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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA


FACULDADE DE ENFERMAGEM
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM BÁSICA
ADMINISTRAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM ENFERMAGEM II

Docente: Profª. Drª. Nádia Fontoura Sanhudo¹

LIDERANÇA EM ENFERMAGEM²
Introdução

A liderança surgiu da administração, os termos e variáveis que envolvem o seu entendimento acompanham um
processo dinâmico em sua evolução histórica. O termo líder está em uso desde o século XIV, mas foi o termo liderança
que ficou conhecido na língua inglesa na primeira metade do século XIX. Embora o emprego do termo liderança seja
relativamente jovem, seu significado traz vários sentidos, cada teoria de administração, bem como os modelos de
liderança, apresentam diferentes variáveis que historicamente caracterizam as teorias, a liderança e o líder.
A literatura aponta a ausência de consenso entre os autores sobre o conceito de liderança, corroborando pela
existência de diversas teorias que atribuem diferentes significados a essa competência e cuja fundamentação decorre
das posturas e a da visão de cada profissional (NEVES; SANNA, 2016). Para estas autoras como o conceito ainda está
em construção é necessário utilizar classificações, característica e ações do líder para aproximar-se de seu significado,
ao invés de enunciá-lo e debatê-lo exclusivamente no nível conceitual.
Nessa perspectiva, para abordar o conteúdo liderança em enfermagem delimitou-se os seguintes objetivos:
 Correlacionar as teorias da liderança no desenvolvimento do processo de trabalho;
 Discutir a influência dos estilos de liderança no trabalho em equipe e na prática de enfermagem.

Teoria do Comportamento de Liderança


À medida que as teorias da liderança se desenvolveram os pesquisadores conduziram seus estudos buscando
analisar o estilo de liderança do líder e não mais para estudos específicos dos traços do líder (MARQUIS; HUSTON,
2010).
Esse movimento inicia a partir de 1940, distancia-se da teoria do traço, a qual se preocupava com as
características individuais do líder, passando a explicar as ações especificas do líder e a definição de liderança.
(MCEWEN; WILLS, 2009).
Os estudiosos Lewin (1951) e White e Lippitt (1960) avançaram isolando os estilos comuns de liderança que
receberam a denominação de autoritário, democrático e laissez-faire. Chiavenato (2005) relaciona os estilos de
liderança dessa teoria com o comportamento do líder e liderados no processo de trabalho, conforme consta no quadro 1.

1.Enfermeira, Doutora, Professor Adjunto do Departamento de Enfermagem Básica da Faculdade de Enfermagem da Universidade
Federal de Juiz de Fora.
2.Este texto foi elaborado como material instrucional para a Disciplina Administração da Assistência em Enfermagem II, para os
acadêmicos do Curso de Graduação em Enfermagem do 8º período da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de
Fora. Pedimos que caso haja o interesse em utilizar este material para outro fim seja solicitada autorização pelo seguinte e-
mail:nadiasanhudo@gmail.com
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Quadro 1- Apresentação dos três estilos de liderança e suas correlações no processo de trabalho.

ESTILOS DE
LIDERANÇA
PROCESSO

TRABALHO

LIDERANÇA AUTOCRÁTICA LIDERANÇA DEMOCRÁTICA LIDERANÇA LIBERAL


DE

Total liberdade para tomada de


Apenas o líder decide e fixa as As diretrizes são debatidas e
TOMADA DE decisões grupais ou individuais,
diretrizes, sem qualquer decididas pelo grupo que é
DECISÕES com participação mínima do
participação do grupo. estimulado e assistido pelo líder.
líder.
O líder determina providências O próprio grupo esboça A participação do líder no debate
para a execução das tarefas, providências e técnicas para é limitada, apresentando apenas
PROGRAMAÇÃO uma por vez, na medida em garantir o alvo com o alternativas ao grupo,
DOS TRABALHOS que são necessárias e de aconselhamento técnico do líder. esclarecendo que poderia
modo imprevisível para o As tarefas ganham novos contornos fornecer informações desde que
grupo. com os debates. solicitadas.

