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HISTÓRIA DA PSICOPATOLOGIA

De acordo com o pesquisador Ceccarelli (2003), "a palavra


"Psico-pato-logia" é composta de três palavras gregas: "psychê":
psique, psíquico, psiquismo, alma, espírito; pathos: paixão,
passividade, sofrimento, doença e “logos": lógica, discurso,
narrativa, conhecimento. Com isso, Ceccarelli (2003) demonstrou
que podemos entender essa ciência como a área do
conhecimento científico que estuda, avalia e desenvolve
estratégias de tratamento para uma pessoa que padece de algo
que ele desconhece e o faz sofrer. A psicopatologia segundo
Ménéchal (2002) “é uma preocupação muito antiga do
pensamento, que se confunde com a reflexão do homem sobre a
estranheza dos seus semelhantes, e que remete para certa
abordagem do enigmático, seja esta encarnada pelos deuses,
pelo mal, pela sexualidade ou até pela ciência” (MÉNÉCHAL,
2002, p.16).
Por séculos tentou-se entender a doença mental em
diferentes contextos sócio-ambientais. Aristóteles (384 a.C.)
atribuiu os males da mente à paixão, um elemento inerente ao
ser humano. O homem deveria saber dosá-las para encontrar
equilíbrio entre paixão e razão. Aristóteles não considerava a
paixão um mal que leva a agir contra a vontade do indivíduo,
mas sim, como uma força que justifica o agir desse indivíduo
(ALMADA, 2005; MOSSO, 2010).

Hipócrates (460 A.C.), filósofo grego, e considerado o pai da


medicina moderna, separou a medicina da religião e da
superstição. Através de Hipócrates conhecemos conceitos como
humor, crise, metástase, recidiva, prognóstico entre outros. Esse
filósofo defendeu que as doenças mentais tinham causas
naturais e deveriam ser tratadas como outras doenças. Davidson
(2003) relatou que Hipócrates associou o pensamento e
comportamentos anormais a patologias cerebrais, foi “um dos
preponentes mais antigos da somatogênese, a idéia de que
alguma coisa anormal no soma ou corpo físico perturba o
pensamento e a ação (DAVIDSON, 2003, p.7).

Nesse período, foi inaugurada a clínica baseada na


descrição das alterações cognitivas, volitivas, emocionais e
orgânicas que passam a ser interpretadas como expressões das
disfunções hormonais, resultando nos quadros clínicos de mania,
melancolia, histeria, entre outros, ou seja, o pensamento dessa
época era que o humor implicava nos humores do corpo
humano, que por sequência influíam no caráter dos indivíduos,
no seu temperamento (MARTINEZ, 2006).

Santa Clara (2009) exemplificou algumas conceituações, a


melancolia, por exemplo, defendidas na Idade Média
desenvolvidas por Hipócrates e Aristóteles, a melancolia foi
“explicada pela presença de uma quantidade excessiva e fortuita
de bile negra no corpo, e entre os religiosos da Idade Média é
reconhecida como um adoecimento espiritual”(SANTA CLARA,
2009, p.2).

Após Hipócrates, foi Platão (427-348 a.C.) quem se


destacou no arcabouço teórico da Psicopatologia, na obra
“Timeu”, Platão concebeu a psique (alma) como sendo
constituída por três partes: racional, afetivo-espiritual e
apetitiva. Platão considerava que a loucura era proveniente da
desarmonia entre as três partes do sistema psíquico, o que
provocava o desvio na racionalidade de seguir as leis lógicas
(MARTINEZ, 2006, p.21).

Ainda que Galeno (131-200 D.C.) tenha se inspirado na


observação clínica e na nosografia hipocráticas, o espírito de
sistema o distanciou de Hipócrates e o levou ao dogmatismo que
Pinel (1745-1826) pretendeu abolir ao priorizar o método clínico
da psicopatologia (MARTINEZ, 2006, p.26).

A obra de Pinel constituiu um sistema descritivo, sem ser


explicativo, das doenças mentais, ele enumerou quatro grandes
classes de manifestações mórbidas: a mania, a melancolia, a
demência e o idiotismo. A semiologia psicopatológica encontrada
nos estudos de Pinel tratou dos distúrbios das faculdades do
entendimento, como: sensibilidade ou sensação, percepção,
emoções e afecções morais, imaginação, pensamento,
julgamento, memória e caráter. Esse estudioso construiu uma
doutrina aparentemente eclética e precisa, baseada numa
concepção materialista psicofisiológica (MARTINEZ, 2006).

