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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 00ª VARA DE FAMÍLIA

DA CIDADE.

Ação de Reconhecimento de União Estável


Proc. nº. 44556.11.8.2018.99.0001
Autor: JOANA DAS QUANTAS e outra
Réu: JOÃO DE TAL

Intermediadas por seu mandatário ao final firmado,


causídico inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil, Seção do Estado, sob o nº.
112233, comparecem as Autoras para, na forma do art. 364, § 2º, da Legislação Adjetiva
Civil, oferecer, no prazo fixado por Vossa Excelência, os presentes

MEMORIAIS,
onde há, nesses, apreciação ao quadro fático e probatório inserto na querela aforada
contra JOÃO DE TAL, o qual qualificado na peça exordial desta querela, consoante
abaixo delineado.

1
1 – SÍNTESE DOS FATOS
A Autora conviveu maritalmente com o Réu no período
compreendido de 00/11/2222 a 33/00/1111, sob o ângulo jurídico de união estável,
período esse que colaborou firmemente na formação do patrimônio do casal.

Da união nasceu a menor Karoline das Quantas, atualmente


com 8 anos de idade, registrada em nome do casal, cuja certidão de nascimento dormita
com a peça inaugural.

Ao contrário do quanto asseverado na defesa, em verdade a


Promovente e o Réu se conheceram nos idos de 00/11/2222. Meses depois, iniciaram o
relacionamento.

Sempre mantiveram um convívio de união estável, como se


casados fossem, com afetividade mútua, demonstrando estabilidade no relacionamento
e com propósito de uma vida em comum. Amolda-se ao que registra a Legislação
Substantiva Civil.(CC, art. 1.723, caput)

Assim, frequentaram, durante anos, a ambientes públicos,


com passeios juntos e, maiormente, assim mostrando-se ao círculo de amizades e
profissional, o que se destaca das fotos anexas com a exordial. (fls. 67/74)

Não bastasse isso, são os únicos sócios da empresa Xispa


Fictícia Ltda, o que se observa do contrato social pertinente, de fls. 37/44.
31
Nessa empresa, todos os empregados têm conhecimento da
união entre ambos, sendo a Autora reconhecida por aqueles como “esposa” do Réu,
como se efetivamente casados.

O plano de saúde da Autora e de sua filha sempre foi


custeado pelo Réu, inclusive lançando-os em sua declaração de imposto de renda.

Ademais, em todas as festas de aniversário da filha do casal


o Réu se apresentou na qualidade de “ marido” da Autora. Com esse enfoque, foram
carreadas inúmeras fotos (apenas para exemplificar) do aniversário da menor, quando
completara 5 anos de idade (fls. 76/83), em que o Réu, por inúmeras vezes, aparece
junto com mãe e filha.

Outrossim, todas as correspondências destinadas à Autora


sempre foram direcionadas ao endereço de convivência mútua do casal, consoante
prova antes fixada. (fls. 89/97)

Mais acentuadamente neste último ano, o Réu passou a


ingerir bebidas alcoólicas com frequência ( embriaguez habitual) e, por conta disso, os
conflitos entre o casal se tornaram contumazes. Preocupou mais a Autora, porquanto
todas essas constantes e desmotivadas agressões foram, em regra, presenciada pela
filha menor e, mais, por toda vizinhança.

31
As agressões de início eram verbais, com xingamentos e
palavras de baixo calão direcionado à Autora. Nos últimos meses, entrementes,
usualmente esse, por vezes embriagado, passou a agredir fisicamente a Autora. E isso
restou demonstrado com o Boletim de Ocorrência que repousa às fls. 44. Na ocasião
narrada, o Réu desferiu um soco contra o rosto da mesma, agressão essa que lhe
deixou sequelas.

Temendo por sua integridade física e, mais, caracterizada a


inviabilidade da vida em comum, assim como a ruptura pelo Promovido dos deveres de
lealdade, respeito e assistência , a Autora tivera que sair da residência em 00/11/2222,
pondo fim ao relacionamento.

De outro turno, dormita às fls. 99/107 a defesa do


Promovido. Nessa, levantam-se fatos e fundamentos jurídicos contrários à pretensão
das Autoras.