O líder determina qual a tarefa A divisão das tarefas fica a critério Tanto as divisões das tarefas
DIVISÃO DO que cada um deverá executar do grupo e cada membro tem como a escolha dos colegas
TRABALHO e qual seu companheiro de liberdade de escolher seus próprios ficam por conta do grupo,
trabalho. colegas. absoluta falta do líder.

O líder procura ser um membro O líder não faz nenhuma


O líder é pessoal e dominador,
normal do grupo. É objetivo e tentativa de avaliar ou regular o
PARTICIPAÇÃO nos elogios e nas críticas ao
estimula com fatos, elogios ou curso das coisas. Faz apenas
trabalho de cada um.
críticas. comentários quando perguntado.

Fonte: Chiavenato (2005, p. 187)

 Estilo de Liderança Autocrática


Beneficia a centralização do poder, estimulando um comportamento dependente e submisso dos membros do
grupo de trabalho, com presença de sentimentos de tensão e frustração. Por outro lado, as ações do grupo são
claramente definidas, previsíveis passando aos membros do grupo uma sensação de segurança. A produtividade
costuma ser alta, no entanto a criatividade, automotivação, e a autonomia sejam baixas. (MARQUIS; HUSTON, 2010).

 Estilo de Liderança Democrática


Para Kron e Gray (1998), a liderança democrática retrata o trabalho em conjunto, onde todos são informados,
sobre os propósitos da organização e do processo que está sendo desenvolvido, bem como qual seu papel dentro desse
contexto. Os líderes democráticos trabalham com as pessoas não pelo domínio, mas pela sugestão, persuasão e pelo
ensino.
Com um líder democrático existe uma produção em menor escala, porém com melhor qualidade, quando
comparado com os outros estilos de liderança, autocrática ou Laissez-faire (MARQUIS; HUSTON, 2010; MCEWEN;
WILLS, 2009).
Uma apresentação mais progressista da liderança é a participativa, na qual todo o pessoal sinta que tem
importantes contribuições. Em conjunto com o líder, definem objetivos e planejam a forma de atingi-los, propiciando
maior satisfação, uma vez que tomam parte na administração do seu fazer (KRON; GRAY, 1998).
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Na liderança participativa, o líder precisa ter segurança no seu saber, com base sólida de conhecimento,
desenvolvendo competências técnica e de relações humanas para intervir com orientações e aconselhamento, sendo
fortalecida a autonomia do grupo para a tomada de decisão no seu trabalho.
Nessa concepção, quando o enfermeiro líder focaliza seu trabalho na pessoa, auxiliará o grupo a administrar uma
assistência centralizada nos clientes, esse tipo de liderança é especialmente eficaz quando há cooperação e
coordenação entre as pessoas (MARQUIS; HUSTON, 2010).

 Estilo de Liderança Laissez-faire


O líder Laissez-faire caracteriza-se pela ênfase no grupo, ausência de controle, oferece pouca ou nenhuma
orientação, usa a comunicação de forma verticalizada entre os membros e dispersa por todo o grupo a tomada de
decisão (MARQUIS; HUSTON, 2010).
Quando uma pessoa é designada como líder e não desempenha a liderança ou se a faz é de maneira mínima, as
pessoas rapidamente perderão o senso de iniciativa e o senso de realização. O líder sendo permissivo, com pouco ou
sem controle, o trabalho em pouco tempo se demonstrará desorganizado, as pessoas não sabem nem se importam com
aquilo que devem fazer (KRON; GRAY, 1998).
Entretanto, quando todos os membros estão altamente motivados e autodirecionados, esse tipo de liderança pode
acarretar em muita criatividade e produtividade (MARQUIS; HUSTON, 2010).
Em relação a adoção na prática dos estilos de liderança pelos enfermeiros, Bara (2010) salienta o seguinte:
“Na prática o enfermeiro utiliza os 3 estilos de liderança de acordo com a tarefa a
ser desenvolvida, a situação e as pessoas, pois ele tanto determina o cumprimento
de ordens, como sugere a seu pessoal a realização de certas atividades e ainda
consulta a equipe antes de tomar alguma decisão. O desafio está, portanto, em
saber quando aplicar cada estilo, com quem e em que circunstâncias e tarefas a
serem desenvolvidas”.

