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1.

Evolução da Profissão de Advogado


Em Roma a advocacia começou depois da Lei das XII Tábuas (450 a.c.) – primeiro código romano,
inspirado na legislação grega e babilónica. Até esta altura a actividade jurídico-forense era dos
sacerdotes-pontífices, escolhidos entre os patrícios. Os patrícios eram protectores e defensores dos
plebeus, seus vassalos, e por isso só ao patrono podiam recorrer.
Com a República (510-27 a.c.) foi-lhes permitido escolher, escolha essa que recaía nos que se
distinguiam como oradores, que inicialmente não eram letrados em direito, mas com o decorrer dos
tempos foram forçados ao estudo da jurisprudência. Nesta altura a actividade ainda era gratuita.
Nos finais do séc. III a.c., foi criada em Roma a 1ª Escola de Direito, aparece a ciência jurídica e a
jurisprudência.
A advocacia era exercida pelos nobres até ao imperador Augusto que admite o ingresso da classe
média e o imperador Adriano concede aos jurisconsultos autoridade social de carácter burocrático. Os
jurisconsultos tinham uma tríplice função de Aconselhar, assistência processual às partes e dar
sentenças ou pareceres. A jurisprudência era a mais importante fonte do direito. O direito parra a ser
uma ciência e uma técnica. Os advogados passam a ter uma função insubstituível como representante
e defensores das partes, eliminando os oradores definitivamente. Para ser advogado era necessário
ser cidadão honrado e reconhecido com prestígio social. A sua missão era defender, mesmo os
culpados.
Contudo só com o Imperador Justino I e seu sobrinho Justiniano é confirmada a profissão de
advogado. Foi criado um Colégio “Ordo”, no qual eram obrigados a inscreverem-se, exigia-se uma
idade mínima, de 17 anos, estudo de direito durante 5 anos com exame final, onde se avaliava a
qualificação jurídica e qualidades morais dos candidatos. A actividade era reservada aos homens. Com
o código Teodósio permitiu-se ás mulheres de se defenderem em tribunal, mas não podiam
representar outras.
Os advogados não podiam abandonar, nem cobrar a causa. O nº de advogados passa a ser fixado
pelo tribunal. Passam a ser remunerados justamente e “Causa Honoris”.

2. Evolução do Direito Português


a. Período de Individualização do Dto. Português – Desde o reinado de D. Afonso Henriques
até Afonso III, de 1140 a 1248. A independência de política de Portugal não trouxe uma
autonomia no campo do direito. Continuou-se com o sistema jurídico Leonês, com base
consuetudinária e foraleira, caracterizada pelo empirismo jurídico com predomínio da actividade
dos tabeliães.
b. Período de Inspiração Romano-Canónica – Desde meados do séc. XIII a meados do séc.
XVII. Nesta fase convém destacar a época de recepção do Dto. Romano renascido e do Dto.
Canónico renovado e a época das ordenações. O início da vigência das Ordenações Afonsinas em
meados do séc. XV (1446), foi um marco importante na evolução do Dto. Acentua a
independência do Dto. do próprio reino, com consequência de enorme relevância.
c. Período de Formação do Dto Moderno – Inicia-se com Marquês de Pombal, mas só a
chamada Lei da Boa Razão de 1769 e os Estatutos das Universidades de 1772 marcam a ciência e
a prática do direito e da pedagogia jurídica. Este período subdivide-se primeiro pela época do
jusnaturalismo racionalista, desde o séc. XVIII até ao séc. XIX, e depois pela época do
Individualismo ou Liberal, que vai desde o séc. XIX até ao Séc. XX, até á I Grande Guerra Mundial
e tb terceira época do Direito Social.

3. Evolução da Advocacia em Portugal


Foi marcada pelo Dto. Romano e pela Igreja.
No séc. XII, os advogados eram também chamados de procuradores, “arrazoadores” ou “vozeiros”,
era aquele que nos tribunais alegava as razões litigantes (arrazoadores) e emprestava a sua voz
(vozeiro) aos que não sabiam defender-se. A advocacia era uma actividade benévola, sem ser paga.
Quando cobravam, se o fizessem em exagero ou falseassem os pleitos, eram punidos e chamados
“prevacatoris causarum”.

