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Controlo funcional e biomecânica da coluna vertebral

A coluna vertebral possui funções muito importantes para o nosso corpo, tais como a de
suporte e amortecimento, proteção, postura e locomoção, estabilidade e mobilidade.
O controlo da estabilidade da coluna vertebral integra três tipos de controlo:
• O controlo segmentar ou intervertebral que se refere à estabilidade de cada
vértebra.
• O controlo da orientação que está relacionado com a postura (existência ou não
de curvaturas)
• O controlo do equilíbrio ligado à base suporte, centro de massa e centro de pressão
do indivíduo.
Existem também elementos passivos e ativos para a estabilidade da coluna. Dentro dos
elementos passivos estão os ligamentos, cápsulas articulares, discos intervertebrais e
ainda as articulações zigapofisárias. Nos elementos ativos englobam-se os músculos.
O controlo muscular é realizado através de dois sistemas, o sistema muscular local e o
sistema muscular global.
O sistema muscular local é relativo mais ao controlo segmentar em que inclui os músculos
mais profundos, tónicos e estabilizadores, ou seja, podemos associá-los a músculos com
fibras do tipo I (oxidativas lentas).
▪ Multifidus (controla 80% da estabilidade);
▪ Transverso abdominal.
O sistema muscular global é associado ao controlo da orientação e do equilíbrio, pelo que
os músculos mais superficiais, fásicos e mobilizadores englobam-se neste sistema. Ou
seja, são músculos com maior produção de força com fibras do tipo II (glicolíticas
rápidas).
▪ Oblíquos interno e externo;
▪ Reto abdominal;
▪ Quadrado lombar;
▪ Eretor da espinha.
Por outro lado, o Sistema Nervoso é o controlador principal.
Controlo Motor
Controlo antecipatório da estabilidade (feedforward)
O Sistema Nervoso Central (SNC) prevê o efeito que atarefa terá na estabilidade e planeia
a sequência da atividade muscular, para contrariar a perturbação, com base em
acontecimentos anteriores.
No sistema muscular local:
✓ Pré-ativaOção ocorre independentemente da direção do movimento;
✓ Magnitude e momento da ativação são influenciados pela velocidade e aceleração.
No sistema muscular global:
✓ Pré-ativação dependente da direção do movimento e da intensidade da tarefa.
✓ A atividade é iniciada mais cedo e com maior magnitude se a sua atividade se
opõe à direção das forças da perturbação.
✓ Em tarefas de elevada intensidade, estes músculos são ativados,
independentemente da direção do movimento.

Controlo da estabilidade (feedback)


✓ O SNC responde rapidamente para garantir a estabilidade;
✓ O reflexo miotático é o mecanismo básico de resposta;
✓ Os reflexos de média e longa latência (mais complexos) também estarão
envolvidos.
✓ Os sistemas local e global são co-ativados, independentemente da direção ou
intensidade da tarefa.

Biomecânica da coluna vertebral


O movimento entre duas vértebras é pequeno e não ocorre de forma independente, daí
que os movimentos da coluna vertebral englobam a combinação de várias ações dos
diferentes segmentos (Nordin & Frankel, 2001). Estes movimentos só são possíveis
devido à compressibilidade e elasticidade dos discos vertebrais, ocorrendo nos núcleos
pulposos (comporta-se como um fluído) (Norkin & Levande, 2011)), servindo estes como
eixo de movimento (Moore, Dalley, & Agur, 2014).
Movimentos da coluna vertebral
Flexão e Extensão (Norkin & Levande, 2011)
Estes movimentos resultam da inclinação e deslizamento da vértebra superior
sobre a vértebra inferior. À medida que a vértebra superior se move, segue uma série de
arcos diferentes, cada um dos quais tem um eixo de rotação instantâneo diferente.
Durante a flexão, o buraco
intervertebral vai aumentar,
como consequência do
movimento da costela
superior. Ocorre, também,
separação das apófises
espinhosas de cada vértebra,
sendo esta limitada pelos
ligamentos supra e infra
espinhosos. O anel fibroso é
comprimido anteriormente,
enquanto posteriormente é
alongado.
Durante a extensão, ocorre o
processo inverso. É também
limitada através do contacto
ósseo entre apófises
espinhosas.

