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Farmacologia das Populações Especiais:

- Geriatria, Insuficiência Renal, Insuficiência Hepática


- Pediatria, Gravidez e Amamentação

5ª Aula Teórico-Prática_26.Outubro.2018
Ana Serralheiro
SUMÁRIO
- Farmacologia das Populações Especiais
- Geriatria
- Implicações Farmacocinéticas
- Farmacoteria em Geriatria
- Doentes com Insuficiência Renal
- Alterações Farmacocinéticas
- Ajuste da Dose
- Doentes com Insuficiência Hepática
- Alterações Farmacocinéticas
- Farmacoterapia

Ana Serralheiro
SUMÁRIO
- Farmacologia das Populações Especiais
- Pediatria
- Prescrição de Medicamentos à Criança
- Alterações Farmacocinéticas e suas Implicações na Resposta aos Fármacos
- Posologia: Ajuste da Dose
- Gravidez
- Características Fisiológicas da Gravidez e o seu impacto na resposta
farmacológica
- Sistema mãe-placenta-feto
- Efeitos Teratogénicos e Classificação dos Medicamentos segundo as Categorias
de Risco
- Aleitamento
- Leite Materno e Vantagens da Amamentação
- Passagem de Fármacos através do Leite Materno
- Classificação dos Medicamentos Quanto à sua Passagem para o Leite Materno

Ana Serralheiro
FARMACOLOGIA DA GERIATRIA

Prescrição de Medicamentos a
Doentes Idosos
Ana Serralheiro
GERIATRIA
IDOSO ?
 Indivíduo com mais de 75 anos ??
Os fenómenos de senescência não decorrem de forma paralela à idade cronológica, ou seja, o
envelhecimento (idade biológica) não está necessariamente correlacionado de forma directa com nº
de anos (idade cronológica)
 Doenças crónicas
Maior incidência de situações mórbidas, especialmente
crónicas, na idade avançada. Para além disso, é frequente
apresentar mais do que uma doença
 Polimedicação
A terceira idade representa um importante sector nos
consumidores de medicamentos, consumindo
frequentemente vários medicamentos (prescritos e não
prescritos) concomitantemente
 Envelhecimento fisiológico generalizado

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GERIATRIA
Envelhecimento fisiológico generalizado Declínio linear das funções
orgânicas a partir dos 45 anos
Processo de senescência que pode condicionar
alterações da resposta aos fármacos

 Redução do peso corporal


 Redução massa muscular e densidade óssea
 Redução da proporção de água corporal e
modificação da sua distribuição (60%→52%)
 Diminuição do fluxo sanguíneo capilar e redução
da perfusão sanguínea a órgãos vitais
 Diminuição da albumina plasmática
 Diminuição da capacidade adaptativa a situações
de stress
 Manutenção da homeostasia mais lenta e difícil
 Equilíbrio hidro-electrolítico instável e a
correcção dos seus desvios mais difícil
 Capacidade metabólica reduzida
 Função renal diminuída
 Declínio fisiológico dos sentidos

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IMPLICAÇÕES FARMACOCINÉTICAS
Muitas das características fisiológicas do envelhecimento acarretam implicações
farmacocinéticas particulares que determinam alterações da resposta aos fármacos

 ABSORÇÃO

 DISTRIBUIÇÃO
 METABOLISMO
 EXCREÇÃO

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ABSORÇÃO

A absorção intestinal da maioria dos fármacos não


sofre modificações apreciáveis, embora a absorção
de certos elementos vitamínicos (vit B12 e vit D) e
minerais (Fe2+ e Ca2+) seja geralmente diminuída

O efeito de medicamentos administrados por via


intramuscular ou subcutânea instala-se mais
lentamente devido à redução do fluxo sanguíneo
capilar

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DISTRIBUIÇÃO

 Redução da massa corporal


 Redução da água corporal
 Aumento da gordura relativamente à % de
massa corporal (↑ rácio tecido adiposo-tecido
muscular)
 Diminuição da albumina sérica

