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Lucas Júnior Silva dos

Santos
OAB/SP 453-747

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ FEDERAL DO JUIZADO


ESPECIAL FEDERAL DA COMARCA DE ANDRADINA/SP

Autos nº 1006495-73.2020.8.26.0024

LEONICE SANT’ANA DE LIMA, já devidamente qualificada


nos autos em epígrafe, vem, mui respeitosamente, à presença de Vossa
Excelência, por meio de seus advogados e procuradores, apresentar sua réplica à
Contestação, expor e requerer o que se segue.

Aduziu a Ré que:

1- A Autora não demonstrou o fato constitutivo do direito


Pleiteado;
2- Ausência dos requisitos da responsabilidade civil;
3- Inexistência de danos morais;
4- Inexistência de dano material;
5- Redução do valor da condenação por dano moral;
6- Da não inversão do ônus de prova.

Data máxima vênia os argumentos lançados pela outra parte, os


fatos e direito invocados, em sua peça defensiva, não coadunam com a realidade
e não trazem plausibilidade, devendo ser todas repelidas, senão vejamos:

Av. Guanabara, nº. 1058, Centro. Andradina-SP.


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1. DA DEMONSTRAÇÂO DO FATO CONSTITUTIVO DO DIREITO


PLEITEADO;

De forma leviana, fazendo uso de argumentos genéricos, a parte


Ré aduziu que a Autora não trouxe aos autos quaisquer elementos factuais que,
ao menos, em tese, justificaria o que pugna na inicial.

Ocorre que, tais argumentos não merecem prosperar, visto que, a


inicial é indubitável quanto a causa de pedir, vejamos:

Conforme bem narrado na inicial, na data de 02 de setembro de


2020, a Autora recebeu uma ligação de um indivíduo que se identificou como
CARLOS. Na ocasião, CARLOS questionou se LEONICE havia realizado
compra na Lojas Americanas de Campinas/SP, no valor de R$ 4.315,00 (quatro
mil, trezentos e quinze reais), dizendo que o pedido dela não vinha sendo
aprovado, e pedindo para que a requerente regularizasse a situação junto ao seu
banco, CAIXA ECONÔMICA FEDERAL, ora requerida.

LEONICE, estranhando a situação, uma vez que não havia


realizado qualquer compra, realizou ligação para a central de atendimentos ao
consumidor (0800), a partir do número alocado no verso de seu cartão de crédito,
e, após ser direcionada por todas as discagens, guiada pelo sistema eletrônico da
própria empresa, entrou em contato com MARCELO, supostamente funcionário
do banco.

MARCELO atendeu o chamado de LEONICE, informou a ela os


protocolos de atendimentos, informou todos os dados de sua conta, tais como
agência, número da conta, dados do cliente, registros de extratos e valores em
conta e limite de crédito, informou o seu ramal direto para atendimento e, após,
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disse a ela que um funcionário realizaria a troca de seu cartão, buscando em sua
residência.

Minutos depois, um terceiro indivíduo compareceu à casa da


requerente e recolheu o seu cartão.

Após, ao tentar novo contato com MARCELO, suposto


funcionário do banco, foi informada que seu problema seria resolvido em pouco
tempo. Instantes depois, o número informado à autora já não mais chamava.

Dessa forma, LEONICE se deslocou até a agência da CAIXA


ECONÔMICA FEDERAL, e, lá, conversou com o gerente JORGE, que lhe
informou que havia sido vítima de um golpe, e que o banco não poderia se
responsabilizar pelo ocorrido.

Ao verificar seu extrato bancário, LEONICE viu que haviam


sido realizada duas compras a partir da sua conta, sendo a primeira no valor de
R$ 1.615,00 (mil, seiscentos e quinze reais), relativos ao saldo de sua conta
corrente, e a última no valor de R$ 2.700,00 (dois mil e setecentos reais),
referente ao crédito de seu cheque especial, ambas autorizadas pelo banco,
zerando, por completo, seu saldo e limite.

Ao tentar solucionar a situação junto ao seu banco, instituição


responsável pela autorização das compras não costumeiras em grande importe,
não teve êxito.

A autora, então, enviou notificação extrajudicial, por carta, ao


Banco Central e à Caixa Federal, noticiando os fatos, com a juntada de extratos
de compras no cartão, bem como extrato de sua conta corrente. Ao mesmo

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tempo, tentou registrar os fatos no PROCON e não logrou sucesso; registrou o


ocorrido em Boletim de Ocorrência de nº 595/2020.

Entretanto, o caso da requerente parou no tempo sem que lhe


fosse dispensada maior atenção, amargando, sozinha, significativo prejuízo
financeiro, dada suas condições modestas de vida.

Deste modo, mostra-se evidente a causa de pedir, não havendo


de se cogitar o oposto.
2. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL;

Alega, o Réu, que o caso em tela carece dos requisitos da


responsabilidade civil – dano, ato ilícito e causalidade –, devendo, portanto, a
ação ser julgada improcedente.