Teoria da Liderança Contingencial e Situacional


Com a evolução das pesquisas acerca da liderança foi reconhecido que as características, os traços e
comportamento do líder, não eram suficientes para explicar o conceito. A ênfase dos estudos passou a incluir os
componentes da situação ou do ambiente para determinar o estilo de liderança mais eficaz para determinada situação
(MCEWEN; WILLS, 2009).
A visão inicial da organização como um sistema social de contingências que requer que o estilo de liderança mude
de acordo com a situação ou os funcionários envolvidos, foi publicada numa série de livros entre 1896 e 1933 pela
consultora de administração Mary Parker Follett, porém eram muito avançadas à época, e não recebeu o
reconhecimento apropriado, fato que muda a partir da década de 70 (MARQUIS; HUSTON, 2010).
Na abordagem contingencial de Follett, em 1926 ressaltou em seus estudos a necessidade de integração, ou seja,
que envolva o encontro de uma solução onde ambos os lados fiquem satisfeitos, sem dominação de qualquer direção. A
“lei da situação” que propôs, defendia que a situação deveria determinar os comandos dados depois que todos
estivessem cientes do problema. Seguindo nesse referencial, outros pesquisadores contribuíram para a evolução dessa
teoria, na abordagem contingencial, onde defenderam, como por exemplo, não haver um único estilo ideal de liderança,
com isto o líder, dependendo da situação vai do democrático ao autocrático. Outros estudiosos nas décadas de 60 e 70
também destacaram elementos principais do comportamento e sua combinação podendo ser eficaz, dependo da
necessidade do trabalhador e da situação. (MARQUIS; HUSTON, 2010).
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A liderança Situacional, desenvolvida na década de 70 por Paul Hersey e Kenneth Blanchard consta de um método
tridimensional em conceitos de gestão, composto pelo comportamento da tarefa, comportamento do relacionamento e
nível de maturidade do seguidor ou trabalhador. Essa teoria se baseia no nível de maturidade do empregado, à medida
que a pessoa amadurece o estilo de liderança foca menos as tarefas e fortalece as relações. O nível de maturidade não
é fixo ou constante muda conforme a tarefa ou objetivo. De acordo com a teoria, o líder deve ser capaz de adequar os
estilos de liderança para atender as demandas individuais e situacionais (MCEWEN; WILLS, 2009).
Os autores dessa teoria, Hersey e Blanchard, propõem quatro estilos de liderança, a saber: determinar, persuadir,
compartilhar e delegar. Cada um desses estilos é uma combinação de comportamento, de tarefa e de relacionamento. A
opção pelo estilo de liderança que o líder deve adotar com seu grupo de trabalho relaciona-se ao nível de maturidade do
individuo que pretende influenciar. O nível de maturidade do liderado é apresentado em quadro níveis que vai do baixo
(M 1), baixo a moderado (M 2), moderado a alto (M 3) e alto (M 4) (SILVA; GALVÃO, 2007).
Na perspectiva do estilo de liderança situacional, entende-se que não existe um único estilo ou característica de
liderança válida para toda e qualquer situação. Cada ocasião precisa um diferente estilo de liderança para alcançar o
desempenho satisfatório da equipe, atingindo a eficácia no trabalho (SILVA; GALVÃO, 2007).
O conceito de liderança contingencial suscita reflexões sobre a imprescindibilidade da liderança para a atuação do
enfermeiro à medida que consente e apresenta como alternativa viável a manifestação de outro e lideres no grupo, de
acordo com as circunstâncias apresentadas e as capacidades desses indivíduos para liderar (NEVES; SANNA, 2016).

Teorias de Liderança Contemporânea


O foco principal nas teorias inicias sobre liderança centrava-se na figura do líder e nas suas características
pessoais, procurando as diferenças de atributos entre líderes e não-líderes. Na evolução das pesquisas acerca da
liderança, os estudiosos a partir da década de 70 expandiram o número de variáveis que afetam a liderança efetiva,
incluindo o aumento da complexidade do ambiente de trabalho, a cultura da organização e a influência do líder
(MARQUIS; HUSTON, 2010).
Marquis e Huston (2010) trazem que as tentativas de integração das variáveis são evidentes nas teorias
contemporâneas de liderança interacional e transformacional. Além disso, para esses autores, muitas teorias de
liderança e administração surgiram no XXI para explicar a complexidade das relações entre lideres e liderados,
considerando o contexto onde o trabalho é desenvolvido e o alcance das metas.
No século XX, como reflexo das ciências sociais e da mudança de perspectiva dos processos das relações
humanas, o foco principal da liderança passa a ser o comportamento interpessoal entre líderes e liderados, entre a
pessoa que influência e as pessoas influenciadas. Para McEwen e Wills (2009), as principais teorias contemporâneas de
liderança existentes são a liderança interacional, transacional e transformacional.

