordamos inteira-
vida por não ter ido para a faculdade. Se mente. No diálogo acima, o terapeuta mode-
eu não gostasse "de você, não diria essas coi- lou uma n;:sposta empática diante da mãe,
sas. Pois bem, eu insisto que você se m.atri- e o cliente a incorporou facilmente. Respos-
cule. tas empáticas têm pouca probabilidade de
Cliente: (Longo suspiro) Oh, está bem. (A re- serem vistas como agressivas, portanto, elas
presentação do papel termina) ~ exatamente provavelmente não irão ameaçar o cliente ou
isso o que eu diria. Para tirar ela de cima as pessoas com quem o cliente deve inte-
de mim. . ragir.
Terapeuta: Bem, você começou dizendo a sua A interação continua até que o cliente relate
mãe como realmente Se sentia, e isso foi pouca ou nenhuma ansiedade enquanto enga-
bom. Mas depois, depois que ela falou a jado no intercâmbio.
parte dela, você cedeu, com raiva e frustra- Terapeuta: A conversa terminaria assim?
da. Vamos tentar trocar os papéis por um Cliente: Não, acho que não. Provavelmente
. minuto. Você será sua mãe e eu serei você.
ela diria que eu era uma decepção para ela.
Você começa. Isso realmente me irrita, e ela sabe, e eu
Cliente: Ok. (Como mãe) Porque você não se não saberia o que dizer.
matriculou na universidade federal ainda? Terapeuta: Vamos tentar trocar os papéis de

J
Terapeuta: (Como cliente) Para fa a a verdade,
mamãe, já pensei bem sobre o ass to e não
quero ir para a faculdade.
Cliente: (Como mãe) Eu insisto veeO)ntemente

ainda e não sal:) ue . aça o que eu


novo. Você começa com a frase sobre decep-
ção.
Cliente: (Como mãe) Porque você insiste em
me decepcionar?
que você se\Jnscreva. Você - o é adulta Terapeuta: (Como cliente) Ora, eu não quero
decepcioná-Ia, e se estou, isso me faz sentir
digo. Eu gosto de você e é para seu próprio mal. Mas esta é uma decisão importante
bem. que tenho que tomar por mim mesma. Você
Terapeuta: (Como cliente) Mamãe, eu sei que sabe que aprecio sua opinião e não quero
você se importa bastante comigo e isso é faltar com o respeito, mas já analisei o
importante. Mas como eu disse,já refleti com assunto de todos os ângulos, e sei que seria
-- -- --

TREINAMENTO ASSERTIVO 81

melhor arranjar um émprego em vez de ir mente, uma questão de julgamento social. Co-
para a faculdade. (Fim da representação de mumente, a decisão é tomada em conjunto,
papel) como lhe pareceu isso? pelo cliente e o terapeuta, tirando proveito
Cliente: Bem mesmo. Era como se você a tanto do conhecimento específico do cliente
estivesse desarmando. Colocando as coisas sobre a situação-alvo, como da maior experi-
dessa maneira ela ficaria com menos raiva. ência e objetividade do terapeuta. Como a maio-
ria dos problemas que o terapeuta trata envol-
Terapeuta: Agora você tenta. S6 a última parte. ve um fracasso por parte do cliente em "de-.
(Como mãe) Por que você tem que me decep- fender seus direitos", algumas linhas gerais
cionar?
para determinar "comportamentos apropriados"
Cliente: Não é essa minha intenção e sinto em tais situações podem ser de ajuda. Na ex-
. muito Se o estou fazendo. Você sabe que eu pressão de. sentimentos como mágoa ou raiva,
. respeito muito sua opinião, mas trata-se de uma boa regra é enfatizar a implementação da
uma decisão importante que tem que ser resposta eficaz mínima. A resposta eficaz míni-
tomada por mim. Já refleti muito e sei que ma é aquele comportamento que comumente
seria melhor arranjar um emprego e não ir alcançaria o objetivo do cliente com um míni-
para a faculdade. mo de esforço e emoção negativa aparente (e
Terapeuta: Muito bem. Você transmitiu uma reduzida probabilidade de conseqüências nega-
imagem de determinação, mas não soou rís- tivas). Considere como uma pessoa poderia
pida ou cruel. Além disso, seu contato ocular lidar com um casal tagarela interferindo na
está ficando muito melhor, e isso é impor- sua apreciação de um filme. Assuma que o
tante. Você chegou a se sentir ansiosa? casal esteja engajado em cochichar alto há
Cliente: Não. Na verdade me senti muito bem. cerca de cinco minutos, e ninguém pediu ainda
enquanto estava falando. que eles se calem. Uma resposta eficaz minima
poderia ser: "Puxa, será que vocês poderiam
Terapeuta: Como sua mãe reagiria ao que você ficar um pouquinho mais silenciosos? Não estou
. acabou de falar?
conseguindo ouvir bem", falando num tom d~
Cliente: Realmente não sei. Nunca me impus voz baixo e amigável. Naturalmente, uma pes-
dessa maneira.
soa poderia se engajar num massacre, falando
Terapeuta: Você acha que se sente confortável alto e. com raiva: "Se vocês não calarem essa
o suficiente para tentar resolver isso? . boca, vou chamar o lanterninha para colocar
Cliente: Sim, mas com um pouco mais de vocês prá fora". Entretanto, uma resposta desta
prática. natureza, embora pudesse "dar conta do reca-
Terapeuta: . Ok, vamos ensaiar tudo de novo. do", faria provavelmente com que o queixoso
{Como mãe) Por que. você não se inscreveu se sentisse culpado, deixando o casal com raiva
na faculdadeainda? . ou aborrecido desnecessariamente (os quais,
afinal de contas, provavelmente nem estavam
o diálogo acima ilustra um importante prin- cientes de que estavam importunando), e irritar
cípio adicional. Antes de prosseguir para o todos os vizinhos.
pr6ximo segmento de. uma interação, o tera- A seguir são apresentadas situações de abor- .
peuta deve determilUZrque o cliente possa recimento que freqüentemente ocorrem, com.
se engajar no presente seguimento com pouca amostras de resposta eficaz mínima.
ou nenhuma ansiedade. Neste aspecto, o proce- Um empregado do posto de gasolina deixa
dimento é muito parecido com a dessensibiliza- de limpar seu pára-brisa: Será que o .senhor
ção sistemática: poderia dar um jeito no pára-brisa? Está um
pouco sujo hoje. .

A Resposta Eficaz Mrnima Um garçon cobra uma sobremesa que você


não. comeu: Acho que houve um engano lUZ
Como indicamos, a asserção envolve a ex- conta. O senhor poderia verificar novamente?
pressão apropriada dos sentimentos. Decidir se Na noite anteriora um exameimportanteum .
um determinado ato é apropriado, é, natural- amigo aparece para conversar; 20 minutos
I
82 TERAPIA COMPORTAMENTAL

depois ele está ficando mais empolgado: Sabe, Queixoso: Será que vocês poderiam fazer um
tenho um exame amanhã. Mas vamos marcar pouco mais de silêncio. Estou tendo dificul-
um dia para bater um papo. dade para ouvir. (Depois de cinco minutos
A pessoa com quem você marcou um encon- de silêncio a conversa recomeça.)
tro para sair está 30 minutos atrasada. Ela não Queixoso: Olha aqui, será que dá para ficarem
apresenta nenhuma desculpa: Estava ficando um pouco mais quietos? Eu simplesmente
um pouco preocupado (enquanto olha para não consigo ouvir o filme. (Escalada de pri-
meira ordem.)
seu relógio).
Porta-voz dos acusados: Desculpe. (Silêncio até
Um amigo interrompe você continuamente: o fim do filme.)
Estou certo de que você não percebe, mas às
vezes fico um pouco atrapalhado quando você O terapeuta pode desejar estender isso para
me interrompe (com um sorriso amável). uma escalada de segunda ordem. A segunda
queixa é recebida com: "Puxa, mas por que o
cara tá tão nervosinho?" seguido do prosse- .
. Escalada
guimento da conversa. Agora uma resposta ade-
quada poderia ser: "Olha aqui, se vocês aí não
As respostas assertivas de natureza relativa-
mente moderada acima ilustradas são bastante pararem, vou chamar o gerente", o que poderia
ser seguido da contraresposta: "(Suspiro longo)
eficazes na maioria dos casos. Às vezes, contú-
Tá certo, cara, tudo bem", e de silêncio durante
do, elas provocam indiferença ou mesmo beli- o restante do filme. Ou: "Este cara está me
gerância, e deve-se tomar providências para irritando. Vamos embora".
preparar o cliente para isso. Na v.erdade, muitos
Observe que a cada etapa o terapeuta estru-
clientes nem mesmo tentarão uma resposta
tura as coisas de modo que as asserções do.
eficaz mínima no mundo real, a menos que cliente encontrem sucesso definitivo. Embora
tenham consciência de que podem ir além disso possa ser argumentado que no "mundo real" a
se necessário. Uma vez que os clientes tenham assertividade apropriada nem sempre encontra
se mostrado peritos na resposta eficaz mínima sucesso, na verdade, geralmente é bem sucedi-
(no consultório), o terapeuta modela sucessiva- da, e praticar conseqüências negativas na tera-
mente contra-respostas mais negativas e ameaça- pia irá apenas reforçar tendências já poderosas
doras. O treinamento em escalada (um termo para a inibição.
emprestado de McFall & Marston, 1970) O cliente pode levantar a possibilidade de
aumenta a confiança do cliente; os resultados que durante o curso de um encontro escalado,
de pesquisas sugerem que ela pode facilitar a a outra pessoa possa recorrer à violência física
generalização do comportamento assertivo ou ameaças análogas. A probabilidade disto
(Nietzel, Martorano & Melnick, 1977). Contu- ocorrer é muito menor do que a maioria dos
do, o terapeuta deve tomar cuidado especial clientes pensa. Segundo nossa experiência, pes-
em manter estas escaladas dentro do domínio
soas que freqüentemente se comportam fazen-
da plausibilidade e lembrar ao cliente que tais do o tipo valentão, facilmente sucumbem à
contrarespostas são, afinal de contas, bastante assertividade verbal; portanto o intercâmbio
improváveis de ocorrerem. Esta precaução é raramente alcança o ponto de ameaças ou vio-
importante porque os indivíduos que ficam tí- lência física. Esse é o caso do cliente que é
midos em tais situações provavelmente fizeram ensinado a evitar "prensar o oponente contra
um trabalho completo de se intimidarem a si a parede". A melhor maneira de conseguí-Io é
mesmos com a antecipação de conseqüências fazer o cliente se concentrar em maneiras de
desastrosas para quaisquer atos assertivos de informar a outra pessoa que ela é uma fonte
sua parte. A última coisa que o terapeuta dese- de incoveniência, desconforto pessoal e, quando
ja fazer é reforçar essas ponderações. A seguir apropriado, de mágoa, em vez de táticas envol-
é apresentado, em forma resumida, um exemplo vendo ataques ou insultos.
de escalada envolvendo o casal barulhento do Considere a seguinte situação. Você está pre-
cinema. Ao implementar isto, o formato usual cisando muito de alguma soma em dinheiro,
de modelação-ensaio deve ser seguido. mas o funcionário do mercado de conveniência
TREINAMENTO ASSERTIVO 83

que você freqüenta, recusa-se a descontar seu minada resposta será eficaz numa determinada
cheque porque é novo e não o conhece. Você situação; e (2) que o cliente é capaz de reali-
poderia dizer: "Para falar a verdade, isso me zar uma determinada resposta (Bandura,
faz sentir meio estranho. Minal de contas, eu 1977a). Evidentemente, a expectativa do cliente
sou cliente aqui há algum tempo, e preciso de que uma determinada resposta "funcione"
muito do dinheiro". Segundo experiência pes- será baseada, em parte, em experiências vivi-
soal, isso quase sempre funciona. No entanto, das anteriormente, mas é provável que se possa
seguindo uma linha impulsiva e imbecfI, você fazer algo para aumentar esta crença. Assim,
poderia intinUdá-lo dizendo: "Olha aqui, seu o terapeuta pode aprsentar razões por que um
cretino, eu já desconto cheques aqui há mais determinado ato deveria ser eficaz na realiza-
de um ano". Se ele atendesse seu pedido, ele çãp dos objetivos do cliente. Além disso, o
estaria admitindo que é um cretino, e seria trabalho de Kazdin (1974d, 1976b) sugere que
pouco provável que ele fizesse isso. Além disso, as conseqüências positivas do modelo, como
se ele for dado à violência, chamá-Io de cre- também a utilização de vários modelos, facili-
tino não ajudará muito a suprimir esta resposta. tam a asserção. Observar (ou imaginar, como
Na verdade, a fonte de seu desconforto na si- fizeram os sujeitos de Kazdin) vários modelos
tuação présente tem muito pouco a ver com. experimentando conseqüências positivas deve-
. qualquer "traço" permanente( como inteligên- ria provavelmente aumentar a crença de uma
cia) que o funcionário possa possuir. ~ o com- pessoa que uma determinada resposta será real-
portamento presente dele que está irritando, e mente eficaz. Quando logisticamente possível,
dizer isso a ele de uma maneira mais direta é a modelação in vivo forneceria evidência bas-
muito mais honesto (como também mais eficaz) tante convincente da eficácia de uma resposta;
do que se engajar em insultá-lo. De forma seme- por exemplo, o terapeuta modela mandar. de
lhante, para o freguês que acabou de receber volta um bife queimado (assumindo-se que este-
troco a menos, o problema não é que o garçon ja realmente queimado!) ou devolver uma rou-
seja "um mentiroso e embusteiro" (embora pa com o tamanho errado. Ao sugerir isso, esta-
possa realmente ser). O problema, isto é, o mos assumindo conseqüências positivas; não é
evento causando aflição, é uma irregularidade necessário dizer que o terapeuta deve dirigir
no comportamento de fazer troco do garçon, tais interaçães da vida real com muito cuidado.
e é isso que precisa de correção. Uma vez que os clientes estejam convencidos
de que uma determinada' tática de comporta-
Auto-Eflcácla e Asserção mento encontrará sucesso, como podem eles
(em oposição ao terapeuta) desempenhá-Ia efi-
No Capítulo I observamos que a avaliação cazmente? Existe evidência de que feedback
de autcreficácia era forte prognosticador do da resposta, sob a forma de comentários do te-
comportamento em situações que tipicamente rapeuta, ou via audio ou videotape, facilita a
evocavam diferentes graus de ansiedade. Ban- assertividáde dos sujeitos (por exemplo. Edels-
dura (1977a) argumentou que a auto-eficácia tein & Eisler, 1976; Melnick, 1973). Uma das
está também relacionada com a mudança de funções do feedback é fornecer ao cliente infor-
comportamento.,ist9 éLqualquer coisa que oco~ mação de que sua resposta foi efetiva ou
ra ilã terapia que transmita ao cllente-uma sen- apropriada.
-saçãoreaLde ser capaz de enfrentar, irá aumen- Como observamos anteriormente, a evidên-
tar a probabilidade_4uucessoJa vivo. A hipó- cia experimental apoia a visão de.situação-espe-
tese tem implicações de longo alcance, e intui. cífica da assemvidade. Esforços no sentido de
tivamente atraente, embora o apoio na pesqui- programar generaliiação nos pacotes de trata-
sa se limite a dados. Contudo, pode valer a mento do treinamento assertivo (Hersen, Eisler
pena explorar como se poderia incorporar o & Miller, 1974; Kirschner, 1976; Rosenthal
conceito de auto-eficácia nos procedimentos de & Reese, 1976; discutiremos alguns desses re-
treinamento assertivo. sultados mais adiante)' têm encontrado um su-
Uma sensação positiva de autcreficácia é ba- cesso surpreendentemente pequeno. Poderia-se
seada em duas expectativas: (1) que uma deter- especular que o fonnato altamente est~turado
'84 TERAPIA COMPORTAMENTAL

