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Doenças genéticas

Módulo I - Mucopolissacaridose

FORMADORA: Patrícia B.

Agosto 2015
CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

Módulo I – Mucopolissacaridose (20 min)

o Tipos de doenças ou distúrbios genéticos:

o Cromossómica;

o Monogénica;

o Poligénica;

o O que é a Mucopolissacaridose?;

o Herança da Mucopolissacaridose:

o Autossómica recessiva;

o Ligada ao cromossoma X;

o O que causa a Mucopolissacaridose?

o Diagnóstico;

o Manifestações físicas gerais;

o Tratamentos específicos:

o Terapia de reposição enzimática;

o Transplante de fibroblastos;

o Transplante de medula óssea;

o Terapia génica.

Módulo II – Síndrome de Down (60 min)

o O que é a Síndrome de Down?;

o Herança da Síndrome de Down;

o O que causa a Síndrome de Down?

o Diagnóstico;

o Manifestações físicas gerais;

o Tratamentos específicos.

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Módulo III – Síndrome de Patau (60 min)

o O que é a Síndrome de Patau?;

o Herança da Síndrome de Patau;

o O que causa a Síndrome de Patau?

o Diagnóstico;

o Manifestações físicas gerais;

o Tratamentos específicos.

Módulo IV – Síndrome de Edward (60 min)

o O que é a Síndrome de Edward;

o Herança da Síndrome de Edward;

o O que causa a Síndrome de Edward?

o Diagnóstico;

o Manifestações físicas gerais;

o Tratamentos específicos.

Módulo V – Alzheimer (60 min)

o O que é a Alzheimer;

o Herança da Alzheimer:

o O que causa a Alzheimer?

o Diagnóstico;

o Manifestações físicas gerais;

o Tratamentos específicos.

Módulo VI – Anemia falciforme (60 min)

o O que é a Anemia falciforme?;

o Herança da Anemia falciforme:

o O que causa a Anemia falciforme?

o Diagnóstico;

o Manifestações físicas gerais;

o Tratamentos específicos.

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Módulo I - Mucopolissacaridose

OBJECTIVOS GERAIS

Pretende-se que cada formando(a), no final do módulo, seja capaz de:

o Entender o que são doenças genéticas;

o Conhecer os três tipos de doenças e distúrbios genéticos;

o Identificar a Mucopolissacaridose como uma doença rara e hereditária, e os tipos de herança;

o Identificar o acúmulo de Glicosaminoglicanos, devido à ausência de uma ou mais enzimas como


a causa da doença;

o Identificar a triagem urinária como essencial para a identificação da doença;

o Saber que a Mucopolissacaridose se divide em 6 tipos;

o Reconhecer as principais manifestações físicas gerais dos doentes;

o Identificar os principais tratamentos aplicados aos pacientes.

Objetivos específicos

No final do Modulo I – Mucopolissacaridose, os formandos, que o concluam com uma taxa de êxito
superior a 50%, deverão ser capazes, sem recurso ao manual, de:

o Reconhecer as caraterísticas das doenças genéticas;

o Corresponder o tipo a síndrome da Mucopolissacaridose com a herança que lhe está associada.

o Reconhecer a existência de um diagnóstico pré-natal;

o Identificar a causa da Mucopolissacaridose;

o Reconhecer o seu envolvimento multissistémico;

o Citar, no mínimo, 3 manifestações físicas de pacientes MPS, com recurso a imagens.

Orientações metodológicas e avaliação

Formação essencialmente expositiva, para apresentação de conceitos teóricos do tema.


Recurso ao método interrogativo e ativo para o estudo de um caso.

A avaliação será formativa, por observação direta, e sumativa, no final de cada módulo.

Avaliação dos conhecimentos:


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 Durante a ação, o formador recorrerá a atividades de avaliação formativa como forma de
regulação da aprendizagem, com cotação final de 20%.

 No final do módulo, o formador realizará uma avaliação sumativa através de teste escrito,
para obter, desta forma, uma noção mais específica dos conhecimentos adquiridos por
cada formando, com cotação final de 80%.

Finalidade

A formação de Doenças Genéticas será direcionada para formando na área da Biologia.