Teoria Interacional de Liderança


Conforme Marquis e Huston (2010), a essência da teoria interacional tem como base o comportamento de
liderança que costuma ser determinada pela relação entre personalidade do líder e a situação específica. Esses autores
destacam os teóricos, que propuseram os modelos de liderança na perspectiva dessa teoria.
Dentre eles, Schein (1970), foi o primeiro a propor um modelo de indivíduos enquanto seres complexos, cujo
ambiente de trabalho era um sistema aberto ao qual reagiam. Destaca a idéia da inexistência de uma única estratégia de
liderança que seja eficiente em todas as situações. A eficácia da liderança para Hollander (1978) exige capacidade de
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solucionar problemas, manutenção da eficiência grupal, boa comunicação, demonstração de imparcialidade,


competência, segurança e criatividade do líder e desenvolvimento da identificação grupal. Kanter (1989) resume bem o
trabalho dos teóricos interativos, ressaltando que a autoridade por titulação e cargo não é mais suficiente para moldar
uma força de trabalho em que os trabalhadores são estimulados a pensar por si próprios e em que o administrador
precisa atuar de maneira sinérgica com as pessoas (MARQUIS; HUSTON, 2010).

Liderança Transacional e Transformacional


Burns (1978), estudioso na área de interação líder e seguidores, defendia a existência de dois tipos de líderes na
administração, o transacional e o transformacional. O líder transacional é caracterizado como o administrador tradicional,
aquele que foca seu trabalho com as operações do cotidiano. O líder transformacional é um visionário a longo prazo,
capaz de inspirar e delegar poder aos outros com sua visão, fortalecendo e influenciando os outros (MARQUIS;
HUSTON, 2010; MCEWEN; WILLS, 2009).
Essa é uma nova tendência da liderança, as organizações de saúde são chamadas a ancorar os princípios de sua
gestão na liderança transformacional, por ser considerado o modelo de mudança da pós modernidade (STRAPASSON;
MEDEIROS 2009).
Porém, os teóricos da moderna administração alertam que tanto as habilidades tradicionais da administração que
compõem a liderança transacional, quanto as habilidades da transformacional devem fazer parte do repertório do líder
eficaz para atingir as metas da organização (MCEWEN; WILLS, 2009).
Nos pressupostos da liderança transformacional, o líder deve identificar valores comuns, é comprometido, inspiram
os outros com a visão, tem uma visão a longo prazo, busca os efeitos e delega poder. Embora o líder transformacional
seja entendido como o ideal de nosso tempo, as características do líder transacional não podem ser deixadas de lado no
processo de liderança, como visto anteriormente. Portanto, é preciso que o líder considere e não percam de vista as
tarefas administrativas, o zelo, a negociação para alcançar as metas, os valores partilhados, o exame das causas e a
recompensa por contingência (MARQUIS; HUSTON, 2010).
Num estudo acerca da liderança transformacional na enfermagem, Strapasson e Medeiros (2009), identificaram
que os enfermeiros, embora reconheçam a importância dos pressupostos da liderança transformacional não estão
totalmente presentes no seu cotidiano. Ressaltam a falta de estímulo ao aprimoramento intelectual e desenvolvimento da
criatividade, como também a dificuldade de comunicar aos liderados as suas expectativas e da organização, pois o
próprio enfermeiro não tem clareza dessas questões.
Como foi visto, o foco principal nas teorias iniciais sobre liderança centrava-se na figura do líder e nas suas
características pessoais, procurando as diferenças de atributos entre líderes e não-líderes. Na evolução das pesquisas
acerca da liderança, os estudiosos a partir da década de 70 expandiram o número de variáveis que afetam a liderança
efetiva, incluindo o aumento da complexidade do ambiente de trabalho, a cultura da organização e a influência do líder
(MARQUIS; HUSTON, 2010).

