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DOENÇAS ENDÓCRINAS U1
Aula 04 - Diabetes Mellitus: Complicações Crônicas
INTRODUÇÃO  Rastreamento: no máximo anual.
 Um bom controle glicêmico, associado ao adequado
controle da pressão arterial e dos lipídios, é
considerado como a principal estratégia para
prevenção das complicações diabéticas
microvasculares e deve ser objetivado em todos os
diabéticos.

FISIOPATOLOGIA

 Via dos polióis (aldose redutase):


 Hiperglicemia: aumento do sorbitol → ↑ NADH e ↓
NADPH
 Duas consequências deletérias:
 Aumento da osmolaridade celular, fazendo a
célula inchar;
 Depleção do mioinositol celular: alteração da
bomba Na-K → acumulo de Na+ e
comprometimento da despolarização.
 Espessamento da membrana basal capilar,
proliferação endotelial, obstrução do fluxo
sanguíneo...

 Acúmulo de AGEs:
 Morbimortalidade  Produtos avançados da glicosilação;
 Incapacitações no trabalho  Ligam-se ao colágeno dos vasos, contribuindo para a
lesão endotelial da microvasculatura, levando à
 Custo para os serviços de saúde
fragilidade capilar e à obstrução microvascular, pela
 Prevalência de acordo com o tipo de diabetes
formação de microtrombos.
 Relação do controle glicêmico e o desenvolvimento das
complicações
 Aumento do estresse oxidativo (ROS)
 Complicações microvasculares:
 Alteração: Permeabilidade vascular; Função celular;
 Retinopatia
Apoptose
 Nefropatia
 Neuropatia
 Complicações macrovasculares:
 Doença coronariana
 Doença cerebrovascular
 Doença arterial periférica
 Pé diabético

FATORES DE RISCO
 Duração da DM e mal controle glicêmico
 Dislipidemias
 Obesidade
 Tabagismo
 HAS descontrolada
 Puberdade RESUMO VILAR
 Gravidez As complicações crônicas do diabetes melito, sejam elas
micro ou macrovasculares, são as principais causas de
COMPLICAÇÕES CRÔNICAS morbimortalidade relacionadas à doença. Elas também
MICROVASCULARES têm um grande impacto socioeconômico pelo
comprometimento da produtividade, da qualidade de
 Acompanhamento/seguimento
vida e da sobrevida dos diabéticos. Diversos mecanismos
 DM tipo 1: 5 anos após o diagnóstico
estão envolvidos na patogênese das complicações
 DM tipo 2: Logo após o diagnóstico
microvasculares, incluindo fatores genéticos, mas a
hiperglicemia crônica é o principal mecanismo. De fato, a

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hiperglicemia pode contribuir de forma independente, CLASSIFICAÇÃO


visto que se associa ao mecanismo de estresse oxidativo
por meio de ativação da via do poliol, aumento do fluxo
Ausência de retinopatia
da via de hexosamina, acúmulo de produtos finais de
glicação avançada (AGE) e pela ativação da via da Retinopatia diabética não proliferativa
proteinoquinase C (PKC). Um bom controle glicêmico,  Leve: somente microaneurismas;
associado ao adequado controle da pressão arterial e dos  Moderada: microaneurismas + outras alterações
lipídios, é considerado como a principal estratégia para que não caracterizem retinopatia severa;
prevenção das complicações diabéticas microvasculares
 Severa: qualquer uma das três alterações:
e deve ser objetivado em todos os diabéticos.
 Hemorragias nos quatro quadrantes da retina;
 Dilatações venosas em um quadrante;
 Alterações vasculares intrarretinianas em um
RETINOPATIA DIABÉTICA quadrante.
 Muito severa: presença de duas das três alterações
 Uma das principais causas de cegueira em indivíduos do quadro de retinopatia diabética não proliferativa
entre 20-74 anos. severa.
 Ocorre em quase 100% dos diabéticos tipo 1 após 20
anos, tratados com a terapia convencional, e em 60% Retinopatia diabética proliferativa
dos pacientes diabéticos tipo 2 após o mesmo período.  Presença de neovascularização: no disco óptico ou
 No DM tipo 1, pode aparecer após 3-5 anos de doença, na retina (descolamento de retina por tração);
porém raramente surge antes da puberdade.  Hemorragia vítrea.
 No DM tipo 2 após 5-8 anos do início da hiperglicemia.
 Edema macular diabético
 Deve-se otimizar o controle glicêmico, da hipertensão  A presença e a gravidade do EMD não estão
arterial (≤ 140 x 90 mmHg) e da dislipidemia para relacionadas diretamente com o grau da RD,
reduzir o risco e a progressão da RD. podendo estar associadas a qualquer estágio da
doença e evoluir de forma independente.
FISIOPATOLOGIA
 Microangiopatia (espessamento da membrana  RD não proliferativa leve:
capilar):  Microaneurismas ± exsudatos duros ± pequenas e
 Quebra da barreira hemato-retiniana → esparsas hemorragias intrarretinianas em chama de
Aumento da permeabilidade vascular: vela.
 Hemorragias  Os exsudatos duros são resultado do
 Exsudatos duros extravasamento de lipídios e proteínas plasmáticas
 Edema retiniano/macular pelos microaneurismas e capilares com maior
 Oclusão capilar → isquemia → aumento de fatores permeabilidade. Como as partículas maiores não são
de crescimento (VEGF) reabsorvidas, formam os exsudatos duros, que se
 Exsudatos algodonosos apresentam como lesões amareladas na
 Shunts arteriovenosos = malformação vascular fundoscopia.
 Neovascularização

 RD não proliferativa moderada:


Figura 1: Retinografia em paciente com retinopatia diabética  Mais que a RD leve e menos que a RD grave (ex.:
proliferativa inicial. A. Neovasos periféricos. B. Hemorragia em
exsudatos algodonosos, hemorragias
chama de vela. C. Exsudatos duros. D. Manchas algodonosas. E.
Loop venoso. intrarretinianas numerosas em chama de vela, veias
em rosário em um quadrante).

