Você está na página 1de 6

Uso potencial dos anticonvulsivantes no tratamento

ambulatorial da dependência de álcool


INTRODUÇÃO
 Intervenções farmacológicas (IF) para tratar a síndrome de
dependência do álcool (SDA)
 Diretamente relacionado à compreensão dos mecanismos de ação do
etanol e dos seus efeitos nos diferentes sistemas de neurotransmissão
que ocorrem no sistema nervoso central (SNC) (LARANJEIRA et al,
2000)
 Síndrome de depedência do álcool (DAS) acomete  cerca  de  11,2%
da  população  adulta  brasileira
 Em todo o mundo, 3 milhões de mortes por ano resultam do uso
nocivo do álcool, representando 5,3% de todas as mortes.
 Em geral, 5,1% da carga mundial de doenças e lesões são atribuídas
ao consumo de álcool,
 Na faixa etária de 20 a 39 anos, aproximadamente 13,5% do total de
mortes são atribuíveis ao álcool.
 O uso nocivo de álcool é um fator causal para mais de 200 doenças e
lesões.

Sintomas emocionais e fisícos da Síndrome de dependência do álcool:

 Ansiedade, irritabilidade, alterações de humor, insônia, tremores,


convulsões, pressão arterial mais alta, pulso acelerado, respiração
acelerada, freqüência cardíaca acelerada, desidratação e delirium
tremens e podem relacionada depressão (KIMBROUGH et al, 2018)

Razões  que  tornam  os  Anticonvulsivantes (ATCs)  uma  classe  de


Intervenções farmacológicas (IF) promissora :
 Prevenção de recaídas no tratamento da SDA;
 Anti-kindling (pode-se definir “kindling” como o fenómeno em que
um estimulo elétrico ou químico fraco, que em condições normais
não desencadearia uma resposta comportamental, quando
administrado várias vezes, acaba por desencadear resposta, havendo
alterações dos neurotransmissores cerebrais (GABA e NMDA) -
impede a progressiva gravidade dos sucessivos episódios de SAA ;
 Ausência de potencial de abuso;
 Estabilizadora  do  humor  no  caso  de  comorbidades  psiquiátricas
como Transtorno Afetivo Bipolar  (TAB);
 Menor  interação  com  o  álcool,  quando  em  comparação   com  os
benzodiazepínicos  (BDZs);
 Efeito  anti-craving (inibição do desejo de repetir a experiência em
função dos efeitos de uma dada substância);
 Uso potencial no tratamento da síndrome de abstinência  protraída
(SAP) (geralmente leves, mas desconfortáveis, por várias semanas
ou meses após a síndrome de abstinência física aguda ter passado.
Esta é uma condição encontrada em dependentes do álcool,
dependentes de sedativos, e dependentes de opióides. Os sintomas
psíquicos tais como ansiedade, agitação, irritabilidade e depressão
são mais proeminentes que os sintomas físicos. Os sintomas podem
ser precipitados ou exacerbados pela visão do álcool ou da droga de
dependência, ou pelo retorno ao ambiente previamente associado ao
uso de álcool ou de outra droga);  
 Baixa  incidência   de  efeitos  adversos,  como,  por  exemplo,
déficits  cognitivos.

Na  psiquiatria,  os  anticonvulsivantes  (ATC)  possuem   um  espectro  de


ação  amplo, como:
 Bulimia  nervosa  (BN)
 Transtornos da compulsão alimentar periódica (TCAP)
 Transtornos do pânico
 Transtornos de estresse pós-traumático
 Transtornos de  controle  dos  impulsos  
 Casos refratários de transtorno afetivo bipolar (TAB)

INTERVENÇÕES FARMACOLÓGICAS PRECONIZADAS NA DAS


Dissuftiram
Definição: inibidor da aldeído desidrogenase que causa efeitos aversivos
quando o álcool é consumido.
 Resultados com esse medicamento são inconsistentes na DAS
 Supõe-se que indivíduos mais idosos e socialmente estáveis tratados
com DSF bebem menor número de dias que aqueles tratados com
placebo (Fuller et al., 1986)
 Não há boas evidências a favor do uso de implantes de
DSF(implantes sub-dérmicos), mas a possibilidade de uma injeção
de depósito é intrigante
Entre seus efeitos colaterais:
 Rash cutâneo;
 Gosto metálico na boca;
 Náuseas, diarréia;
 Dor de cabeça;
 Impotência.
Menos frequente:
 Hepatite colestática;
 Hepatite fulminante.
OBS.:Contraindicada para pacientes com hepatite aguda, cirrose
hepática com ou sem hipertensão e insuficiência hepática 
Dissulfiram
O primeiro fármaco aprovado pelo FDA, em 1951, para o tratamento da
dependência do álcool, foi o DSF. Para que se entenda o mecanismo de
ação desse fármaco, é importante compreender o metabolismo do álcool no
organismo. Dessa forma, quando o álcool é ingerido, primeiramente é
convertido em acetaldeído pela enzima álcool desidrogenase (ADH).
Consecutivamente, o acetaldeído é transformado em acetato pela aldeído
desidrogenase (ALDH) e metabolizado em CO2 e água, posteriormente.
Assim, o DSF é um inibidor irreversível da enzima ALDH que, ao ser
inibida, promove o acúmulo de acetaldeído, ocasionando a reação etanol-
dissulfiram (RED) quando há ingestão concomitante de álcool e DSF
(Figura 6) (FRANCK; JAYARAM-LINDSTROM, 2013). Com isso, o
acetaldeído acumulado causa sudorese, rubor facial e dores de cabeça logo
após a ingestão de bebidas alcoólicas ou o contato com o álcool por
qualquer outra via de exposição. Em intensidade moderada, a RED pode
causar taquicardia, hiperventilação, palpitação, dispneia, náusea e
hipotensão. Em casos mais graves, pode ocorrer vômitos, arritmia,
inconsciência, convulsões, depressão respiratória, colapso cardiovascular,
infarto do miocárdio, insuficiência cardíaca congestiva aguda e morte.
Desse modo, o grau de severidade da RED vai depender de cada indivíduo
e da proporção da dose ingerida de álcool e de DSF (SUH et al., 2006).
Com isso, a associação do uso do álcool com esses sintomas citados,
desmotivam o consumo da bebida alcoólica durante o tratamento com o
DSF (CASTRO; BALTIERI, 2004).