do treinamento assertivo possa contribuir para 5. O terapeuta recompensa a melhora gene-


esta falta de generalização. No formato tradi- rosamente. As etapas 3 e 4 são repetidas até
cional de treinamento assertivo) que é basica- que o terapeuta e o cliente estejam satisfeitos
mente o que apresentamos), o terapeuta forne- com a resposta, e o cliente possa se engajar
ce aos clientes uma resposta de controle eficaz. na resposta com potlca ou nenhuma ansiedade.
Se os clientes não são encorajados a generali- 6. ,A interação, se for muito longa, deve ser
zar suas próprias táticas assertivas, não desen- dividida em pequenos segmentos e tratados em
volverão um senso de auto-eficácia ao enfren- seqüência. Então o cliente e o terapeuta podem
tarem situações de natureza mais ou menos desejar repassar a interação completa com o
imprevista. Uma estratégia terapêutica para objetivo de consolidar o.s ganhos.
facilitar a generalização poderia envolver consi- 7. Num intercâmbio envolvendo a expres-
derável estrutura bem no início, Mas '::61iiuma são de sentinlentos negativos, o di"üte (kve ";';1"
diminuição gradual de modelação. Ao fim do instruido a começar com uma resposta relativa-
tratamento, virtualmente todas as táticas asser- mente moderada (a resposta eficaz mínima).
tivas do cliente serão auto-geradas, o que, Contudo, ele pode receber respostas mais fortes
presumivelmente, forneceria ao cliente uma boa caso a re~posta inicial seja ineficaz.
razão para acreditar que ele pode lidar eficaz 8. Ao ensaiar a expressão de sentimentos
mente com situações inesperadas. negativos, afirmações subjetivas peÍ"tencentes a
A estratégia que acabamos de apresentar é comportamentoiS de irritação ou mágoa por par-
um pouco semelhante ao "domínio auto-diri- te da outra pessoa são muito superiores aos
gido" de Bandura (Bandura, Jeffery & Gajdos, 'ataques pessoais, que são freqüentemente irre-
1975; ver Capítulo IV deste texto), utilizada levantes e têm o efeito de deixar o outro sem
em combinação com a modelação participante. saída.
Bandura e seus colaboradores relatam que as 9. O terapeuta pode desejar diminuir gra-
experiências de domínio auto-dirigido resulta- dualmente a modelação de respostas assertivas
ram numa redução maior do medo de cobras e fazer com que o cliente assuma cada vez
reais, mas talvez mais importante, as experiên- mais a responsabilidade de criar táticas asse.r-
cias de domínio estavam também associadas a tivas.
altos níveis de confiança em lidar eficazmente
com cobras em situações inesperadas. Se estas
\ Utilização de uma Hierarquia
estratégias facilitam uma expectativa mais ge-
neralizada de conseguir se comportar mais as- Como vimos no Capítulo lI, a dessensibili-
sertivamente (e, na verdade, de se comportar zação sistemática exige a utilização de uma
assertivamente em situações inesperadas) é, hierarquia bem estruturada e cuidadosamente
naturalmente, uma questão impírica. detalhada. O terapeuta pode desenvolver hierar-
A seguir apresenta-se um resumo dos princi- quias bastante semelhantes para o ensaio com-
pais pontos associados com a técnica de ensaio portamental, e às vezes isso é feito. Mais fre-
comportamental da forma que é aplicada numa qüentemente, contudo, a abordagem do tera-
área específica de dificuldade interpessoal. peuta comportamental para o treinamento asser-
tivo é um pouco mais informal, embora reco-
1. O cliente representa o comportamento
como ele o faria na vida real. mende-se que os itens mais fáceis sejam trata-
dos primeiro. Formar uma hierarquia detalha-
2. O terapeuta fornece feedback verbal es- da e percorrê-Ia metodicamente é um empre-
pecífico, erifatizando as características positivas endimento que consome muito tempo, e um
e apresentando as insuficiência de uma forma terapeuta experiente pode sentir que é capaz
amável e não-punitiva. de calcular com precisão quando os clientes
3. O terapeuta modela o comportamento estão prontos para uma determinada situação
mais desejável, com o cliente assumindo o pa- (mesmo não tendo ensaiado interações mais
pel da otltra pessoa quando necessário. fáceis) .
4.' O cliente tenta então a resposta nova- Por outro lado, o principiante no treina-
mente. mento assertivo pode achar tal hierarquia
TREINAMENTO ASSERTIVO 85

aconselhável já que ela fornece estrutura, como do fato de você ser sempre pontual, ele per-
também informações valiosas de diagnóstico. gunta, num tom sarcástico: "Você se atrazou
Somos.de opinião que a apresentação prematu- hoje?"
ra de um item (isto é, interação) pode ser 3. Seu supervisor observa (erroneamente)
muito mais prejudicial no treinamento asser- que você e os outros têm feito pausas para o
tivo que na dessensibilização. Isto é especial- café muito longas.
mente verdadeiro se o item assertivo estiver 4. Seu supervisor acusa injustamente um
ligado à expressão de hostilidade. Fazer com colega seu de atos desonestos.
que o cliente '!passe uma descompostura" em 5. Você se aproxima de seu supervisor para
seu pai (mesmo num contexto de interpretação pedir que suas férias, marcadas para setembro,
de papel supostamente "seguro") antes que ele sejam antecipadas para agosto.
esteja pronto para isso pode ameaçá-Io a ponto 6. Você fez hora-extra a semana inteira. Seu
de por fim à terapia. Se a falta de assertividade supervisor pede que você o faça novamente.
do cliente abrange a expressão dI! sentimentos Você quer recusar.
negativos em relação ao terapeuta, o terapeuta 7. Seu supervisor faz comentários sarcásti-
pode não estar ciente do que está acontecendo, cos sobre você deixar o escritório mais cedo
para vir a descobrir após vários encontros sub- na quarta.feira para ir ao seu psicoterapeuta.
seqüentes cancelados que "perdeu" o cliente 8. Você se aproxima de seu supervisor para
que estava "indo bem". Portanto, recomenda- pedir um aumento mais que merecido.
se que aqueles que estejam utilizando o treina- 9. Você quer informar seu supervisor que
mento assertivo pela' primeira vez empreguem se não lhe for concedido o aumento, você dei-
uma 'hierarquia do tipo dessensibilização até xará a firma.
que sinta que este procedimento pode ser pres-
cendido. A segunda hierarquia é para uma moça de
A construção.'de hierarquia foi descrita no 25 anos que tem um caso com um homem
Capítulo 11. Comumente, ,os itens, são classifi- mais velho e casado, que parece estar indife-
rente a seus sentimentos.
cados de acordo com a ansiedade, embora
sugerir aos cliéntes que classifiquem as situa- 1. Tarde da noite, ele telefona do aparta-
ções de acordo com o grau em que estas pro- mento dele insistindo que você vá encontrá-Io
voquem irritação, frustração ou raiva, possa imediatamente. Ele parece não se preocupar
ser de ajuda, especialmente com clientes que se a hora é incoveniente ou não para você.
não considerem apropriado admitir que ficam 2. Ele devia encontrar você às 17:00 hs na
ansiosos em determinadas situações. estação ferroviária. Você ainda não comeu, e
Colocamos a seguir amostras de hierarquias.está chovendo e fazendo frio. Ele aparece às
Os primeiros dois itens são' apresentados em ,19:30, sem dar nenhuma desculpa.
detalhe, e os restantes são apresentados de 3. Ele telefona para dizer que ta1vez não
forma abreviada. Os itens estão em ordem cres-
possa ver você no próximo fim-de-semana,sem
cente de dificuldade. Como na dessensibiliza- dar nenhuma razão.
ção, as situações devem ser apresentadas com 4. Ele se recusa a discutir o futuro do seu
'detalhes reais. relacionamento.
A primeira hierarquia é para um contador 5. Você se queixa sobre o mau tratamento.
que era atormentado pelo seu supervisor ime- que ele lhe dispensa, ele lhe chama de
diato.
"vagabunda" e não responde mais.
1. Seu supervisor está sentado à sua mesa. 6. Ele diz que não pode ver você porque
Durante as últimas três semanas você tem feito Bonnie (outra namorada) está na cidade.
hora-extra e gostaria de sair do escritório 20 7. Você quer repreendê-Io, mas tem medo
minutos mais cedo para ir à festa de aniversá- de perdê-Io em razão disso. -- '
rjo do seu filho. Você se encaminha para a 8. Você quer dizer a ele para mudar ou
mesa dele e começa a fazer o pedido. tudo estará terminado.
2. Certa manhã seu supervisor passa pela 9. Você quer dizer a ele que não quer
sua mesa enquanto você está séntado. Apesar mais vê-Io.
~ I.&...

A Utilização de um Co-Terapeuta Treinamento Assertivo em Grupos

Temos visto que o treinamento assertivo No Capítulo 11 foi apresentada evidência de


pode às vezes ser consideravelmente acelerado que a dessensibilização sistemática pode ser
se for assistido por dois terapeutas ao mesmo eficaz e economicamente apresentada dentro do
tempo. Embora saibamos de pesquisas não-con- contexto de grupo. Os resultados em laborató-
troladas investigando isso, os funtamentos por rio e clínica indicam que o mesmo é válido
trás da utilização de um co-terapeuta são alta- para o treinamento assertivo (por exemplo,
mente plausíveis. Primeiro, o leitor sem dúvida Landau & Paulson, 1977; Lange & Jacubowski,
concordará que um dos aspectos mais difíceis 1976; Rathus, 1972; Rimm, 1977b; Rimm,
do treinamento assertivo está ligado a decidir Hill, Brown & Stuart, 1974).
o que é precisamente uma resposta apropria- À parte das óbvias considerações econômicas,
damente assertiva numa dada situação. Certa- existem várias razões convincentes para se
mente, em questões de julgamento social, o supor que o treinamento assertivo em grupo
ditado "duas cabeças trabalham melhor que deva ser superior ao tratamento individual. Já
uma" é aplicável. Segundo, e relacionado a discutimos a vantagem de co-terapeutas sobre
este ponto, a credibilidade de uma resposta o terapeuta individual, e os argumentos em
inesperada apresentada ao cliente pode apenas favor do treinamento assertivo em grupo são
ser aumentada pelo fato de que dois observa- essencialmente os mesmo. O grupo, consistindo
dores ("peritos") concordem quanto a sua con- (geralmente) de dois terapeutas e 5 a 10 clien-
veniência. Terceiro, os resultados de pesquisa tes, ,pode fornecer um fácil consenso para o
sugerem que duas pessoas agindo como modelo que é apropriadamente assertivo numa dada
facilitam mais o comportamento assertivo que situação; modelos múltiplo, como também um
um modelo solitário (Kazdin, 1976b). No en- variado sortimento de pessoas-"alvo", para os
saio comportamental, a presença de um co- exercícios assertivos; e reforço social maciço
terapeuta significa que há dois indivíduos dis. para desempenhos melhorados de qualquer
poníveis para assumir o papel da "outra pes- membro.
soa" e será muito mais provável que o papel O principal exercício de grupo é, natural-
seja representado de uma maneira plausível. mente, o ensaio comportamental. As regras para
Este é obviamente o caso em que o cliente tem implementar o ensaio de comportamento em
dificuldade em ser assertivo com membros de grupo são virtualmente idênticas àquelas utili-
ambos os sexos, e um terapeuta é mulher e o zadas no tratamento individual. Depois de um
outro, homem. Os co-terapeutas apresentariam membro apresentar ao grupo um determinado
uma vantagem semelhante se o cliente tiver problema, ele é solicitado a representar o papel
dificuldade com figuras de autoridades, como com sua resposta típica, que é então avaliada
também do mesmo nível, e os terapeutas tive- pelos outros membros do grupo de uma manei-
rem uma grande diferença de idade. Finalmen- ra amável e não-crítica. Cada membro do gru-
te, dois terapeutas verbalmente reforçando o po tem que assumir alguma responsabilidade
aumento de assertividade do cliente deve cau- pelo treino dos colegas, embora os terapeutas
sar muito mais impacto que um terapeuta comumente ofereçam mais orientação que qual-
sozinho. quer outro do grupo. Após a resposta inicial
Naturalmente, nem sempre é viável ter co- do membro ter sido avaliada, um dos terapeu-
terapeutas (se o preço da consulta for um pro- tas pode dizer: "Agora vamos ver o que seria
blema, pode se tornar proibitivamente dispen- uma resposta apropriadamente assertiva nesta
dioso), e um arranjo de terapia padrão um-a-um situação". Num grupo inexperiente esta frase
pode ser bastante eficaz. Sob tais circunstân- freqüentemente provocará silêncio, e um dos
cias, o terapeuta pode querer buscar ajuda de terapeutas pode ter que fornecer a respostl'
outro indivíduo, ocasionalmente; por exemplo, necessária; embora deva-se tomar cuidado para
o psicólogo de um hospital pode pedir a uma afastar os membros dessa confiança demasiada
enfermeira que assuma o papel da esposa do nos terapeutas. Uma vez que a resposta alter-
cliente). nativa tenha sido apresentada, ela é discutida
TREINAMENTO ASSERTIVO 87