Em síntese, a essência da defesa se pautou a sustentar


que:

( i ) A hipótese fática levada a efeito com a exordial não evidencia relação de


união estável, razão qual diz ser indevida a pretensão das Autoras;

( ii ) sustentou que é inaceitável que a guarda da menor fique com a mãe,


também Autora, porquanto não reúne as condições necessárias para tal
desiderato;
31
( iii ) defendeu ainda que os alimentos provisórios mostram-se incabíveis,
maiormente porquanto a mãe da infante detém capacidade de trabalho.
Outrossim, refuta o montante financeiro pleiteado;

( iv ) pediu, por fim, a condenação das Autoras no ônus da sucumbência.

Com efeito, nas presentes linhas finais defendemos que é de toda


pertinência o acolhimento das pretensões fixadas pelas Autoras.

2 – PROVAS INSERTAS NOS AUTOS


2.1. Depoimento pessoal do Réu

É de se destacar o depoimento pessoal do Réu, o qual dormita à


fl. 103.
Indagado acerca do relacionamento com a Autora, o Promovido
respondeu que:

“Que, de fato comemorou alguns aniversários da filha na casa da Autora; Que, a Autora
é sócia da empresa do mesmo; Que, não nega ter pago algumas contas da Autora; “

2.2. Prova testemunhal

A testemunha Francisca das Quantas, arrolada pela Autora, a


qual também era próxima ao Réu, assim se manifestou (fl. 109):
31
“Que, para ela é indiscutível que Autora e Réu são conhecidos na cidade como
casados; Que, raramente viu o Réu com outra mulher, somente a Autora;

2.3. Prova pericial

Dormita às fls. 99/102, o laudo pericial realizado pelo Instituto de


Criminalista. A conclusão do laudo foi que os documentos, apresentados pela Autora, são
autênticos, inexistindo quaisquer indícios de adulteração.

3 – NO ÂMAGO DO DEBATE

3.1. DA PROVA DA CONVIVÊNCIA MARITAL

A Autora conviveu maritalmente com o Réu no período


compreendido de 00/11/2222 a 33/00/1111, sob o ângulo jurídico de união estável, período
esse que colaborou firmemente na formação do patrimônio do casal.

Ao invés do quanto asseverado na defesa, em verdade a


Promovente e o Réu conheceram-se nos idos de 00/11/2222, quando, meses depois, iniciaram
o relacionamento. Sempre mantiveram um convívio de união estável, como se casados fossem,
com afetividade mútua, demonstrando estabilidade no relacionamento e com propósito de uma
vida em comum. Amolda-se ao que registra a Legislação Substantiva Civil.( CC, art. 1.723,
caput)

3.2. DO DIREITO AOS BENS EM COMUM


31
(CC, art. 1.725)

É inescusável que, conquanto por meio de prova sumária


dos fatos ora levados a efeito, Autora e Réu viveram sob o regime de união estável. É
dizer, um indiscutível affectio maritalis.

No mais, em que pese a legislação não exigir qualquer período


mínimo de convivência, verifica-se que essa fora estável, com duração prolongada por quase
uma década de relacionamento, período efetivamente comprometido para a estabilidade
familiar.

Nesse compasso, seguindo as mesmas disposições atinentes ao


casamento, da união estável em relevo resulta que a Autora faz jus à meação dos bens
adquiridos na constância da relação, presumidamente adquiridos por esforço em comum.

Com esse entendimento, urge transcrever alguns arestos:

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO


DE UNIÃO ESTÁVEL. PROCEDÊNCIA. RECURSO DE APELAÇÃO. PRESENÇA DOS
REQUISITOS CARACTERIZADORES DA UNIÃO ESTÁVEL. INTELECÇÃO DO ART.
1.723 CC. RECURSO A QUE SE NEGA PROVIMENTO. À UNANIMIDADE.
1. A união estável tratada na Constituição Federal, bem como na legislação
infraconstitucional, não é qualquer união com certa duração existente entre
duas pessoas, mas somente aquela com a finalidade de constituir família.
Trata-se de união qualificada por estabilidade e propósito familiar, decorrente
de mútua vontade dos conviventes, demonstrada por atitudes e
31
comportamentos que se exteriorizam, com projeção no meio social. 2.
Apelação interposta com o fito de reformar a decisão que reconheceu a união
estável, por entender suficientes as provas colacionadas nos autos. 3.
Conjunto probatório carreado nos autos, no sentido de que há prova concreta
e insofismável por documentos ou outros indícios de que houve uma união
duradoura, contínua, pública, e com o propósito de constituição familiar. 4.
Apelação cível que se nega provimento. (TJPE; APL 0024062-
37.2012.8.17.0810; Rel. Des. Stênio José de Sousa Neiva Coêlho; Julg.
14/03/2018; DJEPE 26/03/2018)

AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL.