Destinatários

 Maiores de 18 anos com formação na área da biologia, que não tenham qualificação inferior
a 12º ano.
CARGA HORÁRIA
20 MINUTOS

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Índice

Introdução …………………………………………………………………………………………………. 7
1. Principais doenças e distúrbios genéticos ……………………………………………………. 8
1.1. Cromossómicas ………………………………………………………………………… 8
1.2. Monogénicas ……………………………………………………………………………. 8
1.2.1. Monogénica autossómica recessiva ……………………………..…………………... 9
1.2.2. Monogénica autossómica dominante ………………………………………………… 9
1.3. Poligénicas ……………………………………………………………………………… 10
2. Mucopolissacaridose …………………………………………………………………………….. 10
3. Herança ……………………………………………………………………………………………. 11
3.1. Herança da MPS: Autossómica recessiva …………………………………………… 12
3.2. Herança da Síndrome de Hunter: ligada ao cromossoma X ………………………. 13
4. O que causa a mucopolissacaridose? …………………………………………………………. 14
5. Diagnóstico ……………………………………………………………………………………….. 15
5.1. MPS I – Síndrome de Hurler, Scheie e Hurler/Scheie ……………………………… 15
5.2. MPS II – Síndrome de Hunter …………………………………………………………. 16
5.3. MPS III – Síndrome de Sanfilippo (tipos A, B, C, D) ………………………………… 16
5.4. MPS IV – Síndrome de Morquio ………………………………………………………. 16
5.5. MPS VI – Síndrome de Maroteaux-Lamy …………………………………………….. 16
5.6. MPS VII – Síndrome de Sly ……………………………………………………………. 17
6. Manifestações físicas gerais ………………………………………………………………….… 18
7. Tratamentos específicos .....…………………………………………………………………….. 19
7.1. Terapia de reposição enzimática ……………………………………………………… 19
7.2. Transplante de fibroblastos ……………………………………………………………. 19
7.3. Transplante de medula óssea …………………………………………………………. 19
7.4. Terapia génica …………………………………………………………………………… 19
Síntese ………………………………………………………………………………………………………. 20
Referências bibliográficas …………………………………………………………………………………. 21

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Introdução

As doenças genéticas são também conhecidas como doenças hereditárias, são aquelas
transmitidas de pais para filhos, ou seja, de geração para geração. Os genes defeituosos passam dos
pais para os filhos e podem gerar determinadas doenças ou distúrbios. Devem lembrar-se que nem
sempre um gene defeituoso é transmitido de pai para filho. Logo, um pai ou mãe com uma doença ou
distúrbio genético poderá ou não transmitir para seu filho.
Os genes são unidades hereditárias que contêm a informação para a produção de substâncias
bioquímicas especificas na célula. Determinam a nossa constituição biológica. São eles que nos tornam
parecidos com os nossos progenitores e controlam o nosso crescimento e aparência.
Devido à sua raridade, gravidade e diversidade, as doenças genéticas constituem um
importante problema de saúde pública, se bem que sem o adequado reconhecimento social. Estima-
se que cerca de 5 por cento da população europeia esteja afetada de uma doença genética o que, em
Portugal, significa mais de 500 mil pessoas.
Tipicamente, a abordagem passa pela avaliação da magnitude do problema na população
residente, pela caracterização da sua arquitetura etiológica (cromossómica, bioquímica ou genómica)
e pela elucidação das respetivas vias fisiopatológicas. Desta abordagem descritiva/interpretativa
resultam frequentemente novas intervenções a nível de rastreio, diagnóstico, prognóstico e/ou
prevenção da patologia em causa.

Abreviaturas:

MPS – Mucopolissacaridose

GAGs - Glicosaminoglicanos

7
1. Principais doenças e distúrbios genéticos

1.1. Cromossómicas

Essas doenças são consequências de alterações cromossômicas do tipo numéricas (quando


há mais ou menos cromossomos que o normal) ou do tipo estrutural. Daqui advém as trissomias. Os
humanos possuem 46 cromossomos organizados em 23 pares. Porém, alguns erros de natureza génica
podem gerar indivíduos com um cromossoma a mais, onde deveria apenas conter um par. Partindo
desse pressuposto, o indivíduo possui 47 cromossomos e é portador de algum tipo de trissomia.
Esse fenômeno é atribuído à idade avançada em que ocorre a gravidez: quanto mais tarde,
maior a probabilidade de acontecer a trissomia. A trissomia pode acontecer no cromossomo 21, 18, 13
e nos cromossomos sexuais.
Cada tipo de trissomia resulta numa doença genética diferente, respetivamente:

⇒ Síndrome de Down;

⇒ Síndrome de Edward;

⇒ Síndrome de Patau;

Trissomias com cromossomas sexuais:

⇒ Síndrome de Klinefelter (XXY);

⇒ Síndrome do XYY;

⇒ Síndrome do Triplo X (XXX)

Imagem 1: Informação genética de uma


paciente com Trissomia 21

1.2. Monogénicas

Também conhecidas como Mendelianas, as doenças genéticas monogênicas são assim


chamadas porque alguma mutação ocorre na sequência do ADN de um único gene.
Isso causa uma espécie de anomalia génica permanente e que é transmitida geneticamente,
segundo as leis de Mendel.

1.2.1. Monogénica autossómica recessiva:


8
⇒ Autossómica recessiva (aa): para ser portador dessa doença, a pessoa deve herdar dois
genes recessivos dos pais, que podem ser portadores do gene, mas não necessariamente manifestar
a doença.

1.2.2. Monogénica autossómica dominante

⇒ Autossómica dominante (Aa ou AA): nesse caso, para manifestar a doença, só é preciso
herdar um gene que a determine.

Algumas vezes, apenas um dos genitores apresenta os sintomas da doença, mas se os dois
forem portadores, a probabilidade do descendente ter um filho portador é muito grande
As doenças mais conhecidas causadas por esse tipo de mutação são:

⇒Anemia falciforme; ⇒Hemofilia;

⇒Mucopolissacaridose; ⇒Fenilcetonúria;

⇒Distrofia muscular de Duchene

1.3. Poligénicas
9
São chamadas multifatoriais ou poligénicas, as doenças genéticas que acontecem por
intermédio de diversos fatores ambientais e algumas mutações em alguns genes e em diferentes
cromossomas.
Trata-se de doenças que podem se manifestar em qualquer época da vida. Algumas como
o mal de Alzheimer, que aparece na velhice, mas todas têm uma motivação genética para aparecer.
São doenças genéticas multifatoriais ou poligênicas:
⇒ Mal de Alzheimer;
⇒ Diabetes mellitus;
⇒ Pressão Alta;

2. Mucopolissacaridose

As mucopolissacaridoses – ou MPS – são enfermidades metabólicas hereditárias e raras


provocadas por disfunções no metabolismo que causam o funcionamento inadequado de determinadas
enzimas, responsáveis por importantes reações químicas do corpo humano. As enzimas ajudam a
manter-nos vivos e saudáveis, sendo que qualquer problema no funcionamento destas provoca uma
série de danos.
Estas doenças metabólicas fazem parte de um grupo chamado de Doenças de Depósito
Lisossomal. O lisossoma é um dos organelos que existem dentro de cada célula do corpo humano.
Dentro de cada lisossoma existem cerca de 300 enzimas que atuam na digestão de cada substância
diferente que se encontra no organismo. Esta pequena estrutura possui como principal função a
digestão intracelular, ou seja, transforma moléculas grandes em moléculas pequenas, para que possam
ser utilizadas. Caso alguma substância não esteja a ser digerida, acabará acumulando. Com isto a
célula aumenta em tamanho, tal como os órgãos e os tecidos que possuem lisossomas. Assim sendo,
causam uma variedade de problemas de desenvolvimento, resultando, muitas vezes, em sérios
problemas mentais e de crescimento na infância.

3. Herança
10
A palavra herança quer dizer aquilo que recebemos dos nossos antecessores, normalmente os
pais. Aqui trata-se um pouco de como herdamos as caraterísticas dos nossos pais e como as passamos
para os nossos filhos. Quando a maioria das pessoas pensa numa doença genética, ou hereditária,
pensa num problema de saúde que passa do pai ou da mãe para o filho e assim adiante.
Como vimos anteriormente, a MPS é uma doença monogénica, dentro dessas enquadra-se
nas monogénicas autossómicas recessivas. Neste caso é preciso que ambos os pais são portadores
do gene que provoca a doença.
Os seres humanos possuem 46 cromossomas organizados aos pares em cada célula, num
total de 23 pares. Destes, 22 pares chamam-se cromossomas somáticos. O par restante é conhecido
como par de cromossomos sexuais, já que carregam a informação que determina o sexo da criança.
Em situações normais todas as mulheres terão os dois cromossomas X (XX) e os homens terão um X
e um Y (XY).