pelo grupo até que se chegue a um acordo de re uma troca semelhante de cumprimentos, com
que ela é realmente apropriada. Esta resposta o processo continuando até que todos os mem-
é então modelada por um membro do grupo bros tenham participado. Cordialidade, bem
que se ofereça como voluntário para fazer a contato ocular, e um tom de voz alto e asser-
tarefa, ou por um dos terapeutas se ninguém tivo, são reforçados. A livre associa,çãocomeça
- quiser ser voluntário. Já que o modelar a res- com um membro dizendo uma palavra, que é
posta é uma experrencia de aprendizagem tanto livremente associada pelo seu vizinho; nova-
para o ator como para o observador, é geral- mente, o exercício continua até que todos os
mente mais produtivo se um membro e não o membros tenham participado. Latências breves
terapeuta represente como modelo. e tom de voz enfático são reforçados. Nestes e
Inicialmente pode ser necessário na modela- nos exercícios restantes, os terapeutas partici.
ção bastante encorajamento pelo terapeuta. pam eomo um membro qualquer do grupo, em-
Elogiar o desempenho do modelo aumentará a bora eles devam se esforçar mais pàra modelar
probabilidade de que no futuro os membros do o estilo de resposta que desejam que seus
grupo Se ofereçam como voluntários para tais clientes adquiram.
tarefas. E se o desempenho do modelo for ina- Como observou Salter (1949), muitos indiví-
dequado? Segundo nossa experiência, isto é duos experimentam dificuldade em fazer e re-
raro, em parte porque já houve concordância ceber elogios, e a troca de elogios tem o obje-
sobre a resposta apropriada. Mas se um dos te- tivo de aumentar a habilidade (como também
rapeutas considerar o desempenho insatisfat6- o nível de conforto) nesta área. Um membro
rio, ele pode acrescentar: "Você está indo na do grupo vira-se para outro e enfática e cor.
direção certa, mas e o resto?", com o que ele dialmente lhe faz um elogio. Exemplo:
modelará a resposta. Uma vez que uma respos- "Puxa. . ., gostei muito do seu penteado. O re-
ta eficaz tenha sido modelada, o membro que cepiente é encorajado a aceitar o elogio com
apresentou o problema é solicitado a ensaiá-Ia algum tipo de reconhecimento positivo. Exem-
e é elogiado por todos os membros do grupo plo: "Obrigada, isso me agrada", ou_"Puxa,
por qualquer melhora. Como sempre, pergun- obrigada, pensei em tentar algo diferente".
ta-se como o cliente se sentiu. Se sentiu ansie. Comentários depreciativos (por exemplo, "Você
dade, pede-se ao membro que repita a resposta. está brincando, está uma droga") são desenco-
Normalmente, o nível de ansiedade diminui rajadas brandamente mais com firmeza, como
consideravelmente durante a segunda tentativa. são contra-elogios automáticos e insinceros.
Afirmações positivas sobre si mesmo exigem
que cada membro diga ao grupo algo a seu
Exerdcios Adicionais de Grupo
respeito que especialmente gosta (exemplo:
Os autores descobriram que para grupos "Gosto do meu senso de humor", ou "estou
constituídos de membros extremamente isola- satisfeito com meu gosto para roupas"). O bate-
dos (comumente pacientes crônicos internados papo é provavelmente o mais difícil (embora
num hospital de doenças mentais), o ensaio benéfico) dos exercícios. Aqui um membro de-
comportamental é difícil ou ameaçador. Reco- signa dois outros membros pelo nome e lhes dá
.menda-seque a ta! gruposeja apresentadauma um tópico para "bater-papo" ("Harry e Louise,
série gradual de exercícios que normalmente discutem sobre o tempo). Como sempre, bom
levem a um ensaio comportamental quando a contato ocular, espontaneidade, e um tom de
maioria dos membros do grupo esteja pronta. voz cordial e assertivo são reforçados. Muito
Cumprimentos e associaçãolivre são exercícios freqüentemente os membros ficam inicialmente
- de aquecimentos bastante inofensivos. O exercí- -reIutantesem participar porque "não têm nada
cio anterior, cumprimentos, exige apenas que parà dizer". Deve-se salientar que geralmente
um determinado membro vire-se para seu vizi- não faz muita diferença o que é dito no bate-
nho e diga: "Alô..., como está?". O vizinho papo; e que os participantes não se encontram
responde: "Bem..., e você?" O recepiente de modo algum em julgamento. Freqüente-
vira-se então para um terceiro membro, e ocor. mente um indivíduo que fica ansioso neste-
88 TERAPIA COMPORTAMENTAL

exercício assumirá o papel do "interrogador o Treinamento Assertivo no Tratamento


amável", bombardeando seu parceiro com per- de Agressão Anti.Social
guntas, mas sem revelar nada sobre si mesmo.
Na verdade, muitas pe~soas consideram isto. Até aqui temos nos concentrado em proble-
como um bom estilo de conversa. Tal com- mas de inibição social e timidez, fossem os
portamento, entretanto, é geralmente de natu- sentimentos não expressandos de natureza nega-
reza defensiva e comumente frustra o que seria tiva ou positiva. Um corpo crescente de pesqui-
a tendência natural da conversa de evoluir sa e evidência clínica sugere que o treina-
para uma interação mais íntima e satisfatória. mento assertivo possa ser bastante útil com
Por esta razão deve ser desencorajado. clientes que apresentam padrões de comporta-
mento agressivo auto-frustrantes e socialmente
Às vezes os indivíduos se encontram engaja-
destruidores (Foy, Eisler & Pinkson, 1975;
dos em conversas sobre assuntos que, objetiva- Rimm, 1977a, 1977b; Rimm e outros, 1974;
mente, eles sabem muito pouco (em contraste Thelen, Fry, Dollinger & Paul, 1976).
profundo com a sensação crônica que certas
pessoas têm de nunca terem nada para contri. Neste capítulo incluimos exemplos de insul-
buir nas conversas). Nestas situações seria bom to verbal. Infelizmente, a agressão anti-social
se o indivíduo pudesse mudar o assunto, e não é tão limitada. Atos de violência, incluindo
recomendamos uma variante de bate-papo, exi- assassinatos, assalto com agravante, e estrupro,
gindo prática em fazer apenas isso. Uma tran- estão aumentando em freqüência nos Estados
sição suave de assunto (e o evitamento de táti- Unidos, e em quase todas as sociedades tecno-
cas tão corriqueiras e um tanto grosseiras como logicamente avançadas (Wolfgang, Observação
"Sem mudar de assunto, mas. . . ") são forte- 8). Freqüentemente é possível conceitualizar
mente reforçados. Uma outra variação poten- atos de agressão, incluindo violência física, em
cialmente útil envolve fazer com que os mem- termos da falta de um repertório de comporta-
bros pratiquem "entrar" numa conversa em mentos. verbais assertivos, ou uma relutância
andamento. em utilizar tais comportamentos (Rimm,
1977b). Por exemplo, Rimm recorda-se de um
Os exercícios apresentados de forma alguma
paciente mental antigo que tinha saido sem
esgotam as possibilidades disponíveis para um
permissão de um hospital e ficara ausente por
grupo de treinamento assertivo. Encorajaríamos um ano:
os terapeutas a serem inovadores ern sua abor-
dagem. Contudo, uma palavra de precaução é Enquanto estava de licença de fim de semana,
necessária. Seria desaconselhável encorajar os o paciente procurara hospedagem em um hotel.
membros do grupo que são ainda deficientes na Ele estava parado no saguão quando um outro
habilidade para fazer discriminações sociais homem inadvertidamente o empurrou. O paciente
poderia ter dito: "Ei, seja mais cuidadoso por
sensatas a participarem de comportamentos favor", o que poderia ser descrito como assertivo;
que, fora do grupo, estariam sujeitos a ridicula- em vez disso, ele não disse nada e apunhalou o
rização e censura. Assim, os exercícios envol- home mcom uma faca, recebendo uma sentença
vendo contato físico íntimo, a manifestação de de um ano de prisão, por este ato desnecessârio
de violência. É provavelmente mais que uma sim-
raiva, auto-relevações de natureza chocante, e ples coincidência que as palavras "mundo" e
linguagem que a sociedade encararia como ter- "violência" tenham uma raiz comum (1977b, pp.
rivelmente irreverente devem ser desencoraja- 101-102)
dos. Tal certamente não deve sugerir que tais
práticas nunca sejam terapêuticas. Contudo, os Feshbach (1970) e outros fazem uma distin-
indivíduos participando de um treinamento ção teórica e clinicamente útil entre agressão
assertivo de grupo são levados a acreditar (fre- instrumental e agressão mediada por impulso
qüentemente explicitamente) que eles serão (raiva). A agressão instrumental é um meio de
mais eficazes em relações interpessoais se enga- ganhar um pouco de reforço tangível, por exem-
jarem-se em aplicações diretas do que apren- plo,' boxear para conseguir um bom dinheiro.
deram. Dada essa expectativa, seria quase cruel Se a raiva estiver envolvida, ela não será a
fornecer-Ihes respostas que tendessem a chocar principal motivação, e a raiva intensa pode ser
ou ofender pessoas fora do contexto do grupo. auto-frustrante: o campeão que "perde sua ca-
- --------
TREINAMENTO ASSERTIVO 89

beça" provavelmente não será .muito eficaz no portamento. freqüentemente provêem de back-
ringue (Rimm, 1977b). Por outro lado, a grounds sócio-econômicosonde a subcultura é
agressão mediada por raiva é mercada por uma relativamente ,tolerante com a agressão. Tais
intensa emotividade (quando o início é gradual, indivíduos freqüentemente buscam ajuda, se o
o termo /wstilidade é freqüentemente utilizado fizerem, apenas após terem mudado de status
no lugar de raiva). Se danos físicos ou psicoló- de alguma maneira significativa (por exemplo,
gicos surgem como conseqüência, é um fim em obteve emprego, .mudou-se para um ambiente
si mesmo e não um meio para atingir um fim. menos permissivo em relação à agressão. ficou
Embora o treinamento assertivo possa ser envolvido num relacionamento amoroso que
útil em casos de agressão mediada por raiva, agora está em perigo por causa do éomporta-
em geral não se presume que seja de muita mento agressivo). Às vezes eles buscam ajuda
valia tratar de agressão anti-social de natureza em conseqüência da imposição de um tribunal,
puramente instrumental. Esta última é mantida sendo a outra alternativa a de ir para prisão.
por um reforço externo potente (por exemplo, (Segundo nossa experiência, tais indivíduos são
dinheiro) que não aumentaria se o cliente subs- os mais' difíceis de se trabalhar.) Os homens
tituisse a .asserção pela agressão. que apresentam o padrão de agressividade sub-
Uma outra distinção útil com relação à apli- controlada têm às vezes grande orgulho de sua
cabilidade do treinamento assertivo em agres- habilidade de se sobrepujar, assustar ou intimi-
são anti-social foi apresentada por Megargee dar os outros, ençarando isso como um reflexo
(1966). Megargee observou que alguns atos de masculinidade. As pessoas que apresentam
de agressão refletem supercontrole, embora o padrão de sucontrole geralmente são, no
outros reflitam subcantrale. Sem implicar na. máximo, ambivalentes quanto a mudança.
existência de traços invariantes, os indivíduos O exemplo a seguir (adotado de Rimm,
que são caracteristicamente supercontrolados 1977a, pp. 87-89) ilustra o treinamento asser-
foram ensinados a ~ão expressar raiva. Tipica- tivo em um cliente apresentando comportamen-
mente, eles guardam a raiva para si mesmos to agressivo supercontrolado.
até que alcance um nível em que é virtualmente O cliente, um caucasiano de 22 anos, tinha
incontrolável, ponto em que uma explosão é completado 6 meses de um seÍ'viço militar de
provável, talvez de natureza violenta. Em con- 3 anos. Em duas ocasiões ele tinha estado'
traste, a agressão subcontrolada sugere uma his- envolvido em brigas no quartel; da segunda vez
tória de aprendizagem que favorecia a expres- ele cortou o braço de um outro homem com
são de raiva, mesmo com.a mais leve provoca- uma pá. O ferimento não foi grave e o inci-
ção. J]m estilo de agressão subcontrolada pode dente nunca mais se repetiu. Ele estava muito
ser inferido de repetidos atos de insulto verbal perturbado com seu próprio comportamento,
ou' físico; particularmente na ausência de culpa mas não procurou assistência'psiquiátrica ~ili-
ou remorso aparente (Rimm, 1977b). tar porque ele temia, com justificação, que
Embora isso não tenha sido pesquisado, a admitir tal incidente poderia resultar numa
experiência clínica e o senso comum sugerem baixa militar psiquiátrica ou disciplinar. Final-
que' a agressão supercontrolada é mais suscetí- mepte, ele procurou ajuda de- um clínico par-
vel ao treinamento assertivo (ou virtualmente ticular. Durante a primeira sessão, as seguintes
qualquer outra intervenção clínica) do que' a informações foram reveladas. .
agressão subrontrolada. Os padrões de ag;essi- O cliente John, era filho únicO. Seus pais
vidaQe sUpercontrolada estão associadas a sen- haviam se divorciado quando ele tirtha 7 anos,
timentos intensos de culpa e remorso, e geral- e tinha sido criado pela mãe. Embota ele nunca
mente. os clientes r~cebem.bem a oportunidade tivesse sido castigado fisicamente, ele recor-
de modificar seu comportamento. Em contras- <fava inúmeros casos em que ele era severa-
te, pessoils apresentando padrões de agressão mente castigado por sua mãe por qualquer
suhcontrolada tipicamE.ntetêm uma história de mostra dê raiva,' que era !'anticristã". Ele rela-
aprendizagem' com bastante reforço para tal tou que o ditado favorito de sua mãe era:
comportamento, geralmente de seus iguais. Os "Se você não pode dizer nada de bom sobre
indivíduos que apresentam tais padrões de com- alguém, não diga nada", e ele sentia-se culpa-
90 TERAPIA COMPORTAMENTAL