PROCEDÊNCIA PARCIAL DO PEDIDO. UNIÃO ESTÁVEL RECONHECIDA.
PARTILHA DE BENS. DETERMINAÇÃO DE PARTILHA DE VEÍCULO DE
PROPRIEDADE DO AUTOR. APELAÇÃO DO PROMOVENTE. AUTOMÓVEL
SUPOSTAMENTE ADQUIRIDO EM SUBSTITUIÇÃO A UM ANTERIOR. AUSÊNCIA
DE COMPROVAÇÃO NESSE SENTIDO. BEM COMPRADO DURANTE A VIGÊNCIA
DA RELAÇÃO, QUE DEVE CONSTAR DA PARTILHA. APELO DESPROVIDO.
APELO ADESIVO DA PROMOVIDA. APARTAMENTO EM NOME DO AUTOR.
CONTRATO DE FINANCIAMENTO DO IMÓVEL SUBSCRITO NA VIGÊNCIA DA
CONVIVÊNCIA MARITAL. CONTRIBUIÇÃO DE CADA CONVIVENTE.
DESNECESSIDADE DE AFERIÇÃO. PRESUNÇÃO DE ESFORÇO COMUM. IMÓVEL
A SER PARTILHADO. PLEITO DE FIXAÇÃO DE ALIMENTOS A SEREM PAGOS
PELO PROMOVENTE. ALEGADA DIFICULDADE EM RETOMAR AS ATIVIDADES
LABORATIVAS. RÉ QUE AFIRMA ESTAR PRESTANDO SERVIÇOS DE
CABELEIREIRA. AUTOR IDOSO E APOSEN- TADO. SUSTENTO DE FILHA
31
MENOR, FRUTO DE OUTRO RELACIONAMENTO. AUSÊNCIA DE DEVER DE
SUSTENTO POR PARTE DO PROMOVENTE. NÃO DEMONSTRADA A REAL
NECESSIDADE DE AUXÍLIO POR PARTE DO EX-COMPANHEIRO. DADO PARCIAL
PROVIMENTO AO RECURSO ADESIVO.
1. Reconhecida a união estável, salvo disposição em contrário, aplica-se o
regime da comunhão parcial de bens, art. 5º, da Lei nº 9.278/96, reproduzido
pelo art. 1.725, do Código Civil vigente, impondo-se sejam partilhados
igualitariamente os bens adquiridos a título oneroso durante a sua vigência,
sem que se perquira da contribuição de cada convivente, presumindo-se o
esforço comum. 2. Existente a prova nos autos de que os bens objeto do
pedido de partilha foram construídos na constância da união estável, a sua
divisão igualitária é medida que se impõe. 3. “O pensionamento entre ex-
consortes é medida excepcional, sendo que, para o seu deferimento, a
necessidade do pretenso credor deverá restar efetivamente comprovada,
principalmente, no tocante aos requisitos pertinentes (CC, arts. 1.695).
Outrossim, em regra, possui caráter temporário, isto é, deve ser fixado por um
período razoável para que o ex-cônjuge necessitado possa se reorganizar,
financeira e profissionalmente, até que alcance sua independência. O julgador
deve buscar os parâmetros necessários em cada caso concreto. (…) 3. De fato,
o término do casamento não implica necessariamente a extinção do dever de
prestar alimentos entre ex-cônjuges. Contudo, deve ser tida como medida
excepcional e exige a comprovação da efetiva necessidade de quem os
pleiteia, a qual no caso não resta mais verificada porquanto a ex-esposa possui
formação profissional e capacidade para adentrar no mercado de trabalho. ”
(Processo nº 20160110593502 (1052205), 2ª Turma Cível do TJDFT, Rel. João
31
Egmont. J. 04.10.2017, DJe 10.10.2017). (TJPB; APL 0100789-
10.2012.815.2001; Quarta Câmara Especializada Cível; Rel. Des. Romero
Marcelo da Fonseca Oliveira; DJPB 28/02/2018; Pág. 9)

Desse modo, o casal-convinente, por todos esses anos, em


colaboração mútua, formaram patrimônio e, mais, um e outro colaboraram com a
formação e crescimento da menor, filha de ambos.

Nesse compasso, seguindo as mesmas disposições


atinentes ao casamento, da união estável em relevo resulta que a Autora faz jus à
meação dos bens. Esses foram alcançados onerosamente na constância da relação,
por isso presumidamente adquiridos por esforço em comum.