            Pessotti (1996) indicou que Pinel afirmou em seus estudos


sobre o tratamento clínico, que a loucura não era a desrazão que
desumaniza, é, apenas, um desequilíbrio na razão ou nos afetos,
assim era possível resgatar a identidade humana do alienado,
colocando um fim a sua exclusão. Pinel defendia que a
observação demorada da conduta dos pacientes era o método
mais eficiente para diagnosticar, ordenar e catalogar os sintomas
e os distúrbios mentais.

Philippe Pinel foi nomeado, em 1793, responsável pelo


sistema hospitalar parisiense e diretor de um grande asilo de
Paris - o La Bicêtre, onde iniciou uma ampla reforma tanto nas
condições de vida daqueles internados como no seu tratamento.
As correntes foram retiradas e os doentes começaram a ser
tratados como seres humanos, não mais de forma
desumanizada. Muitos se tornaram calmos e passaram a andar
livremente pelo hospital. Alguns que eram considerados “casos
perdidos”, se recuperaram (DAVIDSON, 2003).

Kraeplin (1856-1926) reduziu a identificação de uma forma


patológica aos seus sintomas, nem à sua etiologia, nem à sua
terapêutica, ele empreendeu uma cartografia ordenada da
psicopatologia de que ainda vive a psiquiatria moderna
(MÉNÉCHAL, 2002).

            Griesinger (1817-1868) foi um grande expoente da


Psiquiatria, suas obras apresentavam as características de um
manual prático, dividindo-se didaticamente em: considerações
gerais, semiologia, etiopatogenia, formas clínicas, anatomo-
patologia, prognóstico e terapêutica, tal como até hoje, no
século XXI. A referência teórica de Griesinger seria retomada no
século seguinte por Blondel, Guiraud, Jaspers e Freud, como, por
exemplo, a teoria do “ego” e de sua metamorfose no delírio
(MARTINEZ, 2006; DACKER, 2003).

Jaspers (1883-1969) fez uma crítica ao método empírico


tradicional científico e propôs o método fenomenológico. Em
1913, com o intuito de discutir questões relativas às doenças
mentais, publicou Psicopatologia Geral. Jaspers compreendia a
psicopatologia como ciência cuja função seria observar e
descrever os fenômenos psíquicos patológicos, diferentemente
da psiquiatria que tem por objetivo diagnosticá-los e tratá-los
(PESSSOTTI, 2009)

Dalgalarrondo (2000) refletiu com base na conceituação de


Jaspers que “não se pode compreender ou explicar tudo o que
existe em um homem por meio de conceitos psicopatológicos, ao
se diagnosticar Van Gogh e fazer uma análise psicopatológica de
sua biografia, não se explicará totalmente a vida e a obra desse
artista” e completa “sempre resta algo que transcende à
psicopatologia, e, mesmo, à ciência, e que permanece no
domínio do mistério” (DALGALLORRONDO, 2000, p.23).

Herdeiro dos filósofos alemães do espírito e neurologista,


Freud (1856-1939) situou-se na confluência de uma ciência
médica preocupada com a classificação e de uma filosofia do
tratamento moral da loucura (MÉNECHAL, 2002).

A história do percurso psicanalítico de Freud desde Breuer,


passando por Charcot, Liébault, Bernheim e Fliess, chegando a
Jung, Bleuler, Adler, Rank, Ferenczi, entre outros, foi e ainda nos
dias atuais são difundidas. A psicanálise apareceu como uma
teoria e uma nova técnica de tratamento de doenças mentais, a
fim de preencher uma lacuna científica no âmbito da psicologia e
da psicopatologia, ligando a medicina à filosofia da mente e à
epistemologia da neurociência e da psicopatologia (MARTINEZ,
2006, p. 122

Interessante observar que no cotidiano científico e pós-


moderno algumas discussões incluem, o debate interdisciplinar –
ou seja, um pesquisador ou profissional especialista irá agregar
novos conhecimentos ao grupo e, assim a equipe poderá
apreender, compreender e cuidar pessoas adoecidas com maior
possibilidade de segurança e conforto, condições importantes
para a boa saúde mental do trabalhador, revertida em
estratégias com maior possibilidade de serem eficientes junto
aos pacientes e familiares.

Sendo assim e corroborando com Dalgalarrondo (2000),


“Não se avança, em psicopatologia negando e anulando
diferenças conceituais e teóricas; avança-se, sim, por meio do
esforço de esclarecimento e aprofundamento de tais diferenças,
em um debate aberto, desmistificante e honesto”
(DALGALARRONDO, 2000, p.28). Na produção de conhecimento
ocorrem comumente discursos divergentes, a Psicopatologia tem
diferentes tipos de escolas teóricas que analisam, avaliam e
desenvolvem estratégias de tratamentos para as pessoas que se
encontram com comportamentos anormais, desviantes ou
divergentes de um determinado grupo.

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