do de se engajasse numa simples fofoca com Terapeuta: Bem, você não disse nada. Como se
os amigos, Ele afirmou que du.rante seu cres- sentiu?
cimento nunca se engajou em brigas, em parte Cliente: Embora estivessemos representando. . .
porque ninguém nunca lhe ensinara como. primeiro eu fiquei nervoso e depois louco.
Terapeuta: É bom que você esteja consciente
Terapeuta: A segunda vez, você sabe, em que de seus sentimentos, mas seria melhor se você
você foi atrás do cara com sua pá. Conte-me tivesse dito algo. Deixe-me representar você
sobre isso. e mostrar-lhe o que quero dizer. Você é
Cliente: Meu Deus, acho que poderia ter ma- Dick. Diga apenas o que Dick disse.
tado o cara. Eu fiquei realmente pirado. Cliente: Ok. .. (Como Dick) Você tirou minha
Terapeuta: O que o fez ficar tão louco? camisa do meu armário? (Dito um pouco
Cliente: Ele perguntou se eu tinha roubado trêmulo)
uma camisa do armário dele. Nunca roubei Terapeuta: (Como cliente) Claro que não, mas
nada em minha vida, exceto talvez uma fruta que diabos. Eu fico louco da vida quando
de alguma barraca. você me acusa.
Terapeuta: Bem, essa é uma acusação grave, Cliente: Eu me sinto inconfortável quando
mas existem outras maneiras de se lidar com xingo.
situações como essa. Ele já tinha implicado Terapeuta: Fico contente que você me tenha
com você antes? dito, e' acho que sei porque. Que tal isso:
Cliente: Já, ele já tinha feito comentários desse (Como cliente) Eu certamente não tirei. Eu
tipo antes. Eu fico quieto, mas por dentro não gosto quando você fala assim.
fico com bastante raiva. Uma vez fui para Cliente: Acho que poderia dizer isso.
O banheiro vomitar.
Terapeuta: Ok. Então eu serei Dick. (Como
Terapeuta: Parece que você deixa seus senti- Dick) Ei, você tirou ininha camisa do armá-
mentos se acumularem até você não poder rio?
controlá-los. Talvez se você dissesse como se Cliente: Não. (Tremor na voz) Isso me deixa
sente em situações como essa, seus senti- com raiva.
mentos não se acumulariam.
Terapeuta: Como você se sentiu?
Cliente: As coisas que quero dizer são malucas. Cliente: Meio tenso.
Como "seu cachorro podre". E errado dizer
coisas assim. Ou rogar pragas. Todo mundo Terapeuta: Bem, isso é novo para você, e não
faz isso, mas eu não consigo. estou surpreso. Vamos tentar novamente.
O ensaio prosseguiu até que o cliente rela-
Terapeuta: Em outras palavras, então, você não tasse sentir-se confortável.
diz nada, mas fica doente por dentro, e final-
mente você ataca alguém com uma pá. Cliente: Já sei o que você está querendo. Mas
O negócio é que na hora que ele me acusou
Cliente: Bem, essa foi a primeira vez que fiz de ter roubado a camisa dele, eu já estava
isso. Mas se eu fizer de novo? Me sinto
realmente confuso. com tanta raiva dele que não tenho certe-
za. .. bem, se poderia conseguir. .. talvez,
Terapeuta: Olhe, acho que uma grande parte mas não sei.
de seu problema é que você simplesmente Terapeuta: Ok, então vamos voltar para a pri-
não sabe o que dizer. Vamos representar um
meira vez que ele o fez sentir com raiva, e
pouco. Eu serei Dick, o cara que você atacou, vamos praticar o que acabamos de fazer,
e você será você mesmo... s6 que não
para que seus sentimentos não se acumulem.
venha para cima de mim, isto é contra as Vamos apenas trabalhar em cada incidente.
regras. Pronto?
Terapeuta: (Como Dick) Cara, você tirou uma O treinamento assertivo com um cliente que
camisa do meu armário? apresente agressão subcontrolada é visto no
Cliente: (Silencioso, mas claramente aborreci- exemplo seguinte (também adotado de Rimm,
do) 1977aá pp. 90-91).
- --
TREINAMENTO ASSERTIVO 91

, o cliente,um calourode 20 anos,tinha sido Terapeuta: Não vou dizer que o que você fez
criado no gueto sul de Chicago. Enquanto esta- foi certo ou errado. Mas uma coisa eu sei,
va no colegial, ele tinha sido membro de uma foi auto-frustrante. Tenha ela merecido ou
'gang'. Brigas com outras 'gangs' eram comuns. não, você acabou machucando a si mesmo.
Ele indicou com algum orgulho que sua Cliente: Sem discussão. Mas o que devo fazer
. 'gang' era o terror da escola, e foi rápido em quando ela diz que andou dando para outro
apontar que por causa de sua força física e almofadinha? Beijar o traseiro dela?
de sua habilidade com os punhos, correntes e Terapeuta: Bem, certamente eu não o faria.
facas, ele era altamente respeitado por seus Mas diga-me uma coisa. Vocês tinham feito
companheiros. Quando deixou o gueto e se algum acordo de que ela s6 devia sair com
matriculou numa universidade essencialmente
você?
de classe média, as contigências de reforço mu-
Cliente: Na noite em que eu a espanquei...
daram drasticamente. Logo de início ele se en-
tudo começou quando lhe disse que não que-'
volveu em uma ou duas brigas corporais, mas
ria vê-Ia com mais ninguém. Ela disse que
percebeu rapidamente que embora ele conse-
guisse assustar os outros com tal comporta- não gostava de receber ordens! e que estava
mento, ele era evitado em vez de admirado. saindo com esse cara. Foi aí que eu bati
nela.
Seu comportamento combativo frente a elemen-
tos do sexo masculino foi extinguido em pouco Terapeuta: Bem, você me perguntou o que de-
tempo, e el relatou ter alguns' amigos. Sua via fazer com Loretta. Primeiro, deixe-me
dificuldade presente era com as garotas. Mais descobrir o que você disse. Finja que é sá.
especialmente, sua namorada havia desman- bado à noite e Loretta está sentada a seu
chado com ele porque ele a espancara. lado. Como se você estivesse realmente vi-
vendo a situação. Diga o que você disse e
Terapeuta: Bem, o que aCClllteceuexatamente? ~o jeito que voce disse.
Cliente: Duas semanas atrás... era sábado à Cliente: Garota, não quero que você veja
noite. .. estavamos conversando e Loretta outros caras, tá entendendo?
tinha me dito que andava se encontrando com Terapeuta: Parece que você realmente se preo-
um aImofadinha. Cadela sem-vergonha! Dei- cupa com ela e não quer correr o risco de
lhe uma bofetada na cara. Eu ia atrás do
perdê-Ia. Eu posso entender isso, mas o que
almofadinha, mas isto é contra as regras dos você disse foi meio pesado. Como, se eu
brancos. (Dito com sarcasmo) fosse Loretta, teria me deixado desafiadora.
Terapeuta: Não estou tão certo que seja sim- Deixe-me mostrar um outro jeito que você
plesmente uma questão de branco e negro. poderia ter agido. Finja que eu souvocê e
Mas você está certo se quer dizer que as esteja falando com Loretta.
regras da classe média são diferentes das Terapeuta: (Como cliente) Sabe, douçura, eu
regras de seu gueto, o que é bastante frus- gosto mesmo de você. Você que sabe, mas eu
trante para você, presumo. Eu sei que se me sentiria melhor se você não saísse com
tivesse que ir viver em seu gueto, ficaria mais ninguém.
frustrado e ass~stado.
Cliente: Isso não parece muito comigo falandl).
Cliente: Assustado, porra! Você estaria morto. Mas a cadela iria engolir tudo. (Ri)
Mas eu não tenho medo. Sei cuidar de mim
mesmo. Terapeuta: Bem, coloque em suas pr6prias pa-
'lavras. Finja que você está falando com
Terapeuta: Bastante razoável. Mas por que você Loretta. Comece. .
está aqui? '

Cliente: Garota, eu realmente me amarro em


Cliente: Tá certo, cara. Você me pegou. Nem
você. Não vai sair por aí se metendo com
sempre faço a coisa certa. Eu parei de assus-
tar os almofadinhas. .. mas essa merdli com outros caras, tá certo?
a Loretta me deixou por baixo. Ela bem que Terapeuta: Como você se sentiu falando isso?
estava merecendo, mas' agora ela não quer Confortável?Nervoso? '

nem falar comigo. Cliente: Ok, acho.


92 TERAPIA COMPORTAMENTAL

Terapeuta: Para mim você soou muito melhor. O exemplo a seguir ilustra um treinamento
Você disse a ela que gostava dela, e não assertivo em grupo para comportamento agres-
pareceu tão agressivo. Mas você não acha. sivo subcontrolado. Bob, um pedreiro de 23
que ainda ordenou que ela não saísse com anos, apresentou-se como voluntário para par-
outros caras, em vez de pedir a ela? Lem- ticipar do ensaio de comportamento. Sua prin-
bre-se, a escolha é realmente dela, e dizer a cipal dificuldade é com supervisores. Seu habi-
ela que não é, vai apenas afastá-Ia. tual padrão é barrá-Ios com insultos verbais
Cliente: (Com resignação) Você está certo. sempre que ele percebe que está sendo critica-
Terapeuta: Por que você não tenta novamente. do injustamente, mas numa ocasião ele perdeu o
Finja que Loretta está sentada a seu lado. emprego sendo criticado injustamente, mas nu-
Cliente: Garota, eu realmente tô amarrado em ma ocasião de perdeu o emprego porque bateu
no seu contramestre. Com um grupo desses é
você. Eu sei que é você que tem que decidir,
mas eu gostaria que você não saísse com importante que o terapeuta ou co-terapeuta
outros caras. faça pulso firme. É também uma boa idéia
instituir regras básicas, como de nenhuma vio-
Terapeuta: Achei que foi realmente bom. Você
. se sentiu bem? lência física ou ameaças de violência, no início.
Cliente: Sim, acho que fico menos maluco Terapeuta: OK, Bob, porque você não conta
quando falo desse jeito. Mas fico pensando, ao grupo o que acontece?
e se ela disser: "Dane-se, eu saio com quem Bob: Eu estou trabalhando numa construção há
quiser"? dois meses. Certo? E um contramestre veio
Terapeuta: Se você dissesse a ela o que acabou prá mim e disse: "É melhor você começar a
de dizer aqui, do jeito que você disse, ela chegar na h~ra!" Bem, eu não levo nenhuma
poderia ficar com você. Mas se ela dissesse droga de desaforo, sabe, e disse isso prá ele.
que não, não seria de um jeito tão mal-cria- Diabos (Rindo) ele saiu andando com o rabi-
do, e você não ficaria tão louco. nho no meio das pernas.
Cliente: Talvez não tão louco, mas mesmo assim Terapeuta: Vamos representar a situação. Mas
ficaria numa 'pior. O que faço então? lembrem-se, nenhuma briga de verdade ou
Terapeuta: OK, vamos praticar o que você faria você saem do grupo. Bob, escolha alguém
então. Suponha que Loretta diga: "Eu me para fazer a parte do capataz.
amarro em você também, mas para falar a Bob: Art, meu camarada, você parece ser uma
verdade não estou pensando em me amarrar porcaria suficiente para fazer o papel do
assim agora". contramestre. (Dito em tom de brincadeira)
Art: Ora, dane-se. Mas que diabos, tudo bem.
Observamos anteriormente que o treinamento
Art: (Como contramestre) É melhor você come-
assertivo presta-se bem a um contexto de grupo.
çar a chegar no trabalho na hora certa!
Isto se aplica quando o comportamento alvo é
Bob: (Num tom de voz ameaçador, com os
assertivo ou tímido. Uma palavra de precaução
. é necessária, contudo. Ao colocar os clientes punhos cerrados) Você pare de implicar co-
em um determinado grupo de terapia, deve-se migo, seu cafajeste, antes eu lhe dê uma
lição!
prestar atenção especial aos clientes que têm
um alto potencial para agressão subcontrolada. Terapeuta: Como você se sentiu logo após ter
dito isso? Com raiva? Nervoso?
Eles podem intimidar os outros membros do
grupo, especialmente se os outros membros são Bob: Bem. Talvez um pouco irritado.
inclinados a ficarem inibidos em primeiro lugar. Co-terapeuta: OK, grupo, o que vocês acham
Uma possibilidade é colocar estas pessoas em da resposta de Bob?
grupos criados com o objetivo explícito de lidar fim: Isso mesmo, Bob. Você fez o cara ficar
com problemas de agressão subcontrolada, onde morrendo de medo.
cada membro provavelmente irá mostrar esse Bom: Você tá certo mesmo. Sabe, eu nunca
padrão de comportamento( por razões óbvias, cheguei atrasado naquele emprego.
terapeutas principiantes e/ou que .facilmente se Steve: Esses contramestres pensam que são o
ofendem não devem liderar tal grupo). Deus todo-poderoso.
TREINAMENTO ASSERTIVO 93

Terapeuta:Bem,talvezpareçamisso. Mas va- RESULTADOS EXPERIMENTAIS


mos encarar as coisas de frente. Bob já per-
deu seis empregos nos últimos dois anos. E Avaliação
mais cedo ou mais tarde ninguém mais na
cidade vai querer empregá-Io. Não é muito INVENTÁRIOS ASSERTIVOS / Em 1977,
provável que os contramestres vão mudar. Heimberg e colaboradores relataram um total
Co-terapeuta:Eu acho que ele é quem tem que de 11 inventários de asserção. Como observa-
ver isso. mos anteriormente, a maioria deles segue um
Arl: Acho que o sabe-tUdo aí está te falando formato semelhante. Pede-se aos sujeitos que
que você deve ser um puxa-saco, Bob. indiquem se eles realizariam ou não uma certa
Bob: Vocês querem parar com essa droga! atividade (ou a probalidade de que eles reali-
Claro que não gosto de perder meus em" zassem uma resposta, como no Inventário As-
pregos. .. quem gosta? Mas prefiro não tra- . sertivode GambrilIe Richey(1975).Entreta;s
balhar a ter que engolir desaforo. inventários, os utilizados com mais freqüência
na pesquisa (porque já estão disponíveis há
Terapeuta: Eu não acho que você tenha que
mais iempo) são o Wolpe-Lazarus'Schedule
fazer isso. Lembre-se, o principal objetivo
Assertiveness (Wolpe & Lazarus, 1966), o
deste grupo é ensinar às pessoas como se
Rathus Assertiveness Schedule (Rathus, 1973a),
virarem sozinhas, sem entrar em complica-
o Conflict Resolution Inventory (McFalI& Li!-
ções. Como perder o emprego.
lesand, 1971, restrito a situações de recusa);
Bob: Bem, o que devo fazer quando este cafa- e o CoIlege SeIf-Expression Inventory (J. P.
je.ste implica comigo? Galassi; DeLo, Galassi & Bastien, 1974)3.
Terapeuta: Essa é uma boa pergunta. Vamos Instrumentos como o de Rathus são razoa-
mostrar a você. (Rimm, 1977a, p. 11). velmente confiáveis [os .coeficientes de testes
. e re-testes variam do máximo de .70 a cerca de
Nas páginas anteriores examinamos vários
. .90 (Gambrill & Richey, 1975; Gay, HolIands-
procedimentos, de treinamento assertivo com
worth & Galassi, 1975: Rathus, 1973a).]. Em
alguns detalhes. O treinamento assertivo encon-
relação aos inventários tradicionais de avalia-
. tra-se claramente entre os pacotes de tratamento
ção psicológica,os dados de validade para estes
mais desafiantes apresentados neste trabalho,
questionários são razovelmente imponentes. Por
em grande parte porque exija-se tanto do tera-
exemplo, Rathus (1973a) relata uma correlação
peuta no campo de julgamento social <1. P. de .70 entre sua escala e os índices de asser-
Galassi, 1978). Aconselha-seao leitor interessa-
ção em situações de interpretação de papel, e
do em realizar um treinamento assertivo que Rathus e Nevid (1977) encontraram uma alta
considere cuidadosamente o que dissemos, e
faça leitUras adicionais também. Existem, afi-
-correlação positiva entre os índices de asserti-
nal de contas, muitos livros bons devotados vidade do terapeuta e a Rathus Assertion Scale.
Além disso, Orenstein, Orenstein e Carr (1975)
exclusivamente a este assunto (por exemplo, obtiveram correlações negativas de grande pro-
Alberti & Emmons, 1978; Bower & Bower,
porção entre as medidas de ansiedade in~er-
1976; Cotler & Guerra, 1976; Dawley & Wen-
rich, 1976; M. D. Galassi & Galassi, 1977; pessoal elaboradas a partir do Fear Survey
ScheduIe e oRAS. GambnlI e Richey (1975)
Lange & Jakubowski, 1976; Lazarus & Fay,
1975; Liberman, King, DeRisi & McCann, . Entre os outros inventãrios de asserção encon-
1975; Osborn & Harris, 1974; Phelps & Aus- tram-se o Lazaros Assertive Inventory (Lazarus,
tin, 1974; esta lista não é exaustiva). Sugeri- 1971), o Adult; Self-Expression Scale (Gay e outros,
mos também o trabalho com um treinador as- 1975), o .Constriction Scales (Bates & Zimmerman,
1971), o Action Situation Inventory (Friedman, 1968),
sertivo experiente antes tle tentar sozinho. Este- o Interpersonal Situation Inventory (Goldsmith &
ja ciente dç que' o treinamento aSsertivo perde McFall, 1975), o Rathus Inventory Modified for
apenas para a terapia sexual no' que se refere Children (Vali, 1975), e um instrumento deSenvol-
a atrair pretensos peritos que na realidade não vido por Callner e Ross (1976) para utilização em
dependentes de drogas.' O LawrenCe Assertive In-
dispõem das credenciais e/ou habilidades neces- ventory (Lawrence, 1970) é incomum em seu for~'
sárias. mato de milltipla ~colha. .
- -
94 TERAPIA COMPORTAMENTAL

