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NO PACIENTE
IDOSO
CINTHIA
MÉDICE
NISHIDE DE
FREITAS
EGLI BELINAZZI QUADRADO
ROBERTO DISCHINGER
MIRANDA
INTRODUÇÃO
Caracterizada como uma síndrome de declínio espiral de energia,
a fragilidade cursa com alterações relacionadas ao envelhecimento, como
sarcopenia, desregulação neuroendócrina e disfunção imunológica. A reserva
homeostática debilitada e a capacidade reduzida do organismo de enfrentar um
número variado de estressores acarretam maior vulnerabilidade da saúde para
desfechos desfavoráveis, como incapacidade, institucionalização, quedas e
morte.
Todo paciente acima de 70 anos de idade e/ou que tenha apresentado perda
de peso maior do que 5% no último ano por doença crônica deve ser triado
para fragilidade. O aporte proteico e calórico adequado para pacientes frágeis
está bem indicado. No entanto, o ganho funcional relacionado à força e
melhora da massa muscular é mais significativo se associado ao exercício
físico. O essencial é ter em mente que o foco deve ser a prevenção.
OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, o leitor será capaz de
FRAGILIDADE
A fragilidade, uma síndrome de declínio espiral de energia, apresenta
alterações relacionadas ao envelhecimento, como sarcopenia, desregulação
neuroendócrina e disfunção imunológica. A reserva homeostática debilitada e a
capacidade reduzida do organismo de enfrentar um número variado de
estressores levam a uma maior vulnerabilidade da saúde para desfechos
desfavoráveis.1 Assim, os idosos frágeis têm menor capacidade de se adaptar
ao estresse, como doença aguda ou trauma, o que aumenta o risco de
complicações, quedas, institucionalização, incapacidade para atividades da
vida diária (AVDs) e morte.2
LEMBRAR
DEFINIÇÕES E CONCEITOS
Diversos autores propuseram, nas últimas décadas, critérios próprios para
a definição de fragilidade, o que impediu a definição de critérios universais.
EPIDEMIOLOGIA
A prevalência da fragilidade varia conforme a ferramenta utilizada. Nos EUA, a
fragilidade varia de 4 a 16% em homens e mulheres com 65 anos ou mais,
chegando a 30% entre os idosos com mais de 90 anos.1
No Brasil, o estudo Fragilidade em Idosos Brasileiros (Fibra) observou uma
prevalência de fragilidade de 7,3% em homens e 10% entre as mulheres com
idade superior a 65 anos.4 Apesar de uma tendência de maior prevalência
entre as mulheres, a mortalidade é maior entre os homens. Existem alguns
fatores associados ao aumento da prevalência da fragilidade, como:5
idade avançada;
baixo nível educacional;
tabagismo ativo;
terapia de reposição hormonal;
estado civil solteiro;
depressão ou uso de antidepressivos;
nível cognitivo baixo.
FISIOPATOLOGIA
Alguns fatores ocasionam a desregulação dos mecanismos homeostáticos do
indivíduo com fragilidade (Quadro 1).
Quadro 1
DESREGULAÇÃO DOS MECANISMOS
HOMEOSTÁTICOS DO IDOSO FRÁGIL
Fatores Características
Sistema musculoesquelético
Sistema endócrino
Alterações imunológicas
DIAGNÓSTICO DE FRAGILIDADE
Sugere-se que todo paciente acima de 70 anos de idade e/ou que tenha
apresentado perda de peso maior do que 5% no último ano por doença crônica
deve ser triado para fragilidade.3
Os principais testes de triagem sugeridos serão descritos a seguir.
F Fadiga (fatigue)
Você se sente fatigado?
R Resistência (resistance)
Não consegue subir um lance de escadas?
A Aeróbico (aerobic)
Não consegue caminhar um quarteirão?
I Doenças crônicas (illnesses)
É portador de mais de cinco doenças?
L Perda de peso (loss of weight)
Perdeu mais de 5% do peso nos últimos 6
meses?
Maior ou igual a três itens: frágil; um ou dois: pré-frágil.
Fonte: Adaptado de Morley e colaboradores (2012).16
1 Robusto Indivíduo
ativo, com
energia,
exercita-se
regularmente e
tem bom
desempenho
para sua idade.