Nós herdamos um conjunto completo de cromossomas de cada um dos nossos pais, 22


cromossomas somáticos e um cromossoma X da nossa mãe e um cromossoma X ou Y do nosso pai.
Se for um cromossoma X, o bebé será uma menina, caso seja um cromossoma Y, o bebé será um
menino.

3.1. Herança da MPS: Autossómica recessiva


11
A maioria das MPS (com exceção da síndrome de Hunter, MPS II) resultam de um problema
num gene encontrada num dos 22 pares de cromossomas somáticos. E são caraterísticas
determinadas por genes recessivos, portanto, devem estar nos dois alelos para que a pessoa manifeste
a doença. Se dois portadores tiverem filhos, as possíveis consequências serão as seguintes:

O sexo dos filhos não interfere na distribuição da doença. A probabilidade de ter uma criança
não afetada e que não seja portadora é de ¼ ou 25%. A probabilidade de ter uma criança não afetada
e portadora é 2/4 ou 50%. A probabilidade de ter uma criança afetada é de ¼ ou 25%.
Esta representação é apenas estatística, uma família pode ter 4 filhos sem crianças afetadas,
enquanto outra pode ter quatro filhos todos com a doença.

3.2. Herança da Síndrome de Hunter: ligada ao cromossoma X

12
O gene para a enzima que esta em défice na MPS II, ao contrário das outras MPS, está
associado ao cromossoma sexual X, o que significa que o padrão de herança é diferente do
anteriormente descrito.
Como as meninas herdam dois cromossomas X, tanto do pai como da mãe, caso um deles
esteja afetado ela ainda terá a informação genética correta no outro. As meninas, com raras exceções,
não sofrem da doença, mas podem ser portadoras.
Os meninos, como recebem sempre um cromossoma Y do pai, caso o cromossoma X que
recebem da mãe esteja afetado, ele não terá nenhuma cópia do gene com a informação correta para
produzir a enzima e sofrerá da doença.
Algumas vezes o defeito no gene ocorre pela primeira vez numa criança com Hunter (uma
mutação nova) e a mãe não é portadora. Neste caso a doença não ocorrerá novamente na família, a
menos que a pessoa com Hunter tenha filhos.
Uma mulher que é portadora pode passar o gene defeituoso para os seus filhos,
independentemente dos genes do seu companheiro.

Caso o bebé seja uma menina, a probabilidade de ser portadora é de ½ ou 50%, mas em
nenhum destes casos a menina terá a doença. Se o bebé for um menino, a probabilidade de ser afetado
pela doença é também de ½ ou 50%, neste caso os outros 50% nem serão portadores da doença.

4. O que causa a mucopolissacaridose?

13
As mucopolissacaridoses são doenças nas quais há deficiência ou falta de enzimas capazes
de digerir substâncias chamadas de mucopolissacarídeos, sendo que daí vem o nome das doenças,
sendo que o nome mais comum, hoje em dia, é glicosaminoglicanos ou GAGs.

Portanto, mucopolissacarídeos são longas cadeias de moléculas de açúcar usadas na


construção dos ossos, cartilagem, pele, tendões e muitos outros tecidos do corpo. Eles fazem parte da
estrutura do corpo e também lhe dão algumas caraterísticas especiais que o fazem funcionar.
As pessoas com MPS apresentam um acúmulo de certos GAGs que vão levar ao quadro clínico
da doença. Apesar de existirem muitos tipos de GAGs, apenas três estão envolvidos nas MPS. Eles
chamam-se dermatan sulfato, heparan sulfato e queratan sulfato, mas nem todos estes se acumulam
em todos os tipos de MPS. No decurso de uma vida normal existe um processo contínuo de construir
novos GAGs e de quebrar os “velhos”, este processo é necessário para manter o corpo saudável. O
processo anterior é efetuado dentro de lisossomas e precisa de uma série de enzimas para ocorrer.
As pessoas com MPS não conseguem produzir ou têm alguma anormalidade numa das
enzimas responsáveis pela quebra dos GAGs. Mesmo que apenas haja deficiência de uma enzima
todo o ciclo é interrompido. O material usado pelo organismo não é quebrado e fica acumulado nos
lisossomas. A velocidade com que os sintomas aparecem, depende da velocidade de acúmulo dos
GAGs, mas é um acúmulo que se mantém durante toda a vida.