A influência da Liderança no trabalho em equipe e na prática de enfermagem

A finalidade da liderança em enfermagem vai ao encontro à realidade das instituições, ao estarem constantemente
em processos de mudanças tecnológicas e nos modelos estruturais, para atender as necessidades dos clientes e a
complexidade do ambiente de trabalho. A necessidade de ajustar o desempenho das pessoas com os objetivos da
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organização, dentro desse contexto, direciona os gestores a buscar estratégias para o desenvolvimento de competências
consolidadas no conhecimento. No paradigma atual de gestão de pessoas, o sucesso da instituição está na relação
construída dos recursos humanos com a organização (CHIAVENATO, 2004).
Desenvolvemos uma relação simbiótica com as instituições que englobam o aspecto pessoal e profissional,
precisamos delas para viver, bem como, elas também precisam de nós para atingir suas metas. Essa relação inicia
mesmo antes de nascermos, “vivemos em uma sociedade de organizações, pois nascemos nelas, aprendemos nelas,
servimo-nos delas, trabalhamos nelas e passamos a maior parte de nossas vidas dentro delas” (CHIAVENATO, 2004,
p.5).
Trazendo este pensamento para o contexto profissional da enfermagem, precisamos das organizações para
desempenhar nossas atividades e as instituições de saúde demandam dos profissionais de enfermagem para cumprir
seus objetivos e cumprir sua missão. Daí, a importância de haver sincronia entre a atuação de enfermagem, e o que é
esperado dela pela instituição de saúde e pela Sociedade. Em relação à enfermagem, o enfermeiro será o responsável
pela condução desse movimento, deve agir como um negociador nesse processo, entre as expectativas e a finalidade de
exercício profissional de enfermagem.
Vale lembrar, conforme Kurcgant et al (2010), a atuação do enfermeiro na dupla dimensão do processo de trabalho
que engloba ações assistências e gerenciais. Na perspectiva da gerência de pessoas, irá empregar estratégias de
liderança de enfermagem voltadas para as transformações, ou seja, inovadoras, tendo como linha fundamental a
melhoria da qualidade da assistência de enfermagem e, além disso, buscar alternativas que possibilitem maior satisfação
para os componentes da equipe de enfermagem no desempenho de suas funções (GALVÃO, 1998).
Porém, para Kurcgant et al (2010) a proposta de trabalho em equipe foi introduzida na enfermagem como discurso
e pouco visualizada na prática, o que mantém a organização do trabalho centrado na tarefa. Nesse contexto, o
desenvolvimento das habilidades e competências, na perspectiva gerencial do enfermeiro para assumir a liderança, visa
fortalecer a enfermagem enquanto equipe mudando o panorama das inter-relações humanas no trabalho de
enfermagem.
Essa é uma tendência contemporânea, ou seja, a preocupação do enfermeiro em ampliar suas habilidades
enquanto líder de sua equipe, para desenvolver em seu ambiente de trabalho, cada vez mais, estilos de liderança eficaz
que conduzam ao sucesso do trabalho da equipe.
A Joint Commission (2008) caracteriza as equipes de sucesso por apresentar liderança compartilhada, tomada de
decisão conjunta, implementação consistente de planos. Observação de regras fundamentais para a comunicação,
gerenciamento eficaz de conflitos, relações interpessoais sólidas e coleguismo.
De forma geral, nas definições de liderança é focalizado o papel inerente ao líder, apresentando as seguintes
habilidades: aquele que toma decisões, comunicador, avaliador, facilitador, aquele que assume riscos, mentor,
energizador, treinador, conselheiro, professor, pensador crítico, intermediário, influenciador, advogado, visionário,
previdente, capacidade de análise, solucionador criativo de problemas, agente de mudanças diplomata e modelo de
conduta (MARQUIS; HUSTON, 2010; ALBUQUERQUE, 2005).
Através dessas habilidades os líderes exercem o poder, sendo o recurso que permite influenciar as pessoas ou
obter sua submissão, a influência é poder, quem a tem sobre outra pessoa exerce poder sobe ela (CHIAVENATO, 2004).
Buscar uma definição de liderança é um grande desafio, pois depende do autor como veremos a seguir, ainda não