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 A visão do paciente costuma ser poupada nesta fase, a  Maculopatia diabética:


não ser que as lesões ocupem a mácula (maculopatia  Caracteriza-se pelo edema macular reversível
diabética) (causa mais comum de sintoma visual no diabético),
múltiplos exsudatos duros em volta da fóvea ou
ainda pela maculopatia isquêmica (caracterizada
pela falta de perfusão macular na angiografia, com
aumento da zona avascular foveal).
 Principais causas de perda da visão central em
diabéticos.

FATORES DE RISCO PARA RD E EDEMA MACULAR


 Tempo de diabetes (>5anos)
 Má qualidade do controle glicêmico/variabilidade
glicêmica (HbA1C)
 História familiar de diabetes, independentemente do
tipo
 Hipertensão arterial sistêmica
 Puberdade
 Dislipidemia
 Gestação
 Tabagismo
 RD não proliferativa grave (pré-proliferativa):  Melhora muito rápida do controle glicêmico em
 Marcada por múltiplas lesões isquêmicas na retina. pacientes cronicamente mal controlados
 Há mais de 20 hemorragias intrarretinianas em cada  Nefropatia diabética
um dos quatro quadrantes, e/ou veias em rosário  Medicamentos
em pelo menos um quadrante, e/ou alterações
microvasculares intrarretinianas (IRMA) TRATAMENTO
proeminentes em pelo menos um quadrante.  Objetivo: reduzir risco de perda de visão
 Controle dos fatores de risco (glicemia, colesterol e
 RD proliferativa PA)
 Devido à isquemia retiniana difusa e acentuada, são  Controle de FO (fundo de olho) ou mapeamento de
produzidos fatores locais de crescimento vascular, retina anual (DM1 após 5 anos de doença ou na
promovendo uma angiogênese descontrolada. puberdade, DM2 ao dx)
 Os neovasos podem ser identificados na  Se evolução → seguimento semestral
fundoscopia, geralmente acompanhando a trajetória  Gestantes: FO pré-gestacional e no primeiro
das artérias ou veias retinianas. trimestre
 Com o passar dos anos, o tecido neovascularizado
evolui para fibrose e retração → descolamento de  A partir do primeiro exame, a triagem deve ser
retina do tipo tração. repetida anualmente (sem RD) e semestralmente
 O rompimento dos neovasos, produzindo (com RD).
hemorragia vítrea.
 A formação e a fibrose dos neovasos na íris  Se risco de perda visual (oftalmologista):
provocam glaucoma agudo.  fotocoagulação a laser,
 Portanto, há três formas de amaurose (perda total  farmacomodulação com antiangiogênico,
da visão) na RD proliferativa: descolamento  infusão intravítrea de medicamento anti-
retiniano, hemorragia vítrea e glaucoma agudo. inflamatório,
 implante intravítreo de polímero farmacológico de
liberação controlada e
 cirurgia vitreorretiniana (vitrectomia via pars plana,
endolaser/ endodiatermia, membranectomia, troca
fluido-gasosa, infusão de gás expansor e implante de
silicone intravítreo)

 O controle da doença é avaliado:


 pela acuidade visual,
 pelo estadiamento da classificação da RD e
 pela análise dos exames complementares:
retinografia simples (exame de fundo de olho),
retinografia fluorescente e tomografia de coerência
óptica da retina.

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RESUMO DO VILAR 2016  6. Rins em fase terminal – Síndrome urêmica.