a. Monarquia – Embora existisse já na 1ª Dinastia (por ex. D. Pedro, D. Dinis e D. Afonso IV), a
profissão de advogados era incómoda, os próprios monarcas não gostavam porque, por vezes,
lutavam contra a prepotência do rei e do poder, estes alegaram mesmo proibir a advocacia.
Somente na 2ª Dinastia esta proibição foi levantada, mais propriamente com D. João I, fazendo
os juristas participarem nas cortes de Coimbra (séc. XIV), aqui distinguiu-se o advogado João das
Regras na defesa do Mestre de Avis.
b. Ordenações Afonsinas – Meados do séc. XV, reinado de D. Afonso V. São uma compilação de
leis. Afirmaram e consolidaram o sistema jurídico português no conjunto peninsular. Representam
a evolução do suporte anterior do direito português, até porque as ordenações ulteriores pouco
mais fizeram do que actualizar a colectânea afonsina.
Passaram a exigir que o procurador fosse letrado e se submetesse a um exame perante o
chanceler mor, obtida a aprovação era-lhe passada uma carta e tomado juramento de tratar bem
as causas que lhe fossem entregues. Além de letrado tinha de ser homem e maior de 14 anos.
Distinguem-se as funções de Advogado e Procurado.
Procurador, os que exerciam na Nossa casa Civil e na Nossa Corte, eram examinados pelo
Chanceler Mor, os que exerciam nas Nossas Cidades, Vilas e Lugares do Nosso Reino, eram
elegidos pelos oficiais e examinados pelo Chanceler Mor.

a. Ordenações Manuelinas – Datadas do séc. XVI, reinado de D. Manuel I. Faz-se uma revisão
das ordenações. Permitiram o exercício de advocacia aos graduados em Dto. Civil e Canónico sem
necessidade de exame. Definem-se os requisitos para ser procurador. Procurador Letrado, os que
exercem na Nossa Corte, na nossa casa civil, nas nossas cidades e vilas de nosso reino.
Procurador de corte, só lhes era passado o alvará depois de examinados pelos Desembargadores
de Agravo ou Chanceler Mor.
Procuradores de Casa Civil, os que fossem graduados, eram apresentados ao governador para os
examinar conforme os trâmites para os procuradores.
Procuradores Cidades e Vilas de Nosso Reino, eram examinados pelo Chanceler Mor, o qual lhes
dava duas cartas desde que houvesse lugar.

b. Ordenações Filipinas – séc. XVI e XVII, reinado de D. Filipe II. Regulamentaram a actividade
forense estabelecendo as condições de acesso, regras deontológicas, incompatibilidades e
honorários.
Quanto ás condições de acesso, tinham de ter 8 anos de estudo nas universidades de Coimbra em
Dto. Civil, Canónico ou ambas, praticar o ofício passados mais de 2 anos de acabar os estudos.
Podiam advogar, excepcionalmente, quem não fosse graduado tendo que se apresentar a exame
perante o Desembargador do Paço.
Quanto ás regras deontológicas, contam-se, não aconselhar ou advogar contra o direito expresso,
não abandonar o patrocínio sem o consentimento da parte ou do juiz, não fazer avença com as
partes, nem revelar segredos dos clientes. A infracção a qualquer uma das regras seria
severamente punida, podendo mesmo ocorrer o degredo para o Brasil ou a proibição definitiva do
cargo.
Quanto á incompatibilidade, não podiam advogar os fidalgos, cavaleiros, clérigos, tabeliães e
funcionários judiciais, salvo alguns casos.
Os Honorários, aqui designados por salários foram tabelados podendo atingir a quarentena do que
vencerem, ou defenderem até á quantia de 720 reis. No processo-crime não havia tabela pois não
eram coisas materiais, advogava-se em honra do acusado.
É ainda com as ordenações Filipinas que surge o Solicitador da Corte, Casa da Suplicação, Cidade
de Lisboa e Porto, tinha de saber ler e escrever, casado e bem costumado. Não podiam exceder
os 20 na corte e casa da suplicação, 30 na cidade de Lisboa e 10 na casa do Porto.

c. Decreto Real 1841 – publicação da Novíssima Reforma Judiciária. Legislação aplicada aos
Solicitadores: Porto e Lisboa – obrigatoriedade dos solicitadores em exercício, habilitarem-se e a
exibirem as suas cartas, podendo estes solicitadores requerer em qualquer terra do reino.

d. Decreto Real 1866 – Primeira distinção de Solicitadores encartados e Provisionários.