obtiveram uma melhora notável em asserção uma concepção de traço para a asserção. Re-
no seu inventário em conseqüência do treina- corde-se, contudo, do trabalho de Bandura
mento assertivo antes do tratamento. Embora (1977a), onde as auto-classificações de habili-
53 %' da amostra clínica fossem classificados dade para enfrentar situações eram fortes pre-
como confortavelmente assertivos, após o trata- visares do verdadeiro comportamento do indi-
mento o número aumentou para 84%. Informa- víduo na situação-alvo. Observe que os inven-
se ao leitor, entretanto, que estudos análogos tários de asserção fazem basicamente a mesma
envolvendo apenas uma breve exposição ao pergunta, isto é: O sujeito agirá assertivamente
treinamento assertivo não provocam aumentos numa dada situação? Um indivíduo com um
uniformes em tais medidas de asserção auto- escore alto no inventário de Rathus, por exem-
relatadas (ver Heimberg e outros, 1977). plo, está prognosticando que ele se comportará
A ASSERÇÃO 11 UM TRAÇO? / Estudos assertivamente numa variedade de situações.
de fator analítico dos inventários de asserção Se, como o trabalho de Bandura sugere, os
têm, em geral, fornecido pouco apoio para uma prognósticos são preciosos, então a probabili-
concepção de traço de asserção. Lawrence dade de que o indivíduo seja considerado asser-
(1970) não conseguiu encontrar qualquer evi- tivo numa dada situação comportamental é
dência da existência de tal traço, embora Gam- razoavelmente alta (certamente mais alta que
brill e Richey (1975) reportassem 11 fatores para um indivíduo que prognostique, no inven-
igualmente importantes. Estes resultados for- tário de Rathus, que ele se comportará de uma
neceram claramente uma visão de asserção si- maneira não-assertiva na maioria das situa-
tuacionalmente específica. Rathus (1973a) deu ções) .
a seus sujeitos uma escala de 17 itens envol- Assim, os escores assertivos combinados num
vendo auto-classificações em dimensões como inventário devem se correlacionar em alto grau
destemido-tímido, assertivo-não-assertivo, e com as medidas comportamentais de asserção.
agressivo-introvertido, como também em di- Tal relação indica que as pessoas variam con-
mensões não tão obviamente relacionadas com sideravelmente com relação ao número e tipos
a asserção (por exemplo, horrível-bonito, mal- de situações que provocarão asserção, e além
bem). A análise de fator não revelou um fator disso, que eles podem prever se eles se com-
de asserção, mas isto poderia bem ser expli- portarão assertivamente ou não numa dada si-
cado pelo caráter comum do significado dos tuação. A relação entre os escores do inventário
termos que definem o fator (por exemplo, para e o comportamento assertivo não implica neces-
muitos leigos, "destemido", "assertivo" e sariamente que o grau de asserção em uma si-
"agressivo" são praticamente sinônimos)4. tuação seja indicativo do grau de asserção
Alguns poderiam interpretar os dados de va- numa outra situação, o que é necessário numa
lidade para os inventários de asserção acima concepção de traço.
mencionados como fornecedores de apoio para Por outro lado, aumentos acentuados dos es-
cores de asserção combinada num inventário
4 Pachman, Foy, Massey e Eisler (1978) analisa- após o tratanumto (isto é, treinamento asserti-
ra mem termos de fator os componentes comporta- vo) poderiam ser interpretados como apoio para
mentais especificos, os quais acreditava-se definirem a visão de traço (Gambrill & Richey, 1975,
a resposta assertiva. Sujeitos, que eram pacientes relataram tal resultado), mas isto dependeria do
masculinos alcoólatras, interpretaram papéis de en-
cotmos afins orientados. As classificações objetivas
grau de abrangência do tratamento. Se alguém
baseavam-se em duração do contato ocular, duração recebesse treinamento, digamos, nas 11 áreas
da resposta, latência da resposta, frases de assenti- (fatores) de asserção de Gambrill e Richey,
mento e pedidos de mudanças no comportamento- tal resultado ainda assim não deporia contra
alvo da pessoa. Um fator assertivo manifestou-se,
definido em termos dos componentes acima (com
a especificidade de situação.
exceção da latência de resposta). Isto significa que MEDIDAS COMPORT AMENTAIS DE AS-
os componentes específicos de asserção "caminham SERÇÃO / Tipicamente, as investigações de
juntos" numa dada situação. Os dados de Pachman
e associados não sugerem necessariamente que a
pesquisa apresentam ao sujeito uma deixa ou
assertividade em uma situação seja prognóstico de sugestão (outra pessoa, uma voz gravada) para
assertividade em uma outra situação. a instigação do comportamento assertivo, e o
TREINAMENTO ASSERTIVO 95

comportamento do sujeito é gravado em audio observaram que os dados comparáveis para


ou videotape para classificações subseqüentes medidas comport8IJ)entaisgeralmente não são
(ver Heimberg e outros, 1977). Embora as pri- apresentados. (Infelizmente, este é o caso em
meiras investigações geralmente fornecessem muitas áreas de pesquisa de terapia comporta-
apenas uma classificação global de asserção, a mental; esp,era-seque à medida que o movi-
tendência tem sido em direção a uma delinea- mento da avaliação comportamental gimhe im-
. ção mais específicadas características da res- pulso, isto .seja corrigido.)
posta. Eisler, 'Hersen e Agras (1973a) propu-
seram os seguintes comportamentos específicos Hist6rias de Casos
como pertinentes à asserção:
Desde o início dos procedimentos do treina-
Duração do olhar para a pessoa-alvo
mento assertivo, um número razoável de histó-
Freqüência, de sorrisos
rias de casos empregando estes procedimentos
Duração da resposta tem sido publicado. Na maioria desses relatos,
Latência da resposta o treinamento assertivo não era o único método
Fluência da fala utilizado. Freqüentemente eram também ein-
Concordância pregados o treinamento de relaxamento e a
Pedidos para que a outra pessoa mude o dessensibilização sistemática, como nos relatos
comportamento de grande escala de Wolpe' (1958) e Lazarus
Afeto (1963). Na seção a seguir encontra-se uma
Classificações gerais de assertividade avaliação mais válida da eficácia dos procedi-
mentos assertivos, a qual apresenta resultados
Como obserVamosanteriormente, os resultados de experimentação controlada. Contudo, como
analíticos de fator ,(Pachman e outros, 1978) de costume, os resultados das histórias de
emprestam apoio a uma definição de asserção casos pod~m fornecer ao leitor uma boa 'quan-
em termos de muitos dos componentes acima. tidade de evidência sugestiva, especialmente
Especificamente, contato ocular, duração da em relação ao espectro de problemas sucetíveis
resposta, pedidos de mudança, e concordância, ao tratamento. O material apresentadq-é basea-
a correlacionados com as classificações gerais do em relatos publicados em que o tratamento
de asserção (no caso da concordância, a corre- assertivo 'era a intervenção terapêutica básica.
lação era, naturalmente, negativa). Salter apresentou 57 casos no Conditioned
Uma outra estratégia envolve fazer com que Reflex Therapy (1949) e aparentemente a maio-
o indivíduo interaja com outro (por exemplo, ria era exposta ,a no mínimo alguns de seus
Bander, Steinke, A,lIen& Mosher, 1975; Cur- exercícios de excitação. Infelizmente, faltam
ran & Gilbert, 1975; Goldsmith & McFalI, detalhes. O que pode ser de interesse para o
1975) no laboratório, mas às vezes in vivo. leitor é a ampla variedade de problemas ,que
A decepção é freqüentemente utilizada em co- têm sido tratados segundo a abordagem de
nexão com a avaliação comportamental de as- Salter. Uma lista parcial inclue claustrofobia,
serção (Kazdin, 1974d; McFalI & LilIesand, medo de escuro, corar, medo de falar em pú~
1971); por exemplo, o sujeito é contactado por blico, tendências suicidas, homossexualidade e
telefone e solicitado a se engajar em alguma alcoolismo. Como sugerimos ant~riormente que '

tarefa desinteressante ou então cansativa. A res- quase qualquer ,queixa apresentada fosse trata-
posta é gravada e classificada em termos da da ,com seus procedimentos de excitação. ,

habilidade do sujeito para recusar. Tais medi- Wolpe (1958) descreveu três 'casos bem su-
das são geralmente incorporadas a planos de éedidos tratados com o treinamento assenivo.
pesquisa análogos como medidas rigorosas de O primeiro caso envolvia um vendedor' soêial-
generalização de tratamento. '
mente inseguro que recebia tratamentoiele-.
Como observamos, dados de confiança e vante a contatos de negóCios e, sociais, como
validade geralmente adequados têm sido forne- também à infidelidade de sua esposa. O segun-
cido pelos instrumentos para a autO-cIassifica- do tratava-se .de uma mulher que era comple- ,
ção (in~entários). HeiInberg e associados(1977) tamente dependente e submissa; especialmente
-- -
96 TERAPIA COMPORTAMENTAL

com os seus casos amorosos (que acabavam por Ilow-up de um ano. Aparentemente, o encora-
rejeitá-Ia). O terceiro caso era de um homem jamento para se comportar mais assertivamente,
gago que tipicamente guardava a raiva até que em encontros interpessoais era uma das princi-
experimentasse uma explosão emocional. Para pais estratégias terapêuticas, embora faltem de-
o segundo e terceiro casos foram relatados talhes. Num relato posterior, Stevenson e Wol-
foIlow-ups de 2 e 2 anos e meio. pe (1960) trataram três homens com desvios
Wolpe e Lazarus (1966) relatam duas histó- sexuais com o treinamento asserti~o. Novamen-
rias de casos adicionais. A primeira é interes- te, faltam detalhes pertinentes, embora bastante
sante pelo fatc de o cliente ter sido instruido interessante, à medida que os pacientes ficavam
a utilizar táticas "para tirar proveito próprio" mais assertivos, suas relações lteterossexuais me-
em um empregador que o sobrecarregava com lhoravam. Como sugerimos, o terapeuta habi-
sermões longos e ameaçadores. O segundo caso, tualmente não deve esperar que este tipo de
apresentado surpreendentemente com detalhes, generalização ocorra.
era de um homem subb-empregado. O trata- Lazarus e Serber (1968) apresentaram duas
mento consistia de ensaio comportamental pa- histórias de casos, nas quais a dessensibilização
drão em relação a entrevista de emprego. Além não era eficaz. Um dos casos envolvia um
disso, as entrevistas ensaiadas eram gravadas homem que ou se afastava, ou se tornava vio-
e tocadas para o cliente. Tomava-se cuidado lento em face das críticas de sua esposa. O
para ensinar ao cliente estratégias verbais efi- treinamento assertivo provou ser eficaz. O se-
cazes, mas elementos não-verbais essenciais gundo caso envolvia uma mulher deprimida
(um bom contato ocular e uma maneira firme que melhorou com o treinamento assertivo
e assertiva de entrar na sala de entrevista tam- (camo também instruções no sentido de pro-
bém eram tratados. Uma verificação após 5 curar emprego). Em seu trabalho, o leitor é
anos por telefone revelou que o cliente ocupa- aconselhado a tomar cuidado para que a des-
va agora uma importante posição em sua firma sensibilização seja o método apropriado de
atual (em contraste a "contador assistente che- tratamento para um determinado cliente.
fe" anterior ao tratamento). Lazarus (1971) descreveu três casos receben-
Em contraste a outras formas de tratamento, do treinamento assertivo. O primeiro envolvia
. a terapia comportamental é geralmente um um advogado que estava sofrendo de claustro-
tanto breve. Há alguma evidência de que isto fobia e que se considerava um fracasso. A
é especialmente verdadeiro para o treinamento apresentação é especialmente valiosa porque
assertivo. Wolpe (1958) dispôs em tabelas os uma quantidade razoável de diálogo paciente-
resultados de terapia comportamental de 88 terapeuta é incluida. Uma característica digna
clientes, e em 5 casos, o treinamento assertivo de menção é a ênfase de Lazarus na capacidade
era o foco básico do tratamento. O número mé- do cliente comunicar que o comportamento de
dio de entrevistas era aproximadamente de 16 um outro o magoou. Isto é, o cliente não re-
para estes casos, em contraste com uma média cebeu treinamento em como "atacar", e sim
de mais de 45 entrevistas. para todos os clien- em como compartilhar seus sentimentos de uma
tes. Naturalmente, o treinamento assertivo pode maneira honesta e direta. O segundo caso en-
precisar de muito mais sessões, como no caso volvia a utilização daquilo que Lazarus tem
relatado por Wolpe (1954) de uma mulher chamado de dessensibilização de ensaio, uma
socialmente inadequada que precisou de 65 en- técnica semelhante à dessensibilização sistemá-
trevistas. Ocasionalmente, o terapeuta encon- tica no sentido em que uma hierarquia gradua-
tra um indivíduo tão "fóbico" à asserção que da é empregada. O cliente era uma dona-de-
ele considera necessário aplicar a dessensibili- casa cronicamente deprimida, ansiosa na maio-
zação nesta dimensão antes de implementar os ria das situações interpessoais. Ela .percorreu
procedimentos assertivos, como no caso relata- duas hierarquias, a primeira envolvendo pro-
do por Wolpe e Lazarus (1966). gressivamente mais asserção frente a outra
Stevenson (1959) tratou 21 pacientes com o pessoa. A segunda, semelhante em natureza,
treinamento assertivo, e 12 dos 21 pacientes envolvia duas ou mais pessoas. O aumento de
permaneceram com uma boa melhora num fo- assertividade e diminuição de depressão persis-
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TREINAMENTO ASSERTIVO 97