A retinopatia diabética (RD) é a principal causa de casos  Quase todos os diabéticos tipo 1 apresentam
novos de cegueira não reversível em pessoas entre 25 e hiperfiltração glomerular, contudo apenas 30%
75 anos em países desenvolvidos. Sua prevalência varia desenvolvem a nefropatia.
bastante entre os estudos, mas provavelmente afeta
aproximadamente 40% dos diabéticos, sendo mais RASTREAMENTO
frequente no diabetes melito (DM) tipo 1 (DM1) do que
no DM tipo 2 (DM2). No DM1, é encontrada após 5 anos  O rastreamento precisa ser anual e basear-se na
de doença, mas pode estar presente em cerca de 20% dos medida da albuminúria (EUA) e na estimativa da TFG.
pacientes com DM2 ao diagnóstico. Nos estágios iniciais  Iniciar, preferencialmente, pela medida de albumina
da RD, os pacientes são assintomáticos, mas, à medida em amostra isolada de urina (primeira da manhã
que a doença progride, o paciente percebe manchas no ou casual): acurácia diagnóstica e facilidade de
campo visual, distorção da imagem e redução da coleta.
acuidade visual. Os microaneurismas são o sinal mais  Índice albumina-creatinina
precoce de RD. A RD proliferativa (RDP) é a forma mais  Concentração de albumina.
grave e se caracteriza pela presença de neovasos
retinianos que podem facilmente se romper. A perda da  Confirmar teste anormal em duas de três amostras
visão pode resultar de hemorragia vítrea, descolamento coletadas em um intervalo de 3 a 6 meses, devido à
de retina tracional ou edema macular. O tratamento de variabilidade diária da EUA (excreção urinária de
escolha para a RDP e a RD não proliferativa grave é a albumina).
fotocoagulação com laser. A aplicação intravítrea de
medicamentos antiangiogênicos, como tratamento  Recomenda-se uma triagem anual para a presença de
adjuvante, tem se mostrado eficaz. O principal fator de microalbuminúria na DM tipo 1 > 5 anos, e na DM tipo
risco para a RD é a hiperglicemia crônica; assim, para sua 2, desde o diagnóstico.
prevenção, é fundamental um bom controle glicêmico
desde o início do DM. CAUSAS DE ELEVAÇÃO DA EUA
 Excluir todas as causas de falsos positivos!
 Exercícios, infecções, febre, mau controle glicêmico,
NEFROPATIA DIABÉTICAS (ND) ingestão de proteínas em excesso, HAS mal controlada,
ICC e litíase renal.
 Incidência varia entre 20-40% em ambos os tipos de
diabetes mellitus.
FATORES DE RISCO PARA O APARECIMENTO E
 Geralmente se apresenta com proteinúria manifesta no
exame de urina convencional (EAS) ou mais de 300 mg
PROGRESSÃO DA ND
na urina de 24h.  Duração da doença,
 Causa mais comum de insuficiência renal crônica  Microalbuminúria,
terminal nos EUA e Europa.  Mau controle glicêmico,
 A maior importância da ND reside em ser um fator de  Fatores genéticos,
risco para HAS e doenças do aparelho circulatório,  HAS,
aumentando a morbimortalidade dos pacientes.  Tabagismo,
 Hipercolesterolemia,
FISIOPATOLOGIA  Obstrução urinária, ITU de repetição, uso de drogas
 Deposição em excesso de proteínas da matriz nefrotóxicas.
extracelular nos glomérulos
 Espessamento da membrana basal capilar glomerular DIAGNÓSTICO E CLASSIFICAÇÃO
 Aumento de matriz mesangial
 Glomeruloesclerose (nodular ou difusa)  Medida da albuminúria:
 Deposição excessiva de proteínas da matriz  Microalbuminúria: 30-300 mg albumina na urina de
extracelular nos glomérulos: 24h
 Proteinúria  Macroalbuminúria: > 300 mg/24h
 HAS  Relação albumina/creatinina: ≥ 30 mcg/mg ou
 Uremia progressiva mg/g.
 Taxa de filtração glomerular
HISTÓRIA NATURAL
 1. Hipertrofia e hiperfiltração glomerular (há aumento Valores de albuminúria utilizados para o diagnóstico
do tamanho renal e hiperfunção do órgão); de doença renal do diabetes.
 2. Espessamento da membrana basal glomerular e Amostra casual de urina Valores
expansão mesangial;
 3. Microalbuminúria → Nefropatia incipiente; Concentração de albumina ≥ 14 mg/L
 4. Nefropatia manifesta, caracterizada pela proteinúria Índice albumina-creatinina ≥ 30 mg/g
franca;
 5. Insuficiência renal progressiva; e Amostra de urina de 24 horas ≥ 30 mg/24 h

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DRD e estágios de classificação da DRC de acordo com a TFG e a EUA.


Estágios Fase Descrição TFG (mL/min/1,73 m2)
Fase inicial: hipertrofia renal e hiperfiltração
1 TFG normal ou elevada* ≥ 90
glomerular
Fase silenciosa: microalbuminúria apenas após os
2 TFG levemente reduzida* 60 a 89
exercícios
3A Fase de nefropatia incipiente: microalbuminúria Moderada redução da TFG 45 a 59
3B persistente Redução marcada da TFG 30 a 44
Fase de nefropatia clínica: proteínas positivas em
4 Redução grave da TFG 15 a 29
EUA (macroalbuminúria) e HAS
Fase de doença renal terminal: proteinúria, HAS e Insuficiência renal
5 clearance de creatinina < 10ml/min e/ou (creatinina plasmática > < 15
creatinina sérica ≥ 10mg/dl 1,5 mg/dl)
* Excreção urinária de albumina (EUA) elevada

 A microalbuminúria é uma fase precoce da nefropatia diabética que, se for tratada, pode prevenir a evolução para
nefropatia manifesta (proteinúria franca).
 Os fatores determinantes para essa progressão são a hiperglicemia e a hipertensão arterial

TRATAMENTO
 Baseia-se no:
 1. Controle glicêmico rígido;
 2. Controle da hipertensão arterial com uso preferencial dos IECA (captopril, enalapril, lisinopril) ou dos
antagonistas da angio II (losartan, ibesartan, candesartan).
 3. Controle da dislipidemia (LDL-c < 100).

INTERVENÇÃO DESCRIÇÃO
 IECAs
Fármacos que atuam no  BRAs
SRAA  Antagonistas dos receptores da aldosterona
 Inibidores diretos da renina
 Restrição moderada de proteínas: 0,8 g/kg por peso/dia em casos de progressão da DRD
Restrição proteica
e redução da TFG
 Uso de diuréticos tiazídicos (furosemida, se TFG < 30 mL/min), antagonistas do cálcio
e/ou β-bloqueadores e/ou vasodilatadores
Controle pressórico
 Alvo: PA ≤ 140/90 mmHg ou ≤ 130/80 mmHg (situações especiais: jovens, risco elevado
de AVC etc.)
 Alvo: HbA1c < 7%
Controle glicêmico
 Individualizar de acordo com a presença de comorbidades
 Paciente não dialítico
 ≥ 50 anos de idade: uso de estatina
 < 50 anos de idade e presença de doença cardiovascular estabelecida ou risco
Controle de lipídios cardiovascular em 10 anos > 10%: uso de estatina
(Estatinas)  Paciente dialítico
 Manter hipolipemiante se introduzido antes da diálise
 Indicar início de estatina apenas em situações especiais (como infarto do miocárdio
etc.)

 Bloqueio do SRAA: em todos os casos, mesmo em  Instalada a insuficiência renal (TFG < 15
normotensos → Usar IECA* ou BRA ml/min/1,73m2 e/ou creatinina plasmática > 1,5
 Não associar! mg/dl):
 Evitar em gestantes e lactentes  Nefrologista: ClCr < 70ml/min/1,73m2, ou
 Monitorizar Cr e K creatinina sérica > 2mg/dl, ou aumento de potássio.
 Reavaliar albuminúria para checar se a droga está  Para ClCr < 25ml/min/1,73m2 = diálise ou
sendo eficaz transplante renal
 Os diuréticos tiazídicos e os BCC não  O transplante renal é a terapia de escolha para esta
diidropiridínicos podem potencializar o efeito fase da doença.
antiproteinúrico do IECA.