Volume aparente de distribuição


Ligação às proteínas plasmáticas

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METABOLISMO

A capacidade metabólica do fígado não parece


diminuir de forma consistente com a idade para
todos os fármacos:
 Rxs Fase I (ex:Desalquilação e N-acetilação)
estão diminuídas
 Rxs Fase II (ex: Glucuronidação) mantém-se em
níveis normais

 ↓ Fluxo sanguíneo hepático

Aumento do tempo semi-vida dos fármacos com


possível exacerbação dos seus efeitos adversos
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EXCREÇÃO
Eq. Cockcroft-Gault

Redução da dose e da frequência

Aumento do tempo semi-vida dos fármacos com


possível exacerbação dos seus efeitos adversos

Função renal diminuída tanto ao nível da filtração


glomerular como ao nível da secreção tubular
 TFG diminui com o envelhecimento

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IMPLICAÇÕES FARMACODINÂMICAS
Os idosos são mais “sensíveis” à acção de vários fármacos no que
respeita à interacção farmacodinâmica destes com os seus receptores

 Alterações farmacocinéticas
 Respostas homeostáticas reduzidas
 Modificações dos sistemas de contra-regulação
 Modificações nas características (tipo) e/ou número de receptores

 Maior incidência de reacções adversas (maior frequência e intensidade)


 Farmacocinética (distribuição, metabolização e excreção) e
farmacodinâmica (reactividade dos órgãos efectores) - concentrações
plasmáticas elevadas
 Comprometimento de alguns órgãos-alvo (ex: ouvido, rim, SNC,
coração, etc.), tornando-os mais vulneráveis a efeitos laterais
 Polimedicação: Interacções farmacológicas (fármacos isolados ou em
associação)

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FARMACOTERAPIA EM GERIATRIA
A prescrição inadequada e a não adesão à terapêutica (compliance) de
fármacos é uma causa comum de morbilidade nos idosos
 O uso de medicamentos em idosos pauta-se pelos mesmos
princípios gerais que regem uma terapêutica racional:
1) Ponderar a utilização do fármaco: avaliação do binómio
benefício-risco
2) Optar por utilizar o menor número possível de fármacos
3) Remover medicação que já não é necessária
4) Recorrer a esquemas posológicos cómodos e fáceis de fixar
5) Promover a adesão à terapêutica:
- Regime posológico o mais simples possível
- Estabelecer administrações regulares com poucas
unidades galénicas
- Adequar forma farmacêutica e via de administração
6) Definir o objectivo terapêutico
7) Aplicar a menor dose efectiva possível: a dose é geralmente
menor que a usada no adulto jovem e pode, em regra, ser
administrada com maiores intervalos
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FARMACOTERAPIA EM GERIATRIA
A prescrição inadequada e a não adesão à terapêutica (compliance) de
fármacos é uma causa comum de morbilidade nos idosos

Fármaco Efeitos laterais mais importantes


Benzodiazepinas Sedação excessiva, reacções paradoxais

Antidepressores Hipotensão postural, efeitos anticolinérgicos, arritmias

Antipsicóticos Reacções extrapiramidais

Digoxina Arritmias, alterações do SNC e digestivas

Tetraciclinas Agravamento da insuficiência renal

Antidiabéticos Orais Hipoglicemia assintomática, sobretudo nocturna

Barbitúricos Efeitos paradoxais, sedação, depressão respiratória

Opiáceos Depressão respiratória, obstipação, confusão

Anticoagulantes Orais Hemorragia

Heparina Hemorragia

 Rxs + frequentes: cardiovasculares,


digestivas, psíquicas e neurológicas
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PARA REFLECTIR…

“Os medicamentos são estudados em animais jovens, testados em


seres humanos adultos jovens e administrados a idosos”