existe uma construção conceitual do seu significado.
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Para Chiavenato (2005) a liderança é definida como uma influência interpessoal, na qual uma pessoa age no
sentido de modificar ou despertar o comportamento de outra(s) de maneira intencional, exercida em uma determinada
situação e orientada pelo processo de comunicação humana para obtenção de um ou mais objetivos específicos.
Na enfermagem, autores que abordam a temática, conforme Lourenço e Trevizan (2001) definem a liderança como
um processo grupal, onde ocorre influência com a finalidade de alcançar uma meta, está atrelado a um propósito, um
senso de movimento possível de ser aprendido. A liderança é uma das competências essenciais do enfermeiro, devendo
ser conquistada e aprimorada. Para isso, o enfermeiro tem necessidade do desenvolvimento de atributos como
responsabilidade, determinação, humildade, flexibilidade, conhecimento organizacional, integridade, convencimento,
credibilidade, senso de humor, entre outros (SILVA; CAMELO, 2013).
No contexto das instituições, há uma crença que procura diferenciar gerentes de líderes. Tendo por base o
conceito de tipos de líder – autoritário, democrático e laissez-faire, o líder seria aquele que conduziria pessoas de forma
mais democrática ou convincente, enquanto o gerente seria aquele que se impõe autoritariamente (ALBUQUERQUE,
2005).
Alguns autores defendem que existem diferenças entre os elementos que compõe o gerenciamento, liderança e
administração. O gerente descreve uma posição na estrutura da instituição, refere-se a alguém designado com
autoridade formal, o líder retrata uma atitude pessoal, uma competência em relacionamentos na busca de resultados,
enquanto que o administrador ocupa um posto de direção, atuando sobre os processos através dos quais uma
organização funciona, distribuindo recursos e utilizando seu pessoal da maneira mais eficiente possível (LOURENÇO et
al, 2005).
Para Marquis e Huston (2010) ocupar um cargo não é suficiente para tornar uma pessoa um líder, somente o seu
comportamento que irá determinar essa posição. Enquanto o administrador-gerente é aquele que faz acontecer à ação,
tem as responsabilidades e conduz o trabalho, o líder influência e direciona as opiniões e sentido das ações.
A liderança não é inata ao individuo, sendo ele capaz de desenvolver essa capacidade que são essenciais na
prática da liderança. O líder pode usar essa função independente das características de sua personalidade, é o que se
espera de um líder o treino dessas funções, ou seja, a construção desses conceitos no pensamento daqueles que
exercem a função de liderança (CHIAVENATO, 2004).
O líder emergirá em função de um grande conjunto de variáveis em determinado contexto. As situações mudam
continuamente e exigem das pessoas que influenciam outras características diferentes. Compreender o processo de
liderança é analisar a relação entre o líder e seus liderados, é um fenômeno relacional, para existir um tem que existir o
outro (ALBUQUERQUE, 2005).
Para Balsanelli e Cunha (2006), o enfermeiro traz na essência da profissão o contato com o outro, seja na prática
do cuidar, como também na gerência da equipe, o que implica nos processos de trabalho do enfermeiro através da
resolução dos conflitos e na tomada de decisões; com a participação de seus pares na construção de planos e projetos,
serve de inspiração para que haja seguidores dispostos a adotar o seu caminho.
Na atualidade, compreende-se a liderança como um fenômeno tipicamente social num dado contexto, sofre a
influência interpessoal por meio da comunicação, e tem por finalidade alcançar determinada meta.
Diante do exposto, a liderança em enfermagem idealizada é aquela que o enfermeiro é visto como líder que
influência a sua equipe e não líder que impõe a sua vontade com autoritarismo. No entanto, existe na esfera profissional
da enfermagem a discussão se todo o enfermeiro é líder, ou seja, nem todo o enfermeiro que se encontra como gerente
dos cuidados de enfermagem teria a capacidade de exercer a liderança. Na prática não é possível diferenciar líder de