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 Recomenda-se também o transplante combinado FISIOPATOLOGIA


pâncreas-rim, com os trabalhos demonstrando  Combinação de um efeito metabólico (hiperglicemia,
excelentes resultados em curto e longo prazos e com glicação não enzimática, estresse oxidativo, ativação da
redução importante da recidiva da nefropatia proteína C quinase etc.) dependente do acúmulo de
diabética. sorbitol nos axônios, associado ao comprometimento
isquêmico endoneural, devido à lesão microvascular.
 A ADA sugere que o indivíduo seja encaminhado ao
nefrologista quando a TFG < 70 ml/ min e/ou
creatinina sérica > 2 mg/dl, ou ainda se houver
dificuldade no manuseio da HAS e da hipercalemia.

 Obs.: Os pacientes diabéticos em programa de diálise


apresentam sobrevida menor que os demais
portadores de doença renal crônica por outras
etiologias.

RESUMO VILAR
A doença renal do diabetes (DRD) ou nefropatia diabética
é uma das mais frequentes complicações
microvasculares do diabetes melito (DM), acometendo
entre 25 e 40% dos pacientes, e geralmente começa a se
manifestar após 5 a 10 anos do início da doença. A FATORES DE RISCO PARA NEUROPATIA DIABÉTICA
elevada prevalência do DM na população contribui para  Idade avançada,
que a DRD seja a principal causa de doença renal crônica  Duração do DM,
no mundo, responsável por aproximadamente metade  Susceptibilidade genética,
dos casos de falência renal nos países desenvolvidos.  Glico/lipotoxicidade, inflamação e estresse oxidativo.
Tipicamente, a doença se manifesta inicialmente
como aumento persistente da excreção urinária de CLASSIFICAÇÃO CLÍNICA DAS NEUROPATIAS
albuminúria (EUA) que, na ausência de tratamento, tende  Polineuropatias simétricas generalizadas:
a se exacerbar e a evoluir com redução progressiva da  Sensitivomotora periférica (polineuropatia
taxa de filtração glomerular (TFG). No entanto, simétrica distal);
particularmente no DM tipo 2, a queda da TFG pode  Sensitiva aguda;
anteceder o aumento da EUA. O principal fator de risco  Autonômica.
para o surgimento da DRD é o controle glicêmico  Neuropatias focais e multifocais:
inadequado, mas fatores ambientais adicionais  Cranianas;
(sobretudo, hipertensão) e fatores genéticos também  De membros (nervos mediano, ulnar, peroneal,
desempenham um papel importante. lateral da coxa; compressivas: túnel do carpo e do
tarso);
 Truncal – toracoabdominal;
NEUROPATIA DIABÉTICA  Proximal motora (femoral, amiotrofia);
 Complicação crônica comum (afeta mais de 50% dos  Coexistente neuropatia desmielinizante
diabéticos) inflamatória crônica.
 Afetando até 50% dos DM do tipo 2 e DM tipo 1 em
NEUROPATIA PERIFÉRICA
menor proporção
Polineuropatia Distal Simétrica (PNDS)
 Atinge grande número de órgãos e sistemas
 Compromete tanto o sistema nervoso somático como o  Mais comum (25 a 50%)
autonômico → ampla gama de apresentações e de
sintomatologias, a depender do órgão acometido.  A base fisiopatológica é a lesão das fibras axonais
 O risco tem relação estreita com a duração do diabetes grossas mielinizadas ou fibras A (que conduzem a
e o nível de controle glicêmico. sensibilidade vibratória e proprioceptiva) e de fibras
 Pode estar presente já no momento do diagnóstico do finas não mielinizadas ou fibras C (que conduzem a
DM2, inclusive em indivíduos pré-diabéticos com graus sensibilidade térmica, dolorosa e tátil).
discretos de hiperglicemia.
 Estes pacientes são propensos a ter úlceras plantares
 No DM1, costuma surgir a partir de 5 anos do início da indolores, que podem infectar, acarretando gangrena
doença. úmida (pé diabético)

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SINAIS E SINTOMAS  O painel de Toronto define a PND como:


 Alterações da sensibilidade com progressão centrípeta  Possível: presença de sintomas (dormência,
 Hipoestesia (dormência) ou parestesia formigamentos, dor em queimação, pontadas nos
(formigamento) "em botas e luvas" dedos, pés ou pernas) ou sinais (sensibilidades
 Dor do tipo queimação, choque ou lancinante com ou diminuídas ou reflexos aquileus comprovadamente
sem alodínea + cãimbras, com piora noturna diminuídos ou ausentes);
(impedindo o paciente de dormir) e melhora com a  Provável: presença de dois ou mais sintomas e
deambulação sinais de diminuição das sensibilidades ou reflexos
 Alodínea consiste na intolerância a estímulos aquileus diminuídos ou ausentes;
simples, como contato com roupas, lençóis etc  Confirmada: existência de anormalidade de VCN
(velocidade de condução nervosa) e um ou mais
 Sintomas motores → musculatura intrínseca distal das
sintomas ou um ou mais sinais neuropáticos.
mãos e pés:
 Deformidades (ex.: dedos em martelo, dedos em
garra etc.).  Exames (diagnóstico clínico):
 Atrofia dos músculos interósseos e limitação da  Reflexo Aquileu: diminuído/ausente.
extensibilidade articular das mãos, originando o  Percepção de vibração: diminuída/ausente.
“sinal do rezador”  Monofilamento de 10 g: diminuído/ausente.
 Propriocepção: diminuída/ausente
 Evolui para anestesia completa das extremidades →
 Discriminação térmica (frio/quente):
distribuição anormal da pressão.
diminuída/ausente**
 Alto risco de amputação!
 Sensibilidade dolorosa (toque pontiagudo):
diminuída/ausente
DIAGNÓSTICO

 O rastreamento é anual a partir de 5 anos de duração


para o DM1 e ao diagnóstico no DM2.
 O diagnóstico de PND é de exclusão, e outras causas de
neuropatia periférica devem ser afastadas, como:
deficiências vitamínicas (B12, princ.), infecções,
hipotireoidismo.
 É comum deficiência de vitamina B12 pelo uso
abusivo de IBP e metformina.

