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Clínica Aplicada 1 - 15..08.

2022 Noemi Thomé Mendes

Epidemiologia e Malformações (genética de populações). São de herança


multifatorial, tanto genes quanto o ambiente
Congênitas envolvidos. O estudo só pode ser aplicado para a
população em estudo, características mais
“A ciência que trata com a etiologia, distribuição específicas
e controle de doenças em grupos familiares ou
com as causas genéticas das doenças nas “Nem tudo que é genético é hereditário, mas tudo
populações, admitindo o conceito de genética no que é hereditário é genético.”
sentido amplo, que inclui tanto as heranças
biológicas como culturais; da mesma forma, a Finalidade:
expressão “familiares” inclui relações tão - Descrição de distribuição de doenças em
próximas com a dos gêmeos, e tão abrangente populações;
como grupos étnicos.” (Morton, 1976) - Determinantes de distribuições de doenças em
populações: fatores de risco, marcadores
Epidemiologia genética genéticos, genética de populações;
- Grande área de investigação desde segregação - Determinantes de distribuições de doenças em
familiar da doença até sua origem molecular; famílias: segregação familiar, estudos de
- Metodologia do binômio saúde-doença em nível herdabilidade, análise segregacional;
coletivo; - Interações genético-ambientais;
- Procedimento de identificar, descrever e - História natural de doenças;
analisar características, quanto aos fatores - Heterogeneidade etiológica;
relacionados ao agente, hospedeiro e meio ou às -Vigilância epidemiológica: registros
pessoas, ao tempo e ao espaço; genealógicos e controle de efeitos ambientais;
- Constitui-se um método complexo de estudo, - Intervenção em doenças: diferenças genéticas
porque estas três principais dimensões podem ser em respostas a tratamentos em testes clínicos;
indefinidamente subdivididas: - Prevenção de doenças: detecção de portadores
● as pessoas por raça, religião, idade, assintomáticos, aconselhamento;
paridade, classe social, grupo sanguíneo, - Impacto de doenças em populações:
ocupação, infecções virais ou hábitos morbilidade, mortalidade, incapacidade, custos.
dietéticos;
● os lugares por latitude, longitude, clima, Malformações congênitas: anomalias de
geologia, industrialização, radiação estrutura ou função, incluindo metabolismo, que
natural ou poluição do ar; estão presentes desde o nascimento.
● o tempo por semanas, meses, estações, - Esta definição reflete que alguns defeitos ao
anos, décadas e milênios. nascimento são clinicamente óbvios, enquanto
● geneticamente, os humanos não podem outros apenas se manifestam na vida adulta
ser divididos em raça. As semelhanças são (WHO, 2006)
incomparáveis, inclusive nossa diferença
genética com um chimpanzé (outra Defeitos Congênitos:
espécie) é de 1%. - São defeitos estruturais (defeitos congênitos,
- Mais fácil com as doenças monogênicas (Leis de deformações, rompimentos e displasias),
Mendel) anormalidades cromossômicas, erros inatos do
- Doenças complexas envolve o cálculo do metabolismo e doenças hereditárias.
impacto genético e ambiental nas doenças
Clínica Aplicada 1 - 15..08.2022 Noemi Thomé Mendes

- OMS: termo “defeitos congênitos” deve ser Cromossomopatias


definido como “defeito estrutural ao - Síndrome de Down
nascimento”. - Trissomia do 21
- Estima-se que de 3% a 5% de todos os - 1-2:1.000
recém-nascidos vivos apresentem algum defeito
congênito. Doenças Monogênicas
- Anemia Falciforme
Classificação: ● 2% - 8% população geral
- genético (15% a 25%) ● 6% - 10% afrodescendentes
- ambiental (8% a 12%) - Programa Nacional de Triagem Neonatal
- ambos (20% a 25%) (PNTN)
- idiopático (40% a 50%): tudo aquilo que não há ● Há duas premissas para colocar a doença
causas bem definidas na Triagem Neonatal: 1) A frequência de
- presente ao nascimento ou de manifestação incidência; 2) Ter prognóstico com
tardia diagnóstico precoce.
- anomalias físicas ou mentais ● 25.000 - 30.000 afetados com anemia
- isolado ou associado (múltiplas malformações) falciforme
- maiores (graves defeitos anatômicos, ● 3.500 casos diagnosticados a cada ano
funcionais ou estéticos) ou menores

- Os DC múltiplos podem ser decorrentes de:


● cromossomopatias (6,1%): quando
acontece no cromossomo, visto pelo
exame de cariótipo. Exemplo: Síndrome de
Down.
● mutações gênicas - padrão de herança
mendeliano (7,5%) exemplo:
neurofibromatose.
● multifatorial (20%) exemplo:
mielomeningocele.
● ambiental (6,5) Doenças Monogênicas
As anomalias múltiplas também podem ser - Fibrose Cística ou Mucoviscidose (PNTN, 2007)
derivadas de um único evento malformativo ● 1:3.000 - populações caucasianas
primário ou de um determinado fator mecânico ● 1:7.000 - população geral
(sequência). - Erros Inatos do Metabolismo
● 1:1.000
Doenças genéticas
- cromossômicas (alterações nos cromossomos) Multifatorial
- monogênicas (1 gene) - Defeito de Fechamento do Tubo Neural:
- multifatoriais (genes + ambiente) 1-2:1.000
- teratogênicos: efeitos causados durante a - Defeitos Cardíacos Congênitos: 4-8:1.000
gravidez. Exemplo: Síndrome Alcoólica Fetal. - Aparecimento Tardio
● câncer de mama
● câncer de cólon hereditário não poliposo
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Etiologia: - 3.2 milhões de incapacitados permanentes por