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gerente, sendo que ambos influenciam, não importa a forma, se autocrática, democrática ou qualquer outra, o que deve
ser considerado é a dinâmica da influência entre o líder e os liderados (ALBUQUERQUE, 2005; MARQUIS; HUSTON,
2010; KURCGANT et al, 2010).
Frente aos problemas encontrados nos contextos de prestação da assistência a saúde, a liderança eficaz é sem
dúvida fundamental ao sucesso da organização no século XXI. Para os enfermeiros ampliarem a capacidade de exercer
a liderança é premente desenvolver o conhecimento e habilidades de gerenciamento e de liderança, para que possam
atuar como agentes de mudança (LOURENÇO et al., 2005).
Ao buscar mudança de atitude na equipe, o enfermeiro líder influência o comportamento de seus liderados e não
determinar a forma do comportamento. Na visão clássica da administração, os liderados seriam passivos e dependentes,
movidos pela vontade do líder, no enfoque contemporâneo os liderados são sujeitos ativos em qualquer relação,
inclusive a de liderança (ALBUQUERQUE, 2005).
Porém, segundo Strapasson e Medeiros (2009), no exercício das habilidades de liderança no cotidiano dos
enfermeiros, ainda é evidenciado na prática gerencial o foco no controle sob os liderados, entendendo a liderança como
imposição dos líderes sobre os liderados. Em contraposição, a liderança eficaz para estas autoras, está expressa pela
busca do conhecimento, do trabalho em grupo e do desenvolvimento de novas habilidades para gerenciar e liderar sua
equipe à auto-eficácia, a qualidade da assistência e atender aos objetivos da instituição. O diálogo, a humildade, dar o
exemplo, resolutividade, reuniões e trabalho em equipe são alguns exemplos de estratégias que podem ser utilizadas
pelos enfermeiros para facilitar a inserção da liderança de maneira dialógica no ambiente hospitalar (AMESTOY et al.
2014).
Para o Joint Commission (2008), os enfermeiros líderes continuam a assumir, no cenário hospitalar cada vez mais
responsabilidades, encontrado nesse percurso frustrações e desafios, sendo o ambiente mais complexo do ponto de
vista tecnológico, no sistema de fornecimento de atendimento à saúde. Assume a responsabilidade de coordenação do
produto dos hospitais, o fornecimento e a prevenção dos riscos atrelados aos cuidados de enfermagem.
Para obter eficiência nos processos de trabalho requer planejamento, implementação e avaliação de estratégias
que ampliem os conhecimentos da equipe de enfermagem. Para tanto, o enfermeiro-líder deve direcionar as ações, as
atividades e o desempenho dos demais colaboradores de sua equipe, a Joint Commission (2008) ressalta que o
emprego da liderança eficaz torna-se a pedra fundamental de qualquer hospital próspero, e os líderes devem
comprometer-se com as pessoas com quem trabalha. A relação que passa a existir entre líder e liderados sustenta-se na
confiança no líder e apoio do grupo como necessários para influenciar o desempenho da equipe, no repertório do líder
eficaz, para atingir as finalidades da profissão (MCEWEN; WIILLS, 2009).
Mesmo com todo esse movimento de transformação social que vivenciamos atualmente, a tecnologia não substitui
a necessidade de direcionar as pessoas ao alcance dos objetivos e metas, sendo o recurso mais valioso dentro de uma
organização, o capital humano (BALSANELLI; CUNHA, 2006).
As estratégias eficientes de liderar as pessoas na perspectiva de recurso valioso de uma instituição é
preocupação na enfermagem há muito tempo. Para exemplificar, Oliveira (2009, p.246) traz essa questão ao apresentar
o texto de Celina Viegas redigido em 1946, quando essa autora relata o seguinte:
Com relação à orientação do pessoal, a qualidade essencial requerida à
enfermeira-chefe é a capacidade para guiar, o dom de conduzir as pessoas, saber
ser “leader”. Ter o poder de inspirar pessoas a cooperar com boa vontade e
interesse em um plano comum, de fazê-las considerar a situação pelo nosso
próprio ponto de vista e seguir ordens, não como comandados que devem ser
cegamente obedecidos, mas como direções que requerem inteligentemente
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compreensão e raciocínio. É necessário compreender a diferença entre conduzir e