A propósito, salientamos as lições de Carlos Roberto


Gonçalves:

Em suma, os bens adquiridos a título oneroso na constância da união estável


pertencem a ambos os companheiros, devendo ser partilhados, em caso de
dissolução, com observância das normas que regem o regime da comunhão
parcial de bens. (GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro.
Brasileiro. 9ª Ed. São
Paulo: Saraiva, 2012, vol. 6. Pág. 630)

31
Escudado nessas sólidas considerações doutrinárias,
ilustrativo transcrever alguns julgados:

APELAÇÃO.
Inventário. Arrolamento de Bens. Pretensão de que seja reconhecida união
estável em data anterior à aquisição do bem imóvel objeto da partilha.
Sentença que rejeitou tal pleito, declarando que referido imóvel constitui bem
particular do de cujus e julgou a partilha, determinando que caberá 1/3 do
imóvel à companheira SOLANGE e 1/3 a cada um dos dois filhos do falecido.
Inconformismo da companheira, alegando, basicamente, que o imóvel foi
adquirido na constância da união estável, devendo ser reconhecida sua
meação. Descabimento. Embora a existência da união estável seja
incontroversa, não há nos autos prova, suficientemente segura, de que seu
termo inicial seja aquele informado pela apelante. Recurso desprovido. (TJSP;
APL 0001061-64.2013.8.26.0510; Ac. 11048371; Rio Claro; Nona Câmara de
Direito Privado; Rel. Des. José Aparício Coelho Prado Neto; Julg. 05/12/2017;
DJESP 24/01/2018; Pág. 5003)

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE PARTILHA DE BENS. INDENIZAÇÃO PELO


ACRÉSCIMO PATRIMONIAL DURANTE A UNIÃO.
Ficou provado que o imóvel em debate foi doado pelo ex-companheiro/réu à
filha menor do ex-casal, com usufruto vitalício para o doador. Também ficou
provado que as benfeitorias realizadas no bem, assim o foram a custa de
empréstimo pago parcialmente pelas partes no curso da união estável. Logo,
mostra-se adequada a sentença que reconheceu a meação da autora sobre os
31
valores empregados nessas melhorias realizadas no imóvel, sob pena de
enriquecimento sem causa por parte do réu. Negaram provimento ao apelo.
(TJRS; AC 0296864-19.2017.8.21.7000; São Sebastião do Caí; Oitava Câmara
Cível; Rel. Des. Rui Portanova; Julg. 14/12/2017; DJERS 23/01/2018)

É o que deflui do que rege o Código Civil:

CÓDIGO CIVIL
Art. 1.725 – Na união estável, salvo contrato escrito entre os companheiros,
aplica-se às relações patrimoniais, no que couber, o regime de comunhão
parcial de bens.
bens.

Portanto, segundo o que reza o artigo supramencionado,


tomou-se como modelo, para fins patrimoniais, o mesmo regime adotado no casamento ,
sendo a hipótese o tratamento concedido à comunhão parcial de bens.

Assim, Autora e Réu adquiriram, onerosamente, durante a


convivência os bens relacionados abaixo: todos em nome do Promovido (fls. 177/197:

1 – Imóvel residencial sito na Rua X, nº 0000, em Cidade (PP), local onde


residiram, objeto da matrícula nº 112233, do Cartório de Registro de Imóveis da
00ª Zona;

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2 – Uma fazenda situada no município ...., objeto da matrícula nº 0000, do
Cartório de Registro de Imóveis da cidade de ....;

3 – Veículos de placas ....;

4 – Cota social da empresa Xista Ltda;

5 – todos os bens móveis que guarnecem a residência do casal;

6 – saldo na conta corrente nº 0000, da Ag. 1122, do Banco Zeta S/A, a qual de
titularidade do Réu. (doc. 48)

Desse modo, incide sobre esses bens à meação pertinente à


Autora, mormente porquanto não houvera entre eles qualquer acerto contratual que
dispunha sobre a divisão dos bens.

4 – QUANTO À GUARDA DA FILHA MENOR

Ficou documentado nos autos que o casal tem uma filha.

Postula-se, então, ao menos provisoriamente ( CC, art.


1585), a guarda em favor da mãe (ora Autora); e justifica-se.

31
Nos casos em que envolva menores, prevalecem os
interesses desses, com predominância da diretriz legal lançada pelo Estatuto da Criança
e do Adolescente – ECA.

Ademais, a regra, fixada no art. 1.585 do Código Civil,


delimita que, em face de pleito de medida acautelatória de guarda de menor, há,
também, de prevalecer proteção aos interesses do menor, quando o caso assim o exigir.