tiu durante os 6 meses de follow-up. O terceiro (alguns também passaram pela dessensibiliza-
caso representa uma aplicação de, segundo o ção sistemática para reações de fobia).num pe-
termo utilizado por Lazarus, treinamento em ríodo de seis semanas, apenas dois poderiam
liberdade emocional (isto é, treinamento na ser descritos com melhorados num follow-up
expressão de sentimentos positivos como nega- de 6 meses. Os autores indicaram que durante
tivos). Para a primeira fase do tratamento, uma o período de tratamento, havia sinais de
cliente de 19 anos recebeu treinamento na aumento de assertividade por parte dos pacien-
aceitação e expressão de raiva, o que resultou tes (infelizmente nenhum dado é apresentado),
numa redução de sua depressão. A fase dois sa- que tenderam a desaparecer com o término do
lientou a expressão de sentimentos positivos tratamento. Aparentemente, os pacientes expe-
(por exemplo, apreciação e afeição física). Este rimentavam alguma dificuldade com os exercí-
último caso é raro em sua amplitude, e é uma cios de representar o papel (isto está em con-
pena que os detalhes sejam tão esparsos. cordância com nossas experiências com indivÍ-
Cautela (1966a) descreveu o tratamento de duos de uma população semelhante). Conside-
três casos de ansiedade difusa. O primeiro caso rando os reforços que operam na maioria dos
envolvia uma jovem com medo de pessoas; o hospitais mentais (o comportamento passivo
segundo, uma doutora que relatava ter difi-. e dependente tende a ser recompensado), não
culdades com seus pais, e que tinha problemas é de se surpreender que os pacientes apresen-
relacionados com críticas e sexo; o terceiro tm uma tndência a "regredir" após o trata-
caso era de um homem de meia-idade dominado mento.
pela esposa e sexualmente impotente. Cada um Edelstein e Eisler (1976) trataram um pa-
dos três clientes recebeu treinamento assertivo, ciente (diagnosticado como esquizofrênico
como também os outros modos de tratamento, paranoide) que experimentava dificuldade em
e todos apresentaram melhora acentuada e se relacionar com os outros pacientes do hospi-
duradoura. O mais interessante é a obser- tal e tinha ficado isolado. O treinamento asser-
vação de Cautela de que em cada caso de tivo empregava tanto modelos masculinos como
ansiedade difusa que ele tratara, o treinamento femininos e permitia a avaliação separada de
assertivo era indicado. Isto é digno de menção instruções e feedback de video, que foram
porque os terapeutas comportamentais geral- introduzidos na última parte do tratamento. O
mente não encaram isso como "tratamento de treinamento lidava com situações em que o
escolha" para ansiedade difusa (por exemplo, paciente tinha probabilidade de se deparar no
Wolpe, 1958, sugere a terapia de inalação de mundo real, isto é, interação com um empre-
dióxido de carbono). gador e com mulheres. Em relação à linha de
Hosford (1969) tratou uma garota da sexta base, a modelação sozinha aumentou o afeto,
série com medo de falar em classe. O trata- mas parecia que não influenciava gestos ou
meto consistia em fazê-Io praticar sucessivas duração do contato ocular. Quando instrução
aproximações no sentido de falar em classe, no e feedback foram acrescentados ao tratamen-
consultório do terapeuta e na própria sala de to, observou-se um aumento no contato ocular,
aula. Ao fim do ano escolar, a cliente apre- gestos e afeto geral. A generalização, que foi
sentou-se como voluntária para fazer uma apre- avaliada com a utilização de diferentes mulhe-
sentação oral na classe. Varenhorst (1969) re- res como estímulos-alvo, era virtualmente per-.
latou um caso bastante semelhante envolvendo feita; como observamos anteriormente tal re-
uma estudante que conseguiu alcançar seu sultado é realmente raro. Infelizmente, nenhu-
objetivo básico de participação num seminário ma tentativa de avaliar a generalização in vivo
de arte (que tinha sido especialmente ameaça- foi relatada. O relatório não fornecia também
dor porque os alunos regularmente criticavam nenhum follow-up. ..
os trabalhos uns dos outros). Com excessão dos casos relatados por Salter
Serber e Nelson (1971) forneceu uma das (1949), a maioria das histórias de casos publi-
poucas aplicações em grande escala de treina- cados envolvendo a utilização da asserção tem
mento assertivo em pacientes hospitalizados. se concentrado nos problemas relacionados a
Dos 14 esquizofrênicos recebendo tratamento timidez. Por outro lado, os procedimentos do
--

98 TERAPIA COMPORTAMENTAL

tipo assertivo tem sido utilizados numa varie- ocorreu em 37 dias do tratamento (a linha de
dade relativamente grandp. de problema clínicos base tinha sido de 1 a 4 desses incidentes por
são ligados diretamente à timidez interpessoal. mês); além disso, em 9 meses de follow-up,
Por exemplo, Seitz (1953) relatou a obtenção quando o contrato de contigência não era mais
de redução em auto-mutilação da pele em 12 possível, apenas um caso de comportamento
de 25 pacientes que acompanharam uma terapia agressivo foi relatado.
que salientava a expressão de hostilidade. Rimm Na história de caso acima, não sabemos se
(1967) relatou o uso de procedimentos asserti- fatores neurológicos contribuiram para a agres-
vos (incluindo a asserção para escapar a cho- são do paciente, mas o padrão comportamental
ques dolorosos) para efetuar uma redução du- exemplifica a agressão subcontrolada. Foy e
radoura em períodos crônicos de choro num associados (1975) descreveram o tratamento
paciente hospitalizado. Walton e Mather de um paciente cujas explosões agressivas pa-
(1963a) trataram com sucesso dois homens reciam refletir um super-controle. Considere o
compulsivos (um lavador de mãos e um indi- seguinte caso:
víduo que tinha a necessidade de informar aos
outros sobre sua homossexualidade e de ferí-Ios o paciente era um carpinteiro de 56 anos cuja
segunda esposa o havia abandonado após brigas
com objetos pontudos) com um tratamento que conjugais entrecortadas por periódicos espanca-
aparentemente envolvia basicamente o treina- mentos. Sua presente hospitalização foi seguida
mento assertivo. Edwards (1972) empregou de uma discussão explosiva com um chefe no
com êxito o treinamento assertivo (seguindo um serviço. Na admissão o paciente evidenciou an-
siedade aguda - tremedeira, náusea e vômitos.
tratamento inicial envolvendo parada de pen- Ele afirmou que "já vinha aguentando cada vez
samento; ver Capítulo IX deste volume) com mais" daqueles que tinham cargos de autoridade
um homem com uma história de 10 anos de no trabalho, até que ele sentiu que a única saída
era matar o chefe ou a si mesmo.
pedofilia homossexual. A pedofilia estava apa-
rentemente relacionada com contatos sexuais Este episódio pareceu refletir as dificuldades
crônicas do paciente em ceder diante daquilo que
, pouco freqüentes entre o cliente e sua esposa. ele sentia serem exigências irrazoáveis dos outros,
O aumento de sua assertividade resultou num até que ele liberava a raiva de uma maneira ver-
relacionamento marital bastante melhorado. bal e insultante e geralmente agressiva. Os exa-
mes neurológicos e físicos eram basicamente ne-
Anteriormente observamos que o treinamen- gativos. (Foy e outros, 1975, p. 135)
to assertivo tem um potencial considerável para
as pessoas que apresentam agressão antisocial. O tratamento, que se concentrava nas difi-
Wallace, Teigen, Liberman e Baker (1973) tra- culdades interpessoais do paciente em situa-
taram de um rapaz de 22 anos com uma com- ções relacionadas ao trabalho, consistia de mo-
binação de treinamento assertivo e contrato de delação, com instruções para se concentrar em
contigência. O paciente, que estava confinado certos aspectos do comportamento do modelo
a uma cadeira de rodas em conseqüência. O acrescentado mais tarde. Embora a modelação
paciente, que estava confinado a uma cadeira sozinha estivesse associada com a diminuição
de rodas em conseqüência de uma lesão cere- de comentários hostis, complacência, comentá-
bral, tinha uma história de violência de 3 anos, rios irrelevantes, como também um aumento
incluindo ter atirado em sua irmã, destruir. dos pedidos, foi observada melhora adicional
objetos em casa, fazer buracos nas paredes e quando o componente instrução do tratamento
atacar outros pacientes. As hierarquias 'asserti- foi acrescentado. O aumento de assertividade
vas foram empregadas, lidando com quatro foi mantido num follow-up de 6 meses, ocasião
temas: pedidos ao pessoal da enfermaria; pro- em que o paciente relatou melhora no trata-
blemas com outros pacientes; queixas sobre o mento e no relacionamento no lar.
tratamento; bater papo. Para o contrato de
contigência (ver Capítulo V), as visitas à famí- Resultados Experimentais para
lia eram permitidas apenas se o paciente não Tratamento Individual
tivesse apresentado nenhum comportamento de
agressão durante os sete dias anteriores. Ape- Numa das primeiras investigações de treina-
nas um caso de comportamento de agressão mento assertivo, Lazarus (1966) comparou o
TREINAMENTO ASSERTIVO 99

ensaio comportamental à condição reflexão- vidade do sujeito quando ('utra pessoa tentava
interpretação e, ao aconselhamento. Consideran- interferir com seus esforços no sentido de jun-
do a brevidade do tratamento (não mais que tar as peças do quebra-cabeça. Os principais
4 sessões de 30 minutos) os resultados são no- resultados foram que o~ sujeitos que primeiro
táv~is. Noventa e dois por cento do grupo de ( bservaram a interação modelada e depois inter-
ensaio comportamental apresentou melhora in pretavam o papel eles próprios apresentaram
'vivo, comparados a 44% do grupo recebendo maior grau de melhora. Os quatro tratamentos
aconselhamento e 32% do grupo de reflexão- restantes não diferiram em termos da eficácia
interpretação. Já que Lazarus serviu de tera- do tratamento. Estes resultados, que continua-
peuta para todas as três condições, a genera- ram num foIlow-up de duas semanas' fornece-
lização é limitada. Nenhum foIlow-up foi ram apoio para o ensaio comportamental (em
relatado. outras palavras, modelação seguida de interpre-
Sanders (1967) empregou o ensaio comporta- tação de papel) como é comumente utilizado
num contexto clínico. Dada a brevidade do
mental fazendo com que seus sujeitos com an-
siedade em discursos imaginassem ou não um '
tratamento (20 minutos), os resultados são sur-
público. Um terceiro tratamento envolvia a preendentes.
dessensibilização sistemática. Em relação a Em outro trabalho bem executado, também
um quarto, grupo de controle não-tratado, os caracterizado por tratamento extremamente
sujeitos de tratamento apresentaram uma me- breve, Lawrence (1970) designou estudantes
lhora significativamente maior nas classifica- do sexo feminino a três condições diferentes.
ções objetivas de ansiedade, como também nas O primeiro grupo recebeu ensaio comportamen-
classificações subjetivas de confiança (enquan- tal em 2 sessõesde 12 minutos na expressão de
to fazendo um discurso); nel;lhuma diferença desacordo sincero. O segundo grupo recebeu
em relação à melhora foi observada entre os instruções pertinentes ao valor de assertividade
três grupos de tratamento, nem os sujeitos tra- com uma ênfase nas afirmações irracionais que
tados apresentaram reduções maiores na ansie- indivíduos não-assertivos fazem a si mesmos
dade subjetiva do que os sujeitos de controle. (extraído de EIlis, 1962). O terceiro grupo
Nenhum foIlow-up foi relatado. recebeu a mesma oportunidade de expressar
Num tratamento bem executado que incluiu de~acordo, mas o experimentador, em vez de
um foIlow-up, Friedman (1968) designou a fornecer feedback, simplesmente parafraseou
estudantes universitários não-assertivos uma de de uma maneira não-avaliativa o que o sujeito
6 condições. Numa condição, interpretação de tinha dito. A medida básica de resposta foi
papel dirigida, o sujeito recebia um script de- uma avaliação objetiva da habilidade do sujei-
finindo o papel de um estudante que estava to em discordar (consistente com. seus verda-
tentando estudar na biblioteca e se depaiava. deiros sentimentos) enquanto engajado num
com um antagonista tentando interferir. Numa intercâmbio com dois indivíduos. Dos três
segunda condição, o sujeito devia assumir o grupos de tratamento, o grupo de ensaio com~
papel do mesmo estudante, mas não recebia Um 'portamental apresentou maior mudança, que
script para ser seguido. Na terceira condição, o persistiu durante um foIlow-up de duas sema-
sujeito observava passivamente os dois indiví- nas. Este grupo também apresentou o aumento
duos lendo o script acimà. A quarta condição maior de assertividade auto-avaliado.
começava com o sujeito novamente observando Lawrence forneceu alguns dos primeiros da-
os indivíduos seguindo o script, seguido pela dos experimentais .que os resultados de treina-
interpretação de papel dirigida. A quinta con- mento assertivo tendem a ser especüicos a
dição do tratamento envolvia simplesmente o situações. Ele também incluiu uma medida' da
sujeito recebendo o script. Na sexta condição, habilidade d~ sujeito para concordar, e o tra.
um grupo de controle recebia um script não tamento não surtiu ne~hum efeito apreciável
relaciqnado com assertividade. neste comportamento. Isto é, os sujeitos treina-
As principais medidas de respostas mcluiam dos para expressarem uma discordância maior
autq-avaliação e avalhição objetiva da asserti. não apresentaram.um aumento correspondente"
--