- idade materna avançada ano.
- radiações ionizantes - Assim, a prevenção primária de anomalias
- consumo de fármacos, drogas, cigarros, álcool, congênitas aparece como um problema
teratógenos emergente em nosso meio para a melhoria das
- anomalias cromossômicas condições de saúde, eis a importância de políticas
- diabetes e obesidade materna públicas.
- infecções maternas (sífilis, rubéola, varicela,
etc) Situação Mundial
- consanguinidade - Meados do século XX: começam a surgir ideias
dos efeitos;
Os Defeitos Congênitos (DC) e a Saúde Pública: - 1941: Síndrome de rubéola congênita → fez cair
- os DC’s e/ou condições genéticas graves são a ideia de barreira placentária impermeável;
um importante problema de saúde nos países em - 1960: Talidomida → advento da focomegalia (a
desenvolvimento focomegalia acomete os membros);
- OMS: 95% das 7,6 milhões de crianças -1966: Sistema Canadense de Anomalias
apresentando estas condições está em países em Congênitas;
desenvolvimento - 1979: Eurocat (rede de registros populacionais
- no Brasil, em 2005, “malformações congênitas, para a vigilância epidemiológica de anomalias
deformidades e anomalias cromossômicas”, congênitas);
representava a 3ª causa de morte (16,3%) no - 1980: Programa de doenças hereditárias
primeiro ano de vida (prevenção e controle de distúrbios monogênicos
● 7,1% no triênio 1985-1987 e doenças complexas comuns do adulto, e
● 11,% em 1995-1997 prevenção das anomalias congênitas);
- Quanto melhores forem as políticas públicas - 1995: Human Programs Genetic (aspectos
em saúde, menores serão as taxas de mortalidade éticos).
para doenças evitáveis e maiores serão as taxas
de mortalidade por DC. No Brasil
SINASC
A Genética Médica no Brasil: - 1990: Sistema de Informações sobre Nascidos
- 60 anos após- DNA Vivos (SINASC) →coleta de dados sobre
- O impacto das doenças genéticas e defeitos características da mãe, da gestação e do
congênitos no Brasil e em países emergentes; recém-nascido;
- 2000: campo 34 referente a “Malformações
Os números das DC no Brasil Congênitas e/ou Anomalia Cromossômica”;
- nascidos por ano: 3.000.000 - Estabelece-se bases para a observação
- graves anomalias congênitas: 57,2/1.000 permanente da prevalência ao nascimento de DC
● AD: 7.0 (tipo específico, unidade geográfica e período)
● AR: 3.9 →sistema de vigilância epidemiológica de base
● XL: 1.3 populacional.
● cromossômicos : 3.6 ECLAMC
● malformações congênitas: 37 - 1967 na América Latina: Estudo Colaborativo
- Estima-se que 50%-70% das anomalias Latino Americano de Malformações Congênitas
congênitas são preveníveis ou aliviadas. (ECLAMC);
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- Fonte de informação para a vigilância O Programa de Triagem Neonatal é dividido em


epidemiológica em DC e representa uma base de três fases:
dados epidemiológicos de qualidade; - 1ª fase: realiza o teste para hipotireoidismo e
- 2004: rede de 100 hospitais, 16 desdes no fenilcetonúria;
Brasil constituindo uma cobertura de - 2ª: fase 1 + hemoglobinopatias (doença
aproximadamente 1% dos nascimentos do país; falciforme);
- Atualmente, são 120 hospitais, 32 destes no - 3ª: fase 1 + fase 2 + fibroses cística
Brasil;
- Importante destacar a cobertura reduzida deste Política Nacional de Atenção Integral em Genétic
estudo, que atinge cerca 2% dos nascimentos do Clínica no SUS:
país, assim como o fato de que as informações - Portaria 81, de 20 de janeiro de 2009 (política
geradas são de base hospitalar, e não não muito efetiva):
populacional. ● Organizar uma linha de cuidados integrais
(promoção, prevenção, tratamento e
Ações governamentais positivas: reabilitação);
- Erradicação da rubéola ● Identificar determinantes e
- Triagem neonatal condicionantes da anomalias congênitas e
- Fortificação da farinha com ácido fólico doenças geneticamente determinadas;
- Registro dos defeitos congênitos ● Definir critérios técnicos mínimos para o
-Aumento dos investimento em pesquisa: funcionamento, o monitoramento e a
chamadas PPSUS e CNPq avaliação dos serviços que realizam os
- Aumento do controle de prescrição de drogas procedimentos e técnicas em genética
clínica;
Triagem Neonatal ● Incentivar a realização de pesquisas e
Teste do Pezinho projetos estratégicos;
- Anemia falciforme ● Qualificar a assistência e promover a
- Hipotireidismo congênito educação permanente dos profissionais de
- Fenilcetonúria saúde envolvidos.
- Fibrose cística
- Deficiência de biotinidase Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas
- Hiperplasia adrenal congênita com Doenças Raras:
- Portaria 199, de 30 de janeiro de 2014 (*)
Teste da orelhinha: detectar deficiência auditiva - Habilita serviços de atenção especializada ou de
no nascimento. referência em DR
- OMS define: 65:100.000 habitantes
Teste do olhinho - Doenças raras genéticas e não genéticas
- Catarata congênita - 80% das doenças raras são genéticas
- Retinoblastoma - Incorporou 16 novos procedimentos no SUS
(biologia molecular, citogenética molecular,
Teste do coração: alterações neste teste podem imunoensaios e aconselhamento genético)
sugerir doenças cardíacas. - Portaria de maior abrangência, se conseguiu a
implementação em diversos estados. Alagoas
ainda está em processo de implantação.
- Procedimentos:
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● Focalização isoelétrica da transferrina; - 2001: procedimentos para tratamento de