Solicitador Encartado, tinha de ser maior de idade e prestar exames. 100 na comarca de Lisboa,
50 no Porto, 10 na Comarca de 1ª Classe, 8 na 2ª Classe e 6 na 3ª Classe.
Solicitador Provisionário, tinha de ser maior de 18 anos e alvará de folha corrida.

e. Decreto Real de 1897 – Foi a consolidação do solicitador encartado. Destaca-se a fixação do


número máximo de Solicitadores pelas várias comarcas, 60 em Lisboa, 40 no Porto, 8 na 1ª
Classe, 6 na 2ª classe e 4 na 3ª Classe.
f. Estatuto da Associação dos Solicitadores Encartados do Porto, 1873/1907 – este tipo de
associação ajuda a melhorar a sorte dos solicitadores, contribuindo para a sua moralização. A
associação tinha como objectivos a manutenção, defesa, dignidade, direitos e justos interesses da
classe dos solicitadores, e fixar em conferências periódicas as regras que, na conformidade das
leis e práticas, devem exercer os solicitadores. Em 1907, são aprovados 31 solicitadores.

g. Estatuto Judiciário 1927 – O quadro dos solicitadores no continente e ilhas, será de 6 nas
comarcas de 1ª classe, 4 nas de 2ª classe e 3 nas de 3ª classe. Exceptuam-se as comarcas de
Lisboa com 70, 40 no Porto e 8 em Coimbra.
São admitidos através de concurso, com idade superior a 21 anos, habilitados com o curso geral
dos liceus e um estágio com um solicitador que exerça há mais de 10 anos. O concurso contará
com uma prova oral e outra escrita.
Os Solicitadores Provisionários ficam sujeitos ás obrigações e penalidades a que estão sujeitos os
Solicitadores, tem que ter mais de 21 anos e ter exame de instrução prévia.
Tinham como Penas Disciplinares a advertência por ofício, uma multa de 100$ a 500$, suspensão
temporária, que não pode exceder um ano, e cassação da carta ou nomeação.
Aparecimento da Câmara dos Solicitadores, em cada um dos distritos devem organiza-se me
câmara. Têm como atribuições elaborar o registo cadastral dos solicitadores, fiscalizar o exercício
profissional dos seus membros, resolver as questões que porventura se suscitem entre os seus
membros, constituir-se em associações de classe a fim de melhor poder zelar e defender os
interesses dos membros e promover o progresso e desenvolvimento da classe.

h. Regimento das Câmaras dos Solicitadores, 1929 – Para inscrição nas respectivas câmaras
dos solicitadores, serão classificados como Solicitadores, os indivíduos nomeados, e Solicitadores
Provisionários, os indivíduos autorizados a exercer a solicitadoria.
Têm como atribuições organizar o registo de inscrições de todos os solicitadores e seus ajudantes,
propor e oferecer à consideração dos poderes públicos quaisquer observações, participar a
qualquer autoridade ou repartição pública a prática de actos ou factos que afectem ou
prejudiquem os seus agremiados, promover o estudo de legislação e de jurisprudência, promover
em comum a defesa dos seus legítimos direitos e interesses, manter e desenvolver a
correspondência entre si, cuidar da disciplina dos seus agremiados, socorrer materialmente
qualquer agremiado que se encontre inabilitado para o exercício da profissão e enviar uma lista de
solicitadores aos juízes de direito.

i. 1ª Revisão Estatuto Judiciário, 1944 – Tem como propósito contribuir para a melhoria dos
serviços e de atender às suas necessidades, é alterado o estatuto de 1927.
Quadro dos Solicitadores passa para 50 em Lisboa, 25 no Porto e 6 em Coimbra, 3 nas Comarcas
de 1ª classe, 2 nas de 2ª e 3ª Classe.
Tinham de ser diplomados em bacharel de Direito ou o curso complementar dos liceus, ter
estagiado com um solicitador pelo menos 2 anos e ter idade superior a 21 anos.

j. 2ª Revisão Estatuto Judiciário 1962 – Quadro dos solicitadores passa a 50 em Lisboa, 30 no


Porto e 6 em Coimbra, 3 nas Comarcas de 1ª Classe e 2 nas de 2ª e 3ª Classe.
São classificados como Solicitadores Encartados e Solicitadores Provisionários. Para nomeação
prefere-se os bacharéis com melhor qualificação. O Concurso terá a validade de 90 dias.