100 TERAPIA COMPORTAMENTAL

de sua habilidade para concordar (quando a tratamento apresentavam uma melhora maior
concordância refletia seus verdadeiros senti- na assertividade que aqueles do grupo de con-
mentos). trole, com sujeitos que não tinham permissão
McFall e Marston (1970) fomeceram a ho- de praticar suas respostas abertamente, apre-
mens e mulheres 4 horas de tratamento. Um sentando um pouco mais de melhora que aque-
grupo recebeu a oportunidade de praticar a res- les que tinham. Novamente, um follow-up em-
posta assertiva numa variedade de situações pregando estas respostas não foi utilizado.
gravadas, com uma resposta apropriadamente Para este estudo (McFall & Lillesand, 1971),
assertiva modelada numa parte dos ensaios. e para o de McFall e Marston (1970), foram
Adicionalmente, os sujeitos neste grupo tinham conduzidos follow-ups por telefone. No primei-
permissão de ouvir e avaliar suas próprias res- ro, um indivíduo tentava persuadir o sujeito
postas. O segundo grupo recebeu o mesmo a fazer a subscrição de uma revista, e no se-
tratamento, mas os sujeitos não recebiam feed- gundo estudo, um indivíduo pedia que o su-
back das suas próprias respostas. Um terceiro jeito se apresentasse como voluntário para ende-
grupo placebo recebeu encorajamento .para iso- reçar envelopes durante duas horas. Os resulta-
lar os determinantes situacionais da não-asser- dos destes follow-ups tenderam a se igualar
tividade, como também para comportar-se de com os principais resultados experimentais,
uma maneira mais assertiva. O quarto grupo embora os efeitos fossem bastante fracos.
serviu como controle de não-tratamento. As
Nos últimos anos, várias investigações têm
principais medidas de resposta foram avalia- examinado a eficácia do tratamento assertivo
ção objetiva da assertividade e auto-avaliação
de ansiedade enquanto respondendo a situações em indivíduos que experimentam dificuldade
gravadas semelhantes (mas nunca idênticas) em interações (encontros) heterossociais (ver
Curran, 1977). Numas dessas investigações,
àquelas utilizadas no treinamento. Os resulta-
dos principais eram que os sujeitos que tinham Twentyman & McFall (1975) relatou que o
se engajado no ensaio comporta mental apresen- treinamento assertivo era superior à condição
. tavam um pouco mais de asserção e menos
de controle não-tratada em termos de ativação
ansiedade que os sujeitos dos grupos de con- fisiológica num teste comportamental e de
trole. Entretanto, dada a duração total do tra- ansiedade subjetiva. Além disso, os sujeitos de
tamento (4 horas comparadas com 24 minutos tratamento foram classificados por outros como
do estudo de Lawrence), os efeitos foram fra- tendo mais habilidades sociais do que os sujei-
cos. Isto pode refletir o fato de que uma res- tos de controle, e segundo relatos eles come-
posta assertiva foi modelada apenas em uma çaram a fazer programas com mais freqüência.
porção dos ensaios, ou que o treinamento e Curran (1977), ao rever a pesquisa sobre o
situações de teste nunca eram precisamente tratamento da ansiedade para marcar encon-
idênticas. Um follow-up utilizando as medidas tros, aponta três possíveis deficiências na etio-
de resposta anteriormente mencionadas não foi logia e manutenção da ansiedade de marcar
relatado. encontros: ansiedade condicionada, deficiência
Num experimento semelhante, McFall e Ulle- nas habilidades, e apreciação cognitiva falha.
sand (1971) designou a sujeitos do sexo mag.. Considerando que o treinamento assertivo se
culino e feminino dois grupos de tratamento concentra basicamente nas deficiências de habi-
e grupo de controle. As condições de tratamen- lidades, os resultados positivos utilizando este
to eram semelhantes àquelas de McFall e Mars- tratamento podem ser tomados como apoio para
ton (1970), exceto que a modelação verbal e a interpretação de deficiências de habilidades
instrução eram fornecidas em todos os ensaios. para a habilidade em marcar encontros. En-
Um grupo praticava suas respostas abertamente, tretanto, no ponto de vista de Curran, (e nosso
e recebiam feedback delas como no estudo próprio), é incorreto assumir que cada caso de
anterior. O segundo grupo de tratamento prati- ansiedade para marcar encontros reflita apenas
cava suas respostas encobertamente. O trata- uma deficiência de habilidades. Ele recomenda
mento foi cQnduzido em duas sessões de 20 uma abordagem multidimensional que leve em
minutos. Em média, os sujeitos do grupo de consideração a possível contribuição de todas
--

TREINAMENTO ASSERTIVO 101

as três deficiências (ansiedade condicionada, não na escola), os sujeitos de tratamento apre-


deficiências de habilidades e apreciação cogni- sentaram ganhos significativos. Surpreendente-
tiva falha). mente, a melhora não foi mantida num follow-
Goldsmith e McFaIl (1975) compararam o up de 2 semanas. Ao comentarem seus resulta-
treinamento assertivo com condições placebo e dos, os autores deixam implícito que seus su-
controles não-tratados. Os sujeitos eram paci- jeitos podem não ter tido a expectativa de
entes psiquiátricos hospitalizados. O estudo é que os comportamentos melhorados seriam re-
um tanto incomum no tocante ao fato de que compensados.Talvez resultados mais poderosos.
tanto as situações-alvocomo as respostas asser- e mais duradouros tivessem sido obtidos se
tivas foram elaboradas empiricamente. As situa- algum tipo de contrato de con~gência tivesse
ções foram escolhidas com base no fato de sido incorporado ao tratamento (ver Capítulos
serem especialmente difíceis para esta popu- V e VI).
lação. As alternativas de respostas para cada A pesquisa revista até aqui tratava basica-
situações eram classificadas quanto à sua ade- mente do estabelecimento de uma eficácia geral
quadabilidade pelo grupo de psiquiatras, que do treinamento assertivo para uma variedade
também estabeleciam as regras segundo as quais de populações (populações de estudantes rece-
a adequadabilidade poderia ser classificada. O bendo baixos escores combinados em inventá-
treinamento assertivo, que foi conduzido em rios assertivos, indivíduos ansiosos em discur-
três sessões de 1 hora, incluia modelação, ins- sos, homens tímidos em situações de marcar
trução, tocar a resposta gravada e feedback encontros, pacientes psiquiátricos hospitaliza-
corretivo (baseados nas regras acima menciona- dos, delinqüentes anti-sociais). Em geral os re-
das). A seguir ao tratamento, os sujeitos encon- sultados foram positivos. Contudo, foi dada in-
traram-se com um indivíduo e foram solicitados suficiente atenção aos follow-ups, como obser-
a conversar com ele. Em termos de auto-avalia- vou Heimberg e associados (1977). Além disso,
ção, conforto e habilidade em interações inter: quando o treinamento assertivo era comparado
pessoais, o treinamento assertivo foi considera- a uma condição placebci,verificações de credi-
do superior às condições de controle. Resulta- bilidade do placebo não eram conduzidas..
dos semelhantes foram relatados para medidas O treinamento assertivo, como é geralmente
comportamentais objetivas e para um questio- empregado, contém vários componentes de tra-
nário de asserção. Em termos de medidas com- tamento relativamente distintos. Embora a pes-
portamentais e de questionário, observou-se quisa acima saliente a eficácia geral do trata-
uma melhora bem maior em situações especifi- mento, ela fornece pouca informação .com res-
camente tratadas no tratamento do que em peito à relativa contribuição de cada um dos
situações generalizadas. Na verdade, a magnitu- componentes. Faremos agora uma revisão de
de da mudança para a medida comportamen- alguns resultados experimentais pertinentes a
tal foi quase três vezes maior para situações este importante assunto.
tratadas que para situações generalizadas. A IMPORTÂNCIA DA MODELAÇÃO,
(Como observamos anteriormente, falta de ge- ENSAIO E INSTRUÇÃO / McFaIl e Twenty.
neralização é a regra, e não a excessão.) Oito man (1973) publicaram uma série de experi.
m~ses após o término do estudo, a taxa de mentos nos quais as relativas contribuições do
readmissão para o grupo assertivo foi leve- ensaio, modelação e instrução eram compara-
mente mais baixa do que para os dois grupos das. O resultado notável, e isto estava em con-
de controle (este resultado baseou-se em dados cordância entre os estudos, foi que tanto pelas
incompletos). medidas comportamentais como de inventários,
Thelen e associados (1976) fizeram com que o ensaio e a instrução aumentavam a assertivi-
deliDqüentes do sexo masculino residentes dade, mas a modelação não acrescentava nada.
observassem modelos em videotape descreven- Como observaram McFall e T,wentyman,as res-
do um domínio crescente em situações de gru- postas exigidas de seus sujeitos (recusas) eram
po, . no lar e na escola. Os sujeitos também bastante simples, e para comportamentos mais
interpretaram o papel das situações. Em termos complexos, a modelação poderia realmente ser
de classificações comportamentais no lar (mas necessária. Num teste direto disso, Voss, Arrick
i02 TERAPIA COMPORTAMENTAL --

e Rimm (1976) realizaram uma réplica modifi- a resposta era ~uficientemente longa, e assim
cada do experimento acima. Em concordância por diante. A instrução facilitava a duração,
com a expectativa de McFall e Twentyman, afeto, altura da voz e asserção em geral, mas
eles descobriram que para recusa simples, a tinha menos impacto nos componentes de con-
modelação não aumentava significativamente a teúdo de asserção, por exemplo, pedir novo
asserção. No entanto, para situações classifica- comportamento e reduzir não-complacência..
das como mais difíceis (por exemplo, pedidos Em conclusão, pareceria que a modelação e
dirigidos a figuras de autoridades), a modela- a instrução são componentes importantes do
ção aumentava significativamente a asserção. pacote de tratamento, especialmente quando os
Os resultados de McFall e Twentyman (e comportamentos-alvo são complexos (como se-
aqueles de McFall e Marston também) indicam riam na maioria das situações clínicas)5. Para
que o ensaio sozinho aumenta o comportamento respostas que já façam parte do repertório com-
ass.ertivo. Novamente, este resultado está pro- portamental do cliente, o ensaio sozinho pode
vavelmente relacionado ao pressuposto dos ex- ser de valor, provavelmente porque permite a
perimentadores de que o comportamnto de extinção de afeto negativo.
recusa por si só reflete assertividade. Em duas O PAPEL DO FEEDBACK / Dentro do
investigações (Hersen, Eisler, Miller, Johnson contexto de treinamento assertivo, o feedback
& Pinkston, 1973; Hersen e outros, 1974) não fornecido ao sujeito pode assumir uma varie-
havia nenhuma evidência de aumento de asser- dade de formas. Dependendo da rp.aneira que
ção em sujeitos que simplesmente praticavam ela é fornecido, a instrução, ou sugestões,
uma resposta. Nestas investigações, que empre- podem ser interpretadas como feedback, e
gavam pacientes psiquiátricos como sujeitos, acabamos de observar que a instrução tem o
algumas das situações de treinamento realmente efeito facilitativo. O feedback pode assumir a
exigiam recusa, mas outras exigiam comporta- forma de elogio por parte do experimentado'!
mentos mais complexos (por exemplo, num jogo pela melhora apresentada. Young, Rimm e
de futebol alguém está sentado no seu lugar Kennedy (1973) compararam o treinamento
reservado). Resultados semelhantes foram rela- assertivo com e sem o elogio do experimenta-
tados por Rimm, Snyder, Depue, Haanstand dor. Em relação às condições de controle,
e Armstrong (1976). Estudantes universitários ambos os tratamentos aumentaram significativa-
do sexo masculino que simplesmente pratica- mente a asserção avaliada objetivamente, em-
vam responder à interpretação de uma figura de bora, bastante interessante, observou-se maio-
autoridade apresentavam subseqüentemente res efeitos de generalização para o grupo que
apenas aumentos insignificantes em asserção não recebeu reforço. Por outro lado, o maior
classificada objetivamente, ao passo que suj~i- grau de melhora no Lawrence Assertion Inven-
tos recebendo o pacote de tratamento completo tory estava associado com o reforço, e os sujei-
(descrito anteriormente neste capítulo) apresen- tos nesta condição tendiam a avaliar seu trata-
taram uma melhora bastante acentuada. Bas- mento como relativamente mais eficaz. O ím-
tante cClrioso,Rimm e seus associados descobri- peto para empregar o reforço social provém
ram que os sujeitos em condição de prática de um corpo impressionante de pesquisa ope-
apenas, classificaram seu próprio comporta- rante como também de experiência clínica.
mento (em relação ao pré-tratamento) como sig- Neste estágio parece haver pouca base para a
nificativamente melhorado, mesmo que pelos exclusão do reforço do pacote de..tratamento.
padrões objetivos não houvesse diferença Por outro lado, Young e associados observaram
àlguma. maiores generalizações na ausência de reforço,
Çomo .9bservamos, os resultados de McFall e e poderia-se especular que a extinção gradual
Twentyman indicaram que a instrução aumen-
tava o comportamento assertivo, um resultado 5 Sugerimos numa parte anterior deste capítulo
também relatado por Hersen e associados que uma estratégia terapêutica eficaz para facilitar a
(1973). Neste último estudo, a instrução envol- generalização poderia envolver a extinção gradual da
modelação. Lembra-se ao leitor que tal estratégia em
via sugestões de tentar com mais afinco, de relação ao treinamento assertivo não foi ainda pes-
olhar para a pessoa-alvo, certificar-se de que quisada.
TREINAMENTO ASSERTIVO 103

de reforço aumenta a generalização num contex- positivas (por exemplo, o sujeito iinagina o
to clínico (desde que não seja feito de uma modelo pedindo que um bife passado demais
forma que leve os clientes a acreditar que suas seja substituido, e o garçon atende com des-
respostas estejam ficando piores com o decorrer culpas) era mais eficaz que modelação enco-
da terapia!). berta sem conseqüências positivas. Adicional-
A resposta do cliente pode receber feedback mente, Kazdin (1975, 1976b) relatou que fazer
via audio ou videotape. McFall e Marston o sujeito imaginar vários modelos facilitava
(1970) relataram um leve acréscimo do trata- mais a asserção que fazê-Io imaginar um único
mento com o feedback de audio, enquanto modelo, e que imaginar conseqüênciaspositivas
McFall e Lillesand (1971) descobriram uma ten- aumentava a generalização.
dência na direção oposta: o ensaio evidente, Do que foi dito acima .pod6-se ver que as
portanto sem feedback, leyou a um desempenho afirmações categóricas se o feedback é ou não
levemente melhor que o ensaio evidente com um componente valioso no treinamento. asser-
feedback. 'Melnick (1973) descobriu que o . tivo são inadequadas. Evidentemente, depende
feedback de video argumentava apreciavelmente da natureza do feedback.
a' favor dos efeitos positivos da modelação e
prática. Embora não 'tenhamos conhecimento Resultados Experimentlis pari
de nenhum estudo de comparação direta, pode Tratamento em Grupo
ser que o feedback de videotape seja mais eficaz
porque fornece informações adicionais. As pesquisas revistas no Capítulo 11 chama-
Numa nova abordagem, Christensen, Arko- ram a atenção para a eficácia da dessensibiliza-
witz e Anderson (1975) fizeram que homens e ção sistemática apresentada num contexto de
mulheres com timidez para marcar encontros grupo. Têm sido relatados vários estudos que
trocassem feedback por escrito. Após cada en- examinam a eficácia dos procedimentos asserti-
contro, os sujeitos preenchiam um questioná. vos aplicados a um grupo de sujeitos. Num
rio descrevendo dois aspectos da aparência físi- desses estudos, Lomont, Gilner, Spector e Skin-
ca e modo de se vestir do parceiro, dois aspe~- ner (1969) compararam ~ eficácia do treina-
tos de seu comportamento que lhes agradaram, mento assertivo em grupo com a terapia de
e um aspecto de seu próprio comportamento insight. Infelizmente, as medidas de respostas
que gostariam de mular. Contrário ao que os limitavam-se a dois métodos tradicionais de
experimentadores haviam antecipado, a prática avaliação da personalidade, o Minnesota Multi-
em encontros sem tal feedback foi geralmente phasic Personality Inventory e o Leary Inter-
superior ao encontro com feedback. Apesar dos personal CheckIist. Os escores no MMPI mos-
esforços no sentido de estruturar o feedback traram uma diminuição geralmente maior na
de modo a acentuar o aspecto positivo, alguns "patologia" para o giupo assertivo, mas os
sujeitos relatavam que este os deixava nervoso. efeitos eram razoavelmente fracos. Dada a vali-
No próximo capítulo discutiremos a modela~ dade do tratamento e a quantidade total de
ção . encoberta (fazendo o sujeito imaginar um tempo do tratamento (45 horas), é provável
, modelo) o que pode ser tão eficaz como a que medidas comportamentais mais diretas ti-
modelação observável no aumento de asserção vessem revelado uma melhora acentuada.
(Rosenthal & Reese, 1976). Sugerimos ante- Hedquist e Weingold (1970) comPararam o
riormente o possível valor de fazer o cliente treinamento assertivo com a abordagem de
observar o modelo comportar-se assertivamente aprendizagem social (Mainord, Observação 9~
in vivo e experimentando conseqüências positi- que salientava a solução de problemas. A única
vas para este comportamento. Esta tática pode medida de resposta foi' um relato subjetivo de
'ser impossível em termos lógicos, contudo. O asserção in vivo. Após 6 semanas de tratamento
trabalho .de Kazdin (1974d, 1975, 1976a. ambos os grupos apresentavam uma melhora
1976b) sugere que visualizar unia experiência maior que um terceiro grupo de controle, mas
de modelo com conseqüências positivas é uma os grupos de tratamento não diferiam entre si.
alternativa eficaz. Kazdin (1974d). descobriu Num follow-up de 6 semanas as diferenças dos
que a modelação encoberta com conseqüências grupos não eram mais significativas.
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104 TERAPIA COMPORTAMENTAL