● Análise de DNA pela técnica de Southern osteogênese
Blot; - 2002: procedimentos para tratamento de
● Análise de DNA por MLPA; autismo
● Identificação de mutação/rearranjos por -2005: doença falciforme e outras
PCR, PCR sensível a metilação, qPCR e hemoglobinopatias
qPCR sensível à metilação; - 2008: campanha de vacinação para mulheres
● FISH em metáfase ou núcleo interfásico, contra rubéola
por doença;
● Identificação de Alteração Cromossômica Outras iniciativas:
Submicroscópica por Array-CGH; - 1967: ECLAMC
● Identificação de mutação por - 1990: Serviço de Informações sobre Agentes
sequenciamento por amplicon até 500 Teratogênicos → SIAT HCPA-UFRGS
pares de bases; - Outros SIAT: Bahia, Ceará, Rio de Janeiro e São
● Identificação de glicosaminoglicanos Paulo
urinários por cromatografia em camada - 2001: Serviço de Informações sobre Erros
delgada, eletroforese e dosagem Inatos do Metabolismo → SIEM HCPA-UFRGS
quantitativa;
● Identificação de oligossacarídeos e March of Dimes
sialossacarídeos por cromatografia - é uma fundação americana sem fins lucrativos
(camada delgada); - promove a saúde de mães e bebês
● Dosagem quantitativa de carnitina, perfil - fundada em 1938, pelo Presidente Franklin
de acilcarnitinas; Roosevelt, para combater a poliomielite
● Dosagem quantitativa de aminoácidos;
● Dosagem quantitativa de ácidos Defeitos Congênitos - prioridades:
orgânicos; - Educação: “educar a comunidade, profissionais
● Ensaios enzimáticos no plasma e e trabalhadores de saúde, formuladores de
leucócitos para diagnóstico de erros políticas, mídia e outras partes interessadas
inatos do metabolismo; sobre defeitos congênitos e as oportunidades
● Ensaios enzimáticos em eritrócitos para para cuidados e prevenção eficazes.”
diagnóstico de erros inatos do - Descriminação do aborto: “promover o
metabolismo; planejamento familiar, permitindo aos casais
● Ensaios enzimáticos em tecido cultivado espaçar as gestações, planejar o tamanho da
para diagnóstico de erros inatos do família, definir as idades em que desejam
metabolismo; completar a família e reduzir a proporção de
● Aconselhamento genético. gestações indesejadas.”
- Educação e treinamento de profissionais da
Outras Políticas Públicas: saúde: capacitar médicos, enfermeiros,
- protocolo clínico e diretrizes terapêuticas: hoje profissionais de saúde e trabalhadores afins nos
36 PCDT par DR fundamentos do reconhecimento de causas e
- Portaria 1278/1999: Implante Coclear (em cuidados de crianças com defeito de nascença.
revisão) Realizar exames físicos de todos os
- Portaria 62/1994 e 78/2010: habilita hospitais recém-nascidos por um médico, enfermeiro ou
para tratamento de fenda labiopalatinas profissional de saúde aliado treinado para
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reconhecer defeitos congênitos antes da alta


hospitalar ou clínica. Estabelecer capacidade
nacional de vigilância e monitoramento de
defeitos congênitos comuns para informar as
políticas e permitir uma avaliação mais robusta
das intervenções nacionais, como a fortificação
do suprimento de alimentos com ácido fólico.
- Inclusão da genética no SUS: estabelecer
serviços de saúde infantil apropriados para
cuidar de bebês com defeitos congênitos
- Financiamento: promover organizações de apoio
leigo, incluindo grupos de apoio a pacientes/pais,
para melhorar o atendimento ao paciente e a
prevenção de defeitos congênitos, facilitando a
educação comunitária e profissional e
defendendo o aumento do financiamento para
pesquisas sobre as causas dos defeitos
congênitos.

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