 Apesar de o consumo de medicamentos ser claramente superior nos idosos,


estes estão muitas vezes sub-representados nos ensaios clínicos,
verificando-se uma falha considerável de informação relativa ao efeito
(farmacológico e toxicológico) nos idosos
 Extrapolação de informação inapropriada
 Exclusão de doentes idosos de novos tratamentos dos quais poderiam
beneficiar

 Avaliação cuidada da eficácia e predisposição para a ocorrência de efeitos


adversos em sub-grupos populacionais de idosos durante o processo de
desenvolvimento de novos fármacos e após a sua aprovação

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FARMACOLOGIA DE SITUAÇÕES
PATOLÓGICAS PARTICULARES

Prescrição de Medicamentos a Doentes


com Insuficiência Renal ou Hepática
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INSUFICIÊNCIA RENAL
Condição caracterizada pelo comprometimento da função renal no que respeita à
sua capacidade para filtrar adequadamente compostos endógenos e exógenos
presentes no sangue, que por conseguinte se acumulam no organismo

Nos doentes com função renal reduzida, verificam-se


alterações farmacocinéticas significativas
 Absorção
 Distribuição
 Metabolismo
 Excreção

Condicionam a eliminação de fármacos que são


maioritariamente excretados pelo rim
(na forma inalterada ou após biotransformação)

Ajuste da dose administrada para evitar acumulação e toxicidade sistémica e renal


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ALTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS NA IR

 ABSORÇÃO – Distúrbios GI que podem comprometer a biodisponibilidade dos


fármacos:
- vómitos associados à uremia
- atraso do esvaziamento gástrico associado à neuropatia urémica
- aumento do pH gástrico associado ao efeito tampão da amónia
- edema da parede intestinal associado à hipoalbuminémia

 DISTRIBUIÇÃO – Alteração do volume de distribuição associado a uma menor


ligação dos fármacos às proteínas plasmáticas devido a:
- redução da concentração sérica de albumina
- diminuição na afinidade entre o fármaco e a albumina

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ALTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS NA IR

 METABOLISMO – Geralmente os processos metabólicos não são afectados, mas


estão descritos casos de fármacos em que a metabolização por oxidação
hepática é acelerada outros em que é lentificada

 EXCREÇÃO – Excreção renal comprometida, implicando o ajuste adequado da


dose a cada caso em particular

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AJUSTE DA DOSE NA IR
Os fármacos eliminados maioritariamente pelo rim podem acumular-se no
organismo se forem utilizadas doses usuais, ocorrendo o risco de toxicidade.
Tal assume particular importância para:
 Fármacos com t1/2 prolongado
 Fármacos com margem terapêutica estreita

 AJUSTE DA DOSE NUM DOENTE COM IR


 Fórmula de Cockroft e Gault:
Cálculo da Clearance da Creatinina (parâmetro que avalia a TFG) a partir do valor
de creatinina plasmática, entrando em linha de conta com a massa muscular, idade
e sexo do doente
140 − 𝐼𝑑𝑎𝑑𝑒 × 𝑃𝑒𝑠𝑜
𝐶𝐿𝑐𝑟 = (× 0.85, se for mulher)
72 × 𝐶𝑝𝑐𝑟𝑒𝑎𝑡𝑖𝑛𝑖𝑛𝑎

