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O HOMEM QUE CONFUNDIU SUA MULHER COM

UM CHAPÉU e outras histórias clínicas

O Homem Que Confundiu Sua Mulher com um Chapéu (título original, em inglês: The Man
Who Mistook His Wife for a Hat) é um livro de 1985 escrito pelo neurologista Oliver Sacks (1933-
2015) que descreve os casos de alguns dos seus pacientes que vivem imersos em sonhos,
aberrações intelectuais e percepções fantásticas em consequência de danos cerebrais.

No livro são relatados 24 ensaios sobre pacientes que perderam a memória de grande parte de
seu passado ou que não eram mais capazes de reconhecer pessoas e objetos comuns. Em
particular, a história que lemos, que informa sobre o estudo de caso de um homem com Agnosia
Visual (Prosopagnosia) que tenta tirar o chapéu à sua esposa, mas acaba por pegar na sua
cabeça e tenta colocá-la na sua, sem conseguir perceber o que estava a fazer de errado.

A doença deste paciente é conhecida como: Prosopagnosia em grego: "prosopon" = "cara",


"agnosia" = "incapacidade de reconhecer", também conhecida como cegueira para feições, é
uma desordem rara da percepção da face, na qual a habilidade de reconhecer os rostos está
danificada, embora a habilidade de reconhecer objetos pudesse estar relativamente intacta.

Alguns subtipos de agnosia são reconhecidos na literatura, são eles: agnosia de objetos visuais
da via ventral, como prosopagnosia (para rostos, incapacidade para reconhecer faces, como no
caso do referido paciente), alexia pura (para palavras, incapacidade para identificar o significado
nas palavras escritas), agnosia espacial visual da via dorsal (para movimento), ou agnosia de
orientação (para a colocação de objetos no espaço).

Devido ao facto da face funcionar como uma característica fundamental para a identificação
entre ser humanos podemos entender a dificuldade gerada para estes pacientes, pois têm uma
grande dificuldade para identificar as pessoas, dificultando a socialização normal e levando a
adaptações como por exemplo reconhecer os demais através do cheiro, tom de voz ou roupas
que a pessoa utiliza.
Mas quais são as causas da prosopagnosia?

Temos a prosopagnosia congênita, esta é uma condição que se apresenta ainda na infância e
que afeta a capacidade dos indivíduos de reconhecer rostos, e a prosopagnosia no adulto, que é
adquirida geralmente após um derrame ou acidente de trânsito.

Outras causas de agnosia incluem tumores cerebrais, abcessos cerebrais e doenças que
causam degeneração progressiva de certas áreas do cérebro, como por exemplo a doença de
Alzheimer. Tais indivíduos têm problemas de reconhecimento, em geral facial. Ressalta-se que os
indivíduos com prosopagnosia têm inteligência normal, porém memória e visão típica de baixo
nível.

Descobrimos que os sintomas de agnosia variam dependendo da região cortical que está
lesionada:

• No Lobo Parietal: as pessoas têm dificuldade em identificar um objeto familiar, ao ser


colocado na mão do lado do corpo oposto à lesão. No entanto, quando observam o objeto,
reconhecem-no e identificam-no imediatamente. Algumas pessoas com lesão no lobo
parietal insistem que não há nada de errado ou ignoram o problema.

• Lobo Occipital: os indivíduos não reconhecem objetos do dia-a-dia, como uma colher,
mesmo estando no seu campo de visão.

• Lobo Temporal: as pessoas podem não ter a capacidade de reconhecer sons, embora
possam ouvi-los.

• Lobo Occipital e Temporal: as pessoas podem não reconhecer lugares familiares e pode
ocorrer o Daltonismo.

Como se faz o Diagnóstico?

O primeiro passo no diagnóstico é reconhecer que existe algum problema na interpretação dos
estímulos externos como por exemplo reconhecer a face de uma outra pessoa. O Neurologista
identificará, durante a avaliação clínica, sinais e sintomas que possam sugerir a ocorrência dessas
doenças citadas acima. O exame neurológico permitirá identificar alterações que possam auxiliar
no diagnóstico da região cerebral envolvida. Também podem ser realizados alguns testes
neuropsicológicos que avaliam o funcionamento do cérebro. Esses testes podem envolver
questões e/ou pedidos para fazer movimentos específicos.

Além disso, realizam-se exames de imagem, como a Tomografia Computadorizada (TC) ou


Ressonância Magnética (RM), com o objetivo de identificar alterações na estrutura cerebral que
possam justificar os achados prévios e para afastar as inúmeras causas apontadas acima com por
exemplo: AVC, infeções e tumores.

Qual o Tratamento?

O tipo de tratamento vai estar associado com o motivo que está a causar as descobertas
neurológicas. Um paciente com uma lesão tumoral cerebral terá um tratamento completamente
diferente de um paciente com uma infeção, por exemplo. Cada caso será individualizado e por
isso é fundamental a avaliação com um Neurologista.

Conclusão

As doenças que causam lesões no Córtex Cerebral, camada mais externa do cérebro,
costumam cursar com sintomas que nos causam estranheza pois alteram sistemas que muitas
vezes estão associados com a nossa interpretação do ambiente externo. Estas alterações
evidenciam as funções cerebrais superiores na nossa interação com o ambiente e com os demais.
Além disso, fica evidente a importância do nosso cérebro na nossa diferenciação como espécie,
estando presente em todas as etapas do nosso dia-a-dia desde a mais simples até a mais
complexa.

Breves comentários

Achei a história de fácil leitura e bastante interessante por abordar os ramos da neurologia e
psicologia. Gostei de conhecer mais sobre o nosso cérebro e também da maneira que o autor lida
e torna mais leve o peso dos duros diagnósticos. (Inês)

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