Rathus (1972) forneceu a seus sujeitos do tamento que consistiam de reflexão e aconse-
sexo feminino o treinamento assertivo (exer- lhamento com relação à expressão de raiva.
cícios de grupo semelhantes àqueles descritos Em termos de avaliações objetivas de labora-
neste capítulo, como também tarefas de casa). tório sobre a assertividade do sujeito (em opo-
No Rathus Assertion Inventory estes sujeitos sição à agressividade verbal ou timidez). o gru-
apresentavam uma melhora significativamente po assertivo apresentou um aumento significa-
maior que os grupos não-tratados, e uma me- tivo maior em asserção do que o grupo de con-
lhora maior, mas não-significativa, do que os trole. As observações informais feitas pelo pes-
controles de placebo. Resultados semelhantes soal do hospital e pelos parentes tenderam a
foram obtidos num estudo de avaliação de apoiar a visão de que o treinamento assertivo
medo-geral. Perguntava-se aos sujeitos como resultou em menos hostilidade e agressão.
eles responderiam em situações específicas que Rim e associados (1974) completaram uma
exigiam respostas assertivas. Os resultados, em- investigação semelhante com voluntários do
bora na direção prevista, não foram significa- sexo masculino não-hospitalizados que relata-
tivos. Num segundo estudo, também com sujei- vam uma história de expressão de raiva de
tos do sexo feminino, Rathus (1973a) examinou uma forma anti-social. Os sujeitos que tinham
a eficácia do treinamento assertivo que envolvia recebido 8 horas de treinamento assertivo em
modelos em videotape e prática dirigida. O grupo (basicamente ensaio comportamental)
grupo assertivo melhorou significativamente na foram classificados como significativamente
asserção auto-avaliada, enquanto os sujeitos de mais assertivos e c0nfortáveis quando lhe eram
controle não. apresentadas situações de laboratório elabora-
Embora Sarason (1968) não utilizasse o ter- das para despertar raiva, do que os sujeitos que
mo treinamento assertivo, os procedimentos que tinham recebido 8 horas de terapia de grupo
ele empregou em deliqüentes juvenis tem uma placebo. Em termos de auto-avaliação de raiva
semelhança definida com aqueles descritos nes- e conforto, os sujeitos que recebiam o treina-
te capítulo. Um grupo recebeu ensaio compor- mento assertivo apresentavam uma melhora sig-
tamental em grupo lidando com tarefas rele- nificativamente maior que os controles. Infeliz-
vantes (por exemplo, entrevistas de emprego, mente, dados de follow-up não são dispo-
e conversar com professores ou funcionários níveis.
oficiais). O tratamento foi extensivo, cobrin- Percell, Berwick e Biegels (1974) relataram
do 15 sessões de 40 minutos. Um segundo gru- que o treinamento assertivo de grupo era mais
po ouviu descrições de comportamentos apro- eficaz no aumento de asserção auto.avaliada
priados, mas -estes não foram encenados. Um na auto-aceitação e na diminuição de ansieda-
terceiro grupo serviu como controle não trata- de, do que a chamada terapia de relação.
do. Os principais resultados foram .em termos Como Ri.mm (1976) observa, as abordagens
de avaliação do pessoal técnico e da diretoria tradicionais, incluindo a terapia de relação, são
de revisão, como também medidas de atitude, geralmente vistas como exigindo mais tempo
o grupo de ensaio comportamental apresentou que a maioria de abordagens comportamentais.
o maior grau de melhora, seguido do grupo que Assim, em vista do fato de que o tratamento
recebeu as descrições. seguido do grupo de limitava-se a 8 sessões, o estudo de Percell e
controle. associados é melhor classificado como sendo
Numa investigação preliminar, Rimm, Dey- uma investigação controlada de treinamento
son e Hunziker (Observação tO) empregou os assertivo de grupo do que uma comparação de
procedimentos assertivos de grupo apresenta- dois tratamentos autênticos.
dos na seção de métodos deste capítulo a um Gutride, Goldstein e Hunter (1973) forne-
grupo pequeno de adultos do sexo masculino ceram o que eles chamam de terapia de aprendi-
confinados a um hospital mental basicamente zagem estruturada (TAE) a paciente psiquiátri-
em razão de comportamento agressivo anti- cos internados, agudos e crônicos, socialmente
social. O tratamento foi conduzido em seis isolados. O tratamento incluia a apresentação
sessões de uma hora. Um segundo grupo pla- de interações sociais gradativamente mais com-
cebo-atenção também recebeu 6 horas de tra- plexas em video-tape, como também instrução e
TREINAMENTO ASSERTIVO 105

. ensaio comportamental.
O plano experimental a partir de Beck (1967a). Os sujeitos do sexo
permitiu um exame do impacto da psicoterapia feminino, que respondiam a um anúncio de
tradicional, fornecida isoladamente ou em com- jornal, foram vistos num período de 6 semanas,
binação com a TAE. Em termos de várias me- com duas horas de sessão por semana. A seguir
didas comportamentais, a terapia de aprendiza- do tratamento, diminuições signüicativas na
gem estruturada produziu um impacto signifi- depressão auto-avaliada (medidá pelo Beck
cativo e positivo no comportamento social. Depression Inventory, Beck, 1967a) foram
Alguns efeitos positivos foram também relata- obtidos para sujeitos tanto do treinamento
dos para a psicoterapia, mas basicamente quan- assertivo como dos tratamentos cognitivos, mas
do era o único tratamento. Quando dois trata- não para um terceiro grupo de sujeitos que
mentos eram administrados simultaneamente, tinha passado por um tratamento de iDsight
eles pareciam dificultar o progresso mutuamen- (placebo). Alem disso, em avaliações subjetivas
te. Embora Gutride e associados apresentem de humor, 90% dos sujeitos do treinamento
este último resultado como relativamente ex- assertivo relataram uma melhora, comparada a .
perimental, tal resultado não seria inexperado. 83% daqueles que receberam terapia cognitiva,
A terapia tradicional freqüentemente encoraja e apenas 36% do grupo placebo. Os resulta-
uma atitude passiva nos cliente do tipo "os dos do follow-up de 2 meses são difíceis de
médicos vão me ajudar", que é oposta à atitu- serem interpretados; enquanto a melhora foi
de de auto-ação que o treinamento assertivo mantida para os grupos de asserção e cognitivos
tenta infundir. (no Beck), os sujeitos do placebo apresentaram
Num estudo posterior, Gutride, Goldstein, escores comparativamente .baixos.
Hunter, Carrol, Clark, Furia e Lower (1974) . Hirscb (1975, citado em Alberti, 1977) exa-
descobriram que a TAE poderia ser aumen-. minou a eficácia de 10 boras de treinamento
tada pelo reforço social para comportamentos assertivo em grupo em alcoólatras hospitaliza-
apropriados no hospital, como também suges- dos. O treinamento concentrava-se nos proble-
tões ou lembretes. . mas interpessoais reais que os pacientes estavam
Lazarus (1974a) observou que o treinamento experimentando. Em relação aos pacientes de
assertivo pode ser valioso no tratamento da controle, aqueles que se submeteram ao treina-
depressão. Lewinsohn e seus colaboradores mento mostravam uma melhora significativa..
(por exemplo, Lewinsohn & Shaffer, 1971; mente maior, medida pelo Ratbus Assertion
Libet & Lewinsohn, 1973) teorizaram que a Scale e por avaliações comportamentais objeti-
depressão pode ser devida, em grande parte, à vas. Anteriormente, Miller, Hersen, Eisler e
falta de reforço, incluindo reforço social. .Em Hi1sman (1974) descobriram que quando con-
um estudo (Libet & Lewinsohn, 1973) as pes.. frontados com situações interpessoais angusti-
soas com depressão numa situação de grupo antes que normalmente provocariam asserção,
iniciavam consideravelmente menos interaçães os alcoolatras aumentavam a freqüência de res-
sociais e apresentavam menos probabilidade de postas para obter álcool de uma forma mais sig-
responder positivamente ao comportamento dos nificativa do que a observada entre os que
outros. Além disso, quando outro membro do bebem socialmente. Além disso, Eisler, Miller,
grupo reforçava (por exemplo, elogiava) uma Hersen e Alford (1974), ao examinarem os
determinada pessoa com depressão, o recipiente efeitos do treinamento assertivo em interações
tendia a esperar mais tempo antes de responder conjugais, fizeram um relato sobre um marido
abertamente, isto é, essas pessoas podem inad- que tinha uma história de 6 anos de bebedeiras
vertidamente desencorajar outras de fazerem fortes a seguir dos episódios de sério conflito
elogios ou outras formas de reforço social. conjugal. Os níveis de álcool no sangue tirados
O treinamento assertivo, então, pareceria ser antes do treinamento. assertivo variavam de
uma estratégia lógica de tratamento para indi- .01% a .20%, com uma média de .08%.
víduos deprimidos, e estudo realizado por Para as seis semanas após o tratamento, a 'taxa
LaPointe e Rimm (publicado) sugere que sim. era de .00 a .04% com uma média de .02%,
Eles compararam o treinamento assertivo com Já que a definição legal de intoxicação em
um pacote de treinamento cognitivo elaborado muitos estados americanos é de 10%, o marido
'..

106 TERAPIA COMPORTAMENTAL

estava relativamente embriagado durante a mento muscular. Entretanto, a evidência psico-


maior parte do tempo do período de 6 meses fisiológica de que a asserção esteja correlacio-
de pré-tratamento, mas (pelo menos quando as nada com a redução de ansiedade é muito me-
medidas eram feitas) nunca estavam intoxica- nos direta que a evidência de que o relaxamen-
dos após o tratamento. Hirsch não examinou to resulta em redução de ansiedade. Além disso,
os efeitos do treinamento assertivo no consumo qualquer evidência experimentar que possa exis-
de álcool em seu estudo; tal relação é clara- tir estabelece a relação entre raiva e ansiedade;
mente digna de investigação. ampliar esta evidência é assumir (provavelmen-
Os estudos de grupo anteriormente mencio- te bastante plausível) que a asserção e a raiva
nados sugerem a aplicabilidade do treinamento' estão no mesmo contínua psicofisiológico.
assertivo para diversas populações, incluindo Lembre-se do Capítulo 11 que a inibição recí-
universitários que apresentam timidez interpes- proca é um caso especial de contracondiciona-
soal, indivíduos com agressão anti-social, delin- mento. Se o treinamento de asserção realmente
qüentes, pacientes crônicos e agudos internados, envolve o contracondicionamento, poderia-se
mulheres deprimidas e alcoólatras. Como no prever que ao seguir tal tratamento, os indiví-
caso da pesquisa do tratamento individual, duos em situações angustiantes planejadas para
quando os placebos eram incluidos, verificações provocar o comportamento assertivo, experi-
de credibilidade não foram realizadas. Nova- mentariam menos ansiedade, fosse o comparta-
mente, mais atenção poderia ter sido dispensada mento deles assertivo ou não. :I! isto precisa-
aos follow-ups. Finalmente, com exceção da mente que Rimm ~ seus associados descobriram.
investigação de Gutride e associados (1973), Reduções altas e virtualmente idênticas na an-
os estudos mencionados teriam sido enriqueci- siedade auto-relatada fo'ram obtidas em dois
dos em termos de metodologia se grupos e tera- grupos de homens que receberam o treinamen-
peutas múltiplos tivessem sido empregados, já to assertivo. Durante o pós-teste representado,
que isto teria permitido comparações estatísti- um grupo recebeu instrução de utilizar o que
cas e generalização mais válidas. eles tinham aprendido, e o outro grupo recebeu
instrução para permanecerem em silêncio. Re-
A TEORIA DO TREINAMENTO ASSERTIVO sultados semelhantes foram obtidos para a raiva
auto-avaliada. Os resultados da medida fisiol6-
Em relação a outras técnicas de terapia com- gica (condutância da pele) comparavam-se aos
portamental (mais especialmente a dessensibili- resultados auto-relatados; contudo, os resulta-
zação sistemática) a quantidade de teorização dos desta medida são difíceis de serem interpre-
sobre o treinamento assertivo tem sido limitada. tados, uma vez que mudanças semelhantes ocor-
Provavelmente, a interpretação mais influente reram em sujeitos que simplesmente praticaram
do que acontece com um indivíduo quando ele seu comportamento (na ausência de outros com-
se comporta assertivamente tenha sido colocada ponentes de tratamento do treinamento asser-
por Wolpe (1958, 1969, 1973; Wolpe & Laza- tivo).
rus, 1966). Em concordância com seu modelo Seja o contracondicionamento o mecanismo
inibição-recíproca de terapia, Wolpe assumiu subjacente ou não, os clientes tipicamente rela-
que a asserção e a ansiedade eram, num grau tam sentir-se menos ansiosos quando se com-
considerável, incompatíveis. Os mecanismos portam assertivamente, um resultado que tam-
fisiológicos nos quais W olpe buscou este pres- bém foi relatado em investigações de laborat6-
suposto foram discutidos no Capítulo lI, com rio (Christensen e outros, 1975; McFall &
a asserção assumindo o mesmo papel do relaxa- Marston, 1950; Rimm e outros, 1974).

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