𝐶𝐿𝑐𝑟
𝐶𝐿𝐼𝑅 = 𝐶𝐿𝑟𝑒𝑛𝑎𝑙 × + 𝐶𝐿𝑒𝑥𝑡𝑟𝑎−𝑟𝑒𝑛𝑎𝑙
100
Creatinina = molécula endógena resultante da degradação da fosfocreatina no músculo e que é livremente filtrada
pelo glomérulo, fornecendo informação relativa à taxa de filtração glomerular Ana Serralheiro
AJUSTE DA DOSE NA IR
 AJUSTE DA DOSE NA IR:
 INFUSÃO CONTÍNUA – Como 100% do fármaco administrado se encontra
disponível na circulação sistémica, é desejável calcular a dose em função da CLIR
do fármaco e respectiva concentração no estado de equilíbrio
 TERAPÊUTICA INTERMITENTE – A dose deverá ser calculada tendo em conta a
CLIR do fármaco, a concentração plasmática desejada e o intervalo entre as tomas
 Redução da dose: diminuir a dose normal prescrita, mantendo o intervalo
entre as tomas
 Fármacos com t1/2 curto
 Ampliação do intervalo: Manter a dose normal prescrita, aumentando o
espaçamento entre as tomas de acordo com o atraso na excreção
 Fármacos com t1/2 prolongado

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INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA (IH)
Condição caracterizada por disfunções do fígado, impedindo que desempenhe
funções normais de metabolização e síntese de proteínas

Nos doentes com função hepática reduzida, verificam-se


alterações farmacocinéticas significativas
 Absorção
 Distribuição
 Metabolismo

Aumento da concentração máxima e semi-vida plasmática


dos fármacos inactivados principalmente por
biotransformação hepática

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ALTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS NA IH

 ABSORÇÃO – Alteração da absorção devido a hipertensão portal e edema da


mucosa GI em resultado da hipoalbuminémia

 DISTRIBUIÇÃO – Redução da concentração sérica de albumina com consequente


diminuição da extensão de ligação do fármaco às proteínas plasmáticas ,
aumentando o Volume aparente de distribuição

 METABOLISMO – Redução da síntese proteica . As reacções enzimáticas de fase I


estão geralmente reduzidas em doentes com doença hepática

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FARMACOTERAPIA NA IH
Ao contrário da IR, não há provas funcionais hepáticas que, por
analogia da clearance da creatinina, permitam definir através de uma
correlação linear as doses correctas a administrar

 Em doentes hepáticos, doses habituais de alguns fármacos originam


concentrações sistémicas anormais e potencialmente tóxicas
 Abstenção total de uso de fármacos com margem terapêutica estreita e
com uma inactivação hepática predominante
 Usar doses iniciais baixas e corrigir a posologia pela observação repetida
das respostas farmacológicas

Ana Serralheiro
FARMACOLOGIA DA PEDIATRIA

Prescrição de Medicamentos
em Pediatria
Ana Serralheiro
PRESCRIÇÃO DE MEDICAMENTOS À CRIANÇA
Os efeitos farmacológicos de determinada substância não são da sua
responsabilidade exclusiva; devem-se também ao ambiente em que actua

 Pequenas variações biológicas podem corresponder a efeitos farmacológicos ≠s


 Elevada variabilidade inter- e intra-individual do adulto
 Imaturação de vários sistemas biológicos

A prescrição de medicamentos à
CRIANÇA deve ser pautada por
normas próprias

Resposta Farmacológica
CRIANÇA vs ADULTO ?
• Intensidade
≠ • Qualidade dos efeitos
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PEDIATRIA - GRUPOS ETÁRIOS
As diferenças na resposta aos fármacos não se observa apenas entre o
adulto e a criança, mas também entre crianças de diferentes idades

 GRUPOS ETÁRIOS
 Período Neonatal: até 28 dias após o nascimento
 Primeira Infância:
 1º Período – dos 28 dias até ao 1º ano
 2º Período – 1 - 2 anos
 Segunda Infância: 2 - 6 anos
 Terceira Infância: 6 - 10/12 anos
 Pré-Puberdade: 10/12 - 12/14 anos
 Puberdade: 12/14 - 14/16 anos
Adolescência: 14/16 – 18/20 anos

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ALTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS

ABSORÇÃO DISTRIBUIÇÃO
 pH gástrico mais elevado até aos 6 anos 75% do peso corporal = água (vs 60%)
 Velocidade de esvaziamento gástrico  Fluido extracelular:
mais lenta (nos primeiros 6-8 meses de vida) ‒ 50% (prematuro)
 Peristaltismo intestinal irregular ‒ 35% (6 meses)
 ↑ Absorção cutânea no recém-nascido ‒ 20-25% (1 ano)
(absorção através da pele é inversamente
 ↓ Quantidade de tecido adiposo
proporcional à espessura da camada e
directamente proporcional à hidratação)  ↓ Ligação às proteínas plasmáticas
(tanto mais deficiente quanto menor for
↓ Actividade enzimática a nível GI
a idade)
 BHE incompleta ao nascimento

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ALTERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS
METABOLISMO EXCREÇÃO
↓ Actividade enzimática  TFG no recém nascido é 35% da da
(embora a desmetilação e sulfoconjugação criança (deficiente fenestração do
estejam razoavelmente desenvolvidas desde endotélio capilar)
o nascimento) ↓ Secreção tubular (epitélio mais
 12-36 meses – Taxa metabólica elevada, espesso e menor teor enzimático)
sendo muitas vezes necessário doses de
fármaco mais elevadas que no adulto

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POSOLOGIA – AJUSTE DA DOSE
 Devido a marcadas diferenças farmacocinéticas nos bebés e crianças, uma simples
redução da dose adulta (em termos de proporcionalidade) pode não ser o
procedimento mais adequado tendo em vista uma dose pediátrica segura e efectiva
 Idealmente, todos os medicamentos deveriam conter informação relativa à dose
pediátrica
 Na ausência de recomendações específicas para a determinação da dose pediátrica,
a conversão a partir da dose adulta pode ser feita com base em 2 fórmulas distintas
(aplicável a crianças com idade superior a 1 ano):
 De acordo com a IDADE

4 × 𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 + 20
𝐷𝑜𝑠𝑒 𝐼𝑛𝑓𝑎𝑛𝑡𝑖𝑙 = × 𝐷𝑜𝑠𝑒 𝐴𝑑𝑢𝑙𝑡𝑜
100

 De acordo com ÁREA DE SUPERFÍCIE CORPORAL

𝑆𝑢𝑝. 𝐶𝑜𝑟𝑝𝑜𝑟𝑎𝑙 𝐶𝑟𝑖𝑎𝑛ç𝑎


𝐷𝑜𝑠𝑒 𝐼𝑛𝑓𝑎𝑛𝑡𝑖𝑙 = × 𝐷𝑜𝑠𝑒 𝐴𝑑𝑢𝑙𝑡𝑜
𝑆𝑢𝑝. 𝐶𝑜𝑟𝑝𝑜𝑟𝑎𝑙 𝐴𝑑𝑢𝑙𝑡𝑜

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POSOLOGIA – AJUSTE DA DOSE
 De acordo com ÁREA DE SUPERFÍCIE CORPORAL

𝑆𝑢𝑝. 𝐶𝑜𝑟𝑝𝑜𝑟𝑎𝑙 𝐶𝑟𝑖𝑎𝑛ç𝑎


𝐷𝑜𝑠𝑒 𝐼𝑛𝑓𝑎𝑛𝑡𝑖𝑙 = × 𝐷𝑜𝑠𝑒 𝐴𝑑𝑢𝑙𝑡𝑜
𝑆𝑢𝑝. 𝐶𝑜𝑟𝑝𝑜𝑟𝑎𝑙 𝐴𝑑𝑢𝑙𝑡𝑜

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POSOLOGIA – AJUSTE DA DOSE

 LIMITAÇÕES
 A conversão nem sempre é rigorosa e directa
 Particularidades de sensibilidade das crianças
 Imaturação e hipo-desenvolvimento de certas
estruturas orgânicas (ex: estruturas nervosas)
 Obesidade infantil (sobredoseamento quando se
faz ajuste com base no peso corporal)
 As fórmulas apenas são aplicáveis em crianças
com mais de 1 ano de idade
 Dificuldade em fazer conversão da dose para
crianças do período neonatal e da primeira
infância