5. Diagnóstico

14
Em geral, o diagnóstico de MPS é feito a partir de uma suspeita clinica pela presença de
determinados sintomas, sendo o diagnóstico precoce muito difícil, mas também muito importante. As
manifestações clinicas das MPS irão variar de acordo com a deficiência enzimática específica, embora
existam diferentes fenótipos clínicos para o mesmo defeito enzimático, bem como fenótipos
semelhantes para deficiências enzimáticas diferentes, por isso, são conhecidos seis tipos da doença,
estas são referidas como MPS I – VII ou, mais usualmente pelo nome do médico que descreveu pela
primeira vez a doença. Cada uma conta com a deficiência de uma ou mais enzimas.
Como os sintomas podem ser bastante variados o médico deve realizar uma série de exames
para obter a certeza do caso. No entanto, antes de dar início à leva de exames, deve ser feita uma
cuidadosa análise clínica, assim como deve se ter uma boa conversa com o paciente, para avaliar o
histórico familiar.
A triagem urinária é solicitada para estudar erros inatos do metabolismo. Também costuma
verificar-se a dosagem de GAGs na urina do paciente. Um raio-x do esqueleto e uma polissonografia
são de grande ajuda, assim como devem ser feitas avaliações cardíacas e oftalmológicas. Para a
certeza do diagnóstico o profissional costuma recorrer à dosagem da enzima deficiente ou à análise de
alterações genéticas. Quando o caso for confirmado deve dar-se início imediato ao tratamento.
Caso um casal já tenha um filho com MPS, ou até no caso de um paciente MPS pretender ter
filhos, é possível a realização de um diagnóstico pré natal, numa gestação, para descobrir se o bebé
será afetado. É neste caso importante consultar um médico especializado nesta área, precocemente.

5.1. MPS I – Síndrome de Hurler, Scheie e Hurler/Scheie


A MPS de Tipo I tem o nome de Hurler, que homenageia Gertrud Hurler, a médica que
descreveu a doença, em 1919, em duas crianças, um rapaz e uma rapariga. As crianças mais afetadas,
normalmente, têm a Síndrome de Hurler. É descrita como uma forma grave, na qual há
comprometimento neurológico, os sintomas começam a ser manifestados precocemente, com uma
progressão rápida da doença, evoluindo para o óbito na primeira década de vida.
Um oftalmologista, Dr. Scheie escreveu sobre alguns dos seus pacientes que estavam menos
afetados. Os seus pacientes tinham inteligência normal, ou quase normal, e viviam quase até há idade
adulta. As crianças menos afetadas têm a Síndrome de Scheie, que inicialmente foi classificada como
MPS V, mas pela sintomatologia, e enzima em carência foi associada, mais tarde, à MPS I.
Aqueles pacientes que não encaixavam claramente em nenhuma das síndromes anteriores,
por apresentarem sintomas intermédios entre os dois, diz-se terem a Síndrome Hurler/Scheie.
Tanto na Síndrome de Scheie como no Hurler/Scheie as manifestações clínicas variam, não
há comprometimento do intelecto e a expectativa de vida é maior que 25 anos.

5.2. MPS II – Síndrome de Hunter


A MPS de Tipo II tem o nome de Hunter e é um distúrbio genético grave, progressivo e limitador
da qualidade ou tempo de vida, que afeta principalmente as pessoas do sexo masculino. Tal como
15
enunciado anteriormente, tem uma forma de herança diferente das outras MPS, pessoas do sexo
feminino também poderão ser afetadas pela doença, mas em situações ainda mais raras. Para algumas
pessoas as manifestações físicas incluem caraterísticas faciais típicas, macrocefalia (volume da cabeça
aumentado) e aumento do abdómen.

5.3. MPS III – Síndrome de Sanfilippo (tipos A, B, C, D)


A MPS de Tipo III, com o nome de Sanfilippo, graças ao Dr. Sylvester Sanfilippo, que relatou
os primeiros casos da doença em 1963, divide-se em quatro tipos, devidos às diferentes enzimas que
estão em deficiência, teremos então as seguintes formas: MPS IIIA, MPS IIIB, MPS IIIC e MPS IIID.
Não existem diferenças clinicas significantes entre os diferentes tipos de MPS III, embora o tipo A seja
relatado como sendo o mais frequente e o mais grave. A principal caraterística da MPS III é o
envolvimento neurológico grave e problemas físicos leves. As manifestações clinicas costumam
aparecer entre os 2 e 6 anos de idade.