1. Convertido em acetaldeído pela enzima álcool desidrogenase (ADH)


2. Acetaldeído é transformado em acetato pela aldeído desidrogenase
(ALDH) e metabolizado em CO2 e água
3. DSF é um inibidor irreversível da enzima ALDH que, ao ser inibida,
promove o acúmulo de acetaldeído, ocasionando a reação etanol-
dissulfiram (RED) quando há ingestão concomitante de álcool e DSF
Síndrome de abstinência do álcool
Administração crônica de álcool induz alterações de neuroadaptação do
SNC:
 Down-regulation (dessensibilização ou subsensibilidade)
 Up-regulation (supersensibilidade ou hipersensibilidade)
OBS.: esses fenômenos neuroquímicos são responsavéis pelas
manifestação clínica da Síndrome de asbstinência do álcool (SAA)
OBS.: associado à redução do influxo de íons Cl-, alteração nos canais de
cálcio do tipo L, estudos têm demonstrado que a administração crônica de
etanol leva a uma redução na atividade dos canais de cálcio do tipo L,
reduzindo a atividade elétrica dentro do neurônio e, assim, reduzindo a
ação de neurotransmissores:

Pesquisas:
 As crises convulsivas deram início nas primeiras 36 horas após a
retirada do etanol correlacionou-se ao efeito neurotóxico com a
hiperatividade glutamatérgica. O uso potencial dos
anticonvulsivantes se justifica  devido  à  correção  dessas  alterações
neuroadaptativas dos sistemas GABAérgico e glutamatérgico, quer
seja  aumentando  ou  diminuindo  atividades  inibitória  e/ou  
excitatória dos mesmos (Laranjeira et al., 2000).
 Os anticonvulsivantes são eficazes na redução de convulsões e
outros sintomas da abstinência, também diminui a tolerância aos
efeito hipnótico do etanol (Zullino  et al., 2004)
 Os episódios  repetidos de SAA podem sensibilizar os episódios
posteriores, essa sugere-se que sintomas  da  SAA   pode aumentar
de maneira cumulativa, com sintomas mais graves após anos
(Becker, 1998)
 A exacerbação   progressiva da SAA é a manifestação de um
mecanismo chamado kindling que seria forma de potencialização de
longa duração, ou seja, um tipo de sensibilização comportamental
(Ballenger  e  Post, 1978)
 Correlação  positiva  entre  a  ocorrência  de  convulsão durante a
SAA e o histórico de desintoxicações prévias (Lechtenberg  e
Worner,  1991;;  Moak  e  Anton,  1996) repetidos  estímulos
subconvulsivos , podem ser de elétrica  e/ou  química
 Portanto, para fenômeno  kindling se desenvolva entre dependentes
de álcool são necessárias exposições repetidas e intermitentes ao
álcool, com aumento progressivo em termos de gravidade dos
sintomas da SAA. A durabilidade desse fenômeno reflete
provavelmente alterações em longo prazo no circuito neuronal
(McNamara e Wada, 1997).
OBS.: A interrupção da ingestão de álcool leva à ativação
compensatória do  SNC,  que  persiste  por  alguns  dias  e  resulta
num  estado  de   hiperexcitabilidade, manifesta-se: tremores de
extremidades, convulsões e delirium tremens (DT).
Fatores influenciam aparecimento e a evolução dessa síndrome, entre eles: a
vulnerabilidade genética, o gênero, o padrão de consumo de álcool, as características
individuais biológicas e psicológicas e os fatores socioculturais.
Os sinais e sintomas mais comuns da SAA são: agitação, ansiedade, alterações de
humor (irritabilidade, disforia), tremores, náuseas, vômitos, taquicardia, hipertensão
arterial, entre outros. Ocorrem complicações como: alucinações, o Delirium Tremens
(DT) e convulsões.

Você também pode gostar