2 Bem Indivíduo sem
doença ativa,
desempenho
levemente
inferior ou
grupo um.
3 Bem, mas com Portador de
comorbidades doença(s), mas
com bom
controle
clínico.
4 Aparentemente Independente,
vulnerável mas com
menor
disposição,
maior lentidão.
5 Fragilidade leve Necessidade de
ajuda
para AIVDs.
6 Fragilidade Necessidades
moderada para AIVD e
para ABVD.
7 Fragilidade grave Completamente
dependente
para AIVDs ou
mesmo em
condição de
terminalidade.
AIVDs: atividades instrumentais da vida diária; ABVDs: atividades básicas da
vida diária.
Fonte: Adaptado de Rockwood e colaboradores (2005).18
Escala de fragilidade do Cardiovascular Health Study
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DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
As condições clínicas mais comuns a serem consideradas nos indivíduos com
perda de peso, fraqueza e perda de funcionalidade estão listadas no Quadro 6.
Quadro 6
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Condições Depressão
clínicas a Neoplasias
serem Doenças reumatológicas:
avaliadas polimialgia reumática e vasculite
Doenças endocrinológicas:
hipotireoidismo, hipertireoidismo
e DM
DCVs: HTA, IC, DAC e DVP
Doença renal
Deficiência nutricional
Doenças neurológicas: doença de
Parkinson e demência vascular
DM: diabetes melito; DCVs: doenças cardiovasculares; HTA: hipertensão
arterial; IC: insuficiência cardíaca; DAC: doença arterial coronariana; DVP:
doença vascular periférica.
É de extrema importância a diferenciação entre fragilidade, incapacidade e
comorbidade. Para avaliação inicial de um paciente frágil, são sugeridos alguns
testes laboratoriais, como:
hemograma completo;
perfil metabólico;
função hepática (incluindo albumina);
vitamina B12;
vitamina D;
hormônio estimulador da tireoide (TSH).
TRATAMENTO E PREVENÇÃO
O estabelecimento de metas com os pacientes e seus familiares é crucial para
prestar assistência ao indivíduo frágil. Para isso, é necessário estabelecer
prioridades individuais, ponderar os riscos e os benefícios das intervenções,
adequar o atendimento médico às necessidades desses pacientes vulneráveis
e manter os valores e objetivos do indivíduo em mente.
LEMBRAR
Exercício físico
LEMBRAR
Abordagem nutricional
Intervenções farmacológicas
Testosterona
A reposição de testosterona melhorou a massa muscular e a força em
homens hipogonadais e eugonadais, em especial, quando combinada com
exercício físico.
Hormônio do crescimento
Vitamina D
LEMBRAR
FENÓTIPO DA FRAGILIDADE
O fenótipo da fragilidade foi validado em 2001 por Fried e colaboradores
no CHS. Os participantes foram avaliados anualmente, por cerca de sete anos.
Nesse estudo, cinco sinais e sintomas foram chamados de marcadores
fenotípicos da fragilidade:1
fraqueza;
exaustão ou sensação de menor energia;
lentificação na marcha;
redução do nível de atividade física;
perda de peso não intencional.
Os participantes foram então divididos em categorias frágeis, com três ou mais
critérios, pré-frágeis, um ou dois critérios e não frágeis, sem nenhuma dessas
categorias.
Nesse estudo do CHS,1 os indivíduos frágeis apresentaram maior incidência de
doenças, hospitalização, quedas, perda de capacidade funcional e morte.
O Quadro 7 sintetiza o fenótipo de fragilidade conforme o CHS.
Quadro 7
FENÓTIPO DA FRAGILIDADE
CONCLUSÃO
A fragilidade é uma síndrome geriátrica, definida pela presença de déficits
funcionais, frequentemente associada à sarcopenia, multimorbidade e
polifarmácia. O idoso frágil tem maior suscetibilidade a fatores estressores
aparentemente pequenos, levando a outras patologias, como delirium,
incontinência, fraturas e quedas. Assim, trata-se de uma condição clínica que
deve ser conhecida por todas as especialidades médicas, no intuito de
prevenção e diagnóstico precoce.
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Como citar a versão impressa deste documento
Freitas CMN, Quadrado EB, Miranda RD. Fragilidade no paciente idoso. In:
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Sousa ACS, Martins ADM, organizadores. PROCARDIOL Programa de
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