k. Estatuto do Solicitadores 1976 – A profissão passa a reger-se por diploma próprio, visto que
até aqui se encontrava regulamentado no estatuto judiciário. Acaba-se com o quadro dos
solicitadores e passa-se a exercer por todo o país. Tem direito a alegar oralmente.
Tem como condições de acesso ser licenciado ou bacharel em Direito, ser escrivão de direito ou
ter sido julgado pelo Grupo Orientador de Estágio, possuir habilitações literárias mínimas do Curso
Complementar dos liceus ou equivalente.
Foram criados estágios de duração de 12 meses.
Procurou-se dignificar a classe dos Solicitadores.
l. Estatuto Solicitadores 1999 – Exigência de Licenciatura em Direito ou Bacharel em
solicitadoria.
Compatibilização das regras relativas ao exercício da profissão com a natureza de associação
pública da Câmara dos Solicitadores. Simplificação do modo de funcionamento dos órgão que
compõem a câmara. Estabelecimento de novas regras de formação e acesso de seus membros

m. Novo Estatuto dos Solicitadores 2003 – É criada a função de Solicitador de Execução, que
vai exercer sob a fiscalização da câmara e na dependência funcional do juiz da causa, estão
sujeitos como qualquer outro solicitador ao poder disciplinar da câmara. Criação de um novo
regime que regulasse esta nova profissão, nomeadamente quem pode exercer e quais os seus
direitos e deveres.
Nova estrutura da câmara dos Solicitadores, passa a ter Assembleia Geral, Presidente, Conselho
Geral, Conselho Superior, Congresso e Assembleia de delegados, como órgãos nacionais.

4. Definições:
Ordens e Câmaras – formadas pelos membros de certas profissões liberais, constituem a mais
relevante e numerosa categoria de associações públicas e privadas com o fim de disciplinar e regular
o exercício da respectiva actividade profissional. No seu significado originário aplica-se o termo
“ordem” a um tipo de ordem religiosa cristã composta de freires combatentes, e “ câmara” na
perspectiva administrativa, política e económica foi e é utilizado para denominar assembleia
regularmente constituída onde se trata de negócios de interesse comum.

Câmara dos Solicitadores – era qualificada como sindicato nacional que representa todos os que
no país exerciam a profissão de Solicitador.

Ordem dos Advogados – associação pública representativa dos licenciados em Direito, que em
conformidade com os preceitos do estatuto e demais disposições legais aplicáveis, exercem
profissionalmente advocacia.

Solicitador – deriva do Latim Sollicitatore e resulta duma adaptação do inglês Solicitor. Remonta a
1174 a menção de Vozeiro, figura que cumulava funções de Procurador e Advogado. Ao solicitador
compete assistir o cidadão de forma a evitar o litígio. Solicitar é sinónimo de requerer, ou seja, requer
em representação de alguém.

Advogado – deriva do latim Ad-vocatus, que significa o que é chamado em defesa. Durante milénios
a advocacia foi exercida por um mero espírito de solidariedade e gratuita. O advogado defensor-
orador foi o paradigma dos tempos antigos e logrou assinaláveis escritos forenses, conseguindo
absolvições inesperadas, os mais importantes eram nomeados para cargos da república

Símbolo da Justiça – foi a balança de dois pratos para “pesar as acções dos homens”. Actualmente
é a filha de Zeus de pé e de olhos abertos, tendo na mão direita uma espada e na esquerda a balança
de dois pratos. Mais tarde aparece no tempo da república, a deusa e IUS TITIA de pé mas de olhos
vendados. Para os romanos haveria justiça quando a fiel estivesse perfeitamente aprumo, recta.

Patrícios – eram os protectores e defensores dos plebeus, considerados seus vassalos.

Orador – foi substituído por causidici, advocati e patroni. Esta expressão é ainda hoje utilizada para
nomear o profissional do foro.

Advogado-Orador – homem de bem, hábil na parte de falar que usa a eloquência para defender as
causas públicas ou privadas.

Documentos – são escritos lavrados para prática de actos jurídicos.

Cartolários – o mesmo que cartórios ou notários. Colecções de documentos particulares, originais ou


apógrafos, reunidos pela necessidade que tinham os proprietários de conservar os títulos justificativos
do seu domínio.
Notário – Notarius, aquele que nota. Aquele que exarava no documento a declaração feita pelo
outorgante na presença de testemunhas que garantiam a publicidade do acto jurídico.
Signum – (sinal, marca distintiva) - sinal (geralmente uma cruz) que o outorgante apunha no final do
documento para validar ou corroborar a declaração exarada pelo notário ( donde provém a expressão
assinar de cruz).