Causas não diabéticas que devem ser excluídas para manejo da dor.
Metabólicas: doenças tireoidiana e renal; sistêmicas: vasculite sistêmica, vasculite não
Doenças metabólicas,
sistêmica, disproteinemias e amiloidose; infecciosas: HIV, hepatite B, doença de Lyme
sistêmicas, infecciosas e
e hanseníase; inflamatórias: polirradiculoneuropatia inflamatória desmielinizante
inflamatórias
crônica.
Deficiência de vitamina B12, pós-gastroplastia e deficiência de piridoxina, tiamina e
Aspectos nutricionais
tocoferol.
Intoxicação por agentes industriais (acrilamida, organofosforados etc.), por drogas
Intoxicação (álcool, amiodarona, colchicina, dapsona, alcaloides da vinca, platina, taxol etc.) e por
metais (arsênico e mercúrio).
Hereditariedade Causas hereditárias motora, sensitiva e autonômica.

TRATAMENTO DA NEUROPATIA PERIFÉRICA


 Geral:
 Controle metabólico: controle rigoroso da
glicemia, lipídico, de peso e das comorbidades;
 MEV: cessar do tabagismo e alcoolismo; realizar
atividade física
 Tratamento dos sintomas e sinais da neuropatia
sensorimotora (ameniza a dor neuropática)
 Tratamento dos sintomas e sinais de neuropatia
autonômica

 Controle da dor:
 Abordagem inicial: pregabalina ou a duloxetina

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Classe de drogas Agente Dose inicial Dose efetiva


Pregabalina 25 a 75 mg, 1 a 3 x/dia 300 a 600 mg/dia
Anticonvulsivantes 100 a 300 mg, 1 a 3 x
Gabapentina 900 a 3.600 mg/dia
/dia

Antidepressivos (inibidor seletivo da Duloxetina 20 a 30 mg/dia 60 a 120 mg/dia


recepção de noradrenalina e serotonina) Venlafaxina 37,5 mg/dia 75 a 225 mg/dia
Amitriptilina 10 a 25 mg/dia 25 a 100 mg/dia
Antidepressivos tricíclicos Desipramina
Nortriptilina
Tramadol 50 mg, 1 a 2 x/dia 210 mg/dia
Liberação imediata: 50 a Liberação imediata, dia 1:700
Opioides 100 mg, 4 a 6 x/dia mg; depois do dia 1, 60 mg/dia
Tapentadol
Liberação estendida: 50 Liberação estendida: 50 mg, 2
mg, 2 x/dia x/dia

 Ácido alfalipoico (ácido tióctico): 600 mg/dia; efeito NEUROPATIA AUTONÔMICA


antioxidante; reservada para os pacientes que não  Comum – subdiagnosticada
responderam ou não toleram os tricíclicos ou os  Associada a formas graves da neuropatia sensitivo
anticonvulsivantes. motora crônica
 Creme de capsaicina a 0,075%: substância presente  25-50% dos pacientes DM tipo 1 e 34-70% dos DM tipo
na pimenta que age inibindo o neurotransmissor 2.
substância P; indicada para casos de dor localizada.  Grande impacto na morbimortalidade
 Disfunções: qualidade de vida
 Morte súbita por arritmias
 Hipoglicemia despercebida ou hipoglicemia
induzida pela falência autonômica
 Diabetes instável: marcado por episódios de
hipoglicemias e hiperglicemias frequentes

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA NEUROPATIA AUTONÔMICA


Disfunção Sintomas, sinais e achados diagnósticos
Tonturas por hipotensão postural, hipotensão pós-prandial, taquicardia em repouso,
Cardiovascular intolerância ao exercício, isquemia miocárdica ou infarto sem dor, complicações nos
pés e morte súbita.
Alterações na textura da pele, edema, proeminência venosa, formação de calo, perda
Autonômica periférica
das unhas e anormalidades na sudorese dos pés.
Disfagia, dor retroesternal, pirose, gastroparesia, constipação, diarreia e incontinência
Gastrintestinal
fecal.
Geniturinária Disfunção vesical, ejaculação retrógrada, disfunção erétil e dispareunia.
Sudomotora Anidrose distal e sudorese gustatória.
Resposta pupilar anormal Visão muito diminuída em ambientes escuros.
Resposta neuroendócrina
Menor secreção de glucagon e secreção retardada de adrenalina.
à hipoglicemia

DIAGNÓSTICO  Eletrocardiograma durante uma inspiração


 Os pacientes assintomáticos ou oligossintomáticos profunda comparado ao da expiração (mede-se os
podem ser detectados por exames simples: intervalos R-R).
 Pressão arterial supina e após dois minutos em  Frequência cardíaca fixa, entre 80-120 bpm,
ortorstatismo (positivo, se houver hipotensão  Anidrose na porção inferior do corpo e hiperidrose
postural: queda > 20 mmHg da PA sistólica ou queda na porção superior do corpo
> 10 mmHg na PA diastólica);

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CARDIOVASCULAR PNDS SENSITIVA AGUDA