Mais uma vez, o Réu não assiste razão, pois o dano, o ato ilícito
e a causalidade são cristalinos.

O dano é incontestável, visto que, a Autora suportou um


prejuízo de R$ 4.906,96 (quatro mil, novecentos e seis reais e noventa e seis
centavos).

Por sua vez, o ato ilícito é mais do que evidente, uma vez que,
o Banco Réu permitiu que terceiros tivessem acesso a dados sigilosos, e, ainda,
que terceiros, por meio do telefone oficial do banco, entrasse em contato com a
Autora, levando-a à cilada.

Por fim, a causalidade é presumida, haja vista que, se não fosse


a negligência do banco na guarda dos dados bancários da Autora esta não teria
sido vitima de um golpe.
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3. INEXISTÊNCIA DE DANOS MORAIS;

O executado alega de forma genérica que não há dano moral do


caso dos autos, no entanto, não merece prosperar suas alegações.

É axiomático o dano de ordem moral que sofre a vítima de um


erro praticado pelo seu próprio banco, que importa em consequência em todos os
demais âmbitos de sua vida. A autora, de uma hora para outra, viu-se sem suporte
financeiro para custear suas despesas ordinárias, cumprir com seus acordos, o
que lhe causou enorme constrangimento, e se viu num período em que, sequer,
tinha dinheiro à disposição para comprar alimentos, ocasião em que foi obrigada
a pedir ajuda de seus familiares e amigos para sobreviver.

Segundo Carlos Roberto Gonçalves (2017):

Dano moral é o que atinge o ofendido como pessoa, não


lesando seu patrimônio. É lesão de bem que integra os
direitos da personalidade, como a honra, a dignidade, a
intimidade, a imagem, o bom nome etc., como se infere dos
arts. 1º, III, e 5º, V e X da Constituição Federal, e que
acarreta ao lesado dor, sofrimento, tristeza, vexame e
humilhação. (pág. 446)

É inquestionável a existência do nexo causal entre a conduta


indevida do requerido e o dano moral causado à autora, pois fazendo uma
reflexão, o Nobre Julgador chegará à conclusão da aplicação da teoria do dannum
in re ipsa, segundo a qual, havendo violação à norma jurídica que, de alguma

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forma, tenha a pessoa humana no âmbito de sua proteção, surge o dano moral
como consequência necessária.

Deste modo, mostra-se inevitável a desconsideração das


alegações do banco Réu, em razão da ausência de firmeza em seus argumentos
no que tange a inexistência de dano moral.

4. INEXISTÊNCIA DE DANO MATERIAL;

Com o fim de esquivar-se de responsabilidade civil o Banco Réu


faz mal uso da técnica jurídica objetivando levar este juízo ao engano, neste
ponto, aduziu, sem o menor constrangimento, inexistir danos materiais, o que por
sí é suficiente para reconhecer a leviandade dos argumentos defensivos.

Conforme bem exposto, entende-se por dano emergente o efetivo


prejuízo, a diminuição patrimonial direta sofrida pela vítima. Segundo Carlos
Roberto Gonçalves (2017, p. 429), é o tipo de dano que representa a diferença
entre o patrimônio que a vítima tinha antes do ato ilícito e o que passou a ter
depois.

Esse dano é o que repercute no patrimônio corpóreo de uma


pessoa. Leciona Sérgio Cavalieri Filho:

“O dano patrimonial, como o próprio nome diz, também


chamado de dano material, atinge os bens integrantes do
patrimônio da vítima, entendendo-se como tal o conjunto
de relações jurídicas de uma pessoa apreciáveis em
dinheiro. Nem sempre, todavia, o dano patrimonial resulta
da lesão de bens ou interesses patrimoniais. Como adiante
vermos, a violação de bens personalíssimos, como o nome,
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reputação, a saúde, a imagem e a própria honra, pode


refletir no patrimônio da vítima, gerando perda de receitas
ou realização de despesas – o médico difamado perde a sua
clientela -, o que para alguns autores configura no dano
patrimonial indireto”.

O dano emergente não precisa de grandes esforços para ser


mensurado. A indenização referente ao dano emergente deverá ser suficiente para
quitar com o prejuízo material efetivamente suportado, ou seja, restitutio in
integrum.

No caso em testilha, a requerente, em decorrência negligência


por parte de seu banco, teve sua conta zerada. Além disso, foi consumido o limite
de seu crédito no cheque especial. Desta forma, o valor total do prejuízo
amargado, no importe inicial de R$ 4.315,00 (quatro mil, trezentos e quinze
reais)

Desta forma, não há qualquer possibilidade de ser acatar a tese


de que não há danos materiais, em face de ser fato incontroverso e incontestável.