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FARMACOLOGIA DA GRAVIDEZ

Prescrição de Medicamentos
na Gravidez
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GRAVIDEZ

Alterações profundas no corpo da mulher responsáveis por várias


modificações fisiológicas que podem condicionar a resposta aos fármacos

 Alterações de sensibilidade  Alterações da farmacocinética


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ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS
 PRINCIPAIS ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS
NA GRAVIDEZ:
 Aumento de peso
 ↑ Frequência cardíaca e respiratória
 Diminuição do peristaltismo GI
 Atraso do esvaziamento grástrico
 Novos compartimentos de distribuição e
metabolização do feto
 ↑ Volume plasmático e volume de água
extracelular (retenção de água)
 ↑ TFG
 ↓ Reabsorção tubular
 ↓ Proteínas plasmáticas (albumina)
 ↓ Capacidade metabólica de fármacos
pelas CYP

Alterações na absorção, distribuição,


metabolismo e excreção de fármacos Ana Serralheiro
SISTEMA MÃE-PLACENTA-FETO
Vasos
Sangue Membrana Cordão
Materno Placentária
Sanguíneos
Umbilical Feto
Vilosidades

Sistema integrado que estabelece uma íntima conexão


anatómica e fisiológica entre a mãe e o feto Ana Serralheiro
BARREIRA PLACENTÁRIA
Por volta da 4ª-6ª semana após a concepção estabelece-se a circulação uteroplacentária,
tornando-se mais fácil o acesso dos fármacos, que são administrados por via materna, ao feto

A placenta deixa de ser considerada uma barreira que defende o


feto de substâncias exógenas dado que se comporta de modo
semelhante a outras membranas biológicas

 Passagem de Fármacos
através da Placenta:
 Difusão Simples
 Difusão Facilitada
 Transporte Activo
 Pinocitose
 Conversão Enzimática

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FACTORES QUE INFLUENCIAM A PASSAGEM DE
FÁRMACOS ATRAVÉS DA PLACENTA
Lipossolubilidade Quanto mais lipossolúvel mais fácil é a difusão

Grau de ionização Substâncias ionizadas não são lipossolúveis

Peso molecular Substâncias com peso molecular > 1000Da atravessam a


placenta com dificuldade

Ligação a proteínas Proteínas plasmáticas estão diminuídas pelo que a fracção


plasmáticas livre de fármacos altamente ligados às proteínas tende a
aumentar (só a fracção livre atravessa a placenta)

Espessura do epitélio
Diminuição ao longo da gravidez
trofoblástico

Enzimas
metabolizadoras de Oxidação, redução, hidrólise e conjugação
fármacos na placenta

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BARREIRA PLACENTÁRIA
O problema não reside tanto sobre se um fármaco
atravessa ou não a placenta, mas sobre a exposição
relativa do feto ao fármaco

o Travessia placentária em ambas as direcções


o Distribuição do fármaco na mãe e no feto
o Cinética de eliminação da mãe, placenta e feto

TERATOGENIA = Repercussões da toma de medicamentos


sobre o desenvolvimento fetal
(Alterações morfológicas, bioquímicas ou comportamentais no feto,
induzidas em qualquer fase da gestação e detectadas em qualquer
 Estrutura fármaco momento da vida do indivíduo)
 Susceptibilidade genética do feto

 Acesso ao feto em níveis altos e duradouros


 Momento evolução fetal
EVOLUÇÃO FETAL e TERATOGENICIDADE

Nas primeiras duas  RESOLUÇÃO DA LESÃO (devido às características


semanas de gestação totipotenciais das células)
 ABORTO E MORTE DO EMBRIÃO

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EVOLUÇÃO FETAL e TERATOGENICIDADE