5.4. MPS IV – Síndrome de Morquio


A MPS de Tipo IV deve o seu nome ao Dr. Morquio, um pediatra uruguaio que, em 1929,
descreveu uma família com quatro crianças afeadas por esta doença. A MPS IV é caraterizada por
baixa estatura, doença óssea grave e inteligência normal. Duas deficiências enzimáticas podem causar
a MPS IV, subdividindo esta síndrome em dois, MPS IV-A e MPS IV-B. A MPS IV-A é a forma mais
comum e foi inicialmente considerada a forma mais grave. Sabe-se, no entanto, que ambas as formas
estão associadas a um amplo espectro de gravidade das manifestações clinicas.

5.5. MPS VI – Síndrome de Maroteaux-Lamy


A MPS de Tipo VI, também conhecida por Síndrome Maroteaux-Lamy, é uma das MPS mais
raras do mundo. O seu nome vem de dois médicos franceses, Dr. Maroteaux e Dr. Lamy, que
descreveram esta condição em 1965.
A criança pode apresentar-se normal ao nascimento mas, paralelamente ao acúmulo de GAGs
surgem deformações progressivas. Os pacientes com MPS VI podem apresentar um largo espetro de
incidências clinicas, desde formas severas que aparecem antes dos 2 anos e com progressão rápida,
até formas intermediárias e leves em que a doença é diagnosticada na adolescência e mesmo na idade
adulta.

5.6. MPS VII – Síndrome de Sly


A MPS de Tipo VII foi descrita pela primeira vez por William Sly em 1973. Foram identificados
três fenótipos distintos de MPS VII: neonatal, precoce e tardio. A forma neonatal é rara e é a forma

16
mais grave caraterizada por hidrópsia fetal, fisionomia grosseira, disostose múltipla,
hepatoesplenomealia e opacidade das córneas. Pode causar o óbito do feto.
Na forma precoce os sintomas podem ter início nos primeiros meses de vida com hérnia
umbilical e inguinal, macrocefalia e deformidade do tórax.
A forma tardia tem início após os 4 anos, evolui com alterações esqueléticas mínimas mas sem
atraso do desenvolvimento ou opacidade da córnea.
MPS Outro nome GAG em excesso Enzima

MPS I Síndrome de Hurler / Scheie Dermatan sulfato e α-L-iduronidase


heparan sulfato

MPS II Síndrome de Hunter Dermatan sulfato e Iduronato sulfatase


heparan sulfato

MPS III A Síndrome de Sanfilippo A Heparan sulfato Heparan N-sulfatase

MPS III B Síndrome de Sanfilippo B α-N-acetilglicosaminidase

MPS III C Síndrome de Sanfilippo C Acetil CoA-α-glicosaminídeo


Acetiltransferase

MPS III D Síndrome de Sanfilippo D N-acetilglicosamina


6-sulfatase

MPS IV A Síndrome de Morquio A Queratan sulfato Galactose-6-sulfatase

MPS IV B Síndrome de Morquio Β-galactosidase

MPS V Não existe

MPS VI Síndrome de Maroteaux- Dermatan sulfato Arilsulfatase B


Lamy
MPS VII Síndrome de Sly Dermatan sulfato e Β-glicuronidase
heparan sulfato
Tabela 1: Principais mucopolissacaridoses

6. Manifestações físicas gerais

O decurso das MPS é crónico e progressivo com envolvimento multissistémico, o qual afeta,
principalmente, o sistema esquelético e cardiopulmonar, a pele, a córnea, o fígado, o baço, o cérebro
e as meninges (membranas que revestem e protegem o sistema nervoso central). Quanto aos
pacientes com MPS podem apresentar face grosseira, pelos grossos, miocardiopatia, hérnia umbilical
17
e ou inguinal, alteração neurológica progressiva, baixo crescimento corporal e facial, síndrome
dismórfica, alteração respiratória, deformações ósseas, enrijecimento das articulações, dificuldades
respiratórias e cardíacas, aumento do fígado, baço e das mucosas em geral.

7. Tratamentos específicos

Dependendo dos sintomas apresentados, é necessário um acompanhamento multidisciplinar


que pode envolver profissionais de várias áreas: geneticista, pediatra, pneumologista,
otorrinolaringologista, oftalmologista, ortopedista, neurologista, fisioterapeuta, dentista, fonoaudiólogo
e psicólogo.