comandar.

Esse texto é uma fonte de inspiração para a eficiência do trabalho de enfermagem, como destaca Oliveira (2009),
apesar de ser escrito há mais de 60 anos, quando a enfermagem lutava para qualificar bem a profissão, demonstra-se na
atualidade como uma necessidade presente, viva e evidente.
Na contemporaneidade, o enfermeiro líder é aquele que emprega para o sucesso de sua atuação, além do saber
técnico de enfermagem e os conteúdos da administração, práticas que favoreçam suas relações. Ao idealizarmos o
enfermeiro líder, inicia-se na arte de conhecimento das necessidades e expectativas profissionais das pessoas que lidera
inclusive dele próprio, como fundamental para eficiência e eficácia do processo de liderança. De acordo com Galvão et al
(1998) o enfermeiro líder do futuro, precisaria destacar-se como membro da equipe de enfermagem, único, dotado de
capacidade e dificuldades, considerando esses aspectos ao abordar as carências dos componentes de sua equipe.
Para esses autores, o líder do futuro continuaria trabalhando para desenvolver no processo de liderança, uma
atitude de parceria com os liderados no desenvolvimento das relações de trabalho para criar um ambiente gerador de
capacidades, contemplando com oportunidades e incentivos para as novidades com programas de aperfeiçoamento das
habilidades de relações humanas e do processo de conscientização (GALVÃO et al, 1998).
Na contemporaneidade, os processos de trabalho do enfermeiro caminham na direção da autonomia profissional,
qualidade e prestação da assistência de enfermagem o mais segura possível. Para isso, o desenvolvimento e
aperfeiçoamento da profissão perpassam pela capacidade do enfermeiro conseguir imprimir na prática os preceitos
legais, éticos, técnicos e científicos, onde a essência do trabalho do enfermeiro está no cuidado, seja com o outro ou com
a gerência de quem cuida do outro, os profissionais de enfermagem (SOUSA; BARROSO, 2009).
A postura assumida de líderes no processo de relação com os liderados e o estilo de liderança a ser adotado,
dependerá do contexto onde os cuidados são prestados, assim como, as características e expectativas da equipe de
trabalho que compõe o quadro de pessoal; o comportamento dos membros do grupo indicará as ações pertinentes
(BALSANELLI; CUNHA, 2006).
Um enfermeiro-líder que busca influenciar a equipe pelas suas atitudes é o primeiro a dar o exemplo no ambiente
de trabalho, para isso adota uma postura imparcial, fundamentada na justiça, colhe o respeito e obtém confiança de seus
colaboradores, para isso participa ativamente no cuidado, atuando junto à equipe de forma ativa e estando disponível a
auxiliar o grupo quando se fizer necessário (AMESTOY et al. 2014).

Para finalizar...
Os enfermeiros líderes contemporâneos devem buscar um tênue equilíbrio entre a liderança e as ferramentas do
processo administrativo. Nessa perspectiva, o gerenciamento do cuidado quando calcado em estratégias operacionais é
insuficiente, por não apreender as mudanças no contexto, as estratégias precisam trabalhar com as incertezas que
circundam o mundo vivido dos profissionais. Os cuidados de enfermagem dependem essencialmente das pessoas que
são influenciadores e ao mesmo tempo é influenciada pelo contexto, nenhuma estratégia pode ser vista linearmente
como eficiente em todas as situações.
Nesse sentido, a marca da liderança adotada é da era das relações, como o fortalecimento das habilidades
pessoais dos enfermeiros líderes e dos liderados, que favoreça a confiança para o fortalecimento da equipe de trabalho,
não perdendo de vista o indivíduo ao ressaltar e valorizar as competências individuais. As estratégias de liderança irão
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caminhar no sentido que cada profissional reconheça o propósito e o significado de seu trabalho, coopere, busque
sentido e dê valor às informações.

Questões para refletir:

1. O que você entende por liderança em enfermagem?


2. Qual a teoria de liderança ideal? Justifique sua resposta?
3. Qual a relação que você estabelece entre a liderança em enfermagem e o desempenho dos profissionais de
enfermagem?
4. Quais são os fatores que interferem no processo de liderança? (destacar os fatores associados à Instituição, aos
profissionais de enfermagem, e aos clientes e outros)
5. Como o enfermeiro no desenvolvimento do processo de liderança pode favorecer o trabalho em equipe?

Referências

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