5. REDUÇÃO DO VALOR DA CONDENAÇÃO POR DANO MORAL;

O Réu aduz que, em caso de condenação, o valor da indenização


a título de dano moral deve ser diminuído, com base no princípio da
razoabilidade, no entanto, tais argumentos não merecem prosperar, pois o
sofrimento suportado pela Autora, em ver sua saúde financeira se esgotando, em
razão da conduta negligente do Banco, merece uma resposta judicial idônea, ou
seja, apta a satisfazer a pretensão, e, ainda, corrigir posturas ilegais praticadas por
instituições financeiras.

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Destarte, é assente na jurisprudência que, dada a natureza do


dano moral, a pretensão da reparação pela vítima deve passar apenas pela
obrigação daquela em provar os fatos que deram origem aos sentimentos que
infligiram os direitos inerentes à sua personalidade. Embora seja evidente, não há
o que se falar em comprovação do efetivo prejuízo porque o dano dessa natureza
decorre da simples violação de obrigações legalmente impostas.

Desta forma, considerando todo o constrangimento e demais


prejuízos suportados pela requerente, resta notória a necessária aplicação de
danos morais ao caso em epígrafe.

Por derradeiro, importante considerar que a reparação ao dano


moral deve se ater ao caráter dúplice: repressivo, específico e geral, reprimindo a
conduta do ofensor para que não volte a praticar o ato ilícito e sirva de exemplo
para toda sociedade, como forma de desestimular a prática do ilícito, e
compensatório, para que o ofendido, recebendo determinada soma pecuniária,
possa amenizar os efeitos decorrentes do ato que foi vítima.

Conforme entendimento seguido pelo Superior Tribunal de


Justiça a partir do julgamento do REsp 135.202/SP, sob relatoria do Min. Sálvio
de Figueiredo Teixeira é “recomendável que o arbitramento seja feito com
moderação, proporcionalmente ao grau de culpa, ao nível socioeconômico dos
autores, e, ainda, ao porte da empresa recorrida, orientando-se o juiz pelos
critérios sugeridos pela doutrina e pela jurisprudência, com razoabilidade,
valendo-se de sua experiência e do bom senso, atento à realidade da vida e às
peculiaridades de cada caso”.

Portanto, o quantum final fixado para a reparação deve ser


suficiente para sanar todas essas questões, e firmar que o nosso direito não tolera
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condutas danosas impunemente, devendo a condenação atingir, efetivamente, de


modo significativo, o patrimônio do agente causador do dano, para que, assim, o
Estado possa demonstrar a força do Direito, o qual existe para ser cumprido.

6. DA NÃO INVERSÃO DO ÔNUS DE PROVA;

O Banco Réu se opõe a inversão do ônus da prova, sob o


argumento de não ser verossímil as alegações da Autora.

Novamente, os argumentos trazidos não merecem retaguarda, já


que estamos diante de um prestador de serviço na forma do art. 3º do CDC, e de
destinatários finais (art. 2º, CDC) na condição de vítimas (art. 17, CDC).

Vale transcrever:

“A hipossuficiência é pressuposto mais técnico do que


econômico, muito embora, algumas vezes essas duas
fragilidades se encontrem no mesmo caso. Nesse sentido, a
hipossuficiência do consumidor pode ser considerada
como um plus à vulnerabilidade. É o algo mais que o
legislador atribuído ao consumidor para equipará-lo ao
fornecedor em juízo.” (DIENSTMANN, Soeli Teresinha
Schiling. A responsabilidade civil nas relações de
consumo. São Paulo: Lex Editora, 2011, p. 59; com apoio
do Instituto dos Advogados de São Paulo – IASP)

Há, destarte, de se invocar os princípios inerentes à relação de


consumo havida in casu, pleiteando de forma ampla os direitos contidos e

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previstos na Lei Federal nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), em


especial, as previsões relativas aos direitos básicos do consumidor, trazidas pelo
artigo 6º, o direito de reparação, garantido pelo inciso VI deste artigo, a inversão
do ônus probatório, previsto ao inciso VIII, e demais dispositivos legais
pertinentes.

Não bastando isso, a documentação juntada na inicial são


suficientes para atestar a verossimilhança dos fatos narrados, o que por sí é
suficiente para tornar possível a inversão do ônus da prova.

7. DOS PEDIDOS.

Diante do todo exposto, requer o normal prosseguimento do


feito, com a rejeição liminar do excesso de execução (art 525, §§ 4º e 5º, CPC,
além dos demais argumentos, esperando que, ao final, a presente ação seja
julgada procedente, nos termos delineados em Inicial, e consequente condenação
do executado ao pagamento das custas e honorários advocatícios sucumbenciais,
e demais cominações de direito.

Termos em que,
pede deferimento.

Andradina/SP, 13 de julho de 2021.

HYGOR GRECCO DE ALMEIDA SILVIO ESERIAN ALVES DE


OAB/SP nº 214.125 LIMA
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