Nesse compasso, o quadro narrativo em análise reclama,


sem sombra de dúvidas, que a guarda da criança deva prevalecer, momentaneamente,
com a mãe.

Assim, a decisão, quanto à guarda, deve pautar-se não só


acerca da temática dos direitos do pai ou mãe. Ao revés, o direito da criança deve ser
apreciado sob o enfoque da estrutura familiar que lhe será propiciada.

Como constatado, inarredável a existência de robusta prova


quanto às agressões, físicas e psicológicas.

Portanto, o presente pedido de guarda deve ser analisado


sob o manto do princípio da garantia prioritária do menor, erigido à ótica dos direitos
fundamentais, previstos na Constituição Federal.

Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)


31
Art. 4º - É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder
Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária.

Art. 6º - Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que


ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e
coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoa em
desenvolvimento.

De outra banda, absolutamente e "prioritariamente" a criança


e o adolescente têm direito à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária. Desse modo, compete aos pais, primordialmente, assegurar-lhes
tais condições, sendo vedada qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão (CF, art. 227, caput).

Dessarte, qualquer que seja o objeto da lide, envolvendo um


menor, cabe ao Estado zelar pelos seus interesses, pois se trata de ser humano em
constituição, sem condições de se auto proteger. Portanto, é dever do Estado velar por
seus interesses, em qualquer circunstância.

Vale, aqui, no ponto, o destaque expresso no ECA:


31
Art. 17 – O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade
física,
física, psíquica e moral da criança e do adolescente,
adolescente, abrangendo a
preservação da imagem, da autonomia, dos valores, idéias e crenças, dos
espaços e objetos pessoais.

Art. 18 – É dever de todos velar pela dignidade da criança e do


adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano,
violento, aterrorizante, vexatório e constrangedor.
constrangedor.

Art. 22 – Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos


filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse destes, a obrigação de
cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.

Ademais, há de ser considerado, identicamente, se a rotina


familiar proporcionará estabilidade aos filhos, se existe um local bem estruturado, seguro
à moradia, acesso à educação, adequado círculo de convivência do pretenso
responsável. No caso, demonstra-se o contrário, inclusive por laudo de entidade
responsável pela proteção do menor. (doc. 37)

Flávio Tartuce e José Fernando Simão advogam essa


mesma tese, o que se depreende do magistério a seguir:

31
" A respeito da atribuição ou alteração da guarda, deve-se dar preferência ao
genitor que viabiliza a efetiva convivência da criança e do adolescente com o
outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a guarda compartilhada (art
7º). Desse modo, a solução passa a ser a guarda unilateral,
unilateral, quebrando-se a
regra da guarda compartilhada constantes dos arts. 1583 e 1584 do CC.”
(TARTUCE, Flávio; SIMÃO, José Fernando. Direito Civil.
Civil. 7ª Ed. São Paulo:
Método, 2012, vol. 5, p. 394)

Nesse ponto, Válter Kenji Ishida sublinha, corretamente,


ipisis litteris:

“A perda do poder familiar (pátrio poder) para ser decretada deve estar de
acordo com as regras do ECA em combinação com o CC. Assim, incide a
decisão de destituição do pátrio poder na conduta omissiva do genitor diante
de suas obrigações elencadas no art. 22 do ECA e no art. 1.634 do CC, infra-
assinalado. Mais, deve o genitor amoldar-se a uma ou mais hipóteses do art.
1638 do CC: “(ISHIDA, Válter Kenji. Estatuto da Criança e do Adolescente:
doutrina e jurisprudência. 12ª Ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 38)

E a gravidade dessa sanção (perda da guarda) há de


prevalecer, quando presente o mau exercício do poder-dever dos pais.

31
Diante disso, é imperiosa a concessão da medida judicial em
espécie, sobretudo sob o ângulo estatuído na Legislação Substantiva:

Art. 1.583 – a guarda será unilateral ou compartilhada


(...)
§ 2o Na guarda compartilhada, o tempo de convívio com os filhos deve ser
dividido de forma equilibrada com a mãe e com o pai, sempre tendo em vista
as condições fáticas e os interesses dos filhos.

I - (revogado);

II - (revogado);

III - (revogado).