PERÍODO DA ORGANOGÉNESE
Entre a 3ª e a 8ª  MALFORMAÇÕES MORFOLÓGICAS
semanas de gestação É o período mais vulnerável em que pode ser induzida a maior
parte das malformações morfológicas e estruturais
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EVOLUÇÃO FETAL e TERATOGENICIDADE

Entre as 9 semanas de  MALFORMAÇÕES FUNCIONAIS


gestação e o nascimento

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TALIDOMIDA

Alívio dos enjoos matinais em grávidas

Sedativo, Hipnótico
(Entrada no mercado, 1957)

FOCOMELIA
1962 – Associação dos casos de focomelia à utilização
da Talidomida no primeiro trimestre da gravidez

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ACÇÕES TÓXICAS E TERATOGÉNICAS
Agentes Químicos
Malformações Congénitas
Teratogénicos
Talidomida Defeitos nos membros (focomelia), malformações cardíacas

Aminopterina Anencefalia, hidrocefalia, fenda labial e fenda palatina

Fenitoína Síndrome da hidantoína fetal; defeitos faciais, retardamento mental

Ácido valpróico Defeitos do tubo neural, cardíacos, craniofaciais e anomalias dos membros

Trimetadiona Fenda palatina, defeitos do coração, anormalidades urogenitais e esqueléticas

Lítio Malformações cardíacas

Anfetaminas Fenda labial e palatina, defeitos cardíacos

IECAs Malformações renais

Varfarina Condrodisplasia, microcefalia

Cocaína Atraso do crescimento, microcefalia, anormalidades comportamentais


Síndrome do alcoolismo fetal, fissuras palpebrais pequenas, hipoplasia maxilar, defeitos
Álcool
cardíacos, retardamento mental
Embriopatia da vitamina A: orelhas pequenas e com formas anormais, hipoplasia mandibular,
Isotretinoína (Vitamina A)
fenda palatina, defeitos cardíacos

Relação dose-efeito entre fármacos potencialmente teratogénicos e teratogenicidade


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CATEGORIAS DE RISCO

CATEGORIA DESCRIÇÃO

Estudos controlados em mulheres não conseguiram demonstrar qualquer risco para o feto no primeiro

A trimestre e não há evidências de qualquer risco nos últimos dois trimestres, de modo que a possibilidade
de perturbação fetal parece ser improvável.
(Exemplos: Citrato de Potássio, Retinol, Ácido fólico, Ácido ascórbico…).

Estudos de reprodução em animais não demonstraram qualquer risco fetal, do mesmo modo, também
B não foram encontrados efeitos adversos em mulheres grávidas.
(Exemplos: Paracetamol, Penicilinas, Morfina, Insulinas, Heparina sódica…)

Estudos realizados em animais demonstraram efeitos adversos sobre o feto, porém não existem estudos

C controlados em mulheres. Os fármacos só devem ser administrados se o potencial benefício justificar o


risco para o feto.
(Exemplos: Vitamina A em excesso, Sulfato de Magnésio, Salicilatos, Nicotina…)

Há evidências de risco fetal, porém os benefícios do uso desses fármacos em mulheres grávidas pode ser
D aceitável em casos de doenças graves.
(Exemplos: Tetraciclinas, Ibuprofeno, Progesterona, Ocitocina…)

Estudos conduzidos em animais e seres humanos demonstraram anomalias fetais, sendo que o risco do

X uso de um fármaco desta categoria em mulheres grávidas excede qualquer possibilidade de benefício. O
fármaco está contra-indicado para gestantes ou mulheres com potencial de engravidar.
(Exemplos: Fluvastina, Talidomida, Isotretinoína, Estradiol, Álcool…)

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FARMACOLOGIA DA AMAMENTAÇÃO

Prescrição de Medicamentos
na Amamentação
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LEITE MATERNO

Glândulas mamárias

Lactogénese

Lactação

• ↓ da secreção de estrogénio
e progesterona pela placenta
• ↑ da acção da prolactina ao
nível das células alveolares