18
Para que tenham uma melhor qualidade de vida é importante que frequentem, desde cedo a
fisioterapia, devido à rigidez das articulações, devendo ser evitados todos os exercícios que lhes
causem dor.

7.1. Terapia de reposição enzimática


Apesar de ainda não ser aplicado em todos os tipos de MPS, o principal foco para tratamento
das MPS é a reposição enzimática, impedindo, assim, o acúmulo de GAGs no organismo. Normalmente
a reposição é feita uma vez por semana, por intravenosa, e espera-se que entre os benefícios estejam
a melhoria da função pulmonar, a redução do tamanho do fígado, a melhoria da mobilidade articular, e
a diminuição da excreção dos GAGs da urina. Em contrapartida parece não ter influência sobre as
manifestações cerebrais da doença.

7.2. Transplante de fibroblastos


Embora venha sendo praticado por alguns grupos com o objetivo de introduzir nos pacientes
células com capacidade de produzir a enzima deficiente, não existem até agora evidências de que este
tipo de tratamento traga algum benefício aos pacientes com MPS.

7.3. Transplante de medula óssea


O transplante de medula óssea tem sido usado no tratamento de crianças com alguns dos
síndromes de MPS, preferencialmente até aos dois anos de idade. É o tratamento preferencial quando
o paciente tem menos de dois anos de idade, porque se encontra em boas condições clinicas e tem a
inteligência preservada. O TMO parece ter efeito benéfico nas manifestações cerebrais em alguns tipos
de MPS, mas sem sucesso em outros tipos.

7.4. Terapia génica


Os estudos de terapia génica para todos os tipos de MPS ainda estão em fase inicial, tendo
sido apenas realizados em animais. Todos acreditam que este tipo de terapia possa, no futuro, trazer
imensos benefícios aos pacientes com MPS.

Síntese
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 As doenças genéticas são hereditárias, assim sendo, podem ser transmitidas de pais para
filhos;
 As doenças e distúrbios genéticos podem ser classificados em três tipos:
o Cromossómicas;
o Monogénicas;
o Poligénicas;
 A MPS é uma doença rara, chamada de Doença de Depósito lisossomal, devido à deficiência
de uma enzima;
 Existem dois tipos de herança que podem ocorrer:
o Autossómica recessiva – MPS I, III -VII;
o Ligada ao cromossoma X – na MPS Tipo II;
 A doença é causada pelo acúmulo de mucopolissacarídeos;
 O diagnóstico é feito através de vários exames, sendo a triagem urinária essencial;
 Existem 6 tipos de MPS, classificadas de I a VII, não existindo a Tipo V;
 As MPS tem envolvimento multissistémico e afeta, principalmente, o sistema esquelético e
cardiopulmonar;
 Os pacientes MPS devem ter um acompanhamento multidisciplinar com vários profissionais de
saúde;
 Para melhor qualidade de vida e para evitar evolução das limitações devem ser indivíduos
ativos e fazer fisioterapia;
 O principal foco para tratamento das MPS é a terapia de reposição enzimática.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
20
 Guedes ZC. Alterações oromiofuncionais em síndromes. In: Ferreira LP, Befi-Lopes DM,
Limongi SC, organizadoras. Tratado de fonoaudiologia. São Paulo: Roca; 2004. p. 254-60.

 Albano LM, Sugayama SS, Bertola DR, Andrade CE, Utagawa CY, Puppi F, et al. Clinical and
laboratorial study of 19 cases of mucopolysaccharidoses. Rev Hosp Clin Fac Med Univ São
Paulo. 2000;55(6):213-8.

 Isbrandt D, ArltG, Brooks DA, et al. Mucopolysaccharidosis VI (Maroteaux-Lamy Syndrome):


six unique arylsulfatase B gene alleles causing variable disease phenotypes. Am Hum Genet
1994;54:354-463.

 Neufeld EF, Muenzer J. The mucopolysaccharidoses. In: Scoriner CR, Beaudet AL, Sly WS,
Valle D. The metabolic and molecular bases of inherited disease 1995; 2465-94. 15: 142.

 http://www.saudemedicina.com/mucopolissacaridose/

 http://www.todabiologia.com/genetica/doencas_geneticas.htm

 http://www.infoescola.com/doencas/sindrome-de-hurler/

 http://doencas-geneticas.info/

 www.hunterpatients.com.br

21

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