§ 3º Na guarda compartilhada, a cidade considerada base de moradia dos


filhos será aquela que melhor atender aos interesses dos filhos.
filhos.
(...)
§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a
supervisionar os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão,
qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar informações
e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações
que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação
de seus filhos.” (NR)

31
É certo que houvera alteração significante no que se refere à
guarda compartilhada. É dizer, com a edição da Lei nº. 13058/2014, a guarda
compartilhada passa a ser a regra no nosso ordenamento jurídico. Tanto é assim, que
se optou por nominá-la de Lei da Guarda Compartilhada Obrigatória.

Aparentemente, a nova regra impõe a guarda compartilhada


entre o casal separando, sem qualquer exceção. Todavia, não é essa a vertente da Lei.

Na realidade, comprovada a quebra dos deveres dos pais,


seja por imposição legal ou definida por sentença, é permitida uma reavaliação
concernente à guarda. Obviamente que isso deve ser grave e, mais, devidamente
comprovada.

Por isso, há a exceção prevista no art. 1584, § 5º, da


Legislação Substantiva Civil, in verbis:

CÓDIGO CIVIL

Art. 1.584. - A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:


(...)
§ 5º - Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a guarda do pai
ou da mãe, deferirá a guarda a pessoa que revele compatibilidade com a
natureza da medida, considerados, de preferência, o grau de parentesco e as
relações de afinidade e afetividade.
afetividade.
31
(destacamos)

Nesse mesmo passo, urge destacar as lições de Maria


Berenice Dias, a qual professa, ipsis litteris:

“Reconhecendo a inconveniência de estabelecer a guarda compartilhada, ao


definir a guardar em favor de um dos genitores, deve ser regulamentada a
convivência com o outro genitor. “(DIAS, Maria Berenice. Manual de direito
das famílias.
famílias. 10ª Ed. São Paulo: RT, 2015, p. 538)
(negrito do texto original)

Flávio Tartuce, em nada discrepando do entendimento supra,


ao comentar o enunciado 338 da IV Jornada de Direito Civil , afiança, verbo ad verbum:

“De acordo com o teor do enunciado doutrinário, qualquer pessoa que


detenha a guarda do menor, seja ela pai, mãe, avó, parente consanguíneo ou
sociafetivo, poderá perdê-la ao não dar tratamento conveniente ao incapaz. O
enunciado, com razão, estende a toda e qualquer pessoa os deveres de
exercício da guarda de acordo com o maior interesse da criança e do
adolescente. Tal premissa doutrinária deve ser plenamente mantida com a
emergência da Lei 13.058/2014. “ (TARTUCE, Flávio. Direito de família.
família. 10ª Ed.
São Paulo: Método, 2015, p. 254)

31
A corroborar o exposto acima, insta transcrever o magistério
de Conrado Paulino da Rosa:

“A gravidade do fato poderá justificar, em virtude do melhor interesse da


criança, decisões emergenciais e provisórias baseadas no juízo da
verossimilhança e do periculum in mora (arts. 798 e 273 do CPC) “ (ROSA,
Conrado Paulino da. Nova lei da guarda compartilhada. São Paulo: Saraiva,
2015, p. 91)

Em abono dessas disposições doutrinárias, mister se faz


trazer à colação o seguinte julgado:

APELAÇÃO CÍVEL. GUARDA DE MENOR. CONCESSÃO A SER CONFERIDA NO


INTERESSE EXCLUSIVO DO MENOR. POSSIBILIDADE DE DEFERIMENTO FORA
DA SITUAÇÃO DE TUTELA OU ADOÇÃO. INTELIGÊNCIA DO § 2º DO ART. 33 DA
LEI Nº 8.069/90.
1. Pedido de guarda formulado pela avó. Consentimento dos pais. Melhor
interesse da criança. Sob a tônica da prevalência dos interesses da pessoa em
condição peculiar de desenvolvimento deve-se observar a existência da
excepcionalidade a autorizar o deferimento da guarda para atender situação
peculiar, fora dos casos de tutela e adoção, na previsão do art. 33, § 2º, do
ECA. 2. A avó busca resguardar situação fática já existente, por exercer a posse
31
de fato da criança desde o nascimento, com o consentimento dos próprios
pais, no intuito de preservar o bem estar da criança, o que se coaduna com o
disposto no art. 33, § 1º, do ECA. RECURSO PROVIDO DECISÃO. (TJPI; AC
2016.0001.006626-2; Segunda Câmara de Direito Público; Rel. Des. Brandão de
Carvalho; DJPI 31/01/2018; Pág. 41)

Como pedido subsidiário (CPC, art. 326), pleiteia-se seja


delimitada a guarda compartilhada (CC, art. 1.584, inc. II, § 2º).

Nesse aspecto, solicita-se que os filhos do casal tenham


como abrigo domiciliar, provisório, o lar da mãe, ficando estabelecido como sendo esse
a residência dos infantes (CC, art. 1.583, § 3º).

De outro contexto, ainda supletivamente, almeja seja


definido o direito de visitas ao pai da seguinte forma:
.
a) fins de semana: todos os domingos ficam destinados à visita da filha
ao pai, tendo de apanhá-la às 08:00h e deixá-la às 18:00h, onde a
Autora indicar;

b) aniversários da menor: período da tarde, de 13:00h às 18:00h, com o


pai e, à noite, com a mãe;

c) dia dos pais: nessa data a infante ficará com o mesmo, no período de
08:00h às 18:00h;
31
d) dia das mães: caso essa data caia no dia de visita do pai, esse de já
abdica esse dia em prol de permanecer com sua mãe por todo o dia;

e) Natal: de 08:00h às 14:00h a criança ficará com o pai, o qual


devolverá à mãe nesse horário;

f) Ano novo: de 08:00h às 14:00h, a menor permanecerá com o pai, o


qual entregará à mãe nesse horário;

g) a esposa poderá facultar ao pai, em benefício da menor, que, em


comum acordo, vislumbrem possibilidade da participação dos mesmos,
em conjunto, em festas e outras comemorações. Assim, busca-se,
sobretudo, evitar quaisquer constrangimentos à infante, que, em geral,
busca a presença de ambos nessas ocasiões.

5 – DOS ALIMENTOS PROVISÓRIOS

No tocante aos alimentos, em favor da Autora, essa


obrigação alimentar decorre do dever de mútua assistência, prevista na Legislação
Substantiva Civil (CC, art. 1.694 c/c art. 1.695).

Ressalte-se que aquela, neste momento, não tem emprego .


Ela tinha como única forma de rendimentos, indiretos, aqueles antes prestados pelo
Réu, mormente para cuidados pessoais.

31
O Promovido, pois, deve prover alimentos provisórios, de
sorte a assegurar à Autora o necessário à sua manutenção. Frise-se, ainda, que a
atenção daquela ora se volta intensamente à menor, sobretudo por conta de sua tenra
idade.

Este, a propósito, é o entendimento patrocinado pela


jurisprudência:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO REVISIONAL DE ALIMENTOS. DECISÃO


LIMINAR QUE REDUZIU A VERBA ALIMENTAR PARA 33% DOS RENDIMENTOS
LÍQUIDOS DO AGRAVADO. INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO ACERCA DA
ALTERAÇÃO DA SITUAÇÃO FINANCEIRA DO ALIMENTANTE. INTELIGÊNCIA DO
ARTIGO 1.699 DO CC. ANÁLISE DO TRINÔMIO NECESSIDADE, POSSIBILIDADE
E PROPORCIONALIDADE. NECESSIDADES EXCEPCIONAIS DO ALIMENTANDO,
QUE ALÉM DE SER MENOR, CUJAS NECESSIDADES SÃO PRESUMIDAS, É
PORTADOR DE DISFUNÇÃO MICCIONAL. POSSIBILIDADE DO ALIMENTANTE
DEMONSTRADA. DECISÃO REFORMADA PARA MAJORAR OS ALIMENTOS
PARA UM SALÁRIO MÍNIMO NACIONAL. RECURSO CONHECIDO E
PARCIALMENTE PROVIDO.
1. Nos termos do art. 1699 do Código Civil, se, fixados os alimentos, sobrevier
mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe,
poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias,
exoneração, redução ou majoração do encargo, ou seja, é requisito para a
revisão da verba alimentar a comprovação de que houve alteração na situação
financeira do alimentante. 2. Tratando-se de filho menor portador de
31
problema de saúde que demanda tratamentos médicos e considerando as
provas apresentadas acerca da possibilidade do alimentante, atendendo ao
trinômio necessidade, possibilidade e proporcionalidade, entende-se prudente
majorar os alimentos provisórios para um salário mínimo mensal. (TJPR; Ag
Instr 1698914-1; Curitiba; Décima Segunda Câmara Cível; Rel. Des. Roberto
Antônio Massaro; Julg. 06/12/2017; DJPR 24/01/2018; Pág. 327)

A infante, como afirmado nas linhas iniciais, na data da


propositura desta querela, conta com a tenra idade de um (1) ano e nove (9) meses de
idade, donde se presumem necessidades especiais .

De mais a mais, é consabido que aos pais cabe o dever de


sustentar os filhos menores, fornecendo-lhe, sobretudo, alimentação, vestuário, moradia,
educação, medicamentos, etc.

CÓDIGO CIVIL
Art. 1.701 – A pessoa obrigada a suprir alimentos poderá pensionar o
alimentando, ou dar-lhe hospedagem e sustento, sem prejuízo de prestar o
necessário à sua educação, quando menor.
Parágrafo único – Compete ao juiz, se as circunstâncias o exigirem, fixar a
norma do cumprimento da prestação.

31
Feitas essas colocações, quanto à possibilidade financeira
recíproca dos pais de sustentarem os filhos , vejamos as condições financeiras de Maria
das Quantas e a do Réu.

A genitora, nesta ocasião, não tem emprego. Ainda se


encontra percebendo seguro-desemprego. Restam somente mais 3 (três) parcelas,
correspondente a um salário mínimo vigente. (fls. 118/121) Com esse valor, diga-se, a
mesma tem que pagar o aluguel de R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais) mensais,
além de energia e água. (fls. 127/133)

Outrossim, com esse montante tenta cobrir custos de


alimentação, medicamentos, lazer, vestuário, etc., dela e da filha.

E isso trouxe-lhe agravamento de sua situação financeira,


razão qual a mesma já tem inserido seu nome no banco de dados dos órgãos de
restrições. Igualmente, por duas vezes, já existiram avisos de corte de energia da casa
onde residem. (fls. 137/139)

Assim, mister que, ao despachar-se esta inicial, sejam


definidos alimentos provisórios à menor.

LEI DE ALIMENTOS

31
Art. 4º - Ao despachar o pedido, o juiz fixará desde logo alimentos provisórios
a serem pagos pelo devedor, salvo se o credor expressamente declarar que
deles não necessita.
Parágrafo único – Se se tratar de alimentos provisórios pedidos pelo cônjuge,
caso pelo regime de comunhão universal de bens, o juiz determinará
igualmente que seja entregue ao credor, mensalmente, parte da renda líquida
dos bens comuns, administrados pelo devedor.

De outro modo, a situação financeira do Réu é satisfatória. O


mesmo trabalha junto ao Banco Zeta S/A, exercendo as funções de caixa. Segundo o
que se apurou junto ao Sindicato dos Bancários, o piso da categoria é de, no mínimo, o
valor de R$ x.x.x.(.x.x.x ). (fl. 141)

Assim, observados o binômio necessidade e possibilidade,


aquela requer, a título de alimentos provisórios (CPC, art. 695, caput):

a) para si, como cônjuge necessitada dos alimentos, o percentual de


15% (quinze por cento) do salário do Réu, a ser depositado, até o dia 05,
na conta corrente da mesma (conta nº. 11222, Ag. 3344, do Banzo Beta
S/A);

b) para a filha, o percentual de 20% (vinte por cento) da remuneração


do Réu, a ser depositado, até o dia 05, na conta corrente da genitora
(conta nº. 11222, Ag. 3344, do Banzo Beta S/A);
31
c) lado outro, requer seja oficiado ao empregador (Banzo Zeta S/A, sito
na Rua X, nº 000, em Cidade (PP), para que adote as providências de
reter o percentual acima citado e, ainda, transferi-los à conta corrente
antes mencionada, sob pena de incorrer em responsabilidade civil e
penal;

d) pede, outrossim, que os percentuais, acima descritos, incidam sobre o


décimo terceiro, horas extras, férias, participação nos lucros e eventuais
gratificações permanentes do Réu, por serem rendimentos decorrentes
da relação empregatícia.

Acerca disso, há precedente do Superior Tribunal de Justiça:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ALIMENTOS. HORAS


EXTRAS. INCIDÊNCIA.
1. As horas extras constituem verba de natureza remuneratória e integram a
base de cálculo para a incidência dos alimentos fixados em percentual sobre os
rendimentos líquidos do alimentante. 2. Recurso especial conhecido e provido.
(STJ; REsp 1.685.684; Proc. 2017/0174543-0; SP; Terceira Turma; Relª Minª
Nancy Andrighi; DJE 18/08/2017)

6 - EM CONCLUSÃO

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Nesse passo, uma vez que comprovados os
fatos argumentos com a inicial, mister que os pedidos sejam em
sua totalidade julgados procedentes.

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de setembro de 0000.

Fulano(a) de Tal
Advogado(a)

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