↑ Estimulação sensorial do mamilo e aréola pela sucção do bebé


↑ Libertação da prolactina pela adeno-hipófise e de ocitocina pela neuro-hipófise

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VANTAGENS DA AMAMENTAÇÃO
Vantagens do Leite
Materno
 Benefícios para a Mãe
• Protege contra o cancro da mama, do ovário e
Nutricionais endométrio
• Menor hemorragia pós‐parto
• Menor incidência de anemias
Imunológicas • Menos fracturas ósseas por osteoporose
• Recuperação mais rápida do peso pré-gestacional
• Efeito contraceptivo
Económicas
 Benefícios para o Lactente
• Diminui a mortalidade infantil
Cognitivas • Protege contra a incidência e gravidade das
diarreias, pneumonias, otite média, diversas
infecções neonatais
Sociais • Melhores índices de acuidade visual
• Desenvolvimento neuromotor, cognitivo e social
• Quociente intelectual
Psico-afectivas

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FÁRMACOS E LEITE MATERNO
Calcula-se que cerca de 90% dos medicamentos administrados à
mulher que amamenta passe para o leite materno

 Concentração de lípidos e proteínas no leite


Factores relacionados
 Fase da lactação
com o Leite Materno
 Volume de leite
 pH (6,2-7,2) inferior ao do plasma (7,4), favorecendo a
Factores relacionados concentração de fármacos com carácter básico
com a mãe

Factores relacionados
com o fármaco

Factores relacionados
com o lactente

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FÁRMACOS E LEITE MATERNO

Factores relacionados
com o leite materno

 Fase de lactação
Factores relacionados
 Eliminação hepática e renal
com a Mãe
 Dose e duração do tratamento
 Fluxo sanguíneo mamário
Factores relacionados  Quantidade de leite produzida
com o fármaco  Via de administração

Factores relacionados
com o lactente

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FÁRMACOS E LEITE MATERNO

Factores relacionados
com o leite materno

Factores relacionados
com a mãe

Factores relacionados  Grau de ionização e peso molecular


com o Fármaco  Lipossolubilidade e biodisponibilidade
 Ligação às proteínas plasmáticas
 Tempo de semi-vida
Factores relacionados  Pico de concentração máxima (tmax) do fármaco
com o lactente

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FÁRMACOS E LEITE MATERNO

Factores relacionados
com o leite materno

Factores relacionados
com a mãe

Factores relacionados
com o fármaco

 Idade do lactente
Factores relacionados
 Eliminação hepática e renal
com o Lactente
 Taxa de absorção gastrointestinal

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CLASSIFICAÇÃO
Classificação dos fármacos por grupos quanto à sua passagem para o leite materno

GRUPOS EXEMPLOS DE FÁRMACOS

I
Medicamentos que passam para o leite, Cefalosporinas; Colistina; Digoxina; Eritromicina; Fenitoína; Insulina;
mas para os quais não têm sido Lincomicina; Oleondomicina; Penicilinas e derivados; Tiroxina
referidos riscos, se administrados em
doses terapêuticas
II
Ácido acetilsalicílico; Antidepressivos tricíclicos; Anti-histaminicos;
Medicamentos que passam para o leite Carbamazepina; Corticosteróides; Etambutol; Fenotiazinas; Griseofulvina;
e cuja administração exige prudência Isoniazida; Nitrofurantoína

III
Ácido valpróico; Estreptomicina; Anfotericina B; Anticoagulantes;
Medicamentos que passam para o leite Antidiabéticos orais; Benzodiazepinas; Cloranfenicol; Iodetos; Lítio;
e que devem ser evitados Meprobamato; Propoxifeno; Sulfamidas; Tetraciclinas; Vancomicina

IV
Medicamentos que não passam para o Amicacina; Bacitracina; Nistatina; Heparina; Lidocaína; Sulbutamol
leite

Ana Serralheiro

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