Fig.2 – Flexão e Extensão da coluna vertebral. Fonte: Norkin, C., & Levande, P. (2011). Joint Structure
and Function (5th ed.). Davis Company.

Inclinação/Flexão Lateral (Kapandji, 2000)


Neste movimento, para além da flexão, os corpos vertebrais “giram sobre si
mesmos”, sendo que a sua linha média se desvia em direção ao lado de convexidade.
Fig. 3 – Inclinação da coluna vertebral. Fonte: Norkin, C., & Levande, P. (2011). Joint Structure and
Function (5th ed.). Davis Company.

Como se explica esta rotação “automática”?


1. Compressão dos discos – a inclinação aumenta a
pressão no disco do lado côncavo, fazendo com que o
anel fibroso se estenda para o lado convexo,
proporcionando a rotação (indicado pelo sinal + na
fig.4).
2. Tensão dos ligamentos – pelo mecanismo inverso, os
ligamentos do lado convexo (em tensão) tem
tendência a deslocar-se em direção à linha média
(indicado pelo sinal – na fig.4).
Estes 2 mecanismos são sinérgicos.

Fig.4 – Rotação das vértebras


durante a inclinação. Fonte:
Kapandji, A. (2000). Fisiologia
articular - Tronco e Coluna
Vertebral. (Panamericana, Ed.)
(5th ed.). Maloine.

Cinética da coluna (Norkin & Levande, 2011)


A coluna é constantemente sujeita a compressão axial, tensão de cisalhamento e
torção, quer durante atividades, quer em repouso.
Compressão axial
É a força que atua sobre o eixo médio da coluna vertebral em ângulos retos aos
discos, resultante da força da gravidade, de reação e resultantes da tensão dos
ligamentos e músculos.
Tensão de cisalhamento
Atua no plano médio do disco vertebral e faz com que cada vértebra realize
movimentos de translação (mover-se anteriormente, posteriormente ou de um lado para
o outro em relação à vértebra inferior).
Torção
Estas forças são criadas durante a rotação, sendo cada vez mais fortes ao longo da
coluna, provocando mais rigidez no movimento
Fig. 5 – Função dos vários componentes de uma vértebra. Fonte: Norkin, C., & Levande, P. (2011). Joint

Structure and Function (5th ed.). Davis Company.

Escoliose – Biomecânica Patológica (Kapandji, 2000)


Apesar da rotação das vértebras ser fisiológica, em certos casos determinadas
alterações no padrão normal da coluna (da posição estática), causadas por má distribuição
de tensões ligamentares, musculares ou desigualdades no movimento, levam a uma
rotação permanente das vértebras.
Pode, então, surgir uma escoliose, que associa uma
curvatura permanente na coluna a esta rotação.
Fig. 6 – Escoliose: teste de Adams; movimentos permanentes.
Fonte: Kapandji, A. (2000). Fisiologia articular - Tronco e
Coluna Vertebral. (Panamericana, Ed.) (5th ed.). Maloine.
https://doi.org/10.1017/CBO9781107415324.004
Fig.7 – A maneira de senta pode levar a alterações ao nível da coluna, que podem levar a uma atitude
escoliótica e, consequentemente, a uma escoliose estrutural. Uma das razões é o facto de, ao mudar da
posição de sentado (posição ereta), muda-se também a zona onde ocorre a compressão axial, sendo que,
neste caso, os discos não vão estar na sua posição “normal”, podendo levar a rotações indesejadas das
vértebras, assim como ao aumento de curvatura da coluna. Fonte: Norkin, C., & Levande, P. (2011). Joint
Structure and Function (5th ed.). Davis Company.

Bibliografia
Kapandji, A. (2000). Fisiologia articular - Tronco e Coluna Vertebral. (Panamericana,
Ed.) (5th ed.). Maloine. https://doi.org/10.1017/CBO9781107415324.004
Moore, K. L., Dalley, A. F., & Agur, A. M. R. (2014). Anatomia Orientada para a
Clínica (7th ed.). Guanabara Koogan.
Norkin, C., & Levande, P. (2011). Joint Structure and Function (5th ed.). Davis
Company.

Síntese realizada por:


Henrique Gonçalves nº10200258
Marcelo Ribeiro nº10180377
Pedro Pereira nº10210561

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