 Variabilidade da frequência cardíaca (VFC) reduzida;  Pobre controle glicêmico ou melhora brusca do
 Taquicardia de repouso: controle
 Sintomas: regulação anormal da pressão arterial:  Dor com piora noturna ou ao repouso, melhora com
nondipping, reverse dipping; palpitações. movimentação - Processo isquêmico
 Sinais/teste diagnóstico: frequência cardíaca de  Não se apresenta geralmente com sinais neurológicos
repouso > 100 bpm. e tende a melhorar com o controle metabólico
 Hipotensão ortostática; adequado
 Sintomas: tontura, fraqueza, desmaio, deficiência
visual, síncope. NEUROPATIAS FOCAIS E MULTIFOCAIS
 Sinais/teste diagnóstico: redução > 20 mmHg na  Cranianas:
PAS ou >10 mmHg na PAD  Pares cranianos: III (oculomotor), IV (troclear), VI
 Morte súbita (arritmia maligna) (abducente) e VII (facial)
 Taquicardia ou bradicardia ortostática e  Idosos, instalação aguda, dolorosa e limitada (3
incompetência cronotrópica (tudo com o ficar de pé) meses) - isquemia neuronal
 Tontura, fraqueza, vertigem, desmaio, deficiência  Tratamento sintomático + controle metabólico
visual, síncope.
 Intolerância a exercício  Mononeuropatias dos membros e neuropatia
 A hipotensão postural deve ser tratada com medidas compressiva:
gerais (levantar-se devagar, elevar a cabeceira da  Mononeuropatia: mediano, ulnar, peroneal comum,
cama, cruzar as pernas ao levantar, aumentar a femoral lateral cutâneo, radial, sural e isquiático
ingestão de sal, suspender ou substituir drogas  Idosos, instalação aguda e limitada - isquemia
relacionadas) ou com o uso do mineralocorticoide neuronal
fludrocortisona, contraindicado na hipertensão  Neuropatias compressivas: Sd. Túnel do carpo e do
arterial. tarso – Inflamação
 Betabloqueadores cardiosseletivos, como o atenolol.
 Neuropatia truncal:
GASTRINTESTINAL  Raízes nervosas do tórax
 Idosos, dor intensa, tipo queimação – isquêmicas
 Gastroparesia diabética (gastropatia);
 DD com neuralgia pós-herpética.
 Náusea, inchaço, perda de apetite, saciedade
precoce, vômito pós-prandial, diabetes “instável”
 Neuropatia motora proximal (amiotrofia):
 Enteropatia diabética (diarreia);
 Idosos, dor em queimação, lancinante, nas coxas e
 Diarreia aquosa e profusa, pode alternar com
fraqueza mm proximal - tem isquemia e inflamação.
constipação
 Hipomotilidade colônica (constipação).
 Coexistente neuropatia desmielinizante
 Pode alternar com diarreia explosiva
inflamatória crônica:
 Disfunção esofágica:  Grave polineuropatia progressiva,
 Azia, disfagia para sólidos predominantemente motora, mas tb com perda
 Os sintomas da gastroparesia devem ser controlados sensitiva progressiva e aumento de proteínas no
com metoclopramida 30 minutos antes das refeições, liquor.
domperidona, bromoprida ou cisaprida. A
eritromicina pode ser usada pelo seu efeito RESUMO VILAR 2016
procinético (motilina-like). As neuropatias estão entre as complicações crônicas
mais comuns do diabetes melito (DM) e afetam tanto o
UROGENITAL sistema nervoso (SN) somático, como o SN autônomo. A
 Cistopatia diabética (bexiga neurogênica): forma mais comum das neuropatias diabéticas
 Frequência, urgência, noctúria, hesitação fluxo fraco, periféricas é a polineuropatia sensorimotora crônica,
incontinência urinária, retenção urinária. também denominada de polineuropatia diabética (PND).
 Disfunção sexual feminina: Ela afeta pelo menos 1/3 dos pacientes com DM tipo 1 ou
 Desejo sexual diminuído, dor aumentada durante tipo 2, bem como até 1/4 daqueles com pré- diabetes. Seu
relação sexual, excitação sexual diminuída, quadro clínico é bastante variável, podendo ser
lubrificação inadequada rapidamente reversível ou irrecuperável, bem como
 Disfunção sexual masculina: cursar com formas dolorosas graves ou formas
 Disfunção erétil, diminuição da libido, ejaculação assintomáticas, com ou sem disautonomias
anormal concomitantes. As neuropatias autonômicas diabéticas
resultam em comprometimento retiniano,
SUDOMOTORA cardiovascular, gastrintestinal, geniturinário e de
membros inferiores. A exemplo das neuropatias
 Pele seca:
diabéticas periféricas, elas podem resultar em elevada
 Hipoidrose distal/anidrose;
morbidade e comprometimento da qualidade de vida,
 Sudorese gustativa;
além de aumento de mortalidade cardiovascular. Devido

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à perda da sensibilidade termo-tátil- dolorosa, a PND  Alteração da microcirculação: alteração da


favorece o surgimento do pé diabético e subsequentes regulação vasodilatação x vasoconstrição →
amputações de membros inferiores, se as úlceras não aumento do fluxo vascular e fistulas arteriovenosas
forem prontamente reconhecidas e tratadas, sobretudo → pé quente, veias distendidas e edema.
quando, concomitantemente, houver doença arterial  Deformidades articulares → neuroartropatia de
periférica. Nenhum tratamento é curativo, e os Charcot (grau máximo de lesão neuropática)
medicamentos existentes visam ao alívio ou à melhora  DAP: isquemia periférica (face lateral e medial dos pés
dos sintomas. Portanto, a prevenção das neuropatias e extremidades dos dedos).
diabéticas é a conduta mais apropriada, tendo como fator
mais importante um adequado controle glicêmico desde Fatores extrínsecos:
o diagnóstico do DM.  Traumas (calçados inadequados, caminhar descalço,
objetos dentro do sapato, quedas ...) + pés insensíveis e
mau vascularizados = Ulcera.
PÉ DIABÉTICO
 Envolve infecção, ulceração e/ou destruição de tecidos  Importante observar também lesões não ulcerativas
profundos, associadas com anormalidades (bolhas, calos, micose, pele macerada)
neurológicas e graus variados de doença arterial
periférica.
 O desenvolvimento do pé diabético resulta da
integração da neuropatia com a vasculopatia com ou
sem a presença de infecção.