Scriptorium – local onde as grandes corporações monásticas redigiam os documentos referente a


actos que as beneficiassem e que, posteriormente, eram levados á robora (autenticação) régia.

Autenticação Régia – era feita pelos sinais régios e pelos selos pendentes, de cera ou de chumbo.

Ordálios – recurso último ao qual os juízes deitavam mão a um processo.

Foral – deriva do termo latim “Fórum”, diploma concedido pelo rei ou por um senhorio laico, ou
eclesiástico, a uma determinada terra contendo normas que disciplinaram as relações dos povoadores
ou habitantes entre si e destes com a entidade outorgante. O objectivo principal do documento é
conceder a essa colectividade de indivíduos presentes e futuros o domínio da área que eles irão
povoar, cultivar e defender como homens livres, que já são ou que passam a ser no momento do
ingresso dela.

Corpus Iuris Civilis – quanto ao direito romano é sabido que no tempo do imperador Justiniano
( entre 528 e 534 a.C.) se tinham elaborado em Bizantino três grandes compilações: o código, o
digesto ou pandectas e as intitutas. O séc. VI, porém corresponde a um período de desorganização
política e social do ocidente. De modo, que as compilações Justinianas foram pouco conhecidas e
praticadas, não foram aplicadas. No território português o Dto. Romano persiste através do costume,
onde sofre profunda deformação, resultante da adaptação ás condições locais e entidades populares,
através do código visigótico. Ao conjunto das três compilações deu-se então o nome de Corpus Iuris
Civilis. Quanto ao código passou a compreender unicamente os nove primeiros livros, pois os três
finais destacados sob o nome de Três Livros, regulavam a organização político-administrativa do
império romano, que na idade média não interessava. Esses três livros figuravam por via de regras
para efeitos didácticos.

Tabeliães – Desde o reinado de D. Afonso II (1211-1223), que se encontravam oficiais públicos com
o título de tabeliães. A sua função era lavrar as escrituras particulares na casa ou paço dos Tabeliães.
Eram designados para servir as audiências dos juízes e nas reuniões da vereação e do concelho,
competindo-lhes escrever as actas e as deliberações, registar as leis recebidas da corte para execução
local e inventariar os bens dos órfãos. Eram de nomeação do Rei e tomavam posse na Chancelaria
Régia, onde prestavam provas e juravam a observância de outras normas deontológicas contidas em
artigos e que velava pela disciplina dos tabeliães, sobre a qual tinha jurisdição

Escrivão – distingue-se do tabelião por ser mero secretário de certa autoridade ou adjunto de certo
oficio, competia-lhes escrever o expediente da autoridade que secretariavam, registando por escrito
as suas decisões. Tinham de prestar juramento de que procederiam com verdade e exactidão, e eram
designados escrivões-jurados. Os próprios tabeliães passam a ter empregados que os auxiliassem
como escrivães. Na falta ou impedimento de algum tabelião, numa localidade, funcionava por ele o
escrivão. O escrivão-jurado, era assim uma ajudante do tabelião.

Selos do Concelho – foi D. Dinis no séc. XIV que determinou a presença de cinco testemunhas (em
vez das três habituais), como condição de validade das escrituras celebradas pelos tabeliães, e
mandou selar essas escrituras com o selo que deveria, daí em diante, existirem em cada cidade, vila
ou julgado.

Chancelaria-Régia – a chancelaria a partir de Afonso III torna-se um documento fundamental, por


onde correm e são expedidos documentos os quais variados sobre questões da justiça ou de graça.
Põe-se maior cuidado no registo dos documentos expedidos em livros que possam ficar arquivados,
preocupação que também é imposta a tabeliães públicos e escrivães dos ofícios.

Colectânea Flores delas Leyes – trata-se de um pequeno compêndio sobre processo civil da
autoria de Mestre Jacob das Leis. A sua doutrina é como um texto bebida do direito de Justiniano. As
Flores Delas Leyes foram traduzidas em Português no séc. XIII num códice do arquivo nacional da
Torre de Tombo. Este códice servia para julgar os pleitos.

Livros das Leis e Posturas - onde os Reis mandavam publicar as suas leis, através dos Tabeliães,
ou seja, os que as escreviam. Era onde se dava a conhecer as leis dos Reis. É um códice em
pergaminho com 168 folhas escritas a duas colunas em letra gótica dos séc. XIV ou XV, ou seja, trata-
se de uma colectânea que compreendem notícias de leis e actos do reinado de D. Afonso II e D.
Afonso III.

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