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FLÁVIO TARTUCE1:

A título de exemplo de sua subsunção, serão nulas as seguintes


cláusulas constantes do pacto antenupcial, por normas de ordem
pública: [...] cláusula que exclui expressamente o direito sucessório
do cônjuge sobrevivente, afastando as regras da sucessão legítima e
trazendo a renúncia prévia à herança, havendo claro pacto
sucessório, em infringência ao art. 426 do Código Civil.

JOSÉ FERNANDO SIMÃO2:

A renúncia à herança não pode ocorrer antes da abertura da


sucessão, ou seja, antes da morte de seu autor, sob pena de nulidade
absoluta, por se tratar de ato unilateral que viola uma regra estrutural
do sistema e que vem espelhada na vedação ao pacto sucessório
(art. 426 do CC). Os efeitos da renúncia são retroativos à data da
abertura da sucessão, ou seja, são ex tunc (art. 1.804, caput, do CC).

ORLANDO GOMES:

A renúncia é negócio formal [...]. Não pode ser feita antes da abertura
da sucessão, pois implicaria pacto sucessório, legalmente proibido3.

[...]

Conquanto autorizados em outras legislações, são proibidos, entre


nós, os pactos sucessórios. Não pode ser objeto de contrato a
herança de pessoa viva. É nulo, portanto, o ato bilateral pelo qual
dispõe alguém de sua própria sucessão, ou dos direitos que lhe
possam vir a caber em sucessão ainda não aberta. A proibição é
absoluta, apanhando todo e qualquer negócio bilateral, inclusive os
pactos antenupciais4.

MARIA BERENICE DIAS5: “Os noivos nada podem estipular sobre questões
sucessórias. Ou seja, não é possível renunciar à meação ou ao direito concorrente ou
à herança. A previsão afronta a proibição de dispor sobre herança de pessoa viva (CC
426)”.

GUSTAVO TEPEDINO e outros6:

1
TARTUCE, Flávio et al. Código Civil comentado: doutrina e jurisprudência. 3. ed., rev., atual. e
ampl. Rio de Janeiro: Forense, 2021. E-book.
2
Ibidem.
3
GOMES, Orlando. Sucessões. 15. ed., rev. e atual. Atualizador: Mario Ribeiro Carvalho de
Faria. Rio de Janeiro: Forense, 2012. p. 25.
4
Ibidem, p. 90.
5
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 14. ed., rev., atual. e ampl. Salvador:
Juspodivm, 2021. p. 699.
6
TEPEDINO, Gustavo et al. Código Civil interpretado: conforme a Constituição da República, v.
IV. Rio de Janeiro: Renovar, 2014. p. 292.
A ampla liberdade conferida aos nubentes de estipularem, quanto aos
seus bens, o que lhes aprouver (art. 1.639) encontra limite nas
disposições absolutas de lei, ou seja, nas normas de ordem pública,
cogentes, e, portanto, inafastáveis pela vontade das partes.
[...]
Exemplos de disposições absolutas de lei - e que, portanto, não
podem ser afastadas pelos nubentes - são as normas que
estabelecem o dever de solidariedade entre os cônjuges, o princípio
da isonomia, a obrigação de contribuir para a educação e o sustendo
dos filhos, a ordem de vocação hereditária etc.

PAULO LÔBO7:

Será nulo o pacto antenupcial, em sua totalidade ou em parte,


se violar disposição legal cogente.
[...]
São também “inadmissíveis estipulações que alterem a ordem
da vocação hereditária, que excluam da sucessão os herdeiros
necessários, que estabeleçam pactos sucessórios, aquisitivos
ou renunciativos (de succedendo ou de non succedendo).

ROLF MADALENO8:

Desse modo, será nula qualquer convenção entre os conviventes a


respeito de direitos hereditários, como está expresso no artigo 426 do
Código Civil, por ser vetada qualquer disposição contratual acerca da
herança de pessoa viva, ou de cláusulas dispensando direitos e
deveres próprios da união estável (CC, art. 1.724).

SAN TIAGO DANTAS9:

Discute-se se é possível, no pacto antenupcial, dispor sobre a


sucessão mútua, decidindo-se logo de que modo um dos cônjuges
sucede ao outro. [...] o que parece certo é que, nos pactos
antenupciais, nada se pode convencionar sobre a sucessão. O
Código proíbe os pactos de succedendo e o faz fundado em razões
de ordem pública [...].

7
LÔBO, Paulo. Direito Civil: famílias, v. 5. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. E-book.
8
MADALENO, Rolf. Direito de Família. 10. ed., rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense,
2020. E-book.
9
DANTAS, San Tiago. Direito de Família e das Sucessões. 2. ed., rev. e atual. Atualizador:
José Gomes Bezerra Câmara e Jair Barros. Rio de Janeiro: Forense, 1991. p. 271.

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