 A gangrena diabética é multifatorial, contudo tem na


neuropatia diabética, na vasculopatia diabética MANIFESTAÇÕES
(isquemia) e na disfunção leucocitária (facilitando a
ação dos micro-organismos) as suas principais causas  Sintomas sensitivos:
 Parestesia ou hipoestesia (mais comum):
EPIDEMIOLOGIA formigamento, sensação de frio, queimação,
 A mais terrível complicação da neuropatia diabética é anestesia em graus mais avançados.
a úlcera neuropática (mal perfurante plantar)  Motor:
 É a principal causa de amputação de membros  Ocorre denervação que provocam alterações
inferiores não traumáticas! musculares → destruição da arquitetura do pé →
 85% das amputações de membros inferiores em deformações (paciente perde noção proprioceptiva,
diabéticos são precedidas por 1 ou mais úlceras nos de impacto)
pés  A perda da sensibilidade proprioceptiva
desestabiliza a musculatura do arco plantar, levando
FATORES DE RISCO à distribuição de toda a pressão do peso do corpo
 PND para apenas uma área, geralmente a região tenar –
 Deformidades (PND motora, PND biodinâmica e LMA) um local comum de úlcera diabética.
 Trauma  Alterações autonômicas:
 DAP  Comum o pé ser extremamente ressecado, com
 Histórico de úlcera e de amputação hiperemia
 Outros:  Fissuras, Perda da pilosidade.
 Doença renal do diabetes e retinopatia  Pé de Charcot: causado pelo aumento da pressão e
 Condição socioeconômica pelas alterações osteoarticular (pé sem formato,
 Indivíduo que mora sozinho e inacessibilidade ao úlcera na região médio-pé que não é isquêmica e sim
sistema de saúde neuropática). Pode ser agudo ou crônico, no caso
agudo o tratamento é imobilização
FISIOPATOLOGIA
 Glicemia alta levando a alterações que causam danos
aos nervos periféricos (neuropatia), sendo sensitivas,
motoras ou autonômicas

Fatores intrínsecos
 Neuropatia diabética:
 Perda de sensibilidade protetora plantar e motora →
atrofia mm. e deformidades → áreas de pressão
anormais + alteração de marcha → calos → ulceras
 Alteração autonômica simpática: redução ou
ausência de sudorese → ressecamento da pele →
rachaduras e fissuras.

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CARACTERÍSTICAS DO PÉ DIABÉTICO RASTREAMENTO DO PÉ DIABÉTICO


 Neuropático.
 Vascular (também chamado isquêmico).  Dados demográficos: idade, sexo, tipo e duração do
 Misto (neurovascular ou neuroisquêmico) DM, comorbidades, tabagismo
 Histórico prévio: úlceras e amputações
 Pé neuropático:
 Remoção dos calçados: avaliar o uso de calçados
 Quente, bem perfundido, pulsos amplos, vasos
adequados
dorsais dilatados
 Anidrose, pele seca (fissuras e rachaduras)  Achados clínicos: deformidades (artropatia de
 Deformidades: arco médio elevado, metatarsos Charcot), calos, rachaduras, micose, maceração da pele,
proeminentes, dedos em garra/martelo coloração e temperatura da pele; acuidade visual.
 Áreas de pressão plantar anormal, calosidades  Detecção de neuropatia periférica: sensibilidades
 Susceptível a alterações articulares graves (Charcot) tátil, térmica, dolorosa, vibratória e reflexo aquileu
 Detecção de DAP: inspeção (incluindo inter digitos),
 Pé isquêmico: coloração da pele, presença de pulsos, determinação do
 Pé frio, com pobre perfusão, pulsos ausentes ou ITB (ecodoppler manual)
diminuídos
 Pele fina e brilhante  Biomecânica (pressão plantar): plantígrafo
 Cianose, rubor postural, palidez ao elevar o pé
 Unhas atrofiadas, ausência ou rarefação de pelos

CLASSIFICAÇÃO

 O “pé diabético” é classificado em cinco graus de lesão


(classificação de Wagner):

Sinais de neuropatia e/ou isquemia, sem


Grau 0
ulceração.
Grau I Úlcera superficial.
Úlcera profunda sem abscesso e sem
Grau II
osteomielite.
Úlcera profunda com celulite, abscesso,
Grau III possivelmente com focos de osteomielite
e gangrena do subcutâneo.
Gangrena úmida localizada em  Avaliação clínica e radiológica:
Grau IV
pododáctilo.  Descartar possibilidade de osteomelite, infeção
Grau V Gangrena úmida de todo o pé. profunda e avaliar a anatomia do pé
 Radiografia de PA e perfil do pé afetado com ou sem
carga
 Procurar: lise óssea, fratura patológica
 Ressonância magnética do pé (mais sensível)

TRATAMENTO
 Cuidados locais: limpeza e curativos
 Antibioticoterapia
 Leves Gram (+): amoxicilina com clavunalato
 Graves (amplo espectro): ampicilina/sulbactam,
ceftriaxona + clindamicina, ...
 Tratamento da dor neuropática
 Alívio de pressão: muletas, bengalas, gesso contato
total, ...
 Repouso
 Desbridamento cirúrgico
 Amputação: para os graus IV e V (gangrena) e em
casos de osteomielite grave e/ou refratária
 Úlceras vasculares: avaliar revascularização

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 Classificação e seguimento clínico:


Categoria de Seguimento
Definição Recomendação de tratamento
Risco sugerido
Sem PSP, DAP e
0 Educação e aconselhamento sobre calçados Anual
deformidades
PSP com ou sem Educação, calçados adequados, cirurgia profilática da
1 Cada 3 a 6 meses
deformidades deformidade
DAP com ou sem Educação, calçados adequados, encaminhamento ao
2 Cada 2 a 3 meses
deformidades vascular (acompanhamento conjunto)
Histórico de ulcera ou Educação, calçados adequados, encaminhamento ao
3 Cada 1 a 2 meses
amputação vascular se DAP presente
Figura 2: Perda de sensibilidade protetora (PSP); Úlceras de pés diabéticos (UPD); Doença arterial periférica (DAP)

PROFILAXIA (CUIDADO COM O PÉ) fase terminal. Úlceras são o resultado de uma
 Uso de sapatos com solado macio, cuidado ao cortar combinação de componentes que, em conjunto, levam à
unhas (reta), higienização, examinar interior do ruptura do tecido. Os caminhos causais mais
sapato, uso de palmilhas, cuidado com exposição ao frequentemente observados para o desenvolvimento de
frio ou ao calor intenso (não fazer escalda pés), evitar úlceras do pé incluem neuropatia periférica e doença
deambular descalço, autoinspeção diária dos pés, vascular, deformidade do pé ou traumatismo. A doença
inspeção no consultório médico vascular periférica, muitas vezes, não é diagnosticada em
pacientes com DM até que a perda de tecido seja
evidente, geralmente sob a forma de uma úlcera não
cicatrizante. Identificação de pacientes com DM que
estão em alto risco de ulceração é importante e pode ser
alcançada por meio de rastreio anual do pé com
subsequentes intervenções multidisciplinares para os
cuidados com os pés. Compreender os fatores que põem
os pacientes com DM em alto risco de ulceração e
valorizar as ligações entre os diferentes aspectos do
processo da doença é essencial para a prevenção e o
tratamento das complicações do pé diabético.

COMPLICAÇÕES CRÔNICAS
MACROVASCULARES
DEFORMIDADE (CHARCOT)  Complicações microvasculares são mais comuns, mas as
 Orientações de cuidados e utilizações de calcados macrovasculares levam mais a óbito (mortalidade 2 a 4x
adequados (fechado para não machucar) maior que não diabéticos)
 Calçado ortopédico, mais profundos protegendo o pé,  Aterosclerose: DAC-IAM, AVC e DAP
palmilhas mais espessas podendo customizá-las,  Aterosclerose difusa e extensa, com placas mais instáveis,
alem da alteração de fluxo (vasodilatação x vasoconstrição).
pedindo a retirada de carga que o paciente precisa,
 Diabético tem risco para evento cardiovascular semelhante
região fica livre de pressão
ao de indivíduos não diabéticos com DCV estabelecida
 Obs.: Úlcera (mal perfurante plantar): só o calcado não  Diabetes elimina o fator protetor feminino
é suficiente, vou utilizar medidas para diminuir a carga
de maneira mais efetiva. Posso imobilizar o pé com MECANISMOS FISIOPATOLÓGICOS
uma tala, ou com a botinha, tirando a pressão da pisada  Hiperinsulinismo:
do pé para a perna  Ativação da via MAP cinase è crescimento e proliferação
celulas endoteliais
RESUMO VILAR 2016  Inativação da via PI-3-cinase è reduz liberação de NO è
O diabetes melito (DM) representa a causa mais comum aumenta vasoconstrição e pró-inflamação (NF-κβ e PCR)
de amputação não traumática de membros inferiores na  Hiperglicemia: semelhante as alterações microvasculares
 Sistema renina-angiotensina-aldosterona (A II):
população geral. Está associado a uma série de alterações
 Inibe via PI-3-cinase; Ativa via MAP cinase; Estimula
macro e microvasculares que podem se manifestar com aumento PA
uma grande variedade de complicações. Ulcerações do pé  Disfunção endotelial; DLP; Hipercoagulabilidade; Estresse
afetam cerca de 2 a 4% dos pacientes com DM. Os fatores oxidativo; Neuropatia autonômica; Inflamação subclinica
de risco para as lesões do pé incluem neuropatia
periférica e autonômica, doença vascular e prévia
ulceração do pé, bem como outras complicações
microvasculares, tais como retinopatia e doença renal em

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ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL - AVC DOENÇA ARTERIAL PERIFÉRICA - DAP


 AVCi: 90% dos casos, risco de 2 a 3 vezes maior  Aterosclerose arterial de extremidades inferiores
 AVCh:10%, mais extensos  Maior risco de ulceras e amputações de membros inferiores
 Fatores de risco: DM, HAS, DLP, DAP e DAC, ingestão (segunda maior causa de pé diabético)
exagerada de bebida alcoólica  Quadro clinico/estágios:
 Investigação: TC crânio na suspeita  Assintomáticos (compensado por vasos colaterais ou
presença de neuropatia sensitiva)
DOENÇA ARTERIAL CORONARIANA - IAM  Claudicação intermitente (circulação colateral compensa
 Surgimento mais precoce, mais extenso e mais grave no repouso, mas não ao esforço)
 Mortalidade significativamente maior  Dor isquêmica em repouso (piora noturna)
 Ulceração ou gangrena
 Fatores de risco: síndrome metabólica (obesidade, RI, DLP e
HAS), tabagismo, consumo exagerado de bebidas alcoólicas  Exame físico: inspeção dos pés, palpação de pulsos, índice
tornozelo-braquial (US doppler manual)
 Neuropatia sensitiva e autonômica è infarto silencioso ou
atípico  Avaliação complementar (cirurgião vascular):
 US doppler de MMII; RM; Arteriografia contrastada
 Investigação:
(padrão-ouro)
 Teste ergométrico; Imagem de perfusão miocárdica com
radioisótopos (SPECT); Escore de cálcio das coronárias  Tratamento:
 Revascularização; Medicação: AAS (controverso);
Amputação.

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