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EXAME DA ORDEM*
* Postaremos recursos das matérias de Ética Profissional, Direito Penal, Direito do
Consumidor e Direito Empresarial.
ÉTICA PROFISSIONAL
CORRESPONDÊNCIA DE QUESTÕES
PROVA BRANCA – TIPO 1 - Questão 05
PROVA VERDE – TIPO 2 - Questão 02
PROVA AMARELA – TIPO 3 - Questão 04
PROVA AZUL – TIPO 4 - Questão 05
RAZÕES DE RECURSO
RAZÕES DE RECURSO
Após ter sido exonerado do cargo em comissão que ocupava há mais de dez anos,
Lúcio, abatido com a perda financeira que iria sofrer, vai a um bar situado na porta da
repartição estadual em que trabalhava e começa a beber para tentar esquecer os
problemas financeiros que viria a encontrar. Duas horas depois, completamente
embriagado, na saída do trabalho, encontra seu chefe Plínio, que fora o responsável
por sua exoneração. Assim, com a intenção de causar a morte de Plínio, resolve
empurrá-lo na direção de um ônibus que trafegava pela rua, vindo a vítima
efetivamente a ser atropelada. Levado para o hospital totalmente consciente, mas com
uma lesão significativa na perna a justificar o recebimento de analgésicos, Plinio vem a
falecer, reconhecendo o auto de necropsia que a causa da morte foi unicamente
envenenamento, decorrente de erro na medicação que lhe fora ministrada ao chegar
ao hospital, já que o remédio estaria fora de validade e sequer seria adequado no
tratamento da perna da vítima. Lúcio foi denunciado, perante o Tribunal do Júri, pela
prática do crime de homicídio consumado, imputando a denúncia a agravante da
embriaguez preordenada.
A questão trata de relação de causalidade, mas, data vênia, a resposta para o caso
concreto narrado é controversa e tanto a doutrina como a jurisprudência admitem
soluções distintas. Assim, em que pese a banca ter acolhido no gabarito preliminar
como assertiva correta a alternativa B “o afastamento, na pronúncia, da forma
consumada do crime, bem como o afastamento da agravante da embriaguez”, há
posição doutrinária e jurisprudencial acolhendo para esse caso concreto a posição
determinada na assertiva A “o afastamento da agravante da embriaguez, ainda que
adequada a pronúncia pelo crime de homicídio consumado”.
O professor Rogério Greco1, cita em seu livro Código Penal Comentado jurisprudência
do Superior Tribunal de Justiça, HC nº 42.559/PE, de relatoria do Min. Arnaldo
Esteves, tratando deste tema exatamente como o indicado: “O fato de a vítima ter
1
GRECO, Rogério, Código Penal Comentado. Editora Impetus, 6ª Edição, Rio de Janeiro, pág. 46
falecido no hospital em decorrência das lesões sofridas, ainda que se
alegue eventual omissão no atendimento médico, encontra-se inserido no
desdobramento físico do ato de atentar contra a vida da vítima, não caracterizando
constrangimento ilegal a responsabilização criminal por homicídio consumado, em
respeito à teoria da equivalência dos antecedentes causais adotada no Código Penal
e diante da comprovação do animus necandi do agente.”
Portanto, a assertiva A é sim tida como correta por grande parte da doutrina e da
jurisprudência pátrias, gerando assim grandes dúvidas acerca de qual assertiva estaria
correta deve a questão ser anulada pela banca examinadora.
2
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Direito Penal – Parte Geral. Editora Revista dos Tribunais, São
Paulo, pág. 212.
3
MIRABETE, Julio Fabrini, Código Penal interpretado, Editora Atlas, São Paulo, pág. 158.
DIREITO DO CONSUMIDOR
CORRESPONDÊNCIA DE QUESTÕES
PROVA BRANCA – TIPO 1 - Questão 45
PROVA VERDE – TIPO 2 - Questão 45
PROVA AMARELA – TIPO 3 - Questão 44
PROVA AZUL – TIPO 4 - Questão 45
RAZÕES DE RECURSO
RAZÕES DE RECURSO
I – DOS FATOS
II – FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
Antes de qualquer coisa, é preciso deixar claro que, para o êxito de uma questão objetiva que
exija a indicação de somente uma resposta correta, é absolutamente imprescindível que as
demais assertivas – além da apontada como correta – sejam totalmente incorretas.
Não pode haver margem para interpretação, seja legal, doutrinária ou jurisprudencial, que
possa trazer potencialidade de outra assertiva também estar correta, ainda que em parte.
Inclusive o próprio STJ tem entendido que:
“A apreciação de critérios de formulação e correção de
provas de concurso público pelo Poder Judiciário é medida excepcional.
Todavia, a jurisprudência desta Corte de Justiça, na esteira de entendimento
esposado pelo egrégio STJ, tem admitido a sua intervenção para análise de
questão objetiva em que o vício que a macula consiste em erro material, de
fácil constatação, que possa comprometer a sua compreensão ou gerar
dúvida ao candidato”. (STJ - AgInt no AREsp: 1063505 RS 2017/0045811-0,
Relator: Ministro OG FERNANDES, Data de Julgamento: 20/08/2019, T2 -
SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe 29/08/2019)
Portanto, havendo o menor indício de dúvida, que possa levar o candidato a erro, a questão
deverá ser anulada, que é o que se espera dessa Respeitável Banca.
Isso porque, embora exista uma resposta textual, não se pode eliminar a alternativa A, por
conta das previsões constantes nos artigos 4º, inciso VII da Lei das Cooperativas, combinado
com o artigo 21, IV da mesma lei.
Ora, a interpretação do citado artigo do Código Civil deve ser compatibilizada com as demais
normas jurídicas atinentes à matéria, especialmente as que definem as características
cooperativas (na legislação específica) e seus princípios.
Há flagrante confronto de normas. A Lei n° 5.764/71 dispõe de forma ampla sobre o destino
das sobras (que são, basicamente, os excedentes subtraídos dos custos administrativos gerais
da cooperativa) e dos prejuízos, eventualmente, um e o outro, experimentados ao final do
exercício financeiro.
No que concerne às sobras e aos prejuízos, assim enuncia a Lei das Cooperativas:
Art. 4°.
VII – retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às
operações realizadas pelo associado, salvo deliberação em contrário da
Assembleia Geral;
Art. 89 – Os prejuízos verificados no decorrer do exercício serão cobertos
com recursos provenientes do Fundo de Reserva e, se insuficiente este,
mediante rateio, entre os associados, na razão direta dos serviços
usufruídos, ressalvada a opção prevista no parágrafo único do art. 80.
Art. 80 – As despesas da sociedade serão cobertas pelos associados
mediante rateio na proporção direta da fruição de serviços.
Parágrafo único. A cooperativa poderá, para melhor atender à
equanimidade de cobertura das despesas da sociedade, estabelecer:
I – rateio, em partes iguais, das despesas gerais da sociedade entre todos os
associados, quer tenham ou não, no ano, usufruído dos serviços por ela
prestados, conforme definidas no estatuto;
II – rateio, em razão diretamente proporcional, entre os associados que
tenham usufruído dos serviços durante o ano, das sobras líquidas ou dos
prejuízos verificados no balanço do exercício, excluídas
as despesas gerais já atendidas na forma do item anterior.
Porém, o artigo 1094, VII do CC permite concluir que todos os resultados devem ser
distribuídos proporcionalmente às relações efetuadas entre o associado e a cooperativa.
Segundo tal dispositivo, só haveria a possibilidade de distribuição dos resultados em proporção
aos negócios feitos com a sociedade – o que não é bem assim.
E é importante essa discussão já que uma interpretação abrangente construirá norma jurídica
contraposta, inclusive, ao disposto no art. 89 da Lei Cooperativa (não há qualquer referência
ao fundo de reserva), os prejuízos seriam suportados somente pelos cooperados. As
implicações negativas dessa redação legislativa, incluindo a incompatibilidade principiológica
com a Lei das Cooperativas não pode ser ignorada.
De acordo com o artigo 1094, VII não haveria mais a probabilidade de a assembleia geral
definir, por exemplo, um destino às sobras que não seja sua distribuição adequada às
operações dos associados com a cooperativa, como consta do art. 4°, VII da Lei n° 5.764/71 e
por isso a resposta da alternativa A também deverá ser acatada como correta, pois as
disposições do Código Civil devem ser harmonizadas, dentro do possível, com a Lei das
Cooperativas.
Continua a possibilidade de a assembleia geral determinar o destino das sobras, tal qual
previsão específica legislativa.
Nada explana melhor o princípio democrático nas cooperativas do que a ampla atuação das
Assembleias Gerais. Afastar-se delas o poder de dizer qual destino terão as sobras importa em
indevido tolhimento de suas funções, alijando as cooperativas de instrumento vital para sua
sobrevivência.
E mais, pelo critério da especificidade, quando houver conflito expresso entre o Código Civil e
a Lei das Cooperativas, deve esta ser aplicada em virtude de sua especificidade, argumento
que reforça a letra A como uma alternativa também correta.
Em sendo assim, a interpretação do inc. VII, do art. 1.094 do C.C., deve ser, necessariamente,
harmonizada com a letra do inc. VII, art. 4°, e art. 89, da Lei Cooperativa e, notadamente, com
os princípios cooperativos, no afã de manter, também, a possibilidade de a Assembleia Geral
dispor acerca do destino das sobras (especificamente). Por esses motivos, poderão ser
consideradas duas alternativas como corretas.
III – DO PEDIDO
Diante da fundamentação exposta, requer seja a presente questão anulada com a atribuição
da pontuação